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P á g i n a | 1 Cefaleia crônica Apresentação Toda cefaleia nova depois dos 50 anos de idade deve ser pesquisada com exames de imagem. Migrânea (enxaqueca) Cefaleia mais frequente na emergência Geralmente pulsátil, duração 4-72 hrs. o Mas pode ser em aperto, pulsátil Geralmente unilateral Náuseas, vômitos, fonofobia, fotofobia e osmofobia são sintomas associados comuns Dor é agravada com a atividade física de rotina Aura de sintomas neurológicos transientes pode preceder a dor, mas pode acompanhar os quadros de dor ou mais raramente vir depois do quadro de dor. o Enxaqueca com aura (20%) e sem aura (80%). A tendência é que o paciente se isole e queira ficar em um quarto escuro, livre de barulho. Fisiopatologia: Isabela Terra Raupp Profª Ângela Primária Gerada por uma disfunção própria do cérebro. Tipicamente antes da 3ª década (mas não obrigatório) Apresentação e desencadeantes estereotipados (crises iguais e recorrente ao longo de um grande período da vida). Início com apresentação mais leve e vai ganhando força ao longo da crise. Diagnóstico sempre clínico por critérios. Mais comuns: enxaqueca e cefaleia tensional. Crônicas mais frequentes: Migrânea, tensional, cluster Secundária Secundária a um tumor, lesão isquêmica, lesão infecciosa, ruptura de aneurisma. Mais comum após os 55 anos. Elevada intensidade já na primeira apresentação. Início “thunderclap” → início rápido com intensidade em trovejada. Crônicas mais comuns: Lesões intracranianas, TCE, espondilose cervical, doença dentária, doença ocular, disfunção de ATM, sinusite. P á g i n a | 2 A hipersensibilidade a estímulos da enxaqueca provavelmente é causada por disfunção dos sistemas de controle sensoriais monoaminérgicos localizados no tronco encefálico e no tálamo. Quando há ativação de células no núcleo trigeminal, ocorre a liberação de neurotransmissores vasoativos, sobretudo o peptídio relacionado com o gene da calcitocina (CGRP), nas terminações vasculares do nervo trigêmeo e dentro do núcleo trigeminal. Esse peptídeo leva a inflamação neurogênica, ativação de células inflamatórias, liberação de citocinas e vasodilatação. Lembrar que o parênquima cerebral não tem tanta inervação dolorosa, então geralmente a dor provém da irritação das meninges os dos vasos sanguíneos. Aura: Depressão Cortical Alastrante, onda de despolarização neuronal e glial da região mais posterior do cérebro para regiões mais anteriores. Duram de 4-60 minutos. SÃO TRANSITÓRIOS o Sintomas visuais (vem da área mais posterior do cérebro). Pode se apresentar como escotolmas cintilantes, espectro de fortificação (halo branco ou colorido que se expande para todo o campo visual), dificuldade na definição de formas, escotolmas escuros, hemianopsia, linhas no campo visual, raios no campo visual. o Sensitiva: parestesias em um hemicorpo, sensação de queimação, alterações dolorosas o Motora: perda de força no hemicorpo o Afasia: área de Brocá (hemisfério esquerdo) o Complexo de auras integral: toda a despolarização, obedece regiões de despolarização no sentido posterior até anterior o SEMPRE afastar causas secundárias primeiro, porque migrânea é diagnóstico de exclusão → Precisa de exame de imagem. Frequentemente padrão poligênico de herança. Padrão autossômico dominante na Enxaqueca Hemiplégica Familiar (aura de hemiplegia que antecede a crise). Ativação do sistema trigeminal Neuropeptíde os (CGRP) Inflamação, liberação de citocinas e vasodilatação sensibilização de terminações nervosas DOR P á g i n a | 3 Predomínio em mulheres, adolescência e início da vida adulta (geralmente início concomitante ao período fértil da mulher). História familiar positiva 20% Aura → risco aumentado para eventos cerebrovasculares (AVC) sempre que tiver tabagismo, dislipidemia ou uso de ACO combinado! Precipitantes de crises migranosas: estresse físico ou emocional, excesso ou privação de sono, “pular” refeições, alimentos específicos (chocolate, embutidos, glutamato monossóditco - sais temperados, petiscos, shoyu), bebidas alcoólicas, excesso de luz e/ou barulho, menstruação, uso de contraceptivo. Variantes: o Migrânea basilar: resultado de doença que acomete o território de irrigação da artéria basilar. Em geral, o paciente apresenta aura visual, seguida por disfunção cerebelar, zumbido, alteração de nervos cranianos e mais raramente quadros confusionais e alteração do nível de consciência. Em seguida vem a dor, mais occipital e latejante. o migrânea oftalmoplégica: dor periorbitária, durante a dor, pode apresentar paralisia de nervos e músculos (paralisia muscular extrínseca), pela disfunção dos nervos (geralmente III ou VI NC) que contraem esses músculos. A disfunção é transitória. Fases da migrânea: Fase premonitória: pacientes ficam mais irritados, intolerantes, com fadiga extrema, aumento de apetite por alimentos específicos (doces), mialgia, dificuldade de concentração. Aura: alterações neurológicas reversíveis. P á g i n a | 4 Cefaleia precoce leve, que não altera rotina do paciente e pode ser acompanhada de congestão nasal e mialgia. Sensibiliza mais receptores dolorosos e azem cefaleia mais intensa. Pósdromo: fadiga intensa, dificuldade de concentração e atenção. Cefaleia tensional é a mais frequente, mas em geral ela não alcança comprometimento significativo que leve o paciente a consulta. Tratamento: o Evitar fatores precipitantes – rotina de sono, refeições, evitar álcool. o Tratamento da Crise o Profilaxia, se necessário – depende do número de crises (evita crise). Cuidar com o uso de analgésico, porque pode causar a cefaleia secundária ao abuso de analgésico. Tratamento da crise: Analgésicos simples (aspirina, acetaminofeno, ibuprofeno, naproxeno, dipirona) - prevenção de cefaleia por abuso: <15 dias mês simples, <10 dias combinados. Usados quando as crises ainda são mais leves. o Dipirona 1g 6/6h. o Paracetamol 1g 6/6h. o Ibuprofeno 600mg 8/8h. o Naproxeno 500 mg 12/12h o Pacientes que usam mais de 15 dias por mês, tem maior risco de desenvolver cefaleia por abuso de analgésico (secundária), envolve tratamento de desintoxicação. Medicações vasoconstritoras: ergotaminas e triptanos - prevenção cefaleia por abuso: < 10 dias o Usados quando a crise já passou mais de 8 h. o Ergotaminas dão mais cefaleia de rebote e são inferiores aos triptanos em crises com mais tempo. o Triptanos: cuidar em cardiopatas porque são vasoconstritores potentes e pacientes com fatores de risco importantes para doença cerebrovascular deve ser evitados. Naratriptano, rizatriptano, zometriptano, sumatriptano Geralmente usados em combinação com AINE tem maior chance de abortar a crise. o Uso por > 10 dias pode causar cefaleia por abuso de medicações vasoconstritoras. Na emergência: metoclopramida (10mg) – plasil ou clorpromazina (25mg) EV - antipsicoticos o Dipirona ou cetoprofeno EV. Evitar opioides: cefaleia de rebote, maior risco de desenvolvimento de abuso. Tratamento profilático: > 3 crises/mês e/ou incapacidade severa relacionada à crise Medicação de escolha deve ser individualizada: propranolol, amitriptilina, topiramato, ácido valpróico. o Anti-hipertensivos, antidepressivos tricíclicos, anti-convulsivantes. Bloqueador do peptídeo relacionado ao gene da calcitonina- anticorpo monoclonal – Passurta 1amp SC por mês se enxaqueca refratária. Hábitos saudáveis Atividade física aeróbica regular! Caso clínico: P á g i n a | 5 o Paciente de 22 anos, com queixa de cefaleia, tece cefaleias nos últimos 6 meses ocorrendo 4 a 5 vezes por mês. Tem grande intensidade, envolvendo a parte direita de sua cabeça, principalmenteatrás dos olhos. Os sintomas pioram ao exercício. Sua dor de cabeça dura 3 a 6 horas, as vezes associada a náuseas e em 2 ocasiões precedidas de escotomas. Exame neurológico normal. Cefaleia tipo tensional Mais comum das cefaleia crônicas Em peso ou aperto, geralmente na região frontal ou da nuca ou as duas. Sem sintomas neurológicos focais Causada por contratura da musculatura pericraneana Associada a depressão e ansiedade e pacientes que trabalham com estado de estresse mais constante. Postura ergonomicamente erradas. Tratamento com analgésicos simples, relaxantes musculares (ciclobrenzapina) Técnicas de relaxamento Caso clínico: Paciente de 27 anos, que é programadora de computadores, refere cefaleias frequente. Descreve como desconforto semelhante a faixa apertando o crânio e utiliza ibuprofeno 600mg com alívio de sintomas. Cefaleia tipo Cluster/em salvas Predomínio em homens de meia idade Fisiopatogenia: Relacionada provavelmente à ativação de células no hipotálamo ipsilateral, ativando o sistema vascular trigêmio autonômico. Associado a sensibilidade da face e do crânio, gerado por informação falsa de dor no sistema. Quadro clínico: Dor periorbitária unilateral severa, em facada ou pontada, ocorrendo por dias a semanas, acompanhada de um ou mais dos seguintes sintomas: congestão nasal ipsilateral, rinorréia, lacrimejamento, vermelhidão da esclera, síndrome de Horner (miose, ptose e anidrose hemilateral). Paciente agitado, inquieto, durante episódios por causa da dor muito intensa. P á g i n a | 6 Episódios ocorrem geralmente à noite e despertam o paciente, durando 15min a 3 hrs – obedece regularidade de tempo. Desencadeantes: tabagismo e etilismo. Surtos de dor podem durar 4 a 8 semanas, entrar em remissão espontaneamente e retornar, podendo o paciente apresentar vários surtos por anos. Tratamento das crises: triptanos nasais ou subcutâneos, inalação de O2 100% (12-15litros/minuto, por 15 minutos, em máscara de venturi) Profilaxia: Quando tem crises recorrentes Carbolítio, verapamil, topiramato – demora mais ou menos um mês para começar a agir. Terapia de transição com prednisona por 10 dias. Inicia com 60 mg por 5 dias e vai reduzindo gradualmente até fechar 10 dias. Caso clínico: Homem de 28 anos, que se apresenta na emergência as 3 da manhã, com dor retroorbitaria severa, lacrimejamento homolateral, sudorese, e rinorreia do mesmo lado. Relata que dor despertou ele. Conta que já teve episódios similares que acontecera por 8 semanas no último ano. Ele fuma 2 maços de cigarro por dia por 10 anos. Suspeita de doenças severas e necessidade de requisição de exames de imagem Dor que inicia subitamente com intensidade alta ou durante a atividade física e valsalva. Idade > 50 anos sem história de dor de cabeça. Alteração de estado mental. Trauma Anormalidades neurológicas no exame físico.