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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLOGICA PAULA SOUZA FACULDADE DE TECNOLOGIA DE INDAIATUBA CURSO DE TECNOLOGIA EM COMÉRCIO EXTERIOR ESTER DO VALLE NASCIMENTO Dissertação Os impactos do COVID-19 na Indústria Automotiva Dissertação do 6º semestre letivo de 2020 apresentado pela integrante acima mencionada como pré-requisito para a conclusão da matéria “Modais de Transporte e Seguro de Carga”, do 6º semestre do Curso Superior de Tecnologia em Comércio Exterior, da Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba, elaborado sob a orientação do Prof.º André. Indaiatuba Maio/2020 RESUMO Desde Março deste ano, o Brasil vem enfrentando uma grave crise sanitária, além de econômica devido ao COVID-19 (SARS-cov-2). Neste presente trabalho trataremos dos impactos econômicos, logísticos e produtivos na industria automotiva brasileira, além de projetarmos possíveis cenários pós-pandemia. Palavras-chave: COVID-19, Indústria Automotiva, Desafios, Cenários Econômicos. Devido à pandemia decretada em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que teve seu início da cidade de Wuhan, China, em 15 de janeiro de 2020, sendo verificada posteriormente em países como Itália, Espanha e os demais países europeus, além da América do Norte e teve sua primeira morte no Brasil confirmada em 17 de março do mesmo ano. Desde então o país entrou na chamada quarentena, decretada pelos Estados com o intuito de diminuir a contaminação e com isso achatar a curva do vírus, na tentativa de não colapsar o sistema de saúde, minimizando o número de mortes no país. Essa manobra, no entanto, teve um impacto direto e imediato no cenário econômico do país, uma vez que muitas empresas foram impedidas de realizarem suas atividades, e diversos trabalhadores acabaram tendo seus contratos terminados sem uma perspectiva real de retorno. Para a indústria automotiva, o impacto foi sentido já no primeiro mês de suspensão. De acordo com a ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) no mês de Abril foram produzidos apenas 1,8 mil unidades entre veículos leves e pesados, volume que representou queda de 99% na comparação com março, quando a indústria entregou 189,9 mil veículos. Foram pouco mais de 1 mil automóveis (-99%), 403 caminhões (-95%) e 396 ônibus (-80%), segundo os dados da entidade. A produção de veículos registrou em abril seu pior nível desde 1957, quando o setor começou a computar os dados. Na época, a indústria brasileira contava com apenas seis fábricas, todas na região do ABC Paulista. Os números divulgados na sexta- feira, 8 de maio, pela Anfavea, mostram que a crise está longe de terminar. Vale lembrar que no Brasil as fábricas começaram a paralisar suas operações a partir de 23 de março. Até aquele momento, a indústria vinha operando no seu ritmo normal, se preparando para um tradicional aumento das vendas que acontece em março, após os dois primeiros meses do ano serem historicamente mais fracos. Ainda assim, a produção foi prejudicada naquele mês: 63 das 65 fábricas que a indústria possui atualmente ficaram totalmente paralisadas na última semana de março e com isso seus 125 mil funcionários ficaram em casa. Grande parte delas assim permaneceu até 13 de abril, quando algumas começaram a retomar suas atividades. Até 30 de abril, apenas oito fábricas e seus 30 mil funcionários voltaram a operar, o que explica o baixo volume de produção para o mês. Em maio, 55 plantas produtivas permanecem fechadas e seus 5 mil funcionários continuam em casa. O presidente da Anfavea reconheceu que a produção abaixo de 1,8 mil unidades de fato eleva a ociosidade a níveis inaceitáveis e coloca em risco os empregos no setor. É importante ressaltar que a indústria automotiva brasileira (considerando toda sua cadeia e não exclusivamente as montadoras) é responsável por 5% do PIB Nacional e esse impacto e diminuição das atividades produtivas irá impactar em um número maior de desligamentos, faturamento, além de eventuais falências de pequenas empresas que estão na cadeia produtiva. Como proposta para mitigar os impactos financeiros, a Anfavea levou ao Governo Federal uma proposta para desamarrar empréstimos dos bancos ao setor com juros mais baixos, para recompor o rombo de caixa das empresas provocado pelas paralisações de atividades como resposta à pandemia de coronavírus. A ideia é que o BNDES garanta essas operações, recebendo como garantia os créditos tributários que as montadoras têm a receber de governos federal e estaduais, que segundo calcula a entidade somam R$ 25 bilhões no momento. Segundo o presidente da Associação, o faturamento das empresas caiu de 80% a 90% com a paralisação das atividades, mas continuam as despesas para pagar funcionários e fornecedores. Estão com falta de capital de giro e precisam de crédito para passar por esse momento. Em meio ao aumento do risco sistêmico provocado pela crise instalada pela pandemia de Covid-19, que poderá levar muitas empresas à falência, os bancos se retraíram, evitam conceder crédito e quando o fazem cobram juros altos. Assim de nada adiantou a irrigação de liquidez no mercado de cerca de R$ 1,2 trilhão que o Ministério da Economia disse ter feito, lançando mão de medidas como a redução dos depósitos compulsórios dos bancos. Com aumento da aversão ao risco, esses recursos não chegam às empresas, continuam aplicados em títulos públicos. Caso a proposta não seja aceita, o presidente da Anfavea avalia que as empresas associadas até poderão buscar recursos nas matrizes, que também enfrentam problemas de liquidez e dificilmente têm condições de socorrer as subsidiárias brasileiras neste momento. No entanto, ressalta que será difícil convencer as diretorias no exterior que não poderão usar recursos que são devidos. Mesmo que o BNDES garanta empréstimos no valor total dos créditos tributários devidos às montadoras de R$ 25 bilhões, o valor pode não ser suficiente para cobrir todos os rombos de caixa. No mês passado a Anfavea afirmou ao governo que o setor precisa de R$ 40 bilhões para atravessar a crise – o que envolve toda a cadeia, incluindo fornecedores e concessionários, duramente afetados pela devastadora queda de produção e vendas. Depois de ver algumas de suas demandas atendidas na Medida Provisória 936, que permite a flexibilização de jornada de trabalho e redução de salários para reduzir o tamanho da folha de pagamentos das empresas durante a crise, a Anfavea levou a proposta de financiar o capital de giro das empresas com uso de créditos tributários. Agora a entidade prepara um nova lista de pedidos, ainda em gestação pelos membros da associação, que envolvem medidas de estímulo ao setor. Já está previsto que o valor dos veículos sofrerá alterações, de aproximadamente 15% dos preços atuais, o que provavelmente diminuirá a demanda dos produtos, além da maior dificuldade de condutores financiarem seus veículos, uma vez que os bancos estão atentos a possíveis inadimplências devido à crise e possíveis demissões em curto e médio prazo. Alguns estudos apresentados indicam que o Brasil ainda passará por um longo período de quarentena, sendo discutido inclusive a normalização total das atividades apenas em Janeiro de 2021. Quanto maior o tempo para a retomada, maior será o impacto tanto nos empregos da cadeia, quanto à compra desses veículos por consumidores. A esperança atual encontra-se no aftermarket, ou seja, na reposição de peças de veículos já adquiridos, uma vez que espera-se que os consumidores neste momento aguardem para a troca de seus veículos. Calcula-se que desde o início da quarentena mais de 01 milhão de emplacamentos não foram realizados. Além do mercado interno, observou-se um impacto significativo nas exportações de veículos produzidos no Brasil.As exportações de veículos desceram ao seu menor nível dos últimos 23 anos ao registrar apenas 7,2 mil unidades embarcadas em abril. O volume vendido em abril para outros mercados representou queda de 76,6% na comparação com os 30,7 mil veículos exportados em março. Na comparação anual, com abril de 2019, a queda chega a 79,3%. No acumulado do ano, entre janeiro e abril, as exportações somam 96,2 mil veículos, retração de 31% sobre o resultado de iguais meses de 2019. Com Argentina, Chile e Colômbia fechados, a pandemia tem agravado a venda para outros países. A crise gerada pela doença, que também afeta esses mercados, diminui ainda mais a retomada da economia local, principalmente da Argentina, que já vinha convivendo com uma crise econômica desde 2019. Para se ter ideia, o país vizinho não produziu nenhum veículo em abril, as exportações caíram 83% no mês e as vendas domésticas recuaram 60%. Devido aos dados informados anteriormente, o setor logístico, principalmente no que diz respeito à transporte, está suspenso nas mesmas proporções. Vemos algumas empresas da cadeia já desligando diversos colaboradores, suspendendo salários e contratos, e diminuindo jornadas a fim de não terminarem suas atividades em um primeiro momento. No entanto, essa já é uma realidade encarada pelas pequenas empresas. O caso mais provável é que as multinacionais do setor de autopeças sejam as que consigam se restabelecer com mais facilidade, principalmente pela sua capacidade de capital estrangeiro. Mesmo assim, já vemos algumas dessas empresas sofrendo impactos severos, uma vez que suas matrizes também foram duramente lesadas durante a pandemia. Com o caos mundial, vemos também um impacto severo nas importações. Com o dólar oscilando diariamente a valores históricos, e sendo os impostos brasileiros uma média de 60% do valor da carga, muitas empresas se vêem em uma situação impossível de controlar. Componentes adquiridos com valores mais baixos, agora estão sendo taxadas com valores altíssimos. Não há lucro. Além disso, no caso de uma retomada a curto prazo, sendo o Brasil um país continental e com sua grande maioria de importações marítimas, haverá uma dificuldade nas importações marítimas devido ao transit time longo, obrigando as empresas a optarem pelo modal mais oneroso (aéreo), diminuindo ainda mais seus lucros. A situação mais provável pós pandemia para o mercado automotivo brasileiro é uma retração inédita, com uma diminuição de demanda e, consequentemente, de oferta. Os valores em toda a cadeia sofrerão reajustes que serão repassados ao consumidor, tornando mais distante e inviável a compra de um carro 0km. Economistas da área informam que o cenário volte a ser promissor apenas em 2023, mesmo com subsídios e auxílios do Governo Federal ou Estadual. O cenário para o setor não é otimista, e o impacto será sentido ainda por alguns anos.
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