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Estratégias empresas pós-covid

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
ESCOLA DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS E RETOMADA DOS LUCROS DO SETOR DA CONSTRUÇÃO CIVIL DURANTE E APÓS COVID-19
Disciplina: estratégia competitiva e Inovação
Professor: Jamerson Queiroz
Discente:
PÉRICLES RAFAEL DA SILVA MEDEIROS
Natal - RN
2020
1. INTRODUÇÃO
Atualmente, o Brasil e o mundo estão passando por uma crise, e ainda é difícil estimar seu impacto na sociedade e na economia. No entanto, é claro que, até 2020, as atividades econômicas de todos os setores do mercado de trabalho sofrerão um declínio severo e serão afetadas em graus variados. Em novembro de 2019, vários setores da indústria da construção apontaram cenários encorajadores para o ano de 2020. O PIB estimado é de 2,2%, um número muito encorajador em comparação com o desempenho anterior. Agora muitos se perguntam, qual o impacto da crise causada pela pandemia do coronavírus no setor da construção civil no Brasil? Sem dados suficientes em mãos, fica difícil arriscar um palpite, vale a pena lembrarmos do momento em que o nosso mercado se encontra, considerando o contexto do ciclo de desenvolvimento de um projeto de incorporação. 
No geral, o mercado imobiliário brasileiro passou por uma crise de longo prazo entre 2013 e 2018, que melhorou durante 2019. Nos primeiros meses de 2020, o mercado começou a mostrar sinais de forte recuperação, com melhorias substanciais no índice, como as vendas de lançamentos, a redução de unidades que se encontravam em estoque e a restauração dos níveis de aluguel. 
Ao revisar o ciclo típico de desenvolvimento de projetos de construção, notamos que essas etapas são geralmente: captação de recursos, aquisição de terras, desenvolvimento de projetos, aprovação de órgãos públicos, start-up (início de vendas), construção e entrega da unidade. Esse ciclo completo leva cerca de 5 anos, dependendo da complexidade do projeto e da maneira como os desenvolvedores trabalham. 
Retornando ao período "pré-crise" do mercado imobiliário no Brasil, pode-se ver que durante 2019, uma série de indicadores-chave foi restaurada, proporcionando espaço para empresas mais estruturadas buscarem novos negócios. No segundo semestre de 2019, as empresas obtiveram uma grande quantidade de capital (várias formas de fundos, com foco na expansão de fundos de investimento imobiliário), assim como, o aquecimento no mercado de aquisição de terrenos, onde a disputa por boas áreas pelas incorporadoras, era um bom sinal pois apresentavam fortes indícios de recuperação do setor. 
Voltando à análise atual, percebemos que, em geral, o setor vinha mostrado sinais de recuperação contínua, com mais ativos nos estágios iniciais do ciclo: captação de recursos, aquisição de terras, desenvolvimento de projetos. Contudo, quando essa "recuperação" foi interrompida ou adiada devido à crise, grande parte das empresas já haviam investido recursos financeiros, com aquisição de novas terras para desenvolver novos projetos e até mesmo obras em fase inicial de execução. Com a pretensão de lançamento para o segundo semestre de 2020, as empresas tiveram que abrir mão de todo planejamento já estabelecido, buscando novas alternativas estratégicas.
Embora os decretos estaduais permitissem a continuidade de execução nos canteiros de obras, a parte comercial foi a que mais sofreu com os impactos da pandemia, estandes de vendas fechados, demanda reduzida e progresso lento das obras, as vendas de imóveis refletiram dificuldades em quase todos os departamentos de produção, visto que, fica claro que as vendas dependem da confiança do consumidor, emprego, crédito e perspectivas futuras, aspectos muito críticos para o presente, mesmo para aqueles com renda estável.
2. NOVOS PARÂMETROS E PERSPECTIVAS DAS CONSTRUTORAS
José Carlos Martins, presidente da CBIC (Câmara Brasileira de Construção), entende que a construção civil será a principal alavanca no país para restaurar o ritmo econômico que vinha tendo antes da pandemia do coronavírus. O dirigente anunciou em uma conferência online que enfrentar uma crise é semelhante ao que se fez no final da guerra. Ele disse: “Após uma guerra, se sai reconstruindo”. Martins destacou ainda que, após a pandemia, a construção civil será o setor com a capacidade de movimentar outros segmentos da economia brasileira. “A construção civil impacta diretamente 62 setores das áreas industrial e comercial e mais 35 setores de serviço. São 97 torneiras que são abastecidas quando se enche essa caixa d’água. Não há como irrigar a economia sem a construção civil”, argumenta.  
Para aliviar esse impacto, a CBIC e a ABRAINC (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) lançaram a campanha "Vem Morar", na qual construtoras e incorporadores de todos os portes fornecerão pelo menos 3.000 reais de desconto pelo valor de suas unidades. O período inicial do plano é de 60 dias e o escopo é de âmbito nacional. Para os compradores que compram imóveis de empresas participantes da campanha, ele ainda tem uma condição especial de 180 dias para pagar a primeira parcela. “Não tem forma de sair dessa crise que não seja via investimento”, destaca José Carlos Martins. 
Na Construtora Moura Dubeux, apenas três canteiros de obras estão em operação. O CEO da empresa, Diego Villar, disse que essa situação imediatamente levou à suspensão do contrato de trabalho e à diminuição no faturamento de receitas. Além de reduzir as vendas, houve a suspensão de contratos de trabalho e redução de jornadas. No entanto, ele também está otimista sobre o futuro. “O mercado mantém sua premissa básica de demanda por produto imobiliário devido ao déficit habitacional. Para não contribuir negativamente com todo este desgaste econômico, estamos focando em adotar mecanismos que garantam a manutenção do emprego. Com correções econômicas feitas, reequilíbrio fiscal e ausência de desequilíbrio monetário nas contas públicas, podemos caminhar para uma recuperação”, analisa. 
Além da perspectiva de recuperação, Diego também falou sobre novas formas de marketing no futuro. “A empresa precisa se reinventar deste ponto de vista. É um caminho sem volta. Aprendemos a fazer muitas coisas a distância, a sedimentar a questão de vendas online e houve ganhos de produtividade no que carecia de muita documentação. Este é um grande legado, além dos lançamentos virtuais”, conta. Do ponto de vista da empresa, ele disse que aperfeiçoou as operações focadas na geração de caixa e nas vendas dos estoques, sem mudanças bruscas. “Acreditamos que este será o novo cenário independente de como o mercado vai se ajustar, mais para a frente”, afirma.
O diretor de Desenvolvimento Imobiliário da MRV, Rafael Pires, disse que a empresa teve paralisação de algumas obras e plantões de venda, mas, apesar do impacto, a empresa ainda entende a mudança. “As ações tomadas focam na segurança e prevenção e isso é muito importante”, afirma. Na estratégia de minimizar esses efeitos, a MRV criou um comitê de gerenciamento de crises composto por executivos que se reúnem todos os dias. “Dentre as medidas tomadas, anunciamos o compromisso de garantir aos colaboradores da empresa a estabilidade no emprego nos próximos 60 dias. Mesmo com a crise provocada pela pandemia mantemos o nosso otimismo em relação a nossa atuação. O déficit habitacional no país ainda é significativo e a demanda por moradia é crescente. Com a redução dos juros e as novas condições para pagamentos de financiamentos oferecidas pelos bancos, o acesso ao imóvel próprio se tornou uma realidade para muitos brasileiros que antes não consideravam essa possibilidade”, conclui.
3. COM CRÉDITO, PERSPECTIVA DE INSTABILIDADE SERÁ DE CURTO PRAZO NO SETOR IMOBILIÁRIO 
Para o economista Luís Artur Nogueira, quando a situação do crédito estiver resolvida, a instabilidade no setor imobiliário da construção civil deve durar pouco tempo. “De fato, a incerteza paralisa novos investimentos e atrasa as obras. Haverá uma reavaliaçãopor parte das construtoras e incorporadoras sobre novos lançamentos, mas acredito que a vida volta ao normal a partir do segundo semestre”, avaliou. O analista entende, no entanto, que a principal força motriz para o país retomar o crescimento econômico virá da construção de obras e infraestrutura. Ele ressaltou que, por esse motivo, é necessário fortalecer o investimento público e superar os desafios das flutuações da taxa de câmbio, o que traz incerteza ao investimento estrangeiro e à cadeia produtiva. “O investimento em infraestrutura é uma das saídas, pois já existe a percepção do governo de que se não houver o aporte público não terá o do privado”. 
4. ESTRATÉGIAS ASSERTIVAS QUE GERAM LUCROS 
A maior construtora da América Latina, a MRV Engenharia, faturou R$ 6 bilhões no ano passado e também sentiu o impacto da crise. A empresa foi fundada pelo empresário Rubens Menin, hoje presidente do conselho, e desenvolveu uma estratégia ampla para aliviar os efeitos da desaceleração do mercado. A empresa começou a retomar as atividades em estados onde o isolamento é gradualmente facilitado. Além disso, fortaleceu sua estrutura de vendas on-line para garantir que atende àqueles que não podem esperar a pandemia terminar para comprar suas próprias casas. Segundo Menin, o segundo trimestre de 2020 foi o melhor da história da empresa. "A transformação digital é irreversível", afirmou. "Muitas pessoas compraram casa própria por meio digital e mais de 50% das nossas vendas foram feitas pela plataforma digital", citou.
Ao Fortalecer sua plataforma de vendas digitais, a empresa permitiu que o usuário realize a busca e a compra de um imóvel sem sair de casa, da simulação à análise de crédito, das visitas (virtuais) aos apartamentos à assinatura de contratos, tudo feito de forma online. O projeto tem cerca de 100 profissionais envolvidos, a ferramenta foi lançada em janeiro, inicialmente limitada a Belo Horizonte, a ferramenta que pode ser acessado pelo site da construtora, teve um upgrade em março após a infecção pelo coronavírus, passando a atender 160 cidades de 22 estados onde a MRV atua. Esta é a mais recente iniciativa de uma empresa de construção civil nos últimos cinco anos, a empresa investiu 250 milhões de reais em transformação digital e cooperação com startups para desenvolver produtos e serviços em conjunto.
Outra estratégia tomada pela construtora MRV foi o investimento de 1 milhão de reais para criar o primeiro centro de pesquisa e desenvolvimento em construção civil em Belo Horizonte/MG. A ideia é incentivar o desenvolvimento de tecnologia, processos, métodos de construção e testes de materiais para produzir produtos de maior qualidade. “Estamos muito empolgados com esse projeto, pois é uma grande oportunidade de pensar e conceber tecnologia nacional para o segmento da construção civil habitacional. Há alguns anos a MRV tem se posicionado na vanguarda do setor e iniciativas como a criação de um LAB dentro da sede da empresa para estabelecer uma conexão direta com o ecossistema de inovação e participar de projetos e pesquisas para o setor, além de ser mantenedor do hub Órbi Conecta, espaço de fomento ao empreendedorismo e à inovação, são provas disso. Mas chegou a hora de sermos ativos no desenvolvimento de tecnologias, métodos e produtos”, fala Eduardo Fischer, presidente da construtora. Segundo Flávio Vidal, gerente de inovação da MRV, “no mundo pós-Covid-19, a inovação pode ser um fator mais do que essencial para a sobrevivência das empresas e a criação de renda e oportunidades de emprego. Portanto, vale ressaltar: incentivar os funcionários a deixar o piloto automático é fundamental”. 
“Qualquer profissional é capaz de inovar”, diz Flávio. “Antes de pensar na tecnologia, as equipes precisam olhar para dentro. Quais são as necessidades? O que é relevante para a área no curto, médio e longo prazo?” 
Como qualquer empresa, a MRV teve que se adaptar as mudanças causadas devido a pandemia. Funcionários de grupos de risco da Covid-19 foram “liberados de suas atividades temporariamente” ou estão trabalhando em home office. A empresa informou que estar tomado todas as medidas de prevenção, como monitorar a temperatura e sintomas de gripe na entrada e saída do canteiro de obras. “Higienização diferenciada nos refeitórios e escalas para reduzir a circulação nos plantões de venda”. 
Apoiada por uma estratégia comercial agressiva, a MRV quebrou recordes de vendas no segundo trimestre e se beneficiou da regularização de recursos transferidos para o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), minimizando os impactos da pandemia na economia. A construtora informou que suas vendas totais de abril a junho foram de R $ 1,81 bilhão, com 11.479 unidades vendidas, um aumento de 37,4% em relação ao mesmo período de 2019. A empresa afirmou que se espera que a manutenção dessa situação traga mais geração de caixa no segundo semestre do ano. 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Este trabalho buscou nortear quais as iniciativas e estratégias estão sendo empregadas nas empresas da construção civil, não há dúvida de que 2020 será difícil para a economia. No entanto, após a pandemia, a construção civil deve ser um importante meio de recuperação econômica e criação de empregos para reduzir o impacto no setor produtivo, que foi enfraquecido pelo Covid-19. As empresas que estão mais dispostas a aceitar mudanças terão menos dificuldade em se adaptar aos negócios. Embora a construção civil ainda seja um campo muito engessado, é necessário entender que é hora de reciclar. Antes do final da pandemia, o perfil dos consumidores não terá as mesmas preferências de antes, será necessário restaurar o contato e conhecê-lo novamente. E as empresas que adotarem uma estratégia mais assertiva saíram na frente. Os especialistas em vendas tentam prever tendências, analisando as necessidades e expectativas dos clientes e as estratégias inovativas e marketing digital tem sido os recursos que mais tem favorecido as empresas na busca pela retomada financeira durante e após-pandemia, aliado a isso, o uso de sistemas de construção industrializados significa benefícios óbvios: redução do horário de trabalho, equipes enxutas, pouco ou nenhum desperdício, maior precisão e produtividade.
6. REFERENCIAS 
MATERIAS E DICAS. www.mrv.com.br, 2020. Com ou sem coronavírus, a MRV aposta que você nunca mais vai comprar um imóvel do mesmo jeito. Em: https://www.mrv.com.br/sustentabilidade/pt/materias-e-dicas/institucional/com-ou-sem-coronavirus-a-mrv-aposta-que-voce-nunca-mais-vai-comprar-um-imovel-do-mesmo-jeito. Acesso em: 17/07/2020
AGÊNCIA CBIC. cbic.org.br, 2020. A pandemia do coronavírus Recomendações para o ambiente de trabalho na indústria da construção. Em:https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2020/03/A_pandemia_do_coronavirus_v2.pdf. Acesso em: 17/07/2020
FRACHETTA, ALEX. O que podemos esperar do mercado imobiliário depois do coronavírus? AECweb, 2020. Disponível em: https://www.aecweb.com.br/cont/a/o-que-podemos-esperar-do-mercado-imobiliario-depois-do-coronavirus_19892. Acesso em: 17/07/2020

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