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RESUMO - Contratos em Espécie

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DIREITO CIVIL II – CONTRATOS EM ESPÉCIE 
Aula 01 – Parte especial dos contratos 
Arts. 481 e 853. Estes são os contratos nominados e típicos porque têm nome e previsão na lei, 
mas vocês já sabem que não são os únicos, são apenas os mais importantes, diante da 
autonomia do cidadão em criar contratos para negociar no mercado, gerar riqueza, criar 
empregos, pagar impostos, movimentar a economia, sem precisar de previa autorização dos 
deputados (425). 
1 – Compra e venda: este é o primeiro e principal contrato que nós vamos estudar. A CeV tem 
origem na troca pois o homem primitivo não conhecia o dinheiro, então trocavam coisas entre 
si. A inconveniência das mercadorias terem valores diferentes e a necessidade de dar troco, fez 
surgir o dinheiro e o contrato de CeV. Assim, ao invés de se trocar coisa por coisa, passou a se 
trocar coisa por dinheiro. Este é o conceito mais simples de CeV: é a troca de coisa por dinheiro. 
Excelente a invenção do dinheiro pois dispensa o professor de precisar dar aula ao padeiro para 
adquirir pão… Mas dinheiro só funciona por que a sociedade confia que ele tem valor. A CeV 
nasceu assim da troca e com a invenção do dinheiro a substituiu, pois a troca hoje é contrato 
raro. Para os consumistas fica o consolo: sempre que estiverem desolados porque gastaram 
mais do que podiam, lembrem-se que vocês não compraram nada, apenas trocaram, será? 
Conceito: contrato em que uma das partes se obriga a transferir a outra o domínio de uma coisa 
mediante o pagamento convencionado de certo preço em dinheiro (art. 481). 
Neste conceito destaquem de imediato a expressão “se obriga”, oriunda do Direito Romano e 
da Alemanha pois a CeV, como todo contrato, gera obrigação. A CeV não transfere o domínio 
(= propriedade), e sim obriga o vendedor a transferir o domínio da coisa, se ele não o fizer será 
cabível as perdas e danos do 389, com as exceções já conhecidas do 475. Observem que o art. 
481 prescreve que a CeV não transfere o domínio, mas obriga o vendedor a transferir. E o que é 
que vai transferir o domínio da coisa adquirida? Se a coisa for móvel, é a tradição = entrega 
efetiva da coisa prevista nos arts. 1226 e 1267. E se a coisa for imóvel a propriedade se adquire 
pelo registro em Cartório, conforme art. 1227. Registro e tradição são assuntos de Direitos Reais, 
mas que vocês já podem ir se familiarizando. 
Por que se exige a tradição e o registro? Porque a propriedade é um direito tão importante na 
nossa vida, que para transferi-la não basta o contrato, é necessário um gesto a mais/uma 
confirmação, que é a tradição para os móveis e o registro para os imóveis. O nosso Direito 
entende que o contrato é um caminho para se adquirir a propriedade, mas não é o único, pois 
a usucapião (Civil 5) e a herança (Civil 7) também conduzem à propriedade. 
Observação: os automóveis são bens móveis então se transferem pela tradição. O registro no 
DETRAN é importante para fins administrativos, não para fins civis, assim quando você vende 
um carro ele deixa de ser seu quando você entrega o carro ao comprador, mas é prudente 
comunicar ao DETRAN para não ficar recebendo multas e infrações em seu nome e toda vez ter 
que ficar provando que já alienou o veículo. 
Antes da tradição ou do registro a coisa pertence ao vendedor (492), de modo que se você 
compra uma geladeira a vista e vai aguardar em casa que a loja entregue, porém o caminhão é 
roubado, o prejuízo será da loja que vai ter que lhe entregar outra geladeira; todavia, se você 
compra um celular a prazo, sai com o aparelho da loja e você é roubado, o prejuízo será seu e 
você terá que pagar as prestações. Tudo isso é consequência do princípio res perit domino ( = a 
coisa perece para o dono). 
Elementos da CeV são três: 
a) a coisa: é o objeto da obrigação de dar do vendedor; tal coisa em geral é corpórea, ocupa 
lugar no espaço, é tangível; mas pode também ser incorpórea como a propriedade intelectual, 
os direitos do autor e o fundo de comércio. Esta coisa em geral está presente, mas pode ser 
futura, como já vimos nos contratos aleatórios (483: emptio spei e emptio rei speratae dos arts. 
458 e 459). Só as coisas úteis e raras são apropriáveis, então não são vendidas coisas inúteis (ex: 
folhas), abundantes (ex: água do mar, o ar que se respira) e inalienáveis (ex: bens públicos, 99 e 
100; bens herdados com cláusula de inalienabilidade, 1911). 
b) o preço: é objeto da obrigação de dar do comprador; o preço geralmente é em dinheiro ( = 
pecúnia, que deriva de pecus = cabeça de gado, que era uma moeda primitiva), mas pode ser 
em título de crédito (ex: cheque). O preço precisa ser combinado pelas partes, afinal todo 
contrato é consensual, não se admitindo uma CeV tipo “o comprador pagará o que quiser” (489). 
Admite-se que um terceiro fixe o preço, mediante arbitramento (485; veremos o contato de 
arbitragem ao final do semestre). Finalmente, o preço pode também ser fixado pelo mercado 
(486 e 487). Em geral, o comprador primeiro dá o preço para depois exigir a coisa (491). Além 
do preço, a CeV gera outras despesas relativas a transporte da coisa móvel ou registro da coisa 
imóvel, despesas que devem ser pagas conforme acerto entre as partes (490). 
c) o consenso: é o terceiro elemento da CeV e de todo contrato, que sempre exige acordo de 
vontades e mútuo consentimento sobre o preço, o objeto e os demais detalhes do negócio. Não 
esqueçam que na compra e venda de imóveis tal consenso exige a solenidade da escritura 
pública (108). No art. 482 encontramos os três elementos da CeV: acordo, objeto e preço. 
Aula 02 – Contratos em Espécie 
1 – Compra e venda (continuação) 
Características da CeV: 
a) bilateral: é contrato de efeito bilateral pois ambas as partes são credoras e devedoras, ambas 
as partes possuem direitos e deveres. Na compra e venda encontraremos duas ações: a do 
comprador entregando o preço e a do vendedor entregando a coisa. O comprador tem o dever 
de entregar o preço e o direito de exigir a coisa, e o vendedor tem o dever de entregar a coisa e 
o direito de exigir o preço. Os contratos de efeitos bilaterais são também conhecidos como 
sinalagmáticos, palavra que deriva do grego sinalagma ( = reciprocidade). 
b) consensual: nasce do acordo de vontades, e mesmo antes da entrega da coisa já existe 
contrato, diferente do depósito e comodato que são contratos reais. A CeV pode ser verbal, 
salvo a compra e venda de imóvel que é contrato solene e além do consenso exige escritura 
pública (108). 
c) onerosa: não é gratuita, pois ambas as partes têm interesse econômico e vantagem 
patrimonial. A CeV pressupõe trocas úteis e justas, no espírito da função social do contrato, 
exigida pelo art. 421 do CC. 
d) geralmente comutativa: a CeV pode ser aleatória, como na já estudada CeV de coisa futura 
(=emptio spei e emptio rei speratae), mas em geral é contrato comutativo já que existe uma 
equivalência entre o preço pago (prestação) e a coisa adquirida (contraprestação). 
e) instantânea: a CeV dura segundos, minutos, e mesmo se o pagamento é a prazo, a CeV 
continua sendo instantânea, porém de execução diferida. 
Legitimidade para a CeV: a legitimidade e um limitador da capacidade que já explicamos em Civil 
III, revisem no nosso site. Algumas pessoas, embora capazes, não têm legitimidade (= 
autorização) para comprar e vender certos bens, em certas circunstâncias, vejamos: 
a) para proteger a família, o cônjuge não pode vender um bem imóvel sem a autorização do 
outro cônjuge, o que se chama de outorga uxória (1647, I). Caso essa venda ocorra ela não será 
nula, mas anulável (1649). A nulidade é mais grave do que a anulabilidade, depois revisem 
Invalidade do Negócio Jurídico (169 e 172). O juiz pode suprir uma recusa injusta (1648). 
b) para proteger a igualdade da herança entre os filhos, e evitar que uma venda a preço vil 
esconda uma doação, um pai também não pode vender um bem a um filho sem a autorização 
dos demais filhos, sob pena de anulabilidade (496). Se o pai quer beneficiarpatrimonialmente 
um filho mais do que a outro, deve fazer isso expressamente e aguardar as conseqüências do 
ciúme entre os irmãos. O pai não pode é por trás de uma venda ter feito uma doação, afirmando 
que recebeu o preço sem ter havido pagamento. Em Civil 7 estudaremos colação, assunto que 
se completa com este para uma perfeita compreensão de vocês, pois a coisa vendida não é 
colacionada (art. 2002). 
c) por uma questão moral, afinal não basta ser honesto, é preciso parecer honesto, o tutor não 
pode comprar os bens do órfão que ele administra; idem o juiz não pode comprar os bens que 
ele mandou penhorar do devedor no processo de execução, sob pena de nulidade (497, I e III). 
d) para facilitar a extinção do condomínio, um condômino não pode vender sua parte a um 
terceiro se outro condômino a quiser, sob pena de anulabilidade (ex: imaginem que João e Maria 
são donos de um barco, se João quiser vender sua parte deverá antes oferecer a Maria até para 
extinguir o condomínio, pois não é fácil duas pessoas exercerem propriedade sobre um mesmo 
bem, 504). 
Venda ad mensuram e ad corpus: estas duas espécies de CeV se aplicam a imóveis. A venda é 
ad mensuram quando se determina a área do imóvel vendido (ex: fazenda de cem hectares, 
terreno com mil metros quadrados) ou o preço de cada metro ou hectare (ex: mil reais cada 
metro quadrado, dez mil reais por hectare); o erro no tamanho do imóvel traz conseqüências 
conforme art 500. Já na venda ad corpus adquire-se coisa certa e que se presume conhecida 
pelo comprador (ex: Fazenda São João, Engenho Limoeiro), de modo que não se pode falar de 
abatimento do preço (§ 3º do art. 500). Na venda ad corpus existe uma presunção absoluta de 
que o comprador conhecia o imóvel, sua extensão e suas divisas. Falando de presunção, em 
direito a presunção pode ser absoluta (jure et de jure) ou relativa (juris tantum): a presunção 
absoluta não admite prova em contrário (exs: 158, 1.238), a relativa sim (ex: 322). 
Cláusulas especiais à compra e venda: estas cláusulas modificam o contrato e são opcionais, 
podem ou não estar presentes nos contratos de CeV, a critério das partes: 
a) retrovenda: cláusula pela qual o vendedor, em acordo com o comprador, fica com o direito 
de, em até três anos, recomprar o imóvel vendido, devolvendo o preço e todas as despesas feitas 
pelo comprador (505). Não se aplica a móveis, só a imóveis. Imaginem que uma pessoa em 
dificuldades financeiras precisa vender uma casa que foi dos seus antepassados, usa então a 
retrovenda para ter uma chance de em três anos readquirir a casa pela qual tem estima. É 
cláusula rara porque é onerosa para o vendedor, mas não deixa de ser útil para quem está em 
dificuldade transitória. É também conhecida pela doutrina como pacto de resgate ou de retrato. 
A retrovenda é de iniciativa do vendedor e torna inexistente a venda originária, reconduzindo 
os contratantes à situação anterior ao contrato. Não será necessário novo contrato de compra 
e venda, e nem novo pagamento de imposto de transmissão se o vendedor exercer seu poder. 
O comprador se torna dono da coisa, mas sua propriedade não é plena e sim resolúvel, ou seja, 
pode ser resolvida (= extinta) se o vendedor exercer a opção. É direito potestativo do vendedor 
exercer a retrovenda, de modo que o comprador não pode se opor (506). A cláusula de 
retrovenda é registrada em Cartório de Imóveis, de modo que se torna pública e vale contra 
todos, assim se um terceiro adquirir tal imóvel fica sujeito também à retrovenda (507 – jamais 
comprem um imóvel sem verificar o registro no Cartório de Imóveis). A retrovenda se extingue 
pelo seu exercício, pela decadência do prazo de três anos, pela destruição do imóvel (ex: 
incêndio, desmoronamento) ou pela renúncia do vendedor a esta cláusula. 
b) venda a contento: próxima aula. 
Aula 03 
1 – Compra e venda (continuação) 
Cláusulas especiais à compra e venda: estas cláusulas modificam o contrato e são opcionais, 
podem ou não estar presentes nos contratos de CeV, a critério das partes: 
a) retrovenda (estudada na aula passada) 
b) venda a contento: esta cláusula, caso inserida pelas partes, permite desfazer o contrato se o 
comprador não gostar da coisa adquirida (ex: vendo um carro com prazo de alguns dias para o 
comprador experimentar o veículo; outro exemplo: compras pela internet a lei dá um prazo de 
sete dias para experimentar e se arrepender se não gostar). O comprador não precisa dar os 
motivos caso não queira ficar com o bem, sendo direito potestativo do comprador exercer esta 
cláusula, e o vendedor não pode discutir ou impugnar essa manifestação. Direito potestativo é 
aquele que é exercido sem oposição da outra parte, como o direito do patrão de demitir o 
empregado. A venda a contento tem duas espécies: 1) suspensiva: nesta venda a contento o 
comprador não paga o preço e adquire a coisa por empréstimo. Se gostar paga o preço e adquire 
a coisa, se não gostar devolve sem dar explicações (510). Como a coisa é do vendedor, se a coisa 
perecer enquanto o comprador experimenta, o prejuízo será do vendedor, afinal res perit 
domino (= a coisa perece para o dono). No art 509 temos a venda ad gustum (degustação) 
aplicável a gêneros alimentícios. Tanto na venda a contento do 509 como na venda sujeita a 
prova do 510 o comprador fica como comodatário (= empréstimo, 511). 2) resolutiva: nesta 
segunda espécie, o comprador paga o preço e adquire a coisa como dono, se não gostar devolve 
a coisa, desfaz a compra e exige o dinheiro de volta. Caso a coisa venha a perecer durante a 
prova o prejuízo aqui será do comprador. Se as partes não estipularem prazo para a prova do 
bem, o vendedor deverá intimar o comprador para se manifestar (512). 
c) preempção ou preferência: cláusula que obriga o comprador de coisa móvel ou imóvel a 
oferecê-la ao vendedor caso resolva aliená-la a um terceiro, a fim de que o vendedor exerça seu 
direito de preferência. Na preempção o adquirente admite que, caso receba uma oferta de 
terceiro, dará preferência ao vendedor para que a coisa retorne a seu patrimônio (513). Exige-
se duas condições: que o comprador queira vender (514) e que o vendedor (ex-dono) pague o 
mesmo preço oferecido pelo terceiro, e não o preço pelo qual vendeu (515). Qual o prazo desta 
cláusula? Resposta: pú do 513 c/c 516, então tratando-se de imóvel, se o comprador quiser 
vender a um terceiro em até dois anos após a compra, o vendedor terá sessenta dias para se 
manifestar. É direito personalíssimo (520). A preferência possui duas espécies: a) convencional: 
depende de contrato/de acordo de vontades, é a preferência que nos interessa; b) legal: 
interessa ao Direito Público, quando, por exemplo, o Estado desapropria uma casa para fazer 
uma rua, depois desiste, cabe então preferência ao ex-dono para readquirir o imóvel (519 – é 
conhecida como retrocessão de Direito Administrativo, sendo uma cláusula implícita em toda 
desapropriação). Na preferência não cabe ação real (na retrocessão sim), então se o comprador 
vende a um terceiro sem oferecer ao vendedor, o vendedor não poderá recuperar a casa do 
terceiro, poderá apenas exigir uma indenização do comprador que não respeitou a cláusula da 
preempção (518). A preferência difere da retrovenda, explicada na aula passada, por cinco 
motivos: 1) a preferência não precisa de registro em Cartório de Imóveis e nem constar na 
escritura pública; 2) na preferência a iniciativa é do comprador em querer vender, enquanto na 
retrovenda é o vendedor que tem a iniciativa e a faculdade de comprar de volta; 3) a retrovenda 
só se aplica a imóveis, com efeito real (507, in fine), e a preferência a móveis e imóveis, sem 
efeito real (518); 4) na retrovenda se extingue uma venda, aqui na preferência se celebra novo 
contrato; 5) o direito à retrovenda se transmite aos herdeiros (507), o direito à preferência não 
(520). 
d) venda com reserva de domínio: é aplicável na venda a prazo de bens móveis individualizáveis 
e duráveis (ex: carros, geladeiras,máquinas, 523). O arrendamento mercantil e a alienação 
fiduciária em garantia também têm a mesma aplicação: facilitar a compra a prazo, equipar os 
consumidores, gerar emprego, lucro para as fábricas, impostos para o Governo e garantir loja a 
recuperar a coisa se consumidor não pagar as prestações. Vejamos hoje venda com reserva de 
domínio: é a cláusula pela qual o comprador assume a posse da coisa, mas só se torna seu 
proprietário após pagar o preço integral (521). Não se aplica a imóveis, só a móveis comprados 
a prazo. Para os imóveis comprados a prazo existe o direito do promitente comprador, do art. 
1417, assunto de Civil 5. Posse e propriedade são conceitos que vocês vão estudar no próximo 
semestre, mas já dá para entender que, na VRD o comprador ocupa a coisa mas só se torna seu 
dono quando pagar todas as prestações. O normal é a simples tradição já transmitir a 
propriedade, mas na VRD, além da tradição, o vendedor exige o pagamento integral do preço. 
Como o comprador não é dono da coisa, caso as prestações não sejam pagas o vendedor poderá, 
através do juiz, recuperar a coisa que é sua, ao invés de exigir apenas as perdas e danos por 
descumprimento do contrato (389, 526). O comprador não pode atrasar o pagamento das 
prestações, mas pode antecipá-las (133). A coisa precisa ser individualizada, ter caracterização 
detalhada (ex: cor, modelo, ano, placa, número do chassis, número do motor, etc.) para permitir 
a apreensão judicial. A VRD não se trata de contrato preliminar, mas sim de contrato definitivo 
com cláusula de reserva de domínio. Sem cláusula expressa, não há VRD, mas simples venda a 
prazo, tornando-se o comprador dono pela tradição, de modo que o não pagamento das 
prestações se resolve em perdas e danos e pronto (522). Para o vendedor a VRD é mais segura 
do que a venda simples, pois a coisa fica como garantia. Mas se a coisa for retomada pelo 
vendedor ele não poderá ficar com ela, e sim terá que vendê-la para cobrir seu prejuízo e 
devolver o excedente ao comprador (527, 1364). Como a coisa pertence ao vendedor até o 
pagamento de todas as prestações, o prejuízo pela sua destruição em caso de furto/acidente 
deveria ser do vendedor, afinal vocês sabem que res perit domino ( = a coisa perece para o 
dono). Porém aqui na VRD existe uma exceção a este princípio, de modo que res perit emptoris 
( = a coisa perece para o comprador, 524), e deve ser assim afinal o vendedor-proprietário não 
tem o menor controle sobre o uso da coisa e se o prejuízo fosse seu poderia ensejar muitas 
fraudes. A VRD exige forma escrita, não pode ser verbal, mas dispensa escritura pública, basta 
o instrumento particular (522). Este registro a que o artigo 522 se refere não é o registro 
imobiliário, afinal a VRD só se aplica a móveis; este é o registro no Cartório de Títulos e 
Documentos mas a jurisprudência dispensa tal registro. Se a coisa for vendida pelo comprador 
a terceiros a venda deve ser desfeita, afinal o comprador não é dono ainda, não podendo vender 
o que não é seu. Mas se o terceiro estava de boa-fé e desconhecia a cláusula de reserva de 
domínio, a venda pode prevalecer conforme parte final do art. 523. O legislador optou pela 
segurança jurídica do terceiro ao invés do direito de propriedade do vendedor, o que vocês 
acham? Reflitam! 
e) venda sobre documentos: interessa ao comércio exterior, e vocês vão estudá-la em Direito 
Empresarial/Comercial. 
Fim do contrato de compra e venda. 
Aula 04 
Contratos em espécie 
1 – Compra e venda: já estudada 
2 – Troca – é o contrato pelo qual as partes se obrigam reciprocamente a transferir o domínio 
de uma coisa por outra. Como todo contrato, gera obrigação e não direito real ( = 
propriedade/domínio). É também conhecida como permuta ou escambo. A troca antecedeu a 
compra e venda e foi praticamente substituída por esta. Em comunidades carentes as trocas são 
mais frequentes pela escassez de dinheiro, como vemos nas feiras “do troca-troca” existentes 
nos subúrbios. Se a CeV é a troca de coisa por dinheiro, a troca é a permuta de coisa por coisa. 
Tudo o que pode ser vendido por ser trocado, seja móvel ou imóvel, corpóreo ou intangível. E 
se alguém troca uma casa por um carro e mais certa quantia em dinheiro? Terá havido troca ou 
CeV? Vai depender do valor em dinheiro envolvido, se pouco dinheiro, considera-se troca, se 
muito dinheiro considera-se CeV. Chama-se de saldo essa quantia pecuniária eventualmente 
presente na troca. As normas aplicáveis à CeV se aplicam igualmente à troca (533, caput), apenas 
o inc. I do 533 faz analogia com o 490, e o inc. II do 533 com o 496. 
3 – Contrato Estimatório: podemos utilizar o conceito legal do art. 534. É também conhecido 
como contrato de venda em consignação. É utilizado na venda de carros e eletrodomésticos 
usados, bem como na de quadros e obras de arte. Não se aplica a imóveis. Exs: João quer vender 
seu carro e deixa nessas lojas de veículos que se vê pela cidade, ou José é pintor e deixa seu 
quadro numa galeria para exposição. O código chama de “estimatório” pois o consignante (dono 
da coisa) estima o preço mínimo para venda pelo consignatário (dono da loja ou galeria). A venda 
por mais do que o preço estimado é lucro para oconsignatário. Se o objeto não for vendido no 
prazo fixado entre as partes, o consignatário pode comprá-lo pelo preço estimado ou então 
devolver a coisa ao consignante (é obrigação facultativa do consignante, vide 534, in fine). O 
contrato estimatório é contrato real, não se forma antes da entrega da coisa (534 – sublinhem 
“entrega”). Além de real, é oneroso (não é gratuito), comutativo (não é aleatório) e bilateral 
(não é de efeito unilateral). O CE difere do mandato pois neste se autoriza alguém a agir em seu 
próprio nome (ex: contratar advogado para me representar em Juízo, 653), já no CE o 
consignatário atua em nome próprio perante terceiros compradores. Para evitar fraudes, se a 
coisa consignada for destruída (ex: incêndio) ou roubada o prejuízo será do consignatário, que 
terá que pagar o preço estimado ao consignante (é mais uma exceção ao res perit domino, 535). 
Deve o consignatário então fazer seguro da coisa. O consignante permanece como dono até um 
terceiro ou o consignatário comprar a coisa, de modo que o consignatário só tem a posse, e não 
a propriedade da coisa que está exposta a venda (536). A tradição ao consignatário não lhe 
transfere a propriedade. Apesar de permanecer proprietário até a coisa ser vendida, o 
consignante perde a faculdade de disposição ( = jus abutendi do 1.228). Será estudado em 
Direitos Reais que a propriedade é a soma de três faculdades: uso, fruição e disposição. Mas 
uma vez celebrado o CE o proprietário/consigante perde até o direito de dispor do bem, salvo 
se a coisa não for vendida e retornar às suas mãos (537). O consignatário tem assim posse com 
a faculdade de dispor da coisa, e vender a quem quiser. Se o proprietário quiser recuperar a 
coisa antes do prazo ajustado do CE, o consignatário pode impedir ajuizando ação de 
manutenção de posse. 
4 – Doação: é contrato tão antigo quanto a troca, ambos mais antigos do que a compra e venda. 
Conceito doutrinário: contrato pelo qual uma das partes, chamada doador, se obriga a transferir 
gratuitamente um bem de sua propriedade para outra pessoa, chamado donatário, que 
enriquece se aceitar a doação, enquanto o doador empobrece. Conceito legal: 538. 
Comentários ao conceito: 
– gratuidade: a diferença essencial para a compra e venda é porque na doação a circulação do 
bem de uma pessoa para outra é gratuita, enquanto na CeV existe o pagamento do preço como 
contraprestação. Em geral o doador age por pura liberalidade/generosidade, tanto que alguns 
autores afirmam que donareest perdere ( = doar é perder). Mas será mesmo? Há outros autores 
que discordam e entendem que o doador “satisfaz sua vaidade, recebe honrarias e alcança 
prestígio” (ex: doação para o Hospital do Câncer). Reflitam, pois mesmo na doação de uma 
pequena quantia para o porteirodo edifício, o donatário pode estar interessado numa ajuda 
com as compras, na lavagem do carro, etc. Por isso, por trás de todo contrato, mesmo gratuito, 
pode existir um interesse econômico, afinal é comum ouvir neste mundo consumista que 
“ninguém faz nada de graça”. Doando assim é que se ganha! Inclusive a oração de São Francisco 
foi deturpada e na política moderna o “é dando que se recebe” tem uma conotação pejorativa. 
Reflitam! 
– gera obrigação: a doação, como a compra e venda, por si só, não transfere propriedade. Já 
sabemos que é necessário a tradição e o registro para completar o contrato. Para imóveis ambas 
exigem escritura pública com autorização do cônjuge do doador. E a doação, por ser gratuita, 
ainda exige por segurança a formalidade do contrato escrito para móveis, diferente da compra 
e venda de móveis que pode ser verbal (541 e pú). 
– o bem: o objeto da obrigação de dar do doador tem que ser lícito e pertencer ao doador, afinal 
não se pode doar coisa alheia. Tal coisa precisa estar presente. A doação de coisa futura é válida, 
mas não com o nome de doação, e sim como um contrato atípico. A doação é essencialmente 
espontânea/natural, por isso que não se pode celebrar promessa de doação de coisa futura. 
Além de coisas, direitos também podem ser doados (ex: um direito de crédito consubstanciado 
num cheque). 
– aceitação: como todo contrato, exige acordo de vontades, então o donatário precisa aceitar a 
liberalidade. Tratando-se de contrato gratuito, em geral o donatário aceita, mas não pode ser 
imposto (539 – admite aceitação tácita, revisem formação do contrato na aula 3). Não se pode 
impor a doação até porque, por uma questão de ética ou de vaidade, para evitar cobranças 
futuras, há situações em que o donatário deve se recusar a aceitar (ex: juiz recusar um carro de 
presente um advogado). O incapaz pode aceitar (542, 543, ex: dar presente a uma criança). Nas 
doações modais/com encargo (ex: doação de uma fazenda com o ônus de construir uma escola 
para as crianças da região) não se admite aceitação tácita, e nem pode ser feita a incapaz. 
– inter vivos: doação é negócio inter vivos; a doação mortis causa é a herança e o legado que 
veremos em Civil 7, 2018. 
Elementos da doação: objetivo: é o empobrecimento do doador e o enriquecimento do 
donatário;subjetivo: é o animus donandi ( = intenção de doar), é a vontade do doador de praticar 
uma generosidade, então jogar uma roupa velha no lixo não é doação mas abandono (obs: 
abandono difere de renúncia, leiam mais em Direitos Reais – Civil 5). No empréstimo também 
não há animus donandi, pois quem empresta espera receber de volta. Difícil às vezes é saber 
quando é empréstimo ou doação (ex: um vizinho deixa na sua casa um livro para você, será que 
ele doou? Ou apenas está emprestando para você ler?). 
Observações sobre doação: 
– a coisa doada, caso possua algum defeito, não fica sujeita a evicção (defeitos jurídicos) ou 
vícios redibitórios (defeitos materiais), pois já sabemos que tais institutos só se aplicam aos 
contratos de efeitos bilaterais. Faz sentido, afinal ganhar uma coisa, mesmo com defeito, pode 
ser vantajoso. Nunca se perde uma coisa doada, no máximo se deixa de ganhar. Porém se a 
doação foi onerosa/com encargo, admitem-se a evicção e os vícios redibitórios (pú do 441). 
– pessoa em dificuldades financeiras, ou seja, insolvente, com muitas dívidas, não pode doar 
seus bens para não prejudicar os credores. Caso o faça tal doação será anulável por se tratar de 
fraude contra os credores. Há uma presunção absoluta (mais do que relativa) de que aquele que 
faz doação em estado de insolvência está fraudando seus credores (158). 
Características: é contrato de efeito unilateral, com direito só para o donatário de exigir a coisa, 
e obrigação só para o doador de entregar a coisa; é solene para os imóveis e móveis pois exige 
forma escrita; para os móveis de pequeno valor pode ser verbal/informal, porém só se perfaz 
com a entrega da casa, sendo assim contrato real. É gratuito pois só o donatário tem proveito 
econômico, porém admite-se doação onerosa quando existe um 
encargo/ônus/proveito/vantagem ( = pequena contraprestação) em favor do doador nas 
doações modais (ex: dou um terreno para ser construída uma escola com o ônus de colocar meu 
nome no estabelecimento). 
Próxima aula: espécies de doação e revogação da doação. 
Aula 05 
4 – Doação (continuação) 
Espécies de doação: 
a) doação condicional: fica subordinada a evento futuro e incerto (121), ex: darei uma casa a 
minha filha se ela se casar, darei um carro a meu filho se ele passar no vestibular. Nem todo 
mundo se casa ou faz faculdade, por isso são eventos incertos. 
b) doação a prazo ou a termo: subordina-se a evento futuro e certo, ex: darei um carro a meu 
filho quando fizer 21 anos. Completar 21 anos é uma certeza para todas as pessoas, só depende 
do inexorável passar do tempo. Salvo se a pessoa morrer, mas aí aplica-se o princípio mors 
omnia solvit (= a morte tudo termina). 
c) doação modal: sujeita-se a encargo. Encargo é um ônus imposto nas liberalidades, seja uma 
doação, seja um testamento. Doação modal é doação onerosa pois existe uma 
obrigação/incumbência por parte do donatário, mas é uma pequena contraprestação para não 
descaracterizar a doação (ex: vou doar uma fazenda com o ônus de construir uma escola para 
os filhos dos trabalhadores; vou doar um carro a meu sobrinho pra ele passear com meu 
cachorro). Se o encargo for grande, não teremos doação, mas troca ou outro contrato bilateral 
qualquer. O donatário que não executa o encargo perde a doação (553, 555 e 562). Se o encargo 
for de interesse coletivo o Ministério Público pode entrar na Justiça contra o donatário, se o 
doador não o fizer (pú do 553; obs: este é um dos poucos casos de participação do Ministério 
Público no Direito Patrimonial, afinal o Ministério é público e o Direito Civil é privado). A doação 
modal pode se confundir com a condicional se considerarmos que passar no vestibular ou se 
casar seja um ônus, reflitam! 
d) doação pura: é aquela que não for condicional, a termo ou modal. Ou seja, é a doação simples, 
de plena liberalidade/generosidade, sem nenhuma exigência, motivação, limitação, condição ou 
encargo. É a doação mais comum. 
e) doação em fraude contra credor: existe presunção absoluta de fraude quando o insolvente 
doa seus bens. Quem está em dificuldades financeiras não pode fazer doação para não 
prejudicar seus credores (158). 
f) doação ilegítima: é feita a donatário sem legitimidade (= autorização) para receber doação, 
ex: 550. O tutor também não tem legitimidade para doar bens do órfão que ele cuida, nem com 
ordem judicial (1749, II). 
g) doação a incapaz: pode ser feita doação a incapaz se for pura (542 e 543, ex: dar presente a 
uma criança). 
h) doação remuneratória: é feita por gratidão, para retribuir um favor, por reconhecimento (ex: 
médico amigo que lhe opera e não cobra nada, depois ganha um carro). A doação remuneratória 
não fica sujeita a revogação por ingratidão, que explicaremos abaixo (564, I). Admite-se que o 
cônjuge possa doar bens móveis do casal sem outorga uxória se a doação for remuneratória 
(1647, IV). Bem imóvel não pode ser doado sem outorga uxória, mesmo na doação 
remuneratória (1647, I). A doação remuneratória não se sujeita a colação (2011, então um filho 
que presta muitos serviços ao pai poderá herdar mais do que os outros, haja ciúmes!). 
i) doação inoficiosa: vai interessar ao Direito das Sucessões (Civil 7). É nula e ocorre quando o 
doador, tendo filhos, dá a terceiros mais da metade dos seus bens, que é mais do que se poderia 
dispor em testamento (549). Mais detalhes em Civil 7 (art. 1846 e no § 1º do art. 1857). Obs: um 
pai pode vender todos seus bens, afinal a venda é uma troca, mas não pode doar para não ficar 
na miséria e para não fraudar a legítima dos seus filhos, violando princípios de Direito das 
Sucessões. 
j) doação com cláusula de reversão: cláusula expressaonde o doador determina que caso o 
donatário morra primeiro do que ele, os bens retornarão ao patrimônio do doador, ao invés de 
seguirem para os filhos do donatário. Nesta espécie de doação, a propriedade do donatário é 
resolúvel, ou seja, não é plena, podendo ser resolvida (= extinta) caso o donatário morra antes 
do doador. Morrendo o doador primeiro, a propriedade torna-se plena para o donatário (547). 
k) doação em adiantamento de legítima: ocorre quando o pai doa um bem ao filho como 
antecipação de herança (544, 2018). Alguns autores criticam essa doação por se tratar de um 
pacta corvinavedado pelo art. 426, afinal o filho sempre pode morrer antes do pai. 
l) doação universal: é proibida pelo art 548, já que ficando o doador na miséria vai sobrecarregar 
os serviços assistenciais do Estado. 
m) doação sob subvenção periódica: ocorre quando o doador constitui uma renda (ex: mesada) 
em favor do donatário (545). Essa renda é personalíssima, e nem a obrigação se transmite aos 
filhos do doador, e nem o benefício aos filhos do donatário. 
n) doação conjuntiva: é feita a mais de uma pessoa, distribuindo-se em geral por igual (551, ex: 
se João doa um barco a José e Maria presume-se que foi 50% para cada um, mas o doador pode 
estipular uma fração maior para um ou outro donatário). 
o) doação em contemplação de casamento futuro: é uma doação condicional, ou seja, fica 
sujeita ao casamento entre certas pessoas. A aceitação do casal ao contrato de doação vem com 
o matrimônio (546). 
p) doação merecimento: é feita em contemplação do merecimento de alguém, quando o doador 
dá os motivos da doação (ex: doação de um caminhão bombeiro ao fazendeiro José porque ele 
é um ambientalista e protegerá suas florestas de incêndios; doação de minha biblioteca ao aluno 
João porque ele é estudioso e gosta de ler, etc). 
Revogação da doação: a doação é um favor, é uma generosidade, é um benefício, é uma 
liberalidade, e por isto não se aceita que o donatário seja ingrato com o doador. A moral e a lei 
exigem que o donatário respeite o doador, sob pena de revogação da doação por ingratidão 
(arts. 555 e 557). Gratidão é assim obrigação de não-fazer do donatário, que deve se abster de 
praticar condutas que revelem desapreço pelo doador e seus filhos (558). 
Estes motivos são exaustivos/taxativos, não são exemplificativos, não havendo outros casos de 
ingratidão que autorizam a revogação além destes previstos no código. Tomando o doador 
conhecimento destas condutas, deve processar o donatário no prazo de um ano para recuperar 
a coisa doada (559). 
O direito de revogar é irrenunciável, pode porém não ser exercido (556). 
A revogação não atinge terceiros, de modo que se o doador tiver alienado a coisa doada, o 
terceiro adquirente não será prejudicado, pois não há ação real sobre a coisa. Deverá sim o 
donatário indenizar o doador pelo equivalente, ou seja, poderá o doador mover apenas ação 
pessoal contra o donatário. Igualmente, em se tratando, por exemplo, de uma fazenda doada, 
a revogação da doação não obrigará o donatário a devolver os frutos (ex: colheitas, crias dos 
animais, etc), apenas a fazenda em si (563). 
O direito de revogação da doação é personalíssimo, só o doador pode exercê-lo (560), salvo se 
ele tiver sido morto pelo donatário, hipótese em que seus herdeiros poderão processar o 
donatário (561). Não se exige gratidão dos herdeiros do donatário, apenas deste. Há espécies 
de doação que não se revogam por ingratidão, previstas no art. 564. A doação feita para 
determinado casamento não se revoga para não prejudicar o cônjuge inocente. 
Aula 06 
5 – Locação 
É o contrato mais usado na sociedade depois da compra e venda. Hoje em dia alugam-se carros, 
casas, quartos, apartamentos, roupas, vestidos de noiva, filmes, fazendas, cadeiras de rodas, 
muletas, etc. 
A locação possui três espécies, já conhecidas dos romanos: locatio rei (locação de coisa), locatio 
operarum (locação de serviço) e locatio operis (locação de obra). Atualmente, só a primeira 
espécie conserva o nome de locação, e as demais são conhecidas, respectivamente, como 
prestação de serviço e empreitada. 
O contrato de empreitada veremos em breve, e o contrato de prestação de serviço interessa ao 
Direito do Trabalho, tendo em vista o art. 114, I, VI e IX da CF, com a alteração da Emenda 45, 
de 2004, que passou para a Justiça do Trabalho o julgamento de toda lide decorrente de relação 
de trabalho, seja entre patrão e empregado, seja decorrente de prestação de serviço (593, 594). 
Apenas exemplificando, os prestadores de serviço são os profissionais liberais como os 
advogados, médicos, psicólogos, dentistas, engenheiros, arquitetos, etc., ou seja, aqueles 
trabalhadores que não possuem subordinação hierárquica a seus patrões, quais sejam, os 
clientes e pacientes. Aguardem mais detalhes sobre prestação de serviço no Direito do Trabalho 
e sobre empreitada na próxima aula. 
Vamos hoje nos concentrar na locatio rei ou simplesmente locação: é o contrato pelo qual o 
locador se obriga a conceder ao locatário, temporariamente, o uso e gozo de coisa infungível 
mediante certa retribuição (565). Destaquem no conceito: 
– se obriga: contrato gera obrigação, então se o locador se recusa a entregar a coisa mesmo 
pago o aluguel, resolve-se em perdas e danos, não podendo o locatário ocupar a coisa, pois não 
dispõe de ação real, apenas ação pessoal/obrigacional contra o locador inadimplente. Tanto não 
dispõe de ação real que, via de regra, se a coisa for vendida durante o contrato, o novo dono 
não precisará respeitar a locação, e o locatário terá que sair e exigir perdas e danos do locador 
(576). 
– temporariamente: locação é temporária; a coisa se transfere ao locatário por certo tempo e 
depois retorna às mãos do locador. Na compra e venda, ou na doação, a coisa se transfere em 
definitivo ao comprador e ao donatário, mas na locação não. Na locação se transfere posse, que 
é temporária, enquanto na doação e compra e venda se transfere propriedade, que é 
permanente. O locatário de uma casa, de uma roupa, de um filme, etc., tem posse, não tem 
propriedade. Como o que se transfere é a posse, o locador não precisa ser dono da coisa, assim 
o usufrutuário pode alugar (1.393), o inventariante também (1.991), e o próprio locatário pode 
sublocar. A sublocação é a locação do bem pelo locatário a um terceiro (ex: A aluga uma casa a 
B que subloca a C). 
– uso e gozo: o que se transfere na locação é a posse da coisa, é o uso e a fruição (sinônimo de 
gozo). O locatário pode assim usar a coisa para o fim a que ela se destina, mas não pode vendê-
la, reformá-la, ou destruí-la, pois isso só o dono pode fazer. Mais detalhes sobre posse, uso e 
fruição em Direitos Reais. 
– coisa infungível: a coisa locada é infungível, ou melhor, é inconsumível pelo simples uso. Findo 
o contrato, a própria coisa locada é que retorna às mãos do locador, e não uma coisa 
semelhante. Comida, energia, gás, gasolina, etc., não podem ser objeto de locação, pois elas se 
destroem pelo simples uso. 
– retribuição: se o locador tem a obrigação de ceder a coisa, o locatário tem a obrigação de 
pagar uma retribuição que se chama aluguel. Este aluguel geralmente é em dinheiro, mas pode 
ser em colheitas, animais, pedras preciosas, serviços, etc. O aluguel é pago periodicamente por 
diária, semana ou mês. 
Legislação: as normas sobre o contrato de locação são muito extensas e variadas, inclusive há 
livros e profissionais especializados apenas neste contrato, tamanha a sua complexidade. Além 
do Código Civil, há outras leis importantes como a Lei 8.245/91, que dispõe sobre a locação de 
imóvel urbano, seja residencial ou comercial. Ressalto que nas locações de imóveis urbanos 
residenciais o locatário é chamado de inquilino. A locação de imóveis rurais é conhecida como 
arrendamento, nos termos do Estatuto da Terra (Lei 4.504/64). A locação de imóveis da União 
é regulada pelo Decreto-Lei 9.760/46. 
Como vimos no começo do semestre, o inquilinose beneficia do dirigismo contratual, que é a 
proteção da lei diante de sua inferioridade econômica perante o locador, porém tal benefício 
vem diminuindo até para incentivar os proprietários a ofertarem seus imóveis à locação. Com 
mais oferta de imóveis, o preço do aluguel baixa, o que é importante num país como o nosso de 
déficit habitacional. Por isso é preciso proteger o locador e despejar rápido inquilino 
inadimplente. 
Características da locação: é bilateral, pois ambas as partes têm direitos e deveres; é onerosa, 
pois ambas as partes têm vantagem patrimonial (locação gratuita se confunde com 
empréstimo); é comutativa pois as vantagens são equivalentes, ou seja, ao desgaste da coisa 
locada corresponde o preço recebido como aluguel; é consensual, pois a locação pode ser verbal 
(não é solene) e se forma pelo acordo de vontades (não é real, já existindo contrato antes 
mesmo da entrega da coisa); é impessoal (não é personalíssima) pois se transfere aos herdeiros 
(577); finalmente, é contrato duradouro, subsistindo por dias, semanas, meses e até anos (obs: 
uma locação por décadas ou por toda uma vida não é razoável; para passar tanto tempo assim 
com a coisa, é melhor adquirir sua superfície ou sua propriedade, assuntos de Direitos Reais). 
Obrigações das partes: as do locador estão nos arts. 566, 567, 568 e 571, e as do locatário nos 
arts. 569, 570 e 571. 
Sanções: caso as partes descumpram suas obrigações, a lei prevê sanções que variam conforme 
a gravidade da conduta, sendo admissível a alteração no valor do aluguel, o pagamento de 
indenizações, o despejo e o aumento das garantias contratuais (ex: exigir um fiador para o 
inquilino que sempre atrasa o pagamento do aluguel). 
Direito de retenção: é direito do locatário de não devolver a coisa alugada enquanto não receber 
indenização do locador por força da lei ou do contrato (ex: se o inquilino conserta as goteiras da 
casa tem direito à indenização por se tratar de benfeitoria necessária, mas as benfeitorias úteis 
e voluptuárias não ensejam indenização e nem retenção, 578; depois revisem benfeitoria do art. 
96. Outro ex: o locador exige o bem antes do prazo acertado, deve então compensar o locatário 
por quebra de contrato, cabendo ao locatário reter a coisa enquanto não for indenizado, pú do 
571). 
Aula 07 
6 – Empreitada 
É a conhecida locatio operis (locação de obra) dos romanos. Na empreitada contrata-se um 
profissional para executar uma obra, independentemente do tempo. A empreitada visa a um 
resultado, e o dono da obra paga por esse resultado, pois o empreiteiro se obriga a dar pronta 
a obra por um preço certo. Se o tempo é levado em consideração, teremos prestação de serviço, 
assunto de Direito do Trabalho. A prestação de serviço é um obrar, a empreitada é uma obra. 
Conceito: é o contrato de realizar uma obra por conta alheia, mediante pagamento. 
Se eu contrato um engenheiro para construir minha casa e pago por tempo, a obra pode 
demorar a sair, afinal o profissional vai querer ficar ganhando. Mas se eu contrato pela obra, 
independente do tempo, a casa deverá ficar pronta mais rápida, porém pode ficar mal feita. 
Reflitam! Se acontecer na empreitada do tempo ser superior ao previsto, não há que se falar em 
aumento do preço, afinal o contrato visa ao resultado, independentemente do tempo (619). 
Aplicação da empreitada: na construção e reforma de casas, edifícios, pontes, estradas, jardins, 
etc., inclusive em obras públicas, sob regras de Direito Administrativo. Admite-se 
modernamente empreitada até para escrever um livro, fazer um vestido, executar demolições, 
serviços de drenagem, elaborar um programa de computador ou organizar uma festa. A 
empreitada evita o desperdício, pois o empreiteiro só trabalha sob encomenda do empreitante. 
Espécies: 
a) empreitada de lavor: o material é por conta do dono da obra, e o empreiteiro só fornece sua 
mão-de-obra e a de seus operários, tendo apenas obrigação de fazer (612); b) empreitada mista: 
além do serviço, o material é por conta também do empreiteiro, que responde pela sua 
qualidade e pela sua correta aplicação na obra, sendo obrigação de dar (os materiais) e de fazer 
(o serviço, 610 e 611). 
Características: é contrato bilateral, comutativo, oneroso, informal (pode ser verbal) e impessoal 
(626). 
Garantia: o empreiteiro responde pela solidez da obra pelo prazo de cinco anos (618 e p.ú.) O 
empreiteiro responde também por danos causados a terceiros (ex: tijolos caindo na casa 
vizinha), afinal são seus operários que estão trabalhando (932, III). Concluída a obra (615, 616), 
o empreiteiro tem direito a receber o preço ajustado, podendo exercer o direito de retenção 
sobre a obra enquanto não for pago pelo dono-empreitante. 
7 – Empréstimo: É gênero de duas espécies: comodato e mútuo, só que este é o empréstimo de 
consumo (ex: alimentos, dinheiro, etc) enquanto o comodato é o empréstimo de uso (ex: casa, 
carro, livro, roupa, etc). 
7.1 – Comodato: etimologicamente é a soma das palavras “commodum” + “datum”, então o 
comodato é celebrado para dar comodidade a alguém. 
Conceito: é a cessão gratuita de coisa infungível, móvel ou imóvel, para ser usada e devolvida 
em certo prazo (579). 
Destaquem no conceito: 
– cessão: o comodato transfere a posse de uma coisa que será usada e devolvida em si, ou seja, 
é a própria coisa emprestada que se devolve ao comodante. 
– gratuita: o comodato é uma liberalidade, é gratuito, pois empréstimo oneroso equivale à 
locação. Porém as despesas com o uso da coisa são por conta do beneficiário/comodatário (584, 
ex: A empresta o carro/apartamento a B, então as despesas de gasolina/condomínio/luz são por 
conta de B). Por ser gratuito, tutor não deve celebrar comodato dos bens do menor, idem 
governante em relação aos bens públicos (580). 
– coisa infungível: a coisa dada em comodato é infungível, ou melhor, é inconsumível, não se 
destruindo pelo uso normal; empréstimo de coisa consumível chama-se mútuo, que veremos 
em seguida. 
– temporariedade: a coisa emprestada tem que ser devolvida, caso contrário teremos doação e 
não comodato (581). Se findo o prazo acertado o comodatário se recusar a devolver, o 
comodante poderá cobrar aluguel, além de perdas e danos (582, in fine). 
Se a coisa perecer sem culpa nas mãos do comodatário (ex: roubo, incêndio, enchente, etc) o 
prejuízo será do comodante tendo em vista o res perit domino (238 a 242), mas o comodatário 
deve usar e conservar a coisa com cautela (582, 1ª parte).Características: é contrato unilateral 
(só cria obrigação para o comodatário, que é a de conservar e devolver a coisa, porém existe 
uma pequena obrigação para o comodante, que é a de respeitar o prazo convencionado, 581; 
entregar a coisa não é obrigação do comodante, pois se trata de contrato real, 579, in fine), 
gratuito (para diferenciar da locação onerosa), real (só se perfaz com a entrega da coisa; além 
do consenso exige a entrega da coisa, de modo que a desistência do comodante antes da 
entrega da coisa não dá direito a protesto por parte do comodatário), informal (pode ser verbal), 
duradouro (o comodato de uma casa pode durar meses e anos, ex: pai que empresta um 
apartamento para a filha que se casou) e personalíssimo (em geral é feito por amizade, então se 
leva em conta as qualidades do comodatário, não se transmitindo a seus filhos). 
Benfeitorias: se A empresta uma casa a B que realiza benfeitorias na casa, pode B exigir 
indenização de A ou exercer direito de retenção? A resposta é a mesma da locação: vai depender 
da espécie de benfeitoria (96). Então a benfeitoria voluptuária (ex: uma estátua, uma fonte no 
jardim) nunca se indeniza, e o comodatário pode retirá-la. A benfeitoria necessária (ex: goteira, 
parede rachada ameaçando cair, etc) indeniza sempre e a benfeitoria útil (ex: plantar árvores, 
construir uma piscina, cobrir a garagem) só se indeniza se feita com expressa autorização do 
comodante (578 e 1.219). Lembrem-se que, havendo dúvida na interpretação docontrato, deve-
se beneficiar o comodante (114). 
7.2 – Mútuo: é a cessão de coisa móvel para ser consumida e restituída em certo prazo pela sua 
equivalência (ex: alimentos, bebidas, ração, dinheiro, etc). É empréstimo de consumo, por isso 
jamais pode ter por objeto um imóvel. A coisa emprestada não é devolvida na sua 
individualidade, mas em coisa equivalente (586). O mutuante transfere o domínio, e não só a 
posse da coisa, afinal a coisa será consumida e uma coisa equivalente é que será devolvida pelo 
mutuário (587).As características são as mesmas do comodato, com uma ressalva: o mútuo de 
dinheiro em geral é oneroso já que o mutuário deve pagar juros ao mutuante, é o chamado 
mútuo feneratício (591 – este artigo presume os juros na taxa do contrato do art 406; realmente 
não cabe à lei fixar juros, mas ao mercado já que o Direito não manda na Economia). O juro é o 
proveito tirado do dinheiro emprestado como o aluguel é o preço correspondente ao uso da 
coisa locada. 
Aula 08 
8 – Depósito 
Conceito: contrato pelo qual o depositário recebe objeto móvel do depositante para guardá-lo 
e restituí-lo quando solicitado (627). Exemplos: seu vizinho vai viajar e pede para você ligar o 
carro dele toda semana para não arriar a bateria, ou deixa com você a chave do apartamento 
para molhar as plantas; outro ex: você vai viajar e deixa seu cachorro no veterinário; mais um 
ex: deixar a bagagem nos maleiros do aeroporto enquanto aguarda o vôo, etc. Também se 
considera depósito o carro que deixamos estacionado no shopping/supermercado enquanto 
fazemos compras; igualmente o carro adquirido a prazo mediante alienação fiduciária em 
garantia (assunto de Civil 5). 
Não confundam o contrato de depósito com o depósito de Direito Público, que vocês vão 
estudar em processo civil (art. 159, CPC). 
Objeto: apenas móveis, não há depósito de imóveis ou de móveis fungíveis/consumíveis. 
Depósito de dinheiro em banco é contrato bancário mais próximo do mútuo (645). 
A essência principal do depósito está na guarda, na custódia da coisa, de modo que, de regra, o 
depositário não pode usar a coisa, mas apenas guardá-la (640). Ao término do contrato, a coisa 
deve ser restituída com os frutos (ex: a cadela deixada no veterinário deu cria durante o 
depósito, 629). O depositário deve devolver a coisa imediatamente, o que é até vantajoso para 
o depositário já que não pode usá-la, então quanto mais cedo devolver melhor, se livrando da 
responsabilidade (633 – é o inverso do comodato no 581, pois o depósito beneficia o 
depositante enquanto o comodato beneficia o comodatário). Se a coisa perecer o prejuízo é do 
depositante (642). 
Obrigações das partes: ao depositário cabe guardar, conservar e restituir a coisa quando 
solicitado. Ao depositante cabe pagar a remuneração do depositário que pode exercer direito 
de retenção (643, 644). Se devidamente pago o depositário não devolver a coisa podia ser preso 
por até um ano (652), mas a jurisprudência sepultou esse dispositivo. Não há assim prisão por 
dívida no direito contratual, e a única prisão civil é no Direito de Família do devedor inexcusável 
de alimentos. 
(CF, art. 5º, LXVII). 
Características do depósito: é contrato unilateral e gratuito (ex: favor de amigo, como o depósito 
do vizinho que pede para ligar o carro/molhar as plantas), ou bilateral e oneroso (depósito de 
carro no shopping, do cachorro no veterinário, da bagagem no aeroporto, 628) é real (só se 
perfaz com a entrega da coisa), personalíssimo(confia-se no depositário), instantâneo (pode 
durar minutos enquanto fazemos compras) ou duradouro(pode durar anos como na alienação 
fiduciária), solene (o depósito exige forma escrita, 646) ou informal (a doutrina admite prova do 
depósito por testemunhas ou pelo ticket do estacionamento). 
Espécies: a) depósito voluntário: decorre do acordo entre as partes, como nos 
supramencionados exemplos; b) depósito necessário: é imposto pela lei nos casos do 647 (ex: 
1233, 649). 
9 – Mandato 
De início, não confundam mandato com mandado. Mandato é contrato, é representação. 
Enquanto mandado é ordem. Então deputado tem mandato (representa o povo) e advogado 
também (representa o cliente). Já Juiz expede mandado (= ordem) de segurança, mandado de 
prisão, mandado de reintegração de posse, etc. 
Mandato deriva do latim manum + datum, significando dar a mão, afinal é costume apertar as 
mãos após a conclusão de um negócio. Mas na vida moderna pode acontecer de as pessoas não 
poder agir em certos casos ou estar presentes em todos os lugares, então surge a representação, 
com alguém em lugar de outrem. O mandato permite que uma pessoa esteja simultaneamente 
em mais de um lugar. 
Em Direito, a representação possui duas espécies (115): a) legal ou judicial: deriva da lei ou da 
ordem do juiz (ex: o pai representa o filho menor, o tutor o órfão e o curador o mentalmente 
doente; o inventariante representa o espólio, etc.); b) consensual ou voluntária: decorre do 
contrato de mandato, é a representação que nos interessa este semestre. Na representação 
legal não há mandato, não há contrato. 
Conceito: contrato pelo qual o procurador/ou mandatário/ou representante se obriga a praticar 
atos jurídicos em nome do mandante/ou representado. O mandato se prova através da 
procuração (653). Mandato não se confunde com prestação de serviço, pois quando preciso de 
um médico/engenheiro/psicólogo/arquiteto, o profissional vai agir em meu benefício, mas não 
em meu lugar. Já o procurador representa o mandante, como o advogado substitui a parte 
perante o juiz. Assim, para o trabalho do advogado, além do contrato de mandato, celebra-se 
também o contrato de prestação de serviço. Mas os demais profissionais liberais prestadores de 
serviço não são nossos representantes, não tendo mandato (692, mandato judicial será 
estudado em Processo Civil e Prática Forense). 
Atos jurídicos: o mandatário fala em nome do mandante, prestando-se o mandato para atos 
jurídicos, mas não para atos materiais ou fatos (ex: posso passar uma procuração para alguém 
me inscrever no vestibular, mas não para fazer prova em meu lugar; outro ex: admite-se 
casamento por procuração -1.542, mas só para a celebração jurídica e não para a noite de 
núpcias!!!). 
Procuração: é o instrumento do mandato, é o elemento exterior do mandato. É com a 
procuração que o mandatário prova a terceiros que é o representante do mandante (118). 
Procuração não tem prazo, mas por cautela pode o terceiro exigir procuração recente do 
mandatário. O contrato de mandato pode ser verbal, mas a procuração precisa ser escrita e com 
a firma reconhecida (654, 657). A procuração para advogado atuar em Juízo dispensa a firma 
reconhecida pela responsabilidade do advogado. Já analfabeto não pode passar procuração 
particular, exigindo-se procuração pública feita em qualquer Cartório de Notas. 
Características do mandato: pode ser oneroso quando se paga uma remuneração ao procurador 
(ex: advogado, pú do 658; sendo oneroso, trata-se também de um contrato de prestação de 
serviço), mas pode ser gratuito quando feito entre amigos (ex: fazer inscrição num concurso, 
658). É sempre personalíssimo, pois se confia nas qualidades do procurador (682, II). 
Obrigações do procurador: 1) aplicar toda sua diligência/capacidade em favor do mandante no 
cumprimento do mandato, observando as instruções recebidas; 2) prestar contas de sua gestão 
(668). Responde o procurador por perdas e danos caso exerça mal seus poderes, ou 
substabeleça a terceiros incompetentes (667). Substabelecer é o mandatário se fazer substituir 
na execução do mandato; em geral o procurador pode substabelecer, afinal se o mandante 
confia no procurador, confia também nas pessoas em quem o procurador confia, mas o 
substabelecimento pode ser expressamente vedado. No silêncio do mandato, admite-se 
substabelecimento (655). 
Obrigações do mandante: 1) passar a procuração; 2) adiantar o dinheiro para a execução do 
mandato (ex: o valor da inscrição no concurso);3) pagar a remuneração ao mandatário se o 
contrato for oneroso (676); 3) cumprir as obrigações assumidas pelo mandatário (116, 675, 679). 
O mandatário pode exercer direito de retenção sobre bens do mandante, para forçar o 
mandante a cumprir suas obrigações, nos casos do 664 e 681. 
Extinção do mandato: nas hipóteses do art. 682, I (a revogação a qualquer tempo é direito 
potestativo do mandante, não podendo o mandatário se opor, pois basta o mandante perder a 
confiança no procurador para revogar a procuração); II (é contrato personalíssimo); III (ex: 
advogado que passa no concurso de juiz não pode mais exercer mandato judicial; outro ex: deixa 
de ter valor a procuração de pessoa solteira para alienar imóvel se essa pessoa contrai 
matrimônio); IV (este é o objetivo do contrato). 
Autocontrato: é o contrato consigo mesmo ou procuração em causa própria (ex: vou viajar e 
passo uma procuração para meu amigo José vender minha casa a qualquer pessoa, eis que o 
próprio José resolve compra-la, vai então celebrar a escritura de compra e venda sozinho, porém 
em meu nome e no nome dele, 117). Sendo a procuração em causa própria benéfica ao 
mandatário, o mandante não pode revoga-la (ex: vendo minha casa a José, recebo o dinheiro, e 
passo uma procuração para José ir nos cartórios fazer a escritura e o registro, não posso assim 
depois revogar essa procuração, 684, 685 e pú do 686). 
Aula 09 
10 – Comissão Mercantil 
Este contrato interessa mais ao Direito Comercial. Comissão vem do latim committere que 
significa incumbência, atribuir uma tarefa a alguém. Hoje em dia o contrato de comissão é usado 
por grandes empresas que trabalham com exportação de café, soja, açúcar, etc, afinal estas 
empresas não podem estar em todos os mercados. O comitente transfere seus negócios em 
busca do lucro ao comissário, que vai negociar/vender bens a terceiros por conta do comitente. 
É contrato personalíssimo pois existe mútua confiança entre comitente e comissário. 
Conceito: no art. 693 do CC. Então o comitente contrata o comissário para comprar e vender a 
terceiros certos bens móveis, agindo o comissário em nome próprio (694), mas por ordem do 
comitente (695), que lhe confia o seu comércio e lhe paga uma remuneração (comissão – 701). 
O comissário cuida dos interesses do comitente, devendo prestar contas semelhante a uma 
representação (709). A comissão é espécie de mandato, porém no mandato o mandatário age 
em nome do mandante e não há fins comerciais. Na comissão o comissário age em nome 
próprio, e o comitente pode ser desconhecido do terceiro com quem o comissário negocia. Mas 
por interesses comerciais, o comissário pode revelar quem é o comitente. 
O comissário que se afasta das instruções do comitente responde por perdas e danos (704), pois 
o contrato é feito no interesse do comitente, embora em nome do comissário (696 e pú). A 
comissão não tem fim em si mesmo, é contrato preparatório de outros que o comissário vai 
celebrar com terceiros. 
Cláusula del credere (= da confiança): obrigação do comissário de responder solidariamente com 
o terceiro comprador perante o comitente (ex: o comissário vende café do comitente e dá prazo 
ao terceiro para pagar, porém o terceiro não paga, devendo então o comissário pagar ao 
comitente e ir executar o terceiro). Inserindo-se esta cláusula del credere, fará o comissário jus 
a uma remuneração maior face o risco assumido (698; a regra geral é o comissário contratar em 
seu nome por conta e risco do comitente; 697, 693). Se o terceiro paga a vista e é o comitente 
que não entrega o bem, o terceiro só poderá processar o comissário (694). 
11 – Agência e distribuição 
O legislador trata simultaneamente no capítulo XII de dois contratos: o de agência e o de 
distribuição, vamos a eles: 
11.1 – Agência: é também conhecido como contrato de representação comercial, regulado pelo 
CC e pela lei 4.886/65, sendo semelhante ao contrato de mandato e de comissão (pú do 710, 
721). O contrato de agência é útil para o comerciante que quer expandir suas vendas em outras 
praças, como uma “longa mão” da empresa. 
Face à autonomia da vontade, a liberdade das partes é grande em misturar aspectos da compra 
e venda, comissão, do mandato, da agência e da distribuição, sempre com vistas ao lucro e ao 
aquecimento da economia. O que vai diferenciar a Agência da Comissão é porque na Agência a 
coisa vendida tem marca (711). Além disso, na Agência não se aplica a cláusula “del credere” e 
o agente tem sempre que divulgar o nome do proponente, o que pode não ocorrer na Comissão. 
Conceito: contrato pelo qual o agente/representante comercial, sob remuneração mas sem 
vínculo trabalhista, se obriga em caráter duradouro a negociar em certo lugar por conta do 
proponente (1a parte do art. 710). Ao agente/representante comercial cabe fazer propaganda 
dos produtos do proponente, conhecer o mercado, captar clientela, intermediar os negócios, 
fiscalizar os concorrentes e encaminhar os pedidos, tudo sob orientação do proponente (712). 
O agente deve ter cuidado para não vender além da capacidade de produção do proponente 
(713, 715). O representante comercial precisa ser registrado no conselho da categoria, nos 
mesmos termos da OAB para os advogados, o CREA para os engenheiros e o CRM para os 
médicos. 
O agente pode também promover a atividade do proponente, como o agente de futebol que 
revela jogadores. Também é agente o conhecido “promotor de eventos”, dedicado a promover 
shows, comícios, jogos e feiras. O agente é autônomo e tem seus próprios empregados, sem 
vínculo com o proponente. O agente só pode atuar em área específica e com aquela marca, 
divulgando-a (ex: na mata norte do estado de Pernambuco vendendo cerveja Brahma, 711). É 
contrato bilateral, oneroso, comutativo, personalíssimo, duradouro e informal (= verbal). 
Ao representado/comerciante cabe fornecer os produtos vendidos, pagar a comissão do 
representante e respeitar sua exclusividade na área, não podendo naquela região constituir 
outro representante. 
11.2 – Distribuição: quanto o agente tem nas suas mãos/a sua disposição, a coisa do proponente, 
o contrato de agência chama-se de distribuição (710, in fine). O agente/distribuidor se obriga a 
comprar do proponente/fornecedor, regularmente, coisas para serem revendidas em 
determinada região (ex: as distribuidoras/revendas de veículos). O agente promove negócios e 
o distribuidor realiza vendas. 
12 – Corretagem 
Conceito no art. 722. Ex: corretor de imóveis, de automóveis, de seguros, de obras de arte, etc. 
A palavra deriva do latim cursitare = correr de um lado para outro. É profissão antiga e 
importante, hoje divulgada em anúncios, jornais e cartazes em edifícios. A corretagem também 
é praticada na internet através de sites de compra, venda e aluguel. 
O corretor é um mediador/intermediário entre pessoas interessadas em fazer negócios. O 
desenvolvimento do comércio fez surgir intermediários para localizar interessados e aproximar 
as partes. Trata-se de contrato acessório que visa concluir outro negócio principal, 
assemelhando-se aos contratos acima por intervir em negócio alheio, circulando riquezas, 
estimulando vendas, trocas e locações. 
Além de acessório, a corretagem é bilateral, onerosa, consensual (pode ser verbal) e aleatória 
(depende de haver conclusão do negócio principal). O corretor deve agir com zelo (ex: corretor 
de quadros deve entender de arte, 723) e só terá direito à remuneração/comissão se a 
corretagem tiver resultado útil e o negócio principal for concluído (725). Qual o valor da 
comissão? Resposta: art. 724. 
Admite-se corretor de casamentos para aproximar noivos? Não, pois casamento não é contrato, 
casamento é a proteção que a lei dá à família, e a família é a base da sociedade. Além disso, 
contrato é feito com fins de lucro e interesse patrimonial, já casamento é celebrado por afeto! 
Além do Código Civil, existem leis especiais regulando a corretagem (729), como a de imóveis 
(lei 6.530/78), e de seguros(lei 4.594/64). 
13 – Transporte 
Conceito: contrato pelo qual uma pessoa, geralmente uma empresa, se obriga a transportar 
pessoas ou coisas, de um lugar para outro, mediante pagamento de um preço (730). Os 
primeiros contratos de transporte eram marítimos. Hoje em dia navios, aviões, trens e 
caminhões transportam coisas, animais e pessoas em todo o mundo, incrementando os 
negócios e o turismo (732). Transporte é serviço essencial realizado por particulares mas 
fiscalizado pelo Estado. 
Características: é contrato bilateral, consensual (verbal), oneroso e comutativo. Possui duas 
espécies: 
a) transporte de pessoas: quando o transporte é de pessoas, a bagagem do passageiro é 
acessório da pessoa, não se tratando de transporte de coisa. O transportador deve preservar a 
integridade do passageiro até o fim da viagem, reservando-lhe o espaço e alimento necessário 
para o deslocamento (ex: poltrona, lanche em viagem longa), bem como cumprindo o horário 
(737). E se ocorre um assalto/acidente no ônibus e o passageiro é ferido, pode-se processar a 
empresa? Talvez sim (735), talvez não, afinal segurança é obrigação do Estado e não do 
particular (734 – sublinhem “força maior”). Reflitam! Transporte gratuito não gera 
responsabilidade (ex: emprestar um ônibus para os funcionários irem à praia no Domingo, 736). 
Por sua vez, o passageiro deve pagar a passagem, sob pena de retenção de sua bagagem pelo 
transportador (742). O passageiro deve também ser educado no trajeto (738). 
b) transporte de coisas: ocorre quando uma coisa é expedida por um remetente para um 
destinatário, através da transportadora, mediante pagamento de um frete (ex: motoqueiro 
transportando documentos pela cidade, navio transportando máquinas pelo país). A coisa e o 
destinatário devem estar bem identificados para evitar que a coisa errada chegue à pessoa 
errada (743). O contrato se prova através do “conhecimento”, que é um documento emitido 
pelo transportador quando recebe a mercadoria (744). A empresa deve ter cuidado no 
transporte e na guarda da coisa, inclusive sendo equiparado ao depositário (751). É prudente 
fazer seguro para cobrir os prejuízos em caso de acidente (749 e 750). O destinatário tem dez 
dias para analisar se a coisa transportada sofreu avarias (pú do 754). 
Aula 10 
14 – Seguro 
Trata-se de contrato muito importante que divide por várias pessoas o prejuízo imposto a 
alguém pelo acaso. Várias pessoas pagam e apenas aquelas que sofrerem perdas, a depender 
do destino (= alea), receberão indenização. Os segurados são implicitamente solidários, pois 
cada um contribui para indenizar quem sofrer um acidente. Por isso não se iludam, sempre que 
seguradora é sucumbente na Justiça, um plano de saúde perde uma ação, por exemplo, o custo 
é dos consumidores pela solidariedade que une os segurados. As pessoas prudentes celebram 
seguro. Por tudo isso o seguro deve ser incentivado. Interessa também ao Direito Comercial (ex: 
seguro marítimo), e ao Direito Previdenciário (ex: seguros sociais, seguro desemprego, salário 
maternidade, acidente do trabalho, etc). 
Vamos hoje nos limitar ao seguro do Direito Civil, que possui duas espécies: 
1 – seguro de dano: contrato pelo qual uma empresa especializada obriga-se para com uma 
pessoa física ou jurídica, mediante prêmio por esta devida, a lhe pagar uma indenização se 
ocorrer um sinistro previsto no contrato ao patrimônio do segurado (757). Só pode ser 
seguradora pessoa jurídica devidamente autorizada (pú do 757). A seguradora recebe o prêmio, 
assume o risco e paga a indenização se ocorrer o sinistro. O seguro de dano protege o patrimônio 
do segurado, qualquer que seja o bem de pessoa física ou jurídica, contra incêndio, 
abalroamento, roubo, acidente, etc. Se o sinistro ocorrido não estiver expressamente previsto 
no contrato não há indenização. Por isso as cláusulas de exclusão do seguro constam no contrato 
após as de clausulas de cobertura, para melhor entendimento do consumidor. O segurado paga 
uma remuneração chamada prêmio, e terá direito à indenização se ocorrer o sinistro. A 
seguradora não pode dispensar/remir o prêmio de um dos segurados até para garantir sua 
solvência na cobertura do sinistro dos demais segurados. O objeto do seguro é o risco do 
patrimônio que se transfere ao segurado. O risco/o perigo existe, qualquer de nossos bens pode 
subitamente sofrer um dano e perecer, porém o sinistro é potencial. Quando o risco se 
materializa nós temos o sinistro (ex: acidente de trânsito, incêndio na nossa casa) surgindo para 
a seguradora a obrigação de indenizar. 
Características: 
– é contrato bilateral tendo o segurado a obrigação de pagar o prêmio como compensação à 
seguradora pelo risco assumido (763); tem também o dever de não agravar o risco (768, ex: 
fazer “pega” com o carro, vender fogos em casa). A seguradora tem interesse na conservação 
do bem do segurado (771), e tem a obrigação de pagar a indenização se o sinistro ocorrer 
(776,772). 
– a obrigação do segurado é certa, já a da seguradora é eventual. Por isso o seguro é contrato 
aleatório, pois se durante o prazo do contrato não ocorrer nenhum sinistro, a seguradora nada 
irá desembolsar, porém o prêmio não será devolvido (764). Obs: quando a seguradora paga o 
prejuízo do segurado, terá ação regressiva contra o causador do dano (786, ex: A bate no carro 
de B que tinha seguro; B vai receber a indenização da seguradora que vai processar A para 
receber o que pagou a B; art. 346, III). Ressalto que o contrato só é aleatório quando analisado 
isoladamente, entre segurado e seguradora. Isto porque quando visto de forma coletiva, entre 
seguradora e todos os seus segurados, o contrato para a seguradora não é aleatório já que 
apenas uma parte dos segurados daquela seguradora sofrerá sinistro. Se todos sofrerem um 
acidente, a seguradora poderá entrar em insolvência. Por isso é importante a seguradora 
analisar as propostas de acordo com a probabilidade de aquele bem sofrer um sinistro. O Direito 
é uma ciência humana, mas a Estatística é uma ciência exata, então a seguradora, através de 
uma análise das circunstâncias, avalia o risco, calcula o prêmio e aceita ou recusa o seguro (759). 
A falência da seguradora não isenta o segurado de responsabilidade (§ 4º do 787, ex: A bate no 
carro de B e A tinha seguro, porém sua seguradora está insolvente, A então terá que pagar o 
prejuízo de B). 
– quanto à falência da seguradora isso é muito raro pois, antes de uma quebra, a seguradora 
entra em liquidação extra judicial, com a nomeação de interventor para posteriormente ser 
assumida por outra seguradora. Em suma: o sistema de seguros é feito para absorver impactos 
mais fortes em uma ou outra empresa. Tanto que as operações das seguradoras são registradas 
e monitoradas pela Susep (Autarquia do Governo Federal www.susep.gov.br ) não havendo 
condição, exceto por fraudes, da seguradora assumir obrigações que não possa cumprir, 
excedendo seu limite técnico. Caso queira exceder esse limite, deve a seguradora fazer 
cosseguros (dentro do país ) ou resseguros (fora do pais) dividindo risco e prêmio com outras 
empresas. 
– é oneroso: as partes agem com interesse patrimonial, não por liberalidade. 
– é solene: prova-se por escrito mediante apólice com os detalhes do art. 760, mas admite-se 
seguro pelo consenso, antes da apólice, quando por exemplo se transmite à seguradora o fax da 
nota fiscal do carro 0 km adquirido numa loja. 
– é contrato de adesão, com suas cláusulas previamente estabelecidas pelo Governo (Susep) e 
pela seguradora, surgindo o consenso com o “aceite” do consumidor. Na verdade o consumidor 
figura como “proponente” (aquele que propõe seu ingresso no seguro) e a seguradora pode 
recusá-lo (ex: proponente é criminoso, cometeu fraudes, etc., existe até uma “lista negra de 
CPFs” porque aumenta a potencialidade do risco, onerando o custo do seguro para os bons 
consumidores, por isso a proposta pode ser recusada). 
– é duradouro: o seguro pode durar dias, mesese anos. 
Valor máximo da indenização: o seguro de dano tem por limite o valor da coisa, afinal seguro 
não existe para enriquecer, apenas para evitar uma perda, não se podendo segurar uma coisa 
por mais do que ela valha (778). A seguradora visa ao lucro no seu negócio, mas o segurado não 
(781). Também não se pode segurar um bem em mais de uma seguradora (782). O que se admite 
é nos seguros de alto valor as seguradoras dividirem seus riscos com outras seguradoras 
(cosseguro do 761). 
Boa fé: é um princípio aplicável a todos os contratos, mas no contrato de seguro a boa-fé é 
exigida com mais rigor, de modo que o segurado não pode mentir e nem omitir nenhuma 
informação relevante à seguradora (765, ex: o carro dorme em garagem ou na rua? Quem guia 
mais o carro é um jovem ou um adulto?) A lei pune com a perda da indenização o segurado que 
viola a boa-fé, mesmo que o bem segurado tenha sido vistoriado pela seguradora (766, 784 e 
pú). 
http://www.susep.gov.br/
14.2 – seguro de pessoa, este por sua vez subdivide-se em seguro de saúde e seguro de vida. 
Como saúde e vida não têm preço, pode-se fazer seguro de pessoa em mais de uma seguradora 
(789). No seguro de saúde as indenizações serão divididas entre as seguradoras que o cliente 
tiver porque o objeto da indenização é a despesa comprovada. No seguro de vida, que realmente 
não tem preço, tantas quantas forem as apólices serão indenizadas. O seguro de saúde garante 
as condições médico-hospitalares em caso de enfermidades. O seguro de vida consiste no 
pagamento pela seguradora de um capital a um beneficiário do segurado, após sua morte ou 
invalidez permanente (792 e pú). Tal beneficiário pode ser indicado e substituído a qualquer 
tempo pelo segurado. Na verdade, a morte é o objeto do seguro de vida, pois é com a morte do 
segurado que o capital é pago. O segurado paga um prêmio à seguradora que assume o risco da 
sua morte (796). O capital pago pela seguradora não é herança, afinal não integra o patrimônio 
do segurado, por isso um estranho pode ser beneficiário, mesmo sem ser parente (794). Como 
no seguro de dano, o segurado não pode agravar o risco de morrer (ex: pular de pára-quedas, 
768, mas e o 799?). Igualmente a seguradora não cobre acidente provocado intencionalmente 
pelo próprio segurado (762). E se o segurado se suicida, a seguradora pagará o capital ao 
beneficiário? Só após o prazo de carência do art. 798. 
Seguro de pessoas em grupo: previsto no art. 801, usado por empresas para garantir saúde a 
seus funcionários. 
15 – Constituição de Renda 
Contrato raro, pouco usado atualmente pois o seguro e a previdência privada são mais 
modernos. 
Foi idealizado pela Igreja para combater o empréstimo de dinheiro com juros excessivos = usura. 
Pela CR o rendeiro se obriga a pagar uma prestação ao instituidor por prazo determinado, em 
troca de um capital que o instituidor lhe entrega de modo definitivo, consistente em dinheiro, 
móveis ou imóveis (arts 803 e 804). Ex: Um idoso transfere a Jose um capital, por não estar 
seguro que saberá administra-lo, e Jose irá pagar mensalmente uma renda ao idoso. 
Tem duas partes: o instituidor que se protege de dificuldades na velhice com uma renda vitalícia 
(806), e o rendeiro que vai explorar economicamente o patrimônio do instituidor (809). 
Objetivo: propiciar uma renda ao instituidor, que se acha menos capaz do que o rendeiro para 
obter aquela renda. É a troca de uma renda por um capital. O rendeiro é o devedor da renda, e 
o instituidor seu credor. A renda pode também beneficiar um terceiro. Se o rendeiro/devedor 
morrer, seus herdeiros só respondem pela renda dentro dos limites da herança. Para o 
instituidor a renda é no máximo vitalícia. 
Características: deriva de contrato ou testamento (1.926); pode ser bilateral ou unilateral, 
gratuita como uma doação (mais raro ainda) ou onerosa quando existe tradição de capital; é 
contrato real (804 = “entregando-se”); solene (arts 805 e 807); é perpétuo pois o capital fica pra 
sempre com o rendeiro e a renda se prolonga no tempo (809, difere do mútuo que é 
empréstimo, pois o capital volta ao mutuante); comutativo se por tempo certo ou aleatório se 
vitalício (806). 
Há outros exemplos de renda fora dos contratos, como a renda judicial do 950 e a renda 
testamentária do 1.926. O instituidor pode exigir garantia de que o rendeiro vai bem administrar 
seus bens (805). A renda onerosa se assemelha a uma venda, apenas o rendeiro vai pagar o 
preço através da renda ao instituidor. Seria uma troca de renda por bens. 
Aula 11 
16 – Jogo e Aposta 
São dois contratos diferentes mas tratados juntos pelo legislador. No jogo as partes atuam na 
partida (ex: cartas, dominó), e o que tiver desempenho pior, paga determinada quantia ao outro, 
de maior destreza ou sorte. Há jogos que exigem destreza como xadrez, pôquer ou bilhar, mas 
há jogos meramente de sorte, como os jogos de dados. 
Na aposta os contratantes não participam da atividade, ela é disputada por terceiros, mas os 
contratantes emitem opinião sobre o resultado, e aquele cuja opinião prevalecer recebe certa 
quantia do outro (ex: loterias oficiais, jogo de campeonato de futebol). 
Conceito: no contrato de jogo e de aposta as partes se obrigam, mutuamente, a uma prestação 
pecuniária a quem vencer a disputa que os contratantes ou terceiros participarem. 
A modalidade gratuita ou lúdica não é considerada contrato, pelo que jogo e aposta sempre 
serão onerosos. 
Controvérsia: quatro problemas enfraquecem esse contrato: 
1 – a lei lhes dá efeito jurídico limitado (814), assim dívida de jogo e de aposta gera obrigação 
natural, juridicamente inexigível, embora seu pagamento seja irrepetível por se tratar de 
pagamento verdadeiro e não pagamento indevido; 
2 – é contrato que vicia e ilude o cidadão, sendo os jogos de azar reprimidos desde a Roma 
Antiga; 
3 – o Governo ao mesmo tempo que proíbe alguns jogos (ex: cassino, bingo, jogo do bicho), 
promove outros (ex: loteria, sena). 
4 – é justificativa para o enriquecimento ilícito e a lavagem de dinheiro; maus políticos alegam 
ganhar na loteria para comprovar aumento de patrimônio. 
Objetivo: no jogo e na aposta a finalidade é obter vantagem remunerada sobre o outro 
contratante, a depender de evento aleatório. 
A aleatoriedade é característica marcante do jogo e da aposta, pois a depender da sorte e da 
habilidade, não se sabe quem vai vencer. São também contratos informais. 
O sorteio é estimulado pois é tratado como processo de transação, para definir um impasse, e 
não como jogo (817). 
Três espécies de jogos: há jogos ilícitos, há jogos lícitos tolerados e há jogos lícitos permitidos. 
Só estes últimos admitem execução da dívida. Os jogos tolerados não podem ser executados, 
mas seu pagamento espontâneo é verdadeiro (882, revisem obrigação natural em Civil II). Se o 
jogo ou aposta for ilícito, aplica-se o art 104, II, CC (ex: bingo, cassino, jogo do bicho). E se o jogo 
ou aposta for tolerado, aquele que exige habilidade do jogador? Então é jogo lícito (§ 2o, art 814 
= “jogo não proibido”), ex: pôquer. 
Assim uma aposta em loteria oficial ou competição esportiva/artística pode ser executada (ex: 
xadrez, bilhar, turfe, § 3o do 814), já um jogo de baralho não (caput do 814). Lembro que a dívida 
de jogo tolerado é obrigação natural, já a dívida de jogo ilícito é nula. 
A lei civil sobre este assunto merece crítica, pois de um lado não quer estimular a jogatina, mas 
de outro precisa respeitar as apostas do Governo, fonte de impostos. 
17 – Fiança 
É um contrato que garante o pagamento de uma dívida. Também existe a fiança criminal, que 
será estudada em Processo Penal, e permite criminosos responderem a processos em liberdade. 
No Direito de Família existe uma fiança/caução que o juiz pode exigir do tutor para garantir o 
patrimônio do pupilo (pú do 1.745). 
Aqui no Direito Patrimonial a fiança é um contrato que faz aumentar a chance do credor receber 
sua dívida, pois além do devedor em si, outra pessoa, com seus bens,

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