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1 FACULDADE MUNICIPAL DE PALHOÇA CURSO DE PEDAGOGIA PRISCYLA KELLY PEREIRA GONÇALVES ASPECTOS AFETIVOS NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma possibilidade de garantia do direito ao respeito Palhoça, SC 2017 2 FACULDADE MUNICIPAL DE PALHOÇA CURSO DE PEDAGOGIA PRISCYLA KELLY PEREIRA GONÇALVES ASPECTOS AFETIVOS NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma possibilidade de garantia do direito ao respeito Monografia apresentada como requisito final para a obtenção de nota na disciplina de Elaboração de Monografia do curso de Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça. Orientador: Prof. Msc. Gisele Gonçalves. Palhoça, 2017 3 FICHA CATALOGRÁFICA G5868a Gonçalves, Priscyla Kelly Pereira Aspectos afetivos no primeiro ano do Ensino Fundamental: uma possibilidade de garantia do direito ao respeito / Priscyla Kelly Pereira Gonçalves — Palhoça: FMP, 2017. 80 f. Monografia (Graduação) - Faculdade Municipal de Palhoça, Curso de Graduação em Pedagogia, 2017. Orientador (a): Prof. Msc. Gisele Gonçalves. 1. Afetividade. 2. Criança. 3. Direito ao respeito. I. Título. CDD 372.414 4 FACULDADE MUNICIPAL DE PALHOÇA CURSO DE PEDAGOGIA PRISCYLA KELLY PEREIRA GONÇALVES ASPECTOS AFETIVOS NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma possibilidade de garantia do direito ao respeito Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte das exigências para a obtenção do título de Licenciado em Pedagogia da Faculdade Municipal de Palhoça, defendido em banca pública e considerado APROVADO. ___________________________________ Orientadora: Gisele Gonçalves ________________________________________________ Avaliador: Edivane Lúcia Verardi Dutra Martins __________________________________________________ Avaliador: Maria Fernanda Diogo Palhoça, SC 2017 5 Dedico este trabalho ao meu amado parceiro e companheiro Volnei, pelo tempo que lhe foi abdicado, pela paciência, carinho, empenho e compreensão que teve em todos os momentos deste percurso e por me apoiar em meio a tantas dificuldades, completando comigo, de forma significativa, mais esse ciclo na minha vida. 6 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e ao universo por concederem-me a dádiva da vida, da saúde física e psicológica atribuindo-me a capacidade de aprendizagem e perseverança para buscar por tudo aquilo que almejei conquistar até aqui. Agradeço a minha irmã Paula e minha mãe, Sandra, por todos os obstáculos que buscaram ultrapassar para que fosse possível dedicar-me aos meus estudos, nas fases primordiais, preparando-me para chegar até aqui e alçar voos mais além. Vocês são exemplos de mulher na minha vida. Agradeço à Lorrani Cídio por todo seu amor materno por auxiliar-me no início da minha jornada acadêmica, com a interpretação de novas leituras, até então, de difícil compreensão. Mesmo estando distante, se manteve sempre presente e crítica, visando ao meu crescimento e avultar meu vocabulário. Com reconhecimento, sou eternamente grata ao meu amor, Volnei Nunes, por ter sido tão excepcional em cada instante deste percurso. Na maioria das vezes que o cansaço, o desânimo ou medo quiseram fazer-me morada, foi ele quem esteve ali, firme para espantá-los e me motivar. Em cada vitória, principalmente, foi o primeiro a vibrar e acreditar no meu potencial, antes mesmo que se efetivasse devida conquista. Agradeço também as contribuições e a transformação que diversos professores me proporcionaram. Para sempre lembrarei com carinho da professora Nádia Conceição, que fez “transbordar” aspectos afetivos durante o primeiro ano da minha alfabetização. E destaco, a professora que se tornou minha orientadora, Msc. Gisele Gonçalves, muito obrigada por acreditar e interessar-se na importância e desenvolvimento dessa temática e principalmente, na confiança dada a minha autonomia de fazer pesquisa. Agradeço a todas minhas amigas, que de alguma forma contribuíram para esta e etapas de outras pesquisas, principalmente, as minhas companheiras na UGB (Universidade Geraldo Di Biase), Ana, Bia e Claudinha. E estendo essas palavras à todas que me acolheram na continuação da minha jornada, na FMP, em especial, a Ana Paula Soares, por todas as trocas e apoios motivacionais e a Jéssica de Jesus, que no percurso final esteve comigo, sempre me apoiando, incentivando e exaltando o quanto eu era capaz. 7 Agradeço aos colegas de trabalho, da E.B.M. Vereadora Albertina Krummel Maciel pela compreensão e apoio na etapa final dessa pesquisa, em especial aos diretores Tatiane Goeten e Mesquita e a professora Alessandra Mina dos Santos. Por fim, dedico minha gratidão a todos os sujeitos do campo de pesquisa: a instituição de ensino, a professora Juliana dos Anjos e a turma do 1º ano pela recepção, acolhida, por participarem dessa investigação e por contribuírem em cada momento vivenciado. Diante disso, posso dizer que muitas pessoas cruzaram meu destino, transformaram meu modo de ser e de estar no mundo. Porém, o mais importante que aprendi foi a perceber que cada indivíduo tem uma maneira de aprender e que cabe a mim, pela profissão que escolhi, e pelo ser humano que decidi ser, robustecer a criatividade para contribuir para um mundo melhor. A todos, gratidão! 8 “Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita” (Paulo Freire 2010) 9 RESUMO Pautada no princípio do direito da criança ao respeito, esta pesquisa tem como principal objetivo analisar como se constitui a relação afetiva entre os sujeitos de uma turma de primeiro ano do Ensino Fundamental, nos processos de apropriação do conhecimento em uma instituição privada, situada no Município de Palhoça, Estado de Santa Catarina. Para tal, por meio de uma abordagem sociológica e histórica, foi realizada uma pesquisa qualitativa, a partir de uma observação participante com um grupo de crianças do primeiro ano do Ensino Fundamental, com 6 anos de idade, além de uma entrevista com a professora regente da turma. Os resultados aqui apresentados evidenciam uma metodologia de intervenção significativa que vise a integralidade do ser, que proporcione uma educação integral para o indivíduo e demarca a importância de reivindicarmos o direito ao respeito à todas as crianças. Palavras-chave: Afetividade. Criança. Direito ao respeito. 10 LISTA DE IMAGENS Imagem 1: Incentivo à escrita, após “estouro da sílaba”. ...................................................................... 51 Imagem 2: Eternizando carinho ............................................................................................................ 52 Imagem 3: Intervenção atenciosa na atividade com o livro didático. ................................................... 55 Imagem 4: Auxilio amigo! .................................................................................................................... 56 Imagem 5: Coletividade em atividade individual.. ................................................................................57 Imagem 6: Paixão à profissão. .............................................................................................................. 81 Imagem 7: Companheirismo ................................................................................................................. 81 Imagem 8: Carinho. ............................................................................................................................... 81 Imagem 9: Solidariedade, crianças compartilham seus próprios lanches. ............................................ 82 Imagem 10: Despedida entre grupo e Pesquisadora. ............................................................................. 82 11 LISTA DE QUADROS Tabela 1: Artigos selecionados no banco de dados da BDTD e CAPES .............................................. 18 Tabela 2:Artigos sobre afetividade no contexto educacional ................................................................ 19 Tabela 3: Identificação profissional da professora do grupo ................................................................ 27 Tabela 4: Nomes fictícios escolhidos pelas próprias crianças................................................................26 12 LISTA DE SIGLAS BDTD: Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações. C.E: Centro Educacional. CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente. FMP: Faculdade Municipal de Palhoça. LDB: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. MEC: Ministério da Educação e Cultura. PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais. PPP: Projeto Político Pedagógico. 13 Sumário 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 14 1.1 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................................................................... 16 1.2 OBJETIVOS ............................................................................................................................................ 17 1.3 OBJETIVO GERAL .................................................................................................................................. 17 1.3.1 Objetivos específicos ....................................................................................................................... 17 1.4 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................................................... 17 2 PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS ................................................................. 21 2.1 TÉCNICA DE COLETA DE DADOS ............................................................................................................ 23 2.2 SUJEITOS DA PESQUISA E INSTITUIÇÃO ESCOLHIDA ............................................................................... 25 3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E O PAPEL DA ESCOLA ATUAL 29 3.1 O PAPEL DA ESCOLA ATUAL .................................................................................................................. 30 3.2 PRESSUPOSTOS DE UMA DOCÊNCIA SIGNIFICATIVA ............................................................................... 33 4 AS INFLUÊNCIAS DE HENRI WALLON E LEV VYGOTSKY PARA O CONCEITO DE AFETIVIDADE ............................................................................................................................................. 35 4.1 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA E INFÂNCIA ................................................................................................... 36 4.2 REVISITANDO O CONCEITO DE AFETIVIDADE......................................................................................... 37 4.3 A AFETIVIDADE NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DE HENRI WALLON ................ 39 4.4 DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM DA CRIANÇA SOB A ÓTICA DE VYGOTSKY ................................ 40 5 PRINCÍPIO DO DIREITO DA CRIANÇA AO RESPEITO ........................................................ 43 6 OS ASPECTOS AFETIVOS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO GARANTIA DO DIREITO AO RESPEITO ............................................................................................................................ 47 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................ 60 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................................. 62 ANEXO ........................................................................................................................................................... 68 APÊNDICES .................................................................................................................................................. 70 APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO À INSTITUIÇÃO ..... 71 APÊNDICE B: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO AOS RESPONSÁVEIS LEGAIS DAS CRIANÇAS ........................................................................................................................... 72 APÊNDICE C: TERMOS DE AUTORIZAÇÃO DE PARTICPAÇÃO NA PESQUISA ....................... 73 APÊNDICE D: ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO ........................................................................................ 74 APÊNDICE E: ROTEIRO DE ENTREVISTA .......................................................................................... 75 APÊNDICE F: ENTREVISTA TRANSCRITA DA PESQUISA .............................................................. 76 APÊNDICE G: REGISTROS FOTOGRÁFICOS ...................................................................................... 81 14 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como objetivo analisar a relação afetiva entre crianças pertencentes ao primeiro ano do Ensino Fundamental, aliada aos processos de apropriação de conhecimento, a partir dos resultados que foram selecionados, decorrentes da entrevista aplicada a professora de sala sobre o assunto proposto a ser desenvolvido nesse espaço de discussão acadêmica e da observação participante. O tema da afetividade associado à aprendizagem é fortemente evidenciado nos contextos educacionais, cujo papel fundamental é a formação humana dos sujeitos, especialmente no processo de desenvolvimento da personalidade da criança, que permeia sentimentos, interesses, desejos, valores e emoções, ou seja, relacionando-se com o processo de socialização e educacional dos seres humanos. Neste sentido, adota-se Wallon (1968, p. 61) quem “[...] traz a dimensão afetiva como ponto extremamente importante em sua teoria psicogenética” para apresentar as peculiaridades pertencentes ao tema, apresentando quando e como a afetividade se manifesta no indivíduo. De acordo com Dantas (1992, p. 90) A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. [...] no início da vida, a afetividade e a inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da primeira. Neste processo, menciona-se a importância da afetividade a partir da figura do professor, na intenção de salientar o papel primordial do mesmo no desenvolvimento integral da criança e na relação dela com o outro. Nessa linha de raciocínio, toma-se Vygostky (1988), um dos maiores precursores da história na área de Psicologia da Educação, quem já relatava a importância da interação, definindo-a como um papel importantíssimo para a contribuição do desenvolvimento do indivíduo. Para o autor, as características e as atitudes individuais estão impregnadas de trocas com o coletivo, ou seja, mesmo o que tomamos por mais individual de um ser humano foi construído apartir de sua relação com outro (s) indivíduo (s). A definição que se tem sobre afetividade se vincula a um aspecto emocional, que está relacionado diretamente com a inteligência, isto é, a afetividade “[...] remete aos aspectos 15 inconscientes envolvidos no ato de aprender” (WEISS, 2004, p. 23). O que a torna essencial no processo de ensino-aprendizagem, pois sua ausência pode influenciar negativamente no interesse do indivíduo, tanto em posição de professor, quanto de educando, vindo a comprometer o rendimento escolar e a relação entre os envolvidos. Moran (2007) afirma que as escolas estão preocupadas, principalmente com o conhecimento intelectual, porém tão importante quanto, faz-se necessário importar-se também com o equilíbrio emocional, com o desenvolvimento de habilidades sociais, de atitudes positivas diante de si e dos outros. Há uma série de obstáculos no caminho: a formação intelectual valoriza mais o conteúdo oral e textual, separando razão e emoção. O professor não costuma ter uma formação emocional, afetiva. Por isso, tende a enxergar mais os erros que os acertos. A falta de valorização profissional também interfere na auto- estima. Se os professores não [...] se sentem bem como pessoas e profissionais, não poderão educar num contexto afetivo. (MORAN, 2007, p.57) Com isso, nota-se uma grande preocupação por parte dos educadores em apresentar propostas que contribuam com o desenvolvimento cognitivo dos seus educandos, surgindo interesses e empenho de motivar, em muito, o pensamento crítico e reflexivo dos mesmos, ao invés de suas competências como um todo. Ainda, ao se deparar com obstáculos de classes lotadas, diversidade de cultura, falta de interesse da turma ou qualquer outro fator que dificulte que sua aula seja ministrada como planejada, geralmente, o professor desanima e/ou demonstra que desconhece métodos eficazes para ultrapassar tais desafios e conquistar/reconquistar a turma. Nota-se, a superação dessas barreiras implica em considerar a criança como sujeito participante do processo de ensino-aprendizagem, sujeito de direitos, um ser de capacidades e que traz vivências próprias para escola, para que mediante a tal situação, o professor possa assim se manter motivado a atingir seus objetivos com a turma a partir do interesse deles. Andrade (2014, p.102) afirma que: Mesmo em tempos de exaustão, é preciso sorrir e continuar sendo agradável com as pessoas. Tudo na vida tem um começo, um meio e um desfecho. Então não pode ser diferente na Educação. O que o professor começou e levou adiante precisa terminar com a satisfação de dever cumprido, com a sensação de ter proporcionado, aos alunos, oportunidades de reflexão e mudança. 16 Infelizmente, é comum encontrar professores frustrados e descontrolados a frente de uma atitude indesejada de algum aluno. A explosão ou o descaso que esse acaba oferecendo para com o indivíduo, às vezes por cansaço, outras por falta de controle emocional, impede, ainda mais, uma boa relação entre o professor e o aluno, comprometendo também o ensino e a aprendizagem dos envolvidos1. As palavras vindas do professor – que deve ser o exemplo na sala de aula -, precisam ter leveza, afeto e amizade. O educador precisa demonstrar que se importa com todos alunos, independentemente da maneira como são ou se portam na aula dele (ANDRADE, 2014, p. 85) Contudo, observa-se que no processo de ensino-aprendizagem, também está presente a empatia entre professor, aluno e seu meio. É muito recorrente nos discursos da educação a apropriação da frase de Gordon (2008) que um educando aprende melhor quando gosta de seu professor e quando sabe que seu professor gosta dele. Logo, conclui-se que o indivíduo aprende mais quando está feliz e envolvido no processo de ensino e aprendizagem e que quando seguro, apresenta melhor desempenho em suas atividades. Com isso, adverte-se que a escola para fazer sentido para a criança, precisa ser acolhedora, humanizada, composta por professores bem formados e bem remunerados para assim compreender toda a complexidade de seu desenvolvimento. Logo, assegura-se de que é preciso respeitar a criança em sua condição primeira: a de ser humano em situação peculiar de desenvolvimento, a de sujeito histórico, cultural e de direitos. Para efetivar tais informações, buscou-se evidências, nesta pesquisa, a partir da vivência de educandos do 1º (primeiro) ano dos anos iniciais do Ensino Fundamental. 1.1 Problema de pesquisa Como se constitui a relação afetiva entre os sujeitos em uma turma de primeiro ano do Ensino Fundamental? 1 Algumas pesquisas realizadas, como Pinto (2003), Antunes (2004), Flôr (2007), Spinelli (2012), Pimentel (2014), Gonçalves (2015), entre outras, escancararam o desrespeito da escola à criança, ao não contemplar em seu cotidiano direitos como participar, brincar e aprender. 17 1.2 Objetivos Para a elaboração desta pesquisa e para compreensão do tema proposto nela, os objetivos apresentados a seguir são indispensáveis para sua concretização. 1.3 Objetivo geral Analisar como se constitui a relação afetiva entre os sujeitos em uma turma de primeiro ano do Ensino Fundamental, nos processos de apropriação do conhecimento. 1.3.1 Objetivos específicos Entender a relação da afetividade com o processo de desenvolvimento e formação humana; Verificar como os aspectos afetivos contribuem para um processo de aprendizagem mais significativo; Perceber a afetividade na relação entre os sujeitos do processo educacional. 1.4 Justificativa A intenção em pesquisar o tema “Aspectos afetivos no primeiro ano do Ensino Fundamental: uma possibilidade de garantia do direito ao respeito”, se fez na busca de evidenciar uma intervenção que se pautasse nos aspectos afetivos e tornasse o processo de ensino e aprendizagem mais significativa, que buscasse a integralidade do ser e uma educação integral2 para o indivíduo, seja este uma criança ou adolescente. Para que assim se desmitifique a concepção de que afetividade se refere apenas aos vínculos emocionais ou carinhosos, perceptíveis aos olhos (afago, abraço, beijo, etc.). 2 A educação é por definição integral na medida em que deve atender a todas as dimensões do desenvolvimento humano. Ela se dá como processo ao longo de toda a vida. Assim, entende-se que a educação integral não é uma modalidade de educação, mas sua própria definição. (Centro de Referência em Educação Integral, apud Ministério da Educação e Fundação Itaú Social.) 18 A escolha dessa temática, motivou-se a partir da intenção em conhecer e expor quais são os conceitos entendidos por afetividade e como essa é vista, ou como se pode percebê-la na escola, a partir da relação entre educandos e professores. Como motivação para pesquisa, também apontam-se, algumas vivências ao longo de minha trajetória educacional e acadêmica3, a partir da qual se pôde sentir diretamente os efeitos positivos de competências reconhecidas e incentivadas por alguns professores e familiares. Mas em contrapartida, tive também a experiência de frustrações e inquietações originadas na falta de atenção e incentivo de pessoas que ocuparam espaços importantes em meu processo de formação. Outro fator que justificou a escolha do referido objeto de pesquisa, foi que em 2016, não havia, principalmente na biblioteca da FMP, pesquisas relacionadas ao tema que tenham sido realizadas nos anos iniciais, as monografias de graduação encontradas eram direcionadas para os contextos de educação infantil e não tinham como foco os anos iniciais do Ensino Fundamental. Mas ao refazer essa sondagem no mês de abril de 2017 foi encontrado um novo trabalho de conclusão de curso defendidoem 2016.24. Em âmbito nacional, no banco de tese da CAPES5 e no site da BDTD revelou-se cerca de cento e quinze teses encontradas sobre o tema, sendo selecionados apenas dois títulos, por assemelharam-se a presente pesquisa, esses identificados a seguir no Quadro 1. As demais são teses correspondentes ao tema sobre afetividade no contexto educacional, apresentados no Quadro 2. Tabela 1: Artigos selecionados no banco de dados da BDTD e CAPES Autor Título Palavras-chave Ano Jovana Machado Lourenção; Marion Machado Cunha A afetividade como práxis essencial nos processos educativos Educação; Afetividade; mediação; Construção; Práxis educativa. 2014 3 Foi assumido a utilização dos verbos na primeira pessoa do singular ao mencionar a minha trajetória acadêmica e na primeira pessoa do plural para me referir ao trabalho realizado ao longo da pesquisa. 4 JOCHEN, Bruna Cristina. A afetividade nos processos de ensino e aprendizagem nos anos iniciais: entre teorias e vivências. 2016 5 Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação do Ministério da Educação (MEC), desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federação. Disponível em <www.capes.gov.br> Acesso em: 04 de abril de 2016. http://www.capes.gov.br/ 19 Dina Maria Vieira Pinho A afetividade e a alfabetização nos anos iniciais do ensino fundamental Alfabetização. Afetividade. Construção identitária. Sentimento de Pertencimento. 2014 Acervo: Pesquisadora (2016) Tabela 2: Artigos sobre afetividade no contexto educacional Autor Título Ano Adriano de Mello. Lisiane Teixeira dos Santos Braulio. Cognição e Afetividade em Ambientes Virtuais de Aprendizagem para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental 2013 Marcia Cristina Cebulski Um diálogo entre Vygotsky e o sistema teórico da afetividade ampliada: O teatro na educação básica e o desenvolvimento socioemocional humano 2014 Maria Thereza Costa As relações entre afetividade e inteligência no desenvolvimento psicológico. 2011 Jéssica Simone Galdino Schaefer Afetividade entre professor e aluno no processo ensino- aprendizagem 2015 Milena Andrea Pedral Vanin de Andrade A dimensão afetiva nas práticas pedagógicas de professoras alfabetizadoras dos anos inicias do Ensino Fundamental 2014 Acervo: Pesquisadora (2016) Logo, assevera-se que esta pesquisa é de grande relevância para profissionais da área de séries iniciais, que têm interesse em analisar os sentimentos das crianças em relação às experiências e ao aprendizado que estão adquirindo no meio ao qual estão inseridos. Então, buscando atingir os objetivos propostos, a partir daqui, expõe-se ao leitor, incialmente os procedimentos metodológicos teóricos que caracterizam essa pesquisa, bem como, a técnica de coleta de dados e os sujeitos da pesquisa. Na organização desse estudo, optou-se por dividir o trabalho em 4 capítulos. 20 No primeiro capítulo, contempla-se sobre aspectos da história da Educação no Brasil, tecendo sobre o papel da escola atual e ainda se contextualiza, brevemente sobre pressupostos de uma docência significativa. No segundo capítulo, buscando fundamentar este trabalho de conclusão de curso, abordam-se os conceitos de afetividade, a concepção de criança e infância e considerações sobre desenvolvimento cognitivo e afetivo a partir da ótica de Henri Wallon e Lev Vygotsky sobre educação visando a integralidade do ser. No terceiro capítulo, apresenta-se teorias acerca do princípio do direito da criança ao respeito, retomando o conceito de criança, apresentando o de respeito e contextualizando sobre o tema aplicado nas escolas. No quarto capítulo, tece-se a análise dos dados do diário de campo, obtidos por meio de observação participante e entrevista com a professora regente, com o objetivo de descrever a experiência vivenciada no campo da pesquisa. Por fim, apresenta-se as considerações finais acerca desse estudo acadêmico, o qual faz sugestões para futuras pesquisas, a partir de relevâncias percebidas durante o desenvolvimento desse trabalho. E nos apêndices o leitor, pode conferir a transcrição da entrevista realizada, o roteiro de observação e da entrevista, assim como os demais documentos necessários para a ida a campo. 21 2 PROCEDIMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS Como caracterização desta pesquisa, é importante apresentar o processo para a realização da mesma. Dessa forma, fez-se necessário estruturar e planejar este estudo, que ainda assim, sofreu mutações ao decorrer de seu desenvolvimento. Inicialmente, ele caracterizou-se como de natureza teórica, tendo em vista que não é um assunto pioneiro, mas ainda, pouco abordado no curso de graduação de Pedagogia da FMP e por fazer-se uso da etapa básica de pesquisas bibliográficas. No entanto, devido ao redimensionamento desse estudo, esse passou a ser caracterizado como de natureza prática, distintivamente. De acordo com Gatti (2002, p. 10), o processo de fazer pesquisa é para: “[...] construir o que entendemos por ciência, ou seja: elaborar um conjunto estruturado de conhecimentos que nos permita compreender em profundidade aquilo que, à primeira vista, o mundo das coisas e dos homens nos revela nebulosamente ou sob uma aparência caótica”. Ainda segundo a autora, o conhecimento obtido pela pesquisa é sempre situado, ligado “a critérios de escolha e interpretação de dados”, que deve ser efetivado “[…] desde um conjunto de medidas bem precisas que tomamos, até depoimentos, entrevistas, diálogos, observações, etc. de que nos servimos para a geração de algum conhecimento que acrescente alguma coisa à compreensão do problema que nos interessa” (GATTI, 2002, p. 11). A abordagem do problema desse estudo foi qualitativa, pois visou a qualidade e especificidades das vivências dos envolvidos, dessa forma não houve abordagem de estatísticas. Outro fator importante que caracterizou esse estudo como qualitativo foi a de que afetividade é um tema subjetivo, tão logo, considera os subsídios de uma forma organizada, mas intuitiva. Ao mencionar “intuição e subjetividade” para a autora Minayo (2001) cabe ao qualitativo fazer essa representatividade aos termos, assim como quando se trata de “exploração”. De acordo com Minayo (2001, p. 21 e 22): A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. 22 Para Severino (2007, p. 119) “com essas designações, cabe referir-se a conjuntos de metodologias, envolvendo, eventualmente, diversas referências epistemológicas”. Logo, justificando a escolha da abordagem estabelecida, Minayo (2001, p.57) afirma que: “[...] as abordagens qualitativas se conformam melhor a investigações de grupos e segmentos delimitados e focalizados, de histórias sociais sob a ótica dos atores, de relações e para análises de discursos e de documentos”, descrevendo com perfeições o resultado pretendido do final desse estudo. Os procedimentos técnicos que acompanharam o desenvolvimento deste trabalho, buscando torná-lo ainda mais relevante, são a indispensável pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. A primeira delas, para Severino (2007, p.122): “é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc.” Nesta percepção os principais pensadoresque nortearam o embasamento teórico do presente trabalho de conclusão de curso foram Lev Semenovitch Vygotsky e Henri Paul Hyacinthe Wallon. É perceptível que outros autores também contribuíram para o desenvolvimento deste estudo (estes disponíveis nas referências do mesmo). Contudo, todo o material utilizado harmonizava com a linha de pensamento de Vygotsky e Wallon. Na pesquisa de campo, por sua vez, a busca pelo conhecimento é feita no próprio meio, no caso, dos sujeitos. Isto é, nela pode ser utilizado variados tipos de pesquisa e de coletas de dados, ou ainda escolher apenas uma opção para executar. Porém, o recurso escolhido é elaborado junto aos sujeitos envolvidos. Segundo Minayo (2001, p.26): Essa etapa combina entrevistas, observações, levantamentos de material documental, bibliográfico, instrucional etc. Ela realiza um momento relacional e prático de fundamental importância exploratória, de confirmação ou refutação de hipóteses e construção de teorias. Para Severino (2007, p. 123): “A coleta de dados é feita nas condições naturais em que os fenômenos ocorrem, sendo assim diretamente observados, sem intervenção e manuseio por parte do pesquisador”. Contudo, sua abrangência discorre desde levantamentos que são especificamente descritivos até estudos analíticos, segundo o mesmo autor. 23 2.1 Técnica de coleta de dados Com a finalidade de evidenciar as contribuições dos sujeitos da pesquisa acerca do tema em questão e como meio de obtenção dos resultados esperados a partir dos objetivos propostos, foram aplicadas algumas técnicas específicas, sendo elas apresentadas a seguir: a) Observação participante de uma turma de primeiro do Ensino Fundamental, a qual é uma técnica que permite que o pesquisador, em quanto observador, estabeleça contato direto com os participantes para detectar fatos sobre suas realidades e percepções. Nesse processo é permitido que o pesquisador interaja, por exemplo, com a turma e com a docente da sala. Essa técnica também pode ser nomeada também como pesquisa participante, ambas têm a mesma função ou descrição. “[...] que permitiu ao homem criar, trabalhar e interpretar a realidade sobretudo a partir dos recursos que a natureza lhe oferece”. (GIL, 2001, p.56). De acordo com Minayo (2001, p.59-60): [...] A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real. Contudo, o mesmo autor menciona, ainda, que a observação participante no campo pode ser “plena”, havendo assim, um envolvimento completo do pesquisador em todos os campos perceptíveis da vivência do grupo. Ou o extremo, o qual ele denomina “distanciamento total da participação”, onde o pesquisador apenas observa, sem se envolver. “Outra variação se refere ao pesquisador enquanto observador participante. Isso corresponde a uma estratégia complementar às entrevistas, sendo que essa observação se dá de forma rápida e superficial”. (MINAYO, 2001, p.61). b) Diário de campo para Gerhardt e Silveira (2009) trata-se de uma técnica utilizada em pesquisas antropológicas. Nesse sentido, observa-se que este trabalho se apropria inspirações etnográficas e recorreu a uma escrita narrativa, na intenção de apresentar as minúcias das vivências junto às crianças e professora do grupo. O diário de campo, muito utilizado em estudos antropológicos, é um instrumento muito complexo, que permite o registro das informações, observações e reflexões surgidas no decorrer da investigação ou no momento 24 observado. Trata-se do detalhamento descritivo e pessoal sobre os interlocutores, grupos e ambientes estudados. Podemos considerá-lo, por suas características, como um instrumento de interpretação-interrogação (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p. 76 apud LOPES, 1993, s/p). O diário de campo constitui-se em duas partes, a descritiva e reflexiva, segundo Bogdan e Biklen, (1994, apud GERHARDT; SILVEIRA, 2009), a primeira parte do diário de campo constitui-se em descrever os sujeitos, atividades, comportamento e postura também do observador, reconstruir diálogos, relatar acontecimentos particulares, entre outros. Enquanto na segunda parte, compete em refletir sobre as anotações de modo analítico e subjetivo da análise, do método, de possíveis conflitos ou dilemas éticos. Nesse sentido, este trabalho apresenta na análise, notas sobre o diário de campo da pesquisadora, focando na fala das crianças e situações que permitem ao leitor analisá-la a partir das questões abordadas na fundamentação teórica desse estudo. c) Entrevista com o docente de sala que para Minayo (2001) tem sua relevância fundamentada na obtenção e construção de informações que são pertinentes ao objeto de estudo, além de se tratar de uma conversa contendo finalidade. Conceituando a entrevista na mesma vertente que a autora, Severino (2007, p.124) afirma que: “O pesquisador visa aprender o que os sujeitos pensam, sabem, representam, fazem e argumentam”. A partir da concepção do autor, essa entrevista ficou denominada como Entrevista Estruturada, pois abordou questões direcionadas e previamente estabelecidas. Ainda segundo o mesmo autor, “Com questões bem diretivas, obtém, do universo de sujeitos, respostas também mais facilmente categorizáveis, sendo assim muito útil para o desenvolvimento de levantamentos sociais” (SEVERINO, 2007, p.125). A contar com o ápice exposto e ao combiná-lo também às definições sobre classificação de pesquisas citadas por Severino, considera-se, portanto, que quanto aos objetivos abordados essa pesquisa é explicativa. A pesquisa explicativa é aquela que, além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas, seja através da aplicação do método experimental/ matemático, seja através da interpretação possibilitada pelos métodos qualitativos. (SEVERINO, 2007, p. 123). Por fim, a pesquisa explicativa é desenvolvida posteriormente a um levantamento caracterizado pela pesquisa exploratória, ou seja, sua inserção ao projeto ocorre após ter sido 25 delimitado o meio de atuação, sendo de grande valia para o desenvolvimento desse trabalho, pois, resulta em uma explicação sobre as incógnitas que surgiram na etapa anterior. d) Fotografias pertencentes ao acervo da pesquisadora, expostas neste trabalho como instrumentos em que consiste subjetividade e preservação da memória (KRAMER, 2002). Segundo Lopes (1996 apud Kramer 2002, p. 51-52): “[...] a foto mostra sempre o passado lido aos olhos do presente, já não é o mesmo passado, mas sua leitura ressignificada”. Logo, é possível que o leitor consiga interpretar os aspectos culturais e de identidade pertencentes a essa forma de registro, percebendo-a além de uma ilustração. De acordo com Lopes (2007, p.651): Ultrapassando a restrita dimensão de representação da realidade, a fotografia é explorada, não só como técnica de registro, mas principalmente, como objeto de análise e mediação da relação do sujeito com o conhecimento do mundo e de si próprio. Além de ser um recurso de documentação, a fotografia é tomada como objeto de análise e de desencadeamento da produção de narrativas, que exploram a relação entre imagem e palavra. Dessa forma, o leitor tem a possibilidade de fazer sua própria análise acerca da situação retratada, porém, ressalta-se que o fato da imagem ter sua própria linguagem, não faz com que a mesma se apresente aleatória ou sem contextualização no texto. Nesse sentido, Tittoni (2010) ajuda-nos a refletir sobre o ato de fotografar, que “implica em escolhas e recortes, dando relevância ao ponto de vista de quem fotografa e a imagem, nesse sentido, deixa de ser somente ilustração de descrições, maspossibilidade de construção a partir de outra forma de escritura” (p.63). Para Kramer (2002, p. 53): “Lopes (1998) enfatiza a importância de as crianças tirarem fotos, porque a fotografia ajuda a reconstruir o próprio olhar do observador [...]”. Por fim, visando proteger a imagem da criança, optou-se por cuidados éticos, fazer uso de ferramentas artísticas às figuras utilizadas em que o rosto delas estivesse em evidência. 2.2 Sujeitos da pesquisa e instituição escolhida A observação participante ocorreu em uma escola privada situada no Município de Palhoça do Estado de Santa Catarina, com a turma do 1º (primeiro) ano dos anos iniciais do 26 Ensino Fundamental, no período vespertino que possui atendimento pedagógico das 13:30h às 17:45h e com a professora regente de sala. A escola, a partir da concepção sociointeracionista, visa como é importante que a criança seja incentivada desde cedo num todo e de diversas formas, acreditando “[...] que cada uma tem uma maneira diferente de aprender”. (PPP, 2016, p.06). Logo, objetiva promover um currículo que proporcione o conhecimento sistematizado associado a temas de preocupações mundiais e na totalidade da criança enquanto sujeito, segundo o PPP (2016, p.07) “[...]a partir de uma ação pedagógica voltada a construção de cidadãos conscientes”, contudo os objetivos detalhados são apresentados no Regimento Escolar, porém, este não foi acessível a esta pesquisa. Sobre os princípios orientadores da educação, a organização e a ação previstas no PPP afirma que se articulam relevando também a vivência do educando e entendem que o processo de aprendizagem não ocorre apenas nas dependências escolares, nem apenas por meio do professor. De acordo com o PPP (2016, p.14): [...] se expressa, no Projeto Político Pedagógico do Colégio, os princípios básicos para a construção de uma proposta pedagógica que vise à articulação entre os saberes locais dos sujeitos e a estruturação de Projetos Interdisciplinares que possibilitem o acesso ao conhecimento sistematizado, em cada uma das áreas, com vistas à aprendizagem significativa. Em relação a sua estrutura, a instituição possui distribuídos em seus dois andares, 1 coordenação; 1 secretaria; 1 cozinha; 1 refeitório; 1 parque; 9 salas; 3 banheiros no piso superior e 3 banheiros no piso inferior. Sendo o primeiro andar destinado ao Berçário e Educação Infantil e o segundo ao Ensino Fundamental I, porém, para o andar superior não há acessibilidade para portadores de deficiência física, principalmente, porque o único acesso é pela escada. A observação participativa ocorreu nessa instituição, já que visando a isenção de laços e qualidade da observação, buscou-se por um campo em que os participantes não faziam parte do contexto social da pesquisadora. Então, a orientadora e professora dessa pesquisa indicou uma de suas graduandas, também do curso de Pedagogia da FMP. Pois, a mesma, ao posicionar- se em debates nas aulas com exemplos de suas práticas pedagógicas, demonstrou ter contribuições significantes ao tema deste trabalho. 27 Tabela 3: Identificação profissional da professora do grupo Juliana Duarte dos Anjos6, 31 anos7. Professora de alfabetização desde 2012; trabalha no Cetro Educacional8 desde 2015. Formação Ano de conclusão Magistério 2006 Ciências Contábeis 2016 Licenciatura em Pedagogia Cursando 6ª fase Fonte: Transcrição da entrevista / Acervo da Pesquisadora (2017) Então, o primeiro contato ocorreu com a professora regente e posteriormente, foi apresentada a proposta da pesquisa à coordenação da escola, por meio de diálogo, carta de apresentação, termo de consentimento e autorização de uso de imagem9, a fim de adquirir permissão oficial, já que a coordenadora estava ciente de tudo, pois a professora Juliana os inteirou dos fatos antecipadamente. A turma é composta por quinze estudantes no total, sendo oito do sexo feminino e sete do sexo masculino, com seis anos ou prestes a completar seis anos. As crianças estiveram curiosas e participativas em relação à pesquisa. Durante a observação participante, as crianças se envolveram e demonstraram muito interesse em saber o que estava sendo escrito e em aparecer nas fotos. Sobre isto, Kramer (2002, p. 47): esclarece que: “[...]usar números, mencionar as crianças pelas iniciais ou as primeira letras do seu nome, pois isso negava a sua condição de sujeitos, desconsiderava a sua identidade, simplesmente apagava quem eram e as relegava a um anonimato [...]”. Com isso, também foi atribuído às crianças a liberdade de escolher se seus nomes seriam ou não mencionados na pesquisa. Mas, ainda assim, zelou-se em proteger seus verdadeiros nomes, inspirando-se nos estudos de Kramer (2002) para que não comprometesse a forma de escrita do trabalho, nem vir a prejudicar a relação social das crianças, devido a narração das histórias e transcrição dos diálogos. 6 Todos os nomes usados nesta pesquisa foram escolhidos pelos sujeitos, da mesma. 7 A fim de contribuir com futuras pesquisas que busquem a relação entre o perfil e a prática de docentes, a pesquisadora optou por identificar também a idade da professora. 8 Nome fictício escolhido para proteger a identidade verdadeira da instituição de ensino que foi campo para esta pesquisa. Este cuidado ético deu-se como medida protetiva aos sujeitos desse estudo, de modo que não fosse necessário tirar-lhes a autoria de suas contribuições. 9 Documentação necessária para entrada no campo de pesquisa; disponível no anexo I e apêndices A, B e C. 28 Logo, sugeriu-se que utilizassem nomes que gostariam de ter ou ser chamadas, podendo ser nomes de seus brinquedos, animais de estimação, personagem de TV que gostam, etc... Dessa forma, garantiu-se a autoria das mesmas, sem invisibilizá-las na pesquisa. Tabela 4: Nomes fictícios escolhidos pelas próprias crianças Flor Bandeirinha Ana Bobi Aninha Bonequinho Bibi Gaspar Ester Matheuszinho Juju Nick Rê Kiko Sofia Contudo, essa investigação foi realizada em caráter de observação participante no cotidiano do processo educativo, centralizando a afetividade com objeto de análise, na turma do primeiro ano do Ensino Fundamental e com a professora regente. 29 3 ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL E O PAPEL DA ESCOLA ATUAL Neste primeiro capítulo serão contemplados aspectos sobre a história da Educação no Brasil, que percorreu oito diferentes fases, sendo nelas abordadas respectivamente os processos e avanços acerca de concepções pedagógicas segundo Saviani (2008), tais como, a chegada dos Jesuítas ao Brasil em 1945 e com eles as primeiras ideias pedagógicas. Posteriormente, a expulsão do mesmo grupo em 1749 para a implantação das reformas pombalinas. Em 1932 ocorreu o Manifesto dos Pioneiros em Educação Nova, em 1961 a promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), entre outros. Referente a esses fatos, o autor mencionado exibe também, a nomenclatura e época em que esses períodos ocorreram, sendo alguns deles: 1º Período (1549-1759): Monopólio da vertente religiosa da pedagogia tradicional; [...] 3º Período (1932-1947): Equilíbrio entre a pedagogia tradicional e a pedagogia nova; 4º Período (1947-1961): Predomínio da influência da pedagogia nova; [...] 6º período (1969-1980): Predomínio da pedagogia tecnicista, manifestações da concepção analítica de filosofia da educação e concomitante desenvolvimento da reconstrução crítico reprodutivista; [...] 8º Período (1991- 1996): Neoconstrutivismo, neotecnicimo, neoescolanovismo [...]. (SAVIANI 2008, p.14-15). Logo, se percebe que inicialmente, as fases jesuítica e pombalina representam o início de um modelo de escolarização, isto é, formam as primeiras organizações consideradas institucionais no período do BrasilColônia. Durante esse período Ribeiro (2007) aponta que a organização escolar em situação de vínculo estreito mediante a política colonizadora dos portugueses. Estes que representados pelos jesuítas, educavam os filhos dos índios, negros, assim como os filhos de colonizadores, através da “catequeze e instrução”. Os colégios das primeiras letras ocupavam um espaço físico central nas fazendas da Companhia de Jesus. Essas escolas do bê-á-bá eram importantes no ritual de realização da catequese, ou seja, da conversão dos ‘gentios’ ao cristianismo. (FERREIRA; BITTAR, 2015, p.02). 30 Ferreira e Bittar (2015, p. 8-9) acerca do exposto, afirmam: “Mas a catequese não tinha um sentido apenas de conversão à fé cristã mediante o ensino exclusivo da dogmática católica [...] inclui-se também o de ler, escrever, ou elementos [matemática]”. O processo de ensino-aprendizagem utilizava-se de métodos de memorização, repetição e castigos físicos e morais. Os autores citados por último expõem que a educação desse período era de caráter social violenta e “visava apenas construir o império colonial jesuíticos-lusitano” (FERREIRA E BITTAR, 2015, p. 12). Ao fim do monopólio jesuítico, a educação do período posterior caracterizou-se em reformar a educação para benefícios próprios, pois a educação antes dominada pela Igreja, neste momento é dominada pelo Estado. A essa reforma denomina-se, reforma pombalina, pois foi o Marquês de Pombal que a decretou, segundo Ribeiro (2007). Sua principal característica foi a implementação das aulas régias, que abordava o ensino de gramática latina, grego e retórica. Segundo Ribeiro (2007, p. 33), a nova ordem era: “[...] propiciar o aprimoramento da língua portuguesa; diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza científica; torná-los os mais práticos possíveis”, para que houvesse mais interessados ao controle do Estado. Logo, nota-se que a educação era de cunho econômico e visava atender os objetivos de domínio de terras por parte dos interessados, negligenciando o desenvolvimento da criança ou do adolescente enquanto estudante e indivíduo. Após diversas transformações no que tange a educação, surge, então, novos pensadores que questionam a atual intencionalidade “pedagógica” e manifestos são iniciados até que resultem algum impacto nas autoridades oficiais. Por fim, mudanças surgem com o decreto, no caso, a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, 1996) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990) com o intuito de garantir alguns direitos e deveres acerca da educação, saúde, liberdade, integridade, etc., para com os mesmos. 3.1 O papel da escola atual Observa-se que a educação, antes com cunho totalmente econômico e com desinteresse no desenvolvimento da criança, torna-se mais propícia e preocupada com o mesmo, avançando em mudanças e melhorias significativas para o futuro da sociedade. 31 Assim, como todas as influências de cada época mencionada, neste trabalho, por exemplo, há também teorias e concepções de grande valia para a educação ao que tange um conceito de Educação Integral e considera o educando sujeito histórico e social, portador de diretos, deveres e individualidades que influenciam e, principalmente, norteiam as novas práticas pedagógicas. Nesse sentido, Mahoney e Almeida (2012), expressam sobre a teoria psicológica de Wallon, que aborda a Psicogenética, isto é, se interessa pelo desenvolvimento do ser humano num todo, diferente das intenções iniciais da educação que puderam ser observadas nesse texto. Em sua teoria psicológica, Wallon estuda a pessoa completa: analisa-a em seus domínios afetivo, cognitivo e motor de forma integrada, mostrando como se dá, no transcorrer do desenvolvimento, a interdependência e a predominância desses diferentes conjuntos. Como sua abordagem é psicogenética, o estudo da criança é fundamental, pois é nessa fase de desenvolvimento que a maior parte dos processos psíquicos tem origem. (MAHONEY e ALMEIDA, 2012, p.71) Logo, para isso faz-se necessário uma mudança em todo o cenário escolar, reformulando também o papel social da escola, que por sua vez, segundo as autoras: “deve transmitir o pensamento, a arte, a civilização passada, ao mesmo tempo que é um agente ativo de progresso e modernização. Ela é o ponto de coesão que assegura a continuidade do passado com o futuro”. É importante ressaltar que ao referir-se ao novo papel da escola, inclui-se também o corpo docente, toda a comunidade escolar, pais e responsáveis legais da criança, entre outros, pois todos são agentes ativos neste processo. Esta ação está prevista no Art. 2º da LDB (BRASIL, 1996): “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Além disso, o meio no qual a criança está inserida, também é primordial para seu desenvolvimento, este se faz tão importante quanto a gestão escolar, os docentes, os colegas de classe e/ou demais pessoas comprometidas com ensino, aprendizagem e formação que estão sendo mediados à criança. Tudo que compõe o meio pode ser aproveitado como ferramenta facilitadora para auxiliar a criança em seu processo de desenvolvimento. 32 O meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder a suas necessidades e a suas aptidões sensório-motoras e, depois, psicomotoras...[...] Os meios em que vive a criança e aquele com que ela sonha constituem a “forma” que amolda sua pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente (Wallon, 1986: 168-169 e 171 apud MAHONEY; ALMEIDA, 2012, p.79). Percebendo o meio a partir da perspectiva apresentada, as autoras reafirmam a importância e responsabilidade da participação ativa da escola, [...] “na medida em que ela é entendida como um dos meios funcionais” (p.79). As autoras conceituam por meios funcionais os meios profissional, familiar e escolar e afirmam: “As crianças devem frequentar a escola para se instruir e para ficarem familiarizadas com um novo tipo de disciplina e de relações interpessoais”. (p.79) No mesmo sentido, o ECA (BRASIL, 1990) afirma: Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Portanto, conclui-se que a educação atual é dever de todos como previsto em Lei e observa-se também que na transição da intencionalidade pedagógica, não é somente a alfabetização que deve estar em evidência nos planos e projetos de desenvolvimento das escolas. Segundo Mahoney e Almeida (2012, p. 78): [...] “a ação da escola não se limita à instrução, mas se dirige à pessoa inteira e deve converter-se em um instrumento para seu desenvolvimento pressupõe a integração entre as dimensões afetiva, cognitiva e motora”. Uma vez que, presentemente, a preocupação acerca da formação do cidadão crítico e do desenvolvimento humano em todas as suas competências (cognitivo, motor, físico, emocional, etc.) esteja se tornando dominante, a escola deve proporcionar, principalmente, um meio facilitador, agradável e saudável para que a criança possa vivenciar isso de forma efetiva. O meio enquanto funcional, que se refere ao ambiente familiar, escolar e ou profissional que o indivíduo possa estar inserido, induz a reflexão sobre a importância de todos como agentes ativos (diretamente ou indiretamente) neste processo de formação humana. 33 Então, questiona-se, como proporcionar uma intervenção significativa para o educando dos Anos Iniciaisdo Ensino Fundamental, influenciando em sua constituição, tendo em vista que cada indivíduo possui habilidades, dificuldades e necessidades distintas e individuais, mas que a educação ocorre em grupo, ou seja, em sociedade. 3.2 Pressupostos de uma docência significativa Para fazer com que o exercício da docência seja significativo é preciso conhecer o indivíduo com o qual o professor, por exemplo, está lidando. Conhecer nesse sentido, não é apenas saber da vida pessoal ou da rotina do educando, esses aspectos contribuem para a elaboração e escolha da metodologia a ser utilizada de forma facilitadora para o mesmo. De acordo com Rossini (2012, p.13): O humanismo é essencial a todo processo educacional que vise definitivamente à melhoria da sociedade, da humanidade. É preciso alinhar a educação da criança ao que mais diretamente afeta seu desenvolvimento global. [...]Precisamos de uma educação mais humanista, voltada para o ser humano em suas características de um ser dotado de corpo, espírito, razão e emoção. É preciso conhecer o processo comum do desenvolvimento humano, assim como indicam Wallon e Vygotski em suas teorias Psicogenéticas. Entender os sinais que o indivíduo expressa por meio de seus gestos e falas, conhecer seu meio social, suas experiências são uma boa forma de importa-se com o desenvolvimento deste ser humano. De acordo com Mahoney e Almeida (2012, p. 60-61): O jovem expressa seus sentimentos com o corpo todo. Mímicas, gesticulações exageradas tornam-se bastante frequentes, traduzindo a falta de habilidade para dominar o potencial de que o novo corpo é capaz, e orientam também seu comportamento exterior. De modo geral, é por meio de brincadeiras, risadas, conversas em tom de voz elevado e muita movimentação que o jovem expressa o prazer em estar realizando determinadas atividades. Possuindo, o educador a percepção de tais fenômenos, ele tem a possibilidade de transformar os fatores. Uma ferramenta facilitadora, seria desempenhar boa comunicação com seu educando, além de planejar estratégias dinâmicas para que sejam maiores as probabilidades de conquista e inserção do mesmo no universo de apropriação de conhecimento. 34 Já que, quando há interesse pela proposta, há também empenho, vontade de aprender, vontade de ensinar e um clima agradável e estimulante. É indicado que o docente, venha a ser um exemplo em classe, principalmente, em relação aos comportamentos pretendidos por seus alunos. Segundo Andrade (2014, p.29) dessa forma o professor cativa “adeptos à sua postura de pessoa que se relaciona bem com os outros e não despreza ninguém por ter uma maneira de ser diferente da sua”. Contudo, essa convivência, torna comum a postura do professor para os alunos, que aos poucos seguem seu exemplo, ou seja, quando o professor conquista a turma, a probabilidade de aproximação, inclusive dos alunos mais indisciplinados, se torna maior. 35 4 AS INFLUÊNCIAS DE HENRI WALLON E LEV VYGOTSKY PARA O CONCEITO DE AFETIVIDADE É prudente apoiar-se em autores respeitados para identificar conceitos críticos sobre o tema debatido. Autores, esses que são apresentados como referencial teórico em suas áreas e que desenvolveram diversas contribuições científicas seguras. Neste capítulo, abordam-se os conceitos de afetividade; a afetividade no processo de ensino e aprendizagem e o desenvolvimento da criança de seis anos. Logo, buscou-se fundamentá-lo a partir das contribuições de Wallon e Vygotsky, principalmente. Henri Paul Hyacinthe Wallon e Lev Semenovich Vygotsky, são teóricos referenciais sobre o desenvolvimento humano no âmbito da psicologia e da pedagogia e apesar de possuírem concepções divergentes sobre a apropriação do conhecimento, ambos defendem que o indivíduo é sujeito em seu processo de desenvolvimento. Vygotsky tem estudos sobre o desenvolvimento humano a partir da referência de interação e Wallon um dos pioneiros a estudar o assunto aborda a afetividade como tema central nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano. Segundo Bock, Furtado e Teixeira (2007), Vygotsky desenvolveu sua teoria com propostas inovadoras contemplando as temáticas que relacionavam pensamento e linguagem, a natureza do processo de desenvolvimento e, ainda, a função da instrução no mesmo. De acordo com Rego (2009, p.25): [...] a preocupação principal de Vygotsky não era a de elaborar uma teoria do desenvolvimento infantil. Ele recorre à infância como forma de poder explicar o comportamento humano no geral, justificando que a necessidade do estudo da criança reside no fato de ela estar no centro da pré-história do desenvolvimento cultural devido ao surgimento do uso de instrumentos e da fala humana. É necessário ressaltar, que este trabalho está sendo desenvolvido no ano de 2017. Trata-se de um tema relativamente inovador, a partir dele, percebe-se o déficit da questão nas práticas educacionais, principalmente, de docentes com maior tempo de carreira. Enquanto que a fundamentação do mesmo, está sendo pautada em estudos, no caso de Vygotsky, de 1917 e Wallon da década de 1940. Ambos os estudiosos se apresentam ainda, bastante pertinentes para os dias atuais. 36 Galvão (1995, p.24) apresenta algumas contribuições de Wallon, destaca-se: “Uma delas diz respeito ao risco de espontaneísmo subjacente às propostas de renovação pedagógica”. Wallon dedicava-se a atender crianças que apresentassem distúrbios neurológicos e comportamentais. Psiquiatra infantil e professor universitário, desenvolveu um projeto que evidenciava uma educação justa e igualitária. Crítico assíduo do ensino tradicional, o filósofo defendia que a criança e o meio se modificam reciprocamente. Contudo, sob as concepções de Henri Wallon, a criança define-se como sujeito integrado, por isso ele precisa ter estímulos para desenvolver-se, considerando-se os aspectos cognitivos, afetivos e motor simultaneamente. 4.1 Concepção de criança e infância De acordo com Wallon (2007, p. 46): “O estudo da criança é essencialmente o estudo das fases que vão fazer dela um adulto”. Nesse sentido, para essa pesquisa, interessa apresentar principalmente fatores relevantes da aprendizagem e do desenvolvimento de crianças de seis anos que frequentam os anos iniciais do Ensino Fundamental I a partir da afetividade. Porém, ao falar de criança, surge a necessidade de definir, primeiramente o conceito de infância, previamente adiantando-se que é diferente de ser criança. Segundo Johnson (1997, p.79, grifos no original), “criança: Ser humano com pouca idade, que ainda está no processo de infância e que por esse motivo possui características, necessidades e especificidades diferentes das do ser humano adulto”. Para o autor, infância é uma “Fase da vida humana que compreende desde o nascimento até a puberdade (por volta dos 11-12 anos). É na infância que o ser humano se desenvolve física e mentalmente, estando plenamente aberto ao aprendizado de novos conhecimentos e experiências”. (1997, p.169).10 Neste sentido, no dicionário de sociologia sobre infância, pode se afirmar que o mesmo vai de encontro com o estabelecido pelo ECA (BRASIL, 1990). Pois, segundo Bicalho (2013, p.04): “O ECA deixa de lado a concepção de infância e adolescência como objeto e se constrói nesta legislação o entendimento de que nestas fases da vida, meninos (as) e adolescentes devem ser vistos e ouvidos como sujeitos”. De acordo com Kuhlmann (1998, p.16): 10 Allan G. Johnson. Autor do Dicionário de sociologia: guia prático da linguagem socióloga, 1997. 37 [...] infância tem um significado genérico e, como qualquer outra fase da vida, esse significado é função das transformações sociais: toda sociedade tem seus sistemas de classes de idade e a cada uma delas é associado um sistemade status e de papel (KUHLMANN JUNIOR, 1998, p.16). Atualmente a criança vem sido reconhecida como sujeito que possui direitos e deveres e por isso seu amparo legal sob a tutela de um responsável e do Estado também está mais evidenciado. No entanto, nem sempre foi assim e atualmente com menos destaque, ainda há práticas que inviabilizam a criança de viver sua infância. Segundo Bicalho (2013, p.21): A criança/adolescente para se desenvolver com segurança precisa vivenciar o apego desde os primeiros anos de vida, afeto e afeição recíproca ao longo do desenvolvimento, atenção, cuidados cotidianos e acesso a limites e regras. A criança/adolescente tem o direito assegurado de expressar suas opiniões e pensamentos, os quais o adulto utilizará dinamicamente para transmitir à criança/adolescente a possibilidade de refletir sobre suas palavras e sobre seus atos, desenvolvendo, assim, habilidade do diálogo nas relações sociais e interpessoais. Com o exposto, percebe-se que o educador, seja ele o responsável legal da criança, professores, parentes, amigos ou qualquer outra pessoa capaz de intervir na constituição do indivíduo incapaz, que tem a responsabilidade de zelar e orientar a criança em suas dificuldades e necessidades. Evidencia-se então, que a concepção de criança e infância é diferente, sendo que é na infância que há um sentimento relativamente recente no pensar sobre criança e se fazendo cada vez mais presente como objeto de estudos. Porém, no entanto, ainda há relutâncias sobre a aquisição do direito da criança à infância. 4.2 Revisitando o conceito de afetividade O termo afetividade está presente de forma comum no vocabulário da sociedade, mas no primeiro instante, cogita-se por afeto, a forma mais íntima de seu significado, ou seja, no contexto de uma relação direta entre entes queridos através de afagos, por exemplo. A seguir destaca-se o resultado de busca sobre o termo afetividade para o objetivo deste trabalho. 38 Segundo o Dicionário Significados11: No âmbito da psicologia, afetividade é a capacidade individual de experimentar o conjunto de fenômenos afetivos (tendências, emoções, paixões, sentimentos). A afetividade consiste na força exercida por esses fenômenos no caráter de um indivíduo. A afetividade tem um papel crucial no processo de aprendizagem do ser humano, porque está presente em todas as áreas da vida, influenciando profundamente o crescimento cognitivo. Nas muitas leituras realizadas, os termos emoção e afetividade estão contextualizados no mesmo sentido. Para Jalley (2007), emoções caracterizam-se como a exteriorização da afetividade, enquanto uma forma menos contida. “Mas, à medida que sua significação fica mais precisa tornando-os mais autônomos, separam-se da própria emoção. ” (JALLEY, 2007, p. 124). Nesse sentido, Blackburn afirma: “A qualidade afetiva de uma experiência é a caracterização que a torna aprazível ou desejável, ou o inverso, ou o que lhe confere um caráter emocional próprio”. (DICIONÁRIO OXFORD DE FILOSOFIA,1997, p.13) Logo, a afetividade caracteriza-se como extrínseca quando fatores relacionados ao meio afetam o indivíduo, podendo ser de maneira positiva ou não. Ela, também pode ser caracterizada como intrínseca, quando corresponde a desejos e necessidades orgânicas. Por essa ótica, “A teoria apresenta três momentos marcantes, sucessivos, na evolução da afetividade: emoção, sentimento e paixão. Os três resultam de fatores orgânicos e sociais e correspondem a configurações diferentes e resultantes de sua integração” (ALMEIDA; MAHONEY,2007, p.17). Em circunstâncias educacionais, a afetividade é percebida como exercício suscetível ao estímulo da aprendizagem. Em razão disso, ela se evidencia em estudos sobre o desenvolvimento humano, juntamente com abordagens sobre cognição. Contudo, segundo o dicionário prático de Pedagogia (2011), a afetividade é descrita como termo de qualidade de um ser afetivo, ou seja, que sente afeto. E, como denominação de um conjunto de fenômenos psíquicos, ou seja, sentimentos ou emoções. Além disso, as sensações de satisfação, desagrado, prazer, tristeza ou outras estão sempre acompanhando tais fenômenos. 11 Conteúdo disponível em: < https://www.significados.com.br/afetividade/> Acesso em: 30 de abril de 2017. 39 4.3 A afetividade no desenvolvimento da criança na perspectiva de Henri Wallon A partir da percepção de Henri Paul Hyacinthe Wallon, que centraliza a afetividade no desenvolvimento humano, torna-se necessário, contextualizar sobre ela, principalmente para enfatizar que o ser humano é afetivo desde que nasce. Para a melhor compreensão, de fato é interessante ter a concepção prévia de que o mesmo, ao nascer, já pertence a um meio social. Ao refletir sobre o comportamento de bebês e crianças pequenas que antes de desenvolverem a capacidade de se expressar com maturidade e suas inteligências, é perceptível que o meio é fundamental no estímulo da criança e suas características, por isso ele deve ser sempre pensado para satisfazer as necessidades dela. Afinal, na perspectiva Psicogenética de Wallon, existem etapas no desenvolvimento humano distintas umas das outras, mas também necessárias umas às outras. De acordo com Galvão (1995, p.43): Wallon vê o desenvolvimento da pessoa como uma construção progressiva em que se sucedem fases com predominância alternadamente afetiva e cognitiva. Cada fase tem um colorido próprio, uma unidade solidária, que é dada pelo predomínio de um tipo de atividade. Baseado nas fases da teoria psicogenética de Wallon, a afetividade apresenta-se inicialmente através da emoção, no estágio impulsivo-emocional e em progressão, apropria-se da capacidade intelectual em formação. Então, inicia-se o manifesto através da linguagem e a prioridade de manter-se em contato físico é reduzida. A longa fase emocional da infância tem sua correspondente na história da espécie; nas associações humanas mais primitivas, o contágio afetivo supre, pela criação de um vínculo poderoso para a ação comum, as insuficiências da técnica e dos instrumentos intelectuais. (DANTAS,1992, P.89). Logo, para Wallon apud Dantas (1992, p.42), em consequência dessa “latência cognitiva” presente nos anos pré-escolares movidos pela incumbência de “reconstruir o eu no plano simbólico”, no caso, se esse processo for próspero, a inteligência poderá “beneficiar com o resultado da redução do sincretismo da pessoa”. De acordo com Wallon (2007, p.93): Entre os 6 e 7 anos é possível subtrair a criança às suas ocupações espontâneas para fazer com que se entregue a outras. [...] 40 A atividade mais elementar não conhece, com efeito, outra disciplina senão a das necessidades exteriores; encontra-se sobre o controlo exclusivo das circunstâncias actuais. Portanto, nessa perspectiva apontada por Wallon (2007), se durante tais atividades ocorrer um desvio entre uma reação e as exigências da situação, sugere-se que haja mudança de conduta a fim de “um ajustamento satisfatório”. Dessa forma, então, é possível propiciar que a criança perceba as consequências que seus atos podem causar-lhe e assim transformar-se de maneira consciente e positiva. 4.4 Desenvolvimento e aprendizagem da criança sob a ótica de Vygotsky Anteriormente, analisaram-se, neste estudo, as concepções sobre infância, criança e afetividade. Para contribuir com a compreensão dos principais fatores pertencentes a esse processo educacional e constituinte do ser humano, apresenta-se o conceito de Vygotsky sobre aprendizagem. De acordo com Vigotskii (1988, p.103): [...] a aprendizagem é um processo puramente exterior, paralelo, de certa forma, ao processo de desenvolvimento da criança, mas que não participam ativamente neste e não o modifica absolutamente:a aprendizagem utiliza os resultados do desenvolvimento, em vez de se adiantar ao seu curso e de mudar a sua direção. Com o exposto, salienta-se que nesse sentido, a aprendizagem e o desenvolvimento estão associados, ao mesmo tempo em que se apresentam independentes. Isto é, ambos os conceitos já são pertencentes à criança, ao indivíduo, desde o início da vida, avançando de acordo com a maturação psicológica da criança. Para Vigotskii (1988, p. 108), há três tipos de soluções importantes acerca da relação entre aprendizagem e desenvolvimento. Categorizando-as como fundamentais, a primeira, "independência do processo de desenvolvimento e do processo de aprendizagem”, pauta-se na teoria de Jean Piaget que, em suma, expressa que a escola deve compreender que, antes de a criança adquirir determinados hábitos ou conhecimentos, seu desenvolvimento deve já ter atingido maturação de determinadas funções cognitivas. 41 Com isso, entende-se que a criança só aprende depois que seu cognitivo desenvolveu maturidade sobre determinada função apresentada, razão pela qual a escola deve respeitar esse funcionamento natural do organismo psicológico do ser humano. Sobre a segunda, pressupõe-se que “a aprendizagem é desenvolvimento”, afirmando o contrário da primeira solução que indica que aprendizagem e desenvolvimento são processos distintos um do outro. Por esse ângulo de visão, nota-se ambas em um processo paralelo, de modo que, nesse sentido “O desenvolvimento está para a aprendizagem como a sombra para o objeto que a projeta”. (VIGOTSKII, 1988, p. 105). Assim, fundamenta-se a partir da simultaneidade na evolução dos mesmos. No terceiro pressuposto, há uma tentativa de conectar as extremidades dos dois pontos de vista apresentados, de modo que coexistam. Dessa soma, surge um novo aspecto, segundo Vigotsky (1988, p.106. Grifos do original), que equivale a uma “ampliação do papel da aprendizagem no desenvolvimento da criança”, implicando numa prática docente tradicional (disciplina formal) que “liga-se à idéia de que cada matéria ensinada tem uma importância concreta no desenvolvimento mental geral da criança [...]”. Então, é a partir dessa perspectiva que Vygotsky concluiu que o desenvolvimento é um processo que se estabelece em dois níveis, “nível de desenvolvimento real” representativo à autonomia da criança em realizar alguma atividade, julgando que a mesma já possui domínio sobre tal. E o nível de desenvolvimento potencial, em que a criança ainda requer auxilio de outro indivíduo com mais experiência que ela, para a realização de determinada tarefa ou atividade. Vygotsky descreveu o intervalo entre o processo, denominando os dois níveis como zona de desenvolvimento proximal, afirmando-o como considerações acerca do conhecimento sobre o desenvolvimento individual. Segundo Rego (2009, p.74): O aprendizado é o responsável por criar a zona de desenvolvimento proximal, na medida em que, em interação com outras pessoas, a criança é capaz de colocar em movimento vários processos de desenvolvimento que sem ajuda externa, seriam impossíveis de ocorrer. Esses processos se internalizam e passam a fazer parte das aquisições do seu desenvolvimento individual. Portanto, afirma-se que o desenvolvimento é um processo enriquecido, a partir do aprendizado, razão pela qual se deve analisar se as escolas possibilitam que haja uma relação entre a disciplina e a necessidade intelectual da criança. Afinal, “aprendizado” para Vygotsky 42 “se refere tanto ao processo de ensino quanto de aprendizagem, isto porque ele não acha possível tratar destes dois aspectos de forma independente” (REGO, 2009, p.72). 43 5 PRINCÍPIO DO DIREITO DA CRIANÇA AO RESPEITO Neste capítulo, a fim de contextualizar, de maneira mais precisa sobre o princípio do direito da criança ao respeito, necessita-se retomar o conceito de criança, mesmo que já descrito neste trabalho12. Mas desta vez, utilizando-se das concepções de Dallari e Korczak (1986) acerca da descrição sobre o indivíduo em condição de criança. [...]A criança é um ser dotado de uma inteligência, conhece bem as necessidades, dificuldades e impasses da sua vida. O que funciona não são as ordens despóticas, rigores impostos e controle desconfiado, mas um entendimento realizado com tato, confiança na experiência, cooperação e convívio [...]. A criança tem um futuro, mas também tem um passado, feito de acontecimentos marcantes, de lembranças, de muitas horas de meditação solitária e profunda. Assim como nós, ela sabe lembrar e esquecer, apreciar e desprezar, desenvolver um raciocínio lógico – e também errar, quando lhe falta conhecimento. (DALLARI; KORCZAK, 1986, p.86-87) Diante desse contexto, pensa-se na criança como indivíduo, sujeito histórico e protagonista de sua vida, sendo necessário respeitar e propiciar a ela a condições de fazer valer seus direitos e deveres, entre eles, os de constituir plenamente as atividades, a ela, propostas. Porém, essa concepção origina-se de avanços sobre o pensar e sobre a cultura de infância. Gonçalves (2015) afirma que as representações da criança e a ideia de infância ainda são concepções relativamente recentes. Segundo Cardoso (apud GONÇALVES, 2015, p.20): [...] é possível afirmar que surge historicamente junto ao sentimento de família e ao desenvolvimento da educação escolar. A ideia moderna de infância foi determinada socialmente pela organização social capitalista, definida pelos interesses de uma classe social ascendente: a burguesia. Resultante, da revolução social, o capitalismo firmado durante após o período feudal passou a desprezar as coisas pequenas, consideradas insignificantes. E a isso, atribuía-se o sentimento à criança. Korczak (1986) aponta a dificuldade de se ser pequeno em um universo feito para adultos que se desinteressavam ou banalizavam o ser pequeno. Para o autor, o desrespeito justificava-se, a partir da ideia de que a criança era um ser incapaz e imaturo, sendo assim, submetidos à obediência. 12 Ver capítulo 4, seção 4.1. 44 Logo, conclui-se que o direito ao respeito não existia para a criança em nenhum aspecto de sua existência. Como já discutido anteriormente, sabe-se que a criança, em todo âmbito de sua vida, principalmente, ao que se refere ao seu desenvolvimento integral, tem o direito e deve participar de forma ativa da produção, do planejamento do que lhe diz respeito e, principalmente, ser considerada em sua condição primeira, de infância. À primeira vista, essas questões deveriam ser facilmente lembradas, pois o respeito é algo em que todos são unânimes em querer para si mesmos. Para esclarecer sobre o que tange o direito da criança ao respeito, evidencia-se a necessidade de apresentar a concepção, na qual, este estudo pauta-se sobre o mesmo. Neste sentido, de acordo com Michaelis13 (2008) respeito trata-se da ação ou efeito de respeitar, consideração, apreço, obediência, etc. Dessa forma ao respeitar efetivamente, acata-se com grande atenção os princípios morais e éticos, pois a definição de respeito/respeitar emerge-se da prática de não ultrapassar o limite do outro, do olhar cuidadoso à concepção que outro indivíduo possui, isto é, não há definição fiel descrita em conceitos, mas uma reflexão que direciona este signo a ser um valor moral. Segundo o ECA (BRASIL, 1990): Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. Os
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