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Classificação e Tratamento de Feridas Michel Holanda UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE FACULDADE DE MEDICINA Introduzir o estudante de Medicina no tema, abordando aspectos importantes, que possam nortear um melhor cuidado dos seus pacientes. Objetivo • Maior órgão de absorção do corpo • Corresponde aproximadamente a 10% peso corporal; • Apresenta 3 camadas: –Epiderme; –Derme; –Hipoderme??? Pele •Proteção: Barreira mecânica; •Termorregulação; •Excreção: água, eletrólitos; •Sensibilidade; •Exposição: agressão: física, química, mecânica; •Metabolismo: síntese Vitamina D na pele; •Imagem Corporal: aparência. Funções da pele É utilizado como sinônimo de lesão tecidual, deformidade ou solução de continuidade, a qual pode atingir desde a epiderme, até estruturas mais profundas, como fáscias e músculos, aponeuroses, articulações, cartilagens, tendões, ossos, órgãos cavitários. Ferida Podem ser causadas por fatores extrínsecos, como incisão cirúrgica e lesões acidentais por corte ou trauma, e por fatores intrínsecos, como feridas produzidas por infecção, úlceras crônicas e vasculares, defeitos metabólicos e neoplasias. → Quanto à profundidade 1 - Ferida superficial: atinge apenas a epiderme e a derme Classificação das Feridas 2 - Ferida profunda: destrói a epiderme, a derme e o tecido subcutâneo. 3 - Ferida profunda total: atinge o tecido muscular e as estruturas adjacentes (tendões, cartilagens, ossos, etc.). 1 - Acidental ou traumática: ocorre de maneira imprevista, sendo provocada por objetos cortantes, contundentes, perfurantes, lacerantes, inoculação de venenos, mordeduras e queimaduras em geral → Quanto à Etiologia 2 - Patológicas: são lesões secundárias à uma determinada doença de base 3 - Intencional ou cirúrgica: quando é realizada de acordo com um fim terapêutico proposto 4 - Iatrogênicas: feridas resultantes de procedimentos ou tratamentos (radioterapia); lesões pérfuro – cortantes com agulhas, tesouras, bisturís... 5 - Fatores causais externos: feridas resultantes de pressão contínua exercida pelo peso do corpo, fricção, cisalhamento e umidade, como as úlceras de pressão 1 - Agudas: geralmente são feridas traumáticas, há ruptura da vascularização e desencadeamento imediato do processo de hemostasia (cortes, escoriações, queimaduras, etc.) → Quanto à Evolução 2 - Crônicas: descritas como de longa duração ou recorrência freqüente; ocorre um desvio na seqüência do processo cicatricial fisiológico 1 - Feridas limpas: são feridas não infectadas, livres de microrganismos patogênicos → Quanto à Presença de Infecção 2 - Limpas contaminadas: ocorrem em tecidos de baixa colonização, sem contaminação significativa prévia, ou durante o ato cirúrgico, lesões com tempo inferior a 6h entre o trauma e o atendimento inicial 3 - Contaminadas: feridas acidentais recentes e abertas, colonizadas por flora bacteriana considerável, cirúrgicas quando a técnica asséptica é desobedecida, feridas que o tempo de atendimento inicial foi superior a 6h. 4 - Feridas infectadas: quando há contaminação grosseira por detritos ou por microrganismos como parasitas, bactérias, vírus ou fungos. Apresentam evidências do processo infeccioso, como tecido desvitalizado, exsudação purulenta e odor característico. São classificadas em 4 estágios: Estágio I: pele íntegra com sinais de hiperemia, descoloração ou endurecimento. Estágio II: Perda parcial de tecido envolvendo a epiderme ou derme, ulceração superficial com presença de bolhas ou cratera rasa. → Quanto ao Comprometimento Tecidual Estágio III: perda total do tecido cutâneo, necrose do tecido subcutâneo até a fáscia muscular. Estágio IV: grande destruição tecidual, com necrose, atingindo músculos, tendões e ossos. Feridas mecânicas: feridas traumáticas, causadas por traumatismos externos, cortante ou penetrante, inclui esmagamentos e cortes. Tipos de Feridas Feridas laceradas: apresentam margens irregulares, como as produzidas por caco de vidro ou arame farpado. Feridas químicas: causadas pela ação de ácidos ou bases muito fortes e alguns sais e gases Feridas térmicas: feridas que se desenvolvem como resultado do calor ou frio extremo Feridas por eletricidade: causadas por raios ou contato com objeto energizado, (rede elétrica). Feridas incisas: produzidas por um instrumento cortante, faca, bisturi, etc Feridas perfurantes: produzidas por arma de fogo, ou arma branca. Produzem pequena abertura na pele, porém podem atingir camadas teciduais profundas e órgãos, causando hemorragia interna. Escoriações: a lesão surge tangencialmente à superfície cutânea, com arrancamento da pele. Lesão de escalpamento do couro cabeludo: ocasionada por acidente em embarcação fluvial na região amazônica Úlcera por Pressão (UPP): Antiga “escara”, causada por isquemia secundária a compressão, essa lesão tecidual localizada, também é denominada úlcera de decúbito, lesão por pressão. Úlcera arterial: causada por isquemia, relacionada com a presença de doença arterial oclusiva, os sintomas incluem dor e perda tecidual. Úlcera venosa: perdas locais de epiderme e de níveis variados de derme e tecido subcutâneo, que ocorrem sobre ou próximo a maléolos dos MMII, causadas por edema e outras sequelas relacionadas com dificuldades de retorno venoso Ferida crônica dos pés, resultante de complicações da diabetes, como neuropatia diabética e doença vascular periférica. Pode ocorrer diminuição da sensibilidade, deformidades, diminuição do fluxo arterial, que predispõem a ulceração dos pés. Feridas vasculogênicas – pé diabético •Facilitar ambiente ótimo para a cicatrização. •Remover tecidos mortos, material estranho, a fim de evitar proliferação de microrganismos Feridas •Todas as feridas normalmente produzem exsudado inflamatório. • Uma pequena quantidade de exsudado favorece a cicatrização e mantém o ambiente úmido na ferida. Limpeza: Objetivos Segundo a Cor: Vermelha Indica tecido de granulação saudável e limpo. Quando uma ferida começa a cicatrizar, cobre seu leito uma camada de tecido de granulação róseo-pálido, que posteriormente torna-se vermelho vivo. Classificação da ferida Amarelo: • Indica a presença de exsudato; •Necessidade de limpeza da ferida; •O exsudato pode ser amarelo-claro, amarelo-cremoso, amarelo-esverdeado ou bege. Preta: •Indica a presença de necrose; •O tecido necrótico torna mais lenta a cicatrização; •Proporciona um local para proliferação de microrganismos • Avaliar de maneira apropriada, para permitir modificações; •Terapia tópica selecionada para permitir a cicatrização; •Tecido necrótico: desbridamento; •Avaliar e monitorar a nutrição adequada; •Infecções locais e sistêmicas precisam ser controladas ou eliminadas; •A ferida que não cicatriza, (infectada ou com exposição óssea), precisa ser investigada quanto a presença de osteomielite . Tratamento das feridas •Anamnese sucinta e sinais vitais! • Investigar: condições em que ocorreram as lesões: • Existe perda de substância? • Há penetração da cavidade? • Classificar a ferida Há perda funcional? • Existe corpo estranho? • Necessidade de exames auxiliares? • Antissepsia • Irrigação vigorosa e intensa com soro fisiológico é bastante eficaz para a diminuição da infecção Algumas lesões apresentam recomendações específicas quanto ao tratamento como, por exemplo, mordeduras de animais, FAFs ou lesões perfurantes (prego), cabendo avaliações caso a caso. Importante •Descrever de forma objetiva o que está sendo visto; •Desenvolver um plano de cuidados com estratégias de tratamento; •Monitorara eficácia das estratégias de tratamento e acompanhar a evolução; •Para haver documentação. Plano Terapêutico Tamanho (largura e comprimento) em centímetros Planimetria da Ferida Profundidade em centímetros Presença de túneis e fístulas, medir em centímetros Presença de descolamentos, lojas – medir a profundidade e extensão e documentar a localização usando a posição dos ponteiros do relógio como referência Localização Drenagem (exsudato): cor, odor, quantidade. Presença de tecido necrótico O conhecimento das fases evolutivas do processo fisiológico cicatricial é fundamental para o tratamento adequado da ferida. Processo de cicatrização Fase inflamatória: Edema, eritema, calor e dor; Começa no momento da lesão e dura de 4 a 6 dias; O sangramento é controlado pela hemostasia; As bactérias presentes são destruídas por leucócitos granulocíticos, neutrófilos polimorfonucleares; 4 dias após a lesão os macrófagos substituem os leucócitos, atraindo para o local células necessárias para a reparação tecidual Fases da Cicatrização Na fase inflamatória ocorrem 3 etapas: Fase trombocítica: formação de trombos, agregação plaquetária e ativação da cascata de coagulação. Fase granulocítica: desbridamento da ferida e defesa contra infecções, há grande concentração de leucócitos, fazendo fagocitose das bactérias, decomposição do tecido necrosado e a limpeza da lesão. Etapa macrofágica: atuação local dos macrófagos, que influenciam no desbridamento da ferida e na regulação das outras fases da cicatrização. Fase proliferativa: Dura de 4 a 24 dias; Na ferida aberta, surge o tecido de granulação: macrófagos, fibroblastos, colágeno imaturo, vasos sanguíneos e substância matricial; À medida que o tecido de granulação prolifera, os fibroblastos estimulam a produção de colágeno, que proporciona ao tecido sua força de tensão e sua estrutura; A etapa final desta fase é a epitelização. Fase de maturação ou reparadora: Duração entre 21 dias a 2 anos; As fibras de colágeno se reorganizam, remodelam e amadurecem, ganhando força de tensão; O processo continua até que o tecido cicatricial recupere cerca de 80% da força original da pele Primeira intenção: Cicatrização ideal de uma ferida; É feito a junção dos bordos da lesão por meio de sutura ou aproximação; Reduz o potencial de infecção; Cicatriza em média em 10 dias; Ex: feridas cirúrgicas Tipos de Cicatrização Tipo de cicatrização relacionada a ferimentos infectados e a lesões com perda acentuada de tecido; Não é possível realizar a junção dos bordos Há necessidade de formação de tecido de granulação no leito da lesão; Ex: úlceras venosas, abscessos, etc. Segunda Intenção Existem fatores que retardam o processo de cicatrização, como aplicação de drenos, ostomias e feridas cirúrgicas infectadas; Feridas que não foram suturadas inicialmente, que se romperam ou tiveram que ser reabertas para drenagens de exsudatos, e que após 3 a 5 dias serão ressuturadas. Terceira Intenção Perfusão de tecidos e oxigenação; pressão contínua sobre a área da lesão, impedindo que o fluxo de sangue chegue aos tecidos; Localização da ferida; Corpo estranha na ferida; Medicamentos; corticóides, citotóxicos, penicilinas; Nutrição; Hemorragia; Fatores que influenciam a cicatrização das feridas Edema e obstrução linfática; Infecção; Idade do paciente; Hiperatividade do paciente; Doenças associadas; hipertensão arterial, diabetes, hepatopatias, nefropatias, problemas vasculares, e neoplasias; A grande complicação: INFECÇÃO Fatores locais: contaminação, presença de corpo estranho, técnica de sutura inadequada, tecido desvitalizado, hematoma e espaço morto Fatores gerais: debilidade, idade avançada, obesidade, anemia, choque, grande período de internação hospitalar, tempo cirúrgico elevado e doenças associadas, principalmente o diabetes e doenças imunodepressoras. Outras complicações são a HEMORRAGIA e a DESTRUIÇÃO TECIDUAL Complicações O tratamento das feridas depende dos vários aspectos discutidos anteriormente (etiologia, tempo, tipo...), para as quais deverão ser aplicados os métodos e produtos específicos. Tratamento - Eliminar tecido necrótico e corpos estranhos identificar e combater o processo infeccioso obliterar os espaços mortos - Absorver o excesso de exsudato Manter umidade na lesão Favorecer o isolamento térmico - Proteger a lesão de traumas e bactérias Minimizar acúmulo de fluidos por compressão Previnir contaminação exógena Indicação de Coberturas É todo material, substância ou produto que se aplica sobre a ferida, formando uma barreira física, com capacidade, no mínimo, cobrir e proteger o seu leito. Classificação das coberturas Quanto ao desempenho: 1 - Passivas protegem e cobrem as feridas 2 - Interativas mantém um microambiente úmido, facilitando a cicatrização. COBERTURA Primárias colocadas diretamente sobre a ferida. Secundária sobre a cobertura primária, quando necessário Quanto a sua relação de contato com o leito da ferida •MODO DE AÇÃO: promove quimiotaxia para os leucócitos, facilita a entrada de fatores de crescimento celular, auxilia a angiogênese. •INDICAÇÃO: todos os tipos de feridas previamente desbridadas. • MODO DE USAR: aplicar A.G.E, em toda área da lesão, usar curativo não aderente e recobrir com curativo secundário. Trocar o curativo diariamente ou quando necessário. 1 - ÁCIDO GRAXO ESSENCIAL (A.G.E.): Óleo vegetal rico em ácido linoléico e vitamina A/E e lecitina de soja. Dersani® MODO DE USAR: irrigar a lesão com jatos de SF 0,9%, remover o excesso de exsudato e de tecido desvitalizado, secar somente a região periférica. Escolher o tamanho e a apresentação que melhor se adapte. Ocluir com uma cobertura secundária. É indicado para feridas com moderada e alta exsudação, sangrantes limpas ou infectadas, agudas ou crônicas, superficiais ou profundas. Exemplos; UPP, feridas diabéticas, neoplásicas e deiscências cirúrgicas. ALGINATO DE CÁLCIO e SÓDIO: é um curativo macio, estéril, constituído por fibras naturais de alginato de cálcio e sódio. DESCRIÇÃO: compressa de Rayon com Carvão Ativado é constituído por uma camada de rayon viscose carbonizada e ativada, prensada entre duas camadas de rayon viscose. Ambos os lados dos curativos são idênticos, macio e pode ser cortado do tamanho que se adapte ao leito ferida. MODO DE AÇÃO: o carvão ativado, adsorve moléculas voláteis e filtra o odor desagradável, criando um ambiente para a cicatrização. INDICAÇÃO: pode ser usado em feridas exsudativas, infectadas, superficiais ou profundas e com odor desagradável CARVÃO ATIVADO com PRATA DESCRIÇÃO: filme transparente com membrana de poliuretano. MODO DE AÇÃO: evita a entrada de bactérias na lesão, mantém o meio úmido. INDICAÇÃO: cobertura para feridas limpas, abertas e fechadas, com pouco ou nenhum exsudato. CONTRA-INDICAÇÃO: feridas infectadas com moderada ou intensa exsudação. MODO DE USAR: aplicar cobertura sobre a lesão, pode associar a outros produtos. FILME TRANPARENTE Curativo primário, enriquecido com óleo de origem vegetal que promove do desbridamento autolítico e o ambiente úmido ideais para a cicatrização. INDICAÇÃO: Feridas em granulação, necróticas, excesso de fibrina, secas e infectadas, médias ou profundas, úlceras venosas, arteriais ou por pressão, abrasões e lacerações. MODO DE USAR: irrigar a lesão com SF 0,9%, remover os tecidos desvitalizados, secar somente a região periferida, aplicar hidrogel no leito da lesão, ocluir com cobertura secundária estéril e fixar. TROCAS: realizar a troca a cada 24hs ou conforme a saturação do curativo. HIDROGEL COM AGE DESCRIÇÃO DESCRIÇÃO: curativo auto aderente composto por uma mistura de polímeroshidrossolúveis, maior parte de Carboximetilcelulose sódica. INDICAÇÕES: leve exsudação, pequenas abrasões e lacerações superficiais, rachaduras da pele, úlceras de perna (venosas , arteriais ou mistas), úlceras diabéticas e por pressão, excisões dermatológicas, áreas doadoras, incisões cirúrgicas, queimaduras de1º e 2º grau. TROCAS: poderá ser trocado até em 7 dias. Se houver extravasamento de exsudato e/ ou gel, ou desprendimento das bordas, o curativo deverá ser trocado CURATIVO HIDROCOLÓIDE (Placas) COMPOSIÇÃO: sulfadiazina de prata a 1% hidrofílica. MECANISMO DE AÇÃO: o íon prata causa precipitação de proteínas de proteínas e age diretamente na membrana citoplasmática da célula bacteriana, exercendo ação bactericida imediata e bacteriostática residual. INDICAÇÃO: prevenção e colonização e tratamento da ferida queimada. PERIOCIDADE DE TROCA: no máximo a cada 12 hs ou quando a cobertura secundária estiver saturada. SULFADIAZINA DE PRATA Outras Coberturas Hidrofibras com e sem Prata Papaína - Tratamento químico: Aplicação dos chamados curativos biológicos. - Tratamento mecânico: Desbridamento da ferida, o qual pode ser por ação indireta (jato de SF 0,9%), direta (fricção com gaze), instrumental (lâmina de bisturí e tesoura) ou cirúrgico. É, não raro, necessário para posterior tratamento químico. P.ex. Escaras. Tratamento Químico ou Mecânico? - O sucesso do tratamento deve-se muito aos conhecimentos acerca da lesão em questão; - Não basta conhecer os produtos, mas também a sua indicação e correta aplicação; - Resguardar sempre o paciente de riscos relacionados a imperícia ou imprudência (???); - Sempre lembrar e nunca esquecer de que não estamos tratando de uma FERIDA, mas sim de um SER HUMANO! Considerações Finais Dúvidas???? (Dívidas??) OBRIGADO!!!!!
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