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1 DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR, DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO E DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR DIREITO DO CONSUMIDOR – 2020.1 PROFESSOR: ADRIANO BARCELOS ROMEIRO ALUNA: ANA CLARA BENEVENUTO 2 DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR, DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO E DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR Sumário 1. Introdução 2. Dos Direitos do Consumidor 2.1. Artigo 1º 2.2. Artigo 2º I. Teorias II. Vulnerabilidade III. Outros Conceitos de Consumidor 2.3. Artigo 3º I. Outros Conceitos de Fornecedor 3. Da Política Nacional e as Relações de Consumo 3.1. Artigo 4º 3.2. Artigo 5º 4. Dos Direitos Básicos do Consumidor 4.1. Artigo 6º I. A Responsabilidade do Fornecedor em Relações de Consumo 4.2. Artigo 7º 5. Bibliografia 3 1. INTRODUÇÃO O Código de Defesa do Consumidor foi instituído pela Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, inspirado na Carta de Direitos do Consumidor dos Estados Unidos, que ao emergir como potência industrial começou a estudar e discutir sobre a proteção ao consumidor. O dispositivo, no Brasil, dispõe sobre as relações de desigualdade entre as partes, sendo, portanto, um conjunto de normas com o propósito de proteger os direitos do consumidor. Anteriormente, os contratos eram regidos pelo Código Civil, que em sua essência rege contratos entre partes com relação paritária, o que não é uma realidade nos casos de consumo. Dessa forma, sua criação foi fundamental, pois o Código de Defesa do Consumidor trazia princípios que adequavam as normas a realidade de uma relação que sobretudo não se caracteriza igualdade entre partes. Já que o Código de Defesa do Consumidor prevê que uma vez que existe desigualdade na relação entre fornecedor e consumidor, ele aplica leis desiguais para que seja atingida a igualdade. Para isso ser realmente justo, devemos aferir se uma relação é ou não desigual, uma vez que não podemos aplicar leis desiguais em relações paritárias. É indiscutivelmente uma lei de função social que traz normas que discorrem sobre direito privado, mas ao mesmo tempo de ordem pública - direito privado indisponível- e normas de direito público. Ou seja, uma lei de ordem pública e econômica - ordem pública de coordenação, de direito e de proibição - e lei de interesse social que permite a proteção coletiva dos interesses dos consumidores presentes no caso. Segundo o professor Marcelo Gomes Sodré: “O Código de Defesa do Consumidor pode ser visto como uma lei multidisciplinar abrangente, posto que abarca o direito civil, penal, processual, administrativo e comercial, formulada a partir da ideia da vulnerabilidade do consumidor. É importante notar a afirmação da autonomia deste novo ramo do direito e é nesse sentido básico que diversos autores tratam o tema”. (SODRÉ, Marcelo Gomes. Formação do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 1. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 171) 4 2. DOS DIREITOS DO CONSUMIDOR 2.1 - Artigo 1º Art. 1°, CDC - O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. Art. 5º, CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; Art. 170. CF - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor; O Código de Defesa do Consumidor não apenas assegura uma hierarquia superior, de ordem pública aos direitos do consumidor, mas através de sua menção ao interesse social - que não é somente das partes que determinam os limites da lide - e sua origem constitucional esclarece dois efeitos práticos: que as normas do Código devem ser aplicadas ex officio pelo julgador e sempre interpretadas conforme o mandamento constitucional, ou seja, em favor do consumidor, mesmo que as partes estejam representadas coletivamente, já que o interesse social é o prevalecente. 5 A importância do Código possuir normas de ordem pública é que as normas do mesmo são imperativas, portanto, não podem ser afastadas pela vontade das partes. Ao contrário do Código Civil, por exemplo, que possui normas dispositivas, o que significa dizer que algumas de suas regras podem ser afastadas pela vontade das partes. Isso ocorre porque o consumidor, na relação jurídica de consumo, é a parte mais fraca e para salvaguarda-lo tais normas não podem ser negociáveis. O 1º Artigo do Código de Defesa do Consumidor explicita o conceito de proteção constitucional, e apresenta o Código de Defesa do Consumidor como um conjunto de normas de proteção constitucional ao consumidor, que determina que o direito do consumidor seja disciplinado, ordenado e interpretado em conformidade com os valores e normas fundamentas estabelecidas na Constituição. O artigo 5º, XXXII da CF ordena que é dever do Estado promover “a defesa do consumidor” e uma vez elencado em tal artigo, a defesa do consumidor torna-se direito fundamental, não apenas materialmente, mas também formalmente, vez que tal artigo elenca os direitos fundamentais de forma expressa. Já o artigo 170 da Constituição esclarece que a defesa do consumidor não contraria os valores e princípios de ordem econômica buscados pelos constituintes, mas está em perfeita consonância com eles. Afinal, para que a economia se mantenha saudável, se faz necessária a defesa do consumidor. Jurisprudência: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DANOS MORAIS DECORRENTES DE ATRASO OCORRIDO EM VOO INTERNACIONAL. APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. NÃO CONHECIMENTO. 1. O princípio da defesa do consumidor se aplica a todo o capítulo constitucional da atividade econômica. 2. Afastam-se as normas especiais do Código Brasileiro da Aeronáutica e da Convenção de Varsóvia quando implicarem retrocesso social ou vilipêndio aos direitos assegurados pelo Código de Defesa do Consumidor. 6 3. Não cabe discutir, na instância extraordinária, sobre a correta aplicação do Código de Defesa do Consumidor ou sobre a incidência, no caso concreto, de específicas normas de consumo veiculadas em legislação especial sobre o transporte aéreo internacional. Ofensa indireta à Constituição de República. 4. Recurso não conhecido. (RE 351750, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. CARLOS BRITTO, Primeira Turma, julgado em 17/03/2009, DJe-181 DIVULG 24-09-2009 PUBLIC 25-09-2009 EMENT VOL- 02375-03 PP-01081 RJSP v. 57, n. 384, 2009, p. 137-143) 2.2 - Artigo 2º Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Apenas com a leitura do artigo podemos perceber que existe uma zona cinzenta acerca da área de aplicação do direito do consumidor, pela dificuldade de definição do conceito de consumidor. A definição de Consumidor não é apenas delimitada sob a ótica individual, como sujeito de direitos individuais, mas também sob a ótica transindividual. Conhecemos então interesses dos consumidores vistos sob ótica coletiva, que podem se tratar de interesses individuais homogêneos, interesses coletivos, e interesses difusos. (art. 17 e 29 doCDC). Os aspectos relevantes para distinguir o consumidor são: i. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas podem ser consumidoras ii. O consumidor pode ser tanto aquele que adquire como aquele que utiliza o produto ou serviço. iii. Aferir a vulnerabilidade do consumidor perante o fornecedor. 7 5.1. Teorias O Artigo 2º do CDC apresenta o primeiro agente da relação de consumo. Para reconhecer essa figura da relação consumerista foram criadas três teorias: ▪ Teoria Maximalista: A concepção de Consumidor na Teoria Maximalista é mais extensa, com a aplicação indistinta do CDC quando há aquisição de um produto ou serviço, independente da destinação econômica que se confere ao mesmo. Tal teoria confere uma interpretação abrangente ao art. 2º, CDC. O critério é objetivo, é aquele que interrompe a cadeia de produção e circulação dos bens, ou seja, para essa teoria o destinatário final é aquele consumidor que retira o produto do mercado de consumo, não importa saber o fim do produto, basta a retirada do produto do mercado de consumo para ser considerado consumidor. Segundo Claudia Lima Marques: “A definição do art. 2º (CDC) deve ser interpretada o mais extensamente possível, segundo esta corrente, para que as normas do CDC possam ser aplicadas a um número cada vez maior de relações no mercado. Consideram que a definição do art. 2º é puramente objetiva, não importando se a pessoas física ou jurídica tem ou não fim de lucro quando adquire um produto ou utiliza um serviço. Destinatário final seria o destinatário fático do produto, aquele que retira do mercado e o utiliza, o consome, por exemplo, a fábrica de toalhas que compra algodão para transformar, a fábrica de celulose que compra carros para o transporte de visitantes, o advogado que compra uma máquina de escrever para seu escritório, ou mesmo o Estado quando adquire canetas para uso nas repartições e, é claro, a dona de casa que adquire produtos alimentícios para a família”. (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 305). ▪ Teoria Finalista ou subjetivista: Tal teoria identifica o Consumidor como aquele que utiliza o bem como destinatário final, sem que o bem adquirido seja utilizado ou aplicado em qualquer finalidade produtiva para http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10608698/artigo-2-da-lei-n-8078-de-11-de-setembro-de-1990 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/91585/c%C3%B3digo-de-defesa-do-consumidor-lei-8078-90 8 a continuidade da atividade econômica. Ou seja, sem que o bem seja utilizado nas suas atividades produtivas, então apenas engloba aquele que adquire o produto ou serviço para uma finalidade pessoal. Segundo Claudia Lima Marques: “O destinatário final é o consumidor final, o que retira o bem do mercado ao adquirir ou simplesmente utilizá-lo (destinatário final fático), aquele que coloca um fim na cadeia de produção (destinatário final econômico) e não aquele que utiliza o bem para continuar a produzir, pois ele não é consumidor final, ele está transformando o bem, utilizando o bem, incluindo o serviço contratado no seu, para oferecê- lo por sua vez ao seu cliente, seu consumidor, utilizando-o no seu serviço de construção, nos seus cálculos do preço, como insumo da sua produção.” ((MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor: o novo regime das relações contratuais. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 83/84). ▪ Teoria Finalista Mitigada: Considera Consumidor tanto a pessoa que adquire para o uso pessoal quanto os profissionais liberais e os pequenos empresários que conferem ao bem adquirido a participação no implemento de sua unidade produtiva, desde que, nesse caso, demonstrada a hipossuficiência, sob pena da relação estabelecida passar a ser regida pelo Código Civil. Tal Teoria utiliza como principal critério definir consumidor a vulnerabilidade, ou seja, para ser consumidor e por conseguinte ser respaldado pelo CDC deve haver na relação de consumo o fator vulnerabilidade. São levados em consideração principalmente a vulnerabilidade técnica, quando o fornecedor por deter o monopólio das informações relativas aos produtos e serviços está em posição de vantagem sobre o consumidor na relação e a vulnerabilidade econômica, quando o fornecedor possui uma capacidade econômica significativamente maior que do consumidor. Além disso, como está previsto no parágrafo único, consumidor não precisa ser um dos dois polos da relação de consumo, mas pode também ser vítima dessa. 9 5.2. Vulnerabilidade O que significa ser vulnerável? Isso significa que há presente um desequilíbrio entre as partes, sendo o consumidor a parte vulnerável porque ele é quem está submetido ao poder do outro. Essa relação é marcada pela desigualdade por isso é protegido. Então, para considerarmos consumidor, devemos analisar dois fatores: (i) se está ao final da cadeia produtiva (destinatário final); e (ii) se é vulnerável. Devemos levar em consideração também o fato da pessoa física ter vulnerabilidade presumida, enquanto a pessoa jurídica deve prova-la. Podemos aferir a vulnerabilidade a partir de dois princípios constitucionais, são eles: ▪ Igualdade – busca por uma igualdade substancial e concreta; há a limitação do exercício econômico para que isso possa ocorrer ▪ Solidariedade – todos pagamos e somos responsáveis por problemas que ocorrem na sociedade. No mercado de consumo, esse princípio é observado concretamente ao passo que todos nós pagamos pelo risco econômico dos fornecedores e pelos danos causados por eles, uma vez que, de alguma forma, esse prejuízo afeta o preço do produto. A vulnerabilidade está relacionada a uma submissão ou falta de controle sobre o processo produtivo. É importante lembrar também todo consumidor é vulnerável, mas nem sempre hipossuficiente. ▪ Vulnerabilidade x Hipossuficiente: Embora, em sentido leigo, eles eram considerados sinônimos, a hipossuficiência no âmbito das relações de consumo, é utilizada dentro da lógica processual e constitui requisito para a inversão do ônus da prova. Já a vulnerabilidade é um estado de fato, classificado a partir de diferentes sentidos. A vulnerabilidade do consumidor pode estar relacionada a alguns aspectos: i. Econômica – causada pela desigualdade econômica entre os agentes da relação de consumo ii. Técnica – tal vulnerabilidade está relacionada ao déficit informacional. O consumidor não sabe tudo que o fornecedor sabe sobre o produto ou 10 serviço, ele se submete ao poder do fornecedor pois não conhece as informações técnicas do produto, sendo improvável haver uma discussão entre iguais sobre o tema. iii. Jurídica – relacionada a falta de esclarecimento dos direitos e menor capacidade de efetivá-los (ex.: em um contrato de adesão, aqueles que o aderem são vulneráveis). É importante destacar também que não são consumidores: i. O inquilino ii. O sócio de clube iii. O contribuinte iv. O que recebe gratuitamente 5.3. Outros Conceitos de Consumidor A lei estendeu o conceito de consumidor por razão prática, em atenção ao art. 2º, par. Único do CDC, ela considerou que outras pessoas deveriam ser amparadas pelo Código de Defesa do Consumidor. Ou seja, dentro do conceito de consumidor, há, ainda a figura dos consumidores equiparados, que não são configurados como destinatários finais, mas se materializam nesta condição por uma situação de fato comum. O Consumidor por equiparação é todo aquele que, embora não tenha participado diretamente da relação de consumo, sobre as consequências do efeito danoso decorrente de defeito na prestação do serviço à terceiros, que ultrapassao seu objeto. ▪ Bystanders: Tal figura existe para tutelar as vítimas do evento danoso de consumo, que não são apenas os que diretamente participaram do ato de consumo, mas aqueles que sofreram danos decorrentes do acidente atribuível ao fornecedor. Portanto, bystanders são aqueles que até determinado momento eram apenas espectadores, mas passaram a se equiparar às vítimas do acidente de consumo. Por exemplo, um avião ao cair destrói diversas casas, então as pessoas que tiveram suas casas destruídas são equiparadas ao consumidor que estava dentro do avião mesmo sem relação de consumo stricto sensu (art. 17, CDC). 11 ▪ Coletividade de pessoas: A equiparação da coletividade de pessoas a consumidor tem como objetivo a proteção da coletividade de pessoas que, mesmo sem a realização direta de um ato de consumo propriamente dito, pode sofrer as consequências da mera atuação dos fornecedores no mercado (art. 2º, par. único, CDC). ▪ Pessoas expostas às práticas comerciais: Entende-se que todas as pessoas são consumidoras ante o fato de estarem expostas às práticas comerciais. Portanto, todas as pessoas determináveis ou não, expostas às tais práticas devem ser protegidas (art. 29, CDC). Segundo Rizzato Nunes, a intenção do legislador foi clara: “uma vez existindo qualquer prática comercial, toda a coletividade de pessoas já está exposta a ela, ainda que em nenhum momento se possa identificar um único consumidor real que pretenda insurgir-se contra tal prática” (NUNES, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor, Ed. Saraiva, 2004, p. 85) Jurisprudência: DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZATÓRIA. INSTALAÇÃO DE ANTENA DE CELULAR (ERB). DESRESPEITO À RESOLUÇÃO 303/2002 DA ANATEL. INOBSERVÂNCIA ÀS DISTÂNCIAS PREVISTAS NO DECRETO DISTRITAL Nº 22.395/2001 E NA LEI DISTRITAL Nº 3.446/2004. DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. DANOS MATERIAIS DEMONSTRADOS. 1. Cuida-se de ação ordinária por meio da qual o autor pugna pelo pagamento de indenização por danos materiais, em razão de antena de celular instalada perto de seu imóvel, o que ocasionou a desvalorização de propriedade, em decorrência do temor pelos problemas que as radiações poderiam ocasionar à saúde. 2. Agravo retido não conhecido, porquanto ausente a reiteração por ocasião da apelação, nos termos do artigo 523, §1º, CPC. 12 2.1 Para que o agravo retido possa ser conhecido e julgado pelo seu mérito, devem estar presentes dois requisitos: a) a apelação deve ser conhecida; b) o agravante deve ter reiterado sua vontade de ser o agravo conhecido nas razões de apelação. 3. Rejeitada a preliminar de inadequação da via eleita. 3.1. Havendo compatibilidade de rito, é possível a cumulação da pretensão indenizatória com o pedido de condenação em obrigação de fazer. 4. Inexistindo legislação federal a respeito do distanciamento de residências da radiação ionizante emitida pelas antenas de telefonia celular, incumbe aos estados-membros e ao Distrito Federal disciplinar aspectos referentes à proteção do meio ambiente ou da saúde humana na implantação e funcionamento das ERB’s, nos termos dos art. 23, II e art. 24, XII, parágrafo 2º, da Carta Magna e do art. 74 da Lei Federal nº 9.472/1997. 5. A instalação da antena não observou a Resolução nº 303/2002 da Anatel, que previa os limites para a exposição humana a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos na faixa de radiofreqüências, nem a Lei Distrital nº 3.446/2004, que previa o distanciamento de 50 metros de residências. 6. O art. 17 do Código de Defesa do Consumidor afirma que se equiparam aos consumidores todas as vítimas do evento. Esta pessoa é denominada pela doutrina de bystander, que é justamente o terceiro atingido pela atividade empresarial, sem que configure o consumidor final de serviços e sem qualquer relação com o fornecedor. 6.1. O art. 14, caput, da norma consumerista estabelece que cumpre à empresa responder de forma objetiva “pela reparação de danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre a sua fruição e riscos”. 7. Aplica-se ao caso dos autos o art. 927 do Código Civil, que dispõe de forma clara que “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”, 13 esclarecendo ainda o Parágrafo único do referido dispositivo que “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”. 8. Recurso improvido. (TJDFT – Acórdão n. 841982, Relator Des. JOÃO EGMONT, Revisora Desª. LEILA ARLANCH, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 17/12/2014, Publicado no DJe: 20/1/2015). REsp 208.793/MT, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRO TURMA, julgado em 18.11.1999, DJ 01.08.2000 p. 264. Código de Defesa do Consumidor. Destinatário final: conceito. Compra de adubo. Prescrição. Lucros cessantes. 1. A expressão "destinatário final", constante da parte final do art. 2o do Código de Defesa do Consumidor, alcança o produtor agrícola que compra adubo para o preparo do plantio, à medida que o bem adquirido foi utilizado pelo profissional, encerrando- se a cadeia produtiva respectiva, não sendo objeto de transformação ou beneficiamento. 2. Estando o contrato submetido ao Código de Defesa do Consumidor a prescrição é de cinco anos. 3. Deixando o Acórdão recorrido para a liquidação por artigos a condenação por lucros cessantes, não há prequestionamento dos artigos 284 e 462 do Código de Processo Civil, e 1.059 e 1.060 do Código Civil, que não podem ser superiores ao valor indicado na inicial. 4. Recurso especial não conhecido. (STJ, TERCEIRA TURMA, REsp 208.793/MT, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, julgado em 18.11.1999, DJ 01.08.2000 p. 264). ADMINISTRATIVO. EMPRESA CONCESSIONÁRIA DE FORNECIMENTO DE ÁGUA. RELAÇÃO DE CONSUMO. http://pesquisajuris.tjdft.jus.br/IndexadorAcordaos-web/sistj?visaoId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&controladorId=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.ControladorBuscaAcordao&visaoAnterior=tjdf.sistj.acordaoeletronico.buscaindexada.apresentacao.VisaoBuscaAcordao&nomeDaPagina=resultado&comando=abrirDadosDoAcordao&enderecoDoServlet=sistj&historicoDePaginas=buscaLivre&quantidadeDeRegistros=20&baseSelecionada=BASE_ACORDAOS&numeroDaUltimaPagina=1&buscaIndexada=1&mostrarPaginaSelecaoTipoResultado=false&totalHits=1&internet=1&numeroDoDocumento=841982 14 APLICAÇÃO DOS ARTS. 2º E 42 PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 1. Há relação de consumo no fornecimento de água por entidade concessionária desse serviço público a empresa que comercializa com pescados. 2. A empresa utiliza o produto como consumidora final 3. Conceituação de relação de consumo assentada pelo art. 2º, do Código de Defesa do Consumidor. 4. Tarifas cobradas a mais. Devolução em dobro. Aplicação do art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor. 5. Recurso provido (STJ, REsp 263.229/SP, Rel. Ministro JOSÉ DELGADO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14.11.2000, DJ 09.04.2001 p. 332) 2.3 - Artigo 3º Art. 3° - Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. § 1° - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. § 2° - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, decrédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. O artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor esmiúça o segundo agente da relação de consumo, o Fornecedor. O Fornecedor é a pessoa natural ou jurídica, nacional ou estrangeira, que coloca no mercado, em caráter de habitualidade e mediante remuneração, um produto ou serviço, ou seja, todos quantos propiciem a oferta de produto e serviços no mercado de consumo. Ele é caracterizado por desempenhar uma 15 determinada atividade na cadeia de produção ou na prestação do serviço descrito deste artigo. Para ser Fornecedor existem duas condições: atuação com habitualidade e profissionalidade. Segundo a doutrina brasileira, fornecer significa prover, abastecer, guarnecer, dar, ministrar, facilitar, proporcionar. Trata-se de atividade independente de quem realmente detém a propriedade dos eventuais bens utilizados para prestar o serviço e seus deveres anexos. Tal artigo apresenta também a definição de Produto, que é todo bem que é objeto do interesse em dada relação de consumo destinado a satisfazer uma necessidade do consumidor e deve ser economicamente apreciável. Outro termo inserido no artigo é o de Serviço, que é referido pela norma como aquele que é oferecido como intuito econômico, em troca de uma remuneração, seja ela direta ou indireta, que independe do lucro. Caso não tenha sido submetido à exploração comercial, não se classifica como serviço para fins da relação de consumo. A remuneração do serviço é o único elemento caracterizador e não profissionalizante de quem o presta. Já que em relação aos produtos, a gratuidade passou a ser um tema de grande discussão em matéria de campo. Efetivamente, menciona-se apenas “remuneração” como necessária para serviços e, a contrario sensu, conclui-se que os produtos podem ser gratuitos, mas mesmo assim estarem sujeitos ao CDC. I. Conceitos de Fornecedor A doutrina, com base no art. 12 do Código de Defesa do Consumidor, identifica ao menos três espécies de fornecedores, são eles: ▪ Fornecedor real (fabricante): Doutrinariamente é identificado como aquele que efetivamente participa do processo de fabricação do produto. ▪ Fornecedor presumido (importador): É aquele que não participa diretamente do processo de fabricação/produção/construção do produto, mas é apenas um intermediário entre quem fabrica e o consumidor. ▪ Fornecedor aparente: É aquele que põe uma marca nos produtos disponibilizados ao consumidor e cria no mesmo a confiança do produto a ser comercializado. 16 ▪ Fornecedor por equiparação: Não importa se a relação do fornecedor com o consumidor é direta ou indireta, contratual ou extracontratual. A ideia de fornecedor equiparado surgiu da ampliação do campo de aplicação alargada deste artigo. Segundo Cláudia Lima Marques é caracterizado como: "Aquele terceiro que na relação de consumo serviu como intermediário ou ajudante para a realização da relação principal, mas que atua frente a um consumidor como se fosse o fornecedor. Em outras palavras: ele não é o fornecedor do contrato principal, mas como intermediário é o “dono” da relação conexa e possui uma posição de poder na relação com o consumidor" (MARQUES, Cláudia Lima, BENJAMIM, Antônio H. V., BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pág. 83). Quanto ao fornecedor aparente, o STJ decidiu: “[...] Observa-se que a lei traz a definição ampliada de fornecedor e a doutrina nacional aponta a existência de quatro subespécies, a saber: a) o fornecedor real; b) o fornecedor presumido; c) o fornecedor equiparado e d) o fornecedor aparente. O fornecedor aparente, que compreende aquele que, embora não tendo participado do processo de fabricação, apresenta-se como tal pela colocação do seu nome, marca ou outro sinal de identificação no produto que foi fabricado por um terceiro. É nessa aparência que reside o fundamento para a responsabilização deste fornecedor, não sendo exigida para o consumidor, vítima de evento lesivo, a investigação da identidade do fabricante real. Com efeito, tal alcance torna-se possível na medida em que o Código de Defesa do Consumidor tem por escopo, conforme aduzido pela doutrina, proteger o consumidor "daquelas atividades desenvolvidas no mercado, que, pela própria natureza, são potencialmente ofensivas a direitos materiais (...) são criadoras de situações de vulnerabilidade independentemente da qualificação normativa de quem a exerce". Assim, com fulcro no Código de Defesa do Consumidor, especialmente em seus arts. 3º, 12, 14, 18, 20 e 34 é de reconhecer, de fato, a previsão normativa para a responsabilização solidária do fornecedor aparente, porquanto beneficiário da marca de alcance global, em nome da teoria do risco da atividade.” (REsp 1.580.432-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, por unanimidade, julgado em 06/12/2018, DJe 04/02/2019) II. Serviços Gratuitos Doutrinariamente, se caracteriza como serviço gratuito o recebimento de alguma vantagem, não necessariamente pecuniária, sendo assim, remuneração não é o sinônimo de lucro, consequentemente a remuneração citada no art 3º, §2º, pode ocorrer de forma indireta. Portanto alguns serviços e “doações” de produtos gratuitos, por exemplo, as amostras grátis podem ser consideradas relação de consumo. A remuneração indireta é a forma de pagamento onde o fornecedor recebe outras vantagens, diversas do pagamento direto através da entrega de um bem, como a realização futura de um negócio, a angariação de novos clientes, ou a divulgação de um produto ou marca. 17 Jurisprudência: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. APLICAÇÃO. ENQUADRAMENTO DE EMPRESA COMO CONSUMIDORA FINAL DO SERVIÇO. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. REVISÃO DO JULGADO. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE DE REEXAME DE PROVA. SÚMULA 7/STJ. INCIDÊNCIA. 1. A jurisprudência desta Corte firmou-se no sentido de que a relação entre concessionária de serviço público e o usuário final para o fornecimento de serviços públicos essenciais, tais como energia elétrica, é consumerista, sendo cabível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. 2. No caso, concluiu a Corte estadual pelo enquadramento da agravante como fornecedora e da agravada como consumidora do serviço de fornecimento de energia elétrica, razão pela qual fez incidir as regras protetoras do Código de Defesa do Consumidor. 3. Assim, para revisar tal fundamentação seria imprescindível o reexame do substrato probatório da lide, o que é defeso em recurso especial, ante o que preceitua a Súmula 7 desta Casa. 4. O Superior Tribunal de Justiça possui orientação de que "a inversão do ônus da prova é faculdade conferida ao magistrado, não um dever, e fica a critério da autoridade judicial conceder tal inversão quando for verossímil a alegação do consumidor ou quando for ele hipossuficiente. A revisão do entendimento assinalado pelo acórdão esbarra na vedação sumular 7/STJ, pois depende da análise de matéria fático-probatória, o que se afigura inviável em Recurso Especial" (AgInt no REsp 1.569.566/MT, 18 Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 7/3/2017, DJe 27/4/2017). 5. Não havendo tese jurídica capaz de modificar o posicionamento anteriormente firmado, é de se manter a decisão agravada, por seus próprios fundamentos. 6. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp 1061219/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe 25/08/2017) 3. Da Política Nacional e as Relações de Consumo 3.1 Artigo 4º Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteçãode seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: I – reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo; II – ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta; b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) pela presença do Estado no mercado de consumo; d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. III – harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico 19 e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores; IV – educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V – incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; VI – coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores; VII – racionalização e melhoria dos serviços públicos; VIII – estudo constante das modificações do mercado de consumo. O 4º Artigo do CDC reflete as normas reflete o art. 5º, XXXII da CF uma vez que traça diretrizes e fins colimados pelo Estado na consecução dos fins sociais priorizados pelo Constituinte e é considerado o fundamento da proteção do consumidor já que regula as relações de consumo. Caso não houvesse proteção do ser humano, como consumidor, na sua segurança, dignidade e saúde, não existiria também uma sociedade, tampouco mercado de consumo. É um ciclo ininterrupto necessário para a manutenção do mercado, que requer que o Estado interfira para que haja equilíbrio nas relações. Dos princípios introduzidos nesse artigo são esses: ▪ Princípio da Vulnerabilidade: O Princípio da Vulnerabilidade é o princípio que representa o consumidor como a parte mais fraca na relação de consumo, porque a ele se submete de forma indireta ou direta as condições que lhe são impostas pelo mercado. A 20 vulnerabilidade é a desigualdade material na relação de consumo que pode existir em razão de subordinação de uma parte à outra, por carência de conhecimentos específicos (técnico, jurídico ou de cibercultura) ou por baixa condição socioeconômica (fático). Deve-se ressaltar que nesse caso vulnerabilidade não é sinônimo de hipossuficiência, já que esta remete mais à esfera processual dentro do Direito do Consumidor. Segundo a doutrina, tal vulnerabilidade se apresenta em três situações: 1. Técnica: ausência de conhecimentos específicos sobre o objeto, seja com relação às suas características, seja com relação à utilidade; 2. Jurídica ou científica: ausência de conhecimento jurídico, contábil, econômico ou profissional; 3. Fática: por disparidade de forças, física, intelectual ou socioeconômica. O fornecedor, sendo o detentor do poderio econômico encontra-se em posição de supremacia; ▪ Princípio do Dever Governamental: O Princípio do Dever Governamental regula que compete ao Estado não somente editar as leis, mas também de intervir de forma efetiva, direta ou indireta no mercado de consumo, para assim proteger o consumidor de forma efetiva poder garantir os direitos do consumidor. Portanto, é função do Estado a manutenção de um mercado de consumo harmônico através da coibição de qualquer tipo de prática abusiva que possa causar danos aos consumidores, como mercadorias falsas, propagandas enganosas e formação de trustes. As ações governamentais no sentido de proteger de forma efetiva o consumidor podem ser: a) Por iniciativa direta; b) Por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas; c) Pela presença do Estado no mercado de consumo; d) Pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho. ▪ Princípio da Harmonização dos Interesses e da Garantia de Adequação: O terceiro inciso apresenta o Princípio da harmonização dos interesses e da garantia de adequação e princípio do equilíbrio. Aqui destaca-se que por mais fundamental que seja 21 a proteção ao consumidor, esta não pode chegar ao ponto de reprimir o desenvolvimento da atividade econômica. Pelo outro lado, o fornecedor também não pode atuar de forma a causar algum tipo de prejuízo à saúde, à segurança e o patrimônio do consumidor. É preciso se utilizar do bom senso. Tal princípio foi explicado por Leonardo de Medeiros Garcia como: "o objetivo da política nacional das relações de consumo deve ser a harmonização entre os interesses dos consumidores e dos fornecedores, compatibilizando a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico com a defesa do consumidor". (GARCIA, Leonardo de Medeiros. Leis Especiais para Concursos - v.1 - Direito do Consumidor. 14ª ed., Editora JusPODIVM, 2020) ▪ Princípio do Equilíbrio nas Relações de Consumo: O fundamento para que se criasse o CDC foi justamente a busca da igualdade substancial nas relações consumeristas já que se tornou notório a vulnerabilidade do consumidor perante o fornecedor. ▪ Princípio da Educação e Informações dos Consumidores: O inciso IV trata do Princípio da Educação e Informações dos Consumidores, que diz que a maior e melhor fiscalização somente poderia ser alcançada de fato, através da conscientização dos consumidores quanto a seus direitos. Quanto maior a informação referente ao produto menor seria o espaço para conflitos. ▪ Princípio da Boa-fé Objetiva: Foi uma inovação do CDC que, posteriormente, foi trazido pelo Código Civil de 2002. Visualizamos a boa-fé objetiva nos artigos 4º, III, CDC como um princípio que orienta as relações de consumo ▪ Princípio do Incentivo ao Autocontrole: O Estado deve incentivar os fornecedores a tomarem medidas para solução de eventuais conflitos, visando maior proteção ao consumidor. Tal inciso do artigo 4º discorre do Princípio do Incentivo ao Autocontrole, que declara que os fornecedores também deveriam se preocupar com a qualidade dos serviços ou bens que disponibilizam no mercado. 22 ▪ Princípio da Coibição e Repressão de Abuso no Mercado: O Princípio da Coibição e Repressão de Abuso no Mercado é caracterizado pela proteção da ordem econômica e financeira contra atos que atentem contra a liberdade de iniciativa, concorrência desleal, a função social da propriedade e a dignidade do consumidor. ▪ Princípio da Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos: O sétimo inciso trata do Princípio da Racionalização e Melhoria dos Serviços Públicos, que completa a informação trazida no 3º artigo do CDC, no sentido que o serviço público também deves ser submetido as regras de Direito do Consumidor. ▪ Princípio do Estudo das Modificações do Mercado: O último inciso do artigo 4º trata do Princípio do Estudo das Modificações do Mercado, que desenvolve a ideia que a normatização não deve se tornar obsoleta, devendo sempre ter de acompanhar os avanços sociais e tecnológicos. ▪ Princípio do Acesso à Justiça no Código de Defesa do Consumidor: Não está positivado em um único artigo ou inciso, mas é analisado como um sistema por meio de artigos espalhados pelo CDC. Jurisprudência: PROCESSO CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR.RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. JUNTADA DE DOCUMENTOS COM A APELAÇÃO. POSSIBILIDADE. VÍCIO DO PRODUTO. REPARAÇÃO EM 30 DIAS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO COMERCIANTE. 1. Ação civil pública ajuizada em 07/01/2013, de que foi extraído o presente recurso especial, interposto em 08/06/2015 e concluso ao Gabinete em 25/08/2016. Julgamento pelo CPC/73. 23 2. Cinge-se a controvérsia a decidir sobre: (i) a negativa de prestação jurisdicional (art. 535, II, do CPC/73); (ii) a preclusão operada quanto à produção de prova (arts. 462 e 517 do CPC/73); (iii) a responsabilidade do comerciante no que tange à disponibilização e prestação de serviço de assistência técnica (art. 18, caput e § 1º, do CDC). 3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há que se falar em violação do art. 535, II, do CPC/73. 4. Esta Corte admite a juntada de documentos, que não apenas os produzidos após a inicial e a contestação, inclusive na via recursal, desde que observado o contraditório e ausente a má-fé. 5. À frustração do consumidor de adquirir o bem com vício, não é razoável que se acrescente o desgaste para tentar resolver o problema ao qual ele não deu causa, o que, por certo, pode ser evitado - ou, ao menos, atenuado - se o próprio comerciante participar ativamente do processo de reparo, intermediando a relação entre consumidor e fabricante, inclusive porque, juntamente com este, tem o dever legal de garantir a adequação do produto oferecido ao consumo. 6. À luz do princípio da boa- fé objetiva, se a inserção no mercado do produto com vício traz em si, inevitavelmente, um gasto adicional para a cadeia de consumo, esse gasto deve ser tido como ínsito ao risco da atividade, e não pode, em nenhuma hipótese, ser suportado pelo consumidor. Incidência dos princípios que regem a política nacional das relações de consumo, em especial o da vulnerabilidade do consumidor (art. 4º, I, do CDC) e o da garantia de adequação, a cargo do fornecedor (art. 4º, V, do CDC), e observância do direito do consumidor de receber a efetiva reparação de danos patrimoniais sofridos por ele (art. 6º, VI, do CDC). 7. Como a defesa do consumidor foi erigida a princípio geral da atividade econômica pelo art. 170, V, da Constituição Federal, é 24 ele - consumidor - quem deve escolher a alternativa que lhe parece menos onerosa ou embaraçosa para exercer seu direito de ter sanado o vício em 30 dias - levar o produto ao comerciante, à assistência técnica ou diretamente ao fabricante -, não cabendo ao fornecedor impor-lhe a opção que mais convém. 8. Recurso especial desprovido. (REsp 1634851/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/09/2017, DJe 15/02/2018) 3.2 Artigo 5º Art. 5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros: I - manutenção de assistência jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente; II - instituição de Promotorias de Justiça de Defesa do Consumidor, no âmbito do Ministério Público; III - criação de delegacias de polícia especializadas no atendimento de consumidores vítimas de infrações penais de consumo; IV - criação de Juizados Especiais de Pequenas Causas e Varas Especializadas para a solução de litígios de consumo; V - concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. O artigo 5º do Código de Defesa do Consumidor estabelece os instrumentos pelos quais o Estado põe em prática o Plano Nacional das Relações de Consumo. As leis de função social caracterizam-se por impor as novas noções valorativas que devem orientar a sociedade, por isso torna-se essencial expor tais instrumentos. Trata-se de rol exemplificativo, não taxativo, ou seja, todos os órgãos (até mesmo os que não estão previstos na normal) devem estar alinhados com os objetivos e princípios descritos anteriormente no artigo 4º, são eles: 25 ▪ Principio do acesso à Justiça: Tal principio está implícito no inciso I do art. 5º, CDC e garante o acesso à justiça ao consumidor carente que não tem condições de arcar com as despesas de orientação e na defesa de seus direitos. ▪ Ministério Público: Atua na defesa coletiva, na tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Atua, por exemplo, em casos de publicidade enganosa, práticas abusivas, produtos defeituosos entre e tudo mais que envolva o mercado de consumo e possa ser nocivo a economia, a dignidade, a vida e a saúde de modo geral. ▪ Delegacias do Consumidor: As DECON são responsáveis por apurar possíveis infrações nas relações de consumos. Contudo, talvez por não serem muito conhecidas, a maioria dos casos vão para o PROCON. ▪ Juizados Especiais: São responsáveis pela resolução de diversos conflitos envolvendo relação de consumo na esfera individual. Um exemplo de Estímulos à criação e desenvolvimento de Associações de Defesa do Consumidor são as associações que são legitimadas para propor ações coletivas em prol do consumidor. Algumas das mais famosas associações são a PROTESTE e a APADEC (associação paulista em defesa do consumidor). Jurisprudência: PROCESSUAL CIVIL E DIREITO DO CONSUMIDOR. DEMANDA COLETIVA PROPOSTA PELA COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. ENTENDIMENTO DA JULGADORA DE QUE FALTARIA LEGITIMIDADE ATIVA À DEMANDANTE. REFORMA DA SENTENÇA. O Código de Proteção ao Consumidor, ao dispor, no Capítulo II, da “Política Nacional de Relações de Consumo”, não poderia deixar de prever os instrumentos para a implementação da tutela 26 especial de proteção ao consumidor, como, por exemplo, a concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor (art. 5º, V), que exercem papel fundamental na instrumentalização dessa tutela efetiva, não apenas na tentativa de solução amigável para os conflitos surgidos, mas sobretudo na propositura de ações coletivas. O referido diploma, em seu artigo 82, buscou ampliar o rol de entidades legitimadas para a propositura de demandas coletivas, visando sempre a proteção do consumidor, hipossuficiente nas relações jurídicas formadas com os prestadores de serviços. Recurso provido, para o fim de determinar o recebimento da petição inicial, prosseguindo-se o feito nos seus ulteriores termos. (Apelação Cível nº 60.029/2007, Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RJ, Relator: Lindolpho Morais Marinho, Julgado em 08/04/2008) JUSTIÇA GRATUITA - Pedido indeferido em primeiro grau – Determinação de comprovação do estado de necessidade em cumprimento ao artigo 99, §2º do CPC – Documentação juntada que comprova a hipossuficiência financeira - Recurso provido, neste tópico para apreciação do recurso e efeitos "ex nunc". DECLARATÓRIA – Inexistência de débito – Duplicata – Inexistência de prova da prestação de serviços – Duplicata é titulo causal que deve ser emitida apenas nos casos de prestação de serviços ou compra e venda - Duplicata emitida sem lastro – Dever de pagamento afastado na r. sentença que deve ser mantido – Artigo 252 do RITJ – Recurso não provido, neste tópico. (TJSP; Apelação 1003989-35.2014.8.26.0445; Relator (a): Achile Alesina; Órgão Julgador: 38ª Câmara de Direito Privado; Foro de Pindamonhangaba - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento: 23/08/2017; Data de Registro: 24/08/2017) 27 4. Dos Direitos Básicos do Consumidor 4.1 Artigo 6º Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviçosconsiderados perigosos ou nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem; (Redação dada pela Lei nº 12.741, de 2012) IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12741.htm#art3 28 for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência, observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) O artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor tem por objetivo informar os direitos básicos do consumidor elencados no CDC e é fundamento único ou fonte única do dever de segurança ou de cuidados dos fornecedores quando colocam produtos e serviços no mercado brasileiro. São eles: ▪ Direito à proteção da vida, saúde e segurança: Trata-se do direito mais básico e mais importante dos direitos do consumidor, ainda mais tendo em vista que a nossa sociedade é repleta de riscos (produtos, serviços e mesmo práticas comerciais podem ser danosas para os consumidores). Estes direitos estão consolidados em todas as normas de proteção contratual. Trata-se da dignidade da pessoa humana e é uma garantia fundamental que respalda todos os demais princípios e normas. Assim, antes de comprar um produto ou utilizar um serviço, o consumidor deve ser alertado pelo fornecedor de todos os possíveis riscos que podem oferecer à sua saúde ou segurança. ▪ Direito à educação sobre o consumo, liberdade de escolha e igualdade nas contratações: O consumidor tem o direito de ser orientado sobre o uso dos produtos e serviços, o direito de escolher o produto ou serviço que achar melhor. a. Direito a Informação: O consumidor tem o direito a receber informação antes de comprar qualquer produto ou contratar qualquer serviço. Para isso, o fornecedor tem a obrigação de esclarecer tudo o que for necessário sobre produto e o serviço, mesmo que este ainda não tenha sido adquirido pelo consumidor. A informação deve ser verdadeira e eficaz, deixando claros os riscos inerentes ao produto; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art100 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm#art127 29 ▪ Direito de proteção contra publicidade enganosa ou abusiva: Esse direito está disciplinado no inciso IV do artigo 6º, CDC e embasa a boa-fé e transparência na relação de consumo. Esse dispositivo prevê que o consumidor tem o direito de exigir que tudo o que for anunciado seja cumprido, caso contrário, é direito do consumidor cancelar o contrato e receber reembolso. ▪ Direito a proteção contratual: O código protege o consumidor quando as cláusulas do contrato não são cumpridas ou se forem prejudiciais aos interesses do consumidor, sendo passíveis de anulação ou modificação por ordem judicial. ▪ Direito à prevenção e reparação de danos: É direito do consumidor a reparação de danos pautada tanto pelo prejuízo sofrido pelo consumidor quanto no caráter punitivo para o fornecedor. ▪ Inversão do ônus da prova: O inciso III do artigo promove a defesa dos direitos do consumidor permitindo a inversão do ônus da prova se forem preenchidos os critérios de verossimilhança das alegações e hipossuficiência do consumidor. O artigo contém um rol exemplificativo, e não taxativo, de alguns dos mais importantes direitos do consumidor, derivados do princípio da vulnerabilidade e da busca pelo equilíbrio entre as partes. I. A Responsabilidade do Fornecedor em Relações de Consumo Para entendermos a responsabilidade do fornecedor, devemos entender primeiramente o que é a Responsabilidade Civil. A responsabilidade civil é um mecanismo de reparação dos danos causados ↪︎ Fato — Nexo Causal — Dano Responsabilidade Subjetiva x Responsabilidade Objetiva A Responsabilidade Subjetiva demanda a comprovação da culpa ou dolo. Ela foca na conduta do sujeito, definindo a presença ou ausência de nexo causal (e da 30 responsabilidade) a partir de bases subjetiva. O fundamento do dever de reparação está associado, além da culpa, à presença do juízo de reprovabilidade do sujeito. Já a Responsabilidade Objetiva não é fundada na culpa e na reprovabilidade. Passa- se a analisar os juízos objetivos, o dano. Pauta-se no RISCO causado pela conduta do agente. Risco: probabilidade do dano; chance do evento danoso ocorrer. A partir do CDC, quando falamos da responsabilidade do fornecedor, estamos falando de uma Responsabilidade Objetiva. Pensa-se no risco causado pela atividade do fornecedor, quando ele atua com profissionalismo. Não precisa provar sua culpa. Ex.: Taxista responde objetivamente por algum acidente de trânsito. Eu, como motorista do meu carro, respondo subjetivamente por algum acidente que causar. Obs.: Exceção da regra da Responsabilidade Objetivo é do profissional liberal, que tem maior proximidade em relação consumidor e responde subjetivamente. Podemos dizer, então, que a responsabilidade do fornecedor depende das circunstâncias e o modo como a pessoa estaria engajada com a atividade. O profissionalismo não deve ser visto de modo formal, mas o exercício da atividade. Então, mesmo que a prestação de serviço não seja habitual, pode ser observado um profissionalismo. Jurisprudência: AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESCISÃO CONTRATUAL. COMISSÃO DE CORRETAGEM. TRANSFERÊNCIA DA OBRIGAÇÃO AO CONSUMIDOR. DEVER DE INFORMAÇÃO. AUSÊNCIA. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. É indevido o pagamento da comissão de corretagem pelos promitentes compradores de imóvel, na hipótese de não haver destaque, nem mesmo na fase pré-contratual, do valor decorrente da despesa de intermediação imobiliária em relação ao preço total da unidade autônoma (inobservância do dever de informação). Orientação firmada em repetitivo (Tema 939/STJ). 2. Agravo interno a que se nega provimento. 31 (AgInt no REsp 1802385/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 20/08/2019, DJe 09/09/2019) AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. 1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL NÃO VERIFICADA. 2. COBERTURA DE INVALIDEZ FUNCIONAL PERMANENTE TOTAL POR DOENÇA. INTERPRETAÇÃO SOB A LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE INFORMAÇÃO ACERCA DOS LIMITES DA COBERTURA CONTRATADA.RECONHECIMENTO NA ORIGEM. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS 5 E 7/STJ. 3. PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA PREVISTA NO ART. 1.021, § 4°, DO CPC/2015. NÃO CABIMENTO. 4. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. INEXISTÊNCIA. 5. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Não há violação ao art. 1.022 do CPC de 2015, porquanto o acórdão recorrido dirimiu a causa com base em fundamentação sólida, sem nenhuma omissão ou contradição. Ademais, o órgão julgador não está obrigado a responder a questionamentos das partes, mas apenas a declinar as razões de seu convencimento motivado, o que de fato ocorreu nos autos. 2. A alteração do entendimento firmado no aresto impugnado, com base na aplicação do Código de Defesa do Consumidor, no sentido de que não ficou comprovada a ciência inequívoca do segurado no tocante às cláusulas contratadas, assim como de sua incapacidade laborativa, só seria possível mediante o revolvimento do acervo fático-probatório e de cláusulas contratuais dos autos, providência vedada nesta instância extraordinária em decorrência do disposto nas Súmulas 5 e 7 do STJ. 3. A aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do CPC/2015 não é automática, não se tratando de mera decorrência 32 lógica do desprovimento do agravo interno em votação unânime. A condenação da parte agravante ao pagamento da aludida multa, a ser analisada em cada caso concreto, em decisão fundamentada, pressupõe que o agravo interno se mostre manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal forma evidente que a simples interposição do recurso possa ser tida, de plano, como abusiva ou protelatória, o que, contudo, não se verifica na hipótese ora examinada. 4. Pedido de condenação por litigância de má-fé. Não se vislumbra a ocorrência de nenhuma das hipóteses autorizativas previstas no art. 80 do CPC/2015. Frise-se que não se pode confundir má-fé com a equivocada interpretação do direito. 5. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp 1697809/SC, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 05/12/2017, DJe 19/12/2017) 4.2 Artigo 7º Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade. Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo. Este artigo surge como guardião ainda maior dos interesses do consumidor. Embora não seja explícito, ao assinalar que os direitos previstos no CDC não excluem outros decorrentes de outras normas, como por exemplo, tratados ou convenções internacionais e legislação interna, e por isso, expande a natureza protetiva da lei em favor 33 do consumidor. O artigo reitera o caráter taxativo do rol presente no Art. 6º e deixa claro que se deve sempre ampliar a tutela ao consumidor. Além disso, o artigo 7º do CDC apresenta a responsabilidade solidária entre os fornecedores, notadamente quando se verifica a participação direta ou indireta na relação de consumo. Portanto, a responsabilidade entre os fornecedores é solidária entre todos aqueles que contribuíram para o ciclo de vida/cadeia de fornecimento que faz o produto chegar ao consumidor. Isso pode ser justificado pois o dano resulta da atividade daquelas pessoas de fazer o produto chegar até o consumidor. Observando o CDC, podemos verificar que a análise do caso concreto para atribuir a solidariedade na responsabilidade é irrelevante e não se sobrepõe aos interesses e direitos do consumidor, já que pelo simples fato de haver relação de consumo, resta caracterizada a solidariedade dos fornecedores frente ao consumidor. Então, qualquer um do ciclo deve responder integralmente pelo prejuízo. Todavia, o que responder tem, depois, a possibilidade de ação de regresso contra ao real responsável. O legislador criou essa regra de solidariedade para fortalecer e aumentar as chances do consumidor alcançar a sua devida reparação. A discussão de culpa não deve ser objeto de discussão para consumidor a fim dele receber sua reparação. A busca pela culpa deve estar presente em uma discussão entre os próprios participantes da cadeia produtiva, que irão aferir a responsabilidade subjetiva entre eles. Dano pode ser moral ou material Evidenciada pela posição da lista dos direitos básicos, como também pela disciplina da responsabilidade e pelo fato do produto e do serviço. Assim, O Código de Defesa do Consumidor abrange a dimensão patrimonial e extrapatrimonial, como é o exemplo do inciso VI do art. 6º, CDC. Podendo o dano ser individual ou coletivo Jurisprudência: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO (ART. 544 DO CPC) - AUTOS DE AÇÃO ORDINÁRIA DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - 34 DECISÃO MONOCRÁTICA CONHECENDO DO RECLAMO, PARA, DE PLANO, NEGAR SEGUIMENTO AO APELO NOBRE. IRRESIGNAÇÃO DA COMPANHIA AÉREA. 1. É iterativa a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça no sentido de prevalência das normas do Código de Defesa do Consumidor, em detrimento das disposições insertas em Convenções Internacionais, como as Convenções de Montreal e de Varsóvia, aos casos de falha na prestação de serviços de transporte aéreo internacional, por verificar a existência da relação de consumo entre a empresa aérea e o passageiro, haja vista que a própria Constituição Federal de 1988 elevou a defesa do consumidor à esfera constitucional de nosso ordenamento. Súmula 83/STJ. Precedentes. 2. O acolhimento da tese vertida no recurso especial não se limita à valoração das provas dos autos, pois a alteração a cognição exarada no decisum impugnado a respeito da ocorrência do dano material, exige, na verdade, o reexame das provas e dos fatos colacionados aos autos, o que, forçosamente, atrai o óbice da Súmula 7 deste Superior Tribunal de Justiça, sendo manifesto o descabimento do recurso especial. 3. A indenização por danos morais fixada em quantum em harmonia ao princípio da razoabilidade não enseja a possibilidade de interposição do recurso especial, dada a necessidade de exame de elementos de ordem fática, cabendo sua revisão apenas em casos de manifesta excessividade ou irrisoriedade do valor arbitrado, o que não se evidencia no presente caso. Incidência da Súmula n. 7/STJ. 4. Agravo regimental desprovido. (AgRg no AREsp 145.329/RJ, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, julgado em 20/10/2015, DJe 27/10/2015) PROCESSO CIVIL, CIVIL E CONSUMIDOR. TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE PESSOAS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DO 35 SERVIÇO. PRESCRIÇÃO. PRAZO. ART. 27 DO CDC. NOVA INTERPRETAÇÃO, VÁLIDA A PARTIR DA VIGÊNCIA DO NOVO CÓDIGO CIVIL. - O CC/16 não disciplinava especificamente o transporte de pessoas e coisas. Até então, a regulamentação dessa atividade era feita por leis esparsas e pelo CCom, que não traziam dispositivo algum relativo à responsabilidade no transporte rodoviário de pessoas.- Diante disso, cabia à doutrina e à jurisprudência determinar os contornos da responsabilidade pelo defeito na prestação do serviço de transporte de passageiros. Nesse esforço interpretativo, esta Corte firmou o entendimento de que danos causados ao viajante, em decorrência de acidente de trânsito, não importavam em defeito na prestação do serviço e; portanto, o prazo prescricional para ajuizamento da respectiva ação devia respeitar o CC/16, e não o CDC. - Com o advento do CC/02, não há mais espaço para discussão. O art. 734 fixa expressamente a responsabilidade objetiva do transportador pelos danos causados às pessoas por ele transportadas, o que engloba o dever de garantir a segurança do passageiro, de modoque ocorrências que afetem o bem-estar do viajante devem ser classificadas de defeito na prestação do serviço de transporte de pessoas. - Como decorrência lógica, os contratos de transporte de pessoas ficam sujeitos ao prazo prescricional específico do art. 27 do CDC. Deixa de incidir, por ser genérico, o prazo prescricional do Código Civil. Recurso especial não conhecido. (Recurso Especial nº 958.833, Terceira Turma, Superior Tribunal de Justiça, Relator: Nancy Andrighi, Julgado em 08/02/2008) 36 BIBLIOGRAFIA 1. BENJAMIN, Antônio Herman V.; MARQUES, Claudia Lima; BESSA, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. 2. CARVALHO, José Carlos Maldonado de. 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