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FICHAMENTO1 WALLERSTEIN, Immanuel. The modern world-system II: Mercantilism and the consolidation of the European world-economy, 1600–1750. Capítulo 3: Struggle in the core – Phase I: 1651-1689 (p.75-130). A economia no século XVI é alterada por conta das grandes navegações, fazendo com que as relações comerciais se modificassem. Dentre os inúmeros acontecimentos que marcaram esse período, temos um decrescimento populacional por conta de eventos como a Guerra dos Trinta Anos, a Guerra dos Oitenta Anos e as epidemias, além do processo de consolidação do mercantilismo através de ocorrências como a Lei de Navegação Inglesa e a proclamação da Commonwealth, da concentração de terras em grandes propriedades, consequentemente o proprietário, e o tratamento para com esta. Com a figura do proprietário, surge a do empregador, já que empregava pessoas para trabalhar em seus domínios. Ademais, o comércio de tecidos e cereais se expande e, por conseguinte, a criação da produção e de empregos – ou a falta destes -, juntamente com as decorrências que isso ocasionaria, como as más condições trabalhistas dos empregados e a rivalidade marítima-econômica entre nações – Inglaterra, França e Holanda, para ser mais precisa. A economia doméstica e internacional incorporada a seus altos e baixos e às exportações e importações de diferentes produtos ao redor do globo entra em pauta, bem como a exploração das colônias em busca de metais preciosos e sua utilização no sistema econômico mundial em trocas comerciais, com destaque para a prata e o ouro, além da utilização de notas em algumas transações. Segundo Jacob Price, se uma nação não produz nada além de ouro e exporta-o em troca de bens de consumo e investimento, considera-se essas exportações “commodities de ouro” (p.106). Para Wallerstein, essa afirmação está totalmente correta, juntamente com a questão de 1 Conforme orientação do professor em aula, a leitura e discussão do referido texto foi realizado em grupo, formado pelos seguintes componentes: Danubia Caroline Barbosa Pereira, RA 21342635, Victor Madeira de Souza, RA 21365976, Victória E. Aguiar da Silva, RA 21470397, e Sheila Paulino e Silva, RA: 21471678. Qualquer semelhança é resultado das discussões e não deve ser considerado plágio. Docente: Iberê Moreno Rosário e Barros Curso: Relações Internacionais | Campus Vila Olímpia | Noturno Disciplina: História do Mundo Moderno | 1º semestre Discente: Victória Evangelista Aguiar da Silva | RA 21470397 que o comércio de metais fluiu mais por alguns canais que por outros no século XVII. Wilson argumenta que o Báltico foi “o buraco por onde grande parte da prata americana desapareceu” (p.106, tradução livre2). Contudo, um olhar mais atento mostra o contrário. Alguns autores comentam que a moeda de prata fora exportada também para outras regiões mais ao oriente. Concordando ou contrariando, o fato é que as relações comerciais entre a Europa e o Oriente ocorreram. Entretanto, a subsequente importação supôs que principalmente as especiarias eram compradas por um baixo valor na Ásia e vendidas a um alto valor na Europa. Em termos monetários, Chaudhuri diz que a causa do esgotamento de metais foi a disparidade entre o valor da prata e do ouro nos dois continentes, surgindo outra dúvida: por que essa disparidade? Adiante, ele sugere que talvez tenha sido pelo multilateralismo no comércio nas Índias Orientais, o que diverge dos dados apresentados, já que não há declínio significativo nas exportações de metais, pelo contrário. A maior parte desses metais foram importados para a Europa e reexportados para a Ásia. No entanto, o ouro assumiu outro papel ao ser utilizado em larga escala em pagamentos entre Estados europeus, servindo de massa de manobra para uma liberação comercial. As riquezas, com exceção da prata, foram utilizadas para acumular joias na Europa e a balança comercial permaneceu desfavorável por um longo período, fazendo com que as Índias permanecessem externas à economia mundial europeia. A produção de metais como mercadoria fez das Américas uma zona periférica da economia mundial na medida em que esta commodity era primordial para o funcionamento deste sistema e essencial ao ser utilizada como moeda. Contudo, como elas não estavam interessadas em trocar seus metais, os europeus começaram a extrair (ou seria roubar?) ouro dos incas, minérios da região de Potosi, situada na Bolívia, e prata dos mexicanos. Em suma, basicamente incorporaram as Américas a sua economia mundial principalmente porque precisavam de uma base monetária sólida para um sistema capitalista em expansão, além de utilizar o excedente no comércio com a Ásia. O alto fluxo do ouro como moeda era um dos mecanismos utilizados para assegurar a hegemonia e vantagens extras, dependendo do controle da mercadoria e do suprimento disponível, emergindo a questão da penúria dos metais preciosos no século XVII. As produções diminuíram ao redor do mundo e as importações das américas para a Espanha também. Morineau argumenta que uma série de fatores econômicos explicaram isso, 2 Todas as transcrições mencionadas no decorrer do texto foram traduzidas de forma livre. e não somente a mudança no fornecimento de barras. A explicação aceita é o declínio na oferta, já que as fontes haviam se esgotado pela superexploração e levaria tempo para descobrir novas. Contudo, há contestações; a queda não foi causada principalmente pelo declínio da oferta de barras, mas, sim, pela baixa demanda por esses suprimentos, o que beneficiou a Holanda no início do século presente pois o ouro se tornou a base de um sistema de investimentos lucrativos. Enfim, chega-se ao assunto principal: a disponibilidade de metais preciosos na segunda metade do século XVII e seu significado na rivalidade anglo-francesa. A escassez começava a ser sentida, o que levou a uma nova busca por ouro e prata. Luthy alega que, nos anos de paz, a França tinha um equilíbrio comercial muito positivo. Aqui, Immanuel faz duas observações: a primeira consiste na utilização dos três metais (ouro, prata e cobre) em negociações de âmbito doméstico e internacional, já a segunda, na multiplicação da moeda de cobre e seu papel (negativo) na França, chamado pelo autor de “o pesadelo do século”, que foi contrário ao papel do ouro e das notas (invés do cobre) na Inglaterra, onde ambos adotaram o "monometalismo de fato". Qual desses Estados era então o mais forte? Equiparados em um momento e sobressalentes em outros, o autor disserta em seguida sobre o significado de um Estado forte, argumentando que no sistema capitalista mundial os proprietários-produtores esperam que o Estado, em síntese, ajude-os a aumentar sua margem de lucro a um custo menor de produção. Portanto, “para o proprietário-produtor, o Estado forte não é necessariamente aquele com o mecanismo estatal mais extenso nem aquele com os processos de tomada de decisão mais arbitrários. Muitas vezes, é o oposto” (p.113). Dispensável dizer que a força de um país está diretamente ligada ao papel econômico que esses proprietários-produtores exercem na economia mundial. No entanto, é necessário que haja medidas políticas para medir essa força, como 1)o grau de ajuda estatal na competição no mercado mundial (mercantilismo), 2)a capacidade em afetar a competição de outros Estados (poder bélico-militar), 3)a mobilização de recursos a custos na realização das tarefas anteriores de forma que não consumam os lucros (finanças públicas), 4)rápida realização de decisões táticas (burocracia eficaz), e, por último mas não menos importante, 5)a assertividade no equilíbrio de interesses entre os capitalistas e as regras políticas, sendo a base para os demais. Estados com produtores mais eficientes tem menos necessidade de intervir no mercado mundial que os demais, consequentemente, são mais fortes. Todavia, somente um ambientedoméstico favorável propiciará uma economia internacional forte. A força militar é um elemento essencial para isso. Entretanto, é preciso investimento no exército para que este seja eficiente, e isso assustava as potências da época, principalmente porque esse período em particular foi de significativa melhora no tamanho das unidades militares, criando um problema, já que "o crescimento numérico dos exércitos ultrapassou o progresso dos meios de produção" (p.115). O fortalecimento de um Estado é visto por Mousnier como um fim em si mesmo, um objetivo que um soberano pode de fato perseguir, podendo ou não ser bem-sucedido. Com a institucionalização da guerra no século XVII, houve um aumento de gastos públicos nas principais potências. A Holanda sucumbiu e a Inglaterra e a França passaram a cobrar das classes endinheiradas, pois a expansão do capitalismo estava acontecendo. Era preciso arrumar dinheiro rapidamente, realizando empréstimos com as Províncias Unidas. A receita na França foi dobrada após algumas medidas, sendo possivelmente a única potência da época a apoiar esforços militares sem dificuldades excessivas. Quanto a Grã-Bretanha, criou mecanismos que tributavam menos os ricos a longo prazo, não encontrando resistência. Sobre as formas de governo destas nações, Wallerstein diz que uma administração eficaz não significa necessariamente uma administração centralizada. É necessário compreendermos que cada sociedade e, consequentemente, suas respectivas políticas e economias, adaptam-se a uma forma de governo. O fato é que não houve diferença significativa entre o Estado francês e o inglês no período compreendido entre 1500 a 1800. Ambos os países eram prósperos centros de produção agrícola e industrial na conjuntura vigente e as posições e papéis sociais eram próximos, ainda que houvesse algumas divergências. Burguesia e aristocracia não eram radicalmente diferentes na época; eram grupos que assumiram contornos sociais diferentes em termos de estatuto e classe social. “As lutas sociais e políticas eram reais, mas eram internas aos estratos dominantes.” (p.120). Como mencionado, houve distinções que fizeram com que os dois países tomassem rumos diferentes no século XIX e um fosse hegemônico. Em suma, a troca nos sistemas de governos e a expansão econômica do século XVI fez com que a burguesia emergisse de vez e confrontasse os aristocratas ingleses, ocasionando numa relação carente de clareza e dúvidas sobre quem controlaria o Estado. Para o autor, “era a diferença social e não a política que importava” (p.121), pois, embora essa guerra entre as duas classes tenha acabado e a burguesia tenha adquirido reconhecimento e cidadania, a liderança foi para as mãos dos aristocratas. “A base do compromisso social foi a elaboração de uma política de nacionalismo econômico que pudesse servir tanto os Cavaliers como os Roundheads” (p.121-122), ou seja, tanto a nova burguesia quanto os antigos aristocratas. Segundo Trevelyan, “a mais conservadora de todas as revoluções da história foi também a mais liberal" (p.122), referindo-se à Revolução Gloriosa. Seguindo essa linha de raciocínio, ao indagar se a revolução foi aristocrática para ele, continua: “Foi efetuado por toda a nação, por uma união de todas as classes” (idem). Contudo, para Immanuel as pessoas por trás disso seriam os donos de terras, isto é, os aristocratas. A pax britannica emergiu sobre a França por conta de um sistema capitalista financeiramente bem coordenado. É importante destacar que existem outros fatores que fizeram com que a Inglaterra se sobressaísse ao Estado francês, como o tratamento dado à burguesia e conflitos internos neste último. Por fim, Wallerstein, ao citar Shumpeter, diz que o histórico feudal de dominação sobre a classe mercantil não só delimita a mesma psicologicamente, mas também a abriga, fazendo com que esta queira manter seu status quo. O acordo entre classe dominante e burguesia funcionou para ambas as nações, obtendo um resultado melhor na inglesa.
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