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Transtornos Alimentares Luiz Pedro Duarte Farias – lpdfarias.med@gmail.com Universidade Salvador – Laureate International Universities Medicina – Saúde Mental Turma IV ANOREXIA NERVOSA A Anorexia Nervosa (AN) é caracterizada por comportamento obstinado e proposital direcionado a perder peso, baixo peso, preocupação com o peso corporal e a alimentação, padrões peculiares de manejo de alimentos, medo intenso de aumento de peso, alterações da imagem corporal e amenorreia. Cerca de metade dessas pessoas perderá peso reduzindo drasticamente o total da ingestão de alimentos, e algumas também desenvolverão programas de exercícios rigorosos. Há aqueles que fazem dieta rigorosa, mas perdem o controle e se envolvem regularmente em comportamentos de compulsão alimentar seguidos por comportamentos de purgação. Alguns pacientes purgam após ingerir pequenas quantidades de alimentos. Ou seja, é a perda de peso auto infringida na busca por magreza, acompanhada de distorção da imagem corporal e alterações hormonais devidas à desnutrição. É uma doença de curso crônico com graves manifestações psíquicas e clínicas. A anorexia nervosa em sido referida mais frequentemente nas últimas décadas do que no passado, com relatos crescentes entre moças pré-púberes e homens. A idade mais comum de início é dos 14 aos 18 anos. Estima-se que a anorexia nervosa ocorra em cerca de 0,5 a 1% das adolescentes. Manifesta-se 10 a 20 vezes mais em mulheres do que em homens (apenas 4 a 6%). Profissões como bailarinas, atletas, profissionais de moda, atrizes, estudantes de nutrição, medicina e psicologia são as mais afetadas. O início da anorexia nervosa tende a ocorrer entre as idades de 10 e 30 anos. Um medo intenso de aumentar de peso e ficar obeso está presente em todas as pessoas com transtorno e, sem dúvida, contribui para a falta de interesse e mesmo para a resistência à terapia. A maior parte do comportamento disfuncional dirigido para a perda de peso ocorre em segredo. Pacientes com anorexia nervosa em geral se recusam a comer com suas famílias ou em lugares públicos. Perdem peso por reduzir de forma drástica a quantidade de alimentos, com uma diminuição desproporcional daqueles ricos em carboidratos e gordurosos. A perda de peso inicia-se quase sempre após uma dieta; os indivíduos evitam alimentos ricos em carboidratos e os considerados engordativos. Possuem repulsa e dificuldade para lidar com a alimentação, conhecem alguns comportamentos como: mastigar muito lentamente e ruminar alimentos. Usam métodos compensatórios como laxantes, fórmulas para emagrecer e exercícios físicos intensos). O DSM-IV identifica dois tipos de anorexia nervosa – o tipo restritivo e o tipo compulsão periódica/ purgativo (sintomas bulímicos). Este último, bastante comum, se desenvolve em 50% dos pacientes. Cada tipo parece ter aspectos históricos e clínicos distintivos. Os que praticam compulsão alimentar e purgação compartilham muitas manifestações com aqueles que têm bulimia sem anorexia nervosa. Tendem a ter familiares obesos e ter eles própria história de pesos maiores do que pessoas com o tipo restritivo. Pacientes com NA restritiva limitam sua seleção por alimentos, ingerem o mínimo de calorias possível e frequentemente apresentam traços obsessivo-compulsivo com a relação à alimentação e outros temas. O paciente com AN purgativo geralmente são mais graves e com maiores taxas de comorbidades mentais (transtornos depressivos, transtornos ansiosos [TOC em 10 a 62% dos casos] e de personalidade (borderline, anancástico e evitativo), dependência do álcool e outras substâncias) e suicídio. Fatores biológicos, sociais e psicológicos estão implicados nas causas da anorexia nervosa. Alguma evidência indica taxas mais elevadas de concordância em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos. Irmãs de pacientes com AN têm maior probabilidade de serem atingidas, mas essa associação pode revelar mais influências sociais do que fatores genéticos. Os opióides endógenos podem contribuir para negação da fome em pacientes com AN. Estudos preliminares mostram aumentos de peso significativos em pacientes recebendo antagonistas opiáceos. A inanição leva a várias modificações bioquímicas, algumas das quais também estão presentes na depressão, como hipercorticosolemia e não supressão pela dexametasona. A função da tireoide também é suprimida. Tais anormalidades são corrigidas com o consumo de alimentos. A AN parece ser uma reação à exigência de que os adolescentes se comportem de forma mais independente e aumentem seu desempenho social e sexual. Pessoas com o transtorno, que desenvolvem preocupações com a alimentação e o aumento de peso semelhantes a obsessões, substituem outras buscas normais. Em geral, falta a tais pacientes autonomia e consciência de si próprios. O curso da AN varia bastante – recuperação espontânea sem tratamento, recuperação após uma gama de tratamentos, curso flutuante de aumento de peso seguidos por diminuições, curso com deterioração gradativa, levando à morte causada por complicações da inanição. A resposta a curto prazo dos pacientes em quase todos os programas de tratamento hospitalar é boa. Em geral, o prognóstico não é bom. Aqueles que recuperam o peso suficiente, contudo, por vezes continuam com suas preocupações com alimentos e com o peso corporal. Dados: recuperação completa em 50% dos casos, 30% de alternância entre melhora e recidiva, a mortalidade é de 5 a 20%. Fatores preditivos de má evolução: muito baixo peso, aparecimento tardio do transtorno, comorbidade psiquiátrica, uso de métodos purgativos, relações familiares comprometidas. O tratamento é feito em um plano abrangente em vista das implicações psiquiátricas. Ocorre uma abordagem comportamental, interpessoal e cognitiva, tendo em alguns casos o uso de medicação. Uma equipe multidisciplinar é utilizada – nutricionista com um plano alimentar individualizado, psicólogo com psicoterapia individual e familiar e médico psiquiatra/ nutrólogo. Ocorre uma renutrição criteriosa em todos os casos. O uso de antidepressivos é necessário em alguns casos, como fluoxetina (após atingido o peso adequado) – melhora do humor disfórico e dos pensamentos obsessivos; olanzapina – redução da ansiedade e contribuição para o ganho de peso; cloro-heptadina – facilita o ganho de peso. O ritmo de ganho de peso deve ser: 0,5-1kg/ semana em pacientes ambulatoriais e 1-1,5kg/ semana em pacientes internados. A indicação para internação são: pacientes com 20% abaixo do peso esperado para determinada altura, gravidez, DM, arritmias, ideação suicida, DHE. BULIMIA NERVOSA Bulimia é um termo que significa compulsão alimentar, que é definida como ingerir mais alimentos do que a maioria das pessoas em circunstâncias similares e em um período semelhante de tempo, com uma forte sensação de perda de controle. Quando a compulsão alimentar ocorre em pessoas com peso normal ou excessivo que também são muito preocupadas com sua forma e seu peso corporal e que costumar se engajar em comportamentos para evitar as calorias ganhas, constitui-se o transtorno conhecido como bulimia nervosa (BN). Ou seja, a BN é caracterizada por compulsão alimentar (ingestão de grande quantidade de alimentos) com a sensação de perda de controle e compensações inadequadas para o controle do peso (vômito auto induzidos, dietas compensatórias, uso de medicamentos e exercícios). A BN é definida como compulsão alimentar combinada com formas inapropriadas de tentar interromper o aumento de peso. Os episódios recorrentes de BN, que é mais comum do que a AN, são acompanhados por sentimentos de estar fora de controle. A interrupção social ou o desconforto físico – isto é, dor abdominal ou náuseas – interrompem a compulsão alimentar, que costuma ser acompanhada de sentimento de culpa, depressão e autodepreciação. Pessoascom BN também exibem comportamentos compensatórios recorrentes – como purgação (vômitos auto induzidos, utilização repetida de laxantes ou diuréticos), jejum ou exercícios excessivos – para prevenir o aumento de peso. De forma diferente de pacientes com anorexia nervosa, aqueles com bulimia nervosa podem manter um peso corporal normal. Síndrome da Realimentação: A síndrome de realimentação (SR) é uma condição descrita em literatura médica há mais de 65 anos, porém ainda pouco reconhecida, caracterizada por um grupo de sinais e sintomas clínicos que ocorrem em pacientes subnutridos e caquéticos submetidos ao jejum prolongado quando são realimentados. Trata-se de desequilíbrio hidroeletrolítico, muitas vezes grave, desencadeado pelo retorno da alimentação em pacientes cronicamente adaptados a produção de energia através do metabolismo lipídico. Múltiplos sistemas podem ser afetados na SR, incluindo o cardiovascular, o respiratório, o hematológico, o musculoesquelético e o neurológico. Nos casos mais graves, pode ocorrer a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas, sendo a arritmia cardíaca a principal causa de óbito. Algumas das principais características dessa síndrome são hipervolemia, queda do nível sérico de eletrólitos, predominantemente os intracelulares (fósforo, magnésio e potássio), alteração do metabolismo da glicose (hiperglicemia) e a deficiência de vitaminas e oligoelementos. A BN é mais prevalente do que a AN. Suas estimativas variam de 1 a 3% entre mulheres jovens. Como a AN, a bulimia é significativamente mais comum entre mulheres, mas seu início tende a acontecer mais tarde do que a AN. O início pode até ocorrer na vida adulta inicial. Sintomas ocasionais de bulimia nervosa, como episódios isolados de compulsão alimentar e purgação, foram relatados em até 40% das mulheres universitárias. A prevalência em mulheres chega a 90 a 95% quando comparada aos homens. As profissões mais afetadas são: modelos e profissionais da moda, jóqueis e atletas. Pacientes com BN, assim como aqueles com AN, tendem a ter grandes conquistas e a responder às pressões sociais para serem magros. Pacientes com bulimia nervosa descrevem seus pais como negligentes e com atitudes de rejeição. Alguns investigadores tentaram associar os ciclos de comer compulsivo-purgação a vários neurotransmissores. Como os antidepressivos por vezes beneficiam pacientes com bulimia nervosa, e em vista de a serotonina ter sido ligada à saciedade, esta e a norepinefrina foram implicadas. As manifestações essenciais da bulimia são: eísódios recorrentes de compulsão alimentar, um sentimento de falta de controle sobre o comer durante esses episódios, vômitos auto induzidos, mau uso de laxantes ou diuréticos, jejum ou exercício excessivo para evitar o aumento de peso, auto avaliação persistente indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporal. Os episódios de compulsão geralmente precedem os vômitos em cerca de um ano. As comorbidades da BN são: depressão em 50 a 65% dos casos, transtorno afetivo bipolar em 14,3% dos casos, uso de substâncias psicoativas em 30 a 60% dos casos, TAG em 8 a 12% dos casos, transtorno do pânico em 11% dos casos, fobia social em 17% dos casos, TOC em 40% dos casos e transtorno de personalidade Borderline em 25,4% dos casos. De modo geral, a BN parecer ter um prognóstico melhor do que a anorexia nervosa. A curto prazo, pacientes com bulimia nervosa que se engajam em tratamento têm relatado mais de 50% de melhora na compulsão alimentar e na purgação; entre os pacientes ambulatoriais, a melhora parece durar mais de cinco anos. Contudo, os pacientes não ficam livres dos sintomas durante os períodos de melhora, já que a bulimia nervosa é um transtorno crônico com um curso que vem e vai. Metade dos pacientes se recuperam totalmente em 5 a 12 anos. O tratamento é feito em um plano abrangente em vista das implicações psiquiátricas. Ocorre uma abordagem comportamental, interpessoal e cognitiva, tendo em alguns casos o uso de medicação. Uma equipe multidisciplinar é utilizada – nutricionista com um plano alimentar individualizado, psicólogo com psicoterapia individual e familiar e médico psiquiatra/ nutrólogo. O uso de antidepressivos é necessário em alguns casos, como IRSN, ISRS e Tricíclicos, reduzindo episódios bulpimicos, vômitos autoinduzidos e possíveis sintomas depressivos. Usa-se também a fluoxetina e topiramato (este com resultados eficazes). TRANSTORNO DA COMPULSÃO ALIMENTAR PERIÓDICA Também conhecido como “comer compulsivo”, o transtorno da compulsão alimentar periódica (TCAP) é caracterizado por episódios recorrentes de impulsividade alimentar, conhecidos como compulsão alimentar, na ausência de comportamentos compensatórios inadequados utilizados para promover a perda ou evitar o ganho de peso comuns na AN e na BN. Por causa da imprecisão de alguns critérios diagnósticos sugeridos para o TCAP, as taxas de prevalência desse transtorno na população são bastante variadas. Evidências epidemiológicas sugerem uma prevalência do comer compulsivo que varia de 0,7 até 4% na comunidade. A prevalência em obesos é de 8%, sendo que o grau II e III constituem 25% e 50% dos casos. Para entender o TCAP é necessário definir episódios de compulsão alimentar (ECA), que são caracterizados pela ingestão de grande quantidade de alimentos definitivamente maior que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período de tempo em circunstâncias similares. Além disso, seu portador refere a sensação de perda de controle durante o episódio, como um sentimento de que não é possível parar de comer ou controlar o que ou quanto se está comendo. O comportamento alimentar do comedor compulsivo é caracterizado por comer mais rápido do que o habitual, comer até se sentir fisicamente desconfortável (“cheio”), ingerir grandes quantidades de alimentos quando não se está fisicamente faminto e preferir comer sozinho por conta do constrangimento pela quantidade de alimentos que se ingere. Sentimento de tristeza, vergonha e culpa, além de acentuada angústia, fazem parte dos critérios diagnósticos estabelecidos pela DSM-IV. Comorbidades com transtornos afetivos, dependência de substâncias e transtornos de personalidade são relatadas. O tratamento do TCAP deve se basear na presença ou não das suas múltiplas associações, como as frequentes comorbidades psiquiátricas ou clínicas. A associação com quadros depressivos e/ou ansiosos pode definitivamente exigir a prescrição medicamentosa específica; assim como a comorbidades com obesidade, diabetes melito ou hipertensão pode ser determinante na sua escolha do manejo terapêutico. Segundo ensaios clínicos, tratando-se de diagnóstico de TCAP na ausência da associação com outros transtornos psiquiátricos, o tratamento de escolha é o tratamento psicoterapêutico. O tratamento farmacológico da TCAP visa o controle na impulsividade alimentar e incluir basicamente três classes de psicofármacos: os antidepressivos, os estabilizadores do humor e os promotores de saciedade. Usa-se os antidepressivos: Fluoxetina, Setralina e Fluvoxamina. Os estabilizadores do humor: Topiramato. Os promotores de saciedade: Sibutramina. OBESIDADE A obesidade se refere a um excesso da adiposidade corporal. Em indivíduos sadios, a gordura corporal é responsável por cerca de 25% do peso corporal em mulheres e 18% em homens. Sobrepeso se refere ao peso acima de uma norma de referência, mais especificamente padrões derivados de dados atuariais ou epidemiológicos. O IMC para obesidade é acima de 30 kg/m². As pessoas acumulam gordura ingerindo mais calorias do que a quantidade gasta como energia; dessa forma, a ingestão de energia excede sua dissipação. Para a adiposidade ser removida do corpo, devem ser ingeridas menos calorias, ou mais calorias devem ser retiradas do que as ingeridas. Uma diferença de não maisdo que 10% tanto na ingestão como no gato levaria a uma modificação de 3kg no peso corporal em um ano. A prevalência quase triplicou desde o início do século XX na América, está mais presente em mulheres e relacionado ao baixo status socioeconômico da região. Cerca de 80% dos pacientes obesos têm história familiar de obesidade, há uma alta taxa de concordância entre gêmeos monozigóticos (mesmo vivendo separados). Os indivíduos afetados geralmente possuem um hábito de baixa atividade física. As comorbidades são: doença de Cushing, Distrofia adiposo-genital, medicações (antipsicóticos atípicos, estabilizadores do humor, antidepressivos). Muitos indivíduos obesos relatam que comem demais quando estão sofrendo problemas emocionais, por vezes logo após comerem. No entanto, muitos indivíduos que não são obesos relatam experiências similares, sendo difícil estabelecer a especificidade da obesidade nessas contingências a curto prazo. Em geral, são sensíveis a todos os tipos de estímulos externos para a alimentação, mas permanecem relativamente não-responsivos aos sinais internos habituais de fome. Alguns são incapazes de distinguir entre fome e outros tipos de disforia. O prognóstico para a redução de peso é ruim, e o curso da obesidade tende à progressão inexorável. Entre os pacientes que perdem quantidades significativas de peso, 90% o retomam. O prognóstico é particularmente ruim para aqueles que se tornaram obesos na infância. A obesidade infanto-juvenil tende a ser mais grave, mais resistente ao tratamento e mais provavelmente associada a problemas emocionais do que a obesidade do adulto. O tratamento consiste em dietas de baixa calorias (1100 a 1200 cal/dia) com suplementação de vitaminas e sais minerais. Deve ocorrer um aumento da atividade física, auxiliando na manutenção do peso ideal. A farmacoterapia ocorre quando esses tratamentos não farmacológicos não funcionam; usa-se: orlistat (xenical) – inibidor da lipase gástrica e pancreática; sibutramina (reductil) – inibidor da serotonina e norepinefrina. Psicoterapia pode ser indicada, desenvolvendo novos padrões alimentares, diários de alimentos ingeridos e as circunstâncias. Tratamento cirúrgico acontece apenas em obesidade de alto grau, ou com comorbidades – by-pass gástrico e gastroplastia (redução do estômago) – bons resultados; pode acontecer o dumping – pacientes que ingerem grande quantidade de CHO após a cirurgia e evoluem com palpitações, frazqueza e sudorese. SÍNDROME ALIMENTAR NOTURNA A Síndrome Alimentar Noturna (SAN) é marcada por episódios de hiperfagia entre o horário do jantar e início do sono e/ou episódio de ingestão alimentar durante despertares do sono acompanhados de total lembrança para o evento. É um transtorno mais presente em obesos. A prevalência é de 1,5% na população geral e 27% em obesos grau III. O quadro clínico é caracterizado por hiperfagia noturna, insônia inicial, dificuldade de reiniciar o sono, redução do apetite pela manhã, piora ao estresse, sem métodos compensatórios associados. A etiogenia é pouco conhecida, especula-se que há um envolvimento hipotalâmico e do núcleo accumbens (neurônios dopaminérgicos seriam ativados por estímulos motivacionais [ingesta alimentar] que induziriam e fortaleceriam um efeito em busca de recompensa).
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