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NEUROMARKETING AULA 1 Prof. Felipe Augusto Nasser Costa 2 CONVERSA INICIAL Compreender os conceitos iniciais da neurociência aplicada ao marketing e ao comportamento de consumo, atualmente, são primícias de ter sucesso nas estratégias de comunicação e vendas. Desde que podemos entender sobre a evolução do relacionamento entre empresas e consumidores, temos a área de vendas e de relacionamento interpessoal (com clientes) tentando desvendar os principais comportamentos em relação ao consumo, utilização, destinação e satisfação em relação ao produto ou serviço adquirido. Nesta introdução ao tema de neuromarketing, você terá o contato com um breve histórico do que é neuromarketing e quais as principais contextualizações, podendo diferenciar entre marketing e neuromarketing e saber como é a divisão comportamental do cérebro e sua evolução. Compreender os conceitos iniciais são fundamentais para que toda a temática desta incrível área possa ser aprofundada e estuda de forma a agregar aos novos negócios e aos produtos e serviços já comercializados em nossa sociedade. Esta aula está dividida em cinco temas principais, que são: • Breve histórico da neurociência e do marketing: o que é neuromarketing?; • Diferença entre marketing e neuromarketing; • A divisão trina do cérebro: o sistema reptiliano ou R-complex; • A divisão trina do cérebro: o sistema límbico; • A divisão trina do cérebro: neocórtex. As informações com as quais você terá contato não exaurem o tema, mas são um incentivo a novas pesquisas e ao aprofundamento. CONTEXTUALIZANDO Desde os tempos mais remotos, o ser humano tem se dedicado a estudar sua ancestralidade e entender a sua própria biologia, visando aperfeiçoar-se de maneira tal que possa diminuir os riscos de morte, aumentar as probabilidades de adaptação ambiental, estabelecer novos meios de relacionamento entre seus pares (da mesma espécie) e com outras biologias (seres vivos). Já imaginou compreender como as pessoas que mais ama pensam e reagem a cada palavra que você expressa a ela? Já teve momentos os quais 3 quis entrar no pensamento de alguém para saber o que esta pessoa iria fazer ou estava planejando? Já tentou adivinhar o que algumas pessoas iriam fazer somente olhando para elas e tentando descobrir quais as próximas ações? É neste intuito que os estudos da neurociência têm provocado mudanças significativas na maneira como vivemos e vemos nosso mundo, nossas ações, nossas responsabilidades, nossas atitudes, nossas relações e nossos sentimentos. E com este turbilhão de sentidos e emoções temos a interação das mídias off-line e on-line indubitavelmente interferindo no fornecimento das informações processadas por nossos cérebros e na influência comportamental por meio da persuasão cognitiva e do processo de sugestão cerebral. TEMA 1 – O SER HUMANO – UM ANIMAL (IR)RACIONAL – E SEU COMPORTAMENTO Há aproximadamente 14 bilhões de anos havia somente matéria e energia pairando pelo que podemos chamar de espaço, é o começo do universo que conhecemos ou que ainda estamos explorando para iniciar sua descoberta real. E nesta ordenação cronológica temos a formação do planeta Terra por volta de 4,5 bilhões de anos e os organismos vivos começaram a surgir somente há 3,8 bilhões de anos. Com a evolução das espécies (adaptações territoriais, modificações genéticas e miscigenação gênica), o último ancestral em comum entre humanos e chipanzés está há 6 milhões de anos de diferença conosco, com isto temos a evolução do gênero Homo, na África, por volta de 2,5 milhões de anos atrás. E de lá até hoje já tivemos inúmeras alterações nos quesitos de natureza, fauna, flora, modificações e mutações genéticas, evolução e extinção de espécies. O que torna interessante este processo evolutivo é o fato de a miscigenação genética que tivemos entre todos os nossos ancestrais, agregando diversos fatores de adaptabilidade aos mais variados fenômenos naturais que poderiam determinar a extinção de nossa espécie, pois somos muito novos se levarmos em consideração a história de vida na Terra. Assim, houve tantas modificações no ambiente terrestre que o processo evolutivo, além da alteração genética, determinou o mantimento das espécies que mais se adaptaram ao ambiente no qual estavam alocadas. Este fator de sobrevivência é uma das duas características básicas de qualquer animal, sendo o outro fator a reprodução. 4 O processo evolutivo da fauna, flora e reino animal tiveram profundas modificações com o decorrer dos milênios, tanto agregando novas espécies quanto extinguindo outras. Assim como os dinossauros já foram os animais dominantes, agora temos uma mistura preponderando de domínio em diversos biossistemas diferentes, todavia o homem coloca-se no patamar do animal com maior interação nos ecossistemas existentes, em razão de seu potencial de adaptabilidade e migração. 1.1 Breve histórico: neurociência e marketing. O que é neuromarketing? Quando pensamos na história humana, frequentemente fazemos a alusão que estamos no topo da cadeia alimentar, porém depende do ponto de vista este tipo de pensamento, visto que nem sempre fomos tão evoluídos e tão pouco conseguimos sobreviver mais do que 100 anos de idade, vide a expectativa de vida de nosso país. A importância de pensar no processo de ancestralidade e permanência de vários comportamentos nos faz remeter à necessidade de entender a evolução do mundo e do ser humano nos contextos da filogenia, história evolutiva da espécie, e da ontogenia, história evolutiva do indivíduo, assim podemos entender a afirmação de Harari (2011) com o relato de “muito antes de haver história, já havia seres humanos. Animais bastante similares aos humanos modernos surgiram por volta de 2,5 milhões de anos atrás. Mas, por incontáveis gerações, eles não se destacaram da miríade de outros organismos com os quais partilhavam seu habitat”. Porém, é muito comum concebermos a nós, humanos, como um animal separado dos demais animais, como se fossemos únicos, sem parentescos anteriores em nossa árvore genealógica mais longa que você possa imaginar. Felizmente não somos indissociáveis dos demais animais e tão pouco estamos órfãos de família ou gênero. Nossa família é numerosa, grande, extensa, chamada grandes primatas. Perceba, na imagem a seguir, um quadro da evolução dos humanos, ou seja, nossa evolução. Figura 1 – Evolução do ser humano 5 Fonte: Doodley, 2018. De acordo com Collins (2010, p. 167): A sequência de DNA (Ácido Desoxirribonucleico) de quaisquer indivíduos é idêntica em 99,6%, exceto no que tange às partes do mundo das quais vieram seus ancestrais. Comparados com o resto do reino animal, os humanos são extraordinariamente similares: muitas outras espécies possuem consideravelmente mais diversidade em suas sequências de DNA do que a nossa. A maioria das variações genéticas na espécie humana encontra-se presente dentro de populações geográficas. Somente cerca de 10% dessas diferenças são úteis para definir a que população alguém pertence. TEMA 2 – DIFERENÇAS ENTRE MARKETING E NEUROMARKETING Muito tem-se falado sobre esta linha de estudos, porém é preciso entender os conceitos básicos que estão por detrás deste termo neuromarketing, pois é a aplicação de duas áreas distintas com um mesmo objetivo – estudar o comportamento humano. Conforme a American Marketing Association (AMA, 2018) “marketing é a atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para clientes, clientes, parceiros e a sociedade em geral”. De acordo com Kotler, Kartajaya e Setiawan (2010), o marketing passou por evoluções significativas para a projeção e abertura de mercado por parte das empresas. Este amadurecimento de mercado por parte do marketingdeu-se de forma tal que podemos identificar na tabela a seguir. Tabela 1 – Comparação entre Marketing 1.0, 2.0 e 3.0 6 Marketing 1.0 Marketing centrado no produto Marketing 2.0 Marketing voltado para o consumidor Marketing 3.0 Marketing voltado para os valores Objetivo Vender produtos Satisfazer e reter os consumidores Fazer do mundo um lugar melhor Forças propulsoras Revolução Industrial Tecnologia da Informação Nova onda de tecnologia Como as empresas veem o mercado Compradores de massa, com necessidades físicas Consumidor inteligente, dotado de coração e mente Ser humano pleno, com coração, mente e espírito Conceito de Marketing Desenvolvimento de produto Diferenciação Valores Diretrizes de marketing da empresa Especificação do produto Posicionamento do produto e da empresa Missão, visão e valores da empresa Proposição de valor Funcional Funcional e emocional Funcional, emocional e espiritual Interação com consumidores Transação do tipo um para um Relacionamento um para um Colaboração um para muitos Fonte: Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2010. Além disso, o marketing tradicional como conhecemos tem mudado constantemente, pois o marketing digital alterou o modelo de comunicação e relacionamento com consumidores, veja a tabela a seguir. Tabela 2 – Os papéis permutáveis do marketing tradicional e digital Fonte: Kotler; Kartajaya; Setiawan, 2017. 7 A permutação entre as diferentes áreas de interação com os consumidores propicia uma nova interação entre empresas e clientes, tornando a relação mais estreita, intimista e rápida. O marketing 4.0, no qual é identificado o relacionamento econômico digital com o consumidor, Kotler, Kartajaya e Setiawan (2017) evidenciam: que o marketing deve se adaptar à natureza mutável dos caminhos do consumidor na economia digital. O papel dos profissionais de marketing é guiar os clientes por sua jornada desde o estágio de assimilação até se tornarem advogados (defensores ou embaixadores) da marca. Após este breve entendimento sobre o tão explanado marketing, podemos, então, entender o que realmente é neuromarketing. Para isso, vamos a alguns conceitos determinados por diversos autores de renome e mundialmente conhecidos. Conforme Roger Dooley (2018): Neuromarketing é a aplicação da neurociência ao marketing. O neuromarketing inclui o uso direto de imagens do cérebro, escaneamento ou outra tecnologia de medição de atividade cerebral para medir a resposta de um sujeito a produtos específicos, embalagens, publicidade ou outros elementos de marketing. Em alguns casos, as respostas cerebrais medidas por essas técnicas podem não ser conscientemente percebidas pelo sujeito; portanto, esses dados podem ser mais reveladores do que o autorrelato de pesquisas, grupos focais, etc. Mais geralmente, o neuromarketing também inclui o uso de pesquisas em neurociência no marketing. Por exemplo, usando ressonância magnética funcional ou outras técnicas, os pesquisadores podem descobrir que um determinado estímulo causa uma resposta consistente no cérebro dos participantes e que essa resposta está correlacionada com um comportamento desejado (por exemplo, tentar algo novo). Uma campanha de marketing que incorpore especificamente o estímulo que espera criar esse comportamento pode ser considerado como incorporando o neuromarketing, mesmo que nenhum teste físico de assuntos tenha sido feito para essa campanha”. Já Fisher, Chin e Klitzman (2010) contam que: O primeiro uso relatado da palavra neuromarketing parece estar em um comunicado de imprensa de junho de 2002 de uma firma de publicidade de Atlanta, a BrightHouse, anunciando a criação de uma divisão de negócios usando fMRI para pesquisa de marketing. Esta empresa rapidamente atraiu críticas por potenciais conflitos de interesse envolvendo a Emory University; a nova divisão de negócios da BrightHouse foi estabelecida pelo corpo docente da Emory, incluindo pelo menos um professor de psiquiatria, e os estudos de imagem usaram as instalações da Emory. O grupo cívico anti- publicidade Commercial Alert apresentou algumas das críticas mais contundentes a esse trabalho - por exemplo, a disseminação de “doenças relacionadas ao marketing” resultantes da promoção de empresas de junk food - e logo solicitaram ao Departamento Federal de Pesquisa Humana. Proteções e o Senado dos EUA para investigar 8 a pesquisa da BrightHouse. O site da BrightHouse Neurostrategies, como era chamado, foi rapidamente retirado e a nova empresa desapareceu da atenção do público. Muito antes desse tipo de trabalho adquirir seu neuro-prefixo, no entanto, e muito antes de a Emory University e a BrightHouse anunciarem sua parceria, as empresas patrocinaram pesquisas neurofisiológicas sobre temas de marketing - por exemplo, estudando as reações dos consumidores à programação televisiva com eletroencefalografia (EEG). De nota, quatro anos antes do termo neuromarketing ser cunhado, os professores Gerald Zaltman e Stephen Kosslyn, da Universidade de Harvard registrou uma patente para “Neuroimagem como ferramenta de marketing”; no entanto, Zaltman rapidamente mudou seu foco para a “Técnica de Elucidação da Metáfora Zaltman”, uma entrevista estruturada que não emprega tecnologia de imagem, e Kosslyn parece não estar envolvido no neuromarketing até 2008, quando se juntou ao conselho consultivo de uma empresa chamada NeuroFocus. Mais recentemente, pesquisadores propuseram definições conflitantes de neuromarketing, preferindo vê-lo como essencialmente um campo científico e não como um negócio. Especificamente, Lee e seus colegas definiram o neuromarketing como bolsa acadêmica: “um campo de estudo válido” e não simplesmente “a aplicação de técnicas de neuroimagem para vender produtos”. Algumas empresas que descrevem suas atividades como neuromarketing não publicaram seus resultados em pares. Revistas, no entanto, e seus esforços parecem contidos em grande parte dentro do setor privado. Assim, em contraste com Lee e seus colegas, Hubert e Kenning viram o neuromarketing como uma atividade comercial e não como um campo acadêmico voltado para a erudição. Eles propõem que o campo mais amplo da pesquisa do consumidor neurocientífico (ao que Lee e seus colegas se referem como neuromarketing) deveria ser rotulado de “neurociência do consumidor”, e eles definem o neuromarketing mais estreitamente como “a aplicação dessas descobertas no escopo da prática gerencial.” Uma comparação útil pode ser feita com a neuroeconomia, uma disciplina acadêmica que estuda vários aspectos da tomada de decisão econômica. Esse campo também atraiu a atenção recentemente e frequentemente usa tecnologia de imagem, mas é mais claramente uma disciplina acadêmica. Comentaristas recentes ecoam a distinção acima entre bolsa de estudos e aplicação, afirmando que a neuroeconomia deve ser considerada à parte de investigações específicas para fins de marketing. Neuroeconomia passou por um extenso desenvolvimento teórico como campo, e já produziu uma riqueza de evidências sobre a tomada de decisões em contextos do mundo real. Pesquisadores em neuroeconomia geralmente usam objetos comumente reconhecidos como produtos de consumo para estudar conceitos gerais como processamento sensorial, escolha e avaliação de perdas e recompensas, mas esses estudos não são feitos para uma determinada empresa ou aplicativo de marketing. Por exemplo, McClure e colegas examinaram as respostas dos sujeitos à Coca-Cola e Pepsi usando fMRI. Esse modelo foi escolhido para entender a percepção sensorial de símbolos culturais comuns, não para ajudar a Coca-Cola Company ou a PepsiCo em seu design de marketing. Mais amplamente, muita pesquisa em neurociência e psicologia é potencialmente útil para entender a escolha e a preferência, mas não é neuroeconomia (ou neuromarketing) em si. A comunidade de neuroeconomiaagora compreende mais de uma dúzia de centros de pesquisa de base universitária, uma sociedade científica e uma considerável literatura que inclui vários livros didáticos. Em contraste, os fundamentos acadêmicos do neuromarketing como um campo são difíceis de identificar. Não está claro no momento se o neuromarketing se qualifica como um campo acadêmico e, se isso acontece, o que o distingue da neuroeconomia. Encontramos apenas um punhado de relatórios acadêmicos sobre os resultados do 9 neuromarketing patrocinado pela indústria. Em 2002, cientistas da Universidade de Ulm, na Alemanha, apoiada pela Daimler Chrysler, publicou um relatório sobre a percepção visual de automóveis, 26 e cientistas da UCLA recebeu financiamento parcial da consultoria política FKF Research para analisar as reações neurais de republicanos registrados e Democratas às faces dos candidatos presidenciais. Curiosamente, algumas empresas também realizaram estudos de neuromarketing, mas não publicaram seu trabalho em periódicos revisados por pares. Por exemplo, pesquisadores do Laboratório de Neurociência Cognitiva Social da Caltech fizeram uma parceria com a Lieberman Research para ajudar os estúdios de Hollywood a selecionar trailers de filmes. Mas, além desses poucos casos, não está claro até que ponto o neuromarketing difundido é ou mesmo exatamente o que é. Assim, várias questões críticas permanecem: o neuromarketing envolve mais do que esse punhado de empresas? Como essas empresas se apresentam e o próprio neuromarketing? Até que ponto os profissionais médicos e acadêmicos estão envolvidos em seu trabalho? Quais alegações eles estão fazendo? Quais são as obrigações éticas dos profissionais da área médica, incluindo psiquiatras, em relação a essa nova prática? Para examinar esses temas, realizamos um estudo exploratório para captar a percepção do alcance, variedade e frequência das principais características das empresas de neuromarketing. Uma vez que uma quantidade cada vez maior de informações médicas está sendo oferecida pela Internet, decidimos examinar esses problemas por meio de sites de neuromarketing. Para Peruzzo (2014, p. 17), o neuromarketing possui o seguinte conceito: É a união dos ecossistemas, neurociência e marketing, com o objetivo de mensurar os estados mentais conscientes e inconscientes do consumidor, transformando esse conhecimento em bens de consumo que curem, provisoriamente, a insatisfação do cliente, gerando um estado de fidelidade circunstancial”. Para Pedro de Camargo (2013, p. 119), o termo neuromarketing é: O ramo daquela teoria (neuroeconomia) que, por enquanto, trata da pesquisa de comportamento do consumidor de propaganda, isto é, do estudo de como os anúncios, as marcas, as embalagens, as cores e vários outros fatores realmente influenciam as pessoas e até que ponto o fazem. Assim como a neuroeconomia, o neuromarketing se utiliza da neurologia como, por exemplo, a ressonância magnética funcional (fMRI), para estudar a localização das áreas estimuladas no cérebro humano e as respostas deste a uma informação de marketing. Então, podemos também determinar que neuromarketing pode ser considerado feridas que nunca se fecham, levando em consideração três aspectos importantes: cicatrizes da infância; replicação de comportamentos e escolhas; e repleção de sentimentos e anseios. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3152487/#R26 10 2.1 Cicatrizes da infância Toda cicatriz na pele remete a algo que você fez e deixou uma marca profunda nas diferentes faixas epiteliais. Essas marcas são, normalmente, para o resto de sua vida, assim como cicatrizes de cirurgias, por exemplo. O processo de “cicatrizes da infância” no que diz respeito às questões de aspectos do neuromarketing quer remeter ao processo de cristalização da memória (memória de longo prazo) na área cerebral chamada hipotálamo, localizada dentro da região do diencéfalo. Todo o processo de recordação ou memória que já tenha certo tempo de ocorrência nos permite inferir que esta memória é caracterizada como sendo de longo prazo e permeia as nossas recordações, propiciando o acesso de fragmentos ou partes ou memória inteira da ação daquele momento passado. Você por acaso se lembra do que estava fazendo no dia 11 de setembro de 2001? Lembra-se do que ocorreu nesse dia? E no ano de 2014? Caso não se lembre, em 2001 ocorreu o ataque terrorista às Torres Gêmeas na cidade de Nova Iorque e também ao Pentágono. Já em 2014 tivemos a copa do mundo no Brasil, mas provavelmente você já sabia disso. Essas recordações estão fixadas de maneira permanente, pois foram marcantes para sua vida naquele momento. Essas marcas de longo prazo fazem parte do processo de memória que condicionam nossos comportamentos, nossos sentidos, nossa sensação de medo, prazer, desgosto, injustiça, satisfação e desejo. 2.2 Replicação de comportamentos e escolhas Com base em experiências anteriores, tendemos a ter ações que possam nos manter dentro do processo de inserção social, psicológica, biológica e reprodutiva. Dessa maneira condicionamos nossas decisões de maneira que possamos também obter o máximo prazer e segurança possível objetivando duas destinações básicas: sobrevivência e reprodução. Quando se verifica que o meio está seguro (sobrevivência física e biológica), tendemos a nos movimentar conforme a manada, pois a replicação do comportamento é o espelhamento do neurônio, ou seja, é o processo de adequação neural que identifica e determina que algumas ações sejam simplesmente replicadas para que tenhamos o máximo de conforto cognitivo, consumindo a menor quantidade de energia corporal. 11 Um dos motivos pelos quais copiamos e depois replicamos comportamentos é que estamos o tempo todo tentando manter nossa aparência social e conjugal para que possamos ser aceitos na sociedade ou, como preferir, no bando. Esse aceite social determina nossas escolhas, visto que estamos constantemente num processo de interação com o meio e partimos do pressuposto da aprovação dos nossos pares. Um exemplo que podemos verificar constantemente é a questão de lojas em promoção, as quais mobilizam pessoas para compras. Os clientes passeiam pelas calçadas ou shoppings centers com sacolas da loja, demonstrando o poder de compra e incitando inconscientemente outras pessoas a passarem pela frente da loja e, pelo menos, olharem o que teria de tão benéfico para que tantas outras pessoas estejam consumindo. O que torna a aceitabilidade maior referente à loja, pois se uma massa de pessoas está a consumir na loja, significa para o “animal humano” que ali não representa perigo e que pode ser um lugar seguro de se estar. 2.1 Repleção de sentimentos e anseios O processo de amadurecimento dos sentimentos e ansiedades faz parte do ser humano como um aprendizado de evolução e concepção estrutural psicológica. A repleção dos sentimentos está intrinsicamente ligada às emoções, as quais determinam boa parte de nosso comportamento, visto que a influência destas de maneira mais forte ativa os batimentos cardíacos – maior aceleração de sangue na corrente sanguínea –, e intensifica as conexões sinápticas cerebrais. Toda vez que estamos intimamente ligados aos nossos sentimentos, sejam eles referidos em raiva, tristeza, medo, desprezo, nojo, felicidade ou surpresa, temos a experiência que nos permite realizar novas conexões sinápticas e permear nossas ações com base nas memórias emocionais e racionais. As memórias emocionais ligadas diretamente aos sentimentos, às emoções, às expectativas que temos no vetor de acionamento do sistema límbico ou mediano e do sistema reptiliano. Já as memórias racionais estão ligadas diretamente à memória de curto prazo, aquela que organizará a realidade percebida ou produzida pelo nosso cérebro. Nesse sentido, podemos destacar um trecho do filme Uma mentebrilhante, o qual relata uma história adaptada de John Nash, ganhador do prêmio 12 Nobel de economia no ano de 1994. Na parte final do filme, quando Nash é convidado para tomar um chá com um representante acadêmico, ao entrar na sala onde se situam diversos outros professores, Nash é abordado por outros professores lhe cumprimentando e lhe dando uma caneta como sinal de respeito, consideração e admiração. Esse efeito da caneta nos permite fazer a alusão dos sentimentos maduros na questão desse filme. A primeira caneta entregue era uma Montblanc, uma caneta de marca reconhecida mundialmente. Outro conceito mundialmente difundido e com grande repercussão nos meios de estudos, embora ainda não exaurida a possibilidade de alteração deste, foi publicado em 1990, pelo médico e neurocientista Paul Maclean, chamado de Teoria do Cérebro Trino ou pelo nome do livro The Triune Brain in evolution: Role a Paleocerebral functions, o qual contextualiza a divisão cerebral em três partes identificadas como sistema reptiliano – R-complex ou cérebro basal, sistema límbico ou das emoções e neocórtex, também identificado como processador de dados. TEMA 3 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: SISTEMA REPTILIANO Basicamente, os animais possuem o cérebro reptiliano, uma área cerebral o qual compartilhamos com répteis e pássaros e nos faz manter o sistema de alerta e impulso (instintos básicos) ativos durante toda a vida. Dentro do sistema reptiliano, segundo a Teoria do Cérebro Trino, os gânglios estão vinculados a essa estrutura base, pois é ela quem está no controle de nossos padrões de comportamento inconsciente e de autopreservação, que garantem nossa sobrevivência e a de nossa espécie. O cérebro primitivo ou reptiliano também é encarregado de quatro premissas básicas de sobrevivência: • Alimentação; • Luta; • Fuga; • Reprodução. 13 TEMA 4 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: SISTEMA LÍMBICO O sistema das emoções ou sistema límbico talvez seja a parte mais estudada dentro do sistema 1 – sistema determinado por ter proeminência de ser rápido, automático, impulsivo, associativo, emocional e inconsciente, traduzido por decisões com bases dicotômicas. Nesse sistema encontram-se algumas estruturas importantes para a manutenção da vida conforme figura a seguir. Figura 2 – Ilustração anatômica de áreas importantes do sistema límbico Algumas estruturas possuem fundamental importância, tais como: • Tálamo: classifica a informação do sistema sensorial e emocional, ligando ao sistema nervoso central. • Hipotálamo: controla a temperatura do corpo, produção de hormônios, os batimentos cardíacos fazendo relação com o sistema endócrino. Ainda regula o apetite, o sono, a temperatura corporal é responsável pela sensação de dor, quente ou frio e o desejo sexual. • Amígdala: responsável pelas respostas e memórias emocionais, em caráter especial a função como identificação do momento de perigo, estimulando o aumento da sensação de medo e aumento da frequência cardíaca pela ansiedade. Ela também permite que tenhamos o estímulo a três ações básicas frente ao perigo, as quais são: fugir, paralisar ou lutar. 14 Além das estruturas mencionadas anteriormente, é nesta área do cérebro que se processam as emoções, as quais podem ser isoladamente ou em conjunto da raiva, da tristeza, do medo, do desprezo, do nojo, da felicidade e/ou da surpresa. Vale ressaltar que a emoção da raiva é iniciada no sistema reptiliano, R-complex, e depois desencadeada nas demais áreas cerebrais, pois essa emoção está ligada diretamente às questões de sobrevivência e reprodução. Conforme Roxo et al. (2011), MacLean trouxe estudos efetivos em relação ao processo do sistema límbico, assim refere-se: MacLean postulou que a expressão de comportamentos sociais tem uma função central no desenvolvimento evolucionário do neocórtex. MacLean inicialmente considerou o sistema olfativo como não essencial para o desenvolvimento da espécie humana, apesar da ênfase dada por Broca à associação entre estruturas límbicas e olfativas. Ele entendeu que o Circuito de Papez representava um substrato para o comportamento emocional. MacLean também percebeu que as estruturas límbicas são estrategicamente exibidas entre as áreas responsáveis por funções somáticas e aquelas que envolvem o sistema nervoso visceral. Uma das ideias essenciais promulgados por MacLean foi que as experiências emocionais foram formados pela soma das percepções externas e sensações corporais internas. De fato, o sistema límbico também integra atividades autônomas, bem como fenômenos somáticos através do neocórtex, com suas projeções para o tálamo, mesencéfalo e medula espinhal. No entanto, uma “sobreposição extensa” entre essas estruturas na integração de esferas autonômicas e somáticas foi relatada. Ambas as reações das esferas autonômicas e somáticas resultam da estimulação elétrica e química localizada das estruturas límbicas. TEMA 5 – A DIVISÃO TRINA DO CÉREBRO: NEOCÓRTEX O neocórtex ou cérebro processador de informações é a maior parte estrutural do cérebro, sendo a área que se percebe visualmente ao olhar um cérebro, além de ocupar cerca de 80% da massa cerebral e conter 16 bilhões de neurônios. Como somos descendentes da família dos primatas, de acordo com Kaas (2013): Apesar de uma enorme variabilidade no tamanho absoluto do cérebro, e o tamanho do neocórtex, um padrão característico de organização de área foi encontrado em todos os primatas estudados. Números de áreas corticais, padrões de conexão e organização estrutural e funcional de áreas variam. No entanto, existe um conjunto de áreas corticais em todos os primatas, e algumas dessas áreas parecem ser exclusivas dos primatas. Toda a estrutura do neocórtex está ligada ao sistema 2 de características: devagar, consciente, reflexivo, deliberativo, analítico, racional. Conforme 15 Peruzzo (2014, p. 27), “o cérebro neocórtex regula as emoções do sistema límbico e é capaz de entender a linguagem formal e simbólica, cálculos e a própria criatividade”. Essa estrutura cerebral é dividida em lobos, os quais estão distribuídos por quatro grandes regiões: frontal, parietal, temporal e occipital. De acordo com Pradeep (2010, p. 52), “funções como visão, audição e linguagem falada estão distribuídas nessas regiões. Algumas regiões desempenham mais de uma função”, como percebe-se na figura a seguir: Figura 3 – Lobos cerebrais Assim, é possível entender, de maneira simplificada, as estruturas cerebrais constantes nos estudos nas áreas de neuromarketing e comportamento do consumidor. TROCANDO IDEIAS Imagine que você está dentro de uma sala de reuniões e precisa decidir sobre quais produtos deve manter no portfólio da indústria na qual é gestor e quais produtos precisam ser descontinuados. Os produtos analisados são batons de diferentes cores e linhas de comunicação (cores básicas, cores especiais vinculadas a artistas, cores com brilho e cores de tonalidades forte). A questão principal analisada em reunião estratégica é que as cores possuem uma tonalidade muito próxima uma das outras, confundindo os clientes e tendo um custo de fabricação alto. Alguns modelos de batons não têm um grande volume de vendas, porém sempre existe a busca por clientes. 16 Assuma um posicionamento de quais seriam os procedimentos a serem adotados na decisão dos produtos a serem descontinuados, observando as questões comportamentais de nossos estudos. NA PRÁTICA A empresa Olhos Vivos, atuante no ramo varejista de ótica, possui uma clientela fixa e que conhece a empresa desde que era apenas uma pequena porta de atendimento. Hoje, a Olhos Vivos possui uma loja de 150 m² e está localizada na mesma localização de sua fundação. A ótica recebe com certa frequência novos clientes, os quais não necessariamente adquirem um par de óculos ousolicitam algum serviço de manutenção ou confecção de lentes. Toda a equipe é treinada para atender a qualquer demanda de informações do cliente, ou seja, todos têm o mesmo conhecimento sobre todos os serviços e produtos da loja. Os clientes antigos apresentam um vínculo com a marca da ótica, com o proprietário (era quem sempre atendia no começo da ótica) e com o ambiente. A loja atualmente passou por uma reforma completa, objetivando manter o ambiente com percepção de mais arejado, livre para trafegar internamente e “clean”. Os clientes antigos trazem seus filhos e filhas para comprarem na loja, como uma passagem de gerações no consumo dos produtos da ótica, tendo assim uma fidelidade daqueles clientes que mantêm um relacionamento estreito com todos, todavia o que não acontece na mesma proporção com clientes novos e até mesmo com os filhos e filhas dos clientes antigos. A comunicação era sempre objetivando o produto, mostrando a qualidade de resistência, durabilidade e preço dos produtos, porém de maneira mais objetiva e sem a humanização da comunicação. A principal problemática neste contexto é: como fazer com que os novos clientes possam estar vinculados emocionalmente à ótica? Como poderiam ser planejadas as ações de marketing e comunicação da Olhos Vivos? FINALIZANDO A fundamentação e aplicação do neuromarketing permite aprimorar as técnicas de aumento de desempenho em comunicação, relacionamento e 17 vendas de qualquer empresa, visto que as análises comportamentais deveriam ser dadas de maneira a monitorar os indicadores biológicos e não somente racionais. O processo de estratégias mercadológicas voltadas a uma análise de massa, objetivando impactar o maior número possível de possíveis clientes com uma mesma estratégia estatística e racional faz com que o marketing atual tenha que se remodelar e buscar novas ferramentas e ambientes de comunicação para que o público impactado seja coerente com a capacidade de atendimento da empresa, todavia, ainda sim, a diferença entre volume de impactados pela comunicação em massa e o resultado da empresa é baixa se mantido um padrão percentual de retorno. Neste intuito, o neuromarketing vem a auxiliar nas estratégias mercadológicas buscando informações de reação e ativação comportamental por meio de dados de estimulação biológica, compondo diversos aspectos como frequência cardíaca, dilatação da pupila, sudorese da pele, ativação cerebral, variação térmica, liberação ou inibição de neurotransmissores, entre outros. Esses monitoramentos auxiliam na tomada de decisões estratégicas visando ao melhoramento das ações de propaganda, comunicação e marketing. 18 GLOSSÁRIO Commercial Alert: Projeto da organização Public Citizen (organização sem fins lucrativos) criado em 2011. A missão do Commercial Alert é manter a cultura comercial dentro de sua esfera adequada e impedir que ela explore as crianças e subverta os valores mais altos da família, comunidade, integridade ambiental e democracia estadunidense. DNA: Sigla que significa ácido desorribonucleico, que é uma molécula presente tanto no núcleo celular quanto nas mitocôndrias e nos cloroplastos, e que possui filamentos nos quais estão as informações genéticas. fMRI: Abreviação do termo em inglês functional Magnetic Resonance Imaging, é um conjunto de métodos de imagens desenvolvidos para demonstrar, medir e mapear as mudanças regionais do cérebro, de maneira não invasiva e segura. Homo: Homo significa “igual”, “semelhante”, porém é a determinação do gênero da espécie humana. Mídias off-line: composição de anúncios que não precisam da internet para serem visualizados, tais como anúncios na televisão, em outdoor, rádio, panfletos impressos ou qualquer outro meio Mídia on-line: conjunto de anúncios que se utilizam dos meios digitais e internet para impactar pessoas. Neuroeconomia: conjunto interdisciplinar de áreas, tais como neurociência, psicologia, biologia e economia, que estuda o processo de tomada de decisão econômica. Neuroimagem: conjunto de técnicas para monitorar imagens cerebrais por meio de resultados com fMRI ou eletroencefalograma. 19 REFERÊNCIAS AMA – American Marketing Association. Definition of Marketing. Disponível em: <https://www.ama.org/AboutAMA/Pages/Definition-of-Marketing.aspx>. Acesso em: 2 jul. 2018. HISTORY of life on Earth. BBC Nature. Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/nature/history_of_the_earth>. Acesso em: 2 jul. 2018. CAMARGO, P. C. J. Comportamento do consumidor: biologia, anatomia e fisiologia do consumo. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2010. _____. Eu compro, sim! Mas a culpa é dos hormônios. Ribeirão Preto: Novo Conceito, 2013. _____. Neuromarketing: a nova pesquisa de mercado. Porto: Atlas, 2013. COLLINS, S. A linguagem da vida: o DNA e a revolução na sua saúde. São Paulo: Gente, 2010. DAWKINS, R. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. DOODLEY, R. Como influenciar a mente do consumidor. São Paulo: Campus, 2013. _____. What is neuromarketing? 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