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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Teoria Geral do Estado I (DES 0125) Ano 2019 - 1º semestre - Turmas 21 e 22 Docente: Profa. Dra. Eunice Aparecida de Jesus Prudente FICHA DE LEITURA TÍTULO “O Federalista” AUTOR Weffort, Francisco LOCAL E DATA DE EDIÇÃO: São Paulo, 8 de agosto de 2011 Nº USP NOME COMPLETO E/D* 8589606 Julie Miyuki Kuahara E 11289045 Laura Santos Inácio E 11289153 Victor Hugo Gois D 11263679 Júlia Rodrigues dos Santos D (*) E=EXPOSITOR D=DEBATEDOR Palavras-chaves: Artigos Federalistas; Estado; Estados Unidos; República; Facções; Governos Populares; Constituição; Crise de legitimidade; Moderação Política “O Federalista” é uma reunião de artigos publicados no final do século 18 nos EUA, a fim de contribuir para a ratificação de uma nova Constituição no país. Seus 3 autores - Hamilton, Madison e Jay - são nomes fortemente associados ao processo de independência norte- americano, sendo contribuintes direta e indiretamente da elaboração da Constituição. Os artigos escritos visavam tanto explicar a nova Constituição para o povo (que substituiu os “Artigos da Confederação”), através do desenvolvimento e análise da teoria política presente, quanto refutar as objeções feitas pelos opositores do novo código. Os artigos são considerados inovadores na medida em que, pela primeira vez, a teorização de governos populares modernos não se pautava em modelos da antiguidade clássica, havendo uma ruptura com os conceitos de República e democracia vigentes: enquanto para Montesquieu, República seria qualquer forma de governo em que houvesse representatividade geral do povo, fosse diretamente, com uma democracia, ou através de representantes, na aristocracia, precisando ser pequena para que não houvesse tanta divergência, para esses novos pensadores, República seria, obrigatoriamente, de proporções grandes, na qual poucos cidadãos representariam muitos. A partir dessa mudança de paradigma, a existência de um grande território deixou de ser tida como um problema, apresentando-se, pelo contrário, como algo favorável na constituição de um governo popular. Dentre os temas abordados nos artigos propostos, procurou-se destacar aqueles que dialogam com outros pensadores, como Montesquieu, e que ainda na atualidade fomentam debates quanto a República, o Estado e a Política: a separação de poderes, a participação popular na República, o tamanho da União como uma ferramenta estratégica e a coexistência de grupos diversos - as facções -foram as temáticas elencadas como de maior interesse. A separação de poderes se apresenta na coletânea como um sistema de “freios e contrapesos” para o poder: os artigos propõem a introdução de equilíbrios e controles legislativos, ou seja, com a instituição de uma separação de poderes impura. Assim, a competência legislativa não caberia apenas ao Congresso e às Assembleias dos Estados, mas também ao Presidente, que possuiria o poder de vetar projetos do Congresso. Haveria também uma certa interferência do Judiciário na produção do legislativo, visto que aquele se torna não mais um poder “neutro”, mas sim o Guardião da Constituição, tendo o poder de declarar contra o sentido da Constituição leis do legislativo e atos do executivo. O tamanho da União e a constituição de uma república popular são, para os federalistas, fundamentais ao desenvolvimento do Estado liberal por eles teorizado: enquanto as divergências dentro de uma sociedade são vistas como um problema para Montesquieu, para os americanos, elas todas devem ser abarcadas a fim de que haja um bom funcionamento do Estado, já que em um cenário sem diversidade de pensamento, aqueles que detêm o poder encontrariam menos dificuldades em torná-lo opressivo. A diversidade, portanto, é tida como um aspecto natural de um governo livre em “O Federalista” e, por isso, a ideia de se eliminar as facções (grupos opositores) não é incentivada pelos textos. A república representativa aparece como uma solução à imposição do poder de uma facção maioritária sobre o de uma minoritária. Também se faz a defesa da multiplicação das facções como um mecanismo para sua própria neutralização - o que torna impossível o controle do poder por uma única facção. Os federalistas queriam demonstrar com suas teses que Estados grandes e o espírito comercial da época não inviabilizariam o implemento de um “governo popular”.Entretanto, empiricamente, podemos perceber hoje que Estados grandes têm dificuldade em serem guiados popularmente, enquanto que Estados pequenos são mais felizes nesse intento: é notável como países de grande extensão territorial, como os EUA e o Brasil têm uma crise de legitimidade - Bolsonaro se elegeu no Brasil com menos votos do que os votos brancos e nulos; Trump tem uma aprovação de menos de 50% nos EUA (A desaprovação do presidente fechou em 52% em fevereiro de 2019. Os dados são de pesquisa do Wall Street Journal e NBC News) - e ambos não tiveram constituições confirmadas pelo voto popular. Suíça e Cuba, por sua vez, modelos políticos diametralmente opostos e organizados em Estados pequenos, têm uma maior participação popular dos cidadãos: Suíça vive uma democracia semi-direta e Cuba teve o projeto de constituinte, elaborado pelos representantes do povo, vetado por voto popular. Nessa ótica, podemos argumentar que os Estados Unidos nunca foi um governo popular. Harriet Martineau (1802-1876), socióloga e precursora do movimento feminista, já denunciava que os Estados Unidos tinham uma Constituição a qual dizia todos tinham direitos iguais e com conclamações pela liberdade, democracia, igualdade, mas, no ser de fato, suprimia direitos das mulheres, dos negros, indígenas e das classes mais baixas. Hoje em dia, do mesmo modo, vemos a manutenção dessa contradição: o país é o que mais encarcera no mundo e tem um sistema eleitoral no qual a vontade geral pode ser sotoposta perante o voto das delegações. A posição contrária a eliminação de facções de “o Federalista” (artigo 10) promove reflexões sobre as características fundamentais da democracia liberal que persistem na atualidade tanto na produção acadêmica contemporânea, quanto no debate público global. Nesse sentido, é de grande pertinência a o desenvolvimento da análise sobre como as divergências de pensamento são e eram vistas no cenário norte-americano, além da exposição da característica que é tida como essencial a estabilidade política dos Estados Unidos: a moderação. Madison afirma que a preocupação central da legislação moderna é a de fornecer os meios para coordenação dos diferentes interesses em conflito, denotando essa ação como não só a marca distintiva das repúblicas por oposição à violência do conflito entre facções características das democracias populares, como também a única alternativa para a imposição do interesse geral a paralisia decorrente do bloqueio entre as partes. Essa coordenação de interesses é apontada por Aurelian Craiutu - professor de ciência política e de Estudos Americanos na universidade de Indiana, Bloomington - em seu artigo “A moderação pode ser a mais desafiadora e recompensadora das virtudes” como uma ilustração do entendimento dos federalistas sobre a liberdade e a prosperidade de qualquer nação terem por pressupostos a separação dos poderes e, principalmente, o equilíbrio entre grupos e classes na sociedade. Craiutu postula a moderação como o meio para o alcance desse equilíbrio que é, em sua análise, o que pode prevenir qualquer facção de se sobrepor às outras e conquistar o poder absoluto na sociedade. Entretanto, a visão positiva da moderação como uma ação e posicionamento político que “inclui a civilidade e uma espécie de ecletismo, oposto a “pureza ideológica” é passível de críticas: aqueles que se autodenominam moderados, por vezes, tem contribuído para um falso esvaziamento ideológico da política, na medidaem que atrelam sua “moderação” a uma abordagem técnica e outsider que, em suas concepções fariam contraponto a estrutura política vigente, dita radicalizada.
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