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1 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Políticas de comércio internacional Unidade I – O Comércio Internacional Frederico Teixeira Crespo 2 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional 1. O Comércio Internacional na vida humana Não há como negar que a atividade comercial acompanha a humanidade desde a fundação das civilizações mais antigas. Afinal, as necessidades humanas, mesmo nas épocas mais remotas, precisavam ser satisfeitas. Condição inerente à natureza humana. Não raro deixamos de ver diversas referências ao comércio descritas no Antigo Testamento cristão. No princípio, estava esta atividade relegada apenas às trocas locais entre uma população muito restrita. Por óbvio, a medida que as populações iam crescendo e se aglomerando em vilarejos e cidades, incrementavam-se as trocas comerciais. As necessidades se ampliavam. E assim se deu na proporção do desenvolvimento destas sociedades. A melhor noção que podemos ter de uma modernidade na história do Comércio Internacional terá inicio e marco com as Grandes Navegações. Avançando então ao século XV, identificamos o processo de expansão do Velho Mundo, capitaneado por Portugal, que buscava ampliar seus domínios, sua fé e religião, bem como abrir novas rotas de comércio, principalmente um caminho alternativo às Índias. Esta expansão, depois, foi seguida por outras nações. O resultado, em termos bastante resumidos, foi o domínio sobre um Novo Mundo – as Américas –, a expansão da fé cristã para este e a mudança na forma de fazer comércio entre as nações. A bem ou mal, todos estes fatos mudaram o curso da história do mundo sobremaneira. Não obstante ainda, a estrutura de transportes para o Comércio Internacional que se instalaria ter sido criada neste período. Isso porque rotas comerciais com regras de navegação foram criadas e impulsionadas nestes tempos. Ao avançar para o século XIX, após a consolidação da segunda revolução industrial, o mundo passa por enormes transformações e os negócios entre as nações estão a pleno vapor, tão fortes quanto uma estrutura em aço. Mas esta forja provou não ser tão forte assim, visto ao fim do século uma obscuridade sinistra parecer pairar sobre a Europa. Não havia entendimento possível entre os países, impulsionando disputas de poder em demasia. Rumores de guerra eram ouvidos nos quatro cantos do continente, reverberando no Norte da África e Oriente Médio. No limiar do século 3 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional seguinte, no ano de 1914, um acontecimento muda radicalmente a paz mundial e toda a ordem econômica vigente: a Primeira Grande Guerra Mundial. “O continente europeu estava em paz na manhã de domingo, 28 de junho de 1914, quando o arquiduque Francisco Ferdinando e sua mulher, Sophie Chotek, chegaram à estação de trem de Sarajevo. Trinta e sete dias depois, estava em guerra. O conflito que começou naquele verão mobilizou 65 milhões de soldados e deixou um saldo de três Impérios desbaratados, 20 milhões de militares e civis mortos e 21 milhões de feridos. Os horrores do século XX na Europa nasceram dessa catástrofe1.” Antes de a guerra eclodir, já havia uma onda de expansão global das nações, principalmente pelo comércio mundial. Não à toa a criação de dois canais artificiais – o de Suez e o do Panamá – como forma de encurtar as rotas comerciais marítimas. No entanto, o mundo passa por tempos de rupturas e conflitos, atravessando duas guerras de proporções mundiais e contando apenas com curtíssimo período de paz de 21 anos – um grão de areia em termos históricos. Pouco antes do fim da Segunda Guerra, as nações aliadas já sabiam que se sagrariam vencedoras. E mesmo sem saberem como e quando, e iniciaram as negociações para uma governança global. Isso porque também a eclosão de ambas as guerras deu-se por motivos econômicos e, sendo assim, era necessário garantir uma governança que evitasse novas rupturas brutais. Em 1944, portanto antes do fim da Guerra, as decisões tomadas em Breton Woods definiram a bases do que haveria de vir com relação às finanças mundiais e o comércio global. É a partir de então que nascem alguns organismos internacionais para o auxílio às nações e melhora da governança global. Foi criada a ONU – Organização das Nações Unidas – e alguns organismos de apoio e segurança financeira, tais como o BID – Banco Interamericano Desenvolvimento – e o FMI – Fundo Monetário Internacional. Em sintonia com esta estruturação global de finanças, vieram as instituições financeiras internacionais com a estruturação do sistema de pagamentos e recebimentos e o financiamento do comércio internacional com a expansão das empresas pelo mundo. Um arcabouço financeiro para o mundo! 1 Clark, Christopher. Os Sonâmbulos. Como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. 4 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Pois bem, as rotas marítimas estavam estruturadas desde o século XV, as finanças internacionais estavam organizadas e com meios de distribuição ao longo do planeta. Mas ainda faltava estruturar o comércio internacional, propriamente dito. Embora em Breton Woods houvesse a intenção em criar a OIC – Organização Internacional do Comércio, esta não foi para frente. Em verdade, nasceu apenas nos anos 90 com outro nome e roupagem, com a criação da OMC – Organização Mundial de Comércio. Contudo, algo de bom emergiu neste tempo, um acordo que visava reduzir as tarifas (tributos sobre as importações) e liberalizar o comércio entre as nações. Foi a gênese do GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio, em português. Estava pronta a pedra basilar para a melhoria do comércio global, com a formação de uma governança entre as nações, rotas marítimas mundiais definidas, finanças globais estruturadas e um acordo que auxiliaria as trocas comerciais entre as nações. O comércio entre as nações tomou uma nova forma, diversos mercados haviam se unido pelo elemento que os separava, os mares e oceanos. A quantidade de bens e trocas entre “nações” cresceram como antes jamais se havia visto – mesmo comparado ao movimento comercial percebido no mar Mediterrâneo na época do Império Romano. Grandes impérios foram criados e as bases do Comércio Internacional, que vemos hoje, nasceram neste período da história humana. Este fenômeno criou uma nova ideia de mercado. É o mercado, nas sociedades modernas, sob as suas mais diversas formas, onde as trocas comerciais se efetivam. A questão hoje é que os mercados são globais, as trocas comerciais são feitas pelas mais diversas nações e culturas do mundo. Isto porque as demandas também se tornaram globais. As empresas internacionalizaram-se, como forma de suas expansões, mas também para atenderem as demandas de consumidores das mais diversas culturas e comportamentos de consumo. É o inicio da chamada globalização, que vai se intensificando ao fim da II Guerra Mundial e cria uma nova face nas relações comerciais mundiais. Então podemos dizer que a “globalização é um processo mais ou menos natural, espontâneo e inevitável à medida que se intensificam as relações diplomáticas, comerciais entre os vários países e também o próprio progresso da 5 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional tecnologia que facilita esta realidade de comunicação que temos no momento2.” Embora tal fenômeno tenha sido visto algumas vezes pela humanidade – a ascensão do Império Romano, o domínio da Cristandade, as expansões ultramarinas – é a partir da segunda metade do século XX que a globalização toma a forma mais intensa vista pela humanidade. Isto porque desta vez não só os Estados Nacionais estão nela envolvidos,mas empresas, organizações e pessoas, mas o traço mais marcante desta nova onda de globalização no mundo é caracterizado pela intensidade do desenvolvimento tecnológico nas áreas de telecomunicações e informatização. Tal incremento tecnológico permitiu o nascimento de novos e mais sofisticados mercados. Essa é a era atual, a era da informação instantânea. A era dos mercados virtuais. Uma dedução que fica clara, principalmente para aqueles que se inteiram e compreendem fatos históricos, é que o incremento do comércio, da atividade comercial, criou uma melhoria no bem-estar das sociedades ao logo do tempo. Não foi à toa que veio se desenvolvendo junto com as sociedades ao longo dos tempos, sempre a acompanhando. “Uma das características essenciais do comércio é que ele melhora o bem-estar dos envolvidos, ou seja, as pessoas de tornam mais satisfeitas por meio da transação realizada – caso contrário, não haveria razão que o justificasse”3. Outro ponto de entendimento a ser salientado no estudo do Comércio Internacional, é o fato de o comércio ser baseado em uma transação de troca. Nas sociedades mais primitivas, as trocas eram feitas sob a forma de escambo, trocas de bens por bens. Não havia o elemento monetário, como o conhecemos em nosso tempo. Nos dias atuais tais trocas ficaram bem mais sofisticadas, bens, produtos, mercadorias ou serviços são trocados por dinheiro. As trocas internacionais são ainda mais sofisticadas, pois além da troca de um bem, por exemplo, contra um pagamento em moeda, há outra troca, entre moedas diferentes de diferentes nações. Uma vez mais estas trocas – parte inerente do comércio – visam tão somente prover as necessidades das pessoas. E, como há moeda e bens envolvidos, há troca de riquezas, 2 de Carvalho, Olavo Luiz Pimentel. Hangout sobre Globalismo e globalização. 3 Tripoli, Angela Cristina Kichinsky, p. 17. 6 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional aumentando o bem-estar das nações, empresas e pessoas envolvidas nos processos de compra e venda internacionais. Ora, se há uma troca onde é envolvido um pagamento por um bem ou serviço, teremos a caracterização de uma transação comercial de compra e venda, onde uma parte oferta um bem ou serviço a determinado valor monetário, esta oferta fica disponível a um mercado – grupo de consumidores que desejam suprir uma necessidade ou desejo. Este mercado demanda certos bens e serviços, e, para suprir as suas necessidades ou desejos, pagam pela aquisição destes. A Teoria de Oferta e Demanda da Microeconomia afirma que a determinado preço e quantidade os demandantes desejam comprar e os ofertantes querem vender. É neste ponto de uma curva de oferta e demanda que ocorre a troca comercial entre os entes – produtores e consumidores. “De maneira mais precisa, o comércio pode ser compreendido como a transferência de propriedade de um bem ou serviço para outro agente, cuja movimentação implica o recebimento de um valor monetário ou outro bem ou serviço4.” É disso que realmente trata o comércio global: compra e venda de mercadorias. Ou, na linguagem corrente do comércio exterior, importações (compras internacionais) e exportações (vendas internacionais). Neste processo está incrustrado a troca de moedas, o que forma o mercado internacional de câmbio, bem como os pagamentos e recebimentos internacionais, por meio de um mercado financeiro internacional. Mercadorias precisam ser transportadas de um ponto a outro, entra em cena os transportes de cargas internacionais, marítimo, aéreo, rodoviário e ferroviário transfronteiriço. Uma transação de compra e venda, com envolvimento monetário, gera lucro aos ofertantes e, por conseguinte, satisfação aos demandantes. Aumentando o bem- estar de ambos. É o esforço das organizações pelo lucro e sua consequente acumulação que, ao longo dos tempos, fez com que as empresas buscassem atender outros mercados além daqueles os quais elas inicialmente se estabeleciam. À medida que obtinham lucros ao satisfazerem as necessidades e desejos de seus mercados, os negócios se ampliavam, ao ponto de não caberem mais dentro do espaço de seus 4 Tripoli, Angela Cristina Kichinsky, p. 16. 7 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional mercados pátrios, ou melhor dizendo, dentro do Estado Nacional onde nasceram. Havia a necessidade de ampliarem seus domínios. Os investimentos em novos mercados ou estabelecimento de negócios em mercados globais somente foram possíveis com a acumulação de capital e a viabilização de financiamento do comércio e dos negócios internacionais. Os investidores puderam ampliar seus capitais e negócios para fora de suas fronteiras pátrias, a novas sendas que ansiavam por novos produtos. Nasceram os mercados globais e os produtos consumidos nos principais mercados do mundo, os verdadeiros produtos globais, alicerçados por marcas globais. A produção se fragmenta pelo mundo, formando uma linha de montagem móvel por diversos países do mundo, uma espécie de modelo fordista de produção global. Da mesma forma que os povos ibéricos no início da expansão ultramarina, as organizações se internacionalizam perseguindo mercados. Vão ao desconhecido: culturas e povos diferentes, com padrões de consumo diversos. As organizações passam então a seguir “por mares de antes nunca navegados5”. 2. Economia de escala e a internacionalização da produção 2.1 Conceitos Básicos sobre o PIB e o Balanço de Pagamentos Com as políticas de governança mundial que facilitaram o comércio internacional no pós-Guerra as nações e organizações começaram a buscar os mercados internacionais de uma forma mais contundente. Mesmo porque, a Europa inteira necessitava de uma reconstrução, parques industriais a serem recompostos, infraestruturas a serem reerguidas, pessoas a serem cuidadas. O esforço para tudo isto careceu de investimentos públicos e privados na reconstrução do Velho Mundo. As finanças internacionais foram repensadas nas negociações em Bretton Woods, criando inclusive uma fórmula de cálculo da produção de riquezas nos países, nascendo o conceito de contas nacionais e balanço de pagamentos. Este medindo a 5 Camões, Luís. Os Lusíadas. 8 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional relação de uma nação com o resto do mundo, aquele medindo a geração de riquezas pela própria nação. Assim, as nações basicamente passam a calcular a criação de suas riquezas, em determinado período de tempo, com base no cálculo do PIB (Produto Interno Bruto). “O produto interno bruto, ou PIB, é o valor total de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante um dado período, normalmente um ano” 6. Um erro bastante comum, apenas para frisá-lo, é que o PIB trata somente de bens e serviços finais, não faz contagem de bens e serviços intermediários. Ou seja, contabiliza o avião fabricado pela Embarer, sem levar em conta o aço, poltronas, painel de instrumentos, etc. Isto acontece para evitar uma dupla contagem. E porque falar em contabilidade nacional em um estudo sobre comércio internacional? É porque uma das variáveis que contabilizam o PIB está relacionada ao comércio exterior de uma nação. Ou seja, as exportações (X) e importações (M) estarão contempladas no cálculo do PIB, juntamente com o consumo das famílias (C), gastos/consumo do governo (G) e os investimentos (I), todos agrupados sob a fórmula: PIB (Y7) = C + G + I + (X – M) Mas para que se chegue aos valores de exportações e importações, há que se adentrar ao cálculo das transações de um país com o resto do mundo. Esta função caberá ao Balanço de Pagamentos. “Ascontas do Balanço de Pagamentos de um país registram os pagamentos e os ingressos procedentes do exterior. Qualquer transação que se traduza em um pagamento ao exterior será anotada no Balanço de Pagamentos como um débito e será acompanhado pelo sinal negativo (-). Qualquer transação que se traduza em um recebimento do exterior será anotada como um crédito e será acompanhado por um sinal positivo (+)8.” Basicamente trata-se de uma peça contábil, com transações a débito e crédito, esta relacionando-se a saída de divisas do país, aquela, a entrada. Como se trata de uma peça contábil, a soma de suas contas é igual a zero, isto porque as entradas de capitais serão idênticas às saídas. Exatamente como o princípio 66 KRUGMAN, Paul R. Introdução à economia. p. 488 7 Y – A anotação de letra Y refere-se à Renda Nacional 8 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.311 9 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional das partidas dobradas visto nas Ciências Contáveis. Portanto, a identidade básica de um balanço de pagamentos é: Conta Corrente (CC) + Conta Financeira (CF) + Conta de Capital (CK) = 0 Aqui estão as bases para o entendimento da internacionalização da produção, ao se chegar no estudo de Política Cambial estes conceitos das contas do Balanço de Pagamentos dever-se-ão ampliar. Por hora, basta o entendimento de que os valores da Conta Corrente, também conhecida por Balança Comercial, serão transmitidos ao cálculo do PIB, visto que é nesta conta que constam os valores das exportações e importações, e o valor líquido ou exportações líquidas – exportações menos as importações – é o saldo da Balança Comercial. “Como fora visto, a Balança Comercial indica as exportações líquidas de bens e serviços de um país9.” 2.2 A Vantagem Comparativa A ideia de vantagens comparativas está intimamente liga ao conceito de custo de oportunidade, uma decisão entre o que seria a melhor escolha em detrimento a outra possibilidade. Não há a possibilidade de se ter ambas as coisas, assim, há que se fazer uma escolha. Não se trata, por isso, de um custo efetivamente contabilizado, mas de uma melhor escolha a ser feita de acordo com as condições e informações disponíveis em determinado momento. “Suponha, por exemplo, que os Estados Unidos cultivem atualmente 10 milhões de rosas para serem vendidas no dia de São Valentino, e que os recursos utilizados para cultivar estas rosas poderiam, em lugar disso, haver produzido 100.000 computadores pessoais. Portanto, o custo de oportunidade destas 10 milhões de rosas são 100.000 PCs (De forma inversa, se houvessem produzido PCs, o custo de oportunidade desses 100.000 PCs seriam 10 milhões de rosas)10.” Embora os EUA possam mercantilizar flores, mesmo que com maior produtividade, ainda assim lhe é menos vantajoso, pois ganhará mais ao produzir PCs; então a melhor alternativa é – segundo a teoria – buscar suprir-se no mercado internacional. Uma escolha acompanhada de uma renúncia. Pelo exemplo apresentado na referência a Paul Krugman, fica claro que as nações, ao organizarem suas políticas 9 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional, p. 314 10 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional, p. 28 10 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional industriais e comerciais, irão levar em conta quais os custos de oportunidades entre as suas produções – bens e serviços. O que lhes será melhor produzir, quais cestas de bens e serviços irão lhes dar maior vantagem nos seus mercados ao satisfazer consumidores e trazer maior bem-estar a sua população, ampliando suas riquezas. Isto tendo em vista as suas condições em termos de disponibilidade de mão de obra qualificada, potencial de investimentos e produtividade industrial. Se uma nação não fizer este tipo de escolha, acabará por produzir aquilo que lhe ofereça um maior custo de oportunidade, ao invés de optar por aquilo que lhe renda um maior custo de oportunidade. Ou seja, terá uma produção menor, será menos produtivo se comparada a um país onde a produtividade deste bem ou serviço seja maior. Resultado: menor bem-estar de sua população, menor contribuição ao comércio e a formação de riquezas mundiais. E uma das funções do comércio internacional é exatamente o incremento da riqueza mundial. O que irá denotar a vantagem comparativa, então, será a medida do custo de oportunidade que cada nação irá possuir, em termos de produção de um bem ou serviço, ao menor custo, ou seja, aquilo que seja melhor produzir em determinado país, sob a troca daquilo o que seja menos adequado. Este é o elã da vantagem comparativa. Depreende-se, de forma inequívoca, que esta escolha tenderá a aumentar a produtividade e obrigar a esta nação a adquirir bens que não possua vantagem comparativa de outros países, que a possua. Esta concentração, de cada nação no que lhe é mais produtivo, que lhe dê maior vantagem comparativa, gera uma reordenação da produção, em níveis globais. E se cada nação se concentrar no que é mais produtiva e buscar no mercado externo aqueles de que não possua vantagem? “Dispomos, assim, de uma intuição essencial acerca das vantagens comparativas e o comércio internacional: o comércio entre dois países pode beneficiar a ambos países se cada um exporta os bens os quais possui uma vantagem comparativa11.” Uma nação ao produzir bens e serviços em que melhor possua vantagem comparativa, ofertando-os ao mundo por meio de exportações, importando bens e serviços que incorrem em maiores custos de oportunidade, está auxiliando ao incremento do comércio mundial, sua riqueza e a de outras nações. Esta especialização 11 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.29 11 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional na produção e trabalho é o agente impulsionador para o aumento da produção mundial, pois permite que cada país se especialize no que tem maior vantagem comparativa, dando a oportunidade a outro país especializar-se de igual forma. A tendência é que haja um aumento de transações entre as nações e, consequentemente, aumento de riqueza e bem-estar. Pelo princípio das vantagens comparativas pode-se, facilmente, compreender o porquê de a produção mundial, nos dias atuais, ser fragmentada, com a emergência das chamadas Cadeias Globais de Valor. Um dos fatores preponderantes para o advento de uma maior fragmentação da produção mundial foram as decisões tomadas pelos líderes de potencias mundiais em Breton Woods para consolidar acordos e aprendizados sobre o capitalismo obtidos ao longo da primeira metade do século XX. Bem como suas conseguintes implementações, que desamarraram o comércio global e possibilitaram maiores IDEs – Investimentos Diretos no Exterior. 2.3 Internacionalização da Produção Levando-se em consideração as demais variáveis de composição do cálculo do PIB – Produto Interno Bruto, e pelo exposto acima fica manifesto que há relação de causa e efeito entre o aumento do comércio internacional de uma nação e o aumento de seu bem-estar. As compras e vendas de bens e serviços em determinado período para uma nação, suas operações de comércio exteriores propriamente ditas, figuram o cálculo de seu PIB. E quanto maior a atuação neste campo, maior o incremento no PIB, principalmente se esta nação possui superávits na balança comercial. Outro fator de aumento da possibilidade de crescimento de uma nação é o fato de o país focar-se em suas vantagens comparativas, suprindo o mundo de bens e serviços em que gozam de maior produtividade,optando por adquirir os em que possuir menos produtividade. Com maior riqueza, tanto maior será a capacidade de investimento e promoção do investimento em empresas nacionais, pois poderá, de certo, ofertar um custo de capital menor. Ainda outro ponto a salientar foram os desenrolares dos fatos no pós-Guerra, os quais facilitaram o comércio e as finanças internacionais. Ampliando a capacidade de acúmulo de riqueza das nações por aumentar suas transações internacionais. 12 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Tais fatos permitiram um fenômeno amplamente visto pouco após a segunda metade do século XX: a emergência dos negócios internacionais. As empresas passaram a se instalar além de suas fronteiras, talvez pela necessidade de reconstrução da Europa e Japão – completamente devastados pela guerra –, talvez pelos ditames de Breton Wood, quem sabe pelo fim do Padrão-Ouro, o que de fato aconteceu foi um “boom” de empresas que buscaram os mercados internacionais a partir de 1950. Uma empresa ingressa “por mares de antes nunca navegados”, lança-se ao mercado internacional no momento em que decide por atender a uma demanda de um mercado externo. É quando decide exportar parte de sua produção. Este é o primeiro passo de uma organização rumo ao mercado internacional. Exportando para países limítrofes geograficamente ou com culturas bastante similares as de seu país pátrio, as empresas têm a tendência a se lançarem no mercado externo pela porta da exportação. Isto por que o investimento não é tão alto – se comparado com a montagem de uma operação em outro país – e a operação do negócio mantém-se no país pátrio. No entanto, as organizações decidem por ir além, aventurarem-se em um mercado diverso de seu mercado pátrio. É neste ponto, neste passo à frente, que as empresas iniciam uma operação fora de seu país, tornando-se uma empresa multinacional. A partir deste passo, a empresa, o negócio, passa a ser verdadeiramente de um negócio internacional. Isto porque a empresa faz o chamado IDE – Investimento Direto Estrangeiro – seja do tipo greenfield – iniciar uma operação do zero –, seja da forma browfield – por meio de fusões e aquisições. “O investimento internacional refere-se à transferência de ativos para outro país ou a aquisição deles nesse país. Esses ativos, que incluem capital, tecnologia, talento gerencial e estrutura manufatureira, são denominados pelos economistas de fatores de produção. Com o comércio, bens e serviços cruzam fronteiras nacionais. Por outro lado, no caso do investimento, a própria empresa atravessa fronteiras para asseguras a propriedade de ativos localizados no exterior12.” Assim se faz a internacionalização de um negócio, o seu limiar, quem sabe por uma venda por meio de uma loja virtual ou pelo início de uma exportação ao seu 12 Cavusgi, S Tamer. Negócios Internacionai. p. 4 13 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional apogeu: a montagem de operações em países fora do país pátrio e original do negócio. Tal decisão é responsável pela diversificação do negócio, ampliação da divisão do trabalho, busca por novos conhecimentos e ampliação da riqueza do negócio e do país, pois ao remitir lucros ao país pátrio a empresa melhora o balanço de pagamentos de seu país. “As empresas e as nações trocam muitos ativos físicos e intelectuais, como bens, serviços, capital, tecnologia, know-how e mão-de-obra13”. É esta a tônica do mundo atual. Este é o legado do pós-Guerra. 3. Políticas de Comércio Internacional 3.1 A Questão Tarifária no Pós-Guerra Um dos grandes legados de Breton Wood para o Comércio Internacional foi a criação do GATT, sigla em inglês para General Agreement for Trade and Tariffs, ou Acordo Geral sobre Comércio e Tarifas. Embora a proposta inicial tenha sido um organismo internacional próximo aos moldes da OMC – Organização Mundial do Comércio –, fato que somente ocorreu nos anos 90 do século XX, a criação de um acordo que visava à liberalização do comércio e a redução de tarifas foi um grande diferencial para a governança global. O elã do GATT era a redução de tarifas – tributo sobre as importações – como forma de liberalização do comércio global. É imperativo que, à redução tributária, se siga a redução de custo de aquisição de um bem ou serviço e, por consequência lógica, aumento do volume de transações internacionais. Pois para haver a venda, há de haver a compra. Ao reduzir o custo de compra, amplia-se a possibilidade de venda. E através das rodadas de negociações, chegou-se a um limite, um teto, para a aplicação da tarifa nos países signatários. Tal cláusula do GATT permitiu a redução dos custos nas transações internacionais, a ideia de criar uma redução tarifária, visava ampliar as movimentações de bens e serviços no mundo, por meio de mais transações comerciais. E foi exatamente o que aconteceu com o advento deste acordo. Os países signatários do GATT gozaram, a partir de então, de um incremento em suas transações 13 CAVUSGI, S Tamer. Negócios Internacionai. p. 3 14 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional internacionais, com melhoras significativas em seus balanços de pagamentos. Os céticos podem até afirmar que ao importar bens e serviços a balança comercial de uma nação fica deficitária, o que incorre em redução da formação de riqueza do país, redução do PIB. Mas, no entanto, como uma nação irá exportar sem operar no caminho inverso? E a vantagem comparativa, como fica? Vale a pena fechar seu mercado? A redução tarifária é eficaz ou ineficaz? As questões relativas às políticas comerciais estão ligadas umbilicalmente a intervenção estatal na economia. Isto porque todas as políticas comerciais de uma nação são intervenções que os governos fazem nas importações e exportações. Por óbvio, se há uma intervenção estatal, havendo restrições sobre o comércio internacional de bens e serviços, há uma direta ameaça ao livre comércio, há um desequilíbrio nas transações internacionais. 3.2 Política Tarifária “Uma tarifa, a mais simples de todas as políticas comerciais, é um imposto aplicado quando se importa um bem14.” Onde se lê tarifas, entenda tributos nas importações. No Brasil, há pacificado na CF – Constituição Federal – e no CTN – Código Tributário Nacional – o Imposto sobre as Importações, conhecido no jargão do comércio exterior como II. Uma fonte de receitas para o Estado, por este motivo é a mais básica política comercial. Em verdade, o II é uma “proteção” ao mercado interno contra os bens provindos do mercado externo. Faz-se uma taxação de bens estrangeiro com o intuito de “igualar” seus valores aos bens similares no mercado nacional, concorrentes entre si. De forma bem sucinta, a tarifa – imposto sobre as importações – como instrumento de política comercial de uma nação, serve para tornarem iguais em valor os bens nacionais e estrangeiros, mas tal política é utilizada pelos Estados Nacionais como forma de “proteger” suas indústrias nacionais e seu mercado da “invasão” de produtos estrangeiros, taxando-os a fim de que, ou possuam o mesmo valor de um similar nacional, ou com valor mais elevado. 14 15 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional A facilidade com que os governos têm para utilizar a tarifa como política comercial é enorme, primeiro porque podem majorar ou reduzir as alíquotas deste tributo, segundo, por gozarem do Princípio de Soberania de seus Estados. “As tarifas são as políticas comerciais mais simples. No mundo moderno, a maioria das intervenções do governo no comércio internacional tomaoutras formas: subsídios à exportação, cotas de importação, restrições voluntárias à exportação e necessidade de conteúdo local, entre outras. Felizmente, uma vez entendidas as tarifas, não é tão difícil compreender esses e outros instrumentos do comércio.15” Por este motivo, por muitos anos, a tarifa foi, para algumas nações, a sua principal fonte de ingressos públicos. O que, ao advento do GATT, foi de difícil discussão a redução da base tarifária de algumas nações, tendo em vista o objetivo maior de liberalização do comércio mundial. Infelizmente, para algumas nações, até hoje, é muito difícil reduzirem suas tarifas exatamente por este motivo: são a forma principal, por vezes única, para a arrecadação de receitas públicas. 3.3 As Barreiras Não Tarifárias Comecemos pelo subsídio: Esta é a chamada tarifa ao contrário, isto porque visa reduzir os preços de bens e serviços a serem exportados. Assim, os governos, para incrementar as exportações em determinados setores, fazem um pagamento a uma empresa, setor econômico ou pessoa a fim de que o preço de exportação seja menor que o praticado no mercado interno. O Estado, com esta política, amplia o seu gasto em prol das exportações. Uma intervenção estatal que desequilibra o livre comércio. “Quando o governo oferece subsídios, os exportadores exportam o bem até o ponto em que o preço doméstico excede o preço estrangeiros pelo montante do subsídio16.” Embora os produtores tenham ganho, pois seus bens tornam-se mais baratos e tem a possibilidade de alcance dos mercados globais, os consumidores tem perdas, pois tal política não visa a redução de preços para o mercado nacional e, devido ao gasto público, a sociedade é que irá pagar pelo ganho dos produtores. 15 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.145 16 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.145 16 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Deve-se levar em conta que no mundo atual é visto uma série de confrontações políticas entre as nações no âmbito da OMC17 relativas às questões focadas em subsídios. Pois algumas nações sentem-se prejudicadas com os subsídios de alguns países em suas produções, levando a uma redução do valor do bem exportado, criando, com isso, uma deslealdade em vendas no mercado externo. Cotas de Importações: Outra ação estatal que visa restringir a entrada de determinados bens ou grupos de bens no país. Uma ação direta nas importações com o fim de determinar a quantidade que será autorizada a entrar neste país. Tal instrumento se efetiva por meio de emissão de licenças de importações, até o ponto em que a quantidade firmada é alcançada, neste ponto não há mais a possibilidade de importações dos bens, objeto da cota. O efeito é a redução da oferta do bem no mercado interno, o que pode causar, pela ideia na teoria de oferta e demanda, o efeito de aumentar o preço no mercado interno, pois os produtores nacionais sabem que não sofrerão tanta concorrência assim dos produtos internacionais, por ter o condão de controlar a quantidade de bens no mercado interno. Restrições Voluntárias à Exportação: Uma política bastante rara de acontecer, pois nenhuma nação deseja não vender aos mercados internacionais e não trazer divisas a seu país, não aumentando riqueza. No entanto, nos últimos anos, tem sido amplamente utilizada pelas nações no âmbito de suas negociações internacionais. “Uma RVE constitui uma cota sobre o comércio imposta pelo país exportador, não pelo importador. Seu exemplo mais famoso é a limitação às exportações de automóveis para os EUA aplicada pelo Japão após 198118.” Isso porque se trata de um tema bastante delicado e pode criar algumas outras restrições ao comércio entre as nações envolvidas neste processo. Por isto, trata-se de um acordo entre as partes – país importador com país exportador – com o objetivo de não se chegar a outras restrições entre os países no futuro e não vir a abalar as relações internacionais entre ambos. Necessidade de Conteúdo Local: Intervenção estatal perpetrada pela Lei. Trata- se de criar uma lei que demandará que um quinhão de um bem tenha sua produção executada em território nacional, ou ainda, que um projeto tenha parte de seus componentes oriundos da indústria nacional. Uma política que, também, visa certa 17 Organização Mundial do Comércio 18 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.147 17 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional substituição de importações, pois pode vir a forçar as organizações a se instalarem no mercado nacional que exige conteúdo local. O problema: e se a nação não oferece competitividade aos negócios ou não haja vantagem comparativa alguma para a produção neste local? A solução vista no mundo é a representação comercial desta empresa como forma de estratégia de internacionalização para fintar esta demanda legal. O elã da política de conteúdo local é, tal qual as cotas de importação, a proteção da indústria local. “Do ponto de vista dos fabricantes nacionais de autopeças uma regulamentação de conteúdo local protege tanto quanto uma cota de importação. Entretanto, do ponto de vista das empresas que devem comprar domesticamente, os efeitos são bastante diferentes. O conteúdo local não impõe um limite estrito às importações. Ele permite até que as empresas importem mais, desde que também comprem mais no mercado doméstico. Isso significa que, para o fabricante, o preço efetivo dos insumos será a média entre o preço dos insumos internacionais e dos nacionais”19. 4. O Ambiente Regulatório do Comércio Internacional 4.1 A OIC e o GATT Dos três organismos internacionais decididos pela criação em Breton Woods no ano de 1944, um não foi à frente, a OIC – Organização Internacional do Comércio. Mas das discussões da criação da OIC saiu um acordo básico chamado de GATT (General Agreement on Tariff and Trade) – Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio. “A terceira fase da globalização começou após o fim da Segunda Guerra Mundial. Quando a guerra terminou em 1945, havia uma considerada demanda reprimida por bens de consumo, bem como insumos para a reconstrução da Europa e do Japão. Os Estados Unidos foram o país menos afetado pela guerra e que se tornou a economia mundial dominante. Uma ajuda governamental maciça contribuiu para estimular a atividade econômica na Europa. Antes da guerra, as tarifas e outras barreiras comerciais eram altas, e havia controle rigoroso sobre a movimentação de moeda e capital. Vários países industrializados, como a Austrália, Inglaterra e Estados Unidos, buscaram de 19 KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. p.149 18 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional forma sistemática reduzir barreiras ao comércio internacional. O resultado desse esforço foi o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio (GATT, do inglês General Agreement on Tariff and Trade). Instituído na conferência de Bretton Woods, que reuniu 23 nações em 1947, o GATT serviu como fórum global de negociação para a liberalização de barreiras comerciais.”20 A ideia primaz do GATT era a de criar um gradualismo nas relações comerciais entre as nações signatárias do acordo. Assim, para criar este gradualismo, os objetivos eram a liberalização do comércio mundial, o qual seriam discutidos por meio de rodadas de negociações com a participação, inferências, discussões e análises de todos os membros signatários do GATT. Outro ponto presente nas negociações do GATT era, também, a liberalização dos investimentos.Os organismos responsáveis pelas finanças internacionais já haviam sido criados, faltava, então, os estímulos e a queda de barreiras ao IDE – Investimento Direto no Estrangeiro. Até o presente momento foram realizadas 17 rodadas, sendo a mais significativa a Rodada do Uruguai, onde, de fato, nasce o organismo de comércio mundial: a OMC – Organização Mundial do Comércio. E as rodadas forma bem- sucedidas, pois a partir do fim da Segunda Guerra Mundial as transações comerciais entre as nações se incrementaram e os IDEs foram crescentes. Um acordo comercial que foi capaz de reger todo um sistema multilateral de comércio durante 50 anos, até a sua substituição pela OMC em 1995. 4.2 A Rodadas de Negociações do GATT As primeiras rodadas de negociações do GATT diziam respeito tão somente a tarifas. Assim se sucedeu nas rodadas de Genebra, Annecy, Torquay, Genebra e Dillon, que foram realizadas entre 1947 e 1961. A partir de então a pauta foi mais extensa, tendo em vista a adoção de algumas barreiras não tarifárias por algumas nações, que começaram a “travar” o comércio mundial, foi discutida as questões relativas a dupping na Rodada Kennedy, ocorrida de 1964 e 1967. O resultado dessa discussão foram as medidas antidumping e a definição de esta pratica ser tomada como uma medida desleal de comércio. 20 Cavusgi, S Tamer. Negócios Internacionai. p. 4 19 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Em uma nova rodada de negociações, os países signatários do GATT ampliaram as suas discussões, agora ainda mais abrangentes, pois levaram em conta as discussões acerca de barreiras não tarifárias. É na Rodada de Tóquio em 1973 e 1979 que os países buscam resoluções para as barreiras não tarifárias, acordos plurilaterais de comércio e nasce a cláusula de habilitação. Era um tempo de turbulência mundial, onde o mundo inteiro se deparou em uma enorme crise, os choques do petróleo. Tal choque gerou uma enorme turbulência no mundo e as nações partiram para a “proteção” de seus mercados internos e indústrias. A rodada seguinte – a Rodada de Uruguai – foi a mais importante em todas as demais rodadas do GATT. Continuou-se a discussão acerca de barreiras tarifárias e não tarifárias, no entanto algumas inovações foram incluídas tais como o início das discussões sobre o comércio de serviços e direitos de propriedade intelectual, comércio agrícola mundial e a forma como seriam resolvidas as soluções de controvérsias. Mas o ponto culminante desta rodada se deu na cidade de Marrakesh no Marrocos, onde, no ano de 1994, os membros signatários tomaram a decisão da criação de um organismo internacional que regulasse o comércio global. Nascia, assim, a Organização Mundial do Comércio – OMC. 4.3 A OMC A tão esperada organização internacional para implementar, desenvolver e regular o comércio mundial havia nascido. Para as finanças dos países o organismo já havia sido criado em 1944, o FMI – Fundo Monetário Internacional – assim como o organismo responsável pelo desenvolvimento dos países o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento. “O GATT acabou transformando-se na Organização Mundial do Comércio (OMC), à medida que mais países aderiram a esse órgão multinacional. A Organização Mundial do Comércio representa um órgão um órgão governamental multilateral com poder de regulamentar o comércio e o investimento internacionais. A OMC visa assegurar que as transações internacionais sejam justas e eficientes e atualmente reúnem cerca de 150 nações21.” O ciclo para a governança global estava, finalmente, fechado. 21 Cavusgi, S Tamer. Negócios Internacionai. p. 25 20 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional A OMC possui algumas funções, mas sua principal é a de desenvolvedora do comércio global. Mas também administrar os mais diversos acordos internacionais entre as nações membros da OMC; atuar como mediar por ser ir como um fórum para as negociações internacionais entre nações; buscar a solução de controvérsias entre os seus membros, procurando solucioná-las. Como o comércio internacional é uma área de conhecimento e negócios bastante dinâmica, essa organização também age quanto à revisão das políticas comerciais dos países membros. Além de executar a formulação de políticas econômicas globais voltadas ao comércio e a cooperação com os mais diversos organismos internacionais. Como o GATT passou a ser gerido pela OMC, as rodadas de negociação continuaram ocorrendo. Assim, em 1996, houve a Rodada de Singapura. Esta firmou um acordo relativo ao comércio de produtos de tecnologia da informação e discutiu temas sobre: comércio e investimento; comércio e política de concorrência; facilitação de comércio; e transparência em compras governamentais. No ano de 1998, a Rodada de Genebra tratou sobre o comércio eletrônico. A rodada seguinte, Rodada de Seattle, a Rodada do Milênio tratou do comércio de produtos agrícolas em 1999. Em 2001, inicia-se a Rodada de Doha. Foi chamada de Rodada do Desenvolvimento, pois versou sobre a busca do desenvolvimento de nações menos favorecidas. A Rodada de Cancun, em 2003, reafirma os compromissos de Doha. Assim como, em 2005, na Rodada de Hong Kong. Em meio a brutal crise econômica internacional dos Subprime, a nova Rodada de Genebra, em 2009, discute a recuperação econômica, tema de enorme importância à época, bem como a redução da pobreza nos países em desenvolvimento. A nova rodada em Genebra tem por tema as mudanças climáticas e eliminação de obstáculos ao comércio de bens e serviços ambientais, no ano de 2011. O ano de 2013 trouxe ao mundo a Rodada de Bali, onde o tema quente foi a simplificação do comércio global, com a ideia de buscar permitir aos países em desenvolvimento mais opções para garantir segurança alimentar, volta-se aos países menos desenvolvidos com as políticas direcionadas à evolução de seus comércios. Em 2015, a Rodada de Nairobi a qual traz mais uma vez o tema de comércio de países menos favorecidos, mas conta com decisões sobre agricultura. 21 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional A estrutura organizacional da OMC tem em seu topo a Conferência Ministerial seguida pelo Conselho Geral, seguem-se então os Comitês e os Conselhos. Cláusula da Nação mais Favorecida Uma importante cláusula firmada na primeira reunião do GATT, onde se define um padrão de igualdade de comércio entre os países signatários. “Qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma Parte Contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país, será imediata e incondicionalmente estendido ao produtor similar, originário do território de cada uma das outras Partes Contratantes ou ao mesmo destinado22.” Esta cláusula denota um princípio de não discriminação com relação à origem de determinado bem, uma reciprocidade a todos os Estados signatários. 4.4 Sistema de Solução de Controvérsias À criação da OMC pelo Acordo de Marrakesh nasce um acordo multilateral com o objetivo de solucionar controvérsias ente os Estados membros da OMC. Tal acordo cria normas relativas a normas e procedimentos para a solução de controvérsias. A primeira regra do acordo é a do consenso negativo, onde prevê que a decisão sobre uma controvérsia somente terá valia com a concordância de todos os membros da OMC. Assim, caso haja alguma controvérsia, para dirimi-la, é necessário que todos os membros estejam de acordo com a medida a ser tomada. A segunda diz respeito à criação do órgão de apelação, que busca reavaliar a controvérsia e rediscutir. Na verdade, trata-se de um órgão de revisão de decisões antes da implementação da medida relativa à controvérsia.O desenho de um processo de controvérsia no âmbito da OMC segue a seguinte linha lógica. Primeiro há a consulta, onde ocorrem as discussões e negociações diretas sobre a controvérsia. Segue-se ao painel, momento em que um grupo fará o exame da controvérsia, suas defesas e argumentações em favor. Então, vai-se ao relatório final deste grupo, uma decisão sobre a controvérsia. A partir de então, virá o exame do órgão de apelação. E, por fim, a implementação da medida. 22 Fonte: Acordo do GATT 22 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Síntese Chegamos ao fim desta unidade. Aprofundamos nossos conhecimentos acerca do histórico, do terreno e dos acontecimentos no campo das políticas de comércio internacional. Pudemos conhecer alguns órgãos regulatórios, bem como marcos importantes para a relação entre as nações. Neste capítulo tivemos a oportunidade de: Aperceber a inserção do comércio internacional no desenvolvimento da humanidade; Afixar conceitos a respeito da economia de escala e entendimentos acerca da internacionalização da produção; Entender os legados das políticas de comércio internacional do século XX e a atualidade; Destacar as barreiras não tarifárias em vigor nas políticas internacionais; Aprofundar-se acerca do ambiente regulatório do comércio internacional (OIC e GATT); 23 Políticas de comércio internacional – Unidade I – O Comércio Internacional Bibliografia ESTEVIS, Emerson G. Z; BOECHART, Andréia M. da F; LEITE, Ademir C. Relações Econômicas Internacionais. Londrina. Editora e Distribuidora Educacional. 2017. KRUGMAN, Paul R.; OBSTFELD, Maurice; MELITZ, Marc J. Economia Internacional. 2015. [Minha Biblioteca]. TRIPOLI, Angela Cristina Kichinski. Comércio Internacional: teoria e prática. Curitiba. Intersaberes. 2016. [Minha Biblioteca].
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