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A Influencia da contracultura nos esportes de aventura

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APROFUNDAMENTO EM ESPORTES INDIVIDUAIS IV
ROTEIRO DE ESTUDOS ORIENTADOS – REO1
DOCENTE: RAONI PERRUCCI TOLEDO MACHADO 
DISCENTE: RODRIGO DE SOUZA ALVES
Entendendo as práticas corporais (esporte) como patrimônio histórico é importante para compreender as nuances relacionadas à cultura e às práticas socias da contemporaneidade, este texto faz uma breve reflexão, explorando como o movimento de contracultura em meados dos anos sessenta influenciou direta e indiretamente nas atividades corporais de aventura praticadas na natureza.
Considera-se a contracultura como um movimento de rejeição e questionamento das ideias de sociedade, das relações de poder ligados a uma estrutura dita dominante. Essa definição é muito ampla e por isso, é preciso considerar a partir de uma perspectiva historiográfica que percebe a contracultura como todas as manifestações feitas por seres humanos organizados, contestando os modelos tradicionais de sociedade do mundo ocidental. Tendo seu início nos EUA e Reino Unido na década de 1950 (geração beat), num cenário pós segunda guerra, a contracultura foi o movimento de juventude que discordava profundamente dos padrões embutidos numa sociedade construída e alicerçada nos parâmetros: judaico-cristão, conservador, consumista e patriarcal. As ideias que surgiram para a formação de contracultura são de origens aparentemente variadas, porém tendo o objetivo revolucionário de liberdade como pauta comum entre os jovens. O contexto também fez o movimento ganhar força, pois muitos estavam desiludidos com a realidade da época, principalmente, segundo historiadores, sob a tensão de uma possível terceira guerra mundial (Guerra Fria), entre outros eventos como a guerra do Vietnã, crise dos mísseis em Cuba, e também o assassinato do presidente norte americano John F. Kennedy em setembro de 1963 (GRUNENBERG, et al). 
A contracultura realizava ajuntamentos e festivais em massa (Woodstock em 1968 e Glastonbury em 1978), de agitação fervilhante e de liberdade artística, onde a juventude, poetas, músicos entre outros artistas se reuniam para criticar a guerra e os padrões de sociedade, através da música como o rock-and-roll, do contato com a natureza e da desmitificação da sexualidade, do corpo e do consumo de drogas. Um comportamento que viesse romper com as “regras do jogo” (PEREIRA, 1986), através de um ideal revolucionário (TELES, 1998) ao questionar a realidade política e social, na qual o indivíduo deveria desprender-se das amarras de uma sociedade capitalista, religar-se à natureza e aproveitar o lazer e a contemplação do belo. A contracultura se fortalecia no final da década de sessenta onde o movimento atingia seu auge e já alcançava o restante do ocidente com sua visão de transformar o mundo, perpassando a virada do século e influenciando o nosso cotidiano até hoje. 
Além de tocar o campo das artes, da economia, da educação, entre outros, a contracultura também influenciava a ascensão de novos esportes e atividade físicas na natureza. No Brasil por exemplo, as práticas corporais se adaptavam aos anseios locais e sociais da juventude, ao devaneio, ao risco e a aventura (HONORATO, 2004). O surfe por exemplo, foi um novo hábito que se desenvolveu num contexto contra cultural entre jovens que já experimentavam naquela época, diferentes esportes na natureza, nas areias (vôlei de praia, peteca, frescobol) e na água (caça submarina e mergulho). O que a princípio era algo importado se transformou em referencial de liberdade e prática de muitos (ALVES e MELO, 2017), vale lembrar que o contexto político brasileiro vivenciava um regime de ditadura, sendo assim, tais nuances, se tornavam ainda mais necessárias, principalmente na sociedade juvenil, que ansiavam por uma liberdade de expressão e discussão de pensamentos, o que na época era por si só um movimento reflexivo da contracultura. Houveram também na década de 1970 alguns ajuntamentos e festivais da cultura do surfe, bem como as primeiras competições a nível nacional, os chamados Festivais Brasileiros de Surfe. Em conjunto com os campeonatos, aconteceu o festival de música Som, Sol e Surfe organizado pelo produtor musical Nelson Motta. Parte desses festivais foram realizados na Região dos Lagos, entre 1975 e 1978 (ALVES e MELO, 2017). Nesses momentos, a cidade era ocupada por jovens que acampavam nas praias de Saquarema e Itaúna, local popular para os praticantes de surfe, muitas vezes chamados de “exóticos” ou estigmatizados como vagabundos e delinquentes com seus estereótipos que iam contra aos valores arcaicos da sociedade conservadora carioca.
Do mar para as ruas, na mesma época, a prática do surfe também ia tomando outro ambiente: o asfalto, em mini pranchas feitas sobre rodas. A prática radical bem popular entre os jovens, vai ocupando lugar nos espaços urbanos das grandes cidades, protagonizando também o movimento de contracultura. Desse modo, o aparecimento desses novos esportes é traduzido como forma de escape da vigilância comportamental imposta pela sociedade (FOUCAULT, 1999), as atividades físicas de aventura provavelmente tenham se multiplicado por se mostrarem como forma de fugir da ordem imposta pelo próprio esporte (CANTORANI; PILATTI, 2001). O processo de esportivização do skate enquanto modalidade no Brasil se forma após a realização do primeiro campeonato de Skate, realizado em 1975 no parque municipal no Bairro Imperial de São Cristóvão, localizado na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Os registros fotográficos do evento revelam o punk, outro traço marcante no movimento da contracultura, através de características do público expectador e participante: cabelos compridos, roupas mais largas, de cores fortes e estilo desajeitado. Entre o fim da década de oitenta e início da década de noventa a prática do skate presenciou formas distintas no tratamento de alguns líderes do poder executivo, como por exemplo na cidade de São Paulo. Na época na gestão de Jânio Quadros, a prática do skate havia sido proibida em toda a capital; porém após muita resistência dos praticantes da periferia e com a prefeita Luiza Erundina, o skate fora legalizado tornando-se um esporte de ascensão (BRANDÃO, 2014). 
Apesar de nem todos relacionarem as ideias contraculturais com as práticas esportivas dessa época (ALVES e MELO, 2017), é possível notar que houve uma confluência entre as atividades de aventura com certas noções da contracultura e consequentemente essas ideias cunharam para essas modalidades uma concepção que evidenciaria de forma definitiva a sua trajetória.
REFERENCIAS:
ALVES, Vladimir Zamorano; MELO, Victor Andrade. Um novo barato: surfe e contracultura no Rio de Janeiro dos anos 1970. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 39, n. 1, p. 2-9, 2017.
BRANDÃO, Leonardo. De Jânio Quadros a Luiza Erundina: uma história da proibição e do incentivo ao skate na cidade de São Paulo. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História, v. 49, 2014.
CANTORANI, José Roberto Herrera; PILATTI, Luiz Alberto. O nicho dos esportes radicais: um processo de civilização ou descivilização. VI Simpósio Internacional Processo Civilizador, p. 264-272, 2001.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 1999.
GRUNENBERG, Christoph; HARRIS, Jonathan; HARRIS, Jonathan P. (Ed.). Summer of Love: Psychedelic Art, Social Crisis and Counterculture in the 1960s. Liverpool University Press, 2005.
HONORATO, Tony et al. Uma história do skate no Brasil: do Lazer à Esportivização. Associação Nacional de História–Núcleo regional de São Paulo. XVII Encontro Regional de História: O lugar da História/Sylvia Bassetto, coordenação geral. anais... campinas: UNICAMP, 2004.
TELES, Adriana de Almeida. Woodstock e a contracultura: um olhar sobre os E. U. A. dos anos 60. 1998. 40 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 1998.
PEREIRA, Carlos Alberto Messeder. O que é contracultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
Filme/Documentário
PERALTA, Stacy. Dog Town and Z-Boys: Onde Tudo Começou. EUA:Alliance Atlantis, 2001. disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7YKPEDayb_U/ acesso em 13 de junho de 2020. Ficha Técnica: Título Original: Dogtown and Z-Boys. Distribuição: Sony Pictures Classics/ Imagem Filmes 2001.

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