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Modos de Narrar o Texto Jurídico: Discurso Direto e Indireto O discurso relatado caracteriza as vozes do discurso alheio, isto é, a presença do outro no discurso. Na descrição de algumas formas de discurso relatado estão o discurso direto e o discurso indireto, que são modos de relatar o discurso de outrem. Para se compreender esse procedimento linguístico, é preciso estar consciente de que há, sempre, um discurso citante, o discurso de quem está produzindo o texto e um discurso citado, aquele discurso utilizado para complementar ou ilustrar o discurso citante. No corpo textual da narrativa jurídica, muitas vezes, é importante atribuir uma fala ou comentário a uma das partes. Nessas situações, pode-se recorrer a diferentes modos de organização da linguagem para informar o que foi dito por alguém, fazendo uso do discurso direto e indireto. Sempre que o narrador apresenta a fala integral das partes, sem qualquer interferência, diz-se que ocorreu o uso do DISCURSO DIRETO. As narrativas costumam marcar o discurso direto com o uso de travessões ou aspas para identificar a fala da personagem. O discurso direto caracteriza-se pela presença de verbos dicendi, aqueles que servem para introduzir a fala da outra pessoa (dizer, afirmar, responder, declarar, definir), de verbos da área semântica de perguntar (indagar, adquirir, questionar, interrogar) e de verbos sentiendi, os que expressam estado de espírito, reação psicológica da pessoa que fala, emoções (gemer, suspirar, lamentar (-se), queixar-se, explodir). Os verbos dicendi e sentiendi não só podem abrir (preceder) o diálogo, como também encerrá-lo. Ex.: 1) O Réu declarou: “Eu sou inocente”. 2)“Eu sou inocente” – declarou o Réu. Atenção! O discurso direto – que é uma citação direta – se faz muito presente em busca da argumentação por autoridade para alcançar convencimento ou persuasão. Para fundamentar suas razões, no campo jurídico, citam-se doutrinadores e jurisprudências, muitas vezes, ocupando tais estratégias a maior parte do corpo do texto produzido. No entanto, deve-se evitar o uso do discurso direto na narrativa jurídica porque o advogado deve mostrar, em seu texto, a sua competência linguística por meio de uma linguagem própria, autônoma, narrando e descrevendo com sua própria linguagem o que a parte lhe relatou sobre o caso concreto, buscando maior veracidade para os fatos narrados. Quando o advogado, em lugar de apresentar a fala da (s) parte (s) em seu texto, as reconstrói por meio da sua linguagem, tem-se a ocorrência do DISCURSO INDIRETO. Ex.:1) O Réu declarou que era inocente. 2) Na audiência de instrução e julgamento, realizada em 29/08/2013 (quinta-feira), foram ouvidas duas testemunhas de acusação que, cada uma a seu turno, disseram ter visto Diogo pular o muro da residência da vítima e de lá sair, cerca de vinte minutos após, levando uma mochila cheia. · O discurso indireto caracteriza-se, geralmente, pela presença de verbos dicendi e sentiendi, pela conjunção integrante que ou se e pela alteração, de tempos verbais, advérbios e pronomes. Algumas alterações nas estruturas gramaticais quando há mudança do discurso direto para o indireto O discurso indireto é uma paráfrase do que foi proferido pelo enunciador citado. A paráfrase é uma técnica amplamente utilizada, principalmente nos textos jurídicos, pois é uma reescritura de texto sem alterar o seu conteúdo. Em Direito, os representantes legais das partes processuais, por exemplo, ao elaborarem a narrativa jurídica, sempre fazem paráfrase daquilo que foi narrado por elas, em um discurso indireto, respeitando-se a modalidade culta da língua. Dessa forma, percebe-se que a narrativa jurídica é profundamente influenciada pelo texto do outro; não é um texto puro, mas sim um intertexto. Entretanto, o advogado da parte tem sua criatividade tolhida: é impossível – e ilegal – que os fatos sejam expostos de forma diferente daquela apresentada pela parte, sob pena de se alterarem os próprios fatos, o que seria uma litigância de má-fé, além de envolver questões ético-profissionais Polifonia no discurso jurídico No discurso jurídico, indicar as vozes que compõem o relato é importantíssimo. Na fundamentação, citam-se trechos de lei, de jurisprudência e de doutrina como argumentos de autoridade. Essas vozes associadas à voz do orador trazem maior credibilidade ao que se está defendendo. Relevância da polifonia na sentença · Pleno entendimento do caso. · Julgamento imparcial. Obs.: Toda intertextualidade é um exemplo de polifonia. Entretanto, nem toda voz em um texto é considerada uma intertextualidade. As vozes de testemunhas em uma narrativa jurídica é uma polifonia (vozes), mas não é uma intertextualidade. Para ser intertextualidade precisa ser um texto (uma voz) previamente conhecido dentro de outro. Leiamos o relato de uma sentença para verificarmos exemplos de polifonia. SENTENÇA: Vistos etc. O Representante do Ministério Público Federal ingressou com a presente ação criminal contra L.L.L, qualificado na inicial de fls. 02, como incurso nas sanções dos arts. 129, “caput”, e 331, c/c o art. 69, todos do Código Penal, por ter, sucessivamente, desacatado e agredido o Patrulheiro Rodoviário Federal FFF, no dia 12 de fevereiro de 1997, na Rodovia BR-235, no Município de Itabaina /SE, quando este procedia à lavratura de um auto de infração de trânsito, cometido por um terceiro. Narra a denúncia que, após várias pessoas terem solicitado ao patrulheiro relevar a falta, as quais se encontravam próximas do evento, o denunciado, sendo mais incisivo e motivado por anterior discussão com o aludido policial, passou a dirigir-lhe ofensas verbais, inclusive com ameaças, tendo-lhe desferido um tapa no seu rosto e, após ser perseguido, voltou a produzir novas lesões na vítima, agora utilizando-se de um pedregulho. Laudo de Exame de Lesões Corporais às fls. 13 e 14. Recebida a denúncia (fl. 64), e estando prejudicada a proposta de suspensão do processo, nos moldes previstos no art. 89, da Lei nº 9.099/95(fls. 35, 47, 48, 63 e 129), foi procedido o interrogatório do Réu (fls. 81 e 82). Em seu interrogatório, o acusado nega ter agredido o policial rodoviário, esclarecendo que ao avistar um seu colega autuado pelos patrulheiros, encaminhou-se ao local e, por encontrar-se embriagado, tropeçou e acabou por esbarrar em um deles, originando toda a confusão. Informa mais, por ouvir dizer, que uma pessoa conhecida por “Branquinho”, teria sido o autor da pedrada que acertou o policial. Foram ouvidos o ofendido, cujas declarações encontram-se a fls. 145 e 146, e duas testemunhas de Acusação, cujos depoimentos encontram-se a fls. 147 e 182. Também foram colhidos os depoimentos de três testemunhas arroladas pela defesa (fls. 213, 214/215 e 234) No prazo do art. 499, do CPP, o M.P.F nada requereu (fl. 236-v.). A defesa do acionado, apesar de intimidada para os fins do art. 499, do CPP, manteve-se silente (fls. 238/239 e 240). O Ministério Público Federal, em suas razões finais (fls. 241 e 242), à vista das provas coligidas aos autos, e pela aplicação do princípio da consunção, requer a condenação do Réu nas sanções do art. 331-desacato -, do Código Penal, cuja conduta absorveria o crime de lesões corporais leves. A fls.246 a 251, as alegações finais do acusado.... No mérito, o Réu nega ter desacatado o policial rodoviário e, mesmo, lançado contra ele uma pedra, ocasionando-lhe as lesões descritas no laudo pericial. Argumenta pela insistência de dolo específico face ao estado de embriaguez, conforme se depreende da prova testemunhal produzida, não se podendo considerar, assim, a conduta do agente como típica. Pugna, ao final, pela sua absolvição. É o relatório.
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