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Nota de Aula Direito da Seguridade Social – 22/04/2020 Prof. Tiago Amorim BENEFÍCIOS EM ESPÉCIE – PARTE III (AUXÍLIO-ACIDENTE) DEFINIÇÃO O auxílio-acidente é um benefício previdenciário pago mensalmente ao segurado acidentado como forma de indenização, sem caráter substitutivo do salário, pois é recebido cumulativamente com o mesmo, quando, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza – e não somente de acidentes de trabalho –, resultarem sequelas que impliquem redução da capacidade para o trabalho que habitualmente exercia – Lei n. 8.213/1991, art. 86, caput. Por força da MP n. 905/2019, será devido somente enquanto persistirem as condições que ensejaram sua concessão. Na hipótese de manutenção das condições que ensejaram o reconhecimento do auxílio-acidente, este será devido até a véspera do início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. Não há por que confundi-lo com o auxílio-doença: este somente é devido enquanto o segurado se encontra incapaz, temporariamente, para o trabalho; o auxílio-acidente, por seu turno, é devido após a consolidação das lesões ou perturbações funcionais de que foi vítima o acidentado, ou seja, após a “alta médica”, não sendo percebido juntamente com o auxílio-doença, mas somente após a cessação deste último – Lei n. 8.213/1991, art. 86, § 2º. BENEFICIÁRIOS Têm direito ao recebimento do auxílio-acidente o empregado (urbano, rural e doméstico), o trabalhador avulso e o segurado especial, conforme se observa dos arts. 18, § 1º, com a redação conferida pela LC n. 150/2015, e 39, I, da Lei n. 8.213/1991. O benefício em questão passou a ser devido em relação a acidentes de qualquer natureza (e não só acidentes do trabalho) a partir da redação conferida pela Lei n. 9.032/1995, não se aplicando a acidentes não ligados ao trabalho ocorridos até 29.4.1995. Em compensação, a redação original do art. 86 da Lei n. 8.213/1991 previa o cabimento de tal benefício a acidentes sofridos por presidiários que exercessem atividade remunerada, o que deixou de ser previsto com a redação dada pela Lei n. 9.032/1995. Contribuintes individuais e segurados facultativos não fazem jus a esse benefício, segundo a interpretação dominante, por não estarem enquadrados na proteção acidentária (art. 19 da Lei n. 8.213/1991). Nesse sentido: TRF4, AC 0023410- 26.2014.404.9999, 5ª Turma, Rel. Juiz Federal Luiz A. Bonat, DE de 26.4.2016; AC 0003072-26.2017.4.04.9999, TRS-SC, Rel. Des. Paulo A. B. Vaz, DE 5.4.2018). “O segurado especial, cujo acidente ou moléstia é anterior à vigência da Lei n. 12.873/2013, que alterou a redação do inciso I do artigo 39 da Lei n. 8.213/91, não precisa comprovar o recolhimento de contribuição como segurado facultativo para ter direito ao auxílio-acidente.” (REsp 1.361.410/RS, 1ª Seção, DJe 21.2.2018) A Previdência Social passou a conceder o auxílio-acidente no período de graça somente a partir da nova redação do art. 104, § 7º, conferida pelo Decreto n. 6.722, de 2008. A restrição até então adotada na via administrativa não encontrava amparo legal. E a qualidade de segurado é mantida enquanto for recebido o auxílio-acidente. Nesse sentido, art. 137, I, da IN INSS/PRES n. 77/2015; TNU PEDILEF 0502859- 55.2014.4.05.8312, julgamento em 16.6.2016). É devido o benefício a partir da data em que a perícia médica do INSS concluir, após a consolidação das lesões decorrentes de acidente de trabalho ou não, haver no segurado sequela definitiva enquadrada nas situações do Anexo III do Regulamento da Previdência Social, ensejando redução da capacidade funcional, considerando-se, para este fim, a atividade realizada na época do acidente (§ 8º do art. 104, inserido pelo Decreto n. 4.729, de 9.6.2003). PERÍODO DE CARÊNCIA A concessão do auxílio-acidente independe do número de contribuições pagas, mas é preciso ter a qualidade de segurado. Vale dizer, dependentes de pessoa que nunca tenha contribuído para o RGPS, ou tenha perdido a qualidade de segurado, não fazem jus a este benefício. DATA DE INÍCIO O benefício tem início a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença, independentemente de qualquer remuneração ou rendimento auferido pelo acidentado, ou, na data da entrada do requerimento (DER), quando não precedido de auxílio-doença. Salienta-se que o agendamento via internet ou pelo telefone 135 sequer preveem o requerimento de auxílio-acidente, sendo, portanto, inadmissível a exigência de prévio ingresso na via administrativa neste caso – Súmula n. 89 do STJ, presumindo- se daí que a perícia do INSS indeferiu o auxílio-acidente quando da cessação do auxílio-doença. Quando a matéria é levada a juízo, incumbe ao perito judicial identificar a existência ou não de sequela geradora do direito, não podendo se esquivar de elaborar laudo conclusivo – favorável ou contrário – à matéria, sob pena de nulidade do feito por cerceamento do direito de defesa dos interesses do segurado. RENDA MENSAL INICIAL TRF4 – Súmula n. 105: “Inexiste óbice à fixação da renda mensal do auxílio-acidente em patamar inferior ao salário mínimo, uma vez que tal benefício constitui mera indenização por redução de capacidade para o trabalho, não se lhe aplicando, assim, a disposição do art. 201, § 2º, da Constituição Federal”. Dúvidas surgem quanto ao cálculo da renda mensal do auxílio-acidente quando o salário de benefício apurado seja inferior ao salário mínimo. A jurisprudência do STJ entende que, embora não seja cabível a fixação do auxílio-acidente em valor igual ou maior que o salário mínimo, o salário de benefício que lhe serve de base não pode ser inferior ao mínimo legal, acarretando que o valor pago a título de renda mensal inicial do auxílio-acidente seja de, pelo menos, 50% do salário mínimo vigente ao tempo da concessão: RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ART. 86, § 1º, DA LEI 8.213/91. AUXÍLIO- ACIDENTE. 50% DO SALÁRIO DE BENEFÍCIO. O art. 201 da Constituição Federal estabelece que a previdência social atenderá à cobertura dos eventos decorrentes de acidente do trabalho, nos termos da lei. A Lei n.º 8.213/91, em seu art. 86, § 1º, dispõe que o auxílio-acidente corresponderá a 50% do salário de benefício do segurado, que, por sua vez, não será inferior a um salário mínimo, nem superior ao limite máximo do salário de contribuição na data do benefício. Recurso provido. (REsp 263.595/PB, 5ª Turma, Rel. Ministro Jorge Scartezzini, DJ 8.10.2001). Súmula n. 507 do STJ, que possui o seguinte teor: “A acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria pressupõe que a lesão incapacitante e a aposentadoria sejam anteriores a 11/11/97, observado o critério do artigo 23 da Lei 8.213/91 para definição do momento da lesão nos casos de doença profissional ou do trabalho”. SUSPENSÃO OU CESSAÇÃO DO AUXÍLIO ACIDENTE: O auxílio-acidente deixou de ser vitalício e passou a integrar o salário de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício de qualquer aposentadoria. Essa disposição, contida no art. 31 da Lei n. 8.213/1991, foi restabelecida pela Lei n. 9.528, de 10.12.1997, pondo fim a uma interminável polêmica. o segurado terá direito e será devido o benefício somente enquanto persistirem as sequelas. Isso pode levar o INSS a efetuar revisões periódicas para verificar essas condições. O auxílio-acidente não cessa pela percepção de salários, muito menos pela condição de desemprego do beneficiário. Quando o segurado em gozo de auxílio-acidente fizer jus a um novo auxílio-acidente, em decorrência de outro acidente ou de doença, serão comparadas as rendas mensais dos dois benefícios e mantido o benefício mais vantajoso. MANUTENÇÃO DO AUXILIO ACIDENTE CUMULADO COM APOSENTADORIA DE OUTRO REGIME O art. 129 do Decreto n. 3.048/1999 dispõe que “o segurado em gozo de auxílio- acidente terá o seu benefício encerrado na data da emissão da certidão de tempo de contribuição”. Com a devida vênia,a leitura do art. 86 da Lei do RGPS não autoriza tal interpretação. A normatização interna do INSS prevê, também de modo ilegal, a cessação do benefício de auxílio-acidente “quando da emissão de certidão de tempo de contribuição”, situação que não guarda nenhuma congruência com a Lei n. 8.213/1991, tampouco com o Regulamento. Por tal razão, a jurisprudência vem rechaçando o procedimento: A MERA EMISSÃO DE CERTIDÃO DE TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO NÃO AUTORIZA O CANCELAMENTO DO AUXÍLIO-ACIDENTE. EVENTUAL CUMULAÇÃO DE AUXÍLIO-ACIDENTE COM APOSENTADORIA POR TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. VIABILIDADE, NO CASO EM TESTILHA. AUXÍLIO-ACIDENTE CONCEDIDO EM CARÁTER VITALÍCIO, OU SEJA, ANTERIORMENTE AO ADVENTO DA MEDID PROVISÓRIA 1596-14 DE 10 11.97. DIREITO ADQUIRIDO. RECURSO IMPROVIDO. (TJSP, AI 7513305600, 16ª Câmara de Direito Público, Rel. Des. Valdecir José do Nascimento, publ. 8.5.2008). Bibliografia: AMADO, Frederico. Curso de Direito e Processo Previdenciário. 9. ed. São Paulo: Juspodivm, 2017. LAZZARI, João Batista; CASTRO, Carlos Alberto Pereira de. Manual de Direito Previdenciário. São Paulo: Forense, 2020. MARTINEZ, Wladimir Novaes. Curso de direito previdenciário. 7. ed. São Paulo: LTr, 2017.
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