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ANÁLISE INTERPRETATIVA_ HABEAS CORPUS Nº 82 424 DO STF

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UNIFG – CENTRO UNIVERSITÁRIO 
CURSO: DIREITO 
DISCIPLINA: DE HERMENÊUTICA JURÍDICA 
DOCENTE: GUILHERME ALCANTARA 
DISCENTE :JADER BATISTA DE SOUZA 
 
 
 
ANÁLISE INTERPRETATIVA: HABEAS CORPUS Nº 82.424 DO STF 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE INTERPRETATIVA DOS VOTOS DO HABEAS CORPUS Nº 82.424 
NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 
 
Ocorreu em 2003, o STF julgou em um Habeas Corpus, pela prisão imposta ao 
editor Siegfried Ellwanger no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por crime de 
racismo ao discriminar judeus. Este processo que teve início em 1991, em que o 
paciente foi absolvido em primeira instância. Ao interpor recurso o Tribunal de 
Justiça do Rio Grande do Sul condenou com penal de dois anos e reclusão, por 
motivo de fazer apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias contra judeus, 
por meio ter vendido livros obras anti semitas de sua autoria, que incentiva a 
discriminação racial, com sentimento de ódio e preconceito contra o povo de origem 
judaica. Diante desse cenário a defesa do paciente impetrou o habeas corpus. 
Depois de alguns pedidos de vista, no dia 17 de setembro de 2003 ocorreu o seu 
julgamento. 
O positivismo jurídico regulamenta que a norma é objeto da ciência jurídica, sendo 
essa ciência autônoma em relação às outras. Com isso o direito é visto como um 
processo dinâmico, que cria normas a ser aplicadas em casos concretos. Sendo 
que o texto da norma é considerado um suporte, pois o que será aplicado é a 
interpretação. Se baseando nas principais correntes positivistas do direito será feita 
uma análise dos votos dos ministros deste habeas corpus, com a finalidade de 
identificar qual o método e a forma de interpretação que cada ministro utilizou. Na 
conclusão serão analisadas as escolas hermenêuticas, com foco nos princípios 
pontos que os ministros argumentaram. 
Neste caso em análise o principal motivo da discussão é qual o alcance do delito de 
racismo? Como delimitar o conceito de racismo? É possível qualificar todas as 
discriminações neste delito? Essas questões são problemas de interpretação que 
surgiram através da junção da norma que regulamenta o racismo com o caso 
concreto. Para resolver é utilizar algum destes meios interpretativos: gramatical, 
lógico, sistemático, histórico, sociológico, teleológico, axiológico, que serão 
discutidos no decorrer do trabalho. Ministro Moreira Alves (RELATOR) 
 
O Ministro apresentou definições de raça e questionou se os judeus são uma raça, 
citou vários autores judeus, e então, concluiu que eles não são raça e sim parte de 
uma entidade religiosa, sendo assim, o paciente não se enquadra no delito de 
racimo. Diante destas justificativas concedeu o habeas corpus, pois já houve a 
prescrição do delito.Para se chegar nesse entendimento foi utilizado o meio 
interpretativo gramatical, pois analisa a literalidade do texto da norma, sendo que a 
norma traz a palavra raça, com isso, buscou o seu significado correto, e logo após 
aplicou a prescrição do delito, pois entendeu que o crime de racismo só alcança a 
raça negra. Também é possível perceber interpretação histórica, pois ele cita a 
emenda que deu origem ao inciso XLII do artigo 5º da Constituição Federal. Por 
meio desta interpretação buscou os antecedentes históricos da norma, junto com o 
sentido que ela possuía no tempo da sua elaboração. Destaca-se o elemento 
histórico, que ele cita como importante meio para interpretar a Constituição: ​O 
elemento histórico - que, como no caso, é importante na interpretação da Constituição, 
quando ainda não há, no tempo, distância bastante para interpretação evolutiva que, por 
circunstâncias novas, conduza a sentido diverso do que decorre dele- converge para dar a 
“racismo” o significado de preconceito ou de discriminação racial, mais especificamente 
contra a raça negra. (BRASIL, 2004, p. 13) 
 
Ministro Mauricio Corrêa O ministro analisou o conceito de raça e concluiu que 
existe a raça do povo judeu, sendo que as ideias incentivadas no livro trariam riscos 
a convivência dos judeus no país. Diante disso o ministro votou contra o habeas 
corpus.Durante o seu voto foi utilizado a interpretação gramatical para definir o 
conceito de raça para poder aplicar o que está regulamentado, pois as palavras 
que são utilizas na norma são consideradas um ponto de partida para começar 
a interpreta-la. . 
 
O ministro apresentou a Resolução 623 da Assembleia Geral da ONU, de 1998, em 
que fala sobre o antissemitismo como forma de intolerância racial, utilizando assim a 
interpretação sistemática, pois transcorre todo o ordenamento jurídico buscando 
analisar a norma de uma forma completa. Ele também apresentou varias decisões 
de Cortes Internacionais, entre elas a da Califórnia e da Inglaterra. 
Importante destacar o comentário que ele faz em relação à interpretação da 
Constituição: “[...] proceda a uma interpretação teleológica e sistêmica da Carta 
Federal, a fim de conjugá-la com circunstâncias históricas, políticas e sociológicas, 
para que se localize o sentido da lei para aplicá-la” (BRASIL,2004, p. 41). 
Ministro Celso de Mello 
Em seu voto esclareceu que só existe uma raça em todo o planeta, que é a espécie 
humana, deixando claro que vai além de uma definição antropológica ou biológica, 
pois esse conceito tem uma abrangência cultural e social. Afirma também que a 
liberdade de expressão tem um campo vasto, porém deve se limitar a expressões 
que tratem de ódio racial, pois agindo assim vai contra valores da ordem 
constitucional. Diante desse entendimento indeferiu o habeas corpus. Ao analisar o 
conceito de racimo foi perceptível a utilização do meio interpretativo gramatical, 
como explicado acima. O ministro utilizou vários documentos internacionais 
(exemplo: Preâmbulo da Constituição da UNESCO), que promovem a eliminação de 
qualquer forma de discriminação, utilizando o método de interpretação 
logico-sistemático, em que faz uma comparação com o caso concreto com outros 
meios a fim de estabelecer uma relação. É possível perceber esta interpretação nas 
presença das decisões do STF sobre 
a extensão dos direitos e garantias individuais, por motivo do caso analisado ter 
choque entre liberdade de expressão e a dignidade da pessoa humana. 
 
Ministro Gilmar Mendes 
Primeiramente o ministro deixa claro que o principal foco da discussão é o alcance 
do termo racismo, para assim entender se a conduta praticada pelo paciente é ou 
não racista. Isto posto, o ministro investiga o conceito de racismo de um ponto de 
vista histórico, ao analisar diversos autores, entre ele Noberto Bobbio, e chega a 
conclusão que a conduta do paciente tem um caráter racista do antissemitismo, 
dando como exemplo uma afirma de Hitler 
que diferencia os judeus dos arianos, afirmando que os arianos são uma raça 
superior. Com estas relações, o ministro faz uma interpretação histórica próxima, 
que é o analise das circunstancias que precedem a elaboração da norma. 
 
Assim sendo, o ministro entendeu que o conceito jurídico do racismo não se 
distancia das condutas antissemitas, considerando assim a atitude do paciente uma 
conduta racista. Diante disso o ministro afirmou que se faz necessária e 
proporcional a condenação,indeferindo o habeas corpus. Com a definição de 
racismo, do ponto de vista histórico, apresentou a interpretação gramatical e 
histórica, pois as palavras que contem nas normas não possuem significando único, 
podendo se diferenciar no decorrer do tempo. 
Foram analisadas também as questões internacionais, em que vários países, dentre 
eles o Brasil, se comprometem em combater o racismo, juntamente com atitudes 
antissemitas. Com isso fica perceptível a interpretação sistemática, em que junta um 
aglomerado de normas, para se formar em uma só unidade. Foi discutida também a 
liberdade de expressão garantida pela Constituição Federal, afirmando que em um 
país que tem um sistema democrático é importante a liberdade expressão, pois 
garante ao povo a sua vontade e a formação da sua consciência. Também 
questiona o juízo de proporcionalidade, concluindo que a liberdade de expressão 
não pode 
prejudicar a dignidade humana, visto que estamos em uma sociedade pluralista, e 
em situação em que tenha conflito de princípios constitucionais distintos, deve se 
perceber o peso relativo de cada um, aplicando a 
 
adequação, a necessidade e a proporcionalidade em sentido estrito. Na junção da 
analise destes princípios foi utilizado o meio de interpretação sistemática, em que 
compara o ordenamento jurídico de forma integral para se referencial ao caso 
concreto, vinculando outros sistemas de lei. 
Ministro Carlos Velloso 
O ministro afirmou que o antissemitismo é um meio de racismo, pois nos livros 
analisados, os judeus são tratados como raça, configurando o racismo. Para 
entender houve uma analisa do artigo que regulamenta o racismo. Em relação ao 
termo raça afirma que somos todos integrantes da raça humana, e que atitudes 
discriminatórias a determinados grupos humanos caracteriza o racismo. Com esse 
entendimento, indeferiu o habeas corpus. 
Com o questionamento sobre o racismo e a raça, o ministro utiliza o método de 
interpretação gramatical, podendo considerar também o meio teleológico, pois 
através da conceituação destes termos, busca a finalidade da norma, tentando 
alcançar a intenção do legislador. 
Analisou a liberdade de expressão, afirmando que esse direito não tem caráter 
absoluto, pois em um conflito de direitos fundamentais deve haver uma preferencia 
pelo direito que mais protege os demais direitos e garantias da Constituição Federal. 
Com esta analise percebe a interpretação sistemática, em que se verifica o direito 
como um todo, analisando todas as disposições possíveis de forma harmônica para 
melhor encontrar a resposta. 
É também possível identificar este meio de interpretação citado acima, no momento 
em que o ministro utiliza os direitos humanos para justificar o seu voto, analisando a 
Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU, em que a uma mobilização da 
população em geral para protegê-los. Também analisa a Constituição Federal, 
afirmando que a mesma tem como principal 
finalidade estabelecer os princípios fundamentais, dentro eles a dignidade da 
pessoa humana. 
 
Ministro Nelson Jobim O ministro compreendeu que os judeus são uma raça, e que 
o livro foi editado com a intenção de incentivar o antissemitismo e não por motivos 
históricos, formando o delito do racismo. Sendo assim são amparados pela 
imprescritibilidade do delito de racismo. Diante disso, negou o habeas corpus. 
O ministro analisa fortemente os trechos do livro para poder chegar a sua 
conclusão. Com o exame do conceito de raça, faz-se uma interpretação gramatical, 
em que já foi citada acima. 
É possível também perceber a interpretação histórica, no momento em que o 
ministro apresenta o conceito de racismo em torno da historia da Constituição 
Federal. 
Ministra Ellen Gracie A ministra apresentou o conceito de raça e racismo pela 
enciclopédia judaica (1960), que afirma a divisão da humanidade por raças 
diferentes, tendo todos uma origem comum. Relembrou fatos acontecidos da 
década de 60, levando ao entendimento que não existem várias raças e sim apenas 
uma raça humana. Com estes meios utilizados pela ministra é possível perceber a 
intepretação histórica próxima, pois ela verifica as situações que precederam a lei, 
numa tentativa de entender da forma mais correta a norma. 
Com isso afirmou que o racismo é praticado contra uma cultura históricosocial, e 
caso haja uma limitação do alcance da lei contra o racismo apenas a raça, teria uma 
grande diminuição da sua importância. Devendo esta lei ter uma abrangência contra 
qualquer assunto sociocultural. Sendo assim, denegou o habeas corpus. Nesta 
busca pela compreensão do racismo é utilizado o meio gramatical, podendo 
destacar também o meio interpretativo teológico, pois ela busca finalidade da 
norma, buscando os fins sociais. 
 
Ministro Cezar Peluso 
O ministro entendeu que a Constituição não adotou um conceito rigoroso, e sim um 
conceito normativo sobre o racismo, devendo ser interpretado de forma ampla para 
não se limitar a proteger quantidade mínima de pessoas. Sendo assim concluiu que 
o habeas corpus não procede. Diante do conceito da raça, teve uma interpretação 
gramatical e também teleológica, foi explicado acima. 
Importante destacar que ele afirmou que o exegeta tem o dever de reaver da 
Constituição Federal, utilizando a interpretação teológica, o conceito jurídico-penal 
do racismo, devendo amplia-lo para ter uma norma com todos os valores jurídicos 
tutelados. 
Ministro Carlos Ayres Britto 
O ministro elaborou um voto diferente de todos os outros, pois afirmou que a 
denúncia da pratica do delito se deu após a publicação da lei incriminadora, pois até 
essa data o preconceito racial não se configuravab através de meios de 
comunicação ou publicação de qualquer natureza, ou seja, na data da reedição dos 
livros não havia sido publicada a lei incriminadora, sendo que a lei não é anterior ao 
fato. Sendo assim, absolveu o paciente. Além disso, discutiu o choque entre 
princípios jurídicos, a dignidade da pessoa humana e a liberdade de expressão, 
declarando a importância das atitudes democráticas e do valor da liberdade. 
Percebe-se que a analise foi feita por meio da interpretação sistemática, pois teve a 
intenção de analisar a norma em questão com outras normas da Constituição e 
fazer uma interpretação interdependente, em relação ao mesmo objeto. 
É possível perceber a interpretação sistemática quando o ministro cita a Lei de 
Imprensa e a Lei de Segurança Nacional, que apresentam situações que não 
configuram abuso do exercício da liberdade de manifestação do pensamento e de 
informação, entre elas a exposição de doutrina ou ideia e trabalhos com criticas 
literários. 
 
Ministro Marco Aurélio 
O Ministro cita a liberdade de imprensa e a importância de resguarda-la, analisando 
a Declaração do Direito do Homem, na França do ano de 1789, que declara a 
importância da livre manifestação do pensamento. Cita também alguns 
acontecimentos históricos que decorrerão da restrição do direito a liberdade de 
expressão. Diante da importância que este direito tem na nossa Constituição, o 
ministro afirma que ele dá suporte a participação democráticada população, pois 
através dele a população não teme uma repressão do governo ao expressar sua 
opinião, construindo assim uma sociedade livre e pluralista. Com isso, é perceptível 
a interpretação histórica próxima, ao analisar situações passadas, e também a 
interpretação sistemática, pois tentar estabelecer uma harmonia entre a norma e 
outros sistemas jurídicos para conseguir encontrar o melhor significado. Em seu 
voto usa exemplos de decisões da Suprema Corte Americana, 
em que decidiram a favor da liberdade de expressão em situações parecidas com o 
caso analisado, e complementa relatando que o livro apenas demonstrou o seu 
ponto de vista em relação a historia dos judeus. Com esta justificativa, ele afirma 
que existe a prescrição punitiva, deferindo o habeas corpus. 
O ministro busca auxilio nas decisões de jurisprudências relativas ao princípio da 
liberdade de expressão, entre elas a Suprema Corte Americana e corte 
constitucional Alemã, também cita a importância dos direitos fundamentais 
analisando a sua tolerância, fazendo uma interprete sistemática da norma. 
Também analisa a historia do racismo na constituição brasileira, fazendo uma 
interpretação histórica. Vale a pena destacar a fala do ministro, que demonstra o 
melhor método para interpretar a Constituição Federal: “A interpretação das normas 
Constitucionais não pode ser feita a partir de normas ordinárias. As normas 
Constitucionais, por originarem todo o sistema jurídico, definem o caminho que a 
legislação ordinária deve seguir. 
 
Ministro Sepúlveda Pertence Primeiramente há uma analise do conceito 
sociocultural de raça,juntamente com a apresentação da história do racismo, assim 
fica claro que não é necessária a comprovação da existência de uma raça para 
afirmar que houve o delito. Para praticar o racismo é necessária a presença de um 
grupo humano diferenciado, assim, no caso analisado constituiu o racismo. Ao 
analisar trechos do livro chegou à conclusão que o livro não foi escrito como fonte 
de revisão histórica e sim com a intenção de incitar o odeio aos judeus. 
Diante disso o ministro denegou o habeas corpus. Com a análise do conceito de 
raça e racismo e o que é necessário para praticar o delito tem se a intepretação 
gramatical e a interpretação teleológica, com a intenção de destacar a finalidade da 
norma. O ministro relatou que o livro incita a prática do racismo, não podendo ser 
vista apenas como uma forma de contar uma história. Em relação a liberdade de 
expressão, ela é vista como um direito, porém ela não tem a finalidade de imunizar 
uma responsabilidade civil ou penal. Com isto o ministro faz uma interpretação 
sistemática, fazendo uma junção de vários sub-ramos do direito com a finalidade de 
entender por meio de temas divergentes. 
O ministro analisou o artigo que regulamenta a pratica do racimo e afirma que pode 
ser da de três maneiras: praticar, instigar, incitar ou induzir. 
Sendo assim, realizou uma interpretação gramatical ao analisar as expressões do 
texto legal. 
CONCLUSÃO 
Diante do exposto, é perceptível que a intenção dos votos dos ministros neste 
habeas corpus foi fazer uma analise profunda em relação ao alcance da do delito do 
racismo, se a discriminação á judeus configura racismo. Diante deste debate foi 
realizada uma analise do texto legal, de decisões de outros países, a busca pelo 
conceito de raça e de racismo, entre outros, para compreender o significado o 
sentido da norma. 
Durante o acordão é possível identificar algumas escolas hermenêuticas dos votos. 
No momento em que alguns ministros apresentam decisões de outros Tribunais é 
possível perceber a jurisprudência analítica, que vê o direito como um conjunto de 
precedentes judiciais.

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