Buscar

O que é literatura

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 5 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Centro Educacional SESC Cidadania
 Formando Cidadãos
 Goiânia, ____/____/____ Ano: 9º
 Turma: _____ nº_____
 Nome do(a) Aluno(a): _______________________________________________________ 
 Professor(a): Élin Cunha
Disciplina: Literatura
A LINGUAGEM VERBAL NA ARTE: LITERATURA
Afinal, o que é literatura?
Você já ouviu a palavra literatura, mas talvez não saiba ainda dizer o significado dela. Neste caso, mais importante é você entender do que se trata, em vez de tentar gravar o sentido do termo. Agora que você já percebe o que representa viver numa cultura, já é capaz de perceber que a arte é uma atividade cultural em meio a outras e já capta a importância da palavra em nossa sociedade, você está habilitado a entender o que é literatura.
Literatura é o nome que tem sido dado às produções artísticas que utilizam o código verbal, isto é, a língua. Embora haja literatura oral (letras de música e poesia popular, textos teatrais, por exemplo), a maior parte dos textos literários, hoje, é escrita para se destinar à leitura silenciosa.
Vamos imaginar o conjunto de todos os textos do mundo. Ele se divide em dois subgrupos: textos literários e textos não-literários. Os dois conjuntos possuem elementos comuns, ponto de interseção, que vão depender da época, certos discursos políticos são apreciados como literários, em outra, não.
Normalmente, hoje, textos não-literários são os científicos, os filosóficos, os noticiosos, entre outros. Mas há textos que estão na interseção e, dependendo de suas características e finalidades, podem ser considerados ou não como literários. É o caso, por exemplo, de muitas biografias, narrativas de memórias ou mesmo de certos trechos de jornal.
Poderíamos tentar distinguir o texto literário do não-literário com base no verdadeiro e no inventado. De fato, os textos científicos e jornalísticos devem estar calcados em fatos reais, e a literatura tem sua origem na imaginação do escritor, mesmo quando ela se vale de dados reais.
No entanto, às vezes é impossível separar o verdadeiro do inventado. Pense nas “fofocas” e ficará de acordo com isso. Na literatura, o leitor fica na mesma condição de quem ouve uma “fofoca”: será? Não será? Mas as semelhanças acabam aí, pois, no caso da “fofoca”, o ouvinte pode resolver tirar tudo a limpo e, no caso da literatura, o leitor, se quiser mesmo ler, vai ter de “embarcar” no que lhe dizem e ler tudo como se fosse verdade, embora saiba que pode ser pura imaginação. Isso porque o texto literário, como arte que é, cria sua própria “verdade”, através da linguagem. Por exemplo, quando Manuel Bandeira diz:
Sou bem nascido. Menino
fui como os demais, feliz;
depois veio o mau destino
e fez de mim o que quis.
Pouco importa que tenha ou não sido assim mesmo a infância do poeta. Para nós, que lemos seus versos, o sentimento e a vivência passam como se fossem reais. Essa é a magia da arte literária.
O artista da palavra consegue essa magia porque sabe criar contextos em que a linguagem revela sentidos pouco evidentes no uso cotidiano. Nesses contextos verbais inesperados, as palavras mostram possuir outros sentidos – conotativos – ocultos sob seu significado próprio – denotativo. Repare nos textos a seguir:
a. “O coração é um músculo oco, de fibras estriadas, revestido externamente pelo pericárdio e dividido por um septo vertical em duas metades. (...) Em cada contração do coração, o sangue é bombeado, com uma certa pressão, para o interior dos vasos sangüíneos (artérias, arteríolas, capilares, vênulas e veias).”
(Demétrio Gowdak)
b. Ah, um soneto...
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaço.
Mas – esta é boa! – era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?...
 (Álvaro de Campos)
Ambos os textos descrevem o coração. Em ambos há “músculos” e “movimento/ contração”. A primeira oração dos dois textos apresenta pontos marcantes de semelhança: 1. sintática – sujeito + predicado nominal; 2. métrica e musical – a do 1º texto tem 9 sílabas, a do 2º tem 10; rima quase perfeita entre “oco” e “louco”.
Mas com exceção desses aspectos, predominam as diferenças, referentes aos contextos, aos modos de usar a linguagem.
Por um lado, o texto a encontra-se num livro de Ciências, enquanto o texto b se acha num volume de poemas. Como há uma relação dinâmica entre livro e leitor, este já parte para a leitura “esperando” a linguagem científica num caso e a poética no outro. Desse modo, a não-literariedade do texto a e a literariedade do texto b acabam se definindo de antemão, por causa do próprio contexto “livro”.
A esta altura, você poderá apontar um detalhe: ambos os textos apareceram para você não num livro de Ciências nem num livro de poesia. Aqui é um texto onde se mencionam vários tipos de linguagem. Como decidir pela literariedade do texto b?
É o caso de analisar então o contexto em que a palavra “coração” aparece. Em ambos os casos ela é o núcleo do sujeito, mas isto não define seu sentido como denotativo ou conotativo. Tudo se esclarece, porém, do segundo termo das orações em diante – o predicativo do sujeito: atribuir ao “coração” a característica de “músculo oco, de fibras estriadas...” conduz o leitor à compreensão nítida de que “coração” tem como referente o órgão encarregado de bombear o sangue pelo corpo. Todas as palavras se ajustam umas às outras, reunindo-se num contexto em que a denotação – o sentido próprio – evidencia-se de tal modo que impossibilita a interpretação livre de cada termo. Cabe ao leitor um sentido único, que não lhe exige o senso imaginativo.
Agora observe como o autor do texto b trabalha com a mesma palavra: quando descreve o “coração” do eu-poético como “um almirante louco”, ele mistura elementos de contextos bem diversos – corpo humano e mundo da navegação. Você sabe que no universo real é impossível a um órgão do corpo tornar-se um navegante – nem importa se “louco” ou não. O que aconteceu então? O poeta metamorfoseou o mundo “real” num mundo “verbal”. O texto não é mais cópia da realidade – é uma realidade em si mesmo. Nesta realidade, “coração” deixa de indicar denotativamente “parte do corpo” e carrega-se da conotação – sentido segundo – “de mundo afetivo, sede abstrata dos sentimentos, centro do universo emocional”.
Além disso, “almirante louco” permite múltiplas interpretações individuais – cada leitor colabora no texto com sua própria visão de como seria um “almirante louco” e, por extensão, cada um também terá uma imagem pessoal desse “coração” poeticamente maluco.
Assim, podemos afirmar que, de um modo geral, um texto se define como literário quando sua proposta semântica resulta num discurso aberto à participação do leitor.
O TEATRO
Há histórias literárias que são escritas para serem representadas. São chamadas peças teatrais. Quando assistimos a alguma peça, os atores falam e agem diante de nossos olhos, há cenário, figurinos, música nos momentos adequados, luzes etc. Isso não faz parte da literatura, mas de uma outra arte: o teatro. Literário dentro da peça é o texto, isto é, aquilo que os atores devem falar, constituindo a base verbal da história que está sendo representada. Ler uma peça pode ser cansativo, pois parece estar faltando algo. De fato, está faltando o espetáculo teatral, complemento indispensável ao texto literário que se destina ao teatro.
A PROSA DE FICÇÃO
Há histórias literárias, narradas em prosa, destinadas a serem lidas por indivíduos que ora “devoram” livros inteiros,ora lêem devagar, um pouquinho de cada vez. São histórias que normalmente aparecem em livros, mas podem aparecer em revistas e mesmo em jornais chamados de literários. São histórias que às vezes são contadas em trezentas páginas, outras vezes em três. Costuma-se, no Brasil, dividi-las em três tipos básicos: romances, novelas e contos. 
Chamamos qualquer romance, novela ou conto de prosa de ficção. Prosa porque nenhum deles emprega o verso para narrar as histórias. De ficção porque se trata de histórias baseadas na imaginação do escritor e, mesmo quando calcadas na realidade, não podem ser confundidas com uma notícia ou como uma verdade científica.
AS HISTÓRIAS EM VERSOS
Será que existe jeito de contar histórias em verso? Claro que existe: são os chamados poemas narrativos, muito cultivados em épocas mais antigas. Hoje, quem quer contar uma história prefere a prosa de ficção. Entretanto, ainda encontramos bons poemas narrativos de autores contemporâneos, como “Caso do Vestido”, de Carlos Drummond de Andrade.
OS TEXTOS SEM HISTÓRIA
Até agora falamos de histórias narradas para leitura silenciosa. Vimos que essas histórias recebem nomes especiais, de acordo com suas características. Mas, como só falamos em textos que contam histórias, fica a dúvida: afinal, há textos que não contam histórias?
Existem, sim, tais textos, desde a Antigüidade, e em grande número. São textos chamados de líricos, porque antigamente eram recitados com acompanhamento da lira. Geralmente aparecem em verso, embora existam também em prosa são textos que tratam de emoções (desejos, dores, revoltas, entusiasmos, amores etc.), sem narrar acontecimentos. Sua força reside na própria linguagem, que se torna mais densa, mais sugestiva e muito mais carregada de recursos sonoros que a prosa de ficção. Quando você estudar os gêneros literários entenderá isso melhor.
1. RECAPITULANDO
1. Literatura é o tipo de arte que utiliza o código verbal (a língua), falado ou escrito.
2. Não há limite rígido entre a língua literária e a não-literária. Essa distinção vai depender da época e do contexto cultural.
3. A linguagem do texto não-literário é predominantemente denotativa. No texto literário prevalece a pluralidade de sentidos (linguagem conotativa).
4. Grande parte dos textos literários conta histórias. Elas podem ser divididas em histórias para teatro e histórias para leitura silenciosa (excepcionalmente, esta pode ser feita em voz alta). Os textos que não contam história são líricos.
5. As histórias para teatro se destinam a ser representadas. Neste caso, transforma-se o texto literário em parte do espetáculo teatral.
6. Além das peças teatrais, há outros textos que contam histórias e que constituem a prosa de ficção. Estes se subdividem em romances, novelas e contos.
2. ENTENDENDO O TEXTO
1. O que se entende por literatura?
2. Por que, algumas vezes, torna-se difícil distinguir textos literários de não-literários? Exemplifique.
3. Relacione o teatro com a prosa de ficção. Em que aspectos estes tipos de arte se aproximam. Em que se distinguem.
4. Cite a diferença básica entre o poema narrativo e o poema lírico.
5. Dê um exemplo de texto lírico. Justifique.
3. TRABALHANDO
1. Seu livro de Geografia é composto de textos literários ou não? Justifique.
2. Um tratado de Física escrito em versos é literário ou não? Justifique.
3. Leia o seguinte texto:
MARLENE: A senhora quer acertar minhas contas?
HELENA: Por quê, Marlene?
MARLENE: Porque vou sair, é claro.
HELENA: Que foi que aconteceu?
MARLENE: Fique a senhora sabendo que não sou nenhuma cativa.
HELENA: Claro, Marlene. Eu disse isso alguma vez?
MARLENE: Disseram! Felizmente houve uma Princesa Isabel.
HELENA: O mesmo digo eu. Quero saber que motivos tem para sair.
MARLENE: Dona Helena! Durante todo o mês, cada vez que seu Antenor me via, dizia que eu tinha cabeça boa para coques, e lombo ótimo para chibata. Amanheceu hoje me chamando de nega cativa! O que a senhora está pensando? Trabalho aqui porque quero, e saio também a hora que quiser. Pode acertar minhas contas.
HELENA: Ora, Marlene! Papai não sabe o que faz!
MARLENE: Não sabe? Eu, hein!
HELENA: Trato você tão bem, Marlene.
MARLENE: Não adianta.
HELENA: Pago o ordenado que quer, deixo sair quantas vezes deseja; só porque papai diz umas tonturas, vai me deixar sozinha?
MARLENE: Sou preta com muito orgulho! Não me troco por muito branco que existe por aí.
HELENA: Pode ficar sossegada, que isso não vai se repetir.
MARLENE: É bom, mesmo.
HELENA: Se continuar, melhoro seu ordenado.
MARLENE: Mas, a senhora já sabe: o dia em que seu Antenor entrar por essa porta, saio imediatamente pela mesma. Nega cativa! Eu, hein! (Sai)
O trecho que você leu pode ser parte de texto para teatro? Justifique.
Matinal
Sobre as ondas mansas brincam os bancos.
Diante dos meus olhos matinais,
as coisas se ordenam simples e perfeitas:
o céu, o mar, teu corpo.
Ah, o teu corpo!
Meus olhos brincam sobre o teu corpo.
Nenhuma nuvem na minha alma.
 (Emílio Moura)
4. Sobre o texto acima:
a. Quais os principais elementos que permitem caracterizá-lo como lírico?
b. Que palavras do poema conotam sentidos diferentes do usual?
c. Observe a elevada quantidade de “emes” e “enes” no poema. Pensando na paisagem – marinha e humana – descrita pelo eu-poético, tente explicar quais seriam os efeitos semânticos conotativos da presença marcante dessas consoantes.
d. Comente o lirismo que há na fusão entre paisagem natural e “paisagem” corporal.
e. Crie um texto de linguagem predominantemente conotativa, que comece com: “Meu coração é um almirante louco...”
5. TEXTO SUPLEMENTAR
Explique por que o seguinte texto constitui um exemplo de prosa de ficção:
AMÂNCIO
Acordei por volta de duas horas, e fui escrever. Depois da noite que passara talvez suponha que fiz versos. Pois engana-se: fiz contas.
Revi o meu livro de assentos, dando balanço à minha fortuna, que então orçava por uma quinzena de contos. Era bem pobre; mas estava independente, formado, no ardor da mocidade e sem encargos de família. Já tinha a intenção de estabelecer-me aqui; e antes de começar a vida árida e o trabalho sério do homem que visa ao futuro, queria dar um último e esplêndido banquete às extravagâncias da juventude.
Quem melhor do que Lúcia me ajudaria a consumir as migalhas que me pesavam na carteira, e me embelezaria um ou dois meses da vida que eu queria viver por despedida? Separei o necessário para a minha subsistência durante dois anos; e com a fé robusta que se tem aos vinte anos, rico de esperanças, destinei o resto ao festim de Sardanapalo*, onde eu devia queimar na pira do prazer a derradeira mirra da mocidade.
Tendo registrado no meu budget, com um simples traço de pena, a importante resolução, saí para matar a sede de ar, de sol e de espaço que sente o homem depois de sono tardio e enervador. Espadei o corpo pela Rua do Ouvidor; o espírito pelas novidades do dia; os olhos pelo azul cetim de um céu de abril e pelas galas do luxo europeu expostas nas vidraças.
Era um domingo; o ócio dos felizes desocupados tinha ganhado o campo e os arrabaldes. Encontrei por isso poucos conhecidos e fria palestra.
Queria fazer horas para ir ver Lúcia. Com os hábitos de voluptuosa indolência, que tomam as mulheres a quem faltam os cuidados domésticos, não era natural que tão cedo fosse visível. Para ocupar-me dela, entrei em casa do Valais, o joalheiro do bom-tom.
Comprei, não o que desejava, mas o que permitiam as minhas finanças. Só os milionários gozam do prazer de medir a sua liberalidade pela efusão do sentimento; entretanto o desejo avulta justamente onde míngua a fortuna. Tinha escolhido uma dessas galantarias de ouro e brilhantes, que custam algumas centenas de mil-réis, e valem um capricho, uma tentação, um sorriso de prazer.
(José de Alencar. Lucíola. São Paulo. Ática. 1990.)
* Festim de Sardanapalo): Sardanapalo é um lendário rei da Assíria, descendente da fabulosa Semíramis. Conforme a lenda, costumavapromover inúmeras festas, em busca de prazeres sensuais. (N.E.)

Continue navegando