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1 GOIÂNIA – 2020/1 UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA PROF. GILBERTO REIS EDUCAÇÃO FÍSICA 2 7. CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA DO TRONCO E DA COLUNA VERTEBRAL O esqueleto axial é formado pela cabeça e pelo tronco, e este último pode ser subdividido em caixa torácica e coluna vertebral. A caixa torácica é constituída pelo esterno e pelas costelas e tem como principal função a proteção dos órgãos vitais (coração e pulmões), e seus movimentos auxiliam na respiração. Já a coluna vertebral, é um segmento complexo e funcionalmente significativo do corpo humano e apresenta como principais características a necessidade de conciliar flexibilidade e estabilidade, que são conseguidas graças à sua construção em peças superpostas (as vértebras), ligadas por elementos musculares, ligamentares e fibrosos (os discos intervertebrais). Além disso, funciona como um elo entre as extremidades superior e inferior. A coluna vertebral A coluna vertebral consiste de uma pilha de 33 vértebras, divididas estruturalmente em cinco regiões, sendo sete vértebras cervicais, doze vértebras torácicas, cinco lombares, cinco sacrais (fundidas) e quatro pequenas vértebras coccígeas (fundidas). CERVICAIS TORÁCICAS LOMBARES SACRAIS COCCÍGEAS 3 As vértebras não são iguais. Devido às necessidades mecânicas e funcionais, cada região apresenta uma característica específica. A primeira vértebra cervical é chamada de atlas e se articula diretamente com o osso occipital do crânio, apresentando desta maneira um formato específico para facilitar este encaixe. A segunda é chamada de àxis e tem como característica uma protuberância, formando uma articulação em pivô, a atlantoaxial. As demais vértebras cervicais, as torácicas e as lombares, apresentam um formato semelhante, diferindo principalmente pelo seu tamanho. Em particular, as vértebras lombares são maiores e mais espessas, porque quando se assume a posição ereta cada vértebra terá de sustentar todo peso das estruturas que estão acima, incluindo partes do tronco e os membros superiores. Este aumento no tamanho serve para diminuir o estresse e é acompanhado por um aumento nos discos intervertebrais. Uma vértebra típica consiste de um corpo, um arco e processos ósseos espinhosos e transversos. Cervical Torácica Lombar 4 Os arcos neurais e os lados posteriores dos corpos e discos intervertebrais formam uma passagem protetora para a medula, chamado canal vertebral. Os processos espinhosos e transversos funcionam como forquilhas destinadas a aprimorar a vantagem mecânica dos músculos inseridos. As articulações facetárias e os discos proporcionam cerca de 80% da capacidade da coluna resistir á torção e ao cisalhamento, com metade sendo parte das articulações facetárias, que ainda é responsável por sustentar cerca de 30% das cargas compressivas, principalmente quando a coluna se encontra em hiperextensão. Discos intervertebrais As articulações entre os corpos vertebrais são sínfises com discos fibrocartilaginosos interpostos que funcionam como coxins. Quando o tronco fica ereto, as diferenças na espessura anterior e posterior dos discos produzem as curvaturas da coluna. O disco intervertebral é constituído por duas estruturas funcionais: um anel externo espesso formado por cartilagem fibrosa, chamado anel fibroso (ânulo) que circunda um material gelatinoso central, chamado núcleo pulposo. O 5 ânulo é formado por cerca de 90 faixas concêntricas, com suas fibras colagênicas se cruzando em ângulos de 30º, tornando esta estrutura mais sensível à cargas rotacionais do que compressivas, tensivas ou de cisalhamento. Por outro lado, o núcleo apresenta características semelhantes às da cartilagem articular, com grande parte de seu volume formado por líquido e proteoglicanos, o que o torna uma estrutura especialmente preparada para absorver cargas compressivas. Estruturas funcionais dos discos intervertebrais Mecanicamente, o ânulo funciona como uma mola espiralada cuja tensão mantém juntos os corpos vertebrais contra a resistência do núcleo pulposo, e este agindo como um rolamento. Durante a flexão e a extensão, os corpos vertebrais rodam sobre o núcleo, enquanto as articulações facetárias orientam os movimentos. Discos intervertebrais 6 Os movimentos de flexão, extensão e flexão lateral da coluna produzem estresse compressivo em um lado do disco e estresse de tração do outro, enquanto durante a rotação, a principal forma de estresse sobre o disco é de cisalhamento. Quando um disco é sobrecarregado em compressão, tende simultaneamente a perder água, como nas cartilagens articulares e que pode acarretar alterações na estatura total do indivíduo na ordem de 2 cm, com mais da metade desta alteração acontecendo nos primeiros 30 minutos. Quando cessa a carga, os discos reabsorvem líquido novamente e seu voluma aumenta (intumescência). Fluxo de líquido do interior dos discos intervertebrais Algumas lesões e o processo natural de envelhecimento reduzem a capacidade dos núcleos dos discos reabsorverem líquido, o que compromete sua 7 capacidade de absorver cargas compressivas. Com esta diminuição, boa parte da carga antes suportada pelos discos passa a ser absorvida pelas articulações facetárias, que além de provocar uma diminuição na estatura, podem sofrer ações degenerativas que provocam dor e podem causar desvios posturais. Ligamentos Inúmeros ligamentos sustentam a coluna contribuindo para estabilidade dos segmentos móveis. O poderoso ligamento longitudinal anterior e o ligamento longitudinal posterior, mais fraco conectam os corpos vertebrais nas regiões cervicais, torácicas e lombares. Ligamentos longitudinais anterior e posterior O ligamento amarelo reúne as lâminas das vértebras desde o áxis até o sacro, revestindo internamente o canal vertebral. Estes são constituídos por tecidos elásticos amarelos, que se alongam quando estendidas durante a flexão e se encurtam durante a extensão, aumentando sua espessura nas regiões mais inferiores da coluna. O ligamento amarelo fica sob tensão até mesmo quando a coluna está na posição anatômica, aprimorando a estabilidade e criando uma situação de compressão constante nos discos intervertebrais. 8 Ligamento amarelo e supraespinal O ligamento supraespinal se insere nos processos espinhosos de toda a coluna, com um aumento na região cervical onde é chamado de ligamento nucal ou do pescoço. LLA LLP L Amarelo LSE Longitudinal posterior R 9 Curvaturas vertebrais Quando vista no plano sagital, a coluna apresenta quatro curvaturas normais. As curvaturas torácica e sacral são côncavas anteriormente e estão presentes desde o nascimento e são chamadas de curvatura primárias. As curvaturas cervical e lombar são côncavas posteriormente e surgem em decorrência da sustentação do corpo na posição ereta, sendo conhecidas como curvaturas secundárias. Curvaturas da coluna As curvaturas exageradas são conhecidas como desvios posturais e com o passar do tempo podem causar lombalgias. O aumento da curvatura lombar é conhecido como hiperlordose lombar e pode ser causado pelo enfraquecimento dos músculos abdominais ou uma inclinação pélvica anterior. A 10 curvatura torácica exagerada é chamada de hipercifose dorsal ou torácica e surge principalmente na adolescência ou em idosos. Ainda, podemos verificar curvaturas laterais da coluna, as escolioses, que podem se apresentar em C ou em S. Movimentos da coluna A coluna vertebral pode realizar movimentos nos três planos, porém, a amplitude dos movimentos como um todo é um resultado da somatória de pequenas amplitudes que acontecem entre as vértebras adjacentes.No plano sagital a coluna realiza os movimentos de flexão, extensão e hiperextensão. No plano frontal são verificados os movimentos de flexão ou inclinação lateral, enquanto que no plano transversal podemos verificar os movimentos de rotação. A amplitude total e parcial de cada movimento é apresentada nos quadros abaixo. Nível Flexão Extensão Total Coluna cervical 40 º 75 º 115 º Coluna dorso-lombar 105 º 60 º 165 º Coluna lombar 60 º 35 º 95 º Total ( Plano mastigador ) 110 º 140 º 250 º Valores máximos . Existem variações individuais e em função da idade . Nível Inclinação Coluna cervical 35 a 45 º Coluna dorsal 20 º Coluna lombar 20 º Total 75 a 85 º Valores máximos . Existem variações individuais e em função da idade . 11 Músculos da coluna e tronco Na parte posterior da coluna o principal músculo é o eretor da espinha, constituído pelos músculos espinal do tórax, o longuíssimo do tórax e o iliocostal do lombo. Estes músculos tem como principal ação a extensão (hiperextensão) da coluna e ficam ativos durante ações em que precisamos manter a postura ereta em pé ou sentados. São músculos com características de resistência, não sendo preparados para a realização de esforços em altas intensidades. Nível Rotação Coluna cervical 45 a 50 º Coluna dorsal 35 º Coluna lombar 5 º Pelve - Crânio 90 a 95 º ( * ) ( * ) Existem ainda alguns graus de rotação na articulação occipito - atlóide . Espinal do tórax Longuíssimo tórax Iliocostal do lombo Semi-espinal 12 Os principais músculos abdominais são o reto abdominal, e os oblíquos internos e externos. Funcionando bilateralmente, estes músculos são os principais flexores vertebrais. 13 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. BANKOFF, A. D. P. Morfologia e cinesiologia aplicada ao movimento humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. 2. HALL, S. Biomecânica Básica. 5ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 3. HAMILL, J., KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. 4. JUNQUEIRA, L. C. e CARNEIRO, J. Histologia Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 5. LIBER, R. L. Skeletal muscle structure and functions, 1 ed. Baltimore, Williams & Wilkins, 1992. 6. LIMA, C. S., PINTO, R. S. Cinesiologia e musculação. Porto Alegra: Artmed, 2006. 7. NORDIN, M., FRANKEL, V. H. Biomecânica básica do sistema musculoesquelético. 3ª edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2003. 8. NEUMANN, D. A. Cinesiologia do aparelho musculoesquelético. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 9. POWERS, S. K. e HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício. 1.ed. São Paulo: Manole, 2000. 10. RASCH, P. J. Cinesiologia e anatomia aplicada. 7ª edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1989. 11. WHITING, W. C., ZERNICKE, R. F. Biomecânica da lesão musculoesquelética. 1ª edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 2001.
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