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ARTIGO
A extinção da punibilidade na Nova Lei de
Repatriação
18/01/2016 14h00 Guilherme Brenner Lucchesi
A Presidente da República sancionou em 13 de janeiro de 2016 a chamada “Lei de
Repatriação” (Lei n.º 13.254, de 2016), que institui o Regime Especial de Regularização
Cambial e Tributária (RERCT ) de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados
ou declarados incorretamente, remetidos, mantidos no exterior ou repatriados por residentes
ou domiciliados no País. Com isso, permitiu­se que patrimônio mantido no exterior, ainda que
irregularmente, com a prática de crime, possa ser reintroduzido no Brasil, mediante tributação
e multa. A sanção, porém, foi acompanhada de mensagem de veto a diversos dispositivos da
Lei. Despertou a atenção da comunidade jurídica a supressão da exigência de trânsito em
julgado de decisão penal condenatória para impedir a adesão de réus criminais ao RERCT.
Argumenta­se que tal veto feriria a garantia constitucional de presunção de inocência, na
medida em que réus condenados apenas em primeiro grau, mesmo que na pendência de
recursos, não possam aderir ao regime.
É importante elucidar, primeiramente, o que é o RERCT. Por meio desta política, quaisquer
recursos ou patrimônio que tenham sido remetidos ou mantidos fora do país sem declaração à
Receita Federal ou mediante declaração omissa ou incompleta até a data limite de 31 de
dezembro de 2014 podem ser regularizados mediante repatriação, desde que sua origem seja
lícita e que o requerente da repatriação não seja detentor de cargo público ou seu parente.
Interessante notar que a definição de origem lícita engloba até mesmo certas práticas
criminosas, a saber: sonegação fiscal, sonegação de contribuição previdenciária, falsidade
documental ou ideológica, evasão de divisas e a lavagem de dinheiro, desde que a lavagem se
restrinja a estes crimes passíveis de regularização. Com isso, após os devidos trâmites
perante a Receita Federal, os recursos ou patrimônio que se encontram fora do país podem
ser trazidos ao Brasil após o recolhimento de imposto de renda em alíquota de 15% e multa de
100% do valor do tributo (isto é, 15% do valor total).
Com isso, além de exclusão de todos os demais créditos tributários devidos com relação
àquele patrimônio, em caso de prática de um dos crimes previstos no art. 5.º, § 1.º da Lei
(acima relacionados), opera a extinção da punibilidade, com o trancamento de qualquer
investigação ou processo criminal em curso, mesmo que já iniciados.
De acordo com o texto sancionado, a adesão ao RERCT é possível até o momento em que é
proferida sentença criminal condenatória pela prática de um dos crimes previstos na Lei. A
diferença com relação ao Projeto aprovado pelo Congresso Nacional é que, naquele texto,
seria possível a adesão até o momento em que a decisão se torna definitiva, com o
esgotamento de todos os recursos, o que se chama trânsito em julgado. Assim, havendo
Justiça e Direito Artigos
http://www.gazetadopovo.com.br/
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-e-direito/
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qualquer decisão condenatória, mesmo que seja reformada em posterior recurso, não será
possível a repatriação pelo Regime Especial, tampouco a extinção da punibilidade.
É certo que a Constituição da República estipula em seu art. 5.º, inciso LVII, que ninguém será
considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória, a chamada
garantia de presunção de inocência, que é importante fundamento do processo criminal
contemporâneo, não apenas no Brasil, mas em todo Estado Democrático de Direito. É possível
argumentar, no entanto, que a lei penal brasileira utiliza a sentença condenatória de primeiro
grau como limite para a extinção da punibilidade de outros crimes, como a retratação de
crimes contra a honra, ou até mesmo antes da sentença, como no parcelamento visando à
extinção da punibilidade de crimes de sonegação fiscal, cujo limite é o recebimento da
denúncia oferecida pelo Ministério Público.
Aqueles que porventura desejarem beneficiar­se do Regime Especial devem estar atentos ao
entendimento de que o estabelecimento de limite temporal constitui decisão política, em vez de
confiar na pretensa arguição de inconstitucionalidade da Lei após o veto presidencial. É
possível, assim, tomar uma decisão informada a respeito da adesão ou não ou RERCT,
principalmente quando uma das consequências é a evitação de possível processo e
condenação criminal.
* Guilherme Brenner Lucchesi é professor substituto da Faculdade de Direito na UFPR,
doutorando em Direito na UFPR

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