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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ FACULDADE DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS - FECH CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO MARAJÓ – BREVES RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA A OCORRÊNCIA DO FENÔMENO BULLYING ENTRE ALUNOS DO 7º ANO NA ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL JOSÉ Mª RODRIGUES VIEGAS JR. EM MELGAÇO – MARAJÓ – PARÁ MELGAÇO – MARAJÓ – PARÁ 2019 YAN LUIS LIMA DE SOUZA1 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA A ocorrência do fenômeno bullying entre alunos do 7º ano na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr. em Melgaço – Marajó – Pará MELGAÇO – MARAJÓ – PARÁ 2019 1 Acadêmico do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, pela Universidade Federal do Pará – Campus Breves. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 3 1 O PROBLEMA ...................................................................................................................... 4 1.1 A criança: um trajeto histórico até ser reconhecida quanto criança .................................. 4 1.2 Bullying: longe de ser uma brincadeira, é uma forma de violência ................................. 5 2 JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 8 3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 11 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................................... 13 4.1 As Entrevistas com Alunos (as) .................................................................................... 13 4.1.2 Identificação e Diagnóstico Inicial ........................................................................... 14 4.1.3 O envolvimento em situações de violência .............................................................. 16 4.1.4 BULLYING: “ele” está presente em nossa escola ................................................... 18 4.1.5 O que nossos alunos sentem? Quais suas opiniões? ................................................ 22 4.2 Os questionários aplicados ao corpo docente e técnico administrativo ................... 24 4.2.1 Os percalços da pesquisa .......................................................................................... 25 4.2.2 Diagnostico inicial.................................................................................................... 26 4.2.3 Profissionais que lutam por uma escola sem violência ............................................ 26 4.2.4 A ausência de projetos e capacitação para o enfrentamento da violência ................ 27 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 28 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 31 3 APRESENTAÇÃO O presente trabalho, trata-se de um Relatório elaborado a partir dos resultados obtidos pela pesquisa intitulada A ocorrência do fenômeno bullying entre alunos do 7º ano na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr. em Melgaço – Marajó – Pará. O principal objetivo da pesquisa era levantar informações sobre as formas de violências que ocorrem entre os alunos da instituição e, a partir das análises dos relatos, verificar se há casos de bullying na referida escola. A pesquisa foi realizada no período de 27 de março a 12 de abril de 2019, e contou com a participação de 17 alunos e alunas regularmente matriculados (as) na instituição, bem como, de 03 docentes e 01 coordenadora pedagógica. Este Relatório Final de pesquisa estará organizado em 04 blocos mais as considerações finais do trabalho, sendo: Bloco 1, será a apresentação do problema, considerações sobre a criança quanto pessoa em situação peculiar de desenvolvimento, trazendo também, considerações acerca da violência no geral e, sobre os estudos acerca do bullying no Brasil e no mundo; Bloco 2, faz apontamentos acerca das motivações para a execução da pesquisa, bem como, a importância acadêmica, científica e social de trabalhos desse tipo; Bloco 3, a metodologia adotada na pesquisa; Bloco 4, serão os resultados devidamente organizados, de forma a facilitar o entendimento do leitor; ao final, trazemos as considerações finais, ou conclusões obtidas após a análise dos resultados aqui apresentados. 4 1 O PROBLEMA Antes de falar sobre a violência e, principalmente, a violência entre crianças e adolescentes no ambiente escolar, se faz necessária primeiramente, entender o trajeto histórico por qual a criança passou, até chegar ao patamar de ser vista quanto cidadã de direitos e deveres em uma sociedade. 1.1 A criança: um trajeto histórico até ser reconhecida quanto criança A criança, historicamente, foi e ainda continua sendo um personagem vulnerável, pois, desde os tempos antigos, a criança não contava com o protecionismo, tampouco, com a importância social que tem atualmente. Philippe Àries (1981) afirma que até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representa-la (ÀRIES, 1981, p. 50), isso reflete o sentimento quanto à criança, de que não passavam de diversões para os adultos e seres substituíveis, que não tinha importância de serem representadas pelas produções artísticas da época. Já por volta do século XVII é que a criança começa a ser representada sozinha nos quadros (ÀRIES, 1981, p. 60), agora, as famílias queriam ter uma representação de seus filhos em sua fase de criança ainda, tornando assim um dos momentos mais importantes na descoberta da primeira infância, caracterizando o corpo, os hábitos, a fala, enfim, tudo aquilo que nos faz reconhecer realmente uma criança, diferentemente dos tempos em que elas eram representadas como miniaturas de adultos, agora, elas têm características particulares. No Brasil (pós colonização), a atenção destinada às crianças, vinha mudando constantemente de responsabilidade, incialmente, no período colonial, com os padres Jesuítas e, no decorrer da história, foram criados diversos sistemas, mecanismos e entidades para “cuidar” da criança, que deveriam lhes proporcionar plenas condições para seu desenvolvimento quanto cidadã na sociedade, no entanto, o que se via era apenas mecanismos de controle social, destinados às crianças pobres e desvalidas, o que deveria ser para, de fato, cuidar da criança, acabava por expondo-as ainda mais às situações de violência e exclusão social. No entanto, durante todo esse trajeto histórico, sempre haviam pessoas e entidades que também lutavam contra toda e qualquer forma de violência contra a criança e o adolescente, essa luta teve um marco importante na década de 80, quando a sociedade civil começa a questionar mais assiduamente as irregularidades nessas instituições, tal movimento é de suma importância para a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente no de 1990 (RIZINNI; PILOTTI, 2011). Trazendo um pouco para nossa realidade, mesmo que em um momento histórico 5 diferente, Ana Diniz, em sua obra: Correndo Atrás da Vida, nos traz um pouco sobre as condições de vida da criança na região amazônica, principalmente nos períodos de grande fluxo migratório para essa região. Um dos pontos, mostra justamente o que significava a criança: “E quanto à criança e ao adolescente, eles são o que são: antes de tudo, bocas para alimentar e força de trabalho disponível e barata. (DINIZ, 1994, p. 9) ”. Em uma região extremamente pobre, como a acumulo de capital concentrado em poucas famílias, a criança e o adolescente assumem o papel demais um gerador de renda para a família através de sua força de trabalho. No entanto, nesta mesma obra, a autora afirma que se olharmos a criança de uma forma diferente, ou seja, a criança [...] com necessidades, preocupações, medos, terrores, aspirações, sonhos, ódios, amores – [...], ou seja: se os considerarmos seres humano, que acumulam experiências e, a partir delas, são sujeitos históricos capazes de opinião, torna-se fundamental ouvi- los antes de estabelecer quaisquer politicas dignas deste nome, em relação a eles. (DINIZ, 1994, p. 13) Acaba sendo uma forma mais respeitosa e adequada de se olhar a criança e, assim, lutar para que estas tenham condições plenas de desenvolvimento conforme sua situação peculiar. 1.2 Bullying: longe de ser uma brincadeira, é uma forma de violência A violência, de um modo geral, sempre esteve presente na história da humanidade. Desde os primórdios, um dos principais modos de conquista, dominação e subsistência da raça humana, foi moldado por meio da violência deliberada, com o uso da força. No entanto, a civilidade entre os seres humanos veio ajudar a canalizar essa agressividade, e faz com que se diferenciem dos animais, como explica Susin e Fleitas (2016, p. 119) “o homem teve que passar do poder de uma só vontade tirânica ao poder de todos, ao poder da comunidade, isto é, todos tiveram que sacrificar algo de seus impulsos instintivos: a civilização os restringiu.”, logo, tiveram que se adaptar a viver em sociedade. Nos dias atuais, a violência continua existindo, e em escalas preocupantes, adotam “novas” formas, novos motivos, novos lugares, mas não deixam de ser atitudes violentas, agressivas e que causam danos ao semelhante. Justamente ao se falar dessas “novas” formas de violência, é que podemos citar os casos de bullying entre alunos nos ambientes escolares, onde, os principais envolvidos são justamente as crianças e os adolescentes. Antes de 1970, pesquisas relacionadas ao bullying propriamente dito, eram inexistentes ou inexpressíveis, no entanto, algumas atitudes que apresentam as características do bullying tem sido descrita e livros sobre história social e velhos jornais dos séculos XVIII e 6 XIX em alguns países como o Reino Unido, Japão e Coréia (KOO, 2007). Sendo assim, se pode perceber que o fenômeno bullying não é algo novo, os estudos científicos acerca do assunto sim. Segundo Gomes e Sanzovo (2013, p. 42) os primeiros estudos sistematizados sobre o bullying, surgiram nos países nórdicos, na década de 70, com Peter-Paul Heinemann (1972/1973); o professor e pesquisador de psicologia da Universidade de Bergen, na Noruega, Dan Olweus (1973/1978) e Anatol Pikas, psicólogo, preocupou-se mais com a questão da prevenção (1975/1976). O bullying começou a chamar ainda mais a atenção em 1982, quando foi causa de suicídios de dois adolescentes na Noruega, causando um choque naquele país. A partir disso, o Ministério da Educação cria uma campanha nacional contra o bullying nas escolas, surge então o Programa de Prevenção de Bullying Olweus, que foi o primeiro em todo o mundo (GOMES; SANZOVO, 2013, p 43). O programa teve grandes proporções: A aplicação inicial do programa avaliou cerca de 84 mil estudantes, 400 professores e 1.000 pais de alunos em diversos períodos escolares. Os objetivos centrais da pesquisa foram a análise da natureza do bullying (suas possíveis origens), bem como seu modo de ocorrência (formas de manifestação, extensão e características) (RUOTTI; ALVES; CUBAS, 2006 apud GOMES; SANZOVO, 2013, p. 43) Como resultado, foi constatado que 1 em cada 7 alunos estava envolvido em situações de bullying. Nisto, outros países começam também a sistematizar estudos em relação a esta temática, segundo Lopes Neto (2005) ganham destaque a partir dos anos 90, com Olweus, 1993; Smith & Sharp, 1994; Ross, 1996; Rigby, 1996; todos apresentando pesquisas e estudos sistematizados sobre a temática em seus respectivos países. Em âmbito nacional, o primeiro estudo científico acerca do bullying que se tem registro, foi realizado pela professora Marta Canfield, em 1997 e, principalmente com a professora Cleo Fante e o Dr Aramis Lopes Neto, passaram a ter uma maior ênfase a partir dos anos 2000. No ano de 2015, o que era para ser uma grande conquista no combate ao bullying, que foi a aprovação da Lei 13.185 que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), acabou sendo apenas mais uma Lei informativa, que não surtiu o efeito esperado na prática, Saldanha (2018) justifica afirmando que [...] a forma rasteira e confusa da qual a lei conceitua o bullying agravada com as equiparações da prática do bullying com outros tipos penais e a ressalva da não aplicabilidade da lei quando possível, resultam numa inutilidade de aplicabilidade jurídica da norma e uma enorme confusão conceitual na população sobre o que é de fato bullying. Posterior a essa Lei, o governo federal aprovou outras duas Leis relacionadas ao 7 bullying, no entanto, pouco mudou, pouco se fez e pouco ainda se vem fazendo para diagnosticar, combater e prevenir a prática do bullying nas escolas do Brasil. Além disso, o conceito do que de fato é o bullying tem sido banalizado, utilizado de forma errônea, sendo associado a todo e qualquer tipo de brincadeira corriqueira entre crianças e adolescentes, levada para os meios de comunicações em forma distorcida, para fazer humor e, “Essa extensão do uso deste termo para além do universo educacional parece prejudicar o entendimento da população sobre a real configuração do fenômeno e suas consequências [...].” (MEDEIROS, 2012, p. 21), ou seja, o termo bullying acabou sendo utilizado como chacota ou, em um caso qualquer de apelidos, agressão e etc., que ocorre corriqueiramente. No entanto, importa evidenciar que, como afirmam Gomes e Sanzovo (2013, p. 17) que o bullying é um tipo de violência, mais grave, mais alarmante e, consequentemente, mais devastador. E também é importante saber que, podem ocorrer violências que não são caracterizadas como bullying, justamente por não conter os elementos necessários para caracterizá-la como tal, no entanto, não deixam de gerar efeitos negativos para os envolvidos. Uma das definições mais difundidas em âmbito nacional é de que o bullying é “[…] um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angustia e sofrimento. ” (FANTE, 2005, p. 28). O bullying não é exclusivo de uma classe ou outra, como afirma Gasparello e Pereira (2016) o bullying é “[...] considerado fenômeno mundial, pois acontece em todas as escolas, no mundo inteiro, tanto em países ricos, como em países pobres.” Ou seja, trata-se de um problema que está presente em escolas no mundo inteiro. Todo ambiente de convívio social está passível de haver casos de violências entre aqueles que lá estão inseridos e, a escola, quanto espaço de grande fluxo de crianças e adolescentes, lugar de interação social e construção do conhecimento, não está imune à essa problemática, sendo assim, a possibilidade de ocorrer casos de bullying entre os alunos é grande. 8 2 JUSTIFICATIVA Ao abordar a violência no ambiente escolar, é de suma importância elucidar essa concepção da criança como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento. O Estatuto de Criança e do Adolescente (ECA), dispositivo legal que visa a garantia dos direitos da criança e do adolescente Art. 6º. Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento. (BRASIL, 1990) grifo nosso. Logo, deve-se considerar a criança em situação de vulnerabilidade em seu processo de desenvolvimento,Campos (2009), explica essa questão, afirmando o seguinte No que concerne à vulnerabilidade, compreende-se que a criança e o adolescente têm direitos especiais decorrentes do fato de que ainda não têm acesso ao conhecimento pleno de seus direitos, não atingiram condições de defender seus direitos diante das omissões e transgressões capazes de violá-los e, também, não contam, sobretudo as crianças, com meios próprios para arcarem com a satisfação de suas necessidades básicas. (CAMPOS, 2009, p. 24) Partindo da problemática exposta e, visto ainda que as produções acadêmicas acerca do assunto ainda não de grande expressão em nossa região, é de suma importância que cada vez mais pesquisas que visem diagnosticar a incidência e formas com que ocorre esse fenômeno nas escolas da região marajoara. Um estudo mais aprofundado em relação ao tema, pode contribuir significantemente para estimular produções futuras e podendo até servir como base para estudos locais. Não somente para ao cenário científico, buscar diagnosticar e, posteriormente, agir no combate e prevenção do bullying entre alunos, pode vir a contribuir para a construção de um ambiente mais harmonioso na escola, uma vez que alunos expostos a situações vexatórias e humilhantes, tendem a ter o rendimento escolar comprometido, chegando até a Fobia escolar nascida a partir da prática do bullying, provoca problemas como repetências, dificuldades na aprendizagem, evasão escolar, além de reflexos no futuro, como a perda dos sonhos e objetivos sociais e profissionais. (ARAÚJO; SILVA, 2011, p. 9) Além da pesquisa já citada no tópico anterior, realizada por Dan Olweus, na Noruega, que constatou que 1 em cada 7 alunos estava envolvido em casos de bullying na escola. A nível nacional, uma das principais e mais recentes pesquisas que tem sido referência para as produções acerca do assunto, foi a pesquisa coordenada pela professora Cleo Fante e realizada pela Plan International Brasil, na pesquisa, 28% dos alunos revelaram terem sofrido algum tipo de maus-tratos ao menos uma vez no ano, enquanto aproximadamente 10% afirmaram ter 9 sofrido três ou mais vezes durante o ano (PLAN BRASIL, 2010 apud GOMES; SANZOVO, 2013, p. 58). A nível regional, duas pesquisas – ambas em 2012 – realizadas pela LASIG (Laboratório de Sistema de Informação e Georreferenciamento) e GEPEC (Grupo de Estudos e Pesquisas Estatísticas e Computacionais), vinculadas à Universidade Federal do Pará, a primeira em uma escola na cidade de Soure/PA, e a segunda em 05 escolas das cidades de Soure e Salvaterra, trazem dados importantes acerca da ocorrência do bullying na região do Marajó, dentre as informações levantadas pelas pesquisas, podemos destacar as seguintes: 61,45% dos alunos afirmaram já terem se envolvido em algum caso de bullying; “Dentre aqueles que já se envolveram em atos de bullying, a maior parte dos alunos se envolveu em bullying verbal (27,72%), físico (21,51%) e psicológico (21,12%).”; “A maior parte dos alunos envolvidos assumiu papel de vítima (43,96%) ou espectador (22,88%) [...]”; “maior parte dos atos de bullying verbal (20,49%), psicológico (15,54%), físico (13,99%) e sexual (7,88%) ocorreu na sala de aula [...]”; “A maior parte dos alunos envolvidos em atos de bullying [...] preferiu não contar a ninguém sobre o ato de bullying que esteve envolvido.”; “Dentre os alunos que sofreu consequência após o envolvimento em atos de bullying, a maior parte apresentou tristeza (31,19%), seguido de estresse (16,51%) e baixa autoestima/depressão (13,85%).”; “Os alunos que estiveram envolvidos em atos de bullying afirmam que a raça é o maior motivo da prática de bullying (21,30%), seguido da aparência (17,01%) e sexualidade (15,78%)” (UFPA, 2013). Os dados obtidos, mostram claramente que o bullying está presente em nossa região, bastando que sejam feitas pesquisas especificas para diagnosticar essa problemática. Durante o ano de 2018, vários relatos de violência entre alunos foram recebidos – via Whatsapp –, bem como situação presenciada na Delegacia de Polícia do município, onde foram apresentados pelo Conselho Tutelar, duas crianças, alunos da EMEF José Mª R. Viegas Jr., relatando que os dois haviam brigado na escola, além disso, em sondagem preliminar acerca do problema na escola, foi enviado um oficio ao Conselho Tutelar de Melgaço, solicitando informações acerca de casos de violência envolvendo alunos das escolas do município de Melgaço, ao qual, recebi a seguinte resposta Este Conselho Tutelar no decorrer de suas funções recebeu apenas 10 denúncias de violências entre alunos. Essas todas, foram recebidas da única escola José Maria Rodrigues Viegas Junior. Em razão da gravidade das denúncias este conselho orientou a direção da escola à encaminhar diretamente a delegacia se houvesse necessidade o responsável da delegacia chamaria o Conselho Tutelar. (MELGAÇO, 2019a) Desta forma, foi formulado o projeto de pesquisa intitulado “A Ocorrência do Fenômeno Bullying Entre Alunos do 7º Ano na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Junior”, o 10 qual foi orientado pela Profa. Ma. Gicele Brito Ferreira2. Com o objetivo de identificar e constatar se, ocorrem de fato, casos de violência entre alunos na escola e, posteriormente, se há a incidência de casos de bullying na referida instituição. A instituição de ensino, popularmente conhecida apenas como “Escola Juninho”, está localizada no município de Melgaço, no arquipélago do Marajó-Pará. Sendo assim, a presente pesquisa trouxe, juntamente com seu objetivo geral que era levantar informações sobre a incidência dos casos de bullying entre alunos do 7º ano na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr., uma série de objetivos específicos, dos quais, cito: Identificar, através da entrevista individual direta com os alunos, de que forma e com qual frequência eles foram vítimas, presenciaram ou praticaram de algum tipo de violência contra algum colega dentro do ambiente escolar; Analisar se as situações relatadas pelos alunos têm todos os elementos necessários a caracterizar o bullying, ou, se são casos isolados e pontuais de violências; Classificar os tipos de violências que ocorrem na escola, a partir da ótica dos alunos (as) entrevistados (as); (PROJETO DE PESQUISA, 2019) Esses três objetivos específicos se complementam no sentido de que precisamos identificar, analisar e classificar os dados obtidos, afim de forma, com qual frequência, maneiras e grau ocorrem os casos de violência entre alunos e, se podem ser considerados como bullying. Verificar de que forma a escola age frente às situações de violências que ocorrem ou podem ocorrer entre alunos; (PROJETO DE PESQUISA, 2019) Este outro objetivo especifico, vem para elucidar a forma com que a instituição age frente aos casos de violência entre os alunos, que ações são adotadas no combate e prevenção da violência e, consequentemente, ao bullying. Validar, ou não, a necessidade da aplicação de um projeto antibullying na escola, isso, de acordo com os resultados obtidos com a pesquisa. (PROJETO DE PESQUISA, 2019) E, neste último objetivo especifico, foi criado justamente para validar – ou não – a necessidade da elaboração e aplicação de um projeto de intervenção pedagógica na referida instituição. 2 Profa. Ma. da Faculdade de Serviço Social FACSS da Universidade Federal do Pará; Campus Universitário do Marajó – Breves. CRESS nº 2150 11 3 METODOLOGIA A Escola Municipal de Ensino Fundamental José Maria Rodrigues Viegas Jr., conhecida popularmente por “Juninho”, lócus da presente pesquisa, é uma das que estão localizadas na sede do município de Melgaço-PA, está situada À Rua Wilson Ribeiro, nº 141, Bairro do Tucumã. A instituição possui um total de 21 salas de aula e atende à demanda de alunos do 2º ao 9º ano do Ensino Fundamental,e conta também com a oferta de turmas de Ensino de Jovens e Adultos (EJA) 3ª e 4ª etapa. No ano de 2018, teve um total de 1.230 alunos matriculados e contava com 42 professores. Na parte administrativa, a instituição conta com 01 Gestor, 01 Vice gestor, 03 Coordenadoras Pedagógicas, 01 Secretário e 05 Auxiliares de secretaria (MELGAÇO, 2019b). A Pesquisa Aplicada que, segundo Kauark, Manhães e Medeiros (2010, p. 26) tem como objetivo gerar conhecimentos para aplicação prática, dirigida à solução de problemas específicos que envolvam verdades e interesses locais. Dessa forma, a pesquisa pautou-se em cunho qualitativo, que na definição de Minayo (2001, p. 21/22) A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. E, ainda, terá fins descritivos que, segundo a definição de Prodanov e Freitas (2013, p. 52) “[...] observa, registra, analisa e ordena dados, sem manipulá-los, isto é, sem interferência do pesquisador. Procura descobrir a frequência com que um fato ocorre, sua natureza, suas características, causas, relações com outros fatos. ”, logo, a pesquisa buscou conhecer de forma aprofundada, a partir dos relatos dos próprios alunos, a forma de manifestação do bullying na escola e, com a opinião dos docentes e administrativos, a forma com que estão observando e lidando com essa problemática na escola. Desta forma, o universo da pesquisa, como afirmam Lakatos e Marconi (1992, p. 108) que “[...] é o conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum. ”, foi delimitado levando em consideração os segmentos que iriam participar do processo de coleta de dados: Discentes e membros do corpo técnico administrativo. Totalizando assim um total de 1.283 pessoas envolvidas no universo da pesquisa. No entanto, dada a magnitude do universo em contraste com o recorte temporal disponível para a realização da pesquisa, se fez necessária a seleção de uma amostra (x), que 12 consiste em “[...] escolher uma parte (ou parcela), de tal forma que seja a mais representativa possível do todo, e, a partir dos resultados obtidos, [...] poder inferir, o mais legitimamente possível, os resultados da população total, se esta fosse verificada.” (LAKATOS; MARCONI, 1992, p. 108). Sendo assim, a amostra (x) da pesquisa foi selecionada levando em consideração a faixa etária em que a incidência do fenômeno bullying é mais presente, que, segundo Gomes e Sanzovo (2013, p. 69) no Brasil, o fenômeno ocorre com maior frequência ente os alunos das quintas às oitavas series – atualmente 6º ao 9º ano – do ensino fundamental, na faixa etária de 11 a 15 anos. Desta forma, foi selecionada de forma aleatória simples, uma turma de 7º ano do ensino fundamental, que, se levada em consideração hipótese de que o aluno não tenha repetido de ano nenhuma vez, estará no 7º ano do ensino fundamento com a idade de 12 anos. Para atender as necessidades de informações que a pesquisa propôs buscar, foram selecionados dos instrumentos de coleta de dados: o primeiro, utilizado com os/as alunos/as, foi por meio da entrevista semiestruturada, o segundo, utilizado com os docentes e administrativos, foi o questionário com perguntas abertas. As entrevistas individuais com alunos começaram no dia 1º de abril, e estenderam-se até o dia 12 do mesmo mês. Como dito antes, a entrevista era na forma semiestruturada, ou seja, seguindo um roteiro pré-estabelecido contendo cinco blocos distintos que abarcavam identificação ou diagnostico inicial do entrevistado, perguntas sobre possivelmente ter sido alvo de algum tipo de violência, sobre ter presenciado, sobre ter praticado e o último bloco com considerações extras e algo mais que o entrevistado quisesse adicionar. Essa forma de entrevista deu possibilidade de uma conversa mais aberta entre o entrevistador e o entrevistado, dando oportunidade de perguntar questões que não estavam no roteiro. No caso do corpo docente e técnico administrativo, os questionários foram entregues conforme a disponibilidade dos mesmos, e puderam ser devolvidos assim que estivessem sido preenchidos, não pressionando os professores e administrativos com essa tarefa. Depois de finalizadas as entrevistas e recolhidos todos os questionários, iniciou então o processo de transcrição e tabulação das informações obtidas. Das entrevistas, muito além de apenas dados numéricos, foi dada uma atenção maior aos relatos e principais afirmações dos alunos acerca de perguntas importantes para o andamento da pesquisa. Todos os relatos trazem algo de muito importante que deve ser levado ao conhecimento dos demais envolvidos no ambiente escolar. Ainda, a partir desses relatos, será possível formular um projeto de intervenção pedagógica atendendo as particularidades do problema presente na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr., apresentando e, posteriormente, pondo em prática formas de intervir e combater atitudes negativas que são recorrentes no dia a dia da escola. 13 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS A pesquisa cogita inicialmente a participação de 35 alunos, no entanto, a turma do 7º ano, turno tarde, que foi selecionada, estava com apenas 19 alunos matriculados, destes, participaram 17, apenas dois alunos se recusaram a participar, não dando explicações do motivo. Apesar disso, o resultado da pesquisa não foi comprometido, podendo assim contemplar os objetivos específicos propostos pela pesquisa, culminando no objetivo geral. Quanto ao corpo docente e administrativo, o questionário foi entregue para 04 docentes (02 s0 sexo masculino e 02 do sexo feminino), 01 coordenadora pedagógica, 01 auxiliar administrativo, 01 diretor e 01 vice diretor, totalizando 08 participantes, no entanto, somente 04 questionários foram devolvidos devidamente preenchidos. Vale ressaltar, que as perguntas tanto nas entrevistas, quanto nos questionários, sempre citam a violência no geral que ocorre dentro do ambiente escolar, uma vez que: Toda e qualquer pesquisa que se destine à compreensão das práticas agressivas de adolescentes e jovens no âmbito escolar deve, necessariamente, ter em consideração a violência como um todo, visto que a relação existente entre a violência geral e a praticada no âmbito escolar (com ou sem bullying) é bastante forte, estando intimamente conectadas (GOMES; SANZOVO, 2013, p. 25). Dessa forma, as situações relatadas são analisadas individualmente, e verificadas se possuem todas as caraterísticas para serem consideradas como casos de bullying, ou se são casos isolados de violência entre os alunos (as). 4.1 As Entrevistas com Alunos (as) A entrevista semiestruturada estava dividida em 05 blocos, sendo: 01 – Identificação e Diagnóstico Inicial; 02 – Sobre Possivelmente ter sido alvo de algum tipo de violência; 03 – Sobre Possivelmente ter presenciado situações de violência; 04 – Sobre Possivelmente ter praticado algum tipo de violência e 05 – Considerações Extras. Dessa forma, os resultados serão apresentados em 04 partes: a primeira parte será a identificação e diagnóstico inicial; a segunda parte será sobre o envolvimento dos (as) entrevistados (as) em situações de violência; a terceira será relacionada à participação dos entrevistados em casos de bullying; a quarta parte será sobre as considerações dos (as) entrevistados (as) acerca da necessidade ou não de projeto antibullying na escola. Informamos que para proteção dos entrevistados todos os nomes utilizados são fictícios. 14 4.1.2 Identificação e Diagnóstico Inicial Gráfico 1 – Percentual de participantes entrevistados(as), por sexo: Dos 17 participantes, 08 são do sexo masculino e 09 do sexo feminino. A média de idade entre eles (as) é de 13 anos da idade, sendo: Gráfico 2 – Quantidade de alunos (as) entrevistados (as), por idade: Auto declaradamente, 12 consideram-se pardos (as), 04 consideram-se morenos (as) e 01 considera-se amarelo. Todos os entrevistados afirmam ter amigos na escola, no entanto, um dado que chama atenção, é o fato de 11 afirmarem que possuem algum inimigo no ambiente escolar, conotando assim, um espaço já propício para a ocorrência de situações de violências entre eles. Gráfico 3 – Sobre ter presenciado algum projeto, palestra e/ou ação relacionada ao bullying na escola: Dos entrevistados, 13 afirmam nunca terem visto e/ou participado de nenhum projeto, palestra e/ou ação relacionado ao bullying na escola, esse dado ratifica com o que diz 47% 53% Meninos Meninas 6 5 6 1 2 3 4 5 6 7 12 ANOS 13 ANOS 14 ANOS 4 13 0 5 10 15 SIM NÃO 15 Maldonado (2011, p. 44) que a partir da análise dos resultados das pesquisas realizadas pela Plan Brasil, afirma que “a maioria das escolas ainda não desenvolveu estratégias eficientes para reduzir a incidência do bullying ou prevenir sua ocorrência. Quase todas se limitam a punir o aluno agressor e a conversar com seus pais [...]. ”, logo, não se trata de um problema local, mas sim a nível nacional. Ressalta-se que 04 entrevistados afirmaram que SIM, já viram algo relacionado ao tema, conforme as duas afirmações recortadas das entrevistas com os alunos “Uma vez na aula de português a professora passou um vídeo sobre isso.” (TIAGO, 14 anos, 2019) “No dia que teve o contra as drogas, tinha um papel lá escrito.” (ANTÔNIO, 14 anos, 2019), estas, contrastam com a proposta existente no PPP (Projeto Político Pedagógico) da instituição, onde diz que o: “[...] o Projeto Político Pedagógico abre leques para a participação dos sujeitos da comunidade escolar como um todo havendo discussão/reflexão nas tomadas de decisões, além de enriquecer, abrirá meios para diminuir problemas (violência) que nela está adentrando [...]” (MELGAÇO, 2019b) grifo nosso. Dessa forma, podemos observar que a instituição tem sim a preocupação com o problema da violência adentrando a escola, no entanto, como foi exposto, os esforços precisam ainda partir da iniciativa de mais profissionais que compõem o ambiente escolar em questão. A última pergunta desse bloco, questionava os entrevistados sobre, a partir do entendimento prévio que eles têm sobre o bullying, se esse fenômeno acontecia na escola, onde: Gráfico 4 – Perguntados se acham que ocorre casos de bullying em sua escola, responderam: Como mostra o gráfico acima, 15 dos 17 alunos participantes da pesquisa, acham que ocorrem casos de bullying na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr. Das entrevistas, fiz recorte de duas entrevistas: - Hum, onde mais tem bullying é na escola. Eu acho não, acontece! (EMILY, 12 anos, 2019); - Ocorre sim, principalmente com esses morenos assim, eles têm esse mal de chamar de ‘pretinho do gapó’ e essas coisas aí. (ALEX, 14 anos, 2019). A partir dos recortes apresentados, podemos elucidar como essa problemática faz parte 1 1 15 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 SIM NÃO NÃO SABE 16 do cotidiano dos alunos que participaram da pesquisa. Vale salientar ainda, que até o momento das entrevistas, não foi feita nenhuma palestra relacionada ao bullying, ou seja, nessa pergunta, o entrevistador pedia que eles se baseassem no seu conhecimento adquirido de formas diversas (internet, escola, tv e etc). 4.1.3 O envolvimento em situações de violência Nessa parte, vamos fazer um apanhado geral do envolvimento dos (as) entrevistados (as) em situações de violência na escola, como dito anteriormente, toda pesquisa que vise compreender situações de bullying entre alunos, precisa tomar para análise a violência como um todo, estando presente ou não o bullying (GOMES; SANZOVO, 2013, p. 25). Logo, é necessário que possamos dar atenção também aos casos isolados, que não possuem os requisitos suficientes para serem considerados bullying, que na definição de Cleo Fante, bullying é “[…] um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas [...], adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angustia e sofrimento. ” (FANTE, 2005, p. 28), no entanto, os casos de violências relatados não podem passar despercebidos, precisam também serem trabalhados e analisados. Visando facilitar os relatos dos alunos, foi pedido para que eles levassem em consideração o ano de 2018 até o momento da entrevista – em 2019 – assim, facilita para o aluno ter lembranças de determinadas situações as quais foram perguntados. A seguir, está um gráfico com os dados sobre o envolvimento em casos de violência relatados pelos participantes das entrevistas: Gráfico 5 - O quantitativo do envolvimento dos entrevistados em situações de violências, forma de envolvimento, sexo dos envolvidos e tipo de violência: A partir da análise das informações contidas no gráfico, podemos fazer as seguintes Tipo de violência e número de vezes: Do sexo: Em que forma: Se já esteve envolvido em alguma situação e violência na escola: SIM: 17/17 - NÃO 0/17 ALVO: 10/17 FEM.: 05 Verbal: 4 Assédio: 1 MAS.: 05 Verbal: 5 ESPECTADOR: 15/17 FEM.: 08 Verbal: 7 Assédio: 1 Grafites: 4 MAS.: 07 Verbal: 7 Física: 2 Grafites 1 AUTOR: 08/17 FEM.: 03 Verbal 3 MAS.: 05 Verbal 5 17 constatações: No total, foram 40 casos relatados pelos entrevistados (as). O motivo do número de casos ser maior que o número de entrevistados, é justamente o fato de que um mesmo entrevistado pode ter presenciado, sofrido ou praticado mais de um ato de violência na escola; 100% dos entrevistados já estiverem expostos a alguma situação de violência e/ou constrangimento dentro da escola, o que muda é a forma de envolvimento (vitima, espectador ou autor). Vale ressaltar que podem ocupar ou transitar entre essas formas, ou seja, ora pode ser alvo, ora pode ser autor e/ou espectador; 89%, ou seja, 15 dos 17 entrevistados já presenciaram uma ou mais situações de violência na escola, logo, estando na posição de ESPECTADOR; O envolvimento de ambos os sexos em situações de violência é quase que igualado em todos as formas, sofrendo disparidade somente quando se é AUTOR; A principal forma de violência adotada na escola, é a verbal (31), seguida por grafites depreciativos (5), assédio sexual (2) e física (2), conforme o gráfico a seguir: Gráfico 6 – Porcentagem das formas de violências presentes na EMEF José Mª R. Viegas Jr.: Para melhor um entendimento do leitor, na tabela a seguir, estão as formas de violências relatadas pelos entrevistados (verbal, grafites e etc.) e de que maneira esse tipo de violência pode ocorrer dentro da escola. 77% 13% 5% 5% VERBAL GRAFITES ASSÉDIO SEXUAL FÍSICA 18 Quadro 1 – Formas de violência presentes na EMEF José Mª Rodrigues Jr., e forma de ocorrência das mesmas: FORMA OCORRE DAS SEGUINTES MANEIRAS: VERBAL Xingamentos, apelidos pejorativos, insultos, ofensas e etc. GRAFITES DEPRECEATIVOS São desenhos e escrituras (mensagens) nas paredes da escola. ASSÉDIO SEXUAL É o ato de tocar, abusar, insinuar, abusar, violentar outra pessoa de forma libidinosa. FÍSICA Que é de fato o contato físico: soco, chute, empurrão e etc. A partir dos relatos dos entrevistados, foi possível ainda fazer um levantamento dos locais com maior ocorrência das situações de violências, sejam elas, sofridas, praticadas ou presenciadas, conforme o gráfico a seguir: Gráfico 7 – Porcentagem dos locais de ocorrência dos casos de violência na EMEF José Mª R. Viegas Jr.: Há uma predominância de ocorrências dentro de sala de aula, só que na ausência do professor(a) (45% dos casos), ou seja, geralmente é na troca de horários, seguida pelas situações que ocorrem pelos pátios e corredores da escola (32% dos casos). Os fatos relatados nos banheiros (13%), sempre são sobre grafites, desenhos, mensagens ofensivas, ameaças e etc, todos no banheiro feminino e, a menor porcentagem de ocorrência, é em sala de aula com a presença do/a professor/a (10% dos casos). 4.1.4 BULLYING: “ele” está presente em nossa escola A partir dos relatos, foi feita uma análise individual para definir o que se tratava de bullying e quais casos se tratavam de situações isoladas, ou seja, não havia reincidência e, alguns casos de violência reciproca que, um aluno xingava, apelidava, agredia (briga), o outro, não caracterizando assim o bullying. Para relembrar, o bullying é caracterizado por “[…] um 45% 32% 13% 10% Sala de aula S/ professor Pátio e/ou corredores banheiros Sala de aula C/ professor 19 conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro (s), causando dor, angustia e sofrimento. ” (FANTE, 2005, p. 28). Dessa forma, o bullying possui características bem especificas, necessita que todos esses quesitos estejam presentes. A seguir, estão organizados os casos especificamente de bullying relatados pelos entrevistados: Gráfico 8 – Quantitativo de alunos envolvidos em casos de bullying na EMEF José Mª R. Viegas Jr.: Ou seja, mais da metade dos alunos entrevistados (9/17, ou 53%), estão envolvidos em algum caso de bullying na escola. Logo, as situações de violências que foram apresentadas anteriormente, podem perfeitamente representar situações de bullying na escola. Gráfico 9 – Quantitativo da forma de envolvimento dos alunos nos casos de bullying na EMEF José Mª R. Viegas Jr.: A partir das informações que estão apresentadas no gráfico 9, podemos observar que um mesmo aluno, pode estar ocupando mais de uma posição (forma) no que diz respeito ao envolvimento nos casos de bullying, 02 dos entrevistados foram alvos de bullying e, em outra situação, foram espectadores, ou seja, tanto sofreram bullying, quanto presenciaram outros colegas passando pela mesma situação. Outra constatação, é que a maior parte dos envolvidos, estavam na posição de 9 8 ALUNOS ENVOLVIDOS ALUNOS NÃO ENVOLVIDOS ALVO ESPECTADOR AUTOR ALVO/ESPECTADOR 0 1 2 3 4 5 2 4 1 2 20 espectador (6/9, ou 55%) – consideremos aqui, a afirmação do parágrafo anterior –, aqueles que presenciam outros colegas em situações de bullying, logo após, estão os que são alvos de bullying (4/9, ou 36%), ou seja, aqueles que sofrem bullying. Quanto ao sexo dos envolvidos nos casos de bullying: 03 são do sexo feminino e 06 do sexo masculino. Gráfico 10 – Quantitativo da forma com que ocorre o bullying na EMEF José Mª R. Viegas Jr., a partir dos relatos dos entrevistados: Podemos observar que a violência verbal é a forma mais utilizada para de alguma forma atingir o colega, comumente, apelidos, xingamentos, chacotas, ameaças e outras formas verbalizadas de violências, acabando passando por despercebido no dia a dia escolar, no entanto, quem é atingido com essas palavras, pode acabar guardando consigo, a tristeza, a humilhação do que para alguns não passa de brincadeira. Para melhor exemplificar essa situação, podemos observar os relatos a seguir: Ela era minha amiga ano passado, aí eu apelidava ela de ‘boca de velha’, e só por que ela morava no interior nós apelidava ela de ‘cabuçu’. - Ela gostava desse apelido? Ela não gostava, ela ficava triste. - E foi só uma vez? Não, foram várias vezes. - Mas por que vocês apelidavam ela assim? Por que sempre tinha um menino que eu gostava, aí ela também gostava dele, e só ‘pra’ nós meter vergonha, a gente falava esse apelido na frente dele. Quando a gente falava, ela só sentava ‘na mesa’ e abaixava a cabeça. - Ela comunicou ‘pra’ alguém? Não, quase todo mundo apelidava ela.” (PALOMA, 14 anos, 2019). O relato acima, é de uma das entrevistadas, os trechos em negrito são falas (perguntas) do pesquisador, nele podemos observar a intencionalidade, a periodicidade ou repetição e, o resultado, que é justamente constranger a outra colega. A seguir, está mais um recorte obtido das entrevistas com os alunos que evidencia bem este tipo de situação. 0 3 6 9 9 3 VERBAL GRAFITES 21 - Nesse ano, ou ano passado, você já sofreu algum tipo de violência aqui na escola? Tipo, apelidos, agressões, situações em que possam ter excluído você de alguma atividade. Só apelidos. - De que forma foi? Chamavam de baleia. - Quem participava? Só os meninos. - Foram quantas vezes? Diariamente. - Você não gostava desse apelido!? Nunca gostei. Eu ficava triste. Nunca ninguém fez nada ‘pra’ ajudar. - Você comunicou ‘pra’ alguém? Não, eu tinha vergonha. (ROMÁRIO, 12 anos, 2019) Esse relato, já trata-se de um aluno “alvo” de bullying, podemos observar as consequências negativas para o aluno, tudo parece uma brincadeira, no entanto, causa danos àquele que não está se divertindo. Ora, numa brincadeira, todos deveriam se divertir, mas pelo relato acima, é possível perceber que o que estava sendo alvo da “brincadeira” ficou triste e envergonhado. Gráfico 11 – Quantitativo dos locais em que ocorreram os casos de bullying na EMEF José Mª R. Viegas Jr.: Essa predominância da ocorrência dos casos dentro da sala de aula, é ratificada pelos dados obtidos na pesquisa realizada pela ABRAPIA (Associação da Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência), onde “60,2% dos alunos afirmaram que o bullying ocorre mais frequentemente dentro das salas de aula; [...]” (LOPES NETO, 2005, p. S166). Há de se ressaltar ainda, o posicionamento que os espectadores (aqueles que presenciam) adotaram diante as situações, a grande maioria, com exceção de um dos entrevistados, adotou a posição passiva, que é não apoiar o agressor e nem a vítima ou, adotaram a posição de apoiar o agressor, ou seja, rindo das piadas improprias, apelidos pejorativos, de uma forma geral, encorajando a ação do agressor. Manarina (2003, apud CATINI, 2004, p. 28) afirma que “Pares, como amigos, são muito importantes na medida em que consigam quebrar a díade agressor-vítima. As crianças que são frequentemente vitimizadas preferem pedir ajuda a outros alunos que aos professores.”. Veladamente, isso pode ser bastante prejudicial para este aluno, Maldonado (2011, p. 31) confirma dizendo que “presenciar cotidianamente episódios de agressão em casa, na escola e na comunidade exacerba o medo, a ansiedade e a sensação de impotência por achar que nada NO BANHEIRO NO PATIO/CORREDOR NA SALA DE AULA 0 2 4 6 8 3 1 7 Nº DE VEZES 22 pode ser feito para modificar esse cenário. ”, ou seja, considerando um ambiente escolar hostil, onde a violência está constantemente presente, a criança nele inserida estará também sendo afetada, mesmo não se envolvendo diretamente nos casos, presenciar causa medo, angustia, danos psicológicos também. O espectador, além de adotar a atitude passiva, não se envolvendo diretamente nos casos que presencia, pode ainda ser aquele que participa diretamente, só que em duas formas: a primeira, é estimulando o agressor a continuar e a segunda, que é a forma que deve ser a mais propagada no ambiente escolar, é o espectador protetor, que “é composta por espectadores que, por compaixão ou solidariedade, se aliam às vítimas inibindo ou desarmando as ações de bullying. ” (MALDONADO, 2011, p. 34), ou seja, são aqueles que ao invés de encorajar o agressor, se alia ao agredido, de forma que esse se sinta protegido, e são atitudes como essas que devem ser encorajadas dentro do ambiente escolar. 4.1.5 O que nossos alunos sentem? Quais suas opiniões? Neste tópico, serão apresentados os dados relativos ao últimobloco de perguntas, que são as considerações extras. Este, veio justamente para atender a um dos objetivos específicos da pesquisa, que trata da validação ou não da necessidade de aplicação do projeto antibullying na escola. Primeiramente, foi perguntado se estar expostos (como alvo, autor ou espectador) a situações de violência e/ou constrangimento, pode vir a comprometer o rendimento escolar dos mesmos e, sem seguida, a pergunta que fecha a entrevista, é sobre a opinião dos alunos sobre a necessidade de haver na escola, projetos voltados à minimização da violência e consequentemente do bullying. Dessa forma, à primeira pergunta, sobre a possibilidade de estarem expostos a situações de violência na escola poder atrapalhar no rendimento escolar dos mesmos, as respostas foram conforme apresentadas no gráfico a seguir (na página seguinte): Gráfico 12 – Quantitativo de alunos classificados conforme sua resposta à pergunta sobre a possibilidade de estarem expostos a situações de violência na escola poder atrapalhar no rendimento escolar dos mesmos: 0 5 10 4 5 8 SIM NÃO NÃO SABE DIZER 23 08 afirmaram que SIM, fazer parte dessas situações de violência entre os colegas e contra si mesmo, pode sim causar comprometimentos em seu rendimento escolar, por outro lado, 05 alunos responderam que NÃO e, 04 não souberam responder a pergunta. Dos alunos que afirmaram que pode sim interferir em seu rendimento escolar estar envolvido em situações de violência na escola, fiz recortes de duas das entrevistas, em que os entrevistados expõem de forma mais clara, como isso pode vir a atrapalhá-lo no dia a dia escolar: Atrapalha sim, por que às vezes até eu me metia no meio, e isso me atrapalhou “tudinho”. Eu do 1º até o 6º ano fui um dos melhores alunos, mas aí fui me envolvendo com isso, e me atrapalhou. (ALEX, 14 anos, 2019); Eu não dou muita importância, mas às vezes a gente perde o foco na aula por causa dos xingamentos. Mas é difícil se concentrar assim, dá vontade de mudar de escola, por que dá medo de ver e acontecer com a gente também. (ANTONIO, 14 anos, 2019). A partir das afirmações acima colocadas, podemos contrastar com a fala do Dr. Aramis Lopes Neto, onde afirma que: A escola é de grande significância para as crianças e adolescentes, e os que não gostam dela têm maior probabilidade de apresentar desempenhos insatisfatórios, comprometimentos físicos e emocionais à sua saúde ou sentimentos de insatisfação com a vida. (LOPES NETO, 2005, p. S165) Ou seja, se temos uma escola onde a violência, seja ela na forma que for, está presente diariamente ou com constância, acaba sendo prejudicial para a escola como um todo, no entanto, mais ainda, para os alunos, que começam a ficar insatisfeitos, com medo de ir para a escola, causando influência direta no rendimento escolar dos mesmos. Agora, falando um pouco sobre a última pergunta feita, que dava conta sobre a validação, ou não, da necessidade de aplicação de um projeto de intervenção (projeto antibullying) na escola. Sendo assim, foi unanime a opinião dos alunos no sentido que, de fato, seria importante a escola ter projetos voltados – como dito anteriormente – a informar, prevenir e combater a violência e, consequentemente, o bullying na escola. Digo unanime, pois todos os alunos afirmaram que sim, e das mais diversas formas, conforme os recortes de vários relatos a seguir: “Trazer pessoas para conversar com os alunos, falar sobre Deus, sobre respeito, sobre não fazer coisas ruins com os colegas. Teve uma vez que o pessoa daquela igreja Maranata ‘veio’ aqui, e parou mais.” (ANTONIO, 14 anos, 2019); “Sim, por que tem muitos casos de alunos que não se respeitam na escola.” (KARLA, 13 anos, 2019) 24 “Sim, por exemplo, eu não sabia nada sobre bullying, só agora que vi, por causa da palestra. Ter conversas com os alunos seria legal também.” (SUSAM, 12 anos, 2019); “Sim, por que as pessoas começam a se apelidar e não param mais.” (PALOMA, 14 anos, 2019); “Seria, por que talvez assim, se a escola começasse desde o cedo esses projetos, talvez hoje nem existisse mais esses problemas.” (ALEX, 14 anos, 2019); “Eu acho que precisava, por que tem muito isso aqui na escola. Deveria ter a cada semana essas conversas assim.” (EMILY, 12 anos, 2019); “Acho necessário, por que muitas vezes as pessoas acabam fazendo algumas coisas que não se deve fazer.” (ALAN, 13 anos, 2019); “Aham, só que mesmo assim ainda vão continuar eu acho.” (VITOR, 12 anos, 2019); “Acho que sim. Só que o ruim é que eles fazem esses negócios aqui e ninguém consegue compreender.” (GABRIELA, 12 anos, 2019); “Sim, por que dando a palestra, já mostra ‘pro’ aluno não fazer isso.” (RENAN, 14 anos, 2019). 4.2 Os questionários aplicados ao corpo docente e técnico administrativo O questionário, que foi o instrumento de coleta de dados utilizado com o corpo docente e técnico administrativo da instituição, ele estava estruturado em 02 blocos de perguntas abertas, sendo que: no Bloco 1, continha 05 perguntas relacionadas a identificação e diagnostico inicial e, no Bloco 2, continha 09 perguntas relacionadas aos casos de violências ocorridos na escola e as formas adotadas pela escola para o combate dos casos ocorridos e a prevenção de novos casos. O mesmo foi elaborado e aplicado levando em consideração o ritmo acelerado com que trabalham na escola. Desta forma, o questionário poderia ser preenchido e devolvido em momento oportuno ao pesquisador. O projeto de pesquisa cogitava a participação de 06 membros do corpo docente e técnico administrativo, selecionados e divididos da seguinte forma: 02 professores (as), 01 Coordenador (a) Pedagógico, 01 Secretário (a) Escolar, 01 Gestor e 01 Vice Gestor, totalizando assim, 06 membros do corpo docente e técnico administrativo. 25 4.2.1 Os percalços da pesquisa A participação do corpo docente e técnico administrativo na pesquisa é de suma importância, na medida que, a partir de seus relatos, poderemos ter um melhor panorama de como a escola vem tratando essa problemática, formas que estão sendo adotadas para a prevenção e combate, parcerias que estão buscando para auxiliar a escola nessa questão e, de que forma, melhor podemos ajudar a escola no enfrentamento da violência entre os alunos, e consequentemente, o bullying escolar. O projeto previa a apresentação da pesquisa tanto para os alunos, quanto para os membros do corpo docente e técnico administrativo, no entanto, no dia marcado pela direção da escola para a apresentação, não foi possível a participação desse segundo segmento da instituição (docentes e técnicos administrativos), pois, estavam em reunião com o diretor da escola. Dessa forma, o próprio pesquisador precisou ir apresentando de forma genérica a cada professor e demais profissionais, buscando atingir o número de participantes necessários que o projeto de pesquisa previa. Dessa forma, o questionário foi entregue para 08 profissionais da escola, sendo: 04 professores (as); 01 Coordenadora Pedagógica; 01 Auxiliar Administrativo; 01 Diretor e, 01 Vice Diretor; totalizando 08 participantes na pesquisa, 02 a mais do que estava previsto. Como foi explicado para os participantes, eles poderiam devolver o questionário no momento em que terminassem de preenche-lo, visto que, o pesquisador estaria fazendo visitas constantes na escola para o andamento das entrevistas com os alunos, assim, os participantes poderiam preencher o questionário em momento oportuno e que não iria atrapalhar no desempenho de suas funções na escola. No entanto, dos 08 questionários entregues, somente 04 (50%) foram devolvidos devidamente preenchidos, no mais: Dos 04 (50%) dos questionários que foram devolvidos devidamente preenchidos, 03 eram de docentes e, 01 da coordenadora pedagógica; 01 questionário, que foi entregue ao auxiliar administrativo, foi devolvidoem branco, ou seja, sem ser preenchido. O participante não deu qualquer explicação ou justificativa do motivo determinante de devolver o mesmo em branco e, também, o pesquisador não o indagou sobre o ocorrido; 26 Dos 03 outros questionários, 01 foi entregue a docente, 01 ao diretor e 01 ao vice diretor. Apesar das várias visitas, contatos via Whatsapp e insistência por parte do pesquisador, afim de garantir os objetivos da pesquisa, não foi possível o preenchimento e devolução dos mesmos, por motivos não determinados pelos participantes. Apesar de não atingir o objetivo proposto pelo projeto de pesquisa, que era de 06 participantes, o relatório final da pesquisa foi feito levando em consideração a opinião exposta pelos 04 participantes que entregaram seus questionários devidamente preenchidos. 4.2.2 Diagnostico inicial Dos 04 participantes da pesquisa, 03 são docentes e 01 faz parte da coordenação pedagógica da escola. Dos 03 docentes, 02 afirmam serem “novatos” na instituição, sendo este – o ano de 2019 - o primeiro ou segundo ano trabalhando na EMEF José Mª Rodrigues Viegas Jr. No entanto, todos os docentes que participaram da pesquisa já têm vasta experiência na área, sendo, em média, 10,5 anos de experiência. 4.2.3 Profissionais que lutam por uma escola sem violência No bloco 2, o questionário já vinha com perguntas sobre a violência na escola, as providencias adotadas, e demais informações. Dos 04 participantes, 03 afirmam já terem presenciado situações de violência entre os alunos na escola, sendo que, a violência verbal é a mais citada entre as afirmações, confirmando as afirmações dadas pelos alunos nas entrevistas. Frente a essas situações, os profissionais seguem sempre uma mesma forma de tomar providencias, que é, inicialmente dialogando com os envolvidos e, havendo a reincidência, encaminhando à coordenação pedagógica e à gestão escolar. Sobre a frequência com que ocorre os casos de violência entre os alunos na escola, os participantes voltam a afirmar que ocorrem com certa frequência, mas na forma verbal, xingamentos, apelidos, e etc. A escola ainda adota o sistema de punição por meio da suspenção àqueles que praticam atos de violência na escola, todos os 04 participantes afirmaram que os alunos que são autores nos casos de violência, são encaminhados à gestão e, dependendo da gravidade de seus atos, podem levar a suspensão. 27 4.2.4 A ausência de projetos e capacitação para o enfrentamento da violência A instituição ainda não desenvolveu nenhum projeto de combate e prevenção à violência e, nem ao bullying. No entanto, na afirmação dos participantes, apesar disso, buscam sempre socializar suas experiências nas reuniões pedagógicas, todos buscando formas e metodologias que visem minimizar essa problemática na escola, conforme o recorte a seguir: Capacitação não tivemos, mas em nossas reuniões sempre buscamos conversar, trocar experiências entre os professores da escola mesmo, sempre tentando achar soluções que visem acabar ou minimizar essa problemática que já foi bem maior em anos anteriores. (Professora Joana, 2019) Apesar disso, tendo por base a seguinte afirmação: “Nós temos um projeto que busca trabalhar os valores dentro das turmas; é interdisciplinar e está em nosso PPP.” (JOANA, 2019); foi constatado que, de fato, a questão do fortalecimento dos valores dentro da escola, é bastante presente no Projeto Político Pedagógico da instituição, onde a [...] responsabilidade dos profissionais envolvidos, num compromisso de fazer-se contribuinte do processo ensino aprendizagem, para que a escola possa caminhar permanecendo atenta a uma educação capaz de ser transformadora e trabalhar sujeitos para o “mundo social”, percebendo-a como um espaço do diálogo, do conflito, da heterogeneidade, da cultura, de valores sociais e econômicos diferenciados. Entretanto, aprender a lidar e a respeitar essas diversidades que acompanha o nosso educando que seja eficaz, pois esse novo olhar é fundamental para uma educação transformadora que tanto se almeja nessa comunidade escolar. (MELGAÇO, 2019b) No entanto, importa ressaltar ainda que, essa não é uma problemática somente da escola “Juninho”, se trata de um problema a nível nacional. Maldonado (2011, p. 44) a partir da análise dos resultados das pesquisas realizadas pela Plan Brasil, afirma que [...]a maioria das escolas ainda não desenvolveu estratégias eficientes para reduzir a incidência do bullying ou prevenir sua ocorrência. Quase todas se limitam a punir o aluno agressor e a conversar com seus pais [...]. (MALDONADO, 2011, p. 44) Dessa forma, a responsabilidade do enfrentamento ao bullying acaba sendo “jogado” de um lado para outro, a escola culpa a família, e esta, por sua vez, culpa a escola, onde na verdade deveria haver uma cooperação, união entre esses pilares, no enfrentamento deste fenômeno. Falando ainda da responsabilidade pelo combate e prevenção desta problemática, os participantes da pesquisa, levantam ainda a questão da falta de apoio e investimentos, o que é citado da seguinte forma: “A instituição precisa de apoio do poder executivo, ‘pra’ trazer projetos consistentes pra escola. Eu penso que professores e gestão fazem o que está ao seu alcance, mas investimentos sempre é bom.” (Profa. JOANA, 2019). De fato, se faz necessária também que a iniciativa do poder público municipal, esteja presente na escola, em forma de fomentação de pesquisas e projeto para a escola, visando sempre uma melhor qualidade do ambiente escolar 28 e, consequentemente, do processo de ensino e aprendizagem. E, complementando essa preocupação, ainda podemos citar as afirmações acerca da importância desses projetos na escola, onde, quando no questionário foram indagados sobre a relevância de pesquisas e projetos relacionados à violência escolar e, consequentemente, ao bullying, todos os participantes responderam positivamente, cita-se, o recorte a seguir: “Com certeza, trabalhos sobre esses temas/assuntos são bastante relevantes não só para a escola, mas para a comunidade em geral. Melgaço precisa de trabalhos que possam ir além da academia.” (Profa. MAYARA, Coordenadora Pedagógica, 2019). CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir dos resultados apresentados, foi possível constatar que todos os alunos que participaram das entrevistas (17 alunos) estiveram expostos a algum tipo de violência dentro do ambiente escolar, seja como espectador, autor e/ou vítima e, desse total de alunos envolvidos em casos de violência, 9 (dos 17) estiveram envolvidos em algum caso de bullying na escola, sendo que: 02 foram como alvo/espectador; 01 como autor; 04 como espectador e 2 como alvo. A principal forma de violência presente na escola, é a verbal com o total de 31 (77%) dos casos de violência relatados, acontecem como apelidos depreciativos, xingamentos, chacotas e etc. Os casos de bullying, seguem a mesma tônica, sendo majoritariamente de forma verbal. Os locais de maior incidência dos casos de violência e bullying entre alunos é na sala de aula, principalmente na ausência do professor. Ainda, a partir dos relatos dos alunos, foi possível observar que a escola ainda não tem medidas efetivas com relação à violência em geral e, ao bullying. Nesse sentido, os alunos não têm de forma esclarecida ainda, o que de fato é o bullying e tampouco as consequências negativas que estar exposto ao bullying, pode trazer para o ambiente escolar como um todo. A partir dos questionários respondidos pelos membros do corpo docente e técnico administrativo, foi possível fazer uma análise no sentido de que, apesar de a escola ainda não contar com formações, capacitações, tampouco parcerias de outras entidades governamentais, os profissionais que ali atuam, buscam o máximo possível, construir uma cultura de valores dentre os alunos, não se acomodando em apenas observar as situações queocorrem diariamente, sempre buscando intervir. No entanto, ainda são esforços isolados e pontuais, se faz necessário um aprofundamento no assunto, e elaboração de mecanismos mais viáveis para o ambiente escolar, no sentido de, não somente agir no momento em que ocorrem as situações de violências 29 entre os alunos, mas também, agir na prevenção, para que essas situações, ao máximo possível, nem ocorram na escola. De fato, a instituição vem cumprindo, em partes, com o disposto no artigo 56 do Estatuto da Criança e do Adolescente, onde nos diz o seguinte Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: I – maus-tratos envolvendo seus alunos; [...] (BRASIL, 1990) No entanto, diante dos dados apresentados pelo Conselho Tutelar de Melgaço, em todos os registros, levando em consideração os anos de 2018 e 2019, 10 casos foram comunicados ao Conselho Tutelar do Município, o que, se observarmos os relatos dos alunos que participaram na pesquisa, fica evidente que os casos são bem mais numerosos, claro, é importante evidenciar também, que nem sempre os casos chegam ao conhecimento dos funcionários da escola, o que pode justificar esse número de casos comunicados ao Conselho Tutelar. Ainda falando sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 5º, afirma o seguinte: Art. 5.º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. (BRASIL, 1990) E ainda, coloca-se em evidencia o artigo a seguir, Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. (BRASIL, 1990) Logo, as crianças e adolescentes têm seus diretos garantidos e, como apresentado, é dever também da instituição de ensino na qual essa criança está inserida, zelar por sua integridade moral e física. Ainda falando em legislação, se torna de suma importância citar o disposto na Lei 13.185/15 – que institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (bullying) –, que, em seu artigo 5º, afirma que Art. 5º. É dever do estabelecimento de ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática (bullying), (BRASIL, 2015). É necessário que a escola cada vez mais, aja incisivamente em buscar parcerias junto aos órgãos municipais e demais órgãos presentes no município, para ações, projetos, formações 30 com os docentes e demais profissionais da escola. Diante o exposto, o objetivo principal da pesquisa, bem como, da apresentação deste relatório à escola e a quem mais possa interessar, é justamente validar (ou não) a necessidade da implementação de um projeto de intervenção pedagógica, respeitando as particularidades da escola por meio dos resultados obtidos nesta pesquisa. Assim, é possível projetar ações que visem construir um ambiente de paz e companheirismo entre os alunos, fortalecendo os vínculos de confiança entre discentes e docentes, e estes com os membros do corpo técnico administrativo, construindo uma escola baseada em valores positivos e a paz mutua. 31 REFERÊNCIAS ARAUJO, Carla Patrícia da Silva; SILVA, Luciana Rios da. Bullying na Escola: essa brincadeira não tem graça. V Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade”. São Cristovão, SE: 2011. ISSN 1982-3657. ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2ª ed. Rio de Janeiro: ZAHAR EDITORES, 1981. BRASIL. Lei Nº 13.185, de 06 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying). Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Brasília, DF: 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015- 2018/2015/lei/l13185.htm> Acesso em: 28 dez. 2018. BRASIL. Lei Nº 8.069, de 13 de julho de 1990. 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