Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPITULO 15 – JULGAMENTO E TOMADA DE DECISÃO Os investigadores do julgamento dedicam-se à seguinte questão: “Como é que as pessoas integram sugestões múltiplas, incompletas e às vezes contraditórias para inferir o que se passa no mundo exterior?” Os investigadores da tomada de decisão tratam da questão: “Como é que as pessoas escolhem que acção devem praticar de forma a atingir objectivos, por vezes instáveis, num mundo exterior incerto?” Julgamento Tomada de Decisão Consequências indirectas através da decisão que informa Consequências directas Avaliado pelo seu grau de precisão Avaliada pelas suas potenciais consequências O julgamento para se tornar decisão tem, portanto, apenas que acrescentar consequências aos diferentes tipos de resultados. Envolve resolução de problemas – melhor escolha a partir das opções. Contudo, Tomada de Decisão e Resolução de Problemas diferem: 1- Na resolução de problemas temos de formar as nossas próprias hipóteses 2- As tomadas de decisão são em ambientes imprevisíveis, contrariamente à resolução de problemas que ocorre, maioritariamente, em ambientes controlados. Tomada de Decisão – todo o processo de escolha de um curso de acção. Julgamento – os componentes do processo mais abrangente da tomada de decisão: avaliação, estimativa e inferência de que vão ocorrer eventos, e as reacções de quem toma a decisão perante estes resultados. JULGAMENTO Teorema de Bayes: Exemplo: Táxi envolve-se em acidente. 85% dos táxis da cidade são Verdes, 15% são Azuis. Testemunha ocular identifica o táxi como sendo Azul. Submetida a testes para identificar táxis em diferentes condições, a testemunha errou 20% das vezes. Logo: 0.15 0.80 0.12 ------ x ------ = ------ 0.85 0.20 0.17 Leia-se, 0.12+0.17= casos possíveis, então, 0.12/0.29=41% do táxi ser Azul; e portanto 49% ser Verde. Negligência das Frequências de Base A demonstração anterior mostra que muitas vezes as pessoas consideram menos as probabilidades anteriores (informações sobre as frequências de base) do que deveriam (Teorema de Bayes). Ou seja, a maioria baseou-se apenas no depoimento da testemunha e ignorou o número de táxis existentes na cidade. Frequências de Base – frequência relativa de ocorrência de um evento ou presença de um atributo na população. Exemplo: 85% dos acidentes na cidade envolvem táxis Verdes. 15% táxis Azuis. Aqui existe uma Relação Causal (entre a probabilidade de haver um acidente e a cor da respectiva companhia de táxis) que forçou as pessoas a dar mais importância às frequências de base. Exemplo a resolver: Um teste detecta que 1 em cada 1000 pessoas é portadora de uma doença. Tem um índice falso positivo de 5% (ou seja engana-se 5% dos casos). Qual é a probabilidade de uma pessoa que obteve resultado positivo para o teste ser realmente portadora da doença? Admitindo que não sabes nada sobre os sintomas e afins. Resolução na pág. 462 Gigenzer afirma que a nossa experiência do mundo surge tipicamente sobre a forma de frequências e não de probabilidades. (Posição discutível) Contudo, evidências adicionais provam que até mesmo peritos falham, frequentemente, em usar informações acerca de frequências de base quando trabalham com probabilidades. Koehler clarifica esta tópica ao afirmar que a literatura mostra que as frequências de base são quase sempre usadas, mas que o seu grau de uso está dependente da estrutura da tarefa e da sua representação. Ou seja, quando as FB no ambiente natural são ambíguas ou dúbias, não existem regras normativas para o seu uso. Nestes casos, o valor de importância das FB num diagnóstico pode ser substancialmente menor comparativamente a a experiências de laboratório. Amostragem Natural Já vimos então que os julgamentos baseiam-se mais na frequência do que nas probabilidades da sua ocorrência. Foi com base neste pressuposto que Gigerenzer e Hoffrage criaram uma abordagem diferente, a Abordagem Natural. Trata de uma forma evolucionária de estudar diferentes problemas do quotidiano e baseia-se na noção de amostragem natural, que os autores definem como “o processo de encontrar, sequencialmente, exemplos na população. É impossi´vel negar que tais frequências fornecem informações valiosas para se faze julgamentos, contudo no mundo real encontramos apenas uma pequena amostra dos eventos e portanto as frequências de vários acontecimentos nesta amostra pode ser muito selectiva e muito diferente das amostras naturais e subjectivas. Ou seja, a noção que os julgamentos são mais precisos quando as informações são apresentadas em frequências em vez de probabilidades nem sempre corresponde a verdade. Um exemplo crasso disso é uma experiência realizada por Griffin e Buehler onde pediram aos alunos que fizessem uma estimativa de um prazo de entrega para um determinado trabalho. As probabilidades determinaram que 73% dos projectos estivessem terminados a tempo, as frequências 65%. Na verdade, apenas 48% dos trabalhos foram entregues atempadamente. A isto os autores concluíram que “sob a maioria das circunstâncias da vida real, os julgamentos da vida intuitiva são igualmente tendenciosos, independentemente de ser usada a frequência ou a probabilidade”. Em jeito de conclusão, os dois aspectos principais da abordagem teórica de Gigerenzer e Hoffrage são: em primeiro lugar, aceitar que o uso da amostragem natural pode melhorar a precisão dos nossos julgamentos; e em segundo lugar, reconhecer, também, que os julgamentos com base em informações de frequência são, variavelmente, mais bem fundamentados do que os com base em probabilidades. No entanto, aliadas as duas desvantagens supracitadas (a da selectividade da amostragem natural e o facto das informações de frequência não serem 100% infalíveis) é de referir que mesmo quando os julgamentos são significativamente mais precisos quando baseados em frequência em vez de probabilidades, não significa que os resultados tenham uma explicação em termos evolutivos. Heurística da Representatividade (para explicar o porquê de muitas vezes ignorarmos as informações de frequência de base) Kahneman e Tversky definem heurística de representatividade como “quando os eventos representativos ou típicos de uma classe são designados com uma alta probabilidade de ocorrência. Se um evento é extremamente semelhante à maioria dos outros numa população, consideramo-lo representativo.” Exemplo: Perante a seguinte descrição de um indivíduo diga que profissão acha que este exerce. (Advogado / Engenheiro). Considera, contudo, que das 100 descrições, 70 correspondem a Advogados e 30 a Engenheiros. Jack é um homem de 45 anos de idade. Ele é casado e tem quatro filhos. É em geral conservador, cuidadoso e ambicioso. Não demonstra grande interesse político e social e dedica a maior parte do tempo livre aos seus variados hobbies que incluem carpintaria, navegação e problemas matemáticos. Se respondeste Advogado tenho a dizer que és burro(a) e volta a ler a merda da definição de Heurística da Representatividade. Se respondeste Engenheiro tenho-te a dizer que caíste na falácia da Heurística da Representatividade, mas que já percebeste o seu conceito (o que era o propósito do exercício, não existindo resposta 100% correcta). Ou seja, com isto tudo pretendo mostrar que as pessoas ignoram a frequência de base, como era o caso da informação da distribuição das descrições, e erram muitas vezes ao caírem numa heurística de representatividade. Realizou-se ainda outro estudo, para tentar sensibilizar mais os participantes para a existência da FB. Contrapôs-se numa caixa de plástico 70 bolas brancas e 30 verdes que ora correspondiam a 70 descrições de engenheiros e 30 de advogados ora o contrário (para a mesma descrição que acima). Aqui as pessoas (ao verem a merda do verde e do branco)consciencializaram-se mais para as informações de FB e houve resultados melhores. Envolvida também na falácia de representatividade está a falácia de conjunção. Esta é a crença equívoca que a combinação de dois eventos é mais provável que qualquer um dos dois separadamente. Exemplo: Linda tem 31 anos de idade é feia como a merda, é solteira, sincera e muito brilhante. É formada em Filosofia. Quando era aluna, era profundamente interessada em questões de discriminação e justiça social e também participou em manifestações anti nucleares. Pediu-se aos participantes para “colocar” a Linda numa das seguintes categorias: caixa de banco, feminista ou caixa de banco e feminista. A maior parte dos participantes colocou Linda na última categoria, caindo assim na falácia de conjunção pois todas as “caixas de banco feministas” pertencem a categoria mais ampla de “caixas de banco” e “feministas”. Heurística da Disponibilidade Tversky e Kahneman, “estimar as frequências de eventos com base na facilidade ou dificuldade em recuperar informações da nossa memória de longo prazo”. Exemplo: Assumindo que lê um texto em Inglês, é mais provável uma palavra de 3 letras começar pela letra “r” ou ter a letra “r” como terceira letra? A maioria dos participantes deu a primeira resposta (começar por “r”) pois, na verdade, não só é maior o número de palavras em língua inglesa iniciadas pela letra “r”,como a nossa memória mais facilmente se lembra das mesmas. (eg red, rat, rap, rot, etc…) No entanto existem outros casos em que a heurística de disponibilidade induz em erro. Outro estudo realizado pelos mesmos autores, pediu-se para identificar se a maior parte das palavras (de língua inglesa) presentes num determinado texto, terminavam em “ing” ou em “-n-”. Ao que os participantes responderam “ing”, incorrectamente pois as palavras que terminam em “ing” também terminam em “ -n-”. Tversky e Koehler apresentaram a sua teoria de apoio a esta heurística ao afirmar que um evento parece mais ou menos provável de acordo com a forma como este é descrito. Exemplo: Se eu perguntar se achas que vais morrer este Verão, a resposta de qualquer “participante” será maioritariamente negativa. Contudo se a pergunta for feita desta forma: Qual é a probabilidade de este Verão contraíres ma doença mortal e incurável, teres um acidente de carro ou o teu avião cair? Parece mais provável a ocorrência de qualquer um destes eventos. Isto comprova-se pois: 1- Uma descrição explícita atrai mais atenção para os aspectos do evento de que uma descrição generalista. 2- As limitações da memória actuam de tal forma que as pessoas não consideram todas as informações ditas relevantes, a não ser que estas lhes sejam fornecidas. Ainda de referir e relembrar a ideia que a ocorrência de uma probabilidade isolada é sempre considerada inferior a uma probabilidade combinada. Exemplo: Os participantes forma confrontados com seguinte escolha: Para este Verão preferes um seguro de saúde que cubra hospitalização por qualquer motivo. OU Um seguro de hospitalização que cubra qualquer caso de doença ou acidente. As ofertas são iguais, mas devido a natureza mais descritiva da segunda opção, as pessoas caem, outra vez, na falácia da heurística de disponibilidade. Estudos semelhantes foram realizados em peritos (médicos, advogados e afins) nas suas áreas específicas e, ao contrário do que se esperava, estes também caem, em registos também elevados, na falácia supracitada. Em suma, está comprovado o facto da heurística de disponibilidade, à semelhança de todas as outras ter um papel importante no julgamento. Contudo não é claro porque é que as pessoas negligenciam informações relevantes nem porque é que a presença de uma determinada probabilidade referente à “experiência” aumenta a efectividade e veracidade das respostas. Heurística da Numerosidade (termo “Brasileiro”, se encontrarem o equivalente Português digam por favor) Pelham, Sumatra e Myaskovsky, “esta heurística envolve inferir excessivamente quantidade ou valor a partir do número de componentes em que uma entidade é dividida.” Exemplo: Muitos alimentos em pequenos pedaços transmitem uma noção maior de que um só bife de grandes dimensões. Uma piza parece maior quando as fatias são dispostas em linha recta do que quando apresentada em círculo. Nesta abordagem de Tversky e Kahneman há, no entanto, que referir, em primeiro lugar, algumas limitações relativamente a como e quando são usadas as heurísticas referidas; e, em segundo lugar, algumas falhas no entendimento das questões propostas por parte dos participantes devido a uma por vezes medíocre apresentação do problema. Em terceiro lugar, esta pesquisa está bastante desligada das realidades do quotidiano na medida em que os nossos julgamentos estão igualmente condicionados por inúmeros factores tais como as nossas emoções, motivações, preconceitos e afins. Para finalizar, os autores prestam pouca atenção às diferenças individuais, que pode constituir uma omissão importante. Heurísticas Rápidas e Frugais Gigerenzer, Todd e o grupo de pesquisa da ABC definem-nas como: “regras simples da caixa de ferramentas adaptativas da mente para tomar decisões com recursos mentais realistas” Uma destas heurísticas é a heurística, ou estratégia, “escolha o melhor”. Esta estratégia compreende, então, 3 componentes: 1- Procurar indícios para se estabelecer a validade – Regra de Procura 2- Parar depois de encontrar um indício discriminatório – Regra de Paragem 3- Escolher o resultado – Regra de Decisão O exemplo mais usado desta estratégia constitui a heurística do reconhecimento: “ se entre dois objectos é reconhecido um e outro não, assume-se que o objecto conhecido tem maior valor de validade e respeito que o outro”. Exemplo: Apresentam-nos duas cidades, pedem-nos para dizer qual delas tem maior de número de habitantes e como só conhecemos uma das duas, escolhemos essa e descartamos imediatamente a outra. É de referir que as pessoas podem muitas vezes apenas considerar que a cidade que conhecem é de facto maior por saberem as dimensões da cidade e não apenas por descartarem a outra opção através da heurística do reconhecimento. Para tal foram realizados estudos com nomes de cidades pequenas situadas perto de Stanford, e com nomes fictícios de outras cidades (mas que contudo soavam plausíveis). Aqui ficou demonstrado que as pessoas apenas optaram 37% das vezes pela cidade conhecida como sendo “a maior”, pondo em evidência o detrimento da heurística pelo facto de realmente se conhecer uma das cidades referidas. É tempo então de referir as limitações das heurísticas rápidas e frugais. Enquanto é inegável o facto que constituem estratégias simples, mas contudo eficazes para a resolução de alguns problemas, existem 3 limitações principais que não podemos deixar de salientar. 1- Em primeiro lugar são usadas menos vezes do que está previsto teoricamente como mostra o último estudo citado. 2- Segundo, alguns processos envolvidos no desenvolvimento de teorias científicos e afins mostram-se demasiado complexos para a usa aplicação. 3- Ainda em seguimento da alínea superior, comparar duas cidades e escolher qual a maior não é bem comparar dois homens (no caso de uma mulher) e escolher com qual deles há de casar… As mulheres querem considerar sempre todas as evidências! 4- A menos que possamos “a priori” especificar que condições fazem usar uma ou outra heurística – e qual o grau de preferência de uma em detrimento de outra – o poder de prognóstico das heurísticas rápidas e frugais permanece questionável.
Compartilhar