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Encefalomielites Equinas Americanas Doença do SN dos animais domésticos. São naturalmente importantes por infectar e matar cavalos, com letalidade alta e são zoonoses. Esse tipo de doença está em evidencia hoje por pertencer ao grupo de doenças chamadas de “Arboviroses”, assim como Zika Vírus, dengue, chikungunya. A elevação das temperaturas medias no planeta tem favorecido a proliferação dos artrópodes e por causa disso as arboviroses encontram condições sai sair dos seus nichos selvagens e provocar surtos e pandemias. Encefalomielite equina ocorre nas américas, mas a tendência é aumentar a ocorrência. DISTRIBUIÇÃO No mundo todo existem arbovírus causados de encefalites. Nós vamos focar em três agentes, exclusivos da américa: EEE: East equine Encephalitis = Encefalite Equina Leste (descoberto na costa leste americana). É o mais letal e o mais importante, especialmente no Brasil. WEE: West equine Encephalitis = Encefalite Equina Oeste (descoberto na costa oeste americana). VEE: Venezuela equine Encephalitis = Encefalomielite equina Venezuelana. Importante sobretudo na bacia amazônica e América Central. Os três agentes são efetivos nas zoonoses. De maneira geral, esses vírus se concentram na faixa tropical, devido à condição climática de favorável aos vetores biológicos, nos quais o vírus se multiplica. IMPORTÂNCIA Na saúde animal: acomete equídeos, qualquer faixa etária, mas e mais patogênica em animais jovens, causa encefalite com elevada mortalidade e quando não mata deixa sequelas: dificuldade locomotora, fraqueza, incapacidade para o trabalho, sendo muitas vezes eutanasiados. Na saúde pública: os três vírus tem capacidade de afetar humanos, principalmente crianças. As encefalites podem levar a óbito ou deixar sequelas nos sobreviventes. DEFINIÇÃO Doença infecto-contagiosa(não é de característica contagiosa, mas em algumas circunstâncias um equino doente pode transmitir atipicamente por saliva ou secreção respiratória) de ocorrência nas Américas, causada por Alphavirus cujos reservatórios naturais são aves, transmitida por vetores artrópodes (normalmente pernilongos), que acomete equídeos e humanos, caracterizada por encefalomielite com morbidade e letalidade variáveis, mas em geral a letalidade é alta. ETIOLOGIA Alphavirus, da família Togaviridae(manto = envelope intimamente depositado sobre o capsídeo). São vírus frágeis: evoluíram para sobrevida no hospedeiro acidental (equídeos e humanos) ou no hospedeiro definitivo (aves, roedores e repteis), ou no mosquito. Dependem da transmissão direta pela saliva dos vetores (mosquitos). O mosquito inocula um pouco de saliva com proteínas anticoagulantes, transmitindo o vírus. Nas secreções como saliva e sangue a sobrevida do vírus é muito curta. Antígenos virais: percebe-se que o vírus é cheio de projeções na sua superfície, a partir de um envelope, sendo dominadas por glicoproteínas que se organizam como trímeros, compostos por glicopoteínas (E1, E2 e E0). A glicoproteína E2 é o principal antígeno indutor da formação de anticorpos neutralizantes (nos exploramos isso porque produzimos vacinas, inoculando em cavalos que produzem anticorpos anti-E2, que neutralizam a capacidade infectante do vírus), é também o principal ligante viral. O principal alvo desse ligante são receptores de endocitose, existentes em células linfoides, endoteliais e nervosas. A proteína C é um antígeno interno do vírus, que compõe capsídeo (esse é icosaédrico) e pode colaborar na imunidade via imunidade celular por ser expressa em ribossomos livres no citosos, então a célula infectada apresenta antígenos da proteína C, mediando o ataque de linfócitos TCD8. Essa imunidade é importante principalmente após infecções virais (humanos e equinos naturalmente infectados). A vacina é geralmente inativada, não ativando a imunidade celular. TIPOS E SUBTIPOS São complexos virais com isolados diferentes, que apresentam diferença de patogenia (desde pouca a alto patogênicas) e podem variar um pouco antigenicamente, mas não o suficiente para que ocorra imunidade cruzada. O complexo leste não tem diversidade tão grande quanto o complexo oeste e o complexo Venezuela. EPIDEMIOLOGIA Todos esses vírus podem acometer equinos e humanos, mas a maioria não é patogênica para causar os sinais. As espécies domésticas susceptíveis são: aves domésticas (atuam como amplificadoras da distribuição do vírus), humano e equino (considerados hospedeiros acidentais por não fazerem parte da epidemiologia natural do vírus. O objetivo do vírus é usar o vetor para chegar em outra ave). Hospedeiros acidentais: mamíferos. Hospedeiros amplificadores: aves domésticas. Distribuição: concentrada na américa. O Venezuela é mais restrito em região tropical. A patogenia é maior em animais jovens e crianças, mas o vírus pode infectar qualquer faixa etária. Os reservatórios são os hospedeiros naturais: o vírus se mantem em aves, e o vírus Venezuela também infecta roedores e répteis (considerados reservatórios). Para o vírus leste, o reservatório mais bem conhecido é o faisão. Além disso infecta várias aves domesticas como pombos e passeriformes. Transmissores: mosquitos que também atuam como amplificadores, destaque para os gêneros: Aedes e Culex. O vírus sobrevive no pernilongo e infecta animais no momento que ele se alimenta de sangue, sobrevivendo no pernilongo pelo resto de sua vida (até 120 dias). Amplificadores: os mais importantes são as aves criadas próximas aos equinos (galinha, pato, marreco). No caso do vírus Venezuela e Oeste, o equino durante a fase virêmica também é considerado amplificador. No geral a viremia nos equinos dura em torno de 1 semana, período no qual se tem a possibilidade do vetor picar o cavalo, se infectar e ir infectar outro animal. Morbidade e letalidade: variam amplamente, dependendo da patogenia da cepa envolvida (virulência), da densidade da população de vetores (as arborivoses estão associadas a épocas quentes e úmidas – verão), existência de reservatórios (aves selvagens, pequenos roedores e répteis) e equídeos susceptíveis (sem imunidade adaptativa – anticorpos). TIPO VIRAL MORBIDADE LETALIDADE EEEV Variável Até 90% WEEV Variável Até 50% VEEV Variável Variável O mais comum é se ter um surto (elevação da morbidade), cavalos susceptíveis adquirem a doença, manifestam sinais, morrem ou sobrevivem e são naturalmente imunizadas (produção de anticorpos anti-E2). Por isso as epidemias do vírus são cíclicas, em torno de 3 a 5 anos: quando se tem uma nova população de equídeos e humanos susceptíveis ou indivíduos que não tiveram imunidade tão duradoura. CICLOS ENZOÓTICO E EPIZOÓTICO Fluxograma: Dois ciclos epidemiológicos: Ciclo enzoótico: numa determinada região a circulação do vírus mantem níveis de frequência e prevalência mais ou menos constantes, ocorrendo na população de vertebrados hospedeiros (aves, répteis e pequenos roedores). Ave infectada pela picada de um vetor produz viremia prolongada, porém com baixos títulos virais no sangue do reservatório (ave assintomática). Essa ave pode ser migratória e levar o vírus com ela. O vírus que se propaga nas células endoteliais da ave e está na sua corrente sanguínea, passando para um vetor quando a ave for picada e daí para outra ave. AVE VETOR AVE (se mantem na natureza). Ocorrência: ecossistemas naturais dos reservatórios e vetores. Hospedeiros acidentais (homem e cavalo): não ocorrência ou morbidade muito baixa/ausência de casos ou raros casos nos HA. Fatores climáticos podem interferir, favorecendo o vetor, a disponibilidade de alimento, ajudando a proliferação do hospedeiro definitivo (ave), aí temos o segundo ciclo. Ciclo epizoótico = epidemia: Esse ciclo é precedido por aumento de “atividade” (=circulação viral) no ciclo enzoótico. Para as espécies de nosso interesse surge um surto (elevação na taxa de incidência da doença, com distribuição mais elevada) de aumento significativo de hospedeirosterminais (potros e crianças) sem imunidade adaptativa específica pra o vírus +presença de cepas virais virulentas. Fatores de risco: proliferação das aves, presença de hospedeiros susceptíveis e presença de cepas virulentas. AVE VETOR HOSPEDEIRO ACIDENTAL/TERMINAL. São surtos nos hospedeiros acidentais/terminais, em áreas de ciclo enzoótico, onde fatores de risco favorecem a transmissão para esses hospedeiros. PATOLOGIA O vírus tem tropismo por células endoteliais, do sistema monócito-macrofágico e pelo tecido linfoide. Quando a quantidade de vírus que se multiplica nessas células é muito alta, o vírus pode infectar o sistema nervoso, ou seja, a infecção só sistema nervoso só ocorre se houver títulos elevados no sangue. O vírus lesa todas essas células em que ele se encontra. Via de infecção: percutânea (todos os tipos) e via oral/respiratória (no VEEV e eventualmente no WEEV – mas essa não é uma via importante). Primeiro sítio de replicação: endotélio vascular local, monócitos e macrófagos. A saliva onde se encontra o vírus tem alguns componentes alergênicos, provocando pequeninos focos inflamatórios que atraem macrófagos e monócitos. A viremia primaria tem curta duração (24h), baixos títulos virais e ausência de sinais clínicos. Quando o vírus cair na corrente sanguínea ele pode encontrar duas circulações: presença ou ausência de anticorpos neutralizantes. NO caso da presença, a infecção a abortiva (não resulta em nada, é subclínica e continua subclínica, sendo o vírus detonado). Já no caso da ausência, o vírus se espalha por todo o tecido endotelial, muitas células endoteliais estão produzindo o vírus e surge uma viremia secundária, caracterizada por altos títulos virais na corrente sanguínea, respondendo o corpo com febre elevada, prolongada (5 a 7 dias) e em algum momento iniciam os problemas neurológicos. Necrose neuronal Infiltração inflamatória (neutrófilos matando neurônios infectados) Microlesões vasculares por trombose e isquemia Meningoencefalite não supurativa Alterações clinicas neurológicas. No vírus Venezuela se tem também: Linfopenia e necrose de medula óssea Imunossupressão aguda Miocardite, nefrite, pancreatite e enterite, com lesões necrotizadas multicêntricas Desmielinização neuronal. A imunidade adaptativa presente ou a baixa virulência da amostra podem abortar a infecção. O período de incubação é de 5 a 7 dias. SINAIS CLÍNICOS Febre elevada Manifestações neurológicas: apatia até completa refratariedade a estímulos externos, aparenta sonolência, tremores musculares, ataxia, andar bamboleante, apoia o corpo e a cabeça, decúbito esternal, decúbito lateral, lesões no corpo devido o animal debater no chão (escaras). É muito comum encontrar animais já mortos. DIAGNÓSTICO Diagnóstico diferencial: raiva (principal diagnóstico diferencial, evolução aguda), intoxicação por aflotoxina de milho mofado (equino se apoia contra obstáculos, evolução aguda), encefalomielite por herpesvírus equino (evolução aguda) e encefalomielite por protozoários (evolução crônica). Resumo: Arbovirose com ciclos epizótipo e enyoótco, tem vetores biológicos (pernilongos) e o vírus pode sair do meio selvagem acometendo equinos e humanos. A maioria das cepas virais é de baixa patogenicidade ou de patogenicidade moderada. Nas regiões com o ciclo enzoótico (entre animais selvagens) se tem acidentalmente transmissão dessas cepas de baixa virulência para os equídeos e espera-se que nessas regiões exista a ocorrência de equinos com anticorpos que não manifestaram sinas clínicos, devido as cepas serem de baixa virulência. Portanto, o exame sorológico positivo não é concludente nos casos de encefalomielite equina. DIAGNÓSTICO Sinais clínicos e fatores epidemiológicos (clima favorável: quente e úmido que favorece a proliferação de vetores; ocorrência da doença em anos anteriores na região, ocorrência da doença em anos anteriores na propriedade, ausência de vacinação dos equinos). Isolamento viral + Imunofluorescência direta: testes considerados conclusivos. Cultura de células Inoculação de animais Sorologia: não se sabe se os anticorpos são de uma infecção recente ou infecção tardia. As alternativas para esse problema são: Convencional: para inquéritos epidemiológicos; Pareada: para diagnóstico. Explora a presença de IgG antivírus de encefalomielite equina leste (a relevante no Brasil). Protocolo: 1. Colher uma amostra do soro do(s) equino(s) doente(s) e estocar congelado(s). 2. Se esses animais sobreviverem, após 21 dias, proceder nova coleta de soro do(s) mesmo(s) animal(is) e encaminhar para sorologia por titulação (dosar os anticorpos – pela técnica de vírus neutralização, onde se coloca o soro do equinos em diluições para confrontar o sistema vírus células, se houverem anticorpos no soro do equino ele neutraliza o vírus e não há destruição das células. A maior diluição é o título desse animal). Interpretação: O animal estava em um infecção viral (aguda): título da segunda amostra iguala a 4 vezes a primeira ou fica ainda maior que 4 vezes; Anticorpos de outra infecção: título da segunda amostra fica igual ou não supera a primeira em 4 vezes. Obs.: se o equino não vem a óbito, trabalha-se com sorologia pareada, se o equino veio a óbito, colhe-se o cérebro do equino no mesmo procedimento para raiva (SNC completo deve ser coletado e uma amostra de cada região deve ser obtida, é fundamenta um fragmento proximal de 1cm da medula e mandar para o laboratório de raiva e encefalomielite equina em SP). Na medula se encontra as lesões mais frequentes para o vírus da raiva (imunofluorescência direta). O cérebro vai ser examinado em exames não eficientes em tecidos formolizados e congelados, então o cérebro deve ser enviado fresco dentro de saco plástico de boa qualidade, envolto em gelo dentro de saco plástico de boa qualidade, dentro de boa caixa isotérmica. Escrever: material perecível – envio prioritário. Mandar juntamente envelope com carta explicando a situação do paciente e deixar explícito quais exames se deseja. CONTROLE E PROFILAXIA Notificação obrigatória, mas na maioria das vezes ninguém notifica. Zoonose: interessante também notificar a secretaria municipal. Vigilância epidemiológica: Monitoramento da atividade viral na natureza: colocar ratos em ambientes prováveis de contaminação. Camundongos são sacrificados e é realizada imunofluorescência direta; Antecipação de surtos: sorologia por amostragem da população equina; Combate aos vetores: captura dos vetores; Vacinação sistemática: a vacina é eficiente. Vacina monovalente: específica para o vírus leste, que é o importante no Brasil; Vacina polivalente: para os vírus leste, oeste e Venezuela. Protocolos: mesmo da raiva: todo equino a partir do quinto mês de idade deve ser vacinado anualmente, o melhor é instituir campanha dentro do haras. É recomendável que o potro, na primeira vacinação, recebe reforço após 30 dias, ou seja, sendo potro, recebe vacinação aos 5 meses, repetindo aos 6 meses e posteriormente vacinação anual. PREVENÇÃO PARA HUMANOS DENTRO DO SURTO DE ENCEFALOMIELITE EQUINA Crepúsculo/amanhecer: limitar as atividades no exterior de baias (cavalos)/casas (humanos) teladas durante esses períodos. Uso de vestimentas adequadas: roupas leves e folgadas, com mangas compridas, calca comprida. Uso de repelentes. Evitar criadouros de mosquitos, evitando acúmulo de água Residências apropriadas para o clima (telas nas janelas).
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