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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO - UNIVASF CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DISCIPLINA DE DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS PROFESSOR MATEUS MATIUZZI DA COSTA PARTE II DOENÇAS VIRICAS E FÚNGICAS PETROLINA, FEVEREIRO DE 2015. 2 SUMÁRIO Febre Aftosa 03 Herpesvírus bovinos 09 Diarréia Viral Bovina 17 Febre Catarral Malígna 22 Ectima Contagioso 28 Doença de Aujesky 33 Peste Suína Clássica 37 Peste Suína Africana 42 Síndrome Respiratória Reprodutiva dos Suínos 48 Parvovirose suína 49 Influenza 52 Papilomavírus 63 Artrite Encefalite Caprina 67 Anemia Infecciosa Equina 76 Herpesvírus Equino 84 Encefalites Equinas 89 Raiva 98 Cinomose canina 105 Parvovirose canina 113 Adenovírus canino 119 Herpesvírus canino 124 Panleucopenia felina 127 Rinotraqueíte felina 131 Calicivirose felina 135 Leucemia felina 139 Imunodeficiência felina 143 Introdução a micologia 147 Candidiase 157 Malassezia pachidermatis – Otite Externa 161 Dermatofitose 167 Dermatofilose 173 Criptococose 175 Histoplasmose 180 Esporotricose 182 Aspergilose 185 Micotoxicoses 189 Pitiose 202 Conidiobolomicose 204 3 FEBRE AFTOSA A febre aftosa foi descoberta na Itália no século XVI. No século XIX, a doença foi observada em vários países da Europa, Ásia, África e América. Com o desenvolvimento da agricultura houve também uma grande preocupação em controlar esta enfermidade e no início do século passado vários países decidiram combatê-la. A enfermidade agora está presente de forma endêmica em algumas regiões da Ásia, América do Sul, África e no Oriente Médio. Surtos da doença tem ocorrido em alguns países como Grécia, Taiwan, Argentina, Brasil, Uruguai, Japão e recentemente, no Reino Unido. Os prejuízos são causados pelas perdas diretas devido aos sinais clínicos, com conseqüente queda na produção, e pelas perdas indiretas através dos embargos econômicos impostos pelos países importadores. Todas as espécies de biungulados são naturalmente suscpetíveis a febre afotsa, especialmente os bovinos, suínos, ovinos, cervos, antílopes e camelídeos. Os carnívoros são resistentes. No ser humano a infecção pode ocorrer, apresentando poucas lesões na pele. Etiologia O agente etiológico da febre aftosa é um vírus da família Picornaviridae, gênero Aphtovírus. O genoma viral consiste de uma molécula de RNA de cadeia simples com aproximadamente 8 kilobases. O vírus não tem envelope, mede 27 nm de diâmetro e apresenta simetria icosaédrica. Na microscopia eletrônica as partículas virais apresentam-se lisas e circulares. Sete sorotipos já foram identificados (O, A, C, SAT1, SAT2, SAT3 e Ásia 1) e estão distribuídos em diferentes regiões geográficas. Esta heterogeneidade antigênica é muito importante na produção de vacinas. Todos os sorotipos possuem uma grande variedade de subtipos, o que acarreta dificuldades para o controle e erradicação da enfermidade. Os principais sorotipos são apresentados no quadro abaixo: REGIÃO VÍRUS 4 América do Sul - Brasil O, A, C Europa O, A, C África O, A, C, SAT1, SAT2, SAT3 Ásia O, A, C, Ásia 1 A . Norte e Central Área livre Caribe Área livre Oceania Área livre O vírus da febre aftosa é extremamente resistente no meio ambiente e sobrevive bem em material orgânico como fezes, sangue e em condições de alta umidade e de pouca incidência solar. É inativado em pH abaixo de 6,0. O vírus perde sua capacidade infectante quando exposto poucos dias em temperatura ambiente acima de 37C. Entretanto é muito resistente ao frio, sendo estável meses a –4C e anos a –30C. O vírus pode persistir por até seis meses na medula óssea e linfonodos resfriados. Patogenia Em condições naturais, a forma mais comum de transmissão é por aerossóis. A partir da porta de entrada, o vírus replica-se na mucosa e tecidos linfóides da região da faringe, tônsilas ou pulmões. O período de incubação varia entre 2-8 dias após o contato. Nas primeiras 72 horas há uma grande replicação do vírus e por isso nesta fase os animais são grandes disseminadores (o vírus está presente em todas as secreções e excreções). A disseminação do vírus começa geralmente 24 horas antes do ínicio dos sinais clínicos e continua por vários dias. A viremia persiste por 3-5 dias, com disseminação e replicação do vírus em células epiteliais. O fluído vesicular possui grande quantidade de vírus e o mesmo persiste no local das lesões por 3 a 8 dias. Posteriormente há diminuição na carga viral devido à presença de anticorpos neutralizantes. As vesículas desenvolvem-se a medida que o vírus se replica dentro de um grupo de células epiteliais, causando sua ruptura e criando uma grande "bolha" cheia de fluido dentro do epitélio. Esse fluido vesicular contem quantidades abundantes de partículas virais que também persistem nas células vizinhas por 3-8 dias, diminuindo em número a medida que anticorpos são formados. A replicação do vírus no epitélio da 5 glândula mamária também ocorre e o vírus pode ser encontrado no leite pelo menos por 10 dias após o início da infecção. Epidemiologia A principal forma de transmissão é por aerossóis, usualmente quando os animais estão próximos, contudo existem evidências de que o vírus pode ser transmitido em distâncias superiores a 50Km. Aerossóis contendo o vírus da febre aftosa podem ser liberados no ar exalado ou quando o leite está sendo transferido para o caminhão coletor. O contato direto com animais afetados e com excreções corporais é uma importante forma de transmissão. O vírus da febre aftosa pode ser encontrado em altas concentrações em fluidos das vesículas, saliva, fezes e leite. No pico da infecção o vírus está presente no sangue e em tecidos de animais afetados. Leite e alimentos contaminados podem conter o vírus por longos períodos de tempo e servir de fonte de infecção para animais susceptíveis. Abatedouros, estábulos, leiterias e outras instalações, como para produção de rações, podem servir como fonte de contaminação. O trânsito de pessoas em áreas contaminadas pode favorecer a disseminação do vírus através de roupas e calçados contaminados e as pessoas também podem abrigar o vírus no trato respiratório ou garganta por 24 horas. Equipamentos usados por veterinários ou usados na própria fazenda incluindo veículos, podem disseminar o vírus da febre aftosa dentro ou para fora da propriedade. Pneus e caminhões de leite com vazamentos podem deixar um rastro contaminado pelo vírus. O uso de biológicos contaminados também deve ser considerada, como vacinas para PSC. Animais que transitam livremente entre as fazendas, tais como roedores, veados, cães, gatos e aves podem disseminar o vírus da febre aftosa de um animal pra outro ou de uma fazenda pra outra. Animais de casco fendido, especialmente bovinos e bubalinos, também servem como disseminadores da doença e a transmitem para animais susceptíveis por meses ou anos após a infecção. Os bovinos podem conter o vírus no esôfago e tonsilas por até 30 meses depois da recuperação. Os suínos tendem a excretar mais que os bovinos, nos ovinos a doença é de difícil detecção, tornando estes animais grandes disseminadores do vírus aos bovinos. 6 O vírus da febre aftosa pode sobreviver no meio ambiente por longos períodos de tempo tendo as condições adequadas. O vírus pode resistir em pH <9.0 ou >6.0 e pode persistir no meio ambiente por até um mês sob condições favoráveis (ausência de luz, frio e pH adequado). A doença atravessa fronteiras internacionais através do transporte de animais infectados, da importação de animais e subprodutos animais contaminados e em fômites ou pessoas que viajam através de fronteiras. Profissionais da área de saúde e viajantes tambémpodem servir de fonte de contaminação quando viajam de um país para outro. Entre 2007 e 2014 vários surtos da doença foram relatados no mundo. Estes podem ser observados na tabela a baixo: Surtos de Febre aftosa no mundo no período de 2007 a 2014. Ano Sorotipo País 2010 O Japão e Coréia 2008 O Índia 2013 O Arábia Saudita e Líbia 2014 O Tunísia e Argélia 2011 O Bulgária 2012 SAT2 Egito 2011 O Paraguai Fonte: Brito et al. (2015) Sinais Clínicos Os sinais clínicos iniciam com diminuição na ingestão de alimentos, claudicação, febre e salivação intensa, principalmente devido à dificuldades na deglutição. Muitas vezes os animais abrem e fecham a boca com estalar dos lábios e apresentam diminuição na produção de leite. Vesículas e úlceras desenvolvem-se principalmente em áreas sujeitas a trauma como a mucosa oral, língua e espaço interdigital. As vesículas primárias são pequenas, mas podem coalescer e produzir bolhas que mais tarde se rompem levando à lesões ulcerativas. Quando os animais são examinados é comum o desprendimento da camada epitelial da língua. Miocardites 7 podem levar a morte de terneiros com menso de seis meses. Em suínos, a claudicação é o primeiro sinal clínico observado, seguida do aparecimento de vesículas no focinho que rompem-se facilmente. Em animais que estão amamentando as lesões nos tetos são comuns e pode ocorrer a transmissão da doença para os terneiros. As vesículas aparecem também nos espaços interdigitais e bandas coronárias das patas. As lesões da boca e língua regenaram-se rapidamente, mas as lesões das patas são susceptíveis à infecções secundárias, agravando o quadro. Estas lesões tornam ou animais improdutivos ou pouco produtivos. Mastites e abortos também podem diminuir a produção de leite. Diagnóstico Somente técnicos treinados do governo deverão inspecionar os animais, coletar material e enviar à laboratórios de referência.Os materiais a serem coletados incluem o líquido das vesículas antes de sua ruptura e o epitélio de vesículas recém-rompidas, por conterem grandes quantidades de vírus. Pode-se também coletar sangue com anticoagulante, soro e fluido do esôfago/faringe. Uma técnica para colheita de material para diagnóstico laboratorial que é usada unicamente para febre aftosa constitui-se da colheita de fluidos do esôfago/faringe. Para obter essa amostra, um instrumento conhecido como "probang" (foto acima à esquerda) é inserido na cavidade oral do animal e lentamente introduzido dentro do esôfago (foto acima à direita). 8 Após leve agitação, o "probang" é removido e a saliva/fluido esofágico coletados são colocados em meio próprio (MEM, contendo 10% de soro bovino fetal) para o transporte do material até o laboratório.As provas rotineiras para a demonstração do agente são fixação do complemento e ELISA. O cultivo celular pode ser realizado para isolar o vírus de tecidos, sangue, fluídos esofágicos e faringe. O diagnóstico diferencial deve ser feito de uma série de enfermidades, como IBR, doença da mucosas, febre catarral maligna, língua azul, estomatite vesicular dos suínos, exantema vesicular. Controle A OIE deve ser comunicada quanto à presença da febre aftosa dentro de 48 horas e essa organização informará os demais países interessados. Se a produção animal representa uma parte significativa da economia nacional, o país afetado geralmente instituirá medidas de controle drásticas e de efeito imediato. A trajetória da doença deve ser seguida de perto e todos os animais susceptíveis potencialmente expostos devem ser abatidos e então queimados ou enterrados, seguindo certas regras. O transporte de animais e subprodutos animais, incluindo leite, deve ser proibido dentro das áreas afetadas e a exportação desses produtos também deve ser proibida. O trânsito de pessoas, equipamentos e de outros produtos, incluindo lixo, e o trânsito de animais não susceptíveis devem ser monitorados de perto e os procedimentos de desinfecção devem ser observados. O trânsito livre de animais tais como, cães, gatos, veados e roedores pela área afetada deve ser controlado. Fazendas infectadas e tudo o que sai da fazenda, incluindo pessoas e veículos, devem ser desinfetados usando desinfetantes apropriados. Entre os desinfetantes recomendados podemos citar: ácidos tais como ácido acético a 2%, carbonato de sódio a 4%, hidróxido de sódio a 2% e ácido cítrico a 0.2%. O vinagre (o mesmo usado na cozinha) tem 5% de ácido acético. Misture uma parte de vinagre com uma parte de água. Hipoclorito de sódio também pode ser efetivo. Para tal, misture três partes de hipoclorito de sódio com duas partes de água. É fundamental desinfetar pneus e a parte de baixo de todos os veículos que saem da área afetada, A alimentação de animais com subprodutos de outros animais dentro da fazenda deve ser proibida. O calor e baixa umidade também podem destruir o vírus. http://www.vet.uga.edu/vpp/NSEP/fmd/Port/desinfetantes.htm 9 As vacinas são usadas para controlar os surtos de febre aftosa. Elas podem ser usadas para diminuir a quantidade de vírus produzido ajudando a controlar sua disseminação em casos de emergência e são também usadas em zonas endêmicas e zonas tampão para prevenir a doença ativa. As vacinas mais comumente usadas contém vírus inativado e adjuvante. Vários países tem bancos de vacinas com os sorotipos que mais comumente ocorrem em suas regiões. São conhecidos sete sorotipos e 70 cepas do vírus da febre aftosa. No Brasil, a vacina em uso contém os sorotipos O, A e C inativados e emulsionados em óleo mineral. Animais que tenham sido vacinados são soro-positivos, tornando difícil certificar-se de que esses animais não são portadores e de que a doença tenha sido verdadeiramente erradicada. No Combate a Febre Aftosa resta ainda ressaltar importantes medidas de defesa sanitária animal, como: 1) Notificação obrigatória, 2) assistência a todos os focos, 3) vacinação de bovinos e bulbalinos, 4) controle da produção e fiscalização da comercialização da vacina, 5) controle e fiscalização do trânsito de animais, 6) desinfecção de ambientes e veículos, 7) sacrifício de animais doentes e de contatos, 8) destinação correta de excretas, carcaças e restos de animais e 9) limpeza ou destruição de equipamentos e materiais diversos utilizados no foco. ESTOMATITE VESICULAR (Gracielli e Mateus Matiuzzi da Costa) Introdução A Estomatite vesicular (EV) pode acometer diferentes animais bovinos, suínos, equinos e mamíferos silvestres. Causa prejuízos econômicos por constituir um sério problema de saúde animal e pode ser considerada como zoonose (incomum). Esta enfermidade pode ser facilmente confundida com a Febre Aftosa, sendo necessário um diagnóstico laboratorial bem elaborado. Já esteve incluída na lista de doenças de notificação obrigatória da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), mas em 2014 a mesma foi retirada da lista, por não causar morbidade ou mortalidade significativa. Esta enfermidade apresenta poucos sinais clínicos nos animais infectados. 10 Além das perdas associadas aos sinais clínicos, os maiores prejuízos associados a enfermidade são os gastos para realização do diagnostico diferencial da febre aftosa. Durante este tempo a propriedade estará interditada. Etiologia O agente etiológico da EV é um vírus (arborivirus) de RNA, pertencente à Família Rhabdoviridae, gênero Vesiculovírus. Esta família infecta diversos hospedeiros, entre estes vertebrados, invertebrados e muitas espécies de plantas. Os vírus são envelopados, não segmentados e de senso negativo. O vírus possui um virion grande (65-185nm) em forma de projétil. O virion possui duas estruturas principais o nucleocapsídeo (ribonucleoproteína) e envelope que envolvem o núcleo viral. O genoma viral é RNA fita simples, com senso negativo e composto de cinco genes. Doistipos imunológicamente distintos são classificados como New Jersey (NJ) e Indiana (Ind). Este último subdividido em três subtipos com características antigênicas distintas: Indiana I (amostra clássica), Indiana II (Cocal e Argentina) e Indiana III (Alagoas). Segundo o Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, neste gênero está incluído ainda espécies como Piry, Chandipura, Isfahan, Marabá e 20 outras espécies ainda não catalogadas (STEFANO,2002). Epidemiologia (EV) é uma enfermidade que tem registros do século XIX em cavalos na África do Sul, porém depois desse registro não houve mais relatos desta doença nesta localidade ou no continente africano. Apesar deste registro, a doença se mantém restrita ao Hemisfério Ocidental. O primeiro registro desta doença no Brasil foi em 1964 onde uma amostra do vírus Indiana III (Alagoas) foi isolada de cavalos no estado do Alagoas ainda neste estado foi relatado um surto da doença envolvendo muares dois anos após o primeiro registro. Entre os anos de 2005 a 2013 foram relatados a ocorrência de 169 focos nos estados Bahia, Ceará, Goiás, Pernambuco, Maranhão, Mato Gros¬so, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, São Paulo e Tocantins. Em 2014 foram registrados 54 focos. Esta enfermidade atualmente apresenta atividade endê¬mica do norte da América do Sul ao norte do México e su¬deste dos Estados Unidos. Atividade epidêmica geralmente acorre no sul da América do Sul, 11 Estados Unidos e Canadá (ARRUDA et al.,2015). No Brasil, os sorotipos New Jersey e Indiana 1, nunca foram descritos. Já as infecções que ocorrem em nosso país são provocadas pelo vírus Alagoas ou mais ao sul do país em locais restritos pelo vírus Cocal. O vírus possui uma grande gama de hospedeiros, de animais silvestres a domésticos. Insetos podem transmitir a doença entre estes mosquitos (Lutzomya sp., família Simuliidae, Cullicoides e Aedes). O vírus já foi isolado de moscas. Uma vez introduzido em um rebanho a doença começa a ser transmitida de animal a animal por contato direto. A eliminação das partículas virais é maior na saliva do que nas secreções respiratórias. O vírus possui pouca resistência ao meio ambiente, entretanto pode sobreviver de 3-4 dias em fômites. A sobrevivência do vírus é maior em locais frios e escuros. O vírus parece não cruzar a placenta. Seres humanos se contaminam ao entrar em contato com secreções, sendo que no laboratório a transmissão via aerossóis também foi descrita. A transmissão pela picada de insetos também pode ser uma possibilidade. A morbidade da doença é extremamente variável (5-90%). Tipicamente de 5- 20% dos animais de um rebanho são sintomáticos, contudo todos soroconvertem. Mortalidade é muito rara em bovinos e equinos, entretanto pode ser alta nos suínos. Patogenia O vírus pode penetrar no corpo do animal pelas vias intranasal, intradermal e endovenosa. Escarificações na pele servem de porta de entrada para o vírus. A picada por insetos provoca sinais mais intensos, pois os mosquitos liberam na sua saliva componentes que suprimem o sistema imune e provocam uma mairo agressividade ao vírus Após infectar células do sistema de defesa uma viremia curta é observada. O pico da replicação viral é obtido com 24 a 48h após a infecção viral. Os sorotipos NJ e I variam quanto a sua virulência na espécie suína, sendo o I mais patogênico. As lesões provocados pelo vírus da estomatite vesicular, incluem edema celular, necrose e lise celular associada com inflamação o que resulta na formação de vesículas. 12 Sinais clínicos Os principais sinais são: salivação, formação de vesículas na língua, lábios e mucosa bucal e muflo. Além das lesões orais estas podem ser descritas na banda coronária, úbere e prepúcio. Pode ocorrer ocasionalmente em bovinos lesões secundárias nos tetos causando mastite com perda parcial ou total da função mamária. Nos equinos podem ocorrer lesões na coroa do casco que podem evoluir para descolamento e dificuldade de locomoção impedindo o animal de realizar qualquer função. Animais afetados, que em geral têm mais de um ano de idade, ficam febris. Vesículas desenvolvem-se na língua e nas membranas mucosas orais. A claudicação é características proeminente da doença em suínos Nos suínos podem ser observados sinais mais intensos e mortalidade. Na ausência de infecção secundária, as lesões geralmente curam dentro de duas semanas. A estomatite vesicular provoca muita dor e pode ser associada a anorexia e adipsia. Desta forma a enfermidade é associada a grandes perdas pelo emagrecimento dos animais. Nos seres humanos, os sinais da estomatite vesicular são semelhantes ao da gripe. Na maioria dos casos são observados letargia, cefaleia, fotofobia e linfadenites, além dos sinais de resfriado. A recuperação ocorre em cerca de duas semanas. Diagnóstico O Diagnóstico deve ser rápido e diferencial da Febre Aftosa e deve ser feito o isolamento viral e a identificação através de provas sorológicas e molceulares. As amostras que podem ser coletadas para análise são secreções orofaríngeas, fluídos vesiculares, epitélios oral e podal. Para a identificação podem ser utilizadas as técnicas de fixação do complemento, vírus neutralização considerado teste de referência, ensaio imunoenzimático, inoculação em camundongos ou RT-PCR (reação em cadeia da polimerase). Tratamento 13 O controle da enfermidade consiste no isolamento dos animais doentes dos animais saudáveis. Medidas de segurança e higiene, como a lavagem das mãos são muito importantes para reduzir a transmissão entre equinos e seres humanos. O tratamento inespecífico consiste na aplicação, em curtos intervalos de tempo, de um antisséptico suave, como uma solução de sulfato de cobre a 2%, uma suspensão de boro a 2%, ou uma solução de sulfonamida glicerinada a 1% . O tratamento com antibiótico s desinfetantes ajudam a reduzir a ocorrência de infecções secundárias. Vacinas inativadas bivalentes (NJ e I) têm sido utilizadas nas Américas Central e do Sul. Referências ARRUDA,R.C.N.; SEGUNDO,J.M.F.; SOARES,B.A.; MARTINS,N.R.S.; BARÇANTE T.A; BARÇANTE J. M.P. Investigação epidemiológica de Estomatite vesicular por achados clínicos em bovinos e equinos no Estado do Maranhão. Pesquisa Veterinária Brasileira, n.35, v.5, p.391-395, 2015. CARGNELUTTI, J.F.; OLINDA, R.G.; MAIA, L.A. et al. Outbreaks of Vesicular stomatitis Alagoas Virus in horses and cattle in northeastern Brazil. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, . 26, n.6, p. 788-94, 2014. FREITAS, E. B.; PACHECO, A.S.G.; MARIANO,R.S.G; ZAPPA,V. Estomatite vesicular – revisão de literatura. n.11, 2008 MAPA,2014 (http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2014/07/mapa-orienta-sobre-a- estomatite-vesicular) LETCHWORTH, G.F.; RODRIGUEZ, L.L.; BARRERA, J.C. Veterinary Stamatitis, . 157, p. 2239-60, 1999. REIS, J.L., MEAD, D.; RODRIGUEZ, L.L. et al. Transmission and pathogenesis of vesicular stomatitis viroses. Brazilian Journal of Veterinary Pathology, v. 2, n.1, p. 49-58, 2009. 14 RADOSTITS,O.M.; OTTO, M.; ARUDEL,J.H. Clinica Veterinária: um tratado de doenças de bovinos, suínos, caprinos, e equinos. Tradução de Adriana de Souza Coutinho et.al. Rio de Janeiro,Guanabara Kogan,2010,p 165 SEPÚLVEDA, L. M.; MALIRA, T. V.; BERGMANN, I. E.; A. MANTILLA; NASCIMENTO, E. R. Rapid diagnosis of vesicular stomatitis virus in ecuador by the use of Polymerase chain reaction. Brazilian Journal of Microbiology n.38, p.500-506, 2007 STEFANO, E.; ARAÚJO, W. P.; PASSOS E. ; PITUCO E. M. Pesquisa de anticorpos contra o vírus da Estomatite vesicular em bovinos de corte criados na região de Araçatuba, Estado de São Paulo, Brasil em 2000. Brazilian Journ al of Veterinary Research and Animal Science n.40 p.29-35, 2003. MCCLUSKEY, B.J. Vesicular Stomatis.In: SELON, D.C.;LONG, M.T. Equine Infectious Diseases. St. Louis: Sauders Elsevier, 2 ed., 2014, p. 239-244. HERPESVÍRUS BOVINOS Os herpesvírus bovino pertencem a família alfaherpesvirinae. Dentro desta estão o herpesvírus bovino tipo 1 (BoHV-1) causador da rinotraqueite infecciosa bovina (IBR), doenças genitais e abortos, o herpesvírus bovino tipo 2 (BoHV-2) agente etiológico da mamilite herpética e o herpesvírus bovino tipo 5 (BoHV-5) associado a encefalite herpética. A baixo são apresentados os principais herpesvírus dos animais domésticos. Vírus Hospedeiro (heterólogo) Doença Subfamília Alfaherpesviridae Herpesvírus bovino1 Bovinos (caprinos, ovinos, cervídeos) Rinotraqueíte infecciosa bovina Herpesvírus bovino2 Bovinos Mamilite herpética Herpesvírus bovino5 Bovinos (caprinos e ovinos) Encefalite herpética Herpesvírus caprino1 Caprinos (bovinos e ovinos) Doença genital e neonatal fatal Herpesvírus bubalino1 Bufalos Infecções genitais 15 subclínicas Herpesvírus suídeo1 Suíno (javalis, ruminantes e cervídeos) Encefalite fatal Herpesvírus ovino1 Ovino Adenomatose pulmonar Subfamília Gamaherpesviridae Herpesvírus bovino4 Bovinos e Bufalos (ruminantes, primatas e felinos) Infecções subclínicas, vulvovaginites e mastites Herpesvírus ovino2 Ovinos (bovinos e suínos) Febre catarral maligna Herpesvírus alcelafino1 Gnus Febre catarral maligna Herpesvírus alcelafino2 Gnus Febre catarral malígna FONTE: Adaptado de BISWAS et al. (2013). Etiologia O herpesvírus bovino do tipo 1 foi primeiramente isolado nos Estados Unidos em 1956. Este pode ser divido em três subtipos: o tipo 1.1 associado a forma clássica do vírus e associada a IBR e ao complexo respiratório bovino. O boHV-1.2 pode ser classificado em dois subtipos, a e b. O BoHV-1.2a é associado a diversas patologias (respiratórias, genitais e abortos), enquanto que o BoHV-1.2b, considerado um tipo viral menos patogênico, é relacionado doenças respiratórias leves e infecções genitais. O herpesvírus bovino do tipo 2 é o agente etiológico da mamilite herpética, uma enfermidade que se caracteriza por lesões na pele dos tetos e do úbere. O herpesvírus bovino tipo 5 foi isolado pela primeira vez em 1962 na Australia e foi associado a encefalite ou meningoencefalite herpética, uma doença fatal para animais jovens. O BoHV-1 e o BoHV-5 são muito próximo do ponto de vista genético, biológico e imunogênico. Estes vírus só diferem em suas capacidadades de neuroinvasão e neurovirulência. Embora possam aderir ao hepitélio respiratório humano os herpesvírus bovinos não são considerados zoonóticos. Abaixo é apresentado quadro comparativo dos principais tipos de herpesvírus bovinos. Vírus (classificação) Subtipo Pat. manifestações Material para diagnóstico Ocorrência BoHV1 (Varicellovirus) 1.1 ++ respiratória Secreções nasais, tecidos Europa e Américas 16 (pulmão e traqueia) Soro pareado 1.1/1.2a aborto Tecidos fetais, soro da vaca 1.1/1.2a/1.2b +/++ Vulvovaginite e balanopostite Secreções genitais e soro pareado 1.2a Brasil e raro na Europa 1.2b Australia e Europa e raro no Brasil BoHV-2 (Simplexvirus) ++ Mamilite Líquido das lesões e soro pareado Mundial BoHV-5 +++ Doença neurológia Secreções nasais e material do SNC e soro pareado Mundial, maior na Argentina e Brasil Epidemiologia O herpesvírus bovino do tipo 1 tem distribuição mundial, embora países como Dinamarca e Finlândia conseguiram erradicar a enfermidade graças a um programa de identificação e eliminação de animais positivos. A mamilite herpética já foi descrita em países como Kênia, EUA, Austrália, Reino Unido, Itália e Japão. O entendimento completo da dimensão da infecção pelo BoHV-5 é complicada graças a sua grande semlhença ao BoHV-1. Contudo alguns autores citam que a maior ocorrência se dá no Brasil e Argentina, dado o maior número de relatos de casos. No Brasil, os três tipos virais são encontrados. Se estima que o BoHV-1 possua uma prevalência que varia de 8-82% entre regiões e que a prevalência dentro de um rebanho varia entre 30-70%. Raros são os rebanhos livres da IBR no território nacional. A mamilite herpética é confinada a regiões de clima frio. Estudos de prevalência no sul do país indicam uma prevalência nos bovinos leiteiros em produção próxima a 30%. Em relação ao BoHV-5 tem sido associado a surtos de meningoencefalite em bovinos no sul do país. A morbidade dos herpesvírus bovinos varia muito. No caso do BoHV-1 a 17 morbidade é alta (praticamente 100%) e mortalidade baixa (menor que 5%), para o BoHV-2 a doença é autolimitante, sendo que vacas de primeira lactação são as que apresentam os sinais mais intensos, enquanto que para o BoHV-5 a morbidade é baixa (10%) e mortalidade de 100% em animais jovens (mais de 6 meses). Bovinos adultos são relativamente resistentes ao BoHV-5. Os herpesvírus bovinos não infectam apenas bovinos. Anticorpos contra estes agentes são facilmente encontrados em caprinos e ovinos. Acredita-se que os ovinos sejam importantes hospedeiros de manutenção dos herpesvírus bovinos no ambiente, contudo seu papel na transmissão da doença não é relevante. Insetos vetores podem carrear os agentes, contudo não estão envolvidos na transmissão. Não existem vetores para estas doenças. O contato direto com secreções contaminadas é importante para transmissão das doenças. Os BoHV-1 e BoHV-5 são eliminados pelas secreções nasais por até 14 dias, sendo que o BoHV-1.1 pode ser transportado em aerossóis por uma distância de 3,85 metros. O BoHV-2 pode ser transmitido aos bezerros durante a mamada e estes animais podem apresentar lesões no focinho e comissuras labiais. A sobrevivência dos herpesvírus bovinos no meio ambiente depende de fatores como temperatura, pH, luz e umidade. O vírus pode sobreviver por até um mês nos alimentos. Por serem vírus envelopados são sensíveis a solventes orgânicos, como clorofórmio e acetona. Os vírus são inativados em um minto após o contato com NaOH 0,5%, HgCl2 0,01%, cloro 1%, derivados do fenol 1%, quarternários de amônia 1%, lugol 10%, formol 5%. Sobrevivência do BoHV-1 nas diferentes temperaturas Temperatura Tempo (sobrevivência) -20C Inativado 4C 1 mês 22C 50 dias 37C 10 dias 56C 21 minutos Patogenia O vírus pode ser inalado, ingerido ou adquirido por via genital (não necessariamente sexual ou coito) e na sequencia realiza sua replicação primária nas células epiteliais locais (respiratórias e genitais), onde induz o aparecimento dos primeiros sinais de congestão e presença de lesões e secreções (no inicio vesiculares e 18 após erosivas). Nesta fase (aguda) existe grande exceção viral. Após a replicação viral o vírus invade as terminações nervosas dos neurônios sensoriais, sendo transportado pelo movimento axonal retrógrado até os gânglios regionais. Neste local o vírus realiza sua latência, onde não existe a replicação viral nem produção de proteínas (antígenos). No caso do BoHV-2, a infecção e replicação viral se dá diretamente na epiderme entrando o vírus por ferimentos. Com relação ao BoHV-5 a partir do sítio de latência (fase mais comum) o vírus replica e segue no transporte até o encéfalo, atingindo neurônios dos núcleos da ponte e bulbo, cerebelo e hipotálamo, para por fim alcançar o córtex cerebral. Outra possibilidade inicial é de que o vírus realize a viremia, disseminado-se por diferentes tecidos após infectar monócitos e linfócitos. Nas fêmeas prenhaz o vírus pode invadir os tecidos fetais e provocar o aborto. Glicoproteínas virais são muito importantes para o estabelecimento da latência viral. A latência viral ocorre em locais imunoprivilegiados. Agentes estressantes, ou uso de glicocorticoides podem induzir a recrudência ou reativaçãoda infecção latente. Neste caso o vírus inicia seu trajeto até o sítio de replicação primária. Durante a reativação viral três fenômenos ocorrem: 1- aumento de expressão nas proteínas virais; 2- redução na expressão dos genes ORF-E e LR e 3-virus infectivos são dectados nas secreções nasais e oculares. A reativação viral pode ser acompanhada de sinais clínicos ou não. O BoHV-1 é associado a imunossupressão, o que favorece as infecções concomitantes com outros agentes virais e bacterianos, o que pode ser visto no caso do complexo respiratório, bem como nos casos de ceratoconjuntivite infecciosa. Trabalhos apontam que o BoHV-1 reduz a função antibacteriana de células do sistema imune, como macrógfagos, células dendríticas, neutrófilos e linfócitos T, bem como redução na produção de IL-2. Além disto, o vírus inibe a sinalização por interferons, citocinas e opsonização. A formação de anticorpos é crítica na prevenção da enfermidade, enquanto a imunidade celular parece ser importante para recuperação da doença. Sinais Clínicos A rinotraquíte bovina se caracteriza pelas formas subclínica, leve ou severa. As manifestações clínicas observadas são febre, depressão, anorexia, dispneia, taquipnéia, tosse e descargas nasais serosas, que com o tempo podem se tornar mucopurulentas 19 indicando a presença de infecção bacteriana secundária. A mucosa nasal pode se apresentar hiperêmica e com lesões vesiculares e erosivas. Podem ser observadas queda na produção de leite e alterações espermáticas. O sêmen transmite o vírus de forma intermitente. A recuperação ocorre em até dez dias, desde que não existam complicações associadas as infecções bacterianas. Os animais podem apresentar conjuntivite. A infecção em fêmeas prenhas soronegativas por cepas altamente virulentas podem levar ao aborto. Cerca de 25% das fêmeas prenhas de um rebanho podem abortar. Nos casos de vulvovaginite e balanopostite são observadas lesões nos órgãos genitais, com a presença de secreção e lesões ulcerativas. Nestes casos também podem ocorrer infecções bacterianas secundárias. Os animais manisfetam dor ao urinar e os machos se recusam a montar. As lesões tendem a regredir num período de 7 a 14 dias. A mamilite herpética se caracteriza pela hipermia e edemaciação da pele dos tetos e do úbere. Na sequencia se formam vesículas que rompem e podem formar crostras. A presença destas lesões aumenta a ocorrência de mastite nos rebanhos em até 20%. Os sinais clínicos associados ao BoHV-5 consistem de depressão, anorexia e fraqueza. Em aproximadamente cinco dias são observados os quadros neurológicos de incoordenação, cegueira, tremores musculares, andar em circulo, pressão da cabeça contra objetos, convulsões, pedalagem e morte. Secreções nasais e oculares podem ser observadas antes de alguns surtos. Diagnóstico Os herpesvírus bovinos podem ser detectados por diferentes metodologias. Cuidados devem ser tomados no momento da coleta das amostras para reduzir ao máximo as contaminações bacterianas. Além disto, as amostras destinadas ao cultivo microbiano devem ser armazenadas a 4C evitando-se o congelamento. Os métodos diretos de detecção viral envolvem o isolamento viral e observação de sinais citopatogênicos em cultivos celulares, especialmente em células renais (Madin-Darby Bovine Kidney-MDBK). Além disto, partículas virais podem ser visualizadas diretamente nos tecidos através das técnicas de imunoflurescência e imunoperoxidase. A observação de corpúsculos de inclusão intranucleares pode ocorrer 20 tanto nos tecidos, como em células de descamação nas secreções vaginal e nasal. Nos casos de mamilite herpética o vírus também pode ser detectado através da técnica de microscopia eletrônica. A técnica de PCR também pode ser utilizada na detecção do DNA viral. Sua utilidade no diagnóstico no Brasil ainda é limitada, embora ela seja considerada a prova ouro no exterior. A técnica de PCR é muito importante para confirmar a latência, a partir de tecidos, bem como para diferenciar BoHV-1 e BoHV-5. A detecção de anticorpos pode ser realizada pelas técnicas de soroneutralização e ELISA. Para tal deve sempre ser coletado soro pareado. Nos casos de fêmeas prenhas, sangue deve ser coletado no momento da detecção da gestação, sendo o soro armazenado para necessidade futura. Em relação ao BoHV-5 na necropsia podem ser obervadas hemorragias nas meninges, parte dorsal e ventral dos hemisférios cerebrais. Tanto para o BoHV-1, quanto para o BoHV-5 sinais de congestão nas mucosas faringeal e laringeal, bem como broncopneumonia podem ser observadas. O diagnóstico diferencial das infecções para os herpesvírus bovinos são: para mamílite herpética são a urticária, picadas de insetos, infecções ocasionadas pelo pseudocowpox e vírus a vaccínia. No caso do BoHV-5 devemos diferenciá-lo da raiva, listeriose, babesiose e BSE. Controle As estratégias para controle dos herpesvírus são comuns em muitos casos e devem considerar a identificação dos animais positivos, implementação de medidas de biossegurança, bem como nos casos onde exista, a adoção de vacinas. No caso do BoHV-1 a situação de cada propriedade deve ser avaliada. A baixo são apresentadas algumas possibilidades. Propriedade Histórico da doença Sorologia Medida Aberta, com muitos animais jovens sim elevada Vacinas-reduz circulação do vírus sua disseminação e a doença clínica Fechada Não Não Biossegurança Teste e descarte Aberta Não Sim Monitorar clinicamente 21 Várias são as vacinas disponíveis em para prevenção do BoHV-1. As vacinas de subunidades empregando glicoproteínas virais em adjuvante são consideradas as mais eficientes na redução da mortalidade. As vacinas vivas modificadas induzem uma imunidade de forma mais forte e rápida (cerca de 72hs), podendo em muitos casos, especialmente quando da aplicação intranasal induzir uma boa imunidade de mucosa. Contudo são consideradas menos seguras pelo risco de aborto em fêmeas gestantes. Vacinas inativadas não induzem aborto, imunossupressão ou latência, contudo a alquilação gerada em algumas proteínas virais durante o seu preparo diminui a sua imunogenicidade. Neste caso adjuvantes são necessários. Para implementação de programas de controle e erradicação da doença o uso de vacinas diferenciais é muito importante. A maioria das vacinas para IBR são administradas de forma multivalente com outros patógenos. Em relação a mamilite herpética e BoHV-5 não existem vacinas comerciais. Considerando a grande similaridade genética entre o BoHV-1 e BoHV-5 vacinas comerciais para IBR tem sido utilizadas na prevenção da meningoencefalite herpética, contudo os resultados deste procedimento necessitam de comprovação. Complexo Respiratório Bovino O complexo respiratório bovino é um complexo de enfermidade respiratórias que acometem os bovinos no mundo, sendo responsáveis por grandes prejuízos. Este complexo ataca animais durante momento de estresse provocados pelo manejo, superlotação e transporte (febre dos transportes). Neste momento fica favorecida a infecção por agentes virais como o herpesvírus bovino tipo 1, vírus da diarreia viral bovina, vírus da parainfuenza-3, vírus respiratório sincicial bovino, Mannheimia haemolytica e Pasteurella multocida. Referências DEL MEDICO ZAJAC, M.D.; LADELFA, M.F.; KOTSIAS, F.; MUYLKENS, B.; THIRY, J.; THIRY, E.; ROMERA, S.A. Biology of bovine herpesvirus 5. The Veterinary Journal, v. 184, p. 138-45, 2010. FRANCO, A.C.; ROEHE, P.M. Herpesvírus bovinos in: FLORES, E.F. Virologia veterinária, Santa Maria : Ed. da UFSM, p.447-462, 2007. 22 LEVINGS, R.; ROTH, J.A. Immunity to bovine herpesvirus 1: II. Adaptative immunity and vaccinology. Animal Health Research Reviews, v. 14, n.1, p. 103-23, 2013. BISWAS, S.; BANDYOPDHYAY, S.; DIMRI, U.; PATRA, P.H. Bovineherpesvirus-1 (BHV-1) a re-emrging concern in livestock: a revisit to its biology, epidemiology, diagnosis and prophylaxis. Veterinary Quaterly, v.33, n. 2, p. 68-81, 2013. ZACHARY, J.F.; MCGAVIN, M.D. Pathology basics of veterinary disease. 5 ed. St. Louis: Ed. Elsevier, 1321pp., 2012. HALFEN, D.C.; VIDOR, T. Infecções por herpesvírus bovino -1 e herpesvírus bovino- 5. In : RIET-CORREIA, F.; SCHILD, A.L.; CARMEN MÉNDEZ, M.; LEMOS, R.A.A. Doenças de ruminantes e equinos v. 1, 2 ed. São Paulo: Varela, p.97-108, 2001. DIARRÉIA VIRAL BOVINA Etiologia A diarreia viral bovina foi descrita pela primeira vez em 1946, que se caracterizava como uma enfermidade aguda transmissível marcada pela leucopenia severa, febre alta, depressão, diarreia, erosões no trato gastrointestinal e hemorragias. Posteriormente, outra forma foi verificada, a doença das mucosas, altamente letal. Esta última forma acomete apenas animais PI. São observadas varias manifestações clínicas associadas aos vírus, entretanto os prejuízos econômicos são associados a problemas reprodutivos e a imunossupressão resultante da infecção. Os BVDV pertencem a família Flaviviridae, gênero pestivírus juntamente com o vírus da peste suína clássica, vírus da doença das fronteiras e algumas espécies putativas. Todos os vírus desta família possuem virion esféricos com 45 a 50nm e envelope pleomórfico. Vários tipos virais são descritos, contudo estes podem ser agrupados em dois genótipos: 1 e 2, os quais demonstram variabilidade antigênica, a qual deve ser considerada no diagnóstico e no momento da escolhas de vacinas. A maior parte das vacinas são preparadas com o genótipo 1. O vírus também pode ser classificados nos biótipos citopatogênicos e não citopatogênicos. Os vírus não citopatogênicos são os vírus responsáveis pela maioria das infecções naturais e por produzir os animais persistentemente infectados. Os vírus 23 citopatogênicos são responsáveis pela doença das mucosas nos animais persistentemente infectados. Os vírus citopatogênicos são gerados a partir dois mecanismos básicos: alterações genéticas (recombinação, mutações, deleções e rearranjos) no vírus não citopatogênico que infecta o animal PI ou por uma infecção com vírus citopatogênico presente em outro animal PI. Epidemiologia A distribuição da diarreia viral bovina é mundial. O vírus é descrito em espécies domesticas e silvestres. No Brasil a doença foi descrita em 1960 em animais do estado da Bahia. A prevalência média dos rebanhos variam de 18 a 84%. Cerca de 75% dos casos relatados envolvem o genótipo BVDV-1. Os animais PI são as principais fontes de infecção viral, uma vez que estes eliminam as partículas virais em todas as suas secreções e excreções. As fezes são uma exceção e não são relevantes para a eliminação viral. Animais durante a doença aguda são menos eficientes que os PI para transmissão viral. Estudos indicam que a transmissão do vírus para animais soronegativos pode ocorrer após 1h de contato com animais PI. O vírus é transmitido de forma direta e indireta. A transmissão pode ocorrer de forma iatrogênica, por insetos, pelo vírus aerolizado, bem como de forma horizontal e pelo sêmen contaminado. O BVDV, como todos os pestivírus são resistentes a pH baixo e sua infectividade não é afetada pela temperatura, embora possa ser reduzida por temperaturas acima de 40oC. Os vírus são eliminados por solventes orgânicos detergentes. Outros métodos de inativação incluem tratamento com tripsina (0,5mg/ml a 37C por 60 minutos). Patogenia A severidade da enfermidade está associada a fatores como a genética do vírus, biótipo viral, status imunológico e reprodutivo dos animais, bem como infecções bacterianas secundárias. O vírus replica no tecido respiratório superior, orofaringe e tecidos linfoides. A viremia é transitória e dura de 10-14 dias. O vírus é extremamente imunossupressor, uma vez que induz apoptose em linfócitos T e B e supressão das funções fagocitárias dos macrófagos. Além disto, são 24 observadas leucopenia transitória e trombocitopenia. Esta imunossupressão é relacionada a várias infecções secundárias, ocasionadas por vírus e bactérias, sendo que o BVDV também participa do complexo respiratório bovino. A recuperação da infecção viral ocorre de 9-13 dias pós infecção pela destruição dos linfócitos infectados. Após a eliminação viral, virions ainda são encontrados células mononucleares do sangue periférico por um período superior a 98 dias. A idade da infecção em fêmeas gestantes diz muito a respeito da patogenia da enfermidade. Logo no inicio da gestação são observadas a baixa concepção e morte embrionária precoce. Os animais PI são produzidos quando fêmeas são infectadas no terço inicial da gestação. Se a infecção acontecer no terço médio da gestação são observadas má formações fetais e abortos enquanto que terço final os animais nascem saudáveis e imunocompentes. Os animais PI são imunotolerantes ao vírus, logo não apresentam anticorpos contra o vírus homólogo de infecção e estes animais persistem infectados eliminando o vírus por todas suas secreções e excreções incluindo saliva, leite, sêmen, secreção nasal, urina, sangue e aerossóis. Os animais PI podem parecer saudáveis, contudo geralmente possuem problemas no crescimento e ganho e peso. Embora com várias características fisiológicas normais, estudos demonstaram que os níveis de hormônio da tieróide são menores em animais PI. Os animais PI também são mais susceptíveis a infecções secundárias e parasitárias. Além disto, a doença das mucosas ocorrem apenas em animais PI. Nestas situações alterações genéticas em vírus citopatogênicos levam a clivagem da proteína NS2/3 em NS2 para gene NS3 (proteases), induzindo a doença fatal. A proteína NS3 é considerada marca do vírus citopatogênico. Este conjunto de situações fazem com que a expectativa de vida dos animais PI seja reduzida. Entretanto, cerca de 28% dos animais PI podem chegar a mais de 2 anos de vida. Existem relatos de animais PI chegando a vida adulta e se tornando reprodutores onde transmitem o vírus pelo oocito ou espermatozoide. Nestes casos o filhotes são obrigatoriamente PI. Sinais Clínicos Animais de todas as idades e categorias podem ser acometidas, contudo a doença é mais comum em animais com cerca de seis meses. As manifestações clínicas das doenças podem ser agrupadas em doença aguda leve (gastroentérica e respiratória), doença aguda severa (gastroentérica, respiratória e hemorrágica), doença das mucosas e 25 doença das mucosas crônica (recente). Na doença aguda leve a morbidade é alta, enquanto a mortalidade muito baixa ou nula. A mortalidade pode ser aumentada quando da infecção pelo BVBDV-2 e infecções associadas. Os principais sinais observados são febre, sialorréia, hiperemia, descarga nasal, tosse e diarreia. Lesões ulcerativas na mucosa oral podem estar presentes. A doença aguda severa é caracterizada por intensa hemorragia. Esta se diferencia da doença das mucosas pela presença de vírus não citopatogênicos. No casos da doença aguda severa são observadas baixa morbidade e alta mortalidade. A doença das mucosas acometem apenas os PI. A doença é invariavelmente fatal, especialmente em animais dos seis meses aos dois anos. Animais com mais de 7 meses apresentam a forma respiratória, enquanto que animais mais novos apresentam o quadro entérico. A multiplicação viral leva a uma inflamação descontrolada e intensa viremia, que leva a destruição da resposta anti-viral. A enfermidade se caracteriza por febre, leucopenia, diarreia, inapetência, desidratação, lesões erosivas na boca e narinas. A morte ocorre em poucos dias. Na necropsia são observadas extensa destruição das placas de Peyer, bem como erosões longitudinais no esôfago (arranhaduras de gato). O conteúdo intestinal é aquosoe escuro, observando-se enterite catarral ou hemorrágica. Na Doença das mucosas crônica os sinais são inespecíficos. Os animais pode sobreviver por meses, mas acabam morrendo por debilidade progressiva. Esta forma da enfermidade é menos comum. O vírus possui intensos reflexos sobre a reprodução e incluem redução nas taxas de fertilidade, morte embrionária precoce, aborto e defeitos congênitos. A infecção aguda nos touros leva a alterações espermáticas (volume, densidade e anomalias). O BVDV pode persistir no sêmen por quase três anos. Animais PI geram filhotes PI especialmente pela contaminação dos oocitos. As lesões fetais incluem atrofia cerebelar, degeneração ocular, braquignatismo, formação de cistos no cérebro e hipoplasia cerebral. Alterações reprodutivas também foram descritas em determinadas situações em caprinos, ovinos e suínos. Diagnóstico A diarreia viral bovina deve ser pesquisada sempre que forem observadas alterações respiratórias, digestivas ou reprodutivas. A pesquisa do vírus deve ser realizada sempre no rebanho, contudo a pesquisa individual dos animais devem ocorrer 26 sempre em fêmeas com risco de desenvolverem animais PI, infecções secundárias associadas a imunossupressão e perdas reprodutivas agudas. O vírus pode ser identificado diretamente nos tecidos por técnicas de imunofluorescência e imunoperoxidase. Estas técnicas também são utilizadas para confirmar a presença do vírus não citopatogênico em cultivo celular. A pesquisa direta do vírus é feita a partir da capa de leucócitos no sangue. Esta pode ser realizada pelo cultivo do vírus em células, bem como pelas técnicas de RT- PCR. A alta sensibilidade e especificidade (100%) da técnica de RT-PCR a torna a técnica ideal para o diagnóstico da doença, principalmente para os animais PI. Biópsias de tecido da orelha dos animais podem ser utilizados para técnicas de imunohistoquímica, ELISA de captura (direto) e RT-PCR. Estas amostras são muito eficientes para detecção dos animais PI. Testes de ELISA estão disponíveis para o diagnóstico da enfermidade, contudo se deve estar atento para o genótipo utilizado no preparo do teste. Da mesma forma animais PI não apresentam anticorpos para serem detectados nos testes convencionais. Controle e Prevenção A principal ferramenta para o controle da infecção é a utilização de vacinas. O uso das vacinas depende do grau de risco do rebanho e do histórico de ocorrência da enfermidade. O controle da diarreia viral bovina pela vacinação é muito importante para rebanhos abertos de alta rotatividade de animais. As vacinas podem ser mono ou polivalentes, vivas ou inativadas. A maioria das vacinas são importantes para proteção da doença clínica, porém não impedem a infecção fetal. Vacinas inativadas embora induzam uma reposta imune menos intensa, quando comparadas as vacinas vivas, são mais seguras, pois não existe o risco de formação de animais PI. No Brasil, as vacinas produzidas utilizam o genótipo 1. O controle da diarreia viral bovina sem vacinação envolve a manutenção do rebanho negativo pelo teste dos animais ingressantes na propriedade, bem como medidas de biossegurança. De qualquer forma a identificação e eliminação de animais PI é a principal estratégia, visando o controle da enfermidade. Sempre que a suspeita destes animais num rebanhos estes devem ser identificados e removidos. Referências 27 LAYON, S.R.; HILL, F.I.; REICHEL, M.P.; BROWNLIE, J. Bovine viral diarrhoea: Pathogenesis and diagnosis. The Veterinary Journal. V. 199, p. 201-9, 2014. LARSON, R.L. Bovine diarrhea vírus-associated disease in feedlot cattle. Veterinary Clinical Food Animal, v. 31, p. 367-80, 2015. RIDPATH, J.F. Bovine viral diarrhea vírus: Global Status. Veterinary Clinical Food Animal, v. 26, p. 105-121, 2010. RIDPATH, J.F.; FLORES, E.F. Diarréia Viral Bovina in: FLORES, E.F. Virologia veterinária, Santa Maria : Ed. da UFSM, p.582-589, 2007. ZACHARY, J.F.; MCGAVIN, M.D. Pathology basics of veterinary disease. 5 ed. St. Louis: Ed. Elsevier, 1321pp., 2012. SUCH, L.F.D. Diarréia viral bovina. In : RIET-CORREIA, F.; SCHILD, A.L.; CARMEN MÉNDEZ, M.; LEMOS, R.A.A. Doenças de ruminantes e equinos v. 1, 2 ed. São Paulo: Varela, p.64-72, 2001. FEBRE CATARRAL MALIGNA Introdução A febre catarral maligna (FCM) é uma doença infecciosa, viral, pansistêmica, altamente fatal, com distribuição geográfica ampla. Além de bovinos, afeta diversas espécies de veados e, esporadicamente, outras espécies de ruminantes silvestres incluindo diversas espécies de cervídeos, bisões e búfalos e suínos. No Brasil, a doença é descrita desde 1924, tendo sido documentada em bovinos no Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, na região Nordeste no Estado da Paraíba, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Piauí e em cervídeos em cativeiro no Rio de Janeiro e em Mato Grosso. Dados da literatura indicam que a FCM é uma doença de ocorrência esporádica, mas que apresenta um importante desafio para o diagnóstico, uma vez que pode ser confundida com doenças de maior impacto econômico e de saúde pública, como a raiva, meningoencefalite por herpesvírus bovino-5, febre aftosa, estomatite vesicular, diarréia viral bovina e língua azul. Relatam a importância da confirmação da FCM para o 28 rebanho bovino do Nordeste e evidenciam a necessidade de alertar aos produtores para a adoção das medidas de controle adequadas, sendo a separação dos ovinos dos bovinos a única medida profilática eficiente, que perante a estrutura produtiva atual da região semi-árida, é difícil de ser adotada. Etiologia Até o momento, foram identificados quatro vírus do grupo da FCM que causam a doença nos animais: alcelaphine herpesvírus 1 (AlHV-1) (que induz a forma africana, ou FCM gnu-associada - FCM-GA); herpesvírus ovino-2 (OvHV-2) que induz a FCM ovino-associada (FCM-OA) - onde os ovinos são implicados como portadores do agente etiológico; o MCFV-WTD, que causa a FCM clássica em veados-de-cauda-branca (Odocoileus virginianus); e herpesvírus caprino tipo 2 ou CpHV-2, que é endêmico em cabras domésticas (Capra hircus). Em bovinos a febre catarral maligna pode acontecer epidemiologicamente pela forma africana, causada pela cepa viral AIHV-1 e a FCM ovino associada (FCM-OA), causada pela cepa herpesvírus ovino 2 (OvHV-2) e transmitida por ovinos, sendo a FCM ovino associada a forma que ocorre no Brasil. Os agentes etiológicos da FCM (AlHV-1 e o OvHV-2), são incluídos em um grupo de vários γ-herpevírus antigênica e geneticamente relacionados, o assim chamado “grupo de vírus da FCM”. Os vírus desse grupo são capazes de produzir infecção clínica ou subclínica em animais. Ao contrário de A1HV-1, que já foi isolado em cultura, os outros três agentes patogênicos da FCM são detectados apenas por técnicas moleculares como a reação em cadeia de polimerase - PCR. Epidemiologia A febre catarral maligna (FCM) tem distribuição mundial. Em bovinos a FCM pode acontecer epidemiologicamente de duas formas: a forma africana (conhecida como FCM-GA), causada pela cepa viral Alcelaphine herpesvirus 1 (AIHV-1) e a FCM ovino associada (FCM-OA), causada pela cepa herpesvírus ovino 2 (OvHV-2) e transmitida por ovinos. Sendo a FCM ovino associada a forma que ocorre no Brasil. A maioria das espécies de ruminantes, domésticos ou selvagens, possui seu radinovírus específico e é bem adaptada a ele; esses vírus induzem pouco ou nenhum efeito em seus hospedeiros naturais, mas podem causar doença quando afetam espécies diferentes pouco adaptadas. 29 Os gnus são os portadores assintomáticos da forma africana da doença, infectando-se durante os primeiros dois a três meses de vida, tornando-se virêmicos, eliminando o vírus AIHV-1 nas secreções oculares e nasais. Deste modo, a contaminação se dá por inalação de aerossóisou ingestão de alimentos contaminados. Os ovinos são os reservatórios da forma americana. A transmissão do OvHV-2 para os bovinos e outros ruminantes ocorre está associada ao período perinatal dos ovinos, sendo que a maior concentração de carga viral nestes animais se dá entre 6 e 9 meses de vida. A FCM em bovinos é uma doença de curso clínico rápido e quase invariavelmente fatal. Estes são considerados hospedeiros finais e raramente estes servem como fonte de contaminação. O índice de morbidade é variável. Geralmente ocorre na forma de casos isolados, entretanto surtos afetando mais de 50% dos bovinos de um rebanho podem ocorrer. O índice de mortalidade varia de 95 a 100%. Os surtos geralmente ocorrem no final do inverno, primavera e início do verão. Casos de bovinos que se recuperam de FCM têm sido descritos. Patogenia Ainda não se sabe ao certo como ocorre a patogênese das lesões vasculares. Os vírus não estão presentes nas lesões teciduais, indicando que o dano tecidual deve ser resultado da proliferação e disfunção de linfócitos T citotóxicos induzida pelo vírus. Embora não se conheça ao certo como os linfócitos TCD8 são recrutados e quais os danos teciduais, é conhecido que o infiltrado predominante nas lesões da forma aguda da doença é infectada por OvHV-2. Estas evidências sugerem uma probabilidade da patogênese ser primariamente relacionada à interação direta do vírus com as células, ou talvez, a resposta imunomediada contra as células infectadas. Este vírus tem um período de incubação de 3 a 10 semanas, podendo chegar a 200 dias. O curso da FCM geralmente é de 3 a 7 dias, raramente prolongando-se por mais tempo. Sinais Clínicos Os sinais clínicos mais comuns nos animais que apresentam a FCM são: febre, corrimento nasal e ocular seroso que costuma evoluir rapidamente para mucopurulento, opacidade bilateral de córnea, sialorréia, lesões erosiva-ulcerativas na cavidade oral e http://www.infoescola.com/citologia/linfocitos/ 30 diarréia. Entre os distúrbios neurológicos, incoordenação, agressividade, tremores musculares, decúbito esternal evoluindo para lateral permanente, opistótono, movimentos de pedalagem e depressão. Hematúria, desprendimento da capa córnea dos cascos e chifres e cegueira também podem ser observados. Diagnóstico A febre catarral maligna deve ser diferenciada das demais doenças vesiculares. As principais amostras a serem coletadas são o sangue (para isolamento viral e PCR- leucócitos), linfonodos baço (para isolamento viral) e fígado, rim, olho, epitélio oral, bexiga e cérebro (histopatologia-OIE). A OIE define a análise histopatológica como teste ouro, contudo na rotina laboratorial outras técnicas também são empregadas. O diagnóstico geralmente é feito com base no histórico clínico, epidemiologia, achados clínicopatológicos e, em certos casos, através de sorologia e determinação genômica do DNA viral no sangue ou em fragmentos teciduais. Tratamento e Controle Não há um tratamento específico para Febre Catarral Maligna. Devem ser tomadas algumas medidas de controle, como minimizar o contato entre bovinos e ovinos, especialmente durante a fase de parição de cordeiros; não expor o gado a animais selvagens africanos. O controle dos fômites é muito importante especialmente se animais muito sensíveis estiverem em risco. Mesmo com o uso de drogas antimicrobianas e terapia suporte muitos animais irão morrer. Até hoje não foi fabricada uma vacina que seja eficiente no controle desta doença. Referências http://www.scientificcircle.com/pt/58206/febre-catarral-maligna-bovinos-estado-mato- grosso/ http://tapajo.unipar.br/site/ensino/pesquisa/publicacoes/revistas/revis/view03.php?ar_id =1702 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-736X2007000700004&script=sci_arttext http://www.scientificcircle.com/pt/58206/febre-catarral-maligna-bovinos-estado-mato-grosso/ http://www.scientificcircle.com/pt/58206/febre-catarral-maligna-bovinos-estado-mato-grosso/ http://tapajo.unipar.br/site/ensino/pesquisa/publicacoes/revistas/revis/view03.php?ar_id=1702 http://tapajo.unipar.br/site/ensino/pesquisa/publicacoes/revistas/revis/view03.php?ar_id=1702 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-736X2007000700004&script=sci_arttext 31 http://www.vallee.com.br/doencas.php/2/29 http://coralx.ufsm.br/ppgmv/shana.pdf AUDIGE, L.; WILSON, P.R.; MORRIS, R.S. Disease and mortality on red deer farms in New Zealand. The Veterinary Record, v.148, n.11, p.334-340, 2001. BAPTISTA, F.Q.; GUIDI P.C. 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Esta doença infecciosa não é contagiosa, sendo transmitida por um vetor (gênero Culicoides) que se alimenta do sangue do hospedeiro. Esta doença causa perda no rebanho, aumento da mortalidade, além de gerar um impacto socioeconômico em relação ao comércio internacional. O vírus da Língua Azul (VLA) infecta ruminantes domésticos e selvagens. Os ovinos são os mais afetados por esta doença. A raça do animal e a linhagem do vírus influenciam na manifestação dos sinais agudos da infecção, caracterizado por hiperemia, apatia, edema de face e pescoço, inflamação e erosão da mucosa bucal, cianose lingual (característica da doença), coronite, miosite e pneumonia. 34 O VLA – Vírus da Língua Azul pertencente ao gênero Orbivírus, da família Reoviridae. Na microscopia o vírus se apresenta com um formato arredondado e um diâmetro de 68 a 70 nm. A morfologia do vírus é icosaédrica. É um vírus de RNA fita dupla, sendo caracterizado pela ausência de envelope. O vírus possui um genoma segmentado, com 10 segmentos. Como o vírus da influenza estes passam pelo processo de recombinação, associados a variação sorológica. Até o ano de 2008, foram descritos 24 sorotipos do VLA no mundo. No Brasil dois sorotipos (4 e 12) foram identificados. Epidemiologia O vírus causador da LA possui distribuição mundial, sendo mais comum em países de clima tropical, subtropical e regiões temperadas. Climas estes onde o vetor Culicoides se desenvolve bem. Hoje com as mudanças climáticas a distribuição do vírus mudou alcançando a Europa. Em 2006, o vírus se estabeleceu na Suiça, Reino Unido, Dinamarca e República Tcheca. Entretanto, este novo sorotipo foi caracterizado como menos virulento que os demais. Áreas endêmicas existem na África, Europa, Oriente médio, Américas e Ásia. Os primeiros casos da doença surgiram em 1924, quando a doença matou cerca de 60-70% do rebanho de ovinos. A primeira evidência do VLA no Brasil foi relatada por em 1978, no qual os pesquisadores detectaram a presença de anticorpos fixadores do sistema complemento em bovinos e ovinos de São Paulo. A partir daí foi observado, a partir de um levantamento sorológico, que o vírus havia se difundido por todo o país. Foi observado que em regiões onde a temperatura e umidade são maiores o vetor tem dificuldade de adaptação e, consequentemente, o índice de prevalência da doença é menor. A transmissão da LA ocorre por meio de um inseto hematófago do gênero Culicoides, conhecido popularmente como “mosquito-pólvora”. No inseto o vírus vírus se aloja nas glândulas salivares. Quando o mosquito se alimenta do sangue de um hospedeiro sadio, o vírus se replica nos nódulos linfáticos e se dissemina para outros órgãos por meio a circulação sistêmica. O vírus se associa á superfície das hemácias e das plaquetas, o que sugere a presença do vírus no sangue mesmo na presença de anticorpos neutralizantes. Estudos sugerem que o vírus pode está presente também no sêmen de bovinos e ovinos, o que pode alterar a qualidade do mesmo. Os Culicoides não são voadores potentes e ficam perto do seu ambiente larval. A distância máxima que uma fêmea pode voar são 2Km. A maioria tem hábitos 35 vespertinos e noturnos. Os bovinos, apesar de apresentarem uma infecção assintomática, são considerados o principal reservatório dos vírus. Isso justifica a preferência de algumas espécies de Culicoides por bovino. Esta preferência do mosquito pode está relacionada com a sobrevida das hemácias, que é maior nesta espécie em comparação aos ovinos. No sangue dos bovinos, o vírus pode ser encontrado de 5-9 semanas. A taxa de morbidade nos ruminantes varia de menos de 5% a 30% e a mortalidade normalmente é menor que 30%. Em rebanhos altamente susceptíveis, a morbidade pode ser de 75% e a mortalidade alcançar 90%. O vírus é inativado a 50C por 3h, 60C por 15 minutos. O vírus é inativado por desinfetantes comuns como fenólicos, iodóforos e beta-propiolactona. O vírus é estável em pH entre 6 e 8. Sinais Clínicos Os sinais clínicos dependem basicamente da espécie animal e do sorotipo viral. O período de incubação da enfermidade é de dois a dez dias. Os principais sinais observados nos ovinos são: congestão, edema e hemorragia, febre (41ºC), descarga nasal e salivação com hiperemia das mucosas nasal e oral, erosões e ulcerações orais, edema pulmonar, o qual é associado a morte dos animais. Cianose é o sinal associado à presença da característica “língua azul”. Hemorragias e lesões nos cascos podem ser descritas. Nos exames post-mortem as lesões podem se apresentar com hiperemia, erosão e ulceração na mucosa do Trato Gastrointestinal (TGI), além de edema e hemorragia em linfonodos, em tecido subcutâneo, na artéria pulmonar, no pericárdio. Pode-se observar, também, necrose do músculo esquelético e cardíaco. Diagnóstico O diagnóstico da LA é feito a partir da colheita do sangue total e na avaliação de alguns órgãos (baço, fígado, medula óssea, gânglios linfáticos) de animais mortos recentemente. O isolamento do agente pode ser realizado pela inoculação em ovo de galinha embrionado, seguido por uma cultura em células de inseto e de mamíferos. A identificação pode ser feita com a utilização de métodos imunológicos (Imunofluorecência, ELISA) e PCR (Reação em Cadeia da Polimerase), estes são utilizados para determinaçãodo sorotipo, enquanto que aqueles são eficientes para identificação de exposição do animal ao vírus e confirmação do diagnóstico clínico. 36 Medidas de controle e Tratamento A prática de sacrifício de animais infectados é questionável, uma vez que em algumas regiões existem altas taxas de infecção subclínica e o inseto possui um importante papel na disseminação da doença. Apesar dos bovinos serem considerados reservatórios do vírus, a criação conjunta desta espécie com ovinos é aconselhada devido a preferência do inseto por bovinos, constituindo, assim, uma medida de controle. Vacinas, embora úteis para reduzir os sinais clínicos e a disseminação viral não estão disponíveis no Brasil. Referências ANTONIASSI N.A.B et al. Alterações clínicas e patológicas em ovinos infectados naturalmente pelo vírus da língua azul no Rio Grande do Sul. Pesq Vet Bras, v.30, p.1010-1016, 2010. BILLINIS C. et al. Bluetongue virus diagnosis of clinical cases by a duplex reverse transcription-PCR: a comparison with conventional methods. J Virol Methods, v.98, p.77-89, 2001. DADHICH H. Bluetongue: an overview of recent trends in diagnostics. Vet Ital, v.40, p.564-566, 2004. DORNELES S.E.M et al. Prevalence of bluetongue virus antibodies in sheep from Distrito Federal, Brazil. Semina: Ciênc Agrar, v.33, p.1521-1524, 2012. KYRIASKIS, C.S. et al. 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Ectima Contagioso (Samira Leal e Mateus Matiuzzi da Costa) Ectima contagioso é uma doença infecciosa conhecida como dermatite pustular contagiosa, boca crostosa ou boqueira. É uma enfermidade zoonótica de ovinos e caprinos causada por um poxvírus dermatotrópico. Os animais jovens são mais susceptíveis, embora os mais velhos também possam ser infectados. A doença é caracterizada pelo aparecimento de pápulas, vesículas, pústulas e formação de crostas na pele do focinho e lábios sendo menos fequente, em outros locais. Etiologia: O agente etiológico é um vírus muito resistente do grupo DNAvírus, pertencente à família Poxviridae, sub-família Chordopoxvirinae, gênero Parapoxvírus. O vírus possui um capsídeo oval e relativamente pequeno e conteúdo G+C elevado em relação 38 aos demais poxvírus. Também é conhecido como vírus da orf. O genoma do vírus é linear dupla fita e altamente homologo ao vírus da vaccínia. Liofilizado ou em congelamento a -20 ºC conserva-se por três anos e nas pastagens pode permanecer por um ano, apresenta resistência ao glicerol e ao éter. É sensível à temperatura de 60ºC por 30 min e é destruído pelo fenol a 5%. Este tem grande facilidade de multiplicação no epitélio da pele e das mucosas da boca e do esôfago, sendo a pele desprovida de lã o principal local de desenvolvimento das lesões, na presença de pequenas soluções de continuidade ou ferimento. A partir daí, origina-se a lesão proliferativa do tecido epidermal. Os vírus de campo possuem grande variabilidade genética que tem sido descrita em vários estudos moleculares, contudo esta diferença genética não se reflete como variação antigênica. Epidemiologia: A doença afeta principalmente ovinos, caprinos (onde as lesões são mais extensas) e eventualmente o homem, causando lesões nas mãos e nas faces. Casos esporádicos foram relatados em bovinos e caninos. As lesões são dolorosas, levando várias semanas para a cicatrização. Geralmente é aceito que o ectima ocorra em todas as regiões onde se criam ovinos e caprinos, sendo esta enfermidade mais comum no final do verão, no outono e no inverno no pastejo. A morbidade é alta, podendo chegar a 100%, enquanto que a mortalidade é baixa (10%) e geralmente associada a complicações secundárias, como invasão das lesões primárias por larvas de moscas (miíases por Cochlyomia hominivora) e bactérias, como Fusobacterium necrophorum, Dermatophilus congolensis e Staphylococcus spp. , sendo que nestes casos o número de animais mortos pode chegar a 50% do rebanho. Cordeiros de 3-6 meses são frequentemente afetados. Os adultos apresentam sinais clínicos e lesões menos acentuadas, nesses casos, ocorrem lesões nos tetos de ovelhas em aleitamento e na cabeça e orelha de carneiros. A menor incidência dos adultos se deve, provavelmente, à imunidade de vacinações prévias ou infecções passadas. O aparecimento de surtos normalmente é resultado da introdução de novos animais ou de participação em exposições agropecuárias. Sendo portas de entrada a pele, mucosa dos lábios, extremidade das patas e órgãos genitais. A transmissão se dá 39 por contato direto com animais infectados e os sadios, ou indireto, por meio de lesões causadas na pele e mucosa da boca dos animais por forrageiras grosseiras (se esta entra em contato com as crostas desprendidas no ambiente) ou instrumentos usados para descola, castração, tosquia e colocação de brincos, usados em animais enfermos. Devido a sua capacidade de ser conservado nas crostas, o vírus pode permanecer virulento nos lugares de pasto e nas criações de estábulo durante anos, especialmente durante o tempo seco. O vírus do ectima contagioso pode persistir por até 17 anos no ambiente em condições de baixa umidade. É possível que no semiárido pernambucano, aproximadamente 70% dos rebanhos caprinos e ovinos já tiveram contato com o vírus do ectima contagioso. Em uma pesquisa realizada no semiárido da Paraíba, foi possível verificar que a doença é endêmica no semiárido e que é necessária a vacinação sistemática dos rebanhos para diminuir os prejuízos econômicos causados pela mesma. Patogenia: O vírus penetra na pele ou junção mucocutânea dos lábios e focinho. O período de incubação varia de dois a seis dias. Após a replicação viral e destruição do tecido se formam pápulas e vesículas, que rapidamente progridem para pústulas e crostas, que podem rachar e apresentar sangramentos que atraem insetos. As lesões nos lábios levam a redução progressiva no peso. Nos casos não complicados a recuperação dos animais demora dias. A manifestação sistêmica
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