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Farmacologia antimicrobiana – princípios da terapia e antibióticos β-lactâmicos Profª. Caroline M P Schuabb, Ph.D. Antimicrobianos Os principais grupos de microrganismos de importância médica são as bactérias, vírus, antifúngicos e parasitas. Dessa forma os medicamentos (antibióticos) são classificados como: 1. Antibacterianos (antibióticos) 2. Antivirais 3. Antifúngicos 4. Antiparasitários Os antibióticos tem como alvo são componentes essenciais das reações bioquímicas dos microrganismos e a interferência com estes processos fisiológicos resulta na sua destruição. Antimicrobianos Os fármacos são separados em classes de acordo com alguns fatores: 1. O tipo de microrganismo que o fármaco destrói 2. Amplitude do espectro de ação do fármaco 3. Processos bioquímicos no qual o fármaco interfere 4. Estrutura química do princípio ativo Curva-padrão de Hill Fig.: Goodman & Gilman Antimicrobianos Um fator importante que deve ser levado em consideração na administração de antibióticos é se o fármaco consegue penetrar no local da infecção. A penetração do fármaco em determinado compartimento anatômico depende das barreiras físicas que a molécula precisa atravessar, das propriedades químicas do antimicrobiano e da existência de transportadores para múltiplos fármacos. A barreira mais difícil de atravessar é barreira hematoencefálica. Protegida por junções muito estreitas que conectam as células e por transportadores ativos nas membranas das células endoteliais. Farmacocinética da terapia antimicrobiana Distribuição do fármaco nos diferentes compartimentos faz com que a farmacocinética (distribuição e eliminação) seja diferente nos compartimentos isolados do corpo. O corpo humano é multicompartimental. Fig.: Goodman & Gilman Testes de sensibilidade a antimicrobianos A escolha racional dos antibióticos se baseia: 1. Identificação da espécie de microrganismo. 2. Teste de suscetibilidade a antimicrobianos. Alteração na sensibilidade a antimicrobianos Milhões de indivíduos em todo o mundo são infectados por diferentes cepas da mesma espécie de patógeno. Os processos evolutivos tornam as cepas ligeiramente diferentes das outras, de modo que cada cepa demonstra sensibilidade singular aos antimicrobianos. À medida que os microrganismos replicam-se no paciente, eles podem evoluir. Portanto, espera-se que haja uma distribuição ampla de concentrações dos antimicrobianos capazes de destruir os patógenos. Fig.: Goodman & Gilman Esquema posológico no tratamento com antimicrobianos O foco da infecção fica exposto a flutuações na concentração de antibióticos, já que a prescrição leva em consideração um esquema definido, como 2x ou 3x ao dia. à Para alguns fármacos é mais importante a concentração atingir o pico máximo, essa característica esta relacionada ao mecanismo de ação do fármaco. Fig.: Goodman & Gilman Tratamento com antimicrobianos Profilaxia à pacientes imunossuprimidos, procedimentos cirúrgicos e profilaxia pós-exposição. Preventivo à tratamento precoce de pacientes de alto risco que tenham indícios laboratoriais de infecção. Empíricoà paciente sintomático que é tratado imediatamente. Definitivo à tratamento individualizado para patógeno identificado, para o qual foi realizado teste de sensibilidade. Supressor à manutenção do tratamento a doses mais baixas até que a doença seja totalmente eliminada. Fig.: Goodman & Gilman Tratamento com antimicrobianos O tratamento utilizando mais de um fármaco é exceção, mais do que regra. O tratamento com mais fármacos aumenta a possibilidade de toxicidade e de danos a microbiota normal e saudável. O tratamento antimicrobiano deve prezar sempre por: 1. Evitar a criação de resistência ao fármaco 2. Eficácia terapêutica 3. Baixa toxicidade Em alguns tratamentos combinados a administração de mais de um fármaco torna o tratamento mais eficaz e mais curto, devido ao efeito sinérgico dos fármacos. Também pode ser menos toxico, já que doses menores dos fármacos serão administradas. Fig.: Goodman & Gilman Resistência ao tratamento com antimicrobianos (antibacterianos) A mutação e a seleção antibiótica dos mutantes resistentes constituem as bases moleculares das resistências de muitas bactérias, vírus e fungos. Antibióticos β- lactâmicos Penicilinas, cefalosporinas, carbapenems e outros fármacos que atuam na parede celular de bactérias Fig.: Katzung Antibióticos β-lactâmicos Os Antibióticos β-lactâmicos possuem o mesmo mecanismo de ação: inibição da síntese da parede celular bacteriana de peptidoglicano, levando a morte celular. Fig.: Goodman & Gilman Ocorre a inibição da enzima transpeptidase, que realiza a ligação das cadeias laterais de aminoácidos que unem a estrutura de açúcares da parede celular. Ou seja, realiza a transpeptidação da síntese da parede celular. Se liga covalente a PLP (transpeptidase). Antibióticos β-lactâmicos Local de ação dos antibióticos β-lactâmicos em bactérias gram- positivas e gram-negativas. O mecanismo de resistência mais comum ocorre através de β- lactamases. Fig.: Goodman & Gilman Penicilinas Apesar das formas de resistência que existem hoje em dia, as penicilinas ainda são muito utilizados para diversas infecções. As penicilinas apresentam um anel tiazolidina (A) conectado a um anel β-lactâmico (B), ao qual uma cadeia lateral é presa (R). Fig.: Katzung Os substituintes R determinam as propriedades farmacológicas e antibacterianas essenciais das moléculas resultantes. Classificação das penicilinas • Penicilina G (benzetacil) e penicilina V à ativas contra cocos gram- positivos (S. pyogenes), mas muito sensíveis a lactamases (ineficaz contra S. aureus). Utilizada na faringite, ganarreia, sífilis e febre reumática. • Penicilinas resistentes a lactamases à eficazes contra gram-positivos (S.aureus e S. epidermidis), são a meticilina, nafcilina, oxacilina, cloxacilina e dicloxacilina. • Penicilina com atividade microbiana ampliada para gram-negativos (espécies de Pseudomonas, Enterobacter e Proteus H. influenzae e E. coli) à ampicilina e amoxicilina, normalmente administrada com ácido clavulânico para evitar lactamases. Características comuns na farmacocinética das penicilinas 1. A absorção difere dependendo da estrutura, mas são amplamente distribuídos após administração por via oral quando administrados fora da refeição (exceção: amoxicilina). 2. As concentrações terapêuticas são rapidamente alcançadas. 3. São encontradas em baixa concentração no nas secreções prostáticas, no tecido cerebral e no líquido intraocular. 4. No liquido cerebrospinal as concentrações são menos de 1% das concentrações no sangue e durante uma infecção podem chegar até 5% da concentração do sangue, devido ao processo inflamatório. 5. Possuem meia-vida de 30 a 90 minutos. 6. São rapidamente eliminadas nos rins, chegando a altas concentrações na urina. Penicilina G Fármaco de escolha no tratamento de infecções causadas por estreptococos, meningococos (Neisseria), pneumococos sensíveis à penicilina, estafilococos não produtores de β-lactamase, Treponema pallidium e algumas outras espiroquetas (Leptospira), espécies de Clostridium, Actinomyces e outros bastonetes Gram-positivos e microrganismos Gram-negativos anaeróbios não produtores de β- lactamase. à A penicilina V, a forma oral de penicilina, só está indicada para infecções menores, possui biodisponibilidade baixa, necessidade de administração 4 vezes ao dia e espectro antibacteriano estreito. Em seu lugar, costuma-se utilizar a amoxicilina Penicilina G Administração oral de penicilina G: cerca de 1/3 é absorvida o resto é eliminado pelo suco gástrico. Administração oral de penicilina V: melhor absorvida no TGI, atingido 5x a concentração plasmática da penicilina G. Administração parenteral de penicilina G: injeção intramuscular onde a concentração plasmática máxima é atingida de 15 a 30 minutos. Possui meia-vida de 30 minutos em adultos, de 1,5 a 3 horas em lactentes. A preparação farmacêutica mais utilizada é penicilinabenzatina, preparação de depósito que libera penicilina lentamente no local onde é injetada e produz concentrações baixas e persistentes desse antibiótico no sangue. A atividade terapêutica no plasma dura 26 dias. Penicilina G Distribuição à amplamente distribuída pelo corpo, mas a concentração nos tecidos é variável. Cerca de 60% se liga a albumina plasmática, e atinge níveis elevados no fígado, na bile, nos rins, no sêmen, no líquido articular, na linfa e no intestino. No LCS fica em concentrações baixas. Eliminaçãoà amplamente eliminado pelos rins, em crianças a eliminação renal é mais lenta. Quando a função renal está comprometida, 7 a 10% do antibiótico podem ser inativados a cada hora pelo fígado. É preciso reajustar a dose do fármaco durante a diálise e o período de recuperação progressiva da função renal. Se, além da insuficiência renal, também houver insuficiência hepática, a meia-vida da penicilina G será ainda mais prolongada. Penicilina G Usos terapêuticos 1. Infecções pneumocóccicas (cepas sensíveis de S. pneumoniae, há cepas resistentes): Pneumonia pneumocóccica e meningite pneumocóccica. 2. Infecções estreptocóccicas. Faringite estreptocóccica (inclusive escarlatina) é a doença mais comum provocada por S. pyogenes (estreptococo β-hemolítico do grupo A) Pneumonia, artrite, meningite e endocardite estreptocóccicas 3. Infecções estafilocóccicas (maioria é resistente a penicilina) 4. Infecções meningocóccicas (meningite por Neisseria meningitidis) 5. Infecções gonocóccicas (gonorreia por Neisseria gonorrhoeae, existem cepas resistentes). 6. Sífilis (tratamento muito eficaz) 7. Usos profiláticos das penicilinas (na faringite estreptocócica para prevençao da febre reumática e para evitar reincidivas da febre reumática). Penicilinas resistentes a lactamases Devem ser usadas somente quando a bactéria for comprovadamente resistente a penicilinas. Essas bactérias são classificadas como resistentes a meticilina. OXACILINA, CLOXACILINA E DICLOXACILINA à são bem absorvidas por VO e podem ser administradas por via IV. NAFCILINA à altamente resistente a lactamases. Não é tão potente quanto a penicilina G, sendo administrada preferencialmente por via IV. Seu espectro de ação envolve preferencialmente bactérias gram-positivas. Aminopenicilinas Seu espectro de ação bactericida envolve bactérias gram-positivas e gram-negativas. São destruídos por lactamases A administração concomitante de um inibidor da β-lactamase como o clavulanato ou o sulbactam expande de forma acentuada o espectro de atividade desses fármacos. AMPICILINA à é bem absorvida por via oral. Atinge o pico de concentração plasmática em 2 horas e tem meia-vida de 80 minutos. A disfunção renal aumenta a meia-vida e o fármaco não é retirado na diálise. É amplamente eliminado nas fezes. AMOXICILINA à fármaco estável e bem absorvido por via oral, melhor que ampicilina. A maior parte do antibiótico é excretado na urina. Aminopenicilinas Indicações terapêuticas • Infecções das vias respiratórias superiores à S. pyogenes, S. pneumoniae e H. influenzae. Nos tratamentos da sinusite, da otite média, das exacerbações agudas da bronquite crônica e da epiglotite. • Infecções do trato urinário à infecções não complicadas causadas por E. coli. • Infecções por Salmonella à pode ser utilizado no tratamento de febre tifoide combinado com outros antibióticos. Assim como, no a ampicilina é utilizada no tratamento do estado de portador da febre tifóide. Reações adversas das penicilinas Reações de hipersensibilidade à a alergia é a reação mais comum as penicilinas. As manifestações de alergia às penicilinas incluem erupção maculopapulosa, erupção urticariforme, febre, broncospasmo, vasculite, doença do soro, dermatite esfoliativa, síndrome de Stevens-Johnson e anafilaxia. A hipersensibilidade inclui outros fármacos lactâmicos. Muitas vezes a reação é leve e desaparece quando o tratamento é mantido. Em graves de reações alérgicas graves, como angioedema e anafilaxia, o uso deve ser proibido. ALERAÇÃO DA MICROBIOTA NORMAL E SAUDÁVEL ào uso do antibiótico elimina os microrganismos sensíveis. A alteração da microbiota, principalmente intestinal, expõe a mucosa a microrganismo potencialmente patogênicos que podem se integrar a flora e causar doença. Penicilina G e penicilina V Propriedades farmacocinéticas comuns as penicilinas 1. Amplamente distribuídos após administração por via oral. 2. As concentrações terapêuticas são rapidamente alcançadas. 3. São encontradas em baixa concentração no nas secreções prostáticas, no tecido cerebral e no líquido intraocular. 4. No liquido cerebrospinal as concentrações são menos de 1% das concentrações no sangue e durante uma infecção podem chegar até 5% da concentração do sangue, devido ao processo inflamatório. 5. Possuem meia-vida de 30 a 90 minutos. 6. São rapidamente eliminadas nos rins, chegando a altas concentrações na urina. Cefalosporinas São semelhantes as penicilinas, mas são mais estáveis frente as β- lactamases (podem ser suscetíveis a β-lactamases de bactérias gram-negativas, como a E.coli), possuindo um espectro de atividade mais amplo. As cefaloposporinas são divididas em grupos ou gerações dependendo do seu espectro de ação. Cefalosporinas de 1ª geração São ativas contra cocos gram-positivos: estrepcocos e estafilococos, e são moderamente ativas contra alguns gram-negativos como: E. coli, K. pneumoniae e P. mirabilis. à Utilizadas no tratamento de infecções do trato urinário, profilaxia cirúrgica e infecções causadas por estafilococos ou estreptococos, inclusive celulite ou abscesso de tecidos moles. Não são usadas em infecções sistêmicas. As bactérias da cavidade oral são na sua maioria sensíveis as cefalosporinas. à Fármacos: 1. Cefazolina 2. Cefalexina 3. Cefadroxila 4. Cefradina FARMACOCINÉTICA • São administradas principalmente por via oral e possuem diferentes gruas de absorção. • São altamente excretadas pela urina e a dose deve ser reduzida em paciente que possuem comprometimento da função renal. Cefalosporinas de 2ª geração São ativas principalmente contra E. coli, K. pneumoniae H. influenza e P. mirabilis, e são menos ativas contra gram-positivos do que as cefalosporinas de 1ª geração. Utilizados no tratamento sinusite, otite e infecções das vias respiratórias inferiores. à Fármacos: 1. Cefuroxima 2. Cefuroxima axetila 3. Cefprozila 4. Cefmetazol 5. Loracarbef 6. Ceforamida 7. Cefaclor (suscetível a β-lactamases) FARMACOCINÉTICA • São administradas por via oral e por via intravenosa possuem diferentes gruas de absorção. • São altamente excretadas pela urina e a dose deve ser reduzida em paciente que possuem comprometimento da função renal. Cefalosporinas de 3ª geração São tao ativas contra gram-positivos (S. aureus, S. pneumoniae e S. pyogenes) quanto as cefalosporinas de 1ª geração, e são ativas contra os gram-negativos (Enterobacteriaceaed, P. aeruginosae, e N.gonorrhoeae). São usadas no tratamento de uma ampla variedade de infecções graves causadas por microrganismos resistentes à maioria dos outros fármacos. Entretanto, as cepas que expressam β-lactamases de espectro ampliado não são sensíveis. Utilizadas na meningite. à Fármacos: 1. Cefotaxima (meningite) 2. Ceftriaxona (meningite, gonorreia) 3. Cefdinir 4. Cefditoreno pivoxila 5. Ceftibuteno 6. Cefpodoxima proxetila 7. Ceftizoxima (não é metabolizada) 8. Cefoperazona (ativo contra Pseudomonas) 9. Ceftazidima (ativo contra Pseudomonas) FARMACOCINÉTICA • São administradas por via intravenosa e via intramuscular possuem diferentes graus de absorção. • São altamente excretadas principalmente pela bile e não há alteração em paciente que possuem comprometimento da função renal. Cefalosporinas de 4ª geração É de amplo espectro, sendo atividade semelhante a cefalosporinas de 3ª geração contra gram-positivos e gram-negativos, sendo mais resitentes as β-lactamases. São úteis para o tratamento empírico de infecções graves dos pacientes hospitalizados, quando patógeno consiste em microrganismogram-positivo potencialmente resistente, Enterobacteriaceae e Pseudomonas. à Fármacos: 1. Cefepima FARMACOCINÉTICA • São administradas por via intravenosa e via intramuscular possuem diferentes graus de absorção. • São altamente excretadas principalmente pela bile e não há alteração em paciente que possuem comprometimento da função renal. Reações adversas a cefalosporinas 1. Alergia: anafilaxia, febre, exantemas cutâneos, nefrite, granulocitopenia e anemia hemolítica. 2. Irritação local após aplicação intramuscular 3. Pode ocorrer toxicidade renal: nefrite e necrose tubular 4. Distúrbios hemorrágicos 5. Interação com álcool Outros antibióticos β-lactâmicos CARBAPENEMS Possuem um espectro de ativo mais amplo que os outros β- lactâmicos. São o imipenem, meropenem, doripenem e ertapenem. àIMIPENEM: muito resistente a β-lactamases, com ampla atividade contra organismo gram-positivos aeróbios e anaeróbios. É administrado por via parenteral. O imipenem-cilastatina é eficaz no tratamento de uma ampla variedade de infecções, inclusive infecções do trato urinário e das vias respiratórias inferiores; infecções intra-abdominais e ginecológicas; e infecções da pele, dos tecidos moles, dos ossos e das articulações. Pode haver reações adversas semelhantes a penicilinas. Inibidores da β-lactamase São moléculas que inativam as β-lactamases, são substrato para a enzima e se ligam de forma irreversível, assim impedem a destriçao dos antibióticos β-lactâmicos. àÁcido clavulânico: inibidor irreversível das β-lactamases produzidas por diversos organismo gram-positivos e gram- negativos. Pode ser administrado por via oral e parenteral. A amoxicilina + ácido clavulânico é muito eficiente contra diversas infecções. àSulbactam: semelhante ao ácido clavulânico. De aplicação intravenosa e intramuscular com ampicilina. àTazobactam: utilizado em preparação parenteral associado a piperaciclina.
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