Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hipotireoidismo Definição: Anormalidades estruturais e funcionais da glândula tireóide, resultando em produção diminuída dos hormônios tireoidianos. Incidência: principalmente em cães de meia idade, tendo cerca de 30% dos cães entre 4 e 6 anos Hipotireoidismo primário/adquirido: perda progressiva do tecido tireoidiano funcional (ocorre em mais de 95% dos casos) -os dois tipos histológicos predominantes são: tireoidite linfocítica e a atrofia folicular idiopática -tireoidite linfocítica: destruição autoimune da tireóide. Histologicamente, a glândula tireoide encontra-se infiltrada por linfócitos, plasmócitos e macrófagos, resultando em progressiva destruição glandular e, secundariamente, em fibrose. Os sinais da doença, no entanto, só aparecem quando mais de 75% da glândula foram destruídos -atrofia folicular idiopática: ocorre a perda do epitélio folicular e ruptura dos folículos de forma progressiva e a glândula é substituída por tecido adiposo e com uma resposta inflamatória mínima. Na lesão microscópica, é observada a degeneração do epitélio celular e do colóide Hipotireoidismo secundário: diminuição da produção do TSH e, secundariamente, da secreção de hormônios tireoidianos. Ocorre em menos de 5% dos casos e as principais causas são malformação congênita ou destruição da pituitária ou até mesmo sua supressão, normalmente causada por medicamentos ou outros hormônios, como os glicocorticóides -as malformações pituitárias, são causadas, em sua maioria, por hipoplasia ou formação de uma bolsa de Rathke cística (formada no período embrionário, por invaginação do ectoderma faringeano. Com o desenvolvimento fetal, essa bolsa levará à formação da adeno-hipófise e, com isso, seu tamanho ficará reduzido a uma fenda na hipófise anterior. Caso, nessa fenda se forme um cisto, este comprimirá a adeno-hipófise, que sofrerá atrofia -devido ao comprometimento da hipófise anterior, o hormônio do crescimento, por exemplo, pode ter sua produção diminuída, resultando em nanismo. Caso apenas o TSH esteja diminuído, mas a secreção do GH normal, o animal desenvolverá cretinismo Hipotireoidismo terciário: deficiência de TRH (hipotálamo) Hormônios tireoidianos Formados pela junção de aminoácidos e iodo e carreados por proteínas transportadoras na circulação sanguínea T4 - grande quantidade deste hormônio circulante T3 – pequena quantidade circulante e é biologicamente ativo Fisiologia: O iodo absorvido pelo intestino na forma de iodeto (I-) é transportado na circulação ativamente para glândula tireóide Na superfície luminal da célula folicular, o iodeto é oxidado pela tireoperoxidase e reage com os resíduos tirosina da tireoglobulina, formando monoiodotirosina (MIT) e a diiodotirosina (DIT) Sob estímulo do TSH, a tireoglobulina é hidrolisada por lisossomos no citoplasma, liberando T3 e T4 na circulação. Regulados pelo eixo hipotalâmico-hipofisário- tireóide Colóide Lúmen folicular preenchido pelo colóide (principal reservatório de tireoglobulina= glicoproteína de alto peso molecular, contendo resíduos de iodotirosinas, que servem como precursoras na síntese dos hormônios tireoidianos) O t4 se desacopla da proteína carreadora e atravessa a membrana de uma célula T4 livre (capaz de entrar na célula e exercer o feedback negativo no eixo hormonal) T4f é rapidamente desiodada nas células-alvo para formar a T3 ativa (no núcleo da célula- alvo, só há receptor de T3), que promove os efeitos fisiológicos dos hormônios tireoidianos. No tecido, o T3 penetra mais rápido nas células, sendo 3 a 5x mais potente que T4 (ativador de metabolismo) Regulação: T4f pode ser desiodada em T3 reverso, que não promove os efeitos de aumento de metabolismo do T3 circulação sanguínea recaptado pela tireoide e é degradado em tirosinas, servindo de matéria-prima para outros hormônios tireoidianos A regulação das concentrações dos hormônios tireoidianos é controlada pelo eixo hipotálamo-hipófise-tireóide. A liberação pelo hipotálamo do TRH (hormônio liberador da tiroxina) estimula a produção de TSH pela hipófise anterior, que estimula por sua vez a tireóide na produção de T3 e T4. Os hormônios da tireóide exercem um retrocontrole negativo sobre o hipotálamo e a hipófise diminuindo a secreção de TRH e TSH por essas glândulas T4 total= RESERVATÓRIO T4 livre= hormônio disponível nos tecidos Grande parte dos hormônios tireoidianos está ligada às proteínas carreadoras. O hormônio ligado (T4) atuará como um grande reservatório, uma vez que ele vai se dissociando à medida que a fração livre no sangue vai sendo utilizada pelos tecido Principais funções dos hormônios tireoidianos: estimulam calorigênese (responsável pela regulação metabólica de todas as células do organismo) regulam diferenciação e metabolismo dos lipídeos, incentivando seu catabolismo estimulam anabolismo de proteínas (quando há dieta com fontes adequadas de energia) e catabolismo (quando não há fonte de energia alimentar) regulam metabolismo de carboidratos com efeito hiperglicemiante promovem catabolismo do tecido adiposo atuam na degradação do colesterol atuam na síntese de vitaminas e minerais e na secreção e degradação de outros hormônios desenvolvimento fetal exercem efeitos cronotrópicos e inotrópicos no coração atuam no centro respiratório, eritropoiese e nos ossos (estimulam tanto a formação quanto a reabsorção óssea) policitemia estimulam o desenvolvimento do sistema nervoso em filhotes Principais manifestações clínicas sinais metabólicos: letargia, retardo mental, intolerância ao exercício e propensão ao ganho de peso, sem aumento do apetite e da ingestão de alimento; intolerância ao frio (dificuldade em manter a temperatura corporal constante) No HIPOTIREOIDISMO, a tireoide não consegue repor as quantidades de T3 e T4 sinais dermatológicos: -alopecia simétrica bilateral; pelos facilmente epiláveis, principalmente em áreas de fricção, como na parte ventral do tórax, do pescoço e cauda (aspecto de “cauda de rato”), com crescimento difícil após a tosa. Normalmente esta alopecia não causa prurido; -hiperqueratose e seborréia seca (diminuição dos ácidos graxos cutâneos e da prostaglandina E2 e atrofia sebácea) -é comum o aparecimento de otite ceruminosa, comedões e hiperpigmentação, especialmente em áreas sem pelo, axilas e região inguinal -espessamento da pele, devido ao acúmulo de glicosaminoglicanos, chamado de mixedema, que comumente acomete pálpebras, testas e bochechas sistema cardiovascular: bradicardia, decréscimo dos efeitos cronotrópicos do miocárdio e aumento do tamanho ventricular. Decréscimo do débito cardíaco, devido ao aumento da resistência vascular sistêmica alterações oftálmicas (geralmente secundárias à hiperlipidemia): lipidose corneal, ulceração de córnea, uveíte anterior, efusão lipídica do humor aquoso, glaucoma secundário, lipemia retinal e deslocamento de retina CONDIÇÃO MAIS GRAVE DO HIPOTIREOIDISMO: coma mixedematoso (complicação rara), que provoca graves alterações na consciência e apresenta risco de morte. Os sintomas incluem: coma ou estupor, com séria incapacidade mental, controle anormal da temperatura corporal e supressão cardiovascular e respiratória Diagnóstico: alterações laboratoriais hemograma: pode revelar anemia normocítica normocrômica arregenerativa - cerca de 40 a 50% - menor estímulo à eritropoiese medular hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia (hiperlipidemia): 75%. Devido ao decréscimo do metabolismo, ocorre redução tanto na excreção do colesterol quanto na conversão dos lipídeos em ácidos biliares. aumento de CPK (creatinina fosfoquinase) – miopatias aumento da fosfatase alcalina (se houver colestase hepática) em aproximadamente30% dos pacientes Diagnóstico: determinações hormonais T4 livre por diálise T4 total TSH canino T3 Os testes da função da glândula tireóide, que mensuram as concentrações de T4 e fT4 juntamente com a concentração sérica de TSH, são os mais indicados e utilizados para avaliar a função da tireóide em cães suspeitos de hipotireoidismo. Como a T3 e a rT3, na grande maioria, são formadas em locais extratireoidianos, a mensuração das concentrações séricas de T3, fT3 e rT3 não é recomendada para avaliação da glândula tireóide nos caninos T4 TOTAL: método laboratorial que separa as proteínas acopladas ao T4 total e quantificar novamente o T4 desacoplado T4 LIVRE: método por diálise de equilíbrio modificada TSH: No hipotireoidismo, o TSH estará com valores normais a altos (feedback tentando compensar a falha na produção de T4 livre) Tratamento Levotiroxina sódica (T4 sintética). Sua administração por via oral deve resultar em concentrações normais séricas de T4, T3 e TSH A dose inicial é 20-22 mcg/kg; VO; a cada 12 ou 24 horas com o aumento progressivo quando necessário Administração em JEJUM alimentar Aumento de dose gradual em cardiopatas Monitorização Teste “post pill” ou teste de reposição hormonal: dosagem de T4 em jejum + administração do medicamento + nova coleta sanguínea após 6h para dosagem de T4 pós hormônio Interpretação: T4 basal normal e T4 após medicamento aumentado a primeira coleta mostra a durabilidade do fármaco administrado no dia anterior (resultado: avalia se há necessidade de regulação na frequência de administração (SID ou BID); a segunda coleta é importante para saber se a dose matinal é efetiva ao longo do dia (resultado: ajuste de dose) Se houver necessidade de redução da dose: 25% da dose atual e avaliar dentro de 30-60 dias Síndrome eutireoidiana: doença na qual os níveis séricos dos hormônios tireoidianos estão momentaneamente baixos em pacientes clinicamente eutireoideos com doenças sistêmicas não tireoidianas (mecanismo compensatórios a uma situação crítica). O diagnóstico se faz pela exclusão do hipotireoidismo. NÃO HÁ DESTRUIÇÃO DA TIREÓIDE Diminuição de T4 + TSH pode ou não aumentar (não exacerbado) + aumento do T3 reverso (os tecidos periféricos há maior conversão de T4 em T3r) É esperado encontrar as seguintes alterações hormonais: diminuição de t4 livre por diálise + diminuição de t4 total + aumento de TSH Valores de referência: 1,5 a 3,8 ug/dL (t4 basal) 2,5 a 5,0 ug/dL (pós hormônio) Avaliar melhora clínica
Compartilhar