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Acessibilidade e Ergonomia em Mobiliários Urbanos

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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq 
Centro Universitário Ritter dos Reis 
XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação 
SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 
 
 
Acessibilidade e Ergonomia em Mobiliários Urbanos 
 
Cristie Signor Saretto 
Pós-Graduanda em Ergonomia, com ênfase na análise ergonômica do trabalho 
UniRitter – Laureate International Universities’ 
cristiesaretto@icloud.com 
 
Resumo : Ao utilizarmos mobiliários e equipamentos urbanos, muitas vezes nos deparamos com 
percalços, incômodos, contratempos, por fim, são os mais variados nomes para uma mesma 
problemática, a falta de mobilidade. Além de criar transtornos para não portadores de mobilidade 
reduzida ela ainda supre a independência de portadores de necessidades especiais. Se levarmos 
em consideração a parcela da população que não possui nenhum problema de mobilidade e que 
pode facilmente optar por outra solução, estaremos reduzindo a relevância das normas e dos 
quesitos de ergonomia que são estudados. Por esse motivo, cada vez mais devemos respeitar e 
fazer uso das mesmas. O método de pesquisa tem como base a NBR 9050 e o que é estipulado 
por ela como pré-requisito de acessibilidade além de considerar premissas básicas de ergonomia. 
Pensando em acessibilidade e ergonomia, o presente artigo tem o propósito de avaliar paradas 
de ônibus existentes no município de Porto Alegre – RS, como estudo de caso, e sugerir soluções 
práticas e usuais para futuras instalações das mesmas. Na ânsia de que as alterações atinjam 
uma parcela maior da população e facilitem a locomoção num todo. 
 
1 Introdução 
Em 1973, criou-se a Lei de Reabilitação, ela iniciou com as adaptações em escolas e 
locais de trabalho. O tema foi fomentado por raízes históricas, devido ao termino da 
Segunda Guerra Mundial, onde muitos soldados que voltavam estavam mutilados ou com 
sequelas físicas, com isso necessitavam de um ambiente adequado para o processo de 
reinclusão social. Porém o auge das discussões se deu em 1980, quando nos EUA foi 
criada a ADA - Americans with Disabilities Act, uma lei civil que promovia a acessibilidade 
em edifícios e locais públicos (FROTA, 2013). 
A ONU, definiu 1981 como o ano internacional da pessoa com deficiência e em 1993, 
publicou normas sobre igualdade e oportunidade para as pessoas com deficiência, que 
considera acessibilidade a área fundamental para igualdade. Um ano depois no Brasil, 
surgiu a NBR 9050, suas alterações seguem uma evolução conceitual mundial da 
acessibilidade como recurso para qualquer pessoa e não somente para a pessoa com 
deficiência (FROTA, 2013). 
A norma 9050 determina parâmetros a serem considerados em projeto, construção, 
instalação e adaptação de edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos às 
condições de acessibilidade. Entre essas ações é fundamental promover mudanças no 
ambiente físico para atingir melhores condições de acessibilidade espacial e permitir a todas 
as pessoas a realização de atividades desejadas (NBR 9050, 2015). 
Acessibilidade, segundo a NBR 9050, é a possibilidade e condição de alcance, 
percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, 
mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, 
 
 
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inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao 
público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por 
pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida (NBR 9050, 2015). 
É importante levar em conta que um grande número de brasileiros enfrenta 
diariamente diversos tipos de obstáculos, ou barreiras, para obter informações, deslocar-se, 
comunicar-se e utilizar equipamentos e serviços públicos. No Brasil, segundo o censo de 
2010, 45.606.048 dos brasileiros ou seja 26.9% da população total tem algum tipo de 
deficiência seja ela visual, auditiva, física ou intelectual. Ainda consta que 18,5% possui 
deficiência visual, 5,10% auditiva, 7% física e 1,4% intelectual (IBGE, 2010). 
 O conceito de desenho universal está definido conforme legislação vigente e pelas 
normas técnicas. Este conceito propõe uma arquitetura e um design mais centrados no ser 
humano e na sua diversidade. Estabelece critérios para que edificações, ambientes 
internos, urbanos e produtos atendam a um maior número de usuários, independentemente 
de suas características físicas, habilidades e faixa etária, favorecendo a biodiversidade 
humana e proporcionando uma melhor ergonomia para todos (NBR 9050, 2015). 
Segundo a ABEPRO, ergonomia é o estudo das interações das pessoas com a 
tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem 
melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a segurança, o conforto, o bem-estar e a 
eficácia das atividades humanas. 
Ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e avaliação de tarefas, postos 
de trabalhos, produtos, ambientes e sistemas de modo a torna-los compatíveis com as 
necessidades, habilidade e limitações das pessoas. Já o projetista que se preocupa com a 
acessibilidade e a necessidade das pessoas com deficiência pode ser definido dentro do 
mesmo conceito. Permitindo enxergar a ligação direta entre ambos, em razão de que os 
dois buscam adequação do ambiente ao homem (SANTOS, 2016). 
Para Iida, a contribuição da ergonomia não se restringe às indústrias. Os estudos 
ergonômicos são muito amplos, podendo contribuir para melhorar as residências, a 
circulação de pedestres em locais públicos, ajudar pessoas idosas, crianças em idade 
escolar, pessoas com deficiência e assim por diante (Iida, 2005). 
 Assim como a acessibilidade busca atender pessoas que possuem necessidades 
especificas, adequando os espaços, a ergonomia também deve atender e satisfazer o maior 
número de pessoas e excluir o menos possível, disciplinada a analisar pessoas e solucionar 
problemas. 
Os estudos em ergonomia mostraram que projetar para atender à média da 
população não é uma forma de inclusão, pois todas as pessoas possuem características 
próprias e assim também acontece com as pessoas com deficiência, que mantém suas 
especificidades mesmo fazendo parte de uma mesma categoria de deficiências. Por isso 
que ao projetar um ambiente público, e levarmos em consideração a média antropométrica, 
cobrindo a faixa 5 a 95%, não estamos contemplando portadores de deficiências cognitivas. 
 
 
 
 
 
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2 Métodos e Procedimentos Metodológicos 
O método de pesquisa tem como base a NBR 9050 e o que é estipulado por ela 
como pré-requisito de acessibilidade. A norma estipula além de medidas antropométricas (5 
a 95% - percentis) a indispensabilidade de transmissão das informações. 
Tabela 1: Métodos utilizados para projeto. 
Solução Descrição Objetivo 
Sinalização Visual Mensagens de texto, contrastes, 
símbolos e figuras. 
Uso de placas e simbologias. 
Sinalização Tátil Informação em relevo, textos, 
símbolos e braile. 
Emprego de Mapa e Piso Tátil para 
auxilio de deficientes visuais. 
Sinalização Sonora Conjunto de sons que possam ser 
compreendidos. 
Utilização de caixas com sinal 
sonoro, identificando o ônibus que 
se dirige à parada. Reforçando o 
emprego do sinal tátil e cooperando 
com idosos e o restante da 
população. 
Dimensões Adequadas Dimensionamento conforme NBR 
9050. Utilizando M.R (Módulo de 
Referência). 
Dimensionar adequadamente para 
que o mobiliário possa ser utilizado 
por P.C.R (Pessoa em Cadeira de 
Rodas), P.M.R (Portador de 
Mobilidade Reduzida) e P.O 
(Pessoa Obesa). 
Chip Chip no ônibus, para identificação. Receptorinstalado em veículo 
possibilita ao usuário com 
transmissor saber, a um mínimo de 
100 metros de distância do ponto 
em que esteja, que o ônibus da linha 
desejada está prestes a passar. Ao 
mesmo tempo, mensagem de voz 
avisa ao motorista do ônibus a 
presença do usuário no ponto. 
Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada. 
 
Depois de avaliadas as soluções, as mesmas foram empregadas no projeto da 
parada de ônibus acessível, para fim de qualificar os mobiliários urbanos e alterar os 
mesmos para que sua utilização tenha maior abrangência de uso da população. 
 
3 Resultados e Discussões 
3.1 População e amostra 
Segundo o Censo de 2010, Porto Alegre - RS, tinha 1.406.351 habitantes, destes 
336.420 possuíam alguma deficiência, revelando que quase um quarto ou 23,87% da 
população da cidade possuíam algum tipo de deficiência, como mostra na figura (1). 
Portanto foram considerados no estudo todos os cidadãos do município de Porto Alegre 
com alguma deficiência, que são assistidos pela NBR 9050. 
 
 
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São eles, pessoas com mobilidade reduzida e dificuldade de comunicação, com 
limitações físicas (usuários de cadeira de rodas, muletas, bengala e andadores), sensoriais, 
cognitivas, perceptivas, comunicativas, compreensivas e com restrições na transmissão e 
processamento de informações. A figura 2 apresenta os números relacionados a cada uma 
das deficiências citadas acima. 
 
Figura 1: População com deficiência. Figura 2: Índice deficiente, segundo tipo deficiência. 
 
 Fonte: IBGE, 2010. Fonte: IBGE, 2010. 
 
Figura 3: Índice de deficiente, com alguma deficiência, segundo faixa etária. 
 
Fonte: IBGE, 2010. 
 
Ainda pode-se notar que a maior porcentagem que declarou alguma deficiência foi na 
faixa etária de adultos (figura 3), e que de todas as faixas etárias a principal deficiência foi a 
 
 
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visual, nos jovens a segunda maior foi auditiva e para adultos e idosos a segunda maior foi 
a motora. 
3.2 Demanda e Situação de estudo 
A demanda teve início por intermédio da falta de mobilidade urbana encontrada nas 
grandes cidades. Foram utilizadas para estudo de caso paradas de ônibus no município de 
Porto Alegre – RS. 
A figura 4 sinaliza que 50,69% dos ônibus do município possuem acessibilidade para 
pessoas com deficiência, porem essa não é a única solução. Como mostram as figuras 5, 6, 
7 e 8, as paradas de ônibus encontradas na capital são precárias e muitas vezes a falta de 
acessibilidade encontrada fora dos ônibus, prejudica e até impede a utilização dos mesmos. 
 
 Figura 4: Percentual de ônibus em Porto Alegre com acessibilidade para pessoas 
com deficiência. 
 
Fonte: EPTC, 2012. 
Figura 5: Parada de Ônibus na 
Avenida Wenceslau Escobar. 
 
Fonte: Google Maps, 2016. 
 
Figura 6: Parada de Ônibus na 
Avenida Praia de Belas. 
 
Fonte: Google Maps, 2016. 
 
 
 
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Figura 7: Parada de Ônibus Viaduto 
dos Açorianos. 
 
Fonte: Google Maps, 2016. 
 
 
Figura 8: Placa para de ônibus na 
Rua Demétrio Ribeiro. 
 
Fonte: Google Maps, 2016. 
 
3.3 Projeto das modificações 
Com os levantamentos foi possível alterar a parada de ônibus e chegou-se ao 
resultado conforme mostra a figura 9. Parada de ônibus com sinal sono, piso e mapa tátil e 
espaço para cadeirante. Fechamentos verticais e horizontais para proteção contra 
intempéries, ônibus identificado com chip, envia sinal para a parada que reproduz sonora e 
visualmente, através das tecnologias qual é a linha do ônibus está se aproximando. 
 
Figura 8: Projeto parada de ônibus acessível. 
 
Fonte: Elaborado pelo autor, com base na pesquisa realizada. 
 
 
 
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4 Considerações Finais 
Posto isso, a partir dos dados coletados no presente estudo, confirma-se a 
necessidade de mudanças nas paradas de ônibus. Mostra-se que se faz necessário a 
abordagem ergonômica no desenvolvimento dos projetos de espaços e de produtos, 
antevendo sua utilização por um maior número de pessoas. Agregar ergonomia a 
acessibilidade é aprimorar ambas as áreas. 
Que o transporte público oferecer subsídios de acessibilidade, é ineficaz uma vez que 
se seu entorno não está apto para que a acessibilidade seja universal. A mesma só se faz 
possível se a leitura do todo é compreensível. 
 
Referências 
 
Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 9050: 2015. Acessibilidade de pessoas 
portadoras de deficiências a edificação, espaço mobiliário e equipamentos urbanos / 
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de janeiro: ABNT, 2015. 
 
FROTA, Thais. Acessibilidade: O início. Disponível em: 
<http://www.acessibiteca.uff.br/?p=1013> Acesso em 24 ago. 16. 
 
IBGE. Resultados da População. Disponível em: <http://censo2010.ibge.gov.br/> Acesso em 
21 ago.16. 
 
SANTOS, Larissa. Ergonomia e Acessibilidade áreas que se complementam. Disponível 
em: < https://pbsembarreiras.com/2011/10/02/ergonomia-acessibilidade-areas-que-se-
complementam/> Acesso em 24 ago.16. 
 
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. 2 ͣed. São Paulo: Edgard Blücher,2015 
 
Tecnologia ajuda a identificar linhas de ônibus. Disponível em: 
<http://www.portaldeacessibilidade.rs.gov.br/noticias/1168> Acesso em 24 ago. 16. 
 
LOPES, Maria Elisabete. Acessibilidade e Ergonomia. Disponível em: 
<http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-
content/uploads/2009/09/ergonomiadeficienteseef.pdf> Acesso em 23 ago. 16. 
 
PROCEMA. População de Porto Alegre – RS com deficiência. Disponível me: 
<http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/observatorio/usu_doc/versao_finalpopulaca
o_com_deficiencia.pdf> Acesso em 23 ago. 16.

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