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Historia da Indonesia- o comércio intercontinental das especiarias da Indonésia entre os séc xv e xvii e a consequente colonização holandesa a partir do séc xvii até xx

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
O COMÉRCIO INTERCONTINENTAL DE ESPECIARIAS NA INDONÉSIA DURANTE OS SÉC.XV E XVII E A CONSEQUENTE COLONIZAÇÃO HOLANDESA A PARTIR DO SÉC.XVII ATÉ O SÉC.XX
JULIANA ARAUJO DA CUNHA
Matricula n°: 099212490
ORIENTADOR: Prof. Jaques Kerstenetzy
DEZEMBRO 2009
Mapa 1: aspectos geofísicos do arquipélago
Mapa 2: mapa clássico e colônia holandesa
Mapa 3: atual República da Indonésia
Sumário:
A Indonésia ainda permanece um enigma para estudiosos, nunca se enquadrou perfeitamente em rótulos como uma nação islâmica, autoritária, democrática, desenvolvida ou descentralizada. A República da Indonésia é uma criação do século XX, entretanto a história de sua nação é milenar. Através do comércio de especiarias, Indonésia trocou com o mundo muito mais do que mercadorias, mas também idéias, sultões, religião e etc. Peça chave no comércio intercontinental entre Ásia-Europa a partir do século XV, o arquipélago foi fortemente influenciado por forças externas, incluindo a religião mulçumana e a colonização holandesa. Como estas diferentes sociedades – as dinastias do arquipélago, as instituições religiosas e européias - conseguiram interagir para formar um Estado unificado?
Este trabalho apresenta o passado histórico, dados e fatos de maior relevância da atual república da Indonésia. O período de estudo compreende desde a era conhecida como auge comercial, entre os séculos XV ao XVII, onde o comércio intercontinental das especiarias fez com que caravelas de toda Europa, China, Japão e Índia aportassem no arquipélago até a conseqüente colonização Holandesa a partir do final do século XVII até o séc. XX. Como a população da Indonésia independente resolverá as conseqüências desta unidade só o futuro poderá dizer, entretanto é através do passado que podemos entender melhor o presente.
Introdução
Aspectos físicos:
O arquipélago da Indonésia constitui mais de treze mil e seiscentas ilhas que emergem dos oceanos e dividem espaço entre vulcões e fossas abissais marítima. Sua população é de aproximadamente duzentos milhões de habitantes, mulçumanos em sua maioria, mas também católicos, budistas, hindu-balineses e protestantes. Como uma nação tão dispare e historicamente explorada sobreviveu a mais de trezentos anos de descentralização administrativa e mais trezentos anos de colonização para tornar-se uma república? Atualmente visto como país emergente de grande potencial no comércio mundial, mas que ainda precisa desenvolver um caminho próprio, com tecnologia, infra-estrutura e soberania nacional.
O arquipélago da Indonésia esta situado na região chamada círculo de fogo dos oceanos Índico e Pacífico. Suas ilhas são formadas e destruídas por constantes erupções vulcânicas e abalos sísmicos. Os terremotos submarinhos causados pelo atrito entre placas tectônicas geram ondas gigantes capazes de extinguir regiões costeiras. Pequenas variações da maré podem mudar radicalmente a região. Cientistas especulam que há dezoito mil anos o estreito de Sunda – passagem oceânica entre as ilhas de Sumatra e Java – já foi terra. Ou seja, parte do oeste e centro do arquipélago foi conectada com o continente asiático sendo este a mais plausível evidência para o início da migração por terra às ilhas do sudeste asiático. Além da mesma herança genética, os povos da parte norte do arquipélago também compartilham da mesma fauna e flora. Com a divisão da ilha causada pelo afastamento das placas tectônicas, separando as plataformas marítimas de Sunda e Sahul, a biodiversidade mudou radicalmente a partir da ilha de Bali. Esta divisão entre Sunda e Sahul ocasionou a divisão da plataforma continental vulcânica da Ásia e Austrália. O estreito de Sunda é uma das mais profundas fossas abissais marinha. O primeiro cientista a observar tais características ecológicas tão distintas foi Alfred Russel Wallace
. Ao norte do arquipélago encontramos orquídeas, madeira tipo teca, bambus, elefantes, macacos, tigres, rinocerontes e etc. Herança oriunda da Malásia. Ao sul do estreito de Sunda a plataforma continental encarregou-se da diferenciação. Encontramos eucaliptos, cangurus, casuarinas e etc. [ver mapa 1]. A herança genética também é distinta, proveniente dos povos da Oceania, seus vizinhos a leste. (WINCHESTER, 2004: p.64-66).
Recursos Naturais:
A formação rochosa de origem vulcânica, além de contribuir para a constante mudança geográfica local, também influencia na qualidade do solo. A composição química do solo de cada ilha varia de acordo com os sedimentos expelidos pelos vulcões. Em alguns locais o solo pode ser mais fértil e propício para agricultura, enquanto na ilha vizinha não. Em Java a composição química dos sedimentos contribuiu para um solo fértil, a ilha foi conhecida pela eficiente rizicultura e consequentemente para a prosperidade econômica da ilha em comparação as suas vizinhas.
Outra característica natural essencial para guiar o desenvolvimento local foram os ventos, ou melhor, as monções. Ela determinou não apenas o clima quente e úmido, o período de seca e chuva, mas também o padrão direcional e constante em que os ventos sopram guiou embarcações pelas ilhas e também para fora do arquipélago. Quando é verão no arquipélago da Indonésia, as monções sopram vindas do sul e do leste oriundas do deserto central da Austrália, ganha umidade quando passa sobre o Timor e pouco é depositado como chuva nos cumes das montanhas centrais. É um vento seco, na maioria das ilhas o verão, considerado o período de seca, compreende os meses de abril a outubro. Na direção inversa, ou seja, quando os ventos chegam vindos do norte e oeste é chegado o inverno, época das chuvas. Antes de chegar ao arquipélago esse vento úmido, que é formado nas cabeceiras do Himalaia, também corre por um corredor oceânico através dos mares do sul da China e mar de Java. De novembro a março as ilhas recebem grande volume de chuva, o tempo continua quente com maior umidade relativa do ar, o que aumenta a sensação térmica de calor. 
Monções e tráfego marítimo:
Esse padrão constante e sazonal dos ventos fez das monções fator determinante e essencial para a agricultura e comércio. Também contribuiu na migração populacional dos habitantes da Indonésia, levando comunidades para explorar e migrar para habitarem outras ilhas. Outro impacto social trazido ou levado pelas monções ao arquipélago foi o econômico. Estes ventos trouxeram comerciantes às ilhas nos últimos dois mil anos.
Durante o período de seca, quando ventos sopram vindo do sul e leste, favorecem os indonesianos velejarem rumo ao norte até a China, e no verão os ventos contrários os traziam de volta. A monção de verão também permitia o comércio com a Índia, navegando até a baia de Bengala passando entre a península da Malásia e a ilha do Sumatra. Vento oposto devolvia as embarcações à Indonésia. Já os comerciantes chineses navegavam em direção ao sul durante o inverno no hemisfério norte e retornavam para casa soprada pelo vento seco, retornando a China junto com o verão de seu hemisfério. Foram esses mesmos ventos que levaram os ocidentais à rota das especiarias no oriente. Encontraram no meio do caminho a “esquina” que liga a Ásia ao Pacifico, a Indonésia. As monções colocaram o arquipélago em posição estratégica e privilegiada para o comércio ultramarinho.
A costa leste da ilha do Sumatra, as águas do mar do sul da China e de Java formavam localização ideal para construção de portos e estaleiros para o carregamento de mercadorias e serviços para os viajantes da região, como por exemplo, reparos nas embarcações. Não por acaso que a costa norte do Sumatra, passagem do estreito de Malaca
, e a costa norte de Java foram os principais palcos para o inicio do desenvolvimento da nação. Também serviram de cenário para muitas guerras e conquistas territoriais. Estes novos portos estratégicos geraram cobiça entre nações estrangeiras. Através deste intenso tráfego naval, as monções não facilitaram apenas o comércio, mas também viabilizaramo fluxo da filosofia, religião, ciências e princípios políticos. As maiores cidades do arquipélago são litorâneas e importantes portos, ou seja, o encontro das mais diversas culturas e raças. Como as ilhas da Indonésia logo se tornaram ponto de parada nas rotas comerciais dentre o oriente, assistiu a chegada e saída das mais diversas influencias estrangeiras. Essas heranças culturais ou algumas vezes imposições convergiram em conflitos que são visíveis na atualidade. Cicatrizes coloniais, retalhos culturais, recortes religiosos são a causa de tanto sincretismo cultural. O autor Philip D. Curtin em Cross-cultural trade in world history (1984) usa o termo “diáspora comercial” para justificar o processo de migração entre os continentes, e conseqüentemente a dominação da Indonésia pelos europeus a partir do séc. XVI, que estavam dispostos a percorrerem longas distancias marítimas pelo monopólio das especiarias. O trabalho de cunho histórico apresenta os momentos e fatos mais relevantes da história da atual república da Indonésia e assim traz uma luz na tentativa de esclarecimento dos atuais conflitos.
O primeiro capítulo deste trabalho tratará do período pré-colonia. A expansão comercial das diversas nações asiáticas pelo sudeste do oceano Índico e o papel do arquipélago na produção, armazenamento e comercialização de especiarias com o restante da região, incluindo China e Índia. Devido a sua localização e ao êxito comercial, o período entre século I e XV compreende o intenso comércio entre povos Asiáticos, como China, Índia, Indonésia, Japão e etc. No início do séc. XVI, com a chegada dos primeiros europeus no arquipélago, o volume comercial atingiu seu ápice. A partir deste século o arquipélago também sofreu intervenções militares dos europeus, principalmente dos portugueses e espanhóis. O período entre os séculos XV até início do século XVII compreende a era de ouro do arquipélago, ou ainda, a era do comércio, como é tratada na bibliografia sobre o assunto. As primeiras civilizações da Indonésia, que haviam se formado desde o séc. V atingiram seu ápice durante o séc. XV, contribuindo para a formação da identidade cultural de uma futura nação. Cada uma com seu período de auge e declínio. As regiões eram divididas por etnias, controlados por Reis ou Sultões. A demarcação exata da extensão geográfica de um reinado não era precisa, entretanto o fato que melhor esclarecia e identificava tal questão, além dos traços físicos, eram costumes e cerimônias distinguindo os Javaneses, dos Madjapahit, Srivijayans, Balineses, Malaios e etc.
O segundo capítulo aborda: o processo político, militar e econômico pelo qual a Indonésia passou após o intenso fluxo comercial europeu a partir do séc. XVI. A corrida pelo monopólio das especiarias entre nações européias, e as condições a que submeteram e subjugaram os povos do arquipélago. A conquista através de poder militar dos portos para impor seus contratos comerciais, a dispersão do comercio como tentativa de fuga do controle monopolístico dos europeus. A chegada dos Holandeses e o inicio de sua articulação política e militar para o domínio das regiões e a criação da companhia das índias holandesas (V.O. C). A derrota das últimas grandes dinastias da Indonésia, subjugando o povo Majapahit (conhecidos como o povo aristocrático do arquipélago) e de Mataram (primeira dinastia islâmica) colocando seu território à mercê dos Holandeses, para doravante a conquista de todo arquipélago.
O terceiro capítulo tratará da colonização. As leis e a economia local imposta pelos holandeses. O empobrecimento local e os privilégios dado aos estrangeiros e imigrantes, atitude que se reflete até hoje na estratificada esfera da sociedade Indonésia. Os principais fatos e acontecimentos de quase trezentos anos de dominação, as revoltas e guerras surgidas na colônia em reação à dominação holandesa. A era moderna e a era liberal na Holanda e como elas repercutiram na colônia. As leis coloniais, o sistema de cultivo, a “política ética” na colônia e a reforma agrária. Por fim, o domínio militar da região pela Holanda e a demarcação das fronteiras da Indonésia em virtude da expansão do Império Holandês nas Índias.
O quarto capítulo relata o processo político local para a conquista da independência. Após as tentativas frustradas dos primeiros movimentos nacionalistas, a política de aproximação com o governo holandês das Índias. O cenário político internacional durante a segunda guerra mundial, e as oportunidades diplomáticas e a aproximação com o governo japonês que foram essenciais para a construção da identidade da nação e culminaram por fina na independência. A criação da Constituição da República da Indonésia. Algumas características dessas leis são motivo de conflitos partidários e políticos atuais, colocando em risco o estado democrático e universalista do país.
Capitulo I
Período pré-colônia: a era do comércio e das religiões
O período do séc. I até meados do séc. XV compreende a era de ouro da Indonésia. Época onde dinastias e províncias atingiram sua melhor capacidade organizacional. A organização geográfica, utilização de recursos naturais, política, ciência, literatura e arquitetura eram alguns exemplos deste desenvolvimento social e o início da formação de identidade dos povos do arquipélago.
Geograficamente, os dois mais importantes lóci de poder eram o estreito de Malaca, a oeste do arquipélago, e a ilha de Java no centro. O comércio interno movia-se entre dois principais portos. Na cidade de Aceh 
 no extremo norte da ilha do Sumatra (porto de entrada do estreito de Malaca) e na cidade de Batan 
 em Java. As trocas de mercadorias não ligavam apenas essas duas cidades e outras ilhotas, mas conectavam o arquipélago com o comércio internacional, mediados pela China, Japão e pelo subcontinente Indiano. Esses caminhos e rotas não serviam apenas para o escambo de alimentos e manufaturas, também navegavam por ali idéias e pessoas. 
As forças centrais que influenciaram e contribuíram para este inicio de desenvolvimento da nação neste período foram comércio e religião guiados através da utilização e observação dos recursos naturais.
A vocação comercial e o início da era de ouro da Indonésia:
O historiador Susan Abeyasekere em seu livro Jakarta: a history (1989) utiliza o termo “cotovelo do mundo” ao se referir a posição geográfica do arquipélago. Entre os oceanos Atlântico e Índico – até o séc. XVI navegadores europeus ainda estavam descobrindo e colonizando as ilhas e arquipélagos do oceano Pacífico – sua localização era estratégica e parada obrigatória para as tão valiosas especiarias das índias, que seguiam dali para todo o resto do sudeste asiático e China.
Comerciantes chineses e árabes carregavam mercadorias de Canton até a Mesopotâmia desde 360 a.C. passando por terra pelo istmo de Kra – entre a Malásia e Tailândia – e mais tarde pelos mares da Indonésia através do estreito de Malaca. Durante o percurso, a caravana poderia ser recarregada com produtos do sudeste asiático, como: Indonésia, Malásia, e Camboja, por exemplo. Entretanto as manufaturas, tecidos e especiarias do subcontinente indiano eram as mais comercializadas, assim como a influência da cultura indiana foi a mais assimilada na região. O modelo burocrático político indiano, o hinduísmo, a arte e arquitetura se espalharam – até a chegada do islamismo na região – pela península da Malásia, Sumatra, Java e outras ilhas do arquipélago (CURTIN, 1984, p.101-103).
Com a deslanchada da cultura e religião mulçumana pelos mares do oceano Índico a partir do ano 750 a.C. o islã tornou-se a civilização central do mundo antigo. Além de ser dinâmica no comércio, era a principal agência de contato entre as mais diversas culturas do período. Através do comércio a religião mulçumana levou inovação, cultura e etc., sempre guiada por comerciantes e não conquistadores. A religião era a mais popular entre os comerciantes como também foi criada por um. O próprio profeta Mohamed e fundador da crença era comerciante (ibid, 1984, p. 106-108).O fato ocorrido durante a antiga história da Indonésia que ajudou a impulsionar a vocação comercial do arquipélago também foi favorecido indiretamente pelos mulçumanos. No ano de 878 a.C. o governador da dinastia Tang da China proibiu o comércio direto entre mulçumanos e chineses devido a ataques e assassinatos no porto de Canton. Assim, os comerciantes do oceano Índico – e árabes em sua maioria - precisavam vender sua carga em outros portos, para então as mercadorias seguirem dali para o norte da China e em troca receberem as tão valiosas manufaturas chinesas. Os portos que melhor se posicionavam para facilitar a navegação até o sul do mar da China estavam localizados no lado leste da ilha de Java e na ilha de Borneo. A partir daí os portos do sudeste asiático, e principalmente da Indonésia, ganhariam mais importância. No início a Indonésia e seus entre - portos serviram como atravessadores, para mais tarde se tornarem exportadores (BROWN, 2003, p.11-17). Entretanto, evidências de países estrangeiros, principalmente da China, sugerem que até o ano 500 a.C. alguns portos ao norte da ilha de Java eram parada de rotina no comércio marítimo entre sudeste asiático, sul da China e a costa leste do continente Indiano. Os portos javaneses vendiam arroz em troca de especiarias e sândalo indiano. A principal conexão destes primeiros comerciantes e navegadores do oeste asiático e da Índia com o sudeste asiático e China era o estreito de Malaca. Localizado no extremo norte da ilha do Sumatra, uma passagem oceânica protegida ao norte pela península da Malásia. Muitos povos do oriente já conheciam esta passagem, todavia sabiam também sobre os perigos decorrentes de ataques piratas. Em 414 d.C. o monge budista chinês Fa Hsien utilizou o estreito em seu regresso a China, depois de passar alguns anos na Índia estudando e coletando textos budistas (ibid., p.14).
O estreito de Malaca:
Esta passagem impulsionou o desenvolvimento da costa e extremo norte da ilha do Sumatra e também o extremo sul da península da Malásia (onde atualmente é a cidade de Cingapura). Estas pequenas cidades-portos prestavam serviço aos barcos que navegavam pela rota, oferecendo pequenos reparos, mantimentos, água etc. Muitos produtos que trafegavam nesta rota haviam viajado pelo continente, por terra, importados por chineses vindos do oeste da Ásia, manufaturas chamadas genericamente de produtos persa. Havia por exemplo: defumadores, perfumes, armas, seda e resina. Documentos chineses constataram mais tarde que a partir do séc. XVII estes produtos originalmente persas foram sendo substituídos por similares indonesianos.
A partir do séc. V os portos indonesianos experimentaram pela primeira vez um grande desenvolvimento em seu comércio externo. Impulsionados não apenas pelo aumento do comércio com a China, mas também pelo acréscimo da demanda Árabe por seus produtos. Principalmente especiarias, como: cravos, noz-moscada e pimenta. Ao mesmo tempo os povos do arquipélago aumentavam sua demanda por tecidos e roupas de algodão da Índia. O período também contribuiu para que os povos das ilhas da Indonésia desenvolvessem habilidades na construção naval. Seus barcos chegavam a transportar até setecentas pessoas com capacidade para até seis toneladas de carregamento. Seu tamanho era dezenas de vezes menor do que os navios europeus, ou caravelas.
É durante a chamada época de ouro que o arquipélago vai aos poucos deixando de ser apenas um atravessador de mercadorias árabes e indianas com destino a China, e vice-versa, para se tornar uma sociedade organizada e prospera. Povos agrupavam-se em regiões e cidades cercadas, de acordo com afinidades comerciais. Cidades importantes surgem em Java, com excelente potencial para agricultura, devido a abundância de terra e água para o plantio. A produção de arroz na ilha de Java era suficiente para alimentar a população inteira e logo se tornou mercadoria para exportação. 
Quando os portos indonesianos experimentaram seu primeiro “boom” internacional, incrementado pela demanda chinesa e árabe, os produtos que as ilhas têm a oferecer começaram a ser comercializado em maior volume, principalmente as especiarias do arquipélago das Molucas
, como: cravos, pimenta e noz-moscada. A partir desta prosperidade comercial, organizam-se centros administrativos de poder, a comunidade seguia ordens de soberanos. Era o nascimento de instituições regionais, como Estado
 descentralizado e independente em relação ao resto do arquipélago. Os primeiros proto-estados surgiram nos locais mais desenvolvidos comercialmente, por volta do séc. IV ou V, eram inicialmente hinduístas, embora fossem bastante ecléticos e sincretistas, dominados pelas seguintes dinastias: Srivijaya (Sumatra), Ho-ling (Java) e mais tarde Majapahit (Java central).
No Sumatra a dinastia Srivijaya:
Do século V até o séc. VII uma sociedade da região destacou-se devido ao modelo organizacional e produtivo. A vocação comercial do povo Srivijaya tornou-os os mais eficientes e prósperos da região 
. Seu domínio estendeu-se por toda ilha do Sumatra até o outro lado da costa, na península da Malásia. A partir do séc. XII a busca por novas rotas comerciais que levassem os navegadores europeus às especiarias do oriente conduziu naus e caravelas através dos oceanos Atlântico e Pacifico até o oceano Indico. O aumento do tráfego marítimo na região contribuiu para o desenvolvimento comercial do arquipélago e todo sudeste asiático. A passagem do estreito de Malaca era povoado pela dinastia Srivijaya, em seus portos também fixaram residência europeus, árabes e povos da Ásia meridional contribuindo para um crescimento instantâneo da região litorânea e costa norte da ilha do Sumatra.
O comércio através do sudeste asiático era livre. Do séc. VII até o séc. XII a dinastia Srivijaya tentou, com algum sucesso, controlar o comércio do estreito de Malaca cobrando taxa – menor do que as praticadas em Canton – e fornecendo alguns presentes aos comerciantes e facilidades portuárias, como estaleiros e armazéns. O povo Srivijaya chegou a prosperar devido ao fluxo comercial da região, em seu auge controlava o comércio na região que se estendia da capital Palembang no leste de Sumatra, a alguns portos a oeste da península da Malásia. Além do estreito de Malaca também chegou a exercer algum controle no estreito de Sunda [ver mapa 2]. Seu poder sucumbiu no séc. XII, perdeu poder para os Madjapahit. Com os centros fragmentados e descentralizados na ilha de Java e Sumatra, o comércio e comerciantes poderiam mover-se livremente, as vezes até encorajados por algum governador local que lucraria com a sua presença (CURTIN, 1984, p.124). Assim, portos de abastecimento eram constituídos pelos próprios navegadores e comerciantes atravessadores, que organizavam e forneciam produtos oriundos de outras ilhas do arquipélago, praticamente como um centro de distribuição. Produtos oriundos de diversas localidades concentravam-se nos portos das cidades do Sumatra e Java, onde a partir dali embarcavam para o resto do mundo. Além das especiarias havia manufaturas, como estatuas em madeira esculpida na ilha de Bali, tecidos de algodão Indiano, seda chinesa e incensos persa. Desta forma, o comércio internacional no estreito de Malaca também favoreceu uma teia de contatos comerciais entre as “ilhas secundárias” do arquipélago permitindo o desenvolvimento local de alguma atividade produtiva.
Devido a vasta quantidade de terra e ilhotas era fundamental que o soberano Srivijayans fosse flexível e complacente com seus súditos e não abusasse no preço dos impostos. Era preciso garantir mão de obra para o trabalho no campo e no comércio, caso contrário, povoados inteiros descontentes debandavam para terras inabitáveis, longe das vistas de algum funcionário do palácio, tornando-se quase nômades. Sob este ponto de vista os soberanos que governaram Srivijaya foram bem sucedidos. Conseguiram manter seu domínio sobre o povo por mais de trezentos anos assim como no sucesso comercial, onde também cobravam taxas dos quepor ali trafegavam. A receita arrecadada através do tráfego comercial tornou-se fonte financeira para o desenvolvimento de outras atividades como agricultura e construção de barcos.
As principais cidades portuárias do estado Srivijaya atraíram muitos estrangeiros e comerciantes acabavam fixando moradia permanente. Eram chineses, japoneses, imigrantes do sul da Ásia central e ocidental e do sul da Índia. O fluxo de migração não era apenas devido ao comércio, mas também por causa da reputação do povo local na construção de barcos. Até o séc. X, por exemplo, o comércio entre China e Indonésia era através de barcos e tripulação Srivijaya, dentre a tripulação de marinheiros também embarcavam soldados, para proteger as mercadorias de ataques piratas. Mesmo com a inquestionável habilidade chinesa na construção naval, até o citado período esta habilidade concentrava-se apenas na construção e operação de menores embarcações, como balsas, próprias para navegação somente em baias e não em mar aberto. Foi apenas a partir do Séc. XI que comerciantes chineses deixaram de ficar esperando em seus portos a chegada de comerciantes Srivijayans e começaram a desempenhar um papel de maior importância e influencia no comercio ultramarinho em seus próprios navios.
Colin Brown, autor do livro “A short history of Indonesia: the unlikely nation? (2003)” escreveu sobre o período pré-colonial, entre meados do séc. XV ao final do séc. XVII, como a era do comércio na Indonésia. O período experimentou grande prosperidade para as cidades portuárias. Na ilha do Sumatra, ao norte de Java, as principais cidades litorâneas eram cosmopolitas. Dentro dos domínios da vasta área controlada pela dinastia Srivijaya (incluindo a costa oeste da península da Malásia), residiam comerciantes estrangeiros oriundos das diversas partes da Ásia. O contrário também era comum, muitos Srivijayans passavam grandes temporadas no exterior, pelo mesmo motivo comercial, o que contribuía ainda mais para influências culturais externas na formação da identidade da futura nação. A importância comercial e cultural desses centros foi um dos fatores para que a religião budista e a língua falada no estado Srivijaya, uma variante fonética original da Malásia, se espalhassem para outras ilhas do arquipélago.
Assim como na ilha de Java, a população do Sumatra foi inicialmente influenciada pela religião hindu, o Budismo ganhava muitos adeptos, mas a descentralização do conhecimento, ou até mesmo a falta de grandiosos templos onde a população pudesse ouvir a leitura de textos sagrados por sábios monges fez com que com outras religiões despertasse a curiosidade dos povos da ilha. Como aconteceu a partir do séc. XI, a chegada da religião islâmica levada pelos comerciantes árabes conquistou os principais comerciantes da ilha, para dali espalhar-se por todo o arquipélago, fazendo da futura republica da Indonésia o país com o maior numero de mulçumanos do mundo.
Religião:
Primeiramente as comunidades litorâneas foram fortemente influenciadas pelo hinduismo e budismo oriundos da Índia. No séc. VII estas crenças já estavam bem estabelecidas no oeste e na parte central do arquipélago, chegando até a ilha de Bali. A partir do séc. XIV sociedades mulçumanas já eram maioria nas principais cidades das ilhas do arquipélago. Para compreender melhor a expansão e afinidade islâmica pelo arquipélago - a religião hindu permaneceu forte e intacta apenas na ilha de Bali - é necessário relatar a respeito dos estados e dinastias que sucederam o império Srivijaya.
Em Java: Sociedade Hindu e Budista
Foi na ilha central, Java, onde o primeiro governante conhecido da região, Ho-Ling, orientou a sociedade ao Budismo. A religião era conhecida e praticada em regiões do sudeste asiático. Entretanto observam-se peculiaridades da doutrina e na prática Budista de acordo com cada região, uma mistura da religião hindu com histórias e personagens ancestrais típicos de cada local. Do mesmo modo como o Budismo ganhou notoriedade e seguidores na China e Japão, onde o adaptaram para o chamado Zen budismo, a filosofia indiana causou a mesma comoção e sincretismo na Indonésia. As primeiras comunidades que experimentavam estas crenças associavam lendas e folclores locais aos ensinamentos Vedas presentes no Baghavaghitta.
Durante a era de ouro da Indonésia a construção dos grandes templos era a prova de sua força e importância comercial. No noroeste da atual cidade de Yogyakarta em Java foi erguido o maior complexo de templos e sinos Budistas do mundo, Borobudur - hoje patrimônio da humanidade protegido pela UNESCO. As pedras utilizadas em sua construção datam do período entre os séculos VIII e IX. Erguer esses colossais templos de pedra já demonstrava a habilidade deste povo em mineração, arquitetura e escultura. A ilha de Java era próspera o suficiente para concentrar e atrair a migração de mão de obra qualificada e não qualificada, assim como esforços financeiros para construir tamanha estrutura que, embora de grande significância histórica e religiosa, não produziria nenhum ganho econômico em retorno. Todavia quando estudamos o arquipélago Indonésio, com suas mais de treze mil ilhas, devemos ter em mente que a unidade de valores, crenças e religião nem sempre foi possível, como é até os dias atuais. A disputa pelo poder econômico e monopólio comercial foi apenas o estopim para disputa entre os povos das duas principais dinastias.
A partir do séc. XI até o séc. XII com o declínio da dinastia Srivijaya, o poder político em Java passou por uma série de pequenos comerciantes mulçumanos. No mesmo período, comerciantes chineses retornaram aos mares do sudeste asiático fixando-se em cidades portuárias na costa norte de Java. Não apenas pelo mar do sul da China, navios chineses também navegavam pelo oceano Indico até a Índia. Na Indonésia, além de Java, fundaram outros portos no Timor e Sumatra (CURTIN, 1984, p. 124-125).
Durante o século XIII o comércio entre oeste-leste passando pelo arquipélago já era intenso, mas a partir do séc. XV atingiu seu ápice. Foi o boom, inaugurado devido a fama de tão exclusivas especiarias e ao aumento da demanda européia. Este aumento de demanda justificava a tomada de riscos como também o investimento em equipamentos de navegação, construção de navios e instrução e capacitação de novos navegadores. Também era preciso investir em especialista em cartografia, geógrafos, biólogos, enfim, a época experimentou o desenvolvimento de diversas ciências. O arquipélago das Molucas era muito cobiçado por europeus e chineses, seus principais mercados. Entre 1403-1433 a China enviou sete navios em uma expedição comercial comandada pelo grande Zheng Ho, em busca das especiarias e principalmente da pimenta preta. Continuariam navegando e lucrando com o comércio até o ano 1433, quando a dinastia Ming proibiu comerciantes chineses de engajarem-se no comércio internacional. 
Em “Story os Indonésia (1959)”, o autor Louis Fischer relatou um trecho do navegador Marco Pólo durante sua visita ao Sumatra e Java em 1290. Em seu diário o navegador escreveu que alguns marinheiros diziam Java ser a maior ilha do mundo – maior que Inglaterra – seus habitantes eram pagãos, e a ilha era surpreendentemente próspera. Produzia pimenta preta, cravo, canela, noz-moscada e outros tipos de especiarias. Os tesouros da ilha eram tantos que deveriam gerar cobiça ao imperador chinês Khan, pois ele nunca poderia possuí-la devido a sua distancia e aos custos de uma expedição ali. Entretanto, seu relato em relação às especiarias estava errado. Java não produzia e sim as vendia. Java já havia se tornado um grande porto de encontro para todos os comerciantes da região. A partir dos portos de Java e do norte do Sumatra as especiarias e manufaturas eram distribuídas para todo o globo.
Islamismo: da origem comercial ao país com maior número de mulçumanos do mundo
Da mesma forma que o budismo, catolicismo, hinduísmo e protestantismo foram recebidos e absorvidos pela população, a religião dos mulçumanos também chegouatravés do comércio. Até o séc. XIV a maioria dos estados e províncias indonesianas era majoritariamente budista. Não existe um consenso na literatura a respeito do período exato que a religião islâmica ganhou notoriedade no arquipélago, todavia, descrição do diário de Marco Pólo, que visitou a ilha em 1292, relata a existência da província de Perlak no nordeste da ilha do Sumatra ser de maioria mulçumana. 
Para compreender melhor tamanha penetração dos costumes e religião islâmica em comunidades costeiras, ou melhor, em portos comerciais, talvez seja interessante relembrar um pouco sobre a história do criador da religião mulçumana, o profeta Mohamed e sua descendência do clã de comerciantes nômades que viviam em caravanas pelo deserto, os Quraishi.
O legado do profeta Mohamed e a invasão islâmica no arquipélago:
Além das questões sobre a doutrina teológica, Mohamed pregava idéias práticas para a sociedade da época. Dentre elas: riqueza e poder devem atender aos pobres; homem não deve casar-se com mais de quatro mulheres ao mesmo tempo e deve tratá-las com igualdade e respeito; mulheres têm direito a herdar propriedade; ninguém deve emprestar dinheiro para receber lucros futuros, ou seja, Mohamed instituiu regras para auxiliar a atividade econômica cotidiana de sua cidade.
Questões tão práticas e atuais que foram muitas vezes instituídas como leis constitucionais - como aconteceu em 1979 na revolução do Irão, quando o Estado institucionalizou a lei Islâmica do Alcorão como única e irrevogável lei do País. Atualmente o islamismo é uma religião multicultural e penetra em diversos estratos sociais, dos mais ricos aos mais pobres. Como então o islamismo permaneceu unificado por mais de quatorze séculos? Seguidores da religião acreditam nas leis islâmicas como fundamentos para a vida, ser mulçumano significa ter um estilo de vida voltado para as práticas divinas, entender o islã significa obedecer e compreender as leis do Alcorão. As leis guiam o cotidiano de um povo, a violação delas não constitui apenas um crime, mas também um pecado.
Por volta dos séculos XII e XIV a maioria dos comerciantes que chegavam as ilhas da Indonésia, além dos chineses, eram mulçumanos provenientes do sul do continente asiático e oriente médio. Para muitos indonesianos daquela época a conversão ao islamismo era uma justificativa para terem algo em comum com esses estrangeiros, pois preferiam comercializar sempre com irmãos mulçumanos. Esta prática não era mal vista. A conversão ao islã, além de trazer benefícios econômicos e alentos espirituais, parecia ser uma escolha de religião coerente e preocupada com questões sociais. O islamismo trazia um código de conduta e respostas para um mundo em constante mudança. Demonstrava como homens e mulheres deviam se comportar, como deviam fazer negócios, pagar impostos, garantindo direitos e deveres para a sociedade. Para locais sem nenhuma religião específica, o islamismo era uma resposta coerente para a vida cotidiana e lenta do arquipélago. Seguir e preencher o dia a dia de acordo com os ensinamentos e conduta de Mohamed passou a ser uma maneira para explicar a fé islâmica. O islamismo também significou ter acesso aos grandes líderes mulçumanos da época, especialmente os líderes do Império Otomano. Além das mercadorias, o contato com os mulçumanos árabes também fornecia armamentos e ensinamentos militares aos Indonesianos.
Os primeiros missionários do Islã que chegaram ao extremo oriente através do estreito de Malaca, atingindo o ponto mais oriental em Talaxongai na ilha de Mindanao, Filipinas; associavam crenças locais aos ensinamentos do profeta Mohamed (
BROWN, 2003, p.31). O Islamismo era mais notado em pessoas ativas e entusiastas, viajantes aventureiros, navegadores e mercadores que não carregavam argumentos teológicos, mas sim habilidade de vocalização e convencimento, além de compromissos e responsabilidades com seus produtos e fornecedores. Assim saber conciliar os ensinamentos do islamismo com as crenças locais garantiria seu sucesso comercial.
A expansão mais significativa do islamismo na Indonésia ocorreu através do estreito de Malaca em meados do séc. XIV. A princípio iniciado no porto de Aceh e na península da Malásia, meio século depois a expansão já era visível em Java, Malásia e Filipinas. A partir do Sumatra, o islã seguiu as rotas do comércio, chegando a Ternate, a 2.000 km a leste das Molucas (1460), em Java central, Demak (1480), Batan (Baten) ou Batavia- atual Jacarta- (1525), em Sulawesi nas cidades de Buton (1580) e Makassar (1605). Até a primeira década do séc. XVII o islamismo já tinha sido apresentado para as principais cidades costeiras do arquipélago (ibid, p.32). Agora os costumes e leis islâmicas eram parte do cotidiano das sociedades. Por outro lado, nas ilhas onde as caravelas portuguesas haviam travado batalhas com Espanha e construído fortes, no Timor Leste, Flores (ilha a leste de Sumbawa e Komodo), Ambon e outras ilhas das Molucas a catequização e missões católicas foram intensas. No Timor leste, por exemplo, estabeleceram-se escolas da doutrina Franciscana. A construção de igrejas nas comunidades invadidas por portuguesas era tão importante quanto a construção de fortes militares. Até os dias atuais, a partir da ilha de Flores até Irian Jaya (parte leste da ilha da Guiné) a população católica é facilmente visível e maioria religiosa nas ilhas (ibid, p.33-34).
Este “boom” comercial trouxe alguma prosperidade para o povo local e algumas mudanças na sociedade. Entretanto este fenômeno também estreitou a relação social entre outras duas forças: Europa e Islamismo. A presença destas duas novas forças contribuiu para mudanças no direcionamento de uma identidade cultural. A chegada constante de europeus nas ilhas das especiarias gerava curiosidade e mudanças de comportamento não apenas nos locais, mas também nos próprios visitantes europeus. Eles não esperavam encontrar uma “população selvagem”, como Colombo encontrou nas Américas (FISCHER, 1959, p.9). O povo local das Índias do leste já possuía conhecimentos agrícolas. Construíam canais para irrigação, eram evoluídos nas artes, na literatura, dança, vestuário, arquitetura e na construção naval. Haviam governos estabelecidos, com alguma ordem social. Haviam enormes templos de pedras e suas cidades eram planejadas. Como então sociedades tão organizadas foram subjugadas ao poder dos brancos europeus?
Capitulo II:
Europa no arquipélago e o declínio da era de ouro para Indonésia:
O era do comércio no arquipélago (1400-1700) é marcada pela presença dos europeus, os portugueses foram os primeiros chegar, seguidos pelos espanhóis. A característica dominante do período é a presença maciça de companhias internacionais de comércio na região. Caravelas representando interesses públicos e privados, o sudeste asiático era o principal destino da época e também o mais lucrativo. Após Vasco da Gama ter descoberto nova rota para o oriente atravessando o Atlântico e contornando o Cabo da Boa Esperança na África do Sul em 1498, outros compatriotas seguiram o explorador. Em 1511 o comandante português Afonso D’Albuquerque junto com Fernão de Magalhães navegaram até o oceano Índico, atacaram e tomaram alguns portos do estreito de Malaca na costa da Malásia. Após o episódio militar Fernão de Magalhães continuou navegando para o sul, passando pelas ilhas das especiarias e assim mapeando o arquipélago. No ano seguinte, em 1512, caravelas portuguesas ancoraram na ilha Ambon, foram os primeiros europeus a chegarem na ilha de Banda localizada ao norte do Timor, no pequeno arquipélago das Molucas
, onde carregaram seus navios com preciosas especiarias, como noz-moscada, canela e cravos (FISCHER, 1959, p.3-15).
Mapa 4: Arquipélago das Molucas
Desde o séc. XV o poder político na Europa estava mudando de local: do oeste e da península italiana em direção a costa do Atlântico para Portugal e Espanha. Os mercadores e políticos destas novas potencias não estavam satisfeitos ao constatarem que o fornecimento de suas especiariasera estabelecido por uma grande cadeia de intermediários mulçumanos, uma desculpa religiosa para justificar o comércio coercitivo e militar no oriente.
Em 1494 Espanha e Portugal, ambas católicas, firmaram o tratado de Tordesilhas, este dividia o mundo em duas zonas de influencias. Este tratado definia um meridiano no oceano Atlântico, concedendo parte ocidental a Espanha e a oriental a Portugal. Em 1520 novos conflitos surgiram entre os países, pois ambos os reinos reclamavam para si as Molucas. Em 1529 foi assinado o tratado de Saragoça entre D. João III de Portugal e o imperador Carlos V da Espanha. O tratado delimitava influencia portuguesa e espanhola na Ásia para solucionar a chamada questão das Molucas. A questão foi amenizada somente em 1526 quando Carlos V se casou com Isabel de Portugal, reforçando laços entre as coroas e facilitando acordo sobre as Molucas. Além disto, os espanhóis ainda não sabiam como transportar as especiarias das Molucas para a Europa. A rota Manila-Acapulco seria descoberta por Andrés de Urdaneta somente no ano de 1565.
Em sua volta a Portugal Fernão briga com a coroa e seu projeto de circunavegação do globo acabou sendo patrocinado por espanhóis. Fernão renuncia sua nacionalidade lusa. Em 1519 sai de Sevilha, atravessando o sul do Atlântico até a América do Sul, após uma parada no Rio de Janeiro continuou contornando a costa até Argentina e descobre uma passagem para o oceano Pacifico conhecido mais tarde como estreito de Magalhães. Fernão chega as Filipinas e morre em uma emboscada feita por nativos. A partir de Cebu seus seguidores, comandados agora pelo navegador João Lopes Carvalho e Juan Sebastian Elcano, seguiram para o sul e chegaram as valiosas Molucas. Ali carregaram muitas especiarias. Doravante rumaram de volta a Europa passando ao sul do arquipélago da Indonésia, evitando o estreito de Malaca e assim o encontro com navios portugueses. Devido as baixas na tripulação, voltou para Europa apenas uma caravela e dezoito sobreviventes. O navio Victoria foi a primeira embarcação a completar a primeira circunavegarão no globo após três anos em alto mar.
Após a chegada de Victória na Europa e a divulgação das Molucas e ilhas das especiarias a reputação da Indonésia gerou cobiça por todo continente. Era época onde saúde, alimentação, digestão e a conservação de alimentos dependiam exclusivamente de especiarias, elas não serviam apenas para temperar pratos cozidos ou crus, também eram prescritas para o físico como, por exemplo: para tratar doenças de circulação, de estomago, intestinos, dores de cabeça, dores no peito e até dor de dente. Além de serem produtos caros e lucrativos na Europa. Espanha e Portugal competiam pelo monopólio do comércio e rota das especiarias quando no ano de 1529 chegam a um acordo com a seguinte divisão territorial: as Molucas ficaram com Portugal e Filipinas com Espanha. 
As pequenas ilhas das Molucas produziam o que a Ásia, Europa e África tinham a oferecer. Além das clássicas especiarias, nas ilhas também se obtinham plumas exóticas de pássaros do paraíso, pérolas de água doce e salgada e fragrância de sândalo para produção de incensos (REIDY, 1988, p.44).
Os primeiros europeus na Indonésia durante a era do comércio reportaram encontrar cidades com padrão Europeu. Aparentemente cidades como Aceh, Baten (Batan), Demak, Surubaya, e Makassar possuíam mais de cinqüenta mil habitantes entre os séc. XVI e XVII, população equivalente as cidades européias da época. Outra impressão dos Portugueses foi em relação ao tamanho dos barcos a vela construído pelos Javaneses que eram usados para o transporte em escala de arroz. A necessidade de grandes embarcações justificava o retorno econômico, também era usada para transporte de soldados nas expedições militares, a palavra junk do inglês originou-se do malásio jong, designada para este tipo de embarcação. Durante o séc. XVI, período em que os Reis e cidades indonésias observaram a chegada maciça de comerciantes europeus, os governantes locais não enxergaram as conseqüências e o perigo nos brancos e por isso não viam necessidade para abandonar ou modificar sua política descentralizada e unificar forças com reinos vizinhos inimigos a fim de expulsar os invasores. Atitude que se mostrou mais tarde ter sido um erro fatal. Após a chegada dos portugueses vieram os ingleses, espanhóis e finalmente os holandeses. O motivo e interesse da Holanda nas ilhas eram os mesmos dos portugueses, todavia é preciso destacar aqui a crescente rivalidade entre essas potências da Europa. Todas queriam assegurar para si exclusividade comercial e expulsar nações concorrentes.
Antes de ser conquistada pelos portugueses, Malaca era exemplo de porto comercial “transcultural”. Tome Pires, navegador que visitou a passagem e seus portos no início do séc. XVI, fez um relato aproximado das quantidades e valores que trafegavam por ali alguns anos antes dos portugueses. Um terço dos navios na região eram de propriedade do governo local e de alguns agentes privados que viviam nas cidades dali, a maioria dos produtos era de baixo valor, tendo assim grande quantidade transportada. Malaca importava muito alimento e quase todo o consumo têxtil local. Grande parte do fluxo comercial era originário da Ásia: dez por cento vinha da China ou Japão, dez por cento da costa da Índia e Bengala, quatro por cento do oeste da Índia, doze por cento eram oriundos das diversas ilhas do sudeste asiático e do Sumatra, o restante era trafego local entre Malásia e Sumatra. Apenas uma pequena quantidade dos navios que percorriam a viagem total, ou seja, até o fim da cadeia onde o destino final era a Europa, trafegavam por ali. Esses poucos barcos carregavam menor quantidade de mercadoria, mas transportavam, sobretudo, as especiarias e por isso eram as cargas mais valiosas. A parte dessas especiarias destinadas ao mercado mediterrâneo também não eram de grande volume. Na realidade o maior consumidor das especiarias que trafegavam pelo estreito de Malaca na época era o próprio mercado asiático. Os mercados da China, Índia e Oriente médio consumiam, em grande parte, a própria produção de noz-moscada e cravos, entretanto a pimenta era a mais comercializada, oriunda das Molucas, Índia e Sumatra. Na Indonésia a principal fonte de noz-moscada era a ilha de Banda. Cravos vinham das diversas ilhas das Molucas e a produção dessas especiarias parece ter sido maior durante o século XV comparado com o volume que foi comercializado pelos portugueses após sua conquista. Se as estimativas de Pires são corretas, apenas a ilha do Sumatra exportou mais pimenta durante o séc. XV do que quando controlada pelos europeus no séc.XVIII (CURTIN, 1984, p.131-132).
Apesar do conhecimento em alto mar dos portugueses, poucos navios faziam o trajeto “completo” do oriente até a Europa. No período de 1500 a 1634 apenas quatrocentos e setenta navios retornaram do leste até Europa, uma média de quatro navios por ano. Aproximadamente um terço desses navios que chegavam ao oriente permaneciam no local, pois o retorno a Europa era muito perigoso. Estes navios eram ainda utilizados para o comércio intra-asiatico, carregando mercadorias de um porto a outro, misturando a tripulação portuguesa à asiática (ibdin, p.143). Após a conquista do estreito de Malaca os portugueses acreditaram ter conquistado o monopólio comercial da região, entretanto perceberam que os portos de Malaca eram simplesmente partes da logística de concentração e distribuição, mas não local da produção. Muitos comerciantes que usavam os portos de Malaca para trocas comerciais e armazenamento de produtos começaram a se dispersar, escapando o controle coercitivo português.
 
Devido aos altos lucros, as ilhas das especiarias logo seriam palco de inúmeras disputas entre monarquias. A efetiva presença européia no comercio marítimo da Ásia ocorreu a partir de 1525, até então o comércio entre os povos era pacífico. Com a chegada dos Portugueses e seus canhões o cenário se modifica. Outra característica marcante com a chegadados brancos foi a falta do senso de justiça e cooperação comercial. A princípio, Portugal e Espanha não estavam interessados na colonização, seus esforços financeiros e militares já estavam comprometidos com as colônias das Américas, esses estavam interessados apenas nos lucros oriundo com o comércio das especiarias. Apesar de todos os esforços durante todo o século XVI, os portugueses e espanhóis não tiveram sucesso na conquista do monopólio comercial de pimenta e especiarias entre Ásia e Europa. O grande sucesso português no local aconteceu na primeira década do séc. XVI quando conquistaram a ilha de Ternate, nas Molucas, apesar da conquista militar e a construção de forte na ilha de Ambon, os portugueses não conseguiram eliminar a competição dos comerciantes chineses, malaios, javaneses, makarenses e uma grande variedade de pequenos comerciantes vindos de todas as ilhas do sudeste asiático, ou seja, Portugal falhou na tentativa de frear os comerciantes que compravam especiarias nas Molucas para revendê-las em Malaca. O volume dessas especiarias que chegavam a Europa ainda era pequeno em relação ao que era comercializado no arquipélago, entretanto era um volume significativo quando comparado com as especiarias que chegavam a Europa através das caravanas do oriente. Por volta de 1560’s Portugal foi o responsável pela importação de metade de toda especiaria que entrou na Europa. Durante as décadas seguintes, até 1580’s, Portugal importou três quartos de toda a pimenta comercializada na Europa (ibdin, p.144).
O efeito deste estupendo aumento da demanda pelos produtos das ilhas fez crescer a competição entre os atravessadores e pequenos comerciantes do arquipélago. Os lucros eram maiores quando conseguiam os produtos direto com os produtores. Ser o produtor e fornecedor direto também encorajou o desenvolvimento de diversos portos em “ilhas secundárias” do arquipélago, pois para garantir a comercialização destes produtos também era necessário garantir bons portos para seu escoamento. Locais onde houvesse intenso tráfego marítimo e menos competição. Além do estreito de Malaca e do arquipélago das Molucas, outras ilhas começaram a ganhar importância dentro do comércio local, principalmente depois da rota descoberta por Fernão de Magalhães através do Pacifico e devido as imposições comerciais restritivas imposta por portugueses e espanhóis.
Dispersão comercial e novas potências locais: Batan (Baten), Makassar e a dinastia Majapahit:
Como já sublinhado anteriormente, no Sumatra era produzido e comercializado grande quantidade de pimenta
. O porto de Aceh, no extremo norte da ilha tornou-se uma potencia local, em 1570 seu poder se estendeu, e seu auge comercial e econômico ocorreu entre 1607-1638, durante o reinado do Sultão Iskander Muda, quando os esforços militares portugueses estavam concentrados nas Molucas. A presença dos portugueses teve grande impacto na dispersão do comércio pelo arquipélago.
Batan (Baten) na ilha de Java havia se tornado o porto comercial de pimenta mais importante da região central do arquipélago no final do séc. XVII. Além da concentração de mercadores e intermediários, ali havia grandes armazéns para estocagem de produtos trazidos de toda parte do arquipélago. No leste do arquipélago, no início do séc. XVII, na ilha de Sulawesi o porto de Makassar era o mais importante e ainda um porto livre. O local se beneficiou da conquista das Molucas pelos portugueses. Muitos comerciantes indonesianos e de outras partes do mundo fugiram para Makassar, pois não simpatizavam com o comércio dos portugueses, em particular malaios, javaneses e mulçumanos. Os holandeses e ingleses também usavam as facilidades de Makassar, apesar de serem rivais no comércio e na política, a passagem comercial por Makassar era muito importante para ser ignorada e apesar das desavenças ambas as potências possuíam Portugal como inimigo comum. Os principais produtos negociados em Makassar eram as especiarias das ilhas Molucas e escravos. Escravos da própria ilha de Sulawesi ou vindos de pequenas ilhas das imediações. Outro artigo comercializado em Makassar e também proveniente de outras regiões era pimenta da cidade de Banjarmasin da ilha de Kalimantan e de Jambi do Sumatra [as cidades podem ser localizadas no mapa 3], algodão da Índia, ouro e prata de Manila (Filipinas) , açúcar e ouro da China. A própria cidade de Makassar exportava arroz (até o inicio do Séc. XVII) e roupas - o tipo de tecelagem chamado batik
. Até o ano de 1637, com a morte de Matoaya o último grande imperador da região, o governo de Makassar atingiu sua grandeza e estendeu-se à ilha de Lombok e até oeste das ilhas Kei [ver mapa 1].
Uma importante característica dos portos mulçumanos na Indonésia, como Makassar, por exemplo, era sua natureza cosmopolita. Já no inicio do séc. XVI quase todos possuíam numerosa comunidade originárias do subcontinente indiano e persas do oriente médio, esta mistura étnica e cultural teve grande importância no comportamento para outros mulçumanos que chegaram mais tarde vindos de toda Ásia, pois para se adaptar tornaram-se mais flexíveis. É importante notar que já no inicio do séc. XVI haviam grandes comunidades de imigrantes e descendentes chineses residindo nos principais portos. O que levou esses primeiros imigrantes chineses a se fixarem no estrangeiro, principalmente no sudeste asiático durante os séc. XV e XVI, foi a proibição a viajem ao exterior imposta pelo governo chinês em 1433. Logo, os que conseguiam escapar, comerciantes em sua maioria, não tinham muitas opções a não ser se adaptarem ao costume local. A ilha de Java foi o local que abrigou grande parte desta comunidade.
Dinastia Majapahit:
A dinastia Majapahit, localizada na ilha de Java, era a mais prospera na parte central do arquipélago. Apesar de alguns povoados serem mulçumanos, os governantes não. A tolerância religiosa era essencial principalmente para manter a prosperidade comercial nos portos. A dinastia Majapahit tinha também outras singularidades quando comparada, por exemplo, com a dinastia Srivijayans do norte. Sua economia era diversificada. Possuíam sólidas bases financeiras, garantida pelo volume comercial de seus portos, na agricultura com solo prospero e eficiente, e na construção naval. Portanto a economia não se baseava somente no comercio internacional, como acontecia com outras dinastias. A produção excedente de arroz, por exemplo, garantia reservas para financiar o comércio com as Molucas, China, Índia e Europa. Entretanto, o controle comercial exercido pelos governantes parece ter sido fundamental para a manutenção do poder local. A dinastia Majapahit se desenvolveu principalmente a partir do séc. XV.
No inicio do séc. XVI o domínio comercial e a prosperidade local começam a sucumbir. O próprio comércio que uma vez foi a causa de sua riqueza foi a culpada por seu declínio devido a incapacidade dos governantes Majapahit de manterem o monopólio comercial, levando o declínio econômico à região. O controle comercial através da força a partir do séc. XVI tornou-se impossível comparado à força armada dos europeus que se uniram aos seus rivais. Já no séc. XVII são sucumbidos pelo poder holandês que construiu bases em seu território. A expansão na demanda pelos produtos do arquipélago foi o grande incentivo para governos inimigos aos Majapahit buscarem acesso aos mecanismos de exportação e a logística de seus portos aliando-se com holandeses. Outro fator foi a afinidade dos comerciantes locais com o islamismo que deu aos agentes locais um motivo para a quebra do monopólio imposto pelos Majapahit. Muitas dinastias rivais, como a Srivijaya do Sumatra, se converteram ao islamismo para buscar apoio estrangeiro com comerciantes mulçumanos. Em 1527 o estado Majapahit sucumbiu de vez a invasão de seu vizinho, o Sultão Trenggana (1504-1546) de Demak (porto na costa norte de Java), e assim o último grande Estado Hindu-budista de Java desapareceu, cem anos depois de sua ascensão. A partir de então a ilha de Java tornou-se predominantementemulçumana. Embora tenha sido derrotada militarmente, sua moral e influencia cultural persistiram. Descendentes de javaneses Majapahit sempre foram considerados a nobreza indonesiana, devido ao seu refinamento, sua ligação com as artes, dança e literatura. 
Já no séc. XVII a parte central do arquipélago – da ilha de Java até a cidade de Mataram em Lombok, com exceção da ilha de Bali – o islamismo era predominante. Entretanto a aproximação à religião mulçumana em Mataram quanto em outras cidades da ilha de Lombok, se baseou em um apelo místico, diferente das principais cidades costeiras, onde a religião é exaltada devido aos seus princípios democráticos e igualitários. Logo, podemos observar que conforme o islamismo se espalhava pelo arquipélago suas características apresentavam diferenças para se adaptarem ao coletivo e ganharam formas e interpretações diferentes. Este é um importante fato para compreendermos o atual cenário político indonésio, onde existem mais de vinte partidos políticos mulçumanos, entretanto não unificados, sem uma proposta de governo comum. Fato que ajuda a manutenção para uma base democrática. Enquanto alguns partidos islâmicos radicais tentam aprovar uma nova constituição tendo as leis islâmicas como base, outros partidos islâmicos moderados lutam para a manutenção da diversidade étnica e religiosa do arquipélago.
O declino das dinastias indonésias:
O inicio do declínio da época de ouro da Indonésia foi a partir do séc. XVI, ou ainda em 1525, ano em que diversas nações européias chegam ao arquipélago. As práticas comerciais no sudeste asiático durante os séc. XV e início do séc. XVI eram tão livres e concorrentes quanto seus portos. Os comerciantes eram “vendedores ambulantes”, que alugavam espaço nos barcos e partiam junto com a tripulação aos portos de destino para vender ou comprar mercadorias. Em alguns portos muitos mercadores utilizavam a “barganha pelo preço coletivo”. O capitão da embarcação agia pelos comerciantes enquanto um grupo de compradores nos portos comprava pela comunidade. Em alguns portos era possível vender todo o carregamento e o lucro seria dividido, de forma proporcional ao investimento de cada um, pelos comerciantes donos dos produtos. Este padrão comercial, onde pequenos grupos e firmas organizadas cooperavam com outros grupos de comerciantes e compradores de maneira competitiva, era uma prática estabelecida dentro do comércio asiático, longe de ser uma concorrência perfeita, funcionava de maneira justa e equilibrada para os agentes envolvidos. A chegada dos comerciantes europeus no oceano Índico modificou profundamente as práticas comercias no sudeste asiático. Os europeus tinham centros administrativos, controle militar, frota naval, regulação econômica no comércio – controlando oferta e demanda - ou seja, possuíam uma instituição designada para comandar o comércio. A centralização do comércio pelo poder europeu, através de força militar, inibiu o livre comércio, e a prática de preços dos europeus também influenciou no preço praticado no comércio intra-asiatico (CURTIN, 1984, p. 133-134).
O declínio das antigas dinastias do arquipélago não foi motivado apenas por diferenças entre os governadores Srivijayans ao norte e Majapahit ao sul. Como estes grandes imperadores acenderam ao poder e sua origem ainda não é clara na cronologia da história da Indonésia, todavia sabe-se que o primeiro grande governador que unificou e pacificou os povos ao sul da ilha do Sumatra, abaixo do domínio Srivijayans, foi Gajah Mada. Ele não era o rei, mas sim primeiro ministro do rei Kertangara. Este último foi um temido militar, conhecido por vencer batalhas contra invasores, entretanto suas histórias possuem cenas e fatos dos contos de Vishnu e Shiva – personagens da mitologia Veda. O rei era considerado um semi-deus, enviado de Brahma, por isso uma análise precisa de sua vida ainda gera discussões. Sabe-se que possuía descendência genética da Mongólia, e foi o fundador da era Majapahit. Relatos históricos apontam Gajah Mada como o grande responsável pela prosperidade e paz de Java e como a figura mais interessante e carismática da história javanesa. Ele foi o primeiro responsável por unificar grande parte do arquipélago, e fez com que sua população obedecesse apenas um soberano. Ele conseguiu atingir este objetivo subornando reis, príncipes e marajás a aceitarem posições sempre de obediência ao rei Majapahit, entretanto concedendo a estes títulos e símbolos de nobreza, pois isto lhes dava alguma esperança e mantinha o gosto pelo poder. Com a morte do primeiro ministro o Rei recusou o fardo de governar seu complexo reino e dividiu-o entre seus quatro filhos. Esta separação chamou a atenção de invasores estrangeiros da Malásia, Sião e China e suscitou a possibilidade de ataques. O império Majapahit sobreviveu nos costumes, descendência etnológica, crenças e alguns rituais, dando origem ao povo javanês, entretanto a descentralização e divisão de poder fizeram o império perder vitalidade e muitos súditos debandaram para outras regiões e ilhas. Muitos principados separam-se, declarando sua independência e constituindo suas próprias regras e instituições de poder. Os cacos restantes sobreviveram até aproximadamente 1525 – época das constantes visitas dos europeus no arquipélago. Talvez unido e com sua antiga vitalidade, as ilhas teriam resistido às imposições dos brancos. Dividido e sem um soberano nem governo central, caíram aos caprichos europeus e deram à Europa espaço para os seguintes três séculos de submissão econômica e social.
Holandeses ao mar: processo rumo ao colonialismo
Em 1580 Espanha havia anexado uma parte de Portugal e as Molucas. Espanha também era dona de uma parte da Holanda. Em 1588, com a derrota do exército da Espanha pela Inglaterra, a Holanda engaja-se nas ciências das navegações para aventurar-se em mar aberto. Muitos produtos asiáticos ainda chegavam a Europa através do mar Vermelho ou Golfo Pérsico, mas a reputação comercial bem sucedida dos portugueses e espanhóis pelo mar foi suficiente para atrair Inglaterra e Holanda. Essas duas nações do norte europeu entraram na Ásia após a presença portuguesa, portanto, a entrada comercial pacífica no local já não seria possível. Espanha e Portugal formavam o maior império da Europa, eram a monarquia mais forte e nas últimas décadas do séc.XVI enfrentaram guerras contra França, Inglaterra e províncias holandesas. Por esses motivos, navios do império da Ibéria seriam um alvo convidativo aos holandeses e ingleses no oceano Índico.
Em abril de 1595, cem anos após Vasco Da Gama chegar a Calcutá, Índia; Holandeses apontaram seus canhões rumo a Ásia. A viagem até o sudeste asiático levou quase um ano para ser concluída. Nove investidores holandeses investiram cerca de 29,000 florins na jointventure e receberam 80,000 florins em lucro, o que consideraram insuficiente. O investimento para a segunda expedição que velejou em maio de 1598 foi quatro vezes maior. A partir de então foi dada a largada rumo as especiarias orientais. As primeiras viagens eram muito lucrativas, os retornos financeiros chegavam até trezentas vezes o valor investido.
O fluxo comercial em busca das especiarias do arquipélago, ou seja, o aumento da demanda contribuiu para aumentar os custos de produção, diminuíram a oferta e, por conseguinte, elevaram os preços das especiarias comercializadas no sudeste asiático enquanto na Europa os preços permaneceram constantes. A conclusão dos principais investidores era eliminar a concorrência na Ásia e garantir o fornecimento exclusivo. A criação de uma empresa com poder militar e excedentes recursos financeiros. Assim, seriam capazes de garantir o monopólio comercial. Assim, no dia vinte de março de 1602 foi criada e registrada a companhia das Índias Holandesa ou Vereenigde Oost-Indische Compagnie ou ainda: V.O.C.
Vereenigde Oost-Indische Compagnie: V.O.C
A V.O.C era uma associação acionaria onde seis câmaras de comércio de cidades holandesas – dentre elas Amsterdã era a mais proeminente –eram sócios da empresa. Ao contrario dos portugueses no Brasil, a coroa holandesa não era dona da “idéia” ou do investimento, era também sócia. A companhia era administrada por dezessete diretores. Algumas características eram muito parecidas com outras companhias de comercio da época, como a companhia das Índias Inglesa, entretanto, os acionistas investiam na firma, e não em viagens específicas. Foi criado um fundo para aplicar o montante nas expedições e os lucros auferidos eram divididos de maneira proporcional ao investimento inicial de cada acionistas desta “bolsa”. Nesse aspecto possuía característica bastante inovadora e com isto os diretores da V.O.C poderiam pesquisar estratégias e investir a longo prazo. Pensando no futuro garantiriam fluxos financeiros constantes, mais do que apenas ter o lucro especifico de cada viagem unitária. As decisões eram tomadas de acordo com as leis de mercado, guiada pelo lucro. E para prever os lucros, holandeses controlaram até mesmo o número das árvores de cravo e noz moscada plantada nas ilhas, desta forma, conseguiram estimar e controlar o volume da oferta. Nas Molucas chegaram até a derrubar alguns pés para diminuir a oferta. Sempre havia resistência, e as represálias foram devastadoras, controladas sempre pelo poder militar. Pomares, plantações e aldeias inteiras ficaram em fogo, ateados pelo exército da V.O.C, e com a oferta reduzida os preços das especiarias subiriam aumentando o lucro dos holandeses. Desta forma, os holandeses foram bem sucedidos onde os Portugueses falharam, garantiram o monopólio de noz-moscada e cravos controlando a produção em Banda e Ambon. Com a destruição de plantações, os soldados da VOC diminuíam também o fornecimento desses produtos aos compradores locais. Entre 1640 e 1680 a VOC realizou ganhos monopolístico na comercialização de cravo e noz-moscada (CURTIN, 1984, p.154).
Vendo a impopularidade do cristianismo imposto por Portugal e Espanha ao povo e a afinidade dos mulçumanos com o comércio local, os holandeses foram mais cautelosos. Perceberam que o caminho para entrada não seria através da religião, e sim do comércio. Para isso era preciso eliminar a concorrência ou pelo menos inibir a movimentação dos navios espanhóis e portugueses. A estratégia seria a “diplomacia”, aliar-se ao povo local que tinha os cristãos também como inimigo comum. Desta forma mantinham os príncipes e sultões aliados e submissos ao seu poder de fogo. Quando demonstravam que iriam cooperar com as leis da V.O. C poderiam permanecer em seus tronos, na pratica eram marionetes obrigados a obedecer a leis e exigências comerciais que só favoreciam aos holandese.
A primeira base militar da companhia das Índias Holandesas no arquipélago da Indonésia foi na ilha de Ambon, onde houve batalha contra os portugueses em 1605. Entretanto, holandeses perceberam que o local não era ideal para uma base militar ou qualquer outro centro administrativo de poder. Era distante da parte central do arquipélago, onde predominava o comercio inter-asiático, ou seja, entre Indonésia, Índia, China e Japão, assim como o comércio intercontinental entre Ásia e Europa. A participação holandesa no comércio inter-asiatico era fundamental para Holanda explorar maneiras de controlar o comercio internacional das especiarias. Para V.O.C, o primeiro problema encontrado foi qual moeda utilizar como pagamento pelas transações comerciais, já que Holanda não produzia nenhum bem que interessava aos comerciantes locais. Comerciantes das Molucas, Srivijayans e Majapahit priorizavam arroz e tecidos como principal moeda de troca por suas especiarias. Portanto, era preciso que Holanda providenciasse comida e roupas se quisesse permanecer no comercio, bens adquiridos somente na ilha de Java, China, Japão e Índia. O comércio inter-asiático passava a oeste do arquipélago da Indonésia, assim holandeses buscaram um novo local para servir de armazenamento e administração dos negócios interessado à V.O.C.
No final do séc. XVI a antiga Batan (Baten), na costa noroeste da ilha de Java e atual Jacarta, começa a se destacar como prospera cidade portuária. Batan era o principal porto comercial que ligava Java e China, principalmente após a conquista do estreito de Malaca pelos portugueses. Portugal após a conquista militar da passagem havia expulsado os comerciantes chineses do local, e esses migraram para Java. Foi em Batan que holandeses fizeram os primeiros investimentos com caráter empreendedor, construíram armazéns e estaleiros. Outros estrangeiros também circulavam pelo porto, entre eles os principais concorrentes da Holanda: os ingleses. Para evitar conflitos com Inglaterra, holandeses se estabeleceram em região vizinha a Batan, e iniciaram a construção de edificações fortificadas onde pudessem exercer controle militar. O local escolhido foi uma baia natural com acesso ao rio Ciliwang, ao lado de um outro pequeno porto chamado Jayakarta. Em 1610 holandeses firmam contrato com o príncipe de Jayakarta permitindo a construção de um galpão e edifícios em seu território. Construiu também toda infra-estrutura necessária para a manutenção de um comércio duradouro, como por exemplo, tabernas, hospedarias, restaurantes e alguns portos para reparos em navios. Enfim, todo aparato necessário para a companhia das Índias Holandesas e seus integrantes. Esta nova cidade fortificada, vizinha a Batan, chamou-se Batavia.
Primeiro centro administrativo de poder da Holanda no arquipélago: Batavia
O desejo inicial dos fundadores da V.O.C era evitar investimentos em terra firme. O estabelecimento significava que a companhia precisaria destinar recursos para administração de pessoas e serviços no local, além da manutenção, alimentação, cuidados médicos, engenheiros, construtores e etc. Outra característica inevitável e conseqüência desta ocupação era o conflito não apenas com os ingleses em Batan, mas também com vizinhos javaneses que ressentiam os invasores e reivindicavam o território como parte de seu reino e Estado. No mesmo período em que Batavia nascia Mataram, sob o controle do Sultão Agung, atingia seu auge conquistando territórios e expandindo seu reino.
Durante a primeira década de sua existência a cidade de Batan se uniu aos ingleses e fizeram algumas investidas militares em Batavia a fim de tomá-la dos holandeses. Batan não obteve sucesso, nem do ponto de vista militar nem político, maior ameaça local era Mataram. Reconhecendo o poder do novo império, os holandeses enviaram embaixadores às cortes de Mataram, representantes da VOC, para estabelecer relações diplomáticas e pagar taxas. Por volta do ano de 1620 a situação começou a se modificar. Mataram invadiu e conquistou diversos portos da ilha de Java chegando até Surubaya entre 1620 e 1625, e assim possuía o controle dos portos do leste e centro de Java. Pela primeira vez desde a queda da dinastia Majapahit uma dinastia local controlou a passagem comercial através dos portos ao norte da costa da ilha de Java. O sultão Angun só precisaria conquistar Batavia para obter total controle da ilha de Java. Em 1628 e 1629 Mataram fez diversos ataques a Batavia, sem sucesso. O exercito holandes saiu vitorioso, e surgiu ali uma justificativa para intensificar o contingente militar da VOC. Tropas e armas foram enviadas à Indonésia com a justificativa de proteger o comercio da VOC e nasceu a possibilidade para um controle totalitarista do arquipélago. (BROWN, 2003, p. 50). A vitória de Batavia significou o controle de Java aos holandeses. No decorrer do mesmo século, VOC e Mataram continuaram investindo pelo controle de Java, batalhas que exauriram recursos e força de ambos os lados.
A partir de 1629 a influencia portuguesa no estreito de Malaca diminuía enquanto a presença holandesa aumentava. Nas ilhas Molucas, holandeses expulsaram portugueses e espanhóis de Ternate (1606) e Tidore (1666), líderes locais foram forçados a firmar acordos comerciais que privilegiou a Holanda. Entre 1620-23 em busca do monopólio comercial de noz-moscada produzida na ilha de Banda,o exército holandês dizimou toda população da ilha, colocando em seu lugar descendentes euroasianos, acreditando que estes últimos eram mais leais as leis da companhia. O controle comercial de cravo tornou-se monopólio em 1650 depois do domínio de Ambon.
Na condição de monopolistas do comércio nas Molucas, a VOC poderia reduzir substancialmente a quantidade de especiarias comercializada em Java, Malásia e outros portos comerciais, em ambos os lados do mar de Java e no estreito de Malaca. Controlando a produção os holandeses minaram o livre comércio nos mares do sudeste asiático. Comerciantes mulçumanos, ingleses, portugueses e etc. procuraram portos ainda livres do controle holandes, como o porto de Makassar, por isso o contrabando era constante. Seguindo um padrão de estratégia militar, a VOC fazia aliança com inimigos regionais comuns, após as batalhas e incursões militares, os territórios eram divididos e seu novo governante controlado pelos holandeses, como marionetes (ibdim, p. 56).
Já na metade do século XVII seu controle monopolista nas Molucas era tamanho que holandese puderam revender as especiarias na Europa por dezessete vezes o valor de compra. Os lucros para os asiáticos, ao contrário dos holandeses, diminuía. Os produtores empobreceram e os pequenos intermediários, como javaneses e malaios, por exemplo, extinguiram-se. Eles eram peças fundamentais no comércio intra-asiatico, pois forneciam arroz e tecidos para pequenos produtores. Assim o estoque excedente de arroz e tecido – que era uma medida de riqueza - dos produtores das especiarias diminuiu, chegando ao nível de subsistência. Os pequenos produtores de arroz que forneciam para os comerciantes atravessadores também empobreceram a medida que não havia mais para quem vender arroz. A pequena cadeia de transações comercias das ilhas foi sendo desarticulada pela VOC e o livre comércio intra-asiatico perdendo sua força. Aos poucos a VOC fez sua transição de uma companhia que intermediava o comércio regional para se tornar uma grande potencia no local.
Em 1663 os portos mais importantes do norte do Sumatra, entre eles Aceh, assinaram com a VOC os termos do contrato Painan, este assegurava que a VOC seria o único comprador de pimenta. As cidades ainda não estavam completamente restabelecidas após as batalhas contra os portugueses. Aceh ainda era considerado importante porto exportador de pimenta, metal, cânfora e algum ouro e seda. Holanda também comandava os principais portos de Malaca, e mais ao sul da ilha do Sumatra conquistaram a capital Padang – único porto do Sumatra voltado diretamente para o oceano Indico. Em 1666 construíram fortes e armazéns nas cidades portuárias, mas sua influencia política não se espalhou para cidades vizinhas. Ao sul da ilha do Sumatra, em Bengkulu a companhia das índias Inglesa havia se estabelecido e construído o forte Marlborough. Em 1628 em Java, holandeses invadem a vizinha de Batavia, Batan e finalmente expulsaram os ingleses de Java. Agora, para ter acesso as especiarias do oeste de Java e sul do Sumatra, os ingleses precisariam enfrentar os canhões da Holanda.
A crise econômica e declínio político do arquipélago a partir do séc.XVII:
Em meados do século XVII o poder dos estados e dinastias indonesianas, erguidas através dos ganhos com o comércio e emolduradas pelo islamismo, começaram a desaparecer. A política e economia desses estados estavam sendo dissipados devido as disputas internas e reinos rivais. As disputas eram atiçadas pelos holandeses, que aproveitavam o cenário descentralizado das diversas regiões da Indonésia para enfraquecer as potências locais. No final do século XVIII o cenário estava montado para que o imperialismo europeu na região atingisse seu auge (REID, 1993, p.29).
A era de ouro do comércio na Indonésia acabou da mesma forma que começou: através do comércio, com mudanças na demanda internacional. Os preços das especiarias estavam em queda, a taxa de natalidade em declínio e crises políticas entre os reinos ameaçavam os estados já estabelecidos. Enquanto o arquipélago viveu uma grave crise econômica o resto do mundo, principalmente Europa e China, experimentaram prosperidade. Em 1639 comerciantes indonesianos foram surpreendidos com uma regulamentação do governo japonês que fechava o país para o comércio internacional, com exceção de China e Holanda. Até então, o comércio direto entre Japão e China era proibido, e a única maneira de se contornar tal embargo era através de outros portos internacionais, por isso utilizavam a Indonésia. Um dos portos mais importantes usados para despistar o controle japonês era o porto da cidade de Batan, em Java, dominado por comerciantes chineses. Quando o governo japonês decide fechar o país para relações comerciais com o resto do mundo, a rede comercial dos chineses que envolvia o porto de Batan como parada obrigatória para despistar os produtos chineses, entrou em colapso.
 As leis do comércio internacional afetaram diretamente o comércio na Indonésia. Outro fato ocorreu durante a dinastia Ming, em 1567, o decreto que proibia os chineses de deixar o país para aventurar-se no comércio externo foi revogado, liberando assim os comerciantes chineses para novamente velejarem diretamente até Indonésia. Este ato acabou por suplantar de vez os intermediários e atravessadores indonesianos.
Para os holandeses, a crise estava fazendo com que os objetivos que eles perseguiram – garantir volume baixando os preços das commodities do arquipélago e com isso eliminar a concorrência – parecia se concretizar. Enquanto a reação dos produtores indonesianos foi de se afastarem do comércio. Deixaram para os chineses e europeus o plantio dos produtos destinados à exportação e se voltaram para uma economia de subsistência, onde predominava a rizicultura. Nem todos indonesianos reagiram às pressões de mercado desta maneira, no Sumatra, por exemplo, produtores de pimenta diminuíram a produção para dedicar parte de sua terra ao plantio e produção local dos produtos externos. Substituindo o produto importado por um local, como o algodão indiano, por exemplo. Esta decisão foi tomada principalmente devido à queda da qualidade do algodão indiano, além de estarem mais caros – conseqüência da política comercial da companhia das Índias Inglesa no continente Indiano – o preço da pimenta também estava em declínio; assim a renda dos produtores diminuiu e consequentemente seu poder de compra piorou. Os tecidos indianos eram guardados como forma de riqueza, a mensagem era clara, com menos riqueza acumulada a qualidade de vida diminuía. Muitas regiões da ilha do Sumatra deixaram a plantação de pimenta para exclusiva plantação de algodão. A produção suplantou a demanda do produto indiano que estava desaparecendo. A produção local de algodão foi propícia para um resgate antigo: a tradicional tecelagem de batik nas regiões sasak
que haviam desaparecido com a importação de roupas e tecidos indianos. Dentre os centros de tecelagem estava Java, a produção local tinha preços acessíveis a população. (BROWN, 2003, p.60-72).
Uma das maiores evidências do empobrecimento indonésio no período de crise do final do séc. XVII era o reduzido número de navios indonesianos encarregados do comércio regional, comparado com o número presente durante o século anterior. A situação piorou quando o Sultão Agung, de Mataram, proibiu seus súditos de realizar viagens externas. Em 1665 fecha os portos de Java e ordena a queima dos barcos javaneses. Relegados apenas ao comércio local, costeiro, entre as pequenas ilhas do arquipélago, comerciantes trocam seus grandes barcos por menores, com menores velas, de águas rasas. Os dias de domínio do povo Indonesiano em mar aberto estavam acabados.
Após o período glorioso da era do comércio no arquipélago, algumas questões permanecem: Por que os estados indonesianos, seus produtos e comerciantes falharam ao se depararem com os desafios da nova direção do comércio mundial? Por que as regiões, os portos e cidades, que participaram ativamente do comércio mundial

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