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1. Explique os conceitos de estado de natureza e contrato social, em Hobbes. Por que ele é um absolutista? Segundo Hobbes, No estado de natureza os homens podem todas as coisas e, para tanto, utilizam-se de todos os meios para atingi-las. Os homens são maus por natureza (o homem é o lobo do próprio homem), pois possuem um poder de violência ilimitado. Um homem só se impõe a outro homem pela força; a posse de algum objeto não pode ser dividida ou compartilhada. Nenhum homem se vê inferior aos outros e, por isso, impõe-se violentamente sobre os outros como superior. Por causa da pouca diferença física ou intelectual entre os homens no estado natural, Hobbes percebe que nessa condição tudo é possível, já que não há regras que impeçam os homens de tomar o que é de outrem, nem que os impeçam de infligir sofrimento ao outro. Todo homem é potencialmente uma ameaça a outro homem e esta é aceita passiva ou ativamente. O convívio não é de boa vontade, nem é agradável, mas sim convencional, aceitável e tolerável, em que os homens se abrigam, fugindo daquele estado de guerra generalizada de todos contra todos, evidenciando a necessidade de criação do Estado, a partir de um contrato social que visa a abdicação do poder ilimitado de cada um e um redirecionamento desse poder (poder de polícia) para a manutenção da ordem e da estabilidade. Portanto, para Hobbes, a liberdade absoluta e a evidência da potência das faculdades naturais do homem desencadeiam essa desconfiança recíproca e contínua, gerando medo, o que justificaria a criação de um artifício para solucionar as desordens internas de uma sociedade. O grande Leviatã, o Estado, é esse artifício humano capaz de sanar essas desordens. É assim também que entendemos a criação de leis. O que se denomina juspositivismo nada mais é do que a compreensão de que a lei natural deve ser abolida, suprimida pela ordem convencional, artificial, inventada pelos homens tendo em vista um bem comum que é a preservação da vida. 2. Mostre as diferenças de Locke em relação a Hobbes nas concepções de estado de natureza e contrato social. O que Locke diz sobre o trabalho e sobre a tolerância religiosa? Locke e Hobbes assumiram posições contrárias. O primeiro defendia maior liberdade política e religiosa, delimitando com precisão a extensão de ambos os poderes. Já o autor do Leviatã, advogava poder ilimitado ao soberano, em ambas as esferas, negando, assim, o direito de revoluções e protestos por parte da população. Ambos tinham uma preocupação comum, a manutenção da ordem civil e o fim das guerras político/religiosas. Partindo desta preocupação, eles apontaram qual seria o modelo de estado que poderia sanar as disputas entre os homens e regular suas vidas em sociedade. Para tanto, tiveram que idealizar como seria a natureza do homem, qual seria a condição do homem naturalmente, fora da sociedade e assim dizer qual seria o melhor modelo de estado para o Homem assim concebido. Ambos conceberam o Homem como um ser capaz de escolher racionalmente, assim, capaz de usar sua razão para pensar seu estado natural e buscar sair dele. Não obstante, consideram o homem como sendo movido por suas paixões, colocando seu interesse acima dos demais e agindo, portanto, em causa própria. São contratualistas, ou seja, defendem que os homens não vivem em sociedade por naturez, mas através de um contrato saem de seu estado natural (estado de natureza) e formam um corpo político ou Estado Civil. No seu estado natural os homens são iguais e livres, não necessitam se submeter à vontade de nenhum outro homem. Esses filósofos negam que o poder do governante possui origem divina, como costumava Hobbes. Podemos ver que nossos filósofos possuem opiniões ora concordantes, ora conflitantes. Um dos maiores pontos de conflito de suas obras é sobre a concepção da condição do Homem no estado de natureza e da extensão e poder do estado civil e, consequentemente, do governante. Defendemos que, devido à forma como cada um dos filósofos pensa o estado de natureza, tem implicações na maneira como a sociedade civil é concebida, para que dê conta de cercear os apetites destrutivos dos homens, bem como promover uma vida mais próspera e segura a eles. Ambos escrevem suas obras pensando em qual seria a melhor forma do Estado ser gerido. Ambos temiam a desordem civil e a luta constante e cega por poder, a qual poderia levar o Estado à ruína. Mas ao pensarem a solução para isso, são levados a concepções contrárias de poder e extensão do governo civil. O primeiro, partindo do pressuposto que os homens no estado de natureza estão imersos, irremediavelmente, no estado de guerra de todos contra todos, propõe um governo civil autoritário, com o poder de decisão nas mãos de um único individuo, que pode se dispor dos demais como bem entender, pois, apesar de alguns inconvenientes que isso pode gerar aos demais, é muito melhor do que voltarem ao seu estado anterior. Se em Hobbes o Soberano tem como função acabar com guerra geral, comandando os homens com autoridade e poder absolutos e os impedindo da mútua destruição; em John Locke, o governante apenas é instituído para preservar e ampliar os direitos de natureza do Homem, assim, não pode atentar contra sua propriedade, ou seja, sua vida, liberdade e bens matérias injustamente. Pois Locke pensa o estado de natureza dos homens como sendo, relativamente, pacífico, mas a propensão natural dos homens de serem parciais e a falta de um legislador imparcial para julgar as disputas no estado de natureza levam os homens a estabelecerem a sociedade civil. A respeito da tolerância religiosa diz Locke, “a marca principal e distintiva de toda verdadeira Igreja é a tolerância. Nenhum indivíduo deve atacar ou prejudicar de qualquer maneira outro nas suas propriedades porque professa outra religião ou culto”. 3. Qual a paixão essencial à sociedade, segundo Hume? E para Adam Smith? O que é a mão invisível? Uma sociedade humana baseada sim no conhecimento, esclarecida e livre, mas construída sobre o que os seres humanos têm em comum, e não em algo, na realidade fictício, fora deles. Sendo guiados às ações pelas paixões, e não pela razão, deve-se ao mesmo tempo canalizar estas e ampliar os limites do conhecimento racional. Portanto, será somente sobre a satisfação daquilo que as pessoas compartilham, o amor-próprio, que uma sociedade esclarecida poderá existir onde todos querendo o melhor para si. Adam Smith não sobrepõe a força das paixões às virtudes. As paixões podem e devem ser controladas. As virtudes que levam ao autocontrole e ao domínio sobre as paixões, as virtudes das boas paixões devem ser estimuladas, e as paixões que levam ao vício, reprimidas. Mais importante, existiria nos seres humanos um amor à virtude, a mais nobre e melhor paixão da natureza humana. A mão invisível, termo tão utilizado posteriormente para explicar o funcionamento do mercado como um todo, tem a função, na obra de Adam Smith, de substituir justamente o que ele pensava ser a qualidade mais importante da vida social, a simpatia. Pois como não há simpatias visíveis no mundo do mercado, algo teria de substituí-lo, caso contrário o que existiria seria uma guerra sem fim. Todavia, a substituição não é completa, a mão invisível permanecendo situada em outro nível que a simpatia. As ações de um indivíduo em interesse próprio regula as relações na sociedade. 4. O que é o utilitarismo e qual seu princípio básico? Utilitarismo é uma teoria filosófica que busca entender os fundamentos da ética e da moral a partir das consequências das ações. Consiste na ideia de que uma ação só pode ser considerada moralmente correta se as suas consequências promoverem o bem-estar coletivo. Caso o resultado da ação sejanegativo para a maioria, esta é classificada como condenável moralmente. A partir deste raciocínio, o utilitarismo se apresenta oposto ao egoísmo, pois as consequências das ações devem estar focadas na felicidade de um conjunto e não de interesses particulares e individuais. Pelo fato de estar baseado nas consequências, o utilitarismo não leva em consideração os motivos do agente (se é bom ou mau), visto que as ações de um agente que são tidas como negativas podem desencadear consequências positivas e vice-versa. Os principais princípios básicos do utilitarismo são: Princípio do bem-estar: o objetivo da ação moral deve ser o bem-estar em todos os níveis (intelectual, físico e moral); Consequencialismo: a moralidade das ações é julgada mediante as consequências por elas geradas; Princípio da agregação: leva em consideração a maioria dos indivíduos, descartando ou “sacrificando” as “minorias” que não se beneficiaram da mesma forma que a maioria. Este teor “sacrificial” costuma ser bastante questionado pelos opositores ao utilitarismo; Princípio de otimização: a maximização do bem- estar é interpretada como um dever e a Imparcialidade e universalismo: não existe distinção entre o sofrimento ou felicidade dos indivíduos, sendo todos iguais perante o utilitarismo. Bibliografia: Ramos, Flamarion Caldeira et alii. Manual de Filosofia Política. SP: Saraiva, 2015, cap. 5, págs. 119 a 142
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