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ANÁLISE DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS Nathália Helena Fernandes Laffin Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP) Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer as fontes de capitais da empresa. � Comparar as fontes de capitais utilizadas nas empresas. � Identificar o conceito e cálculo de endividamento. Introdução Neste capítulo, você vai aprender como calcular o endividamento das empresas. A ciência contábil possui como objeto de estudo o patrimônio, que se configura pelo conjunto de bens, direitos e obrigações de uma entidade. Dessa forma, o objetivo da contabilidade concentra-se na produção de informação que auxilie seus usuários na tomada de decisão. Assim, ao publicar uma demonstração contábil, é estabelecido um meio de conversa entre empresa e usuários, levando informações úteis que impactem nas decisões. Existem diferentes demonstrações contábeis e cada uma delas reporta um tipo específico de informação. Neste capítulo, utilizaremos como base para a construção de conhecimento o balanço patrimonial, que é uma demonstração contábil que retrata a posição econômico-financeira da empresa em um dado momento. A partir dessa demonstração, é possível conhecer dados patrimoniais que podem ser descritos e analisados sob indicadores, como, por exemplo, o índice relação capital de terceiros sobre capital próprio. Fontes de capitais da empresa A composição patrimonial de uma empresa (Figura 1) se dá por tudo aquilo que ela possui em um dado momento do tempo. Isto é: pelos seus bens, seus direitos, suas obrigações e seus interesses residuais. Os bens são todos os itens úteis, tangíveis ou intangíveis, que sejam controlados pela entidade e que sejam capazes de gerar algum benefício econômico. Os direitos, tal qual os bens, são controlados pela entidade e visam, por meio de uma expectativa de recebimento de terceiros, prover algum benefício econômico para a empresa. Bens e direitos compõem o ativo de uma empresa. As obrigações, por sua vez, constituem-se como compromissos para com terceiros e constituem o passivo de uma empresa. Os interesses residuais, figurados no grupo do patrimônio líquido, são o resultado líquido dos ativos da entidade depois de deduzidos todos os seus passivos, isto é, a soma dos bens e direitos e a diminuição das obrigações. Para que seu patrimônio seja organizado, a empresa reconhece e identifica cada um de seus itens patrimoniais, elencando-os conforme suas características. Um imóvel, por exemplo, é um bem e está identificado como ativo da empresa. Valores a receber de clientes, por vendas realizados a prazo, constituem-se como direitos e valores a pagar para fornecedores, por compras a prazo, são reconhecidos como obrigações. Para uma empresa iniciar suas atividades e compor seu patrimônio, ela faz uso de fontes de capital. A estrutura de capital da empresa é a forma como ela se financia, isto é, a forma como ela capta recursos para aplicar em seu patrimônio. E, para isso, existem dois tipos de capital: o capital próprio e o capital de terceiros. Capital próprio é o capital proveniente de sócios e acionistas e o capital de terceiros são os recursos obtidos por meio de transações com terceiros fora da empresa. É possível reconhecer os capitais que financiam a empresa por meio do balanço patrimonial, em uma análise de seu passivo e patrimônio líquido. Isso porque todos os recursos aplicados em bens e direitos decorrem, obrigatoriamente, de um capital financiador, que pode ser de sócios e acionistas ou de terceiros à empresa. Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP)2 Figura 1. Patrimônio das empresas. ATIVO PASSIVO PATRIMÔNIO LÍQUIDO Aplicações Origem Origem Assim, você pode utilizar os termos “origem” e “aplicação” de recursos para vislumbrar essa ideia: as origens de recurso representam as entradas de capital na empresa e se dão, portanto, por meio do capital dos sócios e acionistas ou por meio do capital de terceiros. As aplicações, por sua vez, são a forma como é materializado esse recurso no ativo da empresa. Veja o exemplo a seguir: Para iniciar as atividades da empresa ABC, três sócios, Armando, Bruno e Caio, integralizaram um total de R$ 30.000,00 como capital social. Armando integralizou sua parte, que é de R$ 10.000,00, sob forma de moeda corrente. Bruno, por sua vez, integralizou sua parte, que é de R$ 10.000,00, sob forma mercadorias para revenda. Caio, por fim, integralizou os R$ 10.000,00 de sua competência sob forma de máquinas e equipamentos para uso nas rotinas da empresa. Temos, portanto: � Origem de recurso: capital próprio — dos sócios. � Aplicação de recurso: moeda corrente, mercadorias para revenda e máquinas e equipamentos. 3Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP) Dessa forma, toda fonte de recurso terá uma aplicação direta na empresa, garantindo, assim, a possibilidade de manutenção das atividades. O balanço patrimonial é a melhor demonstração contábil para reconhecer as fontes de recursos de uma empresa. A equação patrimonial estrutura-se na ideia do equilíbrio. Portanto, haverá sempre igualdade entre os dois lados do balanço patrimonial (o total do ativo sempre será igual ao total do passivo mais o patrimônio líquido). Nesse sentido, fique atento para a ideia de que as aplicações de recursos deverão sempre ser iguais às origens de recursos. Fontes de capitais utilizadas nas empresas As fontes de capitais constituem-se, portanto, como os recursos necessários para financiar as atividades da empresa. Podem originar do capital próprio ou de capital de terceiros. Veja, a seguir, o que constitui cada um desses tipos de recursos e qual sua importância para as empresas. Capital próprio O capital próprio de uma empresa é composto pelos recursos dos sócios e/ ou acionistas da empresa. Apresentam-se, no balanço patrimonial, no grupo patrimônio líquido e, tal qual seu título, constituem a riqueza líquida da empresa que está à disposição de seus sócios. Ele se origina com a atividade econômica da empresa que, para iniciar seus trabalhos, precisa de um “investimento” inicial. O capital próprio é identificado por meio do capital social (subscrito, a integralizar e/ou integralizado), pelas reservas de capital, reservas de lucros e os lucros da empresa. Capital de terceiros O capital de terceiros consiste em recursos de terceiros que estão sob proprie- dade da empresa e que geram uma obrigação de contrapartida. Assim, em uma empresa, o capital de terceiros é identificado em suas contas de passivo. São exemplos de capital de terceiros: Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP)4 � dívidas com fornecedores, por compra de mercadorias sem que haja pagamento no momento da transação; � contas a pagar, como os valores de despesas com energia elétrica; � obrigações trabalhistas, como salários e encargos sociais devidos; � obrigações fiscais, como impostos a pagar resultantes das transações comerciais da empresa; � obrigações decorrentes de empréstimos bancários; � provisões, as quais constituem-se como passivos de prazo ou valor incertos. Como deve ser a estrutura de capital? Na Quadro 1, a seguir, apresentamos o balanço patrimonial da companhia ABC referente ao exercício de 2017. Companhia ABC Balanço patrimonial em 31/12/2017 (R$) Ativo circulante Caixa Clientes Estoque Não circulante Máquinas e equipamentos Veículos (-) Depreciação acumulada 10.000 8.000 33.000 13.000 50.000 (4.500) Passivo circulante Fornecedores Contas a pagar Não circulante Empréstimos a pagar 13.000 7.000 22.500 Patrimônio líquido Capital social Reservas de capital Reservas de lucro 60.000 4.000 3.000 Total ativo 109.500 Total passivo + patrimônio líquido 109.500 Quadro 1. Balanço patrimonial da companhia ABC de 2017 O patrimônio da companhia ABC, nessa data, era de R$ 109.500,00, com- posto porR$ 67.000 de capital próprio e R$ 42.500 de capital de terceiros. Assim, há uma mescla entre as fontes de financiamento da empresa – o que é habitual nas empresas. Vimos que o capital de terceiros consiste em captação de recursos fora da empresa, enquanto o capital próprio é o montante de recursos 5Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP) provenientes dos sócios ou acionistas. De acordo com Prates (2016), cada tipo de financiamento apresenta prós e contras, como pode ser visualizado no Quadro 2, a seguir. Fonte: Adaptado de Prates (2016). Capital de terceiros Capital próprio Quanto maior o capital de terceiros, menor o valor de imposto de renda a pagar. Custo de capital menor. Em casos de prejuízo, juros deverão continuar sendo pagos. Inviabilização de novos projetos e investimentos. Custo de capital maior. Não existem juros em relação a terceiros. Não pagar dividendos em anos de prejuízo. Quadro 2. Capital de terceiros ou capital próprio? A escolha pelo financiamento por parte de terceiros ou com capital próprio deve ser decidida pelos gestores da empresa, de acordo com estratégias e metas da empresa. O custo da captação de recursos e o retorno obtido em suas aplicações, são bons direcionadores para tomada de decisão. Conceito e cálculo de endividamento Como vimos, a estrutura de capital de uma empresa é a forma pela qual ela se financia. Ao utilizar recursos de terceiros para prover suas atividades, as empresas contraem dívidas. Essas dívidas, expostas no balanço patrimonial das empresas, podem ser visualizadas sob óticas diferentes e demonstram informações importantes para as empresas. Trata-se do índice de endivida- mento da empresa. O índice de endividamento mostra quanto a empresa tem de dívidas com terceiros utilizando como base seu próprio capital (MARTINS; MIRANDA; DINIZ, 2018). Ou seja, indica a proporção entre os recursos de terceiros utilizados para financiar suas atividades e os recursos próprios. Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP)6 O cálculo do endividamento se dá pela fórmula: Endividamento = capital de terceiros / capital próprio Assim, por meio desse cálculo é possível visualizar quanto de capital de terceiros foi captado com base em R$ 1,00 de capital próprio. A companhia Bermulândia compra mercadorias para revenda. Em seu balanço patri- monial de 20x1, ela apresentou os seguintes dados: � Total do ativo circulante: R$ 32.000 � Total do ativo não circulante: R$ 44.000 � Total do passivo circulante: R$ 27.000 � Total do passivo não circulante: R$ 14.000 � Total do patrimônio líquido: R$ 35.000 Para descobrir o nível de endividamento da empresa referente ao exercício social de 20x1, devemos: a) identificar o que é capital próprio O capital próprio é composto pelo patrimônio líquido. Logo, o valor de capital próprio da companhia ABC em 20x1 é de R$ 35.000. b) identificar o que é capital de terceiros O capital de terceiros é composto pelo passivo. Entre exigibilidades de curto e longo prazo, o total de capital de terceiros é de R$ 41.000. c) aplicar a fórmula do endividamento CT/CP Endividamento = 41.000 / 35.000 Assim, apuramos que o endividamento da empresa, em 20x1, é de 1,17. Confira as próximas explicações para entender melhor. Vimos no exercício que o nível de endividamento da companhia Bermu- lândia, em 20x1, foi de 1,17. Isso significa dizer que para cada R$ 1,00 de capital próprio, a empresa captou R$ 1,17 de terceiros. Na mesma lógica, se a empresa possuísse um total de capital de terceiros de R$ 20.000 e um total de capital próprio de R$ 44.000, obteríamos um nível de endividamento de 0,45. Esse índice aponta que para cada R$ 1,00 de capital próprio, a empresa captou R$ 0,45 de terceiros. 7Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP) Você pode, ainda, descobrir a composição desse endividamento. Ou seja, verificar o quanto desse endividamento se concentra no curto ou longo prazo. Veja a seguir: Composição do endividamento = 27.000 / 41.000 O índice de composição do endividamento apresentará um resultado entre 0 e 1. Um resultado mais próximo de 1 indica que a maior parte das dívidas da empresa concentra-se no curto prazo, requerendo que a empresa possua liquidez para poder honrar seus compromissos. Se utilizarmos o exemplo da companhia Bermulândia, apuraremos um índice de 0,65, isto é: para cada R$ 1,00 do total de dívidas, R$ 0,65 estão no curto prazo. Em outras palavras: a composição do endividamento da companhia Bermulândia, em 20x1, é predominantemente (65%) de curto prazo. Alguns autores, como Perez Junior e Begalli (2015), apontam que existe, no Brasil, uma grande dificuldade de captação de recursos a longo prazo. Nesse sentido, a composição de endividamento de capital das empresas tende a se concentrar no curto prazo. Dessa forma, os autores sugerem que a aplicação desses recursos deve ser realizada em ativos de rápida recuperação. Há, ainda, o cálculo de endividamento geral, que aponta o quanto os recur- sos de terceiros representam sobre o total aplicado na empresa. Sua fórmula consiste em dividir o capital de terceiros pelo total de ativos da empresa: Endividamento geral = capital de terceiros / ativo total O resultado do endividamento geral também ficará entre 0 e 1 e, quanto mais próximo de 1, maior será a dependência da empresa de capital de terceiros (PEREZ JUNIOR; BEGALLI, 2015). Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP)8 Se utilizarmos o exemplo da companhia Bermulândia, temos um endivi- damento geral de 0,54. Endividamento geral = 41.000 / 76.000 Nesse sentido, 54% dos seus ativos são originários de capital de terceiros e apenas 46% de recursos próprios. Existem diferentes formas de verificar o endividamento das empresas. É importante salientar que a ideia de endividamento não remete, necessariamente, a uma má condição econômico-financeira da empresa. A opção pela utilização de recurso de terceiros para financiamento das atividades da empresa pode ser uma boa estratégia para empresas que estão consolidadas no mercado e pretendem utilizar os recursos próprios para outros projetos. Neste capítulo você conheceu os conceitos de capital próprio e de terceiros, a composição das contas relacionadas a esses recursos e sua importância na análise das demonstrações contábeis. Aprendeu também a reconhecer e calcular o indicador que revela o endividamento da empresa. É importante frisar que o capital de terceiros é uma importante origem de recursos para as empresas e, portanto, têm fundamental relevância quando rela- cionados ao endividamento das empresas frente ao seu financiamento próprio. Foi necessário conhecer diferentes conceitos até que fosse possível com- preender como é estabelecido o endividamento da empresa, sendo este um importante indicador de desempenho. Lembre-se que cada um desses conceitos teve um contexto e uma finalidade em que foi inserido. O site Treasy (CAMARGO, 2017) traz um conteúdo muito interessante sobre endividamento. Confira no link a seguir. https://goo.gl/AAQBmr 9Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP) CAMARGO, R. F. de. Você conhece os índices de endividamento? Fique atento ao grau de dívidas da sua empresa e evite que ela entre no vermelho. In: TREASY, Joinville, 25 set. 2017. Disponível em: <https://www.treasy.com.br/blog/endividamento/>. Acesso em: 17 nov. 2018. MARTINS, E.; MIRANDA, G. J.; DINIZ, J. A. Análise didática das demonstrações contábeis. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2018. PEREZ JUNIOR, J. H.; BEGALLI, G. A. Elaboração e análise das demonstrações financeiras. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2015. PRATES, W. R. O que é estrutura de capital de uma empresa? In: PRATES, W. R. WRPRATES. com, [s. l.], 2 set. 2016. Disponível em: https://www.wrprates.com/o-que-e-estrutura- de-capital-de-uma-empresa/. Acesso em: 17 nov. 2018. Leitura recomendada GRIFFIN, M. P. Contabilidade e finanças. SãoPaulo: Saraiva, 2012. Índice relação capital de terceiros sobre capital próprio (CT/CP)10 Conteúdo:
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