Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Novo Código Florestal APRESENTAÇÃO DA UNIDADE A Lei 12.651/2012 introduziu em nosso ordenamento jurídico o novo Código Florestal, revogando o anterior, disciplinado pela Lei 4.771/65. Com um processo legislativo permeado por entraves e discussões entre a bancada ambientalista e a ruralista no Congresso Nacional, essa lei foi sancionada e promulgada, mas recebeu uma série de vetos da Presidente da República. Logo a seguir, foi editada a Medida Provisória nº 571, convertida na Lei 12.727/2012, que buscou disciplinar alguns dos assuntos anteriormente vetados. O Código Florestal normatiza os regimes de proteção de dois espaços territoriais especialmente protegidos de suma importância: as áreas de preservação permanente (APPs) e a reserva legal. As APPs estão definidas no art, 3º, inciso II, da Lei como “área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas”. Existem as APPs definidas pela própria lei em seu art. 4º e as APPs estabelecidas pelo Poder Público, quando declaradas de interesse social, nas hipóteses previstas no art. 6º. Aquelas que já têm previsão legal são: -as faixas marginais de leitos d’água, conforme tabela abaixo: LARGURA DO CURSO D’ ÁGUA FAIXA MARGINAL - (PARA CADA UM DOS LADOS) - 10 METROS 30 METROS 10 A 50 METROS 50 METROS 50 A 200 METROS 100 METROS 200 A 600 METROS 200 METROS + DE 600 METROS 500 METROS - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de: Zona rural (em regra) 100 metros Zona rural com corpo d’ água com até 20 hectares de superfície 50 metros Zona urbana 30 metros - restingas - fixadoras de dunas e estabilizadoras de mangues; - manguezais; - bordas de tabuleiros ou chapadas em faixa mínima de 100 metros em projeção horizontal; - topo de morros, montes, montanhas, serras, com no mínimo 100 metros de altura e inclinação média maior que 25º; - áreas de altitude superior a 1.800 metros; - veredas - 50 metros de faixa marginal do espaço brejoso ou encharcado. Já a reserva legal vem definida na Lei, em seu art. 3º, inciso III como “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, delimitada nos termos do art. 12, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa”. O art. 12, por sua vez, estabelece os percentuais mínimos que as propriedades rurais devem possuir de mata nativa a título de reserva legal. Confira-se: - Se imóvel localizado na Amazônia Legal: 1. 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas; 2. 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado; 3. 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais; - Se localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). Vale ressaltar que, na vigência do Novo Código Florestal, é possível computar área de APP como área de reserva legal, algo que o código anterior não permitia, sendo questionável se isso seria alguma forma de retrocesso na proteção ambiental ou medida que favorece a exploração sustentável do imóvel rural. __________________________ 1 Cf. Milaré, loc.cit. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA Direito do Ambiente, 10ª ed. MILARÉ, Édis Nesta obra, Édis Milaré traz os principais elementos e características das áreas de preservação permanente, da reserva legal e novidades trazidas pelo Novo Código Florestal para a proteção de bens ambientais. Faz breve menção histórica sobre os regimes de proteção até os dias atuais. Apelação 0036512-46.2005.8.26.0506 – TJSP 1ª Câm. Reservada ao Meio Ambiente, Rel. Des. Oswaldo Luiz Palu, j. 12/05/2016 Nesse julgado, o Tribunal avalia a constituição de reserva legal sob a égide da lei anterior e faz o cotejamento com os deveres estabelecidos no Novo Código Florestal, realizando uma interpretação sobre o alcance do novo diploma a fatos pretéritos. AgRg no RESP 1367968/SP – STJ Segunda Turma, Rel. Min. Humberto Martins, j. 17/12/2013 Além de resgatar os conceitos de APP e de reserva legal no contexto do Novo Código Florestal, o acórdão discorre sobre o caráter propter rem das obrigações decorrentes desses institutos de direito ambiental, reforçando os deveres de proteção aos titulares de direito de propriedade e seus sucessores. VIDEOAULA FECHAMENTO DA UNIDADE Vimos neste módulo os principais aspectos do Código Florestal, agora regido pela Lei 12.651/12, com alterações pela Lei 12.727/2012. Embora a lei ora em vigor tenha mantido o regime de proteção de florestas como bens de interesse comum, alguns dos principais institutos de proteção ambiental sofreram alterações. É preciso lembrar, antes de mais, que a preservação ambiental por meio de manutenção ou recomposição de APPs ou de reserva legal configura obrigação propter rem, ou seja, obrigação real, transmissível com a coisa, ao sucessor do proprietário ou do possuidor. Impõe, portanto, limites ao exercício do direito de propriedade. As áreas de preservação permanente, cuja principal função é garantir o equilíbrio dos ecossistemas em locais e bens sensíveis, estão arroladas no art. 4º da lei, podendo ser ampliadas pelo Poder Público quando caracterizado o interesse social, conforme art. 6º. A despeito das APPs se manterem, o novo Código Florestal traz hipóteses de supressão da vegetação nativa nos casos de utilidade pública, de interesse social ou de baixo impacto ambiental, conforme previsto em lei. Diferentemente do código anterior, a lei atual atribui a ato do Chefe do Poder Executivo federal as hipóteses de utilidade pública. Já nos casos de baixo impacto social, é previsto ao CONAMA estabelecer outras ações ou atividades similares, para além daquelas definidas no próprio Código1. Por outro lado, a nova lei passou a estabelecer a obrigação de recomposição das áreas de preservação permanente, bem como a manutenção de atividades em APPs, desde que em áreas rurais consolidadas, entendidas aquelas cuja ocupação antrópica era anterior à data de 22 de julho de 2008, com atividades restritas e previstas na lei, em seu art. 65-A. No que tange à reserva legal, lembremos que o novo diploma legal amplia a sua função, tornando-a mais flexível para permitir a intervenção nessas áreas para uso e exploração sustentáveis, conferindo-lhe um caráter ao mesmo tempo econômico e conservacionista. A regra geral de instituição e manutenção de reserva legal encontra-se no art. 12. No entanto, excetuam-se a essa regra os imóveis com até quatro módulos rurais cujas reservas legais até 22 de julho de 2008 eram menores que as estipuladas na lei, bem como aqueles imóveis que observaram os limites legais para a supressão de vegetação em um tempo em que esses limites eram menores e, atualmente, estão em situação de “déficit”de reserva legal. Nesses casos, não será necessária a recomposição, conforme art. 68. O imóvel deve ser incluído no Cadastro Ambiental Rural – CAR, que é um registro público eletrônico de todos os imóveis rurais nacionais, integrante do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente e tem por finalidade o controle, monitoramento, planejamento econômico e ambiental dessas áreas. Após inclusão do imóvel no CAR, o órgão ambiental estadual competente analisará a área indicada pelo proprietário a título de reserva legal. Para a respectiva aprovação, o órgão do SISNAMA deverá considerara existência de bacia hidrogáfica, o Zoneamento Ecológico-Econômico, os corredores ecológicos com outras áreas protegidas e áreas de maior importância ou fragilidade ambiental(art. 14). É importante ressaltar que, apesar da obrigatoriedade da inscrição do imóvel rural no CAR, ela não gera título de propriedade, mantendo-se a função dos Registros de Imóveis para esse fim. No entanto, a inscrição do imóvel no CAR desobriga o proprietário da averbação da reserva legal na matrícula do imóvel, no Cartório de Registro de Imóveis (art. 18, §4º). __________________________ 1 Cf. Milaré, loc.cit. REFERÊNCIAS MILARÉ, É. Direito do Ambiente. 10.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 1309/1348. LEMOS, P. F. I. Direito Ambiental. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. I_Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR VÍDEOS Novo Código Florestal Veja vídeo produzido pela EMBRAPA sobre o Novo Código Florestal: Novo Código Florestal (Links para um site externo.) LIVROS Novo Código Florestal – comentado, comparado e anotado, artigo por artigo POLIZIO Jr., V. Novo Código Florestal – comentado, comparado e anotado, artigo por artigo. 3ª ed. São Paulo: Rideel, 2016 LEITURA Confira a discussão da recomposição de APPs em áreas urbanas consolidadas: Apelação nº 0049172-35.2011.8.26.0224, TJSP, 1ª Câmara Reservada ao Meio Ambiente, Rel. Des. Dimas Fonseca, j. 12/05/2016 – Ementa: “AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. Responsabilidade objetiva e solidária de todos os entes federados, pela preservação e fiscalização contínua e permanente de espaço ambiental protegido. Bairros construídos em área de preservação permanente situada à margem de curso d'água (córrego). Comprovação, porém, de que os arredores dos bairros possuem características urbanas (pavimentação asfáltica, fornecimento de energia elétrica, abastecimento de água, sistema de coleta de esgoto e aterramento parcial do córrego). Hipótese que configura a região como área urbana consolidada, nos termos do artigo 47, II, da Lei nº 11.977/09 e do artigo 2º, XIII, da Resolução nº 303/2002 do CONAMA, implicando na perda da função ecológica do local e na evidente impossibilidade de restabelecimento das condições ambientais originárias. Inviabilidade da restituição ao status quo ante, máxime pelo forte impacto social negativo que a medida implicaria. Aplicação dos princípios da razoabilidade e do desenvolvimento sustentável. Regularização do loteamento devida, com concessão de maior prazo para a efetivação. Dispensada a desocupação da APP, diante da perda da função ambiental. Indenização indevida dos adquirentes ou do dano urbanístico ambiental. Preliminar rejeitada e recurso parcialmente provido”. Direito Ambiental Para um estudo pormenorizado sobre determinados artigos do Novo https://youtu.be/Za2M6t78n_o https://youtu.be/Za2M6t78n_o Código Florestal, com resolução de questões. Petição inicial da ADI 4901, questionando dispositivos do Novo Código Florestal – disponível em: https://bit.ly/33PP9PF Unidades de Conservação e Recursos Hídricos APRESENTAÇÃO DA UNIDADE As Unidades de Conservação fazem parte dos Espaços Territoriais Especialmente Protegidos (ETEPs), previstos em nossa Constituição Federal. Os ETEPs possuem uma proteção especial em razão de suas características, importância para os ecossistemas e equilíbrio natural, podendo ser instituídos por quaisquer das três entidades federativas. Em âmbito infraconstitucional, as Unidades de Conservação são primordialmente regidas pela Lei nº 9.985/2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, e o respectivo Decreto nº 4.340/2002. Nesse Sistema, estão definidos o CONAMA como órgão consultivo e deliberativo, o Ministério do Meio Ambiente, como órgão central e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade como o órgão executor. As Unidades de Conservação estão divididas em dois grandes grupos: as Unidades de Uso Sustentável e as Unidades de Proteção Integral. Em breve síntese, enquanto as primeiras permitem a intervenção antrópica, respeitando um plano de manejo para exploração sustentável da área, as últimas, ou seja, as unidades de proteção integral obedecem a um regime de proteção mais rígido quanto à exploração, devendo-se manter praticamente intacta, sendo permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, sendo a intervenção humana ínfima ou inexistente. A lei arrola quais são as modalidades de unidades de conservação. Segue abaixo breve sistematização: USO SUSTENTÁVEL PROTEÇÃO INTEGRAL https://bit.ly/33PP9PF Área de Proteção Ambiental (APA) Estação Ecológica Área de Relevante Interesse Ecológico Reserva Biológica Floresta Nacional Parque Nacional Reserva Extrativista Monumento Natural Reserva de Fauna Refúgio de Vida Silvestre Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva Particular do Patrimônio Natural Vale ressaltar que a criação de unidades de conservação pode ocorrer por meio de lei ou decreto do Chefe do Poder Executivo da respectiva entidade da federação. No entanto, a sua extinção ou a transformação de uma Unidade de Proteção Integral em uma Unidade de Uso Sustentável só é permitida mediante lei, precisamente para permitir uma maior proteção desses espaços territoriais. No que tange à gestão de recursos hídricos, cabe mencionar que a primeira legislação pertinente à temática no Brasil foi o Código das Águas, de 1934. No entanto, o intuito principal ali estabelecido era regular o uso da água exclusivamente para o seu aproveitamento econômico. A ideia de valoração e proteção desse bem, tão importante para a vida e ao mesmo tempo escasso, adveio apenas com a Lei 9.433/97, que introduziu a Política Nacional de Recursos Hídricos, e que permanece em vigor. A essência dessa lei traz a água como um recurso natural limitado, que possui valor econômico e que, portanto, deve ter seu uso racionalizado. Afinal, trata-se de bem público a qual todos devem ter acesso para a manutenção da vida e do equilíbrio ecológico. Por tal razão, a sua gestão é integrada entre diversas políticas públicas e descentralizada entre o Poder Público, o setor econômico e as comunidades, pois todos devem ter acesso a ela e ao planejamento estratégico de sua gestão, inclusive mediante participação em comitês de bacias hidrográficas. Trata-se, assim, de uma gestão democrática da água a fim de garantir a sua qualidade e quantidade de modo intergeracional. Uma vez estabelecidas essas premissas e objetivos, a lei prevê alguns instrumentos que buscam alcançar esse uso adequado e sustentável dos recursos hídricos, tais como os planos de recursos hídricos, a outorga de uso da água e a cobrança pelo seu uso, entre outros. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA Lei nº 9.985/2000 – Lei do Sistema Nacional das Unidades de Conservação, Lei 9.433/97 – Política Nacional dos Recursos Hídricos ANTUNES, Paulo Bessa Nessa obra, Paulo Bessa Antunes discorre de forma pormenorizada sobre as unidades de conservação, de uso sustentável e de uso integral formas de criação e extinção, particularidades, compensação etc. Detalha cada uma de suas modalidades, trazendo aspectos em comum e distinções entre si. Direito do Ambiente, 10ª ed MILARÉ, Édis Em seu trabalho, Édis Milaré aborda o Sistema de Recursos Hídricos desde o seu escopo constitucional e as primeiras leis que disciplinavam a água até a lei ora em vigor. Expõe os órgãos integrantes do sistema e analisa os instrumentos econômicos que dotam a água de um valor ecômico com o objetivo de racionalizar o seu uso. REsp 1071741 / SP, STJ 2ª Turma, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 24/3/2009 Nesse acórdão, o Ministro Herman Benjamin discorre sobre a atribuição de criação de unidades de conservação pelos entes da federação e a obrigatoriedade do Poder Público fiscalizá-las. VIDEOAULA FECHAMENTO DA UNIDADE Vimos nesta unidade os principais conceitos pertinentes às Unidades de Conservação, cuja classificação pode ser sistematizada no quadro abaixo: USO SUSTENTÁVEL Área de Proteção Ambiental (APA) Propriedadepública ou particular. Área em geral extensa. Qualidade de vida; disciplinar processo de ocupação; exploração sustentável Área de Relevante Interesse Ecológico Propriedade pública ou privada. Área de pequena extensão com pouca ocupação humana. Espécies raros da biota regional ou características extraordinárias. Proibidas atividades que as coloquem em risco Floresta Nacional Área de cobertura florestal de espécies predominantemente nativas. Uso múltiplo sustentável de seus recursos e pesquisa científica. Reserva Extrativista Populações extrativistas tradicionais (seringueiros), cuja subsistência dependa desse extrativismo. Proteção à vida e à cultura. Uso sustentável dos recursos. Reserva de Fauna População animal de espécie nativa. Posse e domínio público - áreas particulares devem ser desapropriadas. Proibida a caça amadorística ou profissional. Visitação controlada (plano de manejo). Pesquisas. Comercialização de produtos e subprodutos das pesquisas. Reserva de Desenvolvimento Sustentável Populações tradicionais, cuja subsistência sustentável ocorre por meio de gerações. Qualidade de vida e subsistência dessas populações. Visitação controlada. Pesquisas e educação ambiental. Domínio público. PROTEÇÃO INTEGRAL Reserva Particular do Patrimônio Natural Área privada, proprietário deve conservar a diversidade biológica (termo de compromisso perante órgão ambiental, averbado no Registro de Imóveis). Pesquisa científica e visitação turística, recreativa e educacional. Estação Ecológica Áreas públicas. Valor ecológico determina a sua intocabilidade. Se houver áreas particulares, deverão ser desapropriadas. Plano de manejo define as condições para a realização de pesquisas científicas. Ex. E.E. Bananal Reserva Biológica Área pública. Preservação integral da biota e atributos naturais existentes em seus limites. Visitação proibida, salvo para fins educacionais. Pesquisa científica deve ser autorizada. Parque Nacional Área pública.Estudo científico ou lazer. Preservação dos ecossistemas naturais e belezas cênicas. Visitação pública permitida. Monumento Natural Pode ser área particular, desde que compatível com a sua finalidade. Preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. Refúgio de Vida Silvestre Pode ser área particular, desde que compatível com a sua finalidade. Proteção de ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora e da fauna local ou migratória. Visitação pública controlada. Além disso, estudamos rapidamente o sistema de gerenciamento de recursos hídricos, regido em âmbito federal pela Lei 9.433/97, seus princípios e respectivos instrumentos. Tanto a outorga quanto a cobrança, por exemplo, são estabelecidos pelo Poder Público, que confere o direito de uso da água por tempo determinado e, ao mesmo tempo, cobra uma remuneração a título de uso, em função da quantidade captada de água ou da qualidade do seu lançamento, com o objetivo de estimular o seu uso racional. Além disso, a cobrança de uma remuneração pelo uso da água permite a arrecadação de recursos para o desenvolvimento de programas e tecnologias de proteção desse bem e de suas respectivas bacias hidrográficas. Por falar em recursos hídricos, convém pensar na situação prática nesse tema, nomeadamente a crise hídrica no Estado de São Paulo, sobretudo no ano de 2015. A ausência de água no Sistema Cantareira, adicionado aos períodos longos de estiagem e mananciais poluidos nos fazem refletir a importância de pensarmos na gestão de recursos hídricos de maneira sistêmica e integrada com outras normas e sistemas de proteção ambiental de nosso ordenamento jurídico, já que os recursos naturais não podem ser compreendidos isoladamente. Com efeito, políticas relacionadas às mudanças climáticas e a proteção de mananciais são fulcrais para uma adequada perpetuação das bacias hidrográficas e do abastecimento da população e dos setores agrícolas e industriais, de modo que tanto as reflexões quanto as tomadas de decisões devem ser conjuntas, pensando-se nos respectivos e múltiplos impactos. É preciso desenvolver ações de prevenção de danos e, talvez com maior eficácia, medidas indutoras de proteção e sustentabilidade, tais como pretendeu-se com os planos de gerenciamento de recursos hídricos, a outorga e a cobrança pelo uso da água. REFERÊNCIAS ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 14.ed. São Paulo: Atlas, 2012., p. 646/741. MILARÉ, É. Direito do Ambiente. 10.ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.911/959. II_Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR LEITURA Crise ambiental, direitos à água e sustentabilidade (recurso eletrônico): visões multidisciplinares WOLKMER, M. F. S.; MELO, M. P. (org.). Crise ambiental, direitos à água e sustentabilidade (recurso eletrônico): visões multidisciplinares. Caxias do Sul: Educs, 2012. https://bit.ly/33JTKTw (Links para um site externo.) Gestão do Sistema Cantareira: DAEE - ANA https://bit.ly/33NOle1 (Links para um site externo.) Água Juridicamente Sustentável D’ISEP, Clarissa Ferreira Macedo. Água Juridicamente Sustentável. São Paulo: RT, 2010. https://bit.ly/33JTKTw https://bit.ly/33NOle1 Recursos Minerais e Poluição APRESENTAÇÃO DA UNIDADE A atividade de mineração é uma das mais antigas do Brasil, existente desde o período colonial, em que era uma das principais atividades econômicas nacionais. O tratamento constitucional dos recursos minerais surgiu na Constituição de 1891, que garantia o direito de propriedade das minas aos titulares do domínio sobre o solo, salvo limitações legais a bem da exploração minerária. A Constituição de 1988 trata do tema em seu art. 20, IX, ao estabelecer os recursos minerais, inclusive os do subsolo, como bens da União. Também é da União à competência privativa para legislar sobre jazidas, minas e outros recursos minerais (art. 22, XII). Mais adiante, a CF disciplina a atividade mineradora a ser exercida pelo particular em regime de concessão ou autorização pelo Poder Público, bem como trata da garimpagem. O Código da Mineração atual adveio com o Decreto-Lei 227/1967, sofrendo alterações com a Lei 7805 de 1989 e Lei 9314/96. Tal Código traz os requisitos para o exercício deatividades mineradoras, embora a proteção ambiental por ele conferida seja bastante ínfima. Obviamente quepara uma atividade de mineração ser lícita tal qual prescrita na lei, exige-se o prévio licenciamento ambiental, substanciado inclusive com um Estudo de Impacto Ambiental. A Resolução CONAMA nº 9/90 estabelece as regras referentes ao licenciamento de atividades de extração mineral das classes I, III, IV, VI, VII, VIII e IX do Código das Minas, que foram derrogadas pelo art. 3º da Lei 9.314/961 . Salientamos, ainda, que a Resolução CONAMA nº 10/90 dispensa o EIA/RIMA para determinados tipos de mineração, considerando que nem toda atividade nesse sentido é capaz de apresentar significativo impacto ambiental, requisito para o qual a Constituição Federal obriga a realização desse estudo. Nesse caso, porém, o interessado na atividade deverá apresentar um Relatório de Controle Ambiental. No que diz respeito à reparação, a Constituição determina expressamente a necessidade de reparação de danos pelas atividades mineradoras, no §2º do art. 225. Antunes observa com propriedade que essa reparação apenas pode tratar-se de compensação ambiental, uma vez que a exploração de minas pressupõe tanto a extração de recursos ambientais finitos – os minérios – quanto à formação de crateras em montanhas onde se localizam os minérios, que são alterações do status quo impossíveis de retorno ao estado anterior (2012, p. 958/959). É preciso salientar, porém, que o Decreto No 97.632/1989 estabelece o dever de apresentação de um plano de recuperação da área degradada quando da apresentação do EIA/RIMApelo empreendedor. “Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: (...) II - degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental;” A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei 6.938/91, introduz instrumentos com dois objetivos primordiais: de um lado está a manutenção da sustentabilidade dos recursos naturais, para que tanto as gerações atuais como as futuras possam ter acesso a todas as formas de bem ambiental; de outro está o controle e combate à poluição, como forma de se evitar a degradação do meio ambiente e o desequilíbrio natural. Aliás, analisando-se um panorama mais amplo da evolução das leis ambientais no mundo, verifica-se que elas evoluíram da disciplina do controle de emissões sobre bens ambientais isolados – solo, água, ar – tais quais revelam as Resoluções CONAMA, para uma visão integrada e sistêmica do meio ambiente, procurando prevenir a poluição e desencadear ações de redução de impactos desde a concepção de produtos e serviços, tomando-se em consideração todo um ciclo de vida de produtos, fomentando-se o desenvolvimento e utilização de tecnologias limpas. Esse pensamento de prevenção, baseado, sobretudo no princípio do poluidor-pagador, é o que fomenta também o surgimento de políticas públicas e programas governamentais de redução da poluição em todos os níveis da federação, bem como no desenvolvimento de medidas indutoras de responsabilidade socioambiental no setor produtivo, como ocorre, por exemplo, com as certificações ambientais. ______________________ 1 Para Bessa Antunes (op.cit., p. 950), a derrogação das classes de minérios não afasta a incidência da referida Resolução CONAMA, devendo-se avaliar caso a caso a necessidade de realização de Estudo de Impacto Ambiental ORIENTAÇÃO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA (Links para um site externo.) Direito Ambiental, 14ª ed. (p. 938/968) ANTUNES, Paulo Bessa A obra de Paulo Bessa é um clássico para o direito ambiental e traz os principais aspectos de evolução das normas relativas à mineração no ordenamento brasileiro. Decreto-Lei 227/1967 – Código de Mineração REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 27/8/2014 O julgado trata do acidente com barragens de mineração no Rio Pomba Cataguases, em semelhança ao desastre de Mariana. A leitura é importante para se verificar como o STJ entende a atividade de mineração e a reparação de danos dela decorrente. Apelação nº 0005460-14.2014.8.26.0022, TJSP, Rel. Des. Eutálio Porto, 2ª Câm. Reservada ao Meio Ambiente, j. 18/2/2016 https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502625822 O julgado aborda a reparação de danos por poluição sonora, a imposição de obrigação de não-fazer e a determinação de limites de tolerabilidade. AI 799690 AgR/SP Rel. Min, Rosa Weber, 1ª Turma, j. 10/12/2013 Trata-se de discussão em torno da constitucionalidade da lei Cidade Limpa, do município de São Paulo, visando a tutelar o meio ambiente urbano e impedir a poluição visual. VIDEOAULA FECHAMENTO DA UNIDADE Neste módulo vimos aspectos dos recursos minerais e da poluição. Sobre os recursos minerais, analisamos brevemente a legislação pertinente e vimos que ela aponta falhas na regulação do impacto ambiental causado pela atividade mineradora, já que o seu escopo, quando de sua elaboração, era essencialmente a manutenção da atividade econômica em detrimento da preservação ambiental. Hoje, após o desastre ambiental ocorrido na região de Mariana, em Minas Gerais, vimos que essa lacuna está mais do que evidente, requerendo-se uma revisitação à legislação em vigor para seu aperfeiçoamento em relação à proteção ambiental. Também é preciso cada vez mais focar nesse tema do ponto de vista integrado entre os diversos sistemas de proteção ambiental e de recursos naturais, pois nada está isoladamente no ambiente. O referido desastre ocorreu em uma atividade de mineração, mas envolvendo barragens de rejeitos e contaminação de recursos hídricos. Não podemos nos esquecer que essas alterações adversas sobre o meio ambiente correspondem à poluição e podem revelar-se irreversíveis ao estado anterior, razão pela qual ações de prevenção e de mitigação de riscos devem ser frequentemente priorizadas. E por mencionar o tema da poluição, vimos duas espécies de poluição que impactam sobre o bem estar coletivo e equilíbrio ambiental, comum principalmente nos centros urbanos: a poluição sonora e a poluição visual. A poluição sonora é passível de reparação no formato de indenização pelo dano moral coletivo causado, pela perturbação à qualidade de vida de toda uma comunidade. Por essa razão é tida como dano ambiental mais do que mero dano solucionado pelo direito de vizinhança. Aliás, essa é a visão do STJ sobre o tema. A poluição sonora estará configurada quando emitidos sons acima de determinados níveis de decibéis, estabelecidos como os níveis de tolerabilidade aceitáveis pelo ouvido humano a partir de estudos e levantamentos técnicos. Tanto nesse aspecto quanto no da poluição do ar, os níveis de tolerabilidade são os parâmetros em que a degradação ambiental decorrente de suas emissões é tida como impacto ambiental e não um dano passível de reparação. Em alguns municípios e regras condominiais também está atrelada a emissão de sons a determinados horários, correspondentes aos períodos de descanso, nesse caso uma disciplina normativa voltada para os direitos de vizinhança. Já a poluição visual também é passível de reparação, sobretudo na restauração do estado anterior, quando for possível a remoção daquilo que causa a perturbação visual à coletividade. Visando a garantir um equilíbrio e qualidade de vida do meio ambiente urbano, vários municípios brasileiros desenvolveram políticas públicas no sentido de impedir a afixação de cartazes em ruas e edifícios, acima de determinados padrões, que potencialmente causariam essa percepção de “caos visual”. É o exemplo da Cidade Limpa, no município de São Paulo. REFERÊNCIAS ANTUNES, P. B. Direito Ambiental. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2012., p. 938/968. LEITE, J. R. M.; AYALA, P. A. Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial. Teoria e Prática. 4.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. III_Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR LEITURA Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial. Teoria e Prática. LEITE, J. R. M.; AYALA, P. A. Dano Ambiental. Do individual ao coletivo extrapatrimonial. Teoria e Prática. 4.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. Relatório responsabiliza Samarco Mineração pela tragédia de Mariana Notícia “Relatório responsabiliza Samarco Mineração pela tragédia de Mariana”, Câmara dos Deputados, 12/5/2016 – Disponível em: https://bit.ly/33MUVBR (Links para um site externo.) Lei municipal nº 14.223/06 - Lei cidade limpa/SP Alterações Climáticas e Resíduos Sólidos APRESENTAÇÃO DA UNIDADE A poluição do ar resulta da liberação de micropartículas na atmosfera que prejudicam a qualidade do ar e degradam o meio ambiente, causam danos à saúde e ao bem-estar da população. Durante muito tempo priorizou-se o desenvolvimento econômico, industrial e automobilístico com reduzida preocupação sobre a emissão de poluentes na atmosfera. Na década de 80, constatou-seque os veículos automotores eram responsáveis, por exemplo, por boa parte das emissões lançadas na atmosfera, geradoras de poluição ambiental. No município de Cubatão, no Estado de São Paulo, um município completamente voltado para a indústria, inclusive a petrolífera, os índices de poluição do ar eram alarmantes: além de causarem doenças respiratórias, eram responsáveis pelo nascimento de bebês anencéfalos. As diversas nações ao redor do mundo evoluíram no sentido de desenvolver políticas públicas que minimizassem a redução da https://bit.ly/33MUVBR poluição do ar. No Brasil, a título ilustrativo, foi criado o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCOVE,a fim de estimular o desenvolvimento tecnológico de redução de emissões e melhor aproveitamento da queima do combustível. Também a Resolução CONAMA 18/86 estabeleceu padrões de emissão toleráveis – níveis de tolerabilidade – acima dos quais a emissão se torna ilícita. É preciso ressaltar, porém, que a despeito da determinação de padrões de emissão, a poluição pode ocorrer e gerar efeitos deletérios. Ora, se poluentes e gases de efeito estufa são emitidos ao longo de décadas, ainda que dentro de padrões aceitáveis, necessariamente ocorre um processo de acúmulo de poluição atmosférica que poderá trazer prejuízos no futuro, inclusive potencializando desastres ambientais. É o caso das alterações climáticas. Muitos estudiosos afirmam que o fenômeno das mudanças do clima é algo natural e cíclico, ocorrendo de temposem tempos, como foi na era glacial, para que haja uma “renovação”terrestre, se é que se pode assim dizer. Todavia, a emissão desenfreada de gases de efeito estufa contribui para uma aceleração de alguns desses fenômenos, com o aquecimento global. Relatórios do IPCC afirmam que há uma crescente tendência de elevação da temperatura terrestre, acirrada pelos hábitos culturais de produção e consumo, que poderá impactar não apenas no clima, afetando períodos de estiagem e de chuvas, frio e calor, como também a própria economia, que sentirá os efeitos em sua agricultura, e até na inundação ou desaparecimento de cidades costeiras. Nesse cenário, a Organização Mundial das Nações Unidas vem reiteradamente buscando o apoio e a participação dos países no engajamento do controle das mudanças climáticas. Um dos documentos mais relevantes firmado até o presente foi o Protocolo de Kyoto, que determinou a redução de emissões e, inclusive, criou um mercado de emissões – o mercado de carbono – na tentativa de trazer algum apelo comercial para que países com emissões abaixo do estabelecido pudessem comercializar as suas licenças de emissão a países com altos índices de emissão e buscar a sua gradual adaptação. O Protocolo de Kyoto, apesar de suas inovações e de algumas prorrogações, ainda encontra resistência por parte de alguns países com fortes economias e industrialização, buscando-se alternativas negociadas. Em dezembro de 2015, por outro lado, por ocasião da COP 21, foram estabelecidos novos desenhos para o combate ao aquecimento global, traçando-se metas diferenciadas de emissões para cada país, novas políticas de financiamento de programas voltados ao tema, limitação da elevação da temperatura terrestre em no máximo 2 graus, buscando-se evitar passar de 1,5 grau. No Brasil, já antes da COP 21, no ano de 2009, promulgou-se a Política Nacional sobre Mudança do Clima com a Lei 12.187/2009, mediante a qual se estabeleceu objetivos e princípios voltados à redução de emissões e controle das alterações climáticas, ressaltando-se a responsabilidade comum, porém diferenciada no plano internacional. Foi ali também que se estabeleceu o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões e a inclusão do desenvolvimento de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo em políticas públicas a fim de alcançar esse objetivo preventivo. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA OBRIGATÓRIA Direito do Ambiente, 10ª ed. MILARÉ, Édis A obra de Édis Milaré traz uma criteriosa explicação sobre a política de alterações climáticas entre as páginas 1155 e 1196 e sobre a disciplina dos resíduos sólidos das páginas 1197 a 1251. Direito Ambiental, 14ª ed. ANTUNES, Paulo Bessa Outra leitura de base para os temas supramencionados é a de Paulo Bessa Antunes, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, incluindo os seus instrumentos mais pertinentes, entre as páginas 742 e 786. Lei 12.187/2009 – introduz a Política Nacional de Mudanças Climáticas. Lei 12.305/2010 – introduz a Política Nacional de Resíduos Sólidos. VIDEOAULA FECHAMENTO DA UNIDADE Neste módulo, estudamos, além das políticas de alterações climáticas, a introdução da Política Nacional de Resíduos Sólidos no ordenamento jurídico brasileiro, por meio da Lei 12.305/2010. A referida lei tramitou por aproximadamente duas décadas no Congresso Nacional e inspirou-se nas normas europeias, mais precisamente na Direitiva 98/2008/UE de gestão de resíduos. A PNRS estabelece um novo marco para a gestão de resíduos no Brasil, pois passa a atribuir um valor econômico ao resíduo, para que ele seja reaproveitado na cadeia econômica ou seja matéria prima de outro meio de produção. Ganhando a natureza de um bem suscetível de apreciação econômica, o interesse em sua adequada gestão volta a ressurgir no mercado, a fim de reduzir o desperdício e o depósito em aterros sanitários, que já encontram-se com capacidade praticamente saturada em diversas localidades do país. Desse modo, o maior objetivo da PNRS é evitar a geração de resíduos, estimulando a ecoconcepção, ou seja, a concepção de produtos com menores possibilidades de transformação em resíduos desde a fase da elaboraçao de seu projeto. Em seguida, parte para o incentivo a meios de reutilização e recuperação de resíduos e para a reciclagem. Apenas em último lugar é que se encontra a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos, entendendo-se por rejeitos aqueles que não podem ser valorizados econômicamente. Essa é a hierarquia de tratamento de resíduos determinada pelo art. 9º da Lei 12.306/2010. Por essa razão, é equivocado afirmar que a PNRS é a “lei da reciclagem”. A reciclagem é apenas um aspecto de grande relevância abarcado pela norma, mas o seu objetivo maior e sua prioridade é a não geração de resíduos. Ademais, a lei determina a obrigação dos entes da federação e do setor privado de elaborarem planos de gestão de resíduos. No caso do setor privado, inclusive, sua exigência poderá ser condição para a concessão de licenças ambientais. O escopo desses planos é organizar a gestão de resíduos para que se alcance uma gestão eficiente. A norma também estabelece uma responsabilidade compartilhada pela gestão dos resíduos, qual seja, um conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas entre todos os integrantes da cadeia de produção e consumo: fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e o Poder Público. Haverá aplicação de sanções e de responsabilidade civil no caso de descumprimento desses deveres por cada um desses gestores de risco. Até mesmo o consumidor poderá ser sancionado em multa no caso do descumprimento de suas obrigações determinadas pela Lei. Para algumas espécies de resíduos de produtos, a norma obriga a organização da logística reversa: um sistema de recolha e encaminhamento do resíduo ao responsável pelo seu tratamento ambientalmente adequado. Esse rol não é taxativo, podendo ser estendido a outras espécies de resíduos, de acordo com estudos de viabildiade técnica e econômica. Ele se encontra no art. 33 da lei, conforme abaixo: “Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de: I - agrotóxicos, seus resíduose embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas; II - pilhas e baterias; III - pneus; IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.” Para que haja uma adequada gestão, a PNRS traz alguns instrumentos, dentre eles os acordos setoriais, que correpondem a contratos celebrados entre um setor econômico, o Poder Público e todos os demais agentes que integram a respectiva cadeia de produção e consumo, a fim de que se estabeleça o modo pelo qual a logística reversa ocorrerá e respectivas responsabilidades. Por fim, é preciso destacar a importância de uma correta disponibilização de informação ao consumidor e educação ambiental, a fim de que haja colaboração de todos para que o sistema de gestão de resíduos funcione adequadamente. REFERÊNCIAS LEMOS, P. F. Resíduos Sólidos e Responsabilidade Civil Pós- Consumo. São Paulo: RT, 2011 MILARÉ, É. Direito do Ambiente. Gestão ambiental em foco. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. IV_Material Complementar MATERIAL COMPLEMENTAR LEITURA Consumo Sustentável – Caderno de Investigações Científicas BRASIL. Secretaria Nacional do Consumidor. Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor. Consumo sustentável/ Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor ; Patrícia FagaIglecias Lemos [et al]; coordenação de Patrícia FagaIglecias Lemos, Juliana Pereira da Silva e Amaury Martins Oliva. -- Brasília : Ministério da Justiça, 2013. https://bit.ly/2QL5gZD (Links para um site externo.) Conferência do clima termina com 'acordo histórico' contra aquecimento global BBC BRASIL: “Conferência do clima termina com 'acordo histórico' contra aquecimento global”, reportagem de 12/12/2015. Disponível em: https://bbc.in/3brU10a (Links para um site externo.) Notícia – Países assinam acordo inédito para conter Aquecimento Global FOLHA DE S.PAULO. “Especial sobre a Conferência do Clima”. Disponível em: https://bit.ly/2UxDeBU (Links para um site externo.) https://bit.ly/2QL5gZD https://bbc.in/3brU10a https://bit.ly/2UxDeBU A política das mudanças climáticas GIDDENS, A. A política das mudanças climáticas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010. FILMES Uma Verdade Incoveniente 3 de novembro de 2006 / 1h 38min / Documentário Direção: Davis Guggenheim Elenco: George Bush, George W. Bush, Ronald Reagan Nacionalidade: EUA
Compartilhar