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Aula 10 - Prof. Rodrigo Rennó Administração Pública p/ AFRFB - 2016 (com videoaulas) Professores: Rodrigo Rennó, Sérgio Mendes, Tulio Gomes, Vinícius Nascimento Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 1 de 91 Aula 10: Qualidade, Governo Eletrônico e Transparência Olá pessoal, tudo bem? Na aula de hoje iremos cobrir os seguintes itens: Governo eletrônico e transparência; Qualidade na Administração Pública. Espero que gostem da aula! 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 2 de 91 Sumário Governo Eletrônico. ............................................................................... 4 Relacionamentos existentes com as TICs e a emergência do e-gov .......................... 5 G2C (Government to Citizen/Consumer ou Governo para Cidadão/Cliente) ............. 6 G2B (Government to Business ou Governo para Empresas) .............................. 6 G2G (Government to Government ou Governo para Governo) ........................... 7 Conceito ampliado: o e-governance ........................................................... 8 Princípios e Diretrizes do Governo Eletrônico ................................................ 9 Evolução do e-gov no Brasil ................................................................. 12 CEGE .......................................................................................... 13 Inclusão Digital ............................................................................... 14 Universalização dos Serviços de Telecomunicações ........................................ 14 Certificação Digital ........................................................................... 15 Compras Eletrônicas Governamentais ....................................................... 15 Cartão Magnético ............................................................................. 15 Comércio Eletrônico .......................................................................... 16 Transparência .................................................................................... 16 Transparência no Contexto da LRF .......................................................... 19 Noções sobre Governo Aberto ............................................................... 20 Parceria para Governo Aberto - Open Government Partnership ......................... 21 Portal da Transparência ....................................................................... 24 Gestão da Qualidade. ............................................................................ 25 Eras da Gestão da Qualidade ................................................................. 26 Era da Inspeção da Qualidade ............................................................. 27 Era do Controle Estatístico da Qualidade ................................................. 27 Era da Garantia da Qualidade ............................................................. 28 Era da Gestão da Qualidade Total ......................................................... 28 Principais Autores ou “Gurus” da Qualidade ................................................ 30 Walter Shewart ............................................................................. 30 Ciclo Deming ou PDCA ................................................................... 31 Deming. ..................................................................................... 33 Juran ........................................................................................ 35 Feigenbaum ................................................................................. 36 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 3 de 91 Crosby ...................................................................................... 37 Ishikawa .................................................................................... 38 Ferramentas de gestão da qualidade ......................................................... 38 Diagrama de Causa e Efeito ............................................................... 39 Folha de Verificação ....................................................................... 40 Histograma ................................................................................. 41 Gráfico de Pareto ........................................................................... 42 Diagrama de Correlação ou Dispersão .................................................... 44 Fluxograma ................................................................................. 45 Gráfico de Controle ........................................................................ 46 Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização - Gespública ................. 47 Critérios de Avaliação do Gespública ..................................................... 53 Modelo da Fundação Nacional da Qualidade ............................................... 56 Programa 5S ................................................................................... 60 Six Sigma ...................................................................................... 61 Kaizen ......................................................................................... 63 Questões Comentadas ........................................................................... 65 Lista de Questões Trabalhadas na Aula. ........................................................ 80 Gabarito .......................................................................................... 89 Bibliografia ...................................................................................... 89 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 4 de 91 Governo Eletrônico. A evolução das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como a internet, as redes de computadores, as comunicações via satélite e celular, criaram um ambiente propício para o desenvolvimento da Sociedade do Conhecimento1. Estas novas tecnologias estão possibilitando uma atuação do Estado mais presente na vida do cidadão, com o aprimoramento de vários serviços públicos. Neste contexto, o governo eletrônico é a forma pela qual os governos, de acordo com a ONU2, podem usar a internet e a Web para disponibilizar informação e serviços aos cidadãos. Já para a OCDE3, o governo eletrônico é definido como o uso das TIC, em particular a internet, como ferramenta para levar a um melhor governo. Já para Diniz4, a ideia de governo eletrônico está ligada a duas dimensões: uma relacionada à modernização da administração pública por meio da utilização destas tecnologias de informação e comunicação (TIC) e na melhoria dos processos administrativos; a outra dimensão seria ligada ao uso da internet para a prestação de serviços públicos eletrônicos. De acordo com o site GOV.BR5, “A rede mundial tornou-se um desafio para as empresas, instituições e organismos do governo em todo o mundo e não há como escapar desse processo de transformação da sociedade. Para todos aqueles que tiverem meios de acesso, as informações são diversas, públicas e gratuitas e, para os que não têm, o Estado assume um papel muito importante, voltado para a democratizaçãodo acesso à rede e a prestação eficiente de seus serviços aos cidadãos, usando as tecnologias de informação e comunicação (TIC's)”. Assim, o governo eletrônico, ou governança eletrônica, é uma ferramenta essencial para que o Estado possa aumentar a transparência de 1 (Braga, Alves, Figueiredo, & Santos, 2008) 2 (ONU, 2002) apud (Braga, Alves, Figueiredo, & Santos, 2008) 3 (OCDE, 2003) apud (Braga, Alves, Figueiredo, & Santos, 2008) 4 (Diniz, Barbosa, Junqueira, & Prado, 2009) 5 Fonte: http://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/principios 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 5 de 91 seus atos e programas para a sociedade ao mesmo tempo em que aumenta sua eficiência e eficácia. Portanto, podemos pensar tanto no governo eletrônico como uma forma de modernizar a própria gestão da máquina pública, quanto em uma forma mais moderna e eficiente de prestar serviços públicos aos seus cidadãos. O governo eletrônico se insere, portanto, dentro deste panorama da utilização da internet e das tecnologias de comunicação por todos os agentes da sociedade para trocar informação, vender, comprar, prestar serviços, etc. Fique atento! Uma “pegadinha” comum das bancas é dizer que o Governo Eletrônico engloba somente as tecnologias da informação ou a Internet. O E-gov abrange também as tecnologias de comunicação, como o rádio e a televisão, por exemplo. No caso brasileiro, a adoção do governo eletrônico implica em uma postura mais moderna do Estado perante seus cidadãos e está associado a emergência de temas como o controle social e a maior transparência, bem como a accountability. Relacionamentos existentes com as TICs e a emergência do e-gov Dentre os tipos de relacionamento de negócios privados que são encontrados na internet, Nunes e Vendrametto citam6: B2C (Business to Consumer ou Negócios-Consumidores) – é o meio mais conhecido, em que empresas atendem diretamente ao consumidor final. Neste caso, estão incluídas todas as lojas virtuais e portais institucionais de empresas. Quando compramos algum produto em um site (como a “americanas.com.br”, por exemplo) estamos nos utilizando deste tipo; B2B (Business to Business ou Negócio a Negócio) – neste caso, o que ocorre é a troca de informação ou compra e venda de produtos entre empresas. Portanto, é o uso da internet por empresas, para que estas tenham maior facilidade para negociar entre si. Assim, só participam pessoas jurídicas; 6 (Nunes & Vendrametto, 2009) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 6 de 91 Com a disseminação da utilização da internet para o atendimento das demandas de empresas e clientes, o governo se viu cada vez mais cobrado pela população para que passasse a utilizar estas ferramentas. Estas iniciativas, também chamadas de e-gov, ou e-government podem ser desdobradas nestes relacionamentos7: G2C (Government to Citizen/Consumer ou Governo para Cidadão/Cliente) Abrange a utilização da internet e das TIC para o governo atender diretamente aos cidadãos e melhorar a qualidade de seus serviços públicos. Dentre as iniciativas mais conhecidas, podemos citar a utilização das urnas eletrônicas nas eleições (que reduziu enormemente as filas e o tempo de apuração dos resultados) e o recebimento das declarações de imposto de renda pela internet (que possibilita o preenchimento e a entrega dos dados pelo contribuinte no conforto de seu lar). G2B (Government to Business ou Governo para Empresas) É o relacionamento do governo com as empresas, através da utilização da internet e das TIC. O governo busca com estas iniciativas tanto uma melhoria no tempo e nos custos de suas aquisições, bem como o incentivo a determinados negócios e um melhor acesso de pequenos negócios a estas oportunidades de negócios que as compras do governo possibilitam. De acordo com Zimath8: “As iniciativas voltadas para o setor empresarial, o G2B, surgem para atender uma demanda das organizações atualmente munidas de computadores, sistemas de informações gerenciais, aplicações em comércio eletrônico, intranet, extranet. O e-gov permite o “diálogo” digital entre empresas e governo, reduzindo custos, promovendo o desenvolvimento de determinados segmentos e regiões e viabilizando negócios. ” 7 (Nunes & Vendrametto, 2009) 8 (Zimath, 2003) apud (Nunes & Vendrametto, 2009) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 7 de 91 Dentre as experiências de sucesso nesta área podemos citar o portal Comprasnet, que proporciona uma visão global de todas as compras efetuadas pelo governo federal9. Os fornecedores têm acesso aos editais e podem participar dos pregões eletrônicos. Já os gestores têm acesso aos preços e catálogos de materiais de modo mais fácil e rápido. G2G (Government to Government ou Governo para Governo) O governo federal também se relaciona com outros entes federados através das TIC. Quando os estados utilizam o portal do CAUC, Cadastro Único de Convênios, para checar se existem pendências com a União estão fazendo uso deste tipo de relacionamento. Desta forma, a internet e as TIC serão cada vez mais utilizadas para que os governos possam trocar informação e se relacionar. Figura 1 - Relacionamentos do e-gov De acordo com Paludo10, as ações do governo eletrônico visam: Permitir maior participação do cidadão, com vistas ao fortalecimento da cidadania; Oferecer serviços diversos diretamente pela internet; Fornecer uma enorme e variada quantidade de informações de interesse da sociedade; 9 (Nunes & Vendrametto, 2009) 10 (Paludo A. , 2013) E-gov G2C - Governo para Cidadãos G2B - Governo para Empresas G2G - Governo para Governos 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 8 de 91 Desburocratizar, facilitar e expandir as formas de comunicação com os cidadãos, a sociedade em geral, órgãos públicos e governos, com vistas a melhorar a governança; Aumentar a eficiência administrativa, com redução simultânea de custos; Melhorar a eficácia e os resultados da gestão pública; Aumentar a transparência das ações governamentais; Promover o accountability governamental. Cabe lembrar que não é só o governo federal que está envolvido nas ações de governo eletrônico. Os estados e municípios também estão atuando fortemente nesta área e buscando ampliar seus serviços eletrônicos. Conceito ampliado: o e-governance Atualmente, muitos já pensam o conceito de governo eletrônico, e- gov, como ainda mais abrangente: de governança eletrônica. A governança pode ser definida como a capacidade do Estado de formular e implementar as políticas públicas, além da articulação dos interesses dos cidadãos e o exercício dos seus deveres e direitos. Para a Unesco11, “A e-governança pode ser entendida como a performance desta governança por meio eletrônico de modo a facilitar um processo de disseminação das informações ao público e outros órgãos de maneira eficiente, rápida e transparente, além de desenvolver as atividades administrativas do governo”. De acordo coma própria Unesco, a e-governança pode ter os seguintes campos de aplicação: Campo de Atuação Descrição Administração eletrônica (e-administration) Refere-se a melhoria dos processos governamentais e do funcionamento interno do setor público com as novas 11 Fonte: http://portal.unesco.org/ci/en/ev.php- URL_ID=4404&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 9 de 91 tecnologias de informação e comunicação. Serviços eletrônicos (e-services) Refere-se a melhoria na prestação de serviços à população. Alguns exemplos seriam: requisição de documentos públicos, pedidos de certidões, emissão de permissões e licenças. Democracia eletrônica (e-democracy) Envolve uma participação maior e mais ativa dos cidadãos no processo decisório do Estado através das novas tecnologias. Princípios e Diretrizes do Governo Eletrônico O Governo Eletrônico deve seguir, no Brasil, um conjunto de diretrizes que atuam nas seguintes frentes fundamentais12: 1. Junto ao cidadão; 2. Na melhoria da sua própria gestão interna; 3. Na integração com parceiros e fornecedores. Estas diretrizes gerais de implantação e operação do Governo Eletrônico funcionam no âmbito dos Comitês Técnicos de Governo Eletrônico e servem de referência para estruturar as estratégias de intervenção, sendo adotadas como orientações para todas as ações de governo eletrônico, gestão do conhecimento e gestão da TI em toda a Administração Pública Federal. De acordo com o site GOV.BR, as diretrizes são13: 1 - A prioridade do Governo Eletrônico é a promoção da cidadania A política de governo eletrônico do governo brasileiro abandona a visão que vinha sendo adotada, que apresentava o cidadão-usuário antes 12 Fonte: http://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/principios 13 Fonte: http://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/principios 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 10 de 91 de mais nada como “cliente” dos serviços públicos, em uma perspectiva de provisão de inspiração neoliberal. O deslocamento não é somente semântico. Significa que o governo eletrônico tem como referência os direitos coletivos e uma visão de cidadania que não se restringe à somatória dos direitos dos indivíduos. Assim, forçosamente incorpora a promoção da participação e do controle social e a indissociabilidade entre a prestação de serviços e sua afirmação como direito dos indivíduos e da sociedade. Essa visão, evidentemente, não abandona a preocupação em atender as necessidades e demandas dos cidadãos individualmente, mas a vincula aos princípios da universalidade, da igualdade perante a lei e da equidade na oferta de serviços e informações. 2 - A Inclusão Digital é indissociável do Governo Eletrônico A Inclusão digital deve ser tratada como um elemento constituinte da política de governo eletrônico, para que esta possa configurar-se como política universal. Esta visão funda-se no entendimento da inclusão digital como direito de cidadania e, portanto, objeto de políticas públicas para sua promoção. Entretanto, a articulação à política de governo eletrônico não pode levar a uma visão instrumental da inclusão digital. Esta deve ser vista como estratégia para construção e afirmação de novos direitos e consolidação de outros pela facilitação de acesso a eles. Não se trata, portanto, de contar com iniciativas de inclusão digital somente como recurso para ampliar a base de usuários (e, portanto, justificar os investimentos em governo eletrônico), nem reduzida a elemento de aumento da empregabilidade de indivíduos ou de formação de consumidores para novos tipos ou canais de distribuição de bens e serviços. 3 - O Software Livre é um recurso estratégico para a implementação do Governo Eletrônico O software livre deve ser entendido como opção tecnológica do governo federal. Onde possível, deve ser promovida sua utilização. Para tanto, deve-se priorizar soluções, programas e serviços baseados em software livre que promovam a otimização de recursos e investimentos em tecnologia da informação. Entretanto, a opção pelo software livre não pode ser entendida somente como motivada por aspectos econômicos, mas pelas possibilidades que abre no campo da produção e circulação de conhecimento, no acesso a novas tecnologias e no estímulo ao 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 11 de 91 desenvolvimento de software em ambientes colaborativos e ao desenvolvimento de software nacional. A escolha do software livre como opção prioritária onde cabível, encontra suporte também na preocupação em garantir ao cidadão o direito de acesso aos serviços públicos sem obrigá-lo a usar plataformas específicas. 4 - A gestão do conhecimento é um instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas do Governo Eletrônico A Gestão do Conhecimento é compreendida, no âmbito das políticas de governo eletrônico, como um conjunto de processos sistematizados, articulados e intencionais, capazes de assegurar a habilidade de criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar conhecimentos estratégicos que podem servir para a tomada de decisões, para a gestão de políticas públicas e para inclusão do cidadão como produtor de conhecimento coletivo. 5 - O Governo Eletrônico deve racionalizar o uso de recursos O governo eletrônico não deve significar aumento dos dispêndios do governo federal na prestação de serviços e em tecnologia da informação. Ainda que seus benefícios não possam ficar restritos a este aspecto, é inegável que deve produzir redução de custos unitários e racionalização do uso de recursos. Grande parte das iniciativas de governo eletrônico pode ser realizada através do compartilhamento de recursos entre órgãos públicos. Este compartilhamento pode se dar tanto no desenvolvimento quanto na operação de soluções, inclusive através do compartilhamento de equipamentos e recursos humanos. Deve merecer destaque especial o desenvolvimento compartilhado em ambiente colaborativo, envolvendo múltiplas organizações. 6 - O Governo Eletrônico deve contar com um arcabouço integrado de políticas, sistemas, padrões e normas O sucesso da política de governo eletrônico depende da definição e publicação de políticas, padrões, normas e métodos para sustentar as ações de implantação e operação do Governo Eletrônico que cubram uma série de fatores críticos para o sucesso das iniciativas. 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 12 de 91 7 - Integração das ações de Governo Eletrônico com outros níveis de governo e outros poderes A implantação do governo eletrônico não pode ser vista como um conjunto de iniciativas de diferentes atores governamentais que podem manter-se isoladas entre si. Pela própria natureza do governo eletrônico, este não pode prescindir da integração de ações e de informações. A natureza federativa do Estado brasileiro e a divisão dos Poderes não pode significar obstáculo para a integração das ações de governo eletrônico. Cabe ao Governo Federal um papel de destaque nesse processo, garantindo um conjunto de políticas, padrõese iniciativas que garantam a integração das ações dos vários níveis de governo e dos três Poderes. Evolução do e-gov no Brasil A evolução da utilização das tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no Brasil seguiu as seguintes etapas14: Etapa Descrição Pioneirismo (Anos 1950 até meados dos anos 1960) As primeiras aplicações de TIC consistiam em máquinas eletromecânicas que tabulavam dados e eram usados para calcular folhas de pagamento e para cálculos contábeis. Centralização (Meados dos 1960 até os 1970) Nesta época, foram criadas as primeiras empresas estatais dedicadas a TI, como o Serpro. Novos serviços foram criados, como os cadastros de contribuintes, cadastros sociais (PIS/PASEP), controles de imposto de renda, etc. Terceirização (anos 1980) Com a crise fiscal dos anos 80, os centros de dados perderam recursos e pessoal capacitado, com perda tecnológica crescente. Com isso, muitos serviços foram terceirizados pelo Estado. O foco das empresas estatais nesse momento esteve no fortalecimento dos sistemas de administração governamentais, buscando a integração dos órgãos do governo. Como exemplo dos sistemas criados nessa época temos o SIAFI e o RENAVAM. 14 (Reinhard & Dias, 2005) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 13 de 91 Governo eletrônico (a partir dos anos 1990) Três fatores foram importantes para as mudanças no setor de TIC no Brasil e no mundo: O aparecimento dos PCs, computadores pessoais; Popularização da Internet; Privatização do setor de telecomunicações, que reduziu os preços e facilitou o acesso aos serviços; Como exemplos de serviços que apareceram nessa época, temos o portal ComprasNet, o recebimento eletrônico das declarações de IR pela Receita Federal, bem como o Sistema de Pagamentos Brasileiro. CEGE O governo brasileiro vem praticando uma política de incentivo à utilização da internet como maneira de melhor atender aos cidadãos em empresas, além de melhorar a governança pública, ou seja, a gestão dos recursos públicos para poder atender aos desejos e necessidades da sociedade. A coordenação destas ações no governo brasileiro é função do Comitê Executivo de Governo Eletrônico – CEGE. Este comitê elegeu como princípios de sua atuação15: a promoção da cidadania como prioridade; a indissociabilidade entre inclusão digital e o governo eletrônico; a utilização do software livre como recurso estratégico; a gestão do conhecimento como instrumento estratégico de articulação e gestão das políticas públicas; a racionalização dos recursos; a adoção de políticas, normas e padrões comuns; a integração com outros níveis de governo e demais poderes. De acordo com Pinto e Fernandes16, a implementação do programa do governo eletrônico abrange um conjunto de projetos e ações: “Em primeiro lugar, os projetos voltados para a oferta de serviços e informações ao cidadão em meio eletrônico, particularmente por meio de 15 (CEGE, 2004) apud (Nunes & Vendrametto, 2009) 16 (Pinto & Fernandes, 2005) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 14 de 91 sítios na Internet. A criação e desenvolvimento de portais integradores de serviços e informações tem sido a principal iniciativa. Em segundo lugar, a expansão e melhoria da infra-estrutura de redes de comunicação, destacando-se a constituição da denominada Infovia Brasil, que será uma rede de alto desempenho para uso exclusivo da administração pública federal9. Em terceiro lugar, a convergência e integração entre os sistemas e bases de dados. Avanço relevante nesse sentido foi a definição inicial dos padrões de interoperabilidade para sistemas e equipamentos de informática que deverão orientar a estratégia de integração10. Finalmente, a construção do marco legal e normativo para as transações eletrônicas tem sido prioridade que afeta não somente o desenvolvimento dos serviços do Governo ao cidadão, como também toda a vasta gama de atividades no âmbito do comércio eletrônico. ” Assim, estes projetos englobam diversas iniciativas que buscam fortalecer o governo eletrônico. Estas iniciativas transversais são fundamentais para criar uma infraestrutura para que o governo eletrônico seja eficaz e eficiente17: Inclusão Digital Abrange iniciativas de cunho social, de forma a possibilitar que pessoas mais necessitadas não fiquem alijadas dos conhecimentos e instrumentos necessários para que participem da internet e do governo eletrônico. Uma das ações inseridas neste contexto é a ampliação dos telecentros, bem como o fornecimento de acesso em locais remotos e a um preço mais acessível para a população mais carente. Universalização dos Serviços de Telecomunicações Fundamental para que a iniciativa anterior funcione, esta universalização deve proporcionar acesso aos serviços de telecomunicações 17 (Pinto & Fernandes, 2005) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 15 de 91 em todo o território nacional e engloba a telefonia e as redes de dados digitais. Dentre as ações que são inseridas neste contexto, temos: a informatização das bibliotecas, de redes de ensino, de instituições de saúde e ampliação da oferta de conectividade à internet18. Certificação Digital A certificação digital busca, através da disseminação das chaves públicas de segurança, garantir o sigilo e a segurança nas informações, pagamentos e transações online. Estas chaves públicas de segurança são fundamentais para que o governo eletrônico possa funcionar, pois garante a integridade das informações e que somente as pessoas e empresas autorizadas tenham acesso aos seus próprios dados fiscais e cadastrais. Compras Eletrônicas Governamentais Envolve a disponibilização de informações sobre as compras governamentais e a modalidade de compra conhecida como pregão eletrônico. Esta modalidade aumenta a transparência sobre as aquisições do governo, bem como busca aumentar a competição entre os licitantes e reduzir o custo total para o Estado. O portal utilizado no momento pelo governo federal é o www.comprasnet.gov.br. Cartão Magnético O pagamento de auxílios como o Bolsa-família, entre outros, através de cartões magnéticos possibilita uma redução de custos e o aumento do controle sobre estes programas19. Por meio da utilização destes cartões, o governo pode ter um controle mais eficaz do funcionamento do programa e dos dados destes beneficiários. 18 (Pinto & Fernandes, 2005) 19 (Pinto & Fernandes, 2005) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 16 de 91 Comércio Eletrônico Existem diversas iniciativas que estão inseridas neste contexto. A definição dos marcos legais que regulam o comércio eletrônico é uma delas. Outra ação é a inclusão digital de micro e pequenas empresas. De certa forma, busca-se criar o arcabouço jurídico que dê segurança a todas as partes que operam no comércio eletrônico, além de criar condições que possibilitem às pequenas empresas participar deste processo. Transparência Cadavez mais, a transparência nas ações governamentais é vista como elemento necessário para que o país possa reduzir as suas desigualdades, aumentar sua eficiência e atingir o seu pleno desenvolvimento. De acordo com Matias-Pereira20, “A transparência do Estado se efetiva por meio do acesso do cidadão à informação governamental, o que torna mais democrática as relações entre o Estado e sociedade civil. ” De acordo com Vieira21, “A promoção da transparência e do acesso à informação é considerada medida indispensável para o fortalecimento da democracia, uma vez que possibilita que o poder público seja exercido de forma aberta e às vistas dos cidadãos, os quais podem, então, acompanhar, avaliar e controlar a gestão do interesse público”. Assim, ser transparente é dar acesso para a sociedade de todos os atos e decisões públicas. É informar à sociedade e deixar disponíveis dados e informações que possibilitem uma análise e eventual crítica da atuação do Estado. Mais informado, o cidadão poderá avaliar melhor as políticas públicas, os diversos governantes e fazer melhores escolhas quando for votar. Assim, somente quando o cidadão conhece as ações governamentais, seus motivos e possibilidades, ele conseguirá cobrar comportamentos e decisões dos seus governantes de modo mais efetivo. 20 (Matias-Pereira, 2006) 21 (Vieira, 2012) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 17 de 91 De acordo com Torres22, a transparência e a disponibilização da informação no setor público consagram, entre outros, dois grandes objetivos: atacar o importante problema da corrupção e propiciar o aperfeiçoamento constante das ações estatais. Uma das iniciativas mais interessantes nessa área é o Portal da Transparência do governo federal, que é uma iniciativa da CGU que busca dar transparência aos gastos do Poder Executivo federal. Infelizmente, ainda temos muito a avançar neste ponto em nosso país. Nosso Estado ainda é pouco transparente. Muitas ações são pouco divulgadas e as decisões são tomadas sem uma clareza de quais foram os objetivos e alternativas disponíveis. De acordo com Oliveira23, “Há dois grandes desafios a serem superados para se obter uma divulgação das informações públicas adequada ao controle social: a falta de vontade política e a falta de conhecimento técnico sobre como organizar as informações”. A falta de vontade política existe em muitos órgãos, pois muitas lideranças desejam utilizar a máquina pública para objetivos patrimonialistas, clientelistas e fisiologistas. Para isso, quanto menos informação a sociedade tiver, melhor será para eles. Entretanto, existe também um desconhecimento geral também por parte dos servidores públicos de quais são as informações que devem ser disponibilizadas e em qual formato elas devem ficar à disposição do público. Isso é importante, porque não adianta simplesmente “jogar” os dados em um site de qualquer jeito. Isso não é ser transparente. As informações devem estar disponíveis em uma linguagem comum, de entendimento fácil para o público em geral. Outro fator importante é o seguinte: os dados devem estar disponíveis de forma que cada cidadão possa trabalhar com eles, possa fazer suas próprias análises. Assim, não devem vir pré-formatados por critérios pouco claros. O objetivo aqui é evitar que os dados sejam manipulados e distorcidos pelo governo de plantão, em busca de acobertar seus erros ou propagandear seus resultados positivos. Portanto, os cidadãos não têm somente o direito de receber um relatório, um documento já trabalhado pelo governo, mas sim à informação primária: os dados “brutos”, como planilhas, vídeos, áudios, 22 (Torres, 2004) 23 (Oliveira, 2012) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 18 de 91 gráficos e demais informações, desde que estes que não estejam protegidos por sigilo ou envolvam dados pessoais. Deste modo, uma maior profissionalização dos servidores e da máquina estatal é fundamental para que tenhamos uma maior transparência do Estado perante seus cidadãos. Alguns órgãos ainda estão com déficit de profissionais capacitados para atender à demanda atual de informação dos cidadãos, quanto mais para atender ao crescimento esperado da demanda por informações no futuro. Esse é um desafio que deve ser vencido pelas próximas administrações no Brasil para que o Estado esteja pronto para ser efetivamente transparente. A própria sociedade deve aprender a solicitar informações ao Estado. De nada adianta o direito de acesso às informações, se as pessoas não sabem utilizar as ferramentas, nem sabem quais informações devem pedir. Para que este movimento de ampliação da transparência possa acontecer, a Tecnologia da Informação e o que se conceituou de governo eletrônico são aspectos fundamentais. Entretanto, uma coisa deve ficar clara: o aspecto mais importante para sabermos se estamos ou não sendo transparentes não é o tecnológico! Não basta usarmos as tecnologias de informação mais avançadas se não utilizamos uma linguagem simples, se não estamos abertos a uma interação maior com o usuário e não utilizamos essas ferramentas como subsídio para aprimorar a gestão. A dimensão político-institucional é mais importante do que a dimensão tecnológica para que um governo seja transparente. ͻEnvolve dar acesso para a sociedade de todos os atos e decisões públicas ͻEstá associada ao conceito de Accountability ͻPossibilita o Controle Social Transparência 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 19 de 91 Transparência no Contexto da LRF Com a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, a transparência no Brasil ganhou um grande impulso. Esta lei veio exigir dos governos diversos instrumentos de transparência atualmente consagrados, como o Relatório de Gestão Fiscal - RGF e o Relatório Resumido de Execução Orçamentária - RREO. De acordo com Paludo24, a LRF foi um divisor de águas na história das finanças em termos de transparência das contas públicas no Brasil. Desde então, os diversos governos têm aprimorado seus instrumentos de transparência, de forma a cumprir com a LRF. Estes instrumentos têm possibilitado uma tomada de consciência que antes não se via do estado das contas governamentais e das prioridades e qualidades das diferentes gestões públicas. Assim, a democracia participativa passa a se tornar realidade, pois somente com instrumentos que facilitem a participação dos cidadãos o controle da sociedade sobre o Estado pode ocorrer. Abaixo, podemos ver os artigos 48, 48-A e 49 da LRF, que detalham os instrumentos de transparência da lei: Da Transparência da Gestão Fiscal “Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos. Parágrafo único. A transparência será assegurada também mediante: I – incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; II – liberação ao plenoconhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público; III – adoção de sistema integrado de administração financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A. 24 (Paludo A. V., 2010) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 20 de 91 Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art. 48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a: I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado; II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários. Art. 49. As contas apresentadas pelo Chefe do Poder Executivo ficarão disponíveis, durante todo o exercício, no respectivo Poder Legislativo e no órgão técnico responsável pela sua elaboração, para consulta e apreciação pelos cidadãos e instituições da sociedade. Parágrafo único. A prestação de contas da União conterá demonstrativos do Tesouro Nacional e das agências financeiras oficiais de fomento, incluído o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, especificando os empréstimos e financiamentos concedidos com recursos oriundos dos orçamentos fiscal e da seguridade social e, no caso das agências financeiras, avaliação circunstanciada do impacto fiscal de suas atividades no exercício. ”25 Noções sobre Governo Aberto Atualmente, estamos presenciando o crescimento de um novo paradigma no setor público: o aparecimento e crescimento da noção de Governo Aberto, um movimento criado para tornar os governos mais efetivos, transparentes e responsivos aos desejos e necessidades dos seus cidadãos. O conceito de Governo Aberto reflete uma mudança de cultura organizacional no setor público. De um governo que dialoga pouco com seus cidadãos, devemos ir ao encontro de um governo mais aberto ao diálogo, mais transparente em suas ações e mais aberto ao aprendizado com a experiência de outros governos. Um governo que busca aplicar o conceito de Governo Aberto em sua gestão deve imprimir em seus projetos, ações e programas uma maior transparência, deve prestar contas de suas ações, deve envolver seus cidadãos e usuários da definição de suas políticas públicas e deve buscar a 25 Lei Complementar n° 101/2000 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 21 de 91 inovação sempre que possível, ou seja, deve utilizar todos os novos recursos tecnológicos disponíveis26. O governo brasileiro sido um dos pioneiros na adoção dos princípios do Governo Aberto. Em parceria com diversos outros países, foi um dos criadores da “Parceria para Governo Aberto” ou “Open Government Partnership”. Parceria para Governo Aberto - Open Government Partnership A Parceria para Governo Aberto (Open Government Partnership, em inglês) foi lançada em 2011 e é uma iniciativa multilateral internacional, que hoje conta com a participação de 65 países, e tem o objetivo de tornar os governos mais abertos, efetivos e responsáveis por meio da construção de compromissos concretos que promovam a transparência, a luta contra a corrupção, a participação social e o fomento ao desenvolvimento de novas tecnologias27. A parceria foi criada por oito governos considerados “fundadores”: Brasil, Indonésia, Filipinas, México, Noruega, África do Sul, Inglaterra e Estados Unidos. Os quatro princípios do governo aberto, segundo a Open Government Partnership (OGP) são os seguintes28: Transparência - As informações sobre as atividades de governo são abertas, compreensíveis, tempestivas, livremente acessíveis e atendem ao padrão básico de dados abertos. Prestação de Contas e Responsabilização (Accountability) - Existem regras e mecanismos que estabelecem como os atores justificam suas ações, atuam sobre críticas e exigências e aceitam as responsabilidades que lhes são incumbidas. Participação Cidadã - O governo procura mobilizar a sociedade para debater, colaborar e propor contribuições que levam a um governo mais efetivo e responsivo. Tecnologia e Inovação - O governo reconhece a importância das novas tecnologias no fomento à inovação, provendo acesso à tecnologia e ampliando a capacidade da sociedade de utilizá- la. 26 Fonte: http://www.governoaberto.cgu.gov.br/a-ogp/o-que-e-governo-aberto 27 Fonte: http://www.opengovpartnership.org/ 28 Fonte: http://www.governoaberto.cgu.gov.br/a-ogp/o-que-e-governo-aberto 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 22 de 91 Segundo a Declaração de Governo Aberto da OGP, para um governo ser considerado aberto, ele deve buscar alcançar quatro objetivos29: Figura 2 - Objetivos de um Governo Aberto de acordo com a OGP Para que um país possa participar da OGP, deve demonstrar cumprir alguns requisitos mínimos, como: transparência fiscal, acesso à informação, disponibilização dos dados bens e renda dos agentes públicos e a participação cidadã30. Assim, os requisitos mínimos para a participação de um governo como membro da OGP estão descritos abaixo: Requisitos Mínimos Descrição Transparência Fiscal Publicação rotineira e consistente dos dados orçamentários Acesso à Informação Deve haver uma lei de acesso à informação que garanta o direito do cidadão aos dados e informações que são essenciais ao governo aberto. Divulgação de declarações patrimoniais por autoridades Regras que demandam a disponibilização dos dados de renda e patrimônio dos agentes 29 Fonte: http://www.governoaberto.cgu.gov.br/a-ogp/o-que-e-governo-aberto 30 Fonte: http://www.opengovpartnership.org/sites/default/files/attachments/leaflet_web.pdf Aumentar a disponibilidade de informações sobre atividades governamentais Apoiar a participação social Implementar os padrões mais altos de integridade profissional na Administração Ampliar o acesso a novas tecnologias para fins de abertura e prestação de contas 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 23 de 91 políticos eleitos e agentes públicos. Participação cidadã Para que o Governo Aberto exista são necessárias liberdades civis e uma abertura para a participação social e engajamento dos cidadãos na definição das políticas públicas e ações governamentais. Dentro do governo brasileiro, a CGU (Controladoria-Geral da União) foi o órgão responsável por liderar a inserção do Brasil na Parceria para Governo Aberto (OGP). Para isso, entrou em articulação com diversos órgãos públicos e com a sociedade civil para construir os Planos de Ação Brasileiros. Jáestamos no segundo plano de ação. Dentre algumas ações do nosso governo para desenvolver o Governo Aberto, temos algumas muito importantes31: Iniciativas do Governo Aberto Descrição Banco de Preço da Administração Pública Federal Criação de um banco de dados que contenha um preço de referência dos produtos mais comprados pelo Governo Federal, a partir dos dados publicados no portal da transparência, possibilitando a identificação de preços médios dos produtos, constituindo estratégia eficiente para a elaboração de orçamentos e licitações, para a disseminação de melhores práticas nas compras públicas, bem como para o apoio às ações de combate à corrupção, nas circunstâncias em que se verifique a existência de aquisições com sobre preço. Projeto Cidades Digitais O objetivo é implantar uma infraestrutura de conexão à internet em municípios, interligando órgãos públicos. A proposta ainda buscará fomentar o uso de ferramentas de governo eletrônico na gestão pública municipal, além de viabilizar a formação de uma rede digital 31 Fonte: http://www.governoaberto.cgu.gov.br/no-brasil/planos-de-acao-1/2o-plano-de- acao-brasileiro 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 24 de 91 aberta voltada para a troca de experiências e de conteúdo. Dados Educacionais Abertos Adequação dos dados educacionais já disponibilizados pelo MEC ao formato de dados abertos, de modo aderente aos princípios de dados abertos e à Infraestrutura Nacional de Dados Abertos, INDA, possibilitando a ampliação do acesso pelo cidadão, inclusive com disponibilização de consultas com filtros e com o acesso a formatos que permitam tratamento amigável. Abertura dos dados da execução do orçamento da União e das compras governamentais Realizar a abertura dos dados da Lei Orçamentária Anual (LOA), da execução orçamentária e das informações sobre compras governamentais seguindo os princípios dos dados abertos. Também serão abertos dados do Sistema Integrado de Administração de Serviços Gerais (SIASG). O objetivo é disponibilizar plataformas para que os cidadãos tenham acesso às informações atualizadas sobre a execução orçamentária e a respeito de compras, licitações, atas de registro de preços e outros dados do processo de compras do Governo federal. Sistema Eletrônico para Consultas Públicas Consiste na implantação de um sistema eletrônico, por meio do qual a Anvisa pretende tornar o processo de Consultas Públicas mais acessível ao usuário, ágil e transparente, com destaque para o FormSUS, que possibilitará o acompanhamento das contribuições em tempo real pelo público interessado. O principal objetivo do projeto é o de garantir maior transparência das contribuições recebidas e estimular a participação social nas Consultas Públicas da Anvisa. Portal da Transparência O Portal da Transparência do Governo Federal foi lançado em 2004 e é responsabilidade da Controladoria-Geral da União (CGU), que recebe os dados de diversos órgãos do governo, como a Secretaria do Tesouro Nacional e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, e disponibiliza em seu portal. 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 25 de 91 Esta é uma das iniciativas mais interessantes por parte do Estado para suprir o cidadão com informações relevantes sobre a atuação governamental Dentro do portal da transparência federal, podemos encontrar32: Informações sobre Transferências de Recursos, para estados, municípios, pessoas jurídicas, e feitas ao exterior, ou diretamente a pessoas físicas; Informações sobre gastos diretos do Governo Federal, como: contratação de obras, serviços e compras governamentais, além das diárias pagas e os gastos feitos em cartões de pagamento do Governo Federal; Informações diárias sobre a execução orçamentária e financeira; Informações sobre receitas previstas, lançadas e realizadas; Informações sobre Convênios; Informações sobre a lista de Empresas Sancionadas pelos órgãos e entidades da Administração Pública das diversas esferas federativas; Informações sobre cargo, função e situação funcional dos servidores e agentes públicos do Poder Executivo Federal. Informações sobre transparência no governo – relação dos órgãos e entidades do Governo Federal que possuem páginas de transparência pública próprias; Informações sobre participação e controle social; Informações sobre projetos e ações no âmbito do Poder Executivo Federal, que são divulgadas pelos órgãos em suas respectivas páginas eletrônicas – Rede de Transparência; Páginas de Transparência de Estados e Municípios - dados de cada ente federativo, sobre transferências de recursos recebidas do governo federal e cadastro de convênios, extraídos do Portal da Transparência. Atualmente, os entes subnacionais (estados) já possuem seus portais da transparência (como o portal paulista, acessível em http://www.transparencia.sp.gov.br/). Gestão da Qualidade. 32 Fonte: http://www.portaltransparencia.gov.br/sobre/OQueEncontra.asp 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 26 de 91 A qualidade é um conceito antigo, mas que cada dia se torna mais importante no dia-a-dia das organizações. As ideias principais que baseiam o significado atual da qualidade são, basicamente, as seguintes: Atender às expectativas, requisitos e desejos dos clientes; Executar as tarefas da melhor forma possível; Preocupação constante em melhorar os processos de trabalho; Não desperdiçar esforços e recursos; Fazer correto o trabalho desde o princípio. A gestão da qualidade é vista hoje como fundamental para o sucesso de uma instituição, pois a permite ser mais competitiva perante seus concorrentes, manter e conquistar novos clientes e ter uma atuação sustentável econômica e ambientalmente. Entretanto, esta preocupação com a qualidade nem sempre foi tão forte. Antes dos anos 50 do século passado, a grande maioria das indústrias estava mais focada em aumentar a produção do que em se preocupar com a gestão da qualidade. Naquela época, os gestores visualizavam a gestão da qualidade como um processo reativo (ocorria após a produção do bem já ter acontecido) e voltado para as inspeções. Hoje em dia, a gestão da qualidade deve englobar todas as atividades da organização e são consideradas essenciais para o sucesso estratégico de uma organização33. Eras da Gestão da Qualidade A evolução da qualidade pode ser classificada em quatro eras34: Era da Inspeção, Era do Controle Estatístico da Qualidade, Era da Garantia da Qualidade e a Era da Gestão da Qualidade Total. 33 (Garvin, 1988) 34 (Garvin, 1988) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 27 de 91 Figura 3 - Eras da Gestão da Qualidade Era da Inspeção da Qualidade A gestão da qualidade como conceito começou a ser desenvolvida nos primórdios da industrialização. Com a produção em massa e o crescimento das indústrias, a questão da produtividade e do controle de desperdícios ficou mais evidente para os gestores. Aquele cenário de oficinas pequenas e artesanaisdeixou de existir. Em seu lugar, vieram imensas indústrias com máquinas a vapor e milhares de empregados. Estes empregados nem sempre tinham noção da importância de seu trabalho e como cada tarefa impactava no processo seguinte. A consequência era um grande número de produtos defeituosos e perda de material e esforço. Para reduzir este desperdício, o controle da qualidade passou a ser realizado. No primeiro momento, a produção era vistoriada somente após o produto estar “pronto”. Ou seja, a qualidade do produto somente era checada após o processo produtivo daquele produto ter sido encerrado. Não existia, assim, uma preocupação maior com a prevenção. A ideia era evitar que produtos defeituosos fossem entregues aos clientes. Se algum produto não estivesse de acordo com o padrão, a equipe o descartaria. Era do Controle Estatístico da Qualidade A inspeção dos itens era muito custosa e não evitava as ocorrências dos defeitos. Com o tempo, as indústrias passaram a enfatizar o controle da qualidade de maneira a tentar analisar as causas dos defeitos. Inspeção Controle Estatístico Garantia da Qualidade Gestão Total da Qualidade 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 28 de 91 Nesta fase o uso da estatística foi inserido. O controle censitário (feito um a um) era muito pouco eficiente. A Estatística possibilitou o uso da amostragem e da geração dos limites aceitáveis de defeitos em um processo. Sempre que um processo produtivo apresentasse um “desvio” dos padrões de defeitos seria objeto de uma análise mais apurada. Este controle estatístico barateou a gestão da qualidade e possibilitou um maior conhecimento dos aspectos que influenciavam mais na qualidade. Isto facilitou a descoberta dos problemas nos processos produtivos e sua correção. Nesta fase, o foco dos administradores a descoberta e correção dos fatores que geravam problemas nos processos35. Era da Garantia da Qualidade Na etapa da garantia da qualidade, o foco passou para a prevenção. Na mente dos administradores, a preocupação em aprender com os problemas encontrados e planejar suas ações de correção passaram a ocupar um papel central. Autores como Juran e Deming passaram a enfatizar o planejamento da gestão da qualidade, no treinamento dos membros da organização para lidar com a qualidade, na preocupação com a motivação dos funcionários, na melhoria dos processos de trabalho, na melhora dos instrumentos de controle, dentre outros36. A gestão da qualidade passou a ser vista como um processo sistêmico, global e holístico, englobando todos os fatores do funcionamento de uma instituição37. Dentre os principais conceitos e ferramentas gerados nesta época, temos muitos utilizados até hoje, como: a filosofia “zero defeitos” (“fazer certo desde a primeira vez”), a engenharia da confiabilidade e o cálculo do custo da qualidade. Era da Gestão da Qualidade Total Os novos tempos geraram um aumento das demandas dos clientes e da competição entre as organizações. Esse cenário mais competitivo trouxe 35 (Dale, 1999) 36 (Garvin, 1988) 37 (Junior, Cierco, Rocha, Mota, & Leusin, 2008) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 29 de 91 novas normas internacionais de qualidade, como a ISO 9000, e as diversas leis de proteção ao consumidor. Com isso, a qualidade passou a ser uma necessidade. Na era da Gestão da Qualidade Total, o tema da qualidade passou a ser visto pelos gestores como um fator estratégico para o sucesso de suas organizações. A qualidade passou a ser encarada como um aspecto principal para que os desejos e necessidades dos clientes sejam atendidos e a empresa atinja os resultados esperados. Estes clientes da organização seriam tanto os externos (consumidores dos produtos e serviços da organização), quanto os internos (funcionários e setores internos que dependem de nosso trabalho). Dentro dessa filosofia, todas as tarefas e atividades da organização devem ser vistas como importantes para que a organização tenha qualidade. Desde o trabalho de limpeza até a manutenção dos equipamentos são importantes. Dentre os principais valores e elementos da GQT, temos: Figura 4 - Principais elementos da GQT. Fonte: (Sobral & Peci, 2008) Assim, a qualidade de uma empresa é vista como diferencial competitivo pelos clientes e parceiros da mesma38. A gestão da qualidade seria vista como um ponto fundamental na gestão estratégica das empresas. 38 (Rennó, 2013) Melhoria Contínua Foco no Cliente Envolvimento dos Empregados Benchmarking 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 30 de 91 O gestor deveria, portanto, envolver todas as relações da empresa nessa filosofia de qualidade. Não só o cliente final deve ser enfatizado, mas também os relacionamentos com os empregados e fornecedores. Assim sendo, a empresa passa a ser visualizada como um todo - a qualidade deve estar inserida em todas as suas áreas (e não só no setor de “produção”). Se um só setor não fizer “sua parte”, o cliente poderá não ficar satisfeito. Figura 5 - Definição de Gestão da Qualidade Total. Fonte: (ISO8402) apud (Dale, 1999) Desta forma, os funcionários do setor financeiro, do setor de segurança, dentre outros setores, devem compreender como suas atividades contribuem para que a organização tenha qualidade e satisfaça seus clientes. A Gestão da Qualidade Total deve gerar, através da melhoria contínua de seus processos de trabalho, o comprometimento de uma organização com a qualidade39. Principais Autores ou “Gurus” da Qualidade Walter Shewart Shewart foi um dos pioneiros no estudo da gestão da qualidade e foi também grande inspirador de Deming e Juran, os mais conhecidos “gurus” da qualidade. Ele é hoje conhecido como o introdutor do controle estatístico da Qualidade. Como engenheiro, ficou também conhecido pelo seu trabalho na companhia Bell Telephone Industries. Nessa empresa, em que trabalhou 39 (Daft, 2005) ͻ さ┌マ; ;HラヴS;ェWマ ェWヴWミIキ;ノ SW ┌マ; organização centrada na qualidade, baseada na participação de todos os seus membros, buscando um sucesso de longo prazo através da satisfação de seus clientes e beneficiando todos os membros da organização e a ゲラIキWS;SWくざ Gestão da Qualidade Total 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 31 de 91 por mais de trinta anos, desenvolveu muitas técnicas de gestão da qualidade. Dentre os impactos dos seus estudos na gestão qualidade, temos o ciclo PDCA e o gráfico de controle. O segundo iremos conhecer quando chegarmos no tópico das ferramentas da qualidade. Abaixo, vamos conhecer o ciclo PDCA. Ciclo Deming ou PDCA Uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas na gestão da qualidade, o ciclo PDCA (ou ciclo de Shewart ou Deming), auxilia o gestor na busca de uma melhoria contínua dos processos de trabalho. Seu objetivo principal é a simplificação deste processo de melhoria. Como são apenas quatro “passos”, cada funcionário pode visualizar o funcionamento da ferramenta e conseguirá auxiliar na gestão da qualidade das empresas. Seu criador foi mesmo Shewart.Ele buscou gerar uma ferramenta que possibilitasse aos administradores a identificação dos problemas em um processo. Estes problemas seriam, então, vistos como uma oportunidade de melhoria e seriam enfocados continuamente pelos membros da organização. O foco central da ferramenta seria a busca por reduzir a diferença entre os requisitos e desejos dos clientes e o que o processo consegue “entregar”, ou seja, seu desempenho. Esta ferramenta é chamada de ciclo porque deve ser continuamente refeita, reiniciada. A cada “passagem”, os dados do último “ciclo” são utilizados como insumo da próxima passagem. A ferramenta enfatiza a melhoria contínua dos processos. As etapas do PDCA são: 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 32 de 91 De acordo com Junior et Al40, “o ciclo PDCA é um método gerencial para a promoção da melhoria contínua e reflete, em suas quatro fases, a base da filosofia do melhoramento contínuo.” Os passos principais da ferramenta podem ser visualizados no gráfico abaixo: 40 (Junior, Cierco, Rocha, Mota, & Leusin, 2008) ͻ Estabelecemos os objetivos e as ações e métodos para que estes objetivos sejam alcançadosPlanejar ͻ Executamos o que foi planejado. Além disso, coletamos os dados para que possam ser analisados na próxima fase e treinamos os funcionários nas atividades e tarefas que devem executar. Executar ͻ Verificamos os resultados das ações. Para isso, utilizamos ferramentas para a tomada de decisão, como histogramas, diagramas de Ishikawa, cartas de controle, dentre outras Verificar ͻ Se os resultados forem bons, iremos padronizar as ações e dos planejamentos adotados. Se os resultados forem ruins, buscaremos as falhas e revisaremos o processo para evitar que os problemas voltem a acontecer. Agir 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 33 de 91 Figura 6 - Passos do ciclo PDCA Um dos principais objetivos do PDCA é o de aumentar a previsibilidade nos processos organizacionais e, com isso, aumentar a chance de sucesso da empresa. Esta previsibilidade ocorre pela padronização dos processos de sucesso41. Deming. Este autor deu uma contribuição imensa para o movimento da gestão da qualidade no Japão nos anos 50 e 60 do século passado, após este país ter sua infraestrutura destruída na Segunda Guerra Mundial42. Ele foi convidado a visitar o país, pois suas empresas estavam com dificuldades para conseguir competir com seus competidores estrangeiros e precisavam utilizar seus recursos do melhor modo possível para ganhar competitividade. Eles decidiram, assim, investir na gestão da qualidade. Os processos de trabalho seriam enfatizados de modo a entregar o melhor produto ou serviço para os clientes, com menos esforço. Para Deming, o cliente deve sempre ser o foco da gestão da qualidade. Como os desejos e necessidades dos clientes não ficam estáveis, também os parâmetros de qualidade devem evoluir. 41 (Junior, Cierco, Rocha, Mota, & Leusin, 2008) 42 (Junior, Cierco, Rocha, Mota, & Leusin, 2008) Plan - Planejar Do - Executar Check - Verificar Act - Agir 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 34 de 91 Este autor criou os princípios da qualidade, que são muito cobrados em provas de concurso. De acordo com Deming, existem 14 princípios43: 1. Criar uma constância de propósito de aperfeiçoamento do produto e do serviço, a fim de torná-los competitivos, perpetuá-los no mercado e gerar empregos; 2. Adotar a nova filosofia. Vivemos numa nova era econômica. A administração ocidental deve despertar para o desafio, conscientizar-se de suas responsabilidades e assumir a liderança em direção à transformação; 3. Acabar com a dependência de inspeção para a obtenção da qualidade. Eliminar a necessidade da inspeção em massa, priorizando a internalização da qualidade do produto; 4. Acabar com a prática de negócio compensador baseado apenas no preço. Em vez disso, minimizar o custo total. Insistir na ideia de um único fornecedor para cada item, desenvolvendo relacionamentos duradouros, calcados na qualidade e na confiança; 5. Aperfeiçoar constante e continuamente todo o processo de planejamento, produção e serviço, com o objetivo de aumentar a qualidade e a produtividade e, consequentemente, reduzir os custos; 6. Fornecer treinamento no local de trabalho; 7. Adotar e estabelecer liderança. O objetivo da liderança é ajudar as pessoas a realizar um trabalho melhor. Assim como a liderança dos trabalhadores, a liderança empresarial necessita de uma completa reformulação; 8. Eliminar o medo; 9. Quebrar barreiras entre os departamentos. Os colaboradores dos setores de pesquisa, projetos, vendas, compras ou produção devem trabalhar em equipe, tornando-se capazes de antecipar problemas que possam surgir durante a produção ou durante a utilização dos produtos ou serviços; 10. Eliminar slogans, exortações e metas dirigidas aos empregados; 11. Eliminar padrões artificiais (cotas numéricas) para o chão de fábrica, a administração por objetivos (APO) e a administração através de números e metas numéricas; 12. Remover barreiras que despojem as pessoas de orgulho no trabalho. A atenção dos supervisores deve voltar-se para a 43 (Deming, 1990) apud (Junior, Cierco, Rocha, Mota, & Leusin, 2008) 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 35 de 91 qualidade e não para números. Remover as barreiras que usurpam dos colaboradores das áreas administrativas e de planejamento/engenharia o justo direito de orgulhar-se do produto de seu trabalho. Isto significa a abolição das avaliações de desempenho ou de mérito e da administração por objetivos ou por números; 13. Estabelecer um programa rigoroso de educação e auto- aperfeiçoamento para todo o pessoal; 14. Colocar todos da empresa para trabalhar de modo a realizar a transformação. A transformação é tarefa de todos. Juran Outro dos grandes nomes da gestão da qualidade, Joseph Juran era romeno, mas viveu radicado nos Estados Unidos. Foi também um dos impulsionadores da revolução da qualidade no Japão no pós guerra. Seu trabalho influenciou tremendamente a gestão da qualidade. Sua obra mais famosa foi o livro: ”Quality Control Handbook”, publicado em 1951. Ele foi criador do Instituto Juran e trabalhou muitos anos como professor e consultor nessa área. Como exemplos dos impactos de seu trabalho na gestão da qualidade, podemos citar a “trilogia da qualidade”, além da mudança do enfoque da gestão da qualidade (do plano operacional para o plano estratégico). A trilogia da qualidade de Juran tem três princípios: planejamento, controle da qualidade e aperfeiçoamento. Abaixo, podemos ver cada um deles: 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 36 de 91 Figura 7 - Trilogia da Qualidade de Juran Juran classifica também a qualidade nas seguintes categorias: Qualidade do Projeto Qualidade de conformidade Serviço de campo Pesquisa de mercadoTecnologia Pontualidade Concepção do produto Potencial humano Competência Especificações do projeto Gerenciamento Integridade Feigenbaum Feigenbaum trabalhou muitos anos na empresa GE e trouxe como contribuição para a gestão da qualidade os conceitos dos custos da qualidade e de que a gestão da qualidade deve ser um esforço sistêmico. De acordo com ele, a gestão da qualidade deve compreender os custos envolvidos e derivados da produção sem qualidade. Assim, existiriam diversos custos relacionados com a garantia da qualidade e com a falta de qualidade dentro em uma empresa. Os principais custos seriam os seguintes: Planejamento ͻ identificação das necessidades dos clientes; projetar produtos adequados a esses clientes e planejar processos adequados a estes mesmos produtos Controle da Qualidade ͻ buscaríamos avaliar o desempenho real da qualidade na organização; comparar esse desempenho com as metas e propor medidas corretivas, quando necessário Aperfeiçoamento ͻ Determinar o que é necessário para melhorar continuamente a qualidade; detalhar seus responsáveis e treinar, motivar e apoiar as equipes. 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 37 de 91 Além disso, ele identificou o problema dos esforços sistêmicos na gestão da qualidade. Para ele, todos os setores devem estar envolvidos na busca pela qualidade, e não apenas alguns. Sem o envolvimento de todos, a qualidade total nunca seria alcançada e os resultados seriam decepcionantes. Ele também afirmava que a participação e o conhecimento do sistema de qualidade por parte dos gestores da organização deveriam ser enfatizados, pois eram fatores primordiais. Sem que os principais administradores conheçam este sistema, a busca pela qualidade perderia impulso. A comunicação das ações do sistema de gestão da qualidade aos funcionários seria falha e sua implementação não teria sucesso. Crosby Outro dos “gurus da qualidade”, Crosby foi um grande escritor americano que trouxe o conceito de “defeito zero”, ou seja, de que não podemos aceitar os “padrões de qualidade”. O objetivo é não ter nenhum defeito. De acordo com ele44, para obtermos qualidade não podemos “aceitar” que existam pequenas falhas. Para o autor, devemos buscar o “zero defeito”: “O propósito da qualidade não é acomodar as coisas erradas, é eliminá-las para evitar tais situações. É exatamente a mesma coisa das falhas de soldagem que encontrei quando trabalhava na Martin. Enquanto mantínhamos um nível aceitável delas, elas 44 (Crosby, 1990) Custos da Qualidade ͻ Custos da Prevenção ͻ Custos da Avaliação ͻ Custos das falhas internas ͻ Custos das falhas externas 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 38 de 91 existiam, quando se tornaram inaceitáveis, desapareceram.” Com isso, ele trouxe o conceito de que todos nós devemos “fazer certo desde a primeira vez”. Não seria aceitável produzir bens defeituosos e depois descarta-los. Deveríamos nos preocupar em assegurar que nossos processos de trabalho tenham sempre qualidade. Ishikawa Este teórico japonês, Kaoru Ishikawa, foi um discípulo dos gurus norte-americanos. Ele traduziu muitas destas teorias americanas para o contexto e a realidade do Japão. Além disso, criou suas próprias ferramentas. Como exemplo do impacto do seu trabalho, temos a difusão dos círculos da qualidade (CQC, grupos pequenos de empregados que conduzem o controle da qualidade, democratizando a sua gestão). Outro impacto importante foi a criação da ferramenta que muitos associam ao seu nome: o diagrama de causa e efeito. Ferramentas de gestão da qualidade Existem diversas ferramentas para a gestão da qualidade. Sete delas são mais utilizadas e muitas bancas de concursos cobram seu conhecimento. Elas são instrumentos que facilitam o monitoramento e a melhoria dos processos de trabalho. As principais são: diagrama de causa e efeito, folha de verificação, histograma, gráfico de Pareto, diagrama de correlação, fluxograma e gráfico de controle. Cada ferramenta tem um objetivo e uma função específica na gestão da qualidade, mas são utilizados de modo simultâneo em muitas situações. 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 39 de 91 Figura 8 - Ferramentas da Qualidade. Adaptado de Mello (2012) apud (Rennó, 2013) Diagrama de Causa e Efeito Este diagrama é utilizado quando precisamos estudar as possíveis causas de um problema. Ele é chamado de “causa e efeito” exatamente por isso – nos auxilia a entender essa relação entre as causas e os efeitos. Para a gestão da qualidade, ele é muito importante para que os envolvidos no problema possam visualizar todos os fatores que podem estar provocando os defeitos. Vamos imaginar um caso prático? Uma secretaria de trânsito está buscando estudar as causas dos acidentes de trânsito. Muitos aspectos podem gerar acidentes, não é mesmo? Poderíamos citar, por exemplo, as vias sem conservação, motoristas embriagados, falta de sinalização, falta de policiamento na área como alguns destas possíveis causas. O diagrama de “causa efeito” (ou Ishikawa, seu criador) possibilita a estruturação e a hierarquização destas possíveis causas. Sabendo quais são as principais causas, podemos atuar para reduzir estas causas, evitando muitos dos seus efeitos, como os defeitos no processo produtivo. Abaixo, podemos ver um exemplo deste diagrama, com o exemplo citado: Ferramentas Diagrama de Causa e Efeito Folha de Verificação Histograma Gráfico de Pareto Diagrama de Correlação Fluxograma Gráfico de Controle Principal Função Levantar possíveis causas para problemas Coletar dados relativos à não conformidade de um produto Identificar com que frequência certo dado aparece em um conjunto de dados Distinguir, entre os fatores, os essenciais e os secundários Estabelecer correlação entre duas variáveis Descrever processos Analisar a variabilidade dos processos 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br 40 de 91 Figura 9 - Gráfico de Ishikawa Assim sendo, quando utilizamos este diagrama, conseguimos estruturar as causas prováveis de um efeito ou problema. Folha de Verificação A folha de verificação (ou checklist) é um instrumento muito simples. Ela nada mais é do que uma relação de “eventos” e a descrição de quantas vezes cada um deles “aconteceu”. Na sua aplicação prática, um funcionário apenas vai somando quantas vezes cada defeito ocorreu em um formulário ou planilha eletrônica. Assim, a folha de verificação é uma ferramenta de coleta de dados de uma situação específica, normalmente um processo produtivo. Para entendermos melhor o que está causando os problemas na cadeia produtiva, precisamos saber mais sobre estes fatores. Portanto, a folha de verificação seria a primeira ferramenta a ser utilizada na Gestão da Qualidade. Os dados coletados por essa ferramenta são depois usados pelas outras ferramentas. Abaixo, teríamos um exemplo de uma folha de verificação: 16340589685 Administração Pública p/ Auditor da RFB - 2016 Teoria e exercícios comentados Profs. Rodrigo Rennó e Sérgio Mendes– Aula 10 Prof. Rodrigo Rennó www.estrategiaconcursos.com.br
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