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Ebook_Unidade 01_Educação em Direitos Humanos

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Prévia do material em texto

6 J ( Educação em Direitos Humanos 
------
_,, 
INTRODUÇAO 
Prezado aluno, o que você entende por "Direitos 
Humanos"? Muito se fala atuahnente sobre o conjunto de 
direitos individuais e coletivos que regem nossa vida em 
sociedade, porém nen1 todos sabem precisar do que se trata. 
Para os educadores co1npreender de quais direitos tratamos 
quando usamos essa expressão e como trabalhar com o 
ten1a em suas aulas é fundan1ental. Nesta unidade iremos 
refletir juntos sobre o surgimento do que se concebe como 
Direitos Humanos, sua aplicação e sobre co1no conjugar esse 
conhecimento com a área de educação. Na atualidade, de 
onde surgiu o que conhecemos hoje como esse conjunto de 
direitos? 
A Declaração Universal dos Direitos I-Iumanos, de 1948, 
surgida co1no resposta às atrocidades co1netidas pelo fascis1no 
durante a Segunda Guerra Mundial, foi o marco inicial para 
alçar os direitos humanos a um patamar de guia ético para 
a orde1n internacional. Era o momento de reconstruir os 
direitos interrompidos pela guerra, através da universalização 
dos direitos individuais e coletivos do ser hu1nano, tirando do 
domínio exclusivo dos Estados a questão da garantia destes 
direitos. 
Além do caráter universal, uma vez que a condição de 
pessoa é o único requisito para ter direitos, os direitos humanos 
possuem também a característica da indivisibilidade, dado 
que apenas garantindo os direitos civis e políticos pode-se 
garantir os direitos econô1nicos, sociais e culturais, e vice-
versa. Foi a primeira Declaração moderna de Direitos que 
conjugou o discurso liberal de cidadania co1n o discurso 
social. Este processo de universalização dos direitos humanos, 
reafirmado pela Declaração de Viena de 1993 ( que de fato 
coloca os direitos hu111anos con10 indivisíveis e universais), 
dá origem então a um sistema normativo internacional de 
proteção aos direitos. 
Va1nos aco1npanhar esta trajetória juntos nesta unidade. 
Educaçã.o em Direitos Hun1anos ) ( __ 7 ___ _ 
OBJETIVOS 
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo 
é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos 
de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: 
Estabelecerasdelin1itaçõesteóricasen1etodológicas 
da educação en1 direitos hun1anos; 
Identificar os Tratados internacionais de 
direitos humanos; 
Conhecer a educação em direitos humanos e o 
contexto brasileiro; 
Refletir sobre a educação em direitos humanos 
na conte1nporaneidade. 
Então? Preparado para uma viagem se1n volta rumo ao 
conhecimento? Ao trabalho ! 
"1> 
SUMARIO 
Estabelecer as delimitações teóricas e metodológicas 
da educação em Direitos Humanos ................................... 10 
Delimitações Teóricas da Educação 
e1n Direitos Humanos ... ........ ........ ........ ........ ........ ... 1 O 
A Educação em Direitos Humanos ........................... 13 
Delimitações Metodológicas da Educação 
em Direitos Humanos ..... ........ ........ ........ ........ ........ . 15 
Identificar os tratados internacionais 
de Direitos Human.os ....................................................... 18 
Educação em Direitos Humanos e 
o contexto brasileiro ......................................................... 26 
Contexto Histórico ........ ........ ........ ........ ........ ........ .. 26 
Educação em Direitos Humanos 
na contemporaneidade ..................................................... 32 
A Conexão entre Direitos Humanos e 
a Educação Atualmente ............................................ 3 2 
Estratégias para a conexão entre 
Direitos Humanos e a Educação Atualmente .. ..... ... . 37 
Educaçã.o em Direitos Humanos ) (9 -
UNIDADE 
10 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
Estabelecer as Delimitações Teóricas e 
Metodológicas da Educação em Direitos 
Humanos 
Ao término deste capítulo você será capaz de identificar 
as delünitações do campo de estudos da educação em direitos 
humanos. Isto será fundamental para o exercício de sua 
profissão. A compreensão da interseção entre o processo de 
ensino-aprendizagem e o tema transversal direitos humanos 
é essencial para educadores que busquem desenvolver 
a capacidade crítica de seus alunos em um contexto de 
educação para a cidadania. A compreensão dos direitos 
básicos dos seres humanos é fundamental para uma inserção 
plena dos indivíduos em sociedade. E então? Motivado para 
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante ! 
Delimitações Teóricas da Educação em 
Direitos Humanos 
Quando pensamos os direitos humanos, em âmbito 
internacional, o que vem à sua mente? 
A concepção dos direitos humanos como universais 
somente ganhou este real escopo com a Carta das Nações 
Unidas em 1945. A partir de então, o novo direito internacional 
reconhecia que a proteção dos indivíduos deveria se dar 
também no nível internacional, não mais somente pelos 
Estados como fora produzido desde a formação dos Estados 
Nacionais. 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 1_1 ___ _ 
Figura 1: Símbolo da Organização das Nações Unidas 
Fonte: Pixabay 
A história dos direitos atribuídos aos serem humanos 
data desde a antiguidade, quando o poder do Estado não era 
lünitado, logo os indivíduos não possuíam direitos frente ao 
poder do soberano. Foi a Magna Carta inglesa que e1n 1215 
apresentou u1na limitação ao poder de atuação do soberano, 
dando início assim ao constitucionalismo e às conquistas 
liberais cuhninadas nas Revoluções Francesa e Americana. 
John Locke foi u1n filósofo inglês, considerado um 
dos "pais" do liberalismo filosófico. Foi um dos principais 
teóricos do que ficou conhecido como teoria do "contrato 
social". 
O jusnaturalismo de Locke deu um caráter 1nais 
universal aos recém criados direitos da Inglaterra. Segundo o 
pensamento político de Locke, o ser humano constitui a base 
12 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
e origen1 do poder que é transferido ao soberano mediante o 
contrato social, reconhecendo assim a base dos direitos co1no 
os homens. Nas revoluções americana e francesa os direitos 
do homem e do cidadão são instituídos, em um conteúdo 
de característica individualista, apesar do universalismo 
da fraternidade, igualdade e liberdade. Objetivavam uma 
República democrática, que, através do contrato social, 
garantiriam os direitos dos homens. 
Segundo Massaro, o jusnaturalismo ou o direito natural 
"é a corrente de pensa1nento jurídico-filosófica que pressupõe 
a existência de uma norma de conduta intersubjetiva 
universalmente válida e imutável, fundada sobre a peculiar 
ideia da natureza preexistente em qualquer forma de direito 
positivo que possa formar o melhor ordenamento possível para 
regular a sociedade humana, principalmente no que se refere 
aos conflitos entre os Estados, governos e suas populações" 
(Massaro, 2019). 
Assim, surge então a Declaração Universal dos Direitos 
dos Ho1nens, que dava prioridade à liberdade e1n detrimento 
do poder estatal. Com a Declaração da ONU em 1945 e os 
posteriores tratados e convenções que traziam de fato um 
caráter internacional à legislação dos direitos humanos, a 
jurisdição doméstica deixou de ser a única responsável pelas 
garantias dos direitos. 
Após o totalitarismo da guerra, o elevado número de 
mortes, e ainda o Holocausto, os Estados objetivava1n construir 
um sistema internacional seguro, onde a garantia da paz viria 
através do cumprimento da legislação internacional e da 
Educação em Direitos Humanos ) ( 13 
------
vigilância dos demais Estados. A questão da etnia judaica foi 
fundamental para a redação dos direitos humanos na Carta da 
ONU, pois o "problema judeu" apresentado pelas autoridades 
nazistas alemães fez com que o povo judeu fosse desprotegido 
de seus direitos estatais através da desnacionalização. Sem 
Estado, os judeus não possuía1n garantias de respeito de 
direitos, assim como outras minorias. 
A Declaração Universal dos Direitos Hun1anos, de 
1948, surgida como resposta às atrocidades cometidas pelo 
fascismo durante a Segunda GuerraMundial, foi o marco 
inicial para alçar os direitos humanos a um patamar de guia 
ético para a ordem internacional. 
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, 
em sua introdução, diz: "No dia 10 de dezembro de 1948, 
a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou 
a Declaração Universal dos Direitos Humanos cujo texto, 
na íntegra, pode ser lido a seguir. Logo após, a Assembléia 
Geral solicitou a todos os Países - Membros que publicassem 
o texto da Declaração para que ele fosse divulgado, mostrado, 
lido e explicado, principahnente nas escolas e e1n outras 
instituições educacionais, sem distinção nenhuma baseada 
na situação política ou econômica dos Países ou Estados." 
Acesse a declaração na página da Organização das Nações 
Unidas: https://bit.ly/2APix5U. 
A educação em direitos humanos 
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, 
publicado pelo Governo Federal brasileiro e1n 2003, define 
que a educação em direitos humanos é: 
J ( Educação em D irei tos Humanos 
--------
14 
"compreendida como um processo 
multidimensional que orienta a formação 
direitos, articulando as seguintes dimensões: 
sistemático e 
do sujeito de 
• apreensão de conhecimentos historicamente construídos 
sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos 
inte1nacional, nacional e local; 
• afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que 
expresse1n a cultura dos direitos humanos e1n todos os espaços 
da sociedade; 
• formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer 
presente em níveis cognitivo, social, ético e político; 
• desenvolvimento de processos metodológicos 
participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e 
1nateriais didáticos contextualizados; 
• fortalecimento de práticas individuais e sociais que 
gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção 
e da defesa dos direitos hun1anos, ben1 como da reparação das 
violações." (BRASIL, 2018: 11 ). 
Para a área de estudos da educação em direitos humanos 
a educação além de ser um direito em si mesma, possibilita o 
conhecimento, o acesso e a compreensão a respeito dos demais 
direitos, permitindo que o cidadão possa se inserir plenamente 
em sociedade, ciente do conjunto de seus direitos . A partir 
do estudo da educação em direitos humanos é possível que a 
cultura criada e1n torno da valorização dos direitos humanos 
permita o respeito às diversidades, seja de orde1n religiosa, 
cultural, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de 
nacionalidade, dentre outras. 
Para Maria Victoria Benevides, três pontos são 
pre1nissas para a Educação e1n Direitos Humanos: "a 
educação continuada, a educação para a mudança e a 
educação compreensiva, no sentido de ser co1npartilhada e 
Educação em Direitos Humanos ) ( 15 
------
de atingir tanto a razão quanto a emoção." (BENEVIDES, 
2000: 1 ). A autora enfatiza ainda a ideia de a educação em 
direitos humanos também é a educação para a cidadania, de 
formação de cidadãos participativos e, alé1n disso, solidários. 
É necessário que os educadores conheçan1, por suposto, os 
direitos hu1nanos, as instituições relacionadas a promoção 
dos mesmos. 
Delimitações Metodológicas da Educação em 
Direitos Humanos 
Quando tratamos da educação em direitos humanos 
estamos abordando direta1nente, con10 vin1os na seção 
anterior, a questão da fonnação de discentes e docentes 
para compreenderem a realidade a sua volta a partir dos 
pressupostos teóricos dos direitos hu1nanos. Partido da idéia 
de que a educação em direitos humanos pressupõe a educação 
para a cidadania e para a concepção de democracia com 
participação popular, podemos considerar a concepção de 
Adorno a respeito do tema: 
"A seguir, e assumido o risco, gostaria de apresentar a 
minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim 
chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de 
modelar pessoas a partir do exterior; mas tan1bém não a mera 
transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta 
já foi mais do que destacada, ma a produção de uma consciência 
verdadeira. Isso seria inclusive da n1aior importância política; 
sua idéia, se é permitido dizer assim, é uma exigência política. 
Isto é: uma de1nocracia com o dever de não apenas funcionar, 1nas 
operar conforn1e seu conceito, demanda pessoas emancipadas. 
Un1a democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto un1a 
sociedade de quen1 é emancipado" . (ADORNO, 2003, p. 142). 
J ( Educação em Direitos Humanos 
------
16 
Dentro dessa concepção, a n1etodologia relacionada 
à educação em direitos humanos diz respeito a uma prática 
de ensino-aprendizagem que seja orientada para a educação 
em direitos humanos, considerando o caráter transversal e 
articulando conhecimentos e práticas com os de1nais atores 
sociais, para além dos espaços f onnais de educação. Para 
isso, é impo1iante a integração dos objetivos previstos para a 
educação em direitos humanos a todo o processo de ensino-
aprendizagem, inclusive às diferentes formas de avaliação. 
Ta1nbé1n se faz necessário o desenvolvimento de programas e 
metodologias voltados para estimular a reflexão e a formação 
do tema, estabelecendo a troca de inf armações e experiência 
entre os atores governamentais e de1nais 1ne1nbros da 
sociedade civil organizada, inclusive os relacionado a 
educação não formal, a fim de construírem conjuntamente 
estratégias de formação. 
A resolução do Governo Federal, nº 1, de 30 de maio de 
2012, prevê em seu artigo 6° que "A Educação em Direitos 
Humanos, de modo transversal, deverá ser considerada na 
construção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP); dos 
Regin1entos Escolares; dos Planos de Desenvolvimento 
Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso 
(PPC) das Instituições de Educação Superior; dos materiais 
didáticos e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e 
extensão; de gestão, bem como dos diferentes processos de 
avaliação" e em seu artigo 7°, prevê as seguintes fonnas de 
inserção dos conhecünentos nas diferentes etapas da educação 
formal: 
"I - pela transversalidade, por meio de ten1as relacionados 
aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; 
II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas 
já existentes no cunículo escolar; 
III - de maneira nüsta, ou seJa, c01nbinando 
Educação em Direitos Humanos ) ( 17 
------
transversalidade e disciplinaridade ( ... )". 
(Resolução CNE/CP 1/2012. Diário Oficial da União, Brasília, 31 
de maio de 2012 - Seção 1 - p. 48). 
Projeto de pesquisa financiada pelo MEC e1n parceira 
co1n a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível 
Superior (Capes) estimula alunos de escoa pública sobre 
Direitos Humanos. Saiba mais em: https://bit.ly/2YPc2Dx 
Segundo Bittar (2007) uma das formas de incentivar a 
educação e1n direitos hu1nanos é a partir do "desenvolvitnento 
e da valorização da pesquisa", que vise o "desenvolvimento 
da consciência crítica e enraizadora" e, ainda, seja capaz de: 
"aprofundar a consciência sobre a importância dos direitos 
humanos e de sua universalização; provocar a abe1iura criativa 
de horizontes para a auto-compreensão; incentivar a reinvenção 
criativa permanente das próprias técnicas; habilitar à criticidade; 
desenvolver o reconhecimento histórico dos problemas sociais; 
incentivar o conhecimento multidisciplinar, interdisciplinar 
e transdisciplinar sobre a condição hun1ana; habilitar a uma 
compreensão segundo a qual a conquista de direitos depende da 
luta pelos direitos; valorizar a sensibilidade em torno do que é 
hmnano; aprofundar a conscientização sobre questões de justiça 
social; recuperar a memória e a consciência de si no tempo e 
no espaço; habilitar para a ação e para a interação conjunta e 
coordenada de esforços; desenvolver o indivíduo como um todo, 
como forma de humanização e de sensibilização; capacitar para 
o diálogo e a interação social construtiva, plural e democrática.". 
18 J ( Educação em D irei tos Humanos------
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo? 
Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu 
o tema de estudo deste tema, vamos resumir tudo o que vimos. 
Você deve ter aprendido que a forma como compreendemos 
hodiernamente o que são os direitos humanos, co1npreendidos 
como universais, ganhou esta dimensão co1n a Carta das Nações 
Unidas em 1945. A Declaração Universal dos Direitos Humanos 
de 1948 foi a prüneira Declaração que conjugou o discurso 
liberal de cidadania com o discurso social. Oficialmente no 
Brasil a educação em direitos humanos é compreendida a 
partir da consideração de um sistema sistemático e com mais 
de uma dimensão orientada para a formação de sujeitos de 
direitos. Algu1nas premissas teóricas da educação em direitos 
hun1anos dizem respeito à co1npreensão da área como educação 
continuada, para a mudança e co1npreensiva. Metodologicamente, 
a educação em direitos humanos se estabelece de forma 
transversal na educação fonnal e na não-formal, por meio de 
estratégias de ensino-aprendizagem como o desenvolvimento do 
reconhecünento histórico dos problemas sociais, a valorização 
da sensibilidade em torno do que é humano e o aprofundamento 
da conscientização sobre questões de justiça social. 
Identificar os Tratados Internacionais de 
Direitos Humanos 
Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, 
de 1948, como já vimos, há outros documentos importantes 
para o processo de universalização dos direitos hu1nanos. A 
Declaração de Viena de 1993 ( que de fato coloca os direitos 
humanos como indivisíveis e universais) , dá origem então a 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 1_9 ___ _ 
um sistema normativo internacional de proteção aos direitos. 
Este processo, por sua vez, foi responsável por apresentar 
questionamentos à noção de soberania estatal, ao introduzir 
o tema de u1na "cidadania global", u1na vez que o interesse 
sobre o respeito ao indivíduo era internacional, e não mais 
apenas assunto de jurisdição doméstica. 
Figura2: Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA 
Fonte: Pixabay 
Deste 1nodo, as necessidades consideradas funda1nentais 
dos seres humanos, em grande parte contempladas pelos 
direitos de 2ª geração, conhecidos co1no direitos coletivos, 
deve1n de fato ser definidas como direitos, dado que acima 
de tudo protegem grupos vulneráveis da sociedade. Apesar 
de estar claro e1n â1nbito internacional que os direitos são 
indivisíveis, os direitos econômicos, sociais e culturais ainda 
necessitam de implementação e garantias. A Declaração de 
Viena é bastante clara na defesa dessa concepção ao definir 
a interdependência entre Direitos Humanos, Democracia e 
Desenvolvünento. 
Os direitos da 2ª Geração surgiram nas duas primeiras 
décadas do século XX, quando a Constituição Mexicana de 
1917, a Revolução Russa, a Constituição da República de 
Weünar, em 1919, e a criação da Organização Internacional 
20 J ( Educação em Direitos Humanos 
------
do Trabalho, levaran1 os Direitos Humanos a tere1n uma 
abrangência maior, incorporando esta nova gama de direitos 
que exigem a ação positiva do Estado ( e não somente a 
negativa, ou seja, a ausência de interferência do Estado na 
garantia dos direitos individuais, como é o caso dos direitos 
de 1 ª geração). 
Assim como a garantia dos direitos da 1 ª geração foi 
un1a foi fruto da luta contra o absolutisn10 feudal durante os 
séculos XVII e XVIII, a garantia dos direitos de 2ª geração 
foi fruto das lutas sociais contra a exploração do trabalho, por 
novos espaços para a liberdade coletiva e por uma igualdade 
material maior que possibilitasse a dignidade hu1nana. 
No final da Guerra Fria, surgem ainda novas de1nandas 
dos novos movimentos sociais, que deran1 origem aos 
Direitos dos Povos, ou Direitos da Solidariedade, a 3ª geração 
dos Direitos Humanos, que são ao mesmo tempo direitos 
individuais e coletivos, de1nandantes de um esforço coletivo 
entre indivíduos e Estados, e demais atores da ordem mundial 
atual. Na 3ª geração estão o Direito ao Desenvolvimento, o 
Direito à Paz, o Direito à Autodeterminação dos Povos, ao 
Desenvolvimento Sustentável, dentre outros. 
OsDireitosEconômicos,SociaiseCulturaisestãogarantidos 
não só pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, e pela 
Declaração de Viena, mas também por tratados internacionais 
como o Pacto Internacional dos Direitos Econô1nicos, Sociais e 
Culturais; A Convenção sobre a Elüninação de todas as formas 
de Discriminação Racial; A Convenção sobre a Eliminação de 
todas as f armas de Discrilninação contra a Mulher; A Convenção 
sobre os Direitos das Crianças, dentre outros. 
Educação em Direitos Humanos ) ( 21 
------
Ainda sobre isso, salientamos o papel chave da 
Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986. Vale 
apontar que, apesar de já ter sido reconhecida pela Comissão 
da ONU de Direitos Humanos em 1977, a Declaração foi 
consagrada pela Assembléia Geral da organização em 1986. 
Ao vincular os Estados ao dever de adotarem medidas efetivas, 
em âmbito individual ou coletivo, voltadas para políticas de 
desenvolvimento internacional a fim de realizar plenamente 
os direitos, e acrescentando que a cooperação internacional 
é uma peça chave no quebra-cabeça do desenvolvünento, 
em seu artigo 4°, o Direito ao Desenvolvimento apresenta a 
importância de u1na globalização inclusiva, solidária e que 
garanta o respeito aos direitos hu1nanos. 
Todavia, para garantir este respeito, a Declaração 
Universal de 1948 não era suficiente, u1na vez que não possui 
força jurídica vinculante, logo, foi necessária a criação de 
tratados internacionais que fossemjuridica1nente obrigatórios 
no plano do direito internacional. Surgem então, em 1966, o 
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 
Os dois pactos, em conjunto com a Declaração Universal 
forma1n a Carta Internacional dos Direitos Humanos, ou 
"International Bill of Rights". 
Conheça u1n pouco mais sobre a Carta Internacional 
dos Direitos Humanos (International Bill of Rights) https:// 
bit.ly/2Pu5Jkq. 
22 J ( Educação em Direitos Humanos 
------
Continuando, o PIDESC (Pacto Internacional dos 
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) inclui deveres para 
os Estados, ao contrário do PIDCP (Pacto Internacional dos 
Direitos Civis e Políticos) que lista os direitos referentes aos 
indivíduos. 
Os direitos da Segunda Geração (PIDESC), representa1n 
un1 esforço dos Estados parte a fi1n de progressivan1ente 
assegurare1n estes direitos, que incluem, dentre outros, o 
direito à previdência social, à moradia, à educação, ao trabalho 
e à justa remuneração, à fonnação e filiação à sindicatos, à 
saúde física e mental adequadas, à um nível de vida adequado 
e ao gozo dos benefícios da liberdade cultural e do progresso 
científico. 
O mecanisn10 disponível para o monitoramento e 
imple1nentação é o de relatórios periódicos, onde os Estados 
apontam que medidas estão sendo tomadas em âmbito interno 
para a observância dos direitos, assim como dificuldades que 
assegurem u1nareal efetivação. Os relatórios são encaminhados 
ao Secretário-Geral da ONU, e depois repassados para análise 
por parte do ECOSOC (Conselho Econômico e Social). 
Quando o mecanismo de exigibilidade in1plementado 
pelo Estado Parte não é suficiente, a ONU recomenda 
mecanismos mais eficazes. A Declaração de Viena recomenda 
que seja criado també1n o direito de petição co1n relação aos 
direitos previstos no Pacto, através de Protocolo Adicional, 
ela ainda sugere que sejam estabelecidos indicadores 
para o acompanha1nento da garantia dos DESC (Direitos 
Econôn1icos, Sociais e Culturais), assim con10 um esforço 
integrado pelo seu reconhecimento. 
No âmbito da OEA, existe o Protocolo de San Salvador, 
de 1999, que estabelece deveres jurídicos dos Estados parte 
com relação aos direitos sociais. Segundo o Protocolo, 
os Estados Parte devem empenhar o máxüno de recursos 
disponíveis para progressivamentealcançarem a plena 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 2_3 ___ _ 
realização dos DESC. No Protocolo de San Salvador, existe a 
possibilidade de petição individual a instâncias internacionais 
com relação ao direito à educação e aos direitos sindicais. 
Com o fim da Guerra Fria, e o avanço nas telecomunicações, 
o surgimento dos novos temas, e o aumento da cooperação 
internacional, o tema dos direitos humanos passou a ter 1nais 
destaque co1no pauta da agenda internacional. 
Todavia, n1esmo com a ratificação dos principais 
instrumentos de proteção dos direitos humanos em âmbito 
internacional (A Carta de Direitos e os Pactos Internacionais 
de 1966), o caráter social da jurisdição internacional em prol 
da garantia dos direitos humanos só passou a se consolidar 
com a Conferência do Cairo de 1944, sobre População e 
Desenvolvimento ( onde surgiu a expressão "Agenda Social 
da ONU") que deu origem ao Programa de Ação do Cairo, 
como um conjunto de medidas a serem implementadas de 
fonna conjunta em prol das questões sociais relativas ao tema 
principal da Conferência. 
A Conferência do Cairo foi essencial para a evolução 
da proteção aos DESC, uma vez que concluiu que famílias 
que possuen1 os direitos fundan1entais garantidos são capazes 
de planejar a fecundidade e garantir a sustentabilidade dos 
filhos, recriando assim o conceito de Direito Reprodutivo. Em 
Copenhague, 1995, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento 
Social, os países em desenvolvimento resistiram aos 
condicionantes que os desenvolvidos apresentavam para a 
consecução de investimentos, dentre eles, o de possuir uma 
"boa governança". 
Na Cúpula Mundial de 199 5, poden1os apontar as bases 
para a Declaração do Milênio de 2000, em especial sobre 
os compromissos de redução da pobreza e 1niséria absoluta 
em 2015, através de medidas como a destinação de 0,7% 
do PIB dos países desenvolvidos à Assistência Oficial ao 
Desenvolvimento. Fora1n estabelecidas também as bases 
J ( Educação em Direitos Humanos 
------
24 
para as 111etas relativas à igualdade de gênero, à redução da 
mortalidade infantil, e à educação. Ainda na década de 90 
podemos apontar a Conferência de Beijing, de 1995, sobre 
os Direitos da Mulher, e a Habitat II (Conferencia sobre 
Assentamentos Humanos) de 1996, em Istambul. 
Figura2: Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA 
Fonte: Wikimedia 
O principal resultado dessas conferências foi o 
fortalecimento do conceito de "empowerment" das 1nulheres, e 
o fortalecimento do direito a moradia como direito hun1ano. Na 
agenda da Habitat, houve ainda a inovação da participação de 
outros atores como ONGS, sindicatos e diversos movimentos 
sociais, e a repetição das soluções apontadas em Copenhague 
para o financiamento das propostas, que foi essencialmente 
a questão dos O, 7% de investimento do PIB dos países 
desenvolvidos na Assistência Oficial ao Desenvolvünento. 
Diante da situação apresentada pelas Conferências da 
década de 90, surge a Declaração do Milênio, no ano 2000, com 
metas a serem alcançadas até o ano de 2015, complementando 
e tomando como base as diversas Conferências previamente 
citadas. A Conferência de Monterrey, de 2002, apresenta 
Educação em Direitos Humanos ) ( 25 
------
então soluções de como viabilizar a ünplementação dos 
acordos de 2000, fechando a série de Conferências sobre as 
questões sociais no âmbito das Nações Unidas. 
Também devemos destacar, em 2001, a Conferencia 
de Durban contra o Racismo, a Discriminação Racial, e 
Intolerância Correlata, que apesar da resistência dos países 
desenvolvidos, as recomendações de Durban têm se mostrado 
positivas para a in1plementação da proteção e medidas de 
reparação contra o racismo em âmbito interno de Estados e1n 
desenvolvimento. 
Gostou do que lhe mostramos? Ainda temos muita coisa 
para aprender! Va1nos resumir tudo o que vimos até agora. Alé1n 
da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como 
já vimos, há outros docu1nentos importantes para o processo de 
universalização dos direitos hmnanos. A Declaração de Viena de 
1993 ( que de fato coloca os direitos humanos como indivisíveis 
e universais), dá origem então a um sistema normativo 
internacional de proteção aos direitos. Apesar de estar claro 
em âmbito internacional que os direitos são indivisíveis, os 
direitos econô1nicos, sociais e culturais ainda necessitam de 
implementação e garantias. Assün como a garantia dos direitos 
da 1 ª geração foi uma foi fruto da luta contra o absolutis1no 
feudal durante os séculos XVII e XVIII, a garantia dos direitos 
de 2ª geração foi fruto das lutas sociais contra a exploração do 
trabalho, por novos espaços para a liberdade coletiva e por uma 
igualdade material maior que possibilitasse a dignidade humana. 
No final da Guerra Fria, surgem ainda novas demandas dos 
novos movünentos sociais, que deram origem aos Direitos dos 
26 J ( Educação em Direitos Humanos 
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liiií RESUMINDO (CONTINUAÇ}O) 
Povos, ou Direitos da Solidariedade, a 3ª geração dos Direitos 
Humanos, que são ao mesmo tempo direitos individuais e 
coletivos, demandantes de um esforço coletivo entre indivíduos 
e Estados, e demais atores da orde1n 1nundial atual. 
Educação em Direitos Humanos e o Contexto 
Brasileiro 
Educação em Direitos Humanos e o Contexto 
Brasileiro 
O te1na dos direitos humanos no Brasil passou por 
contextos diferenciados nas últimas décadas. Previamente 
ao contexto do governo militar de 1964 a discussão sobre os 
direitos hu1nanos e suas garantias não era um tema central 
no país, focado nas questões ligadas ao desenvolvimento e 
seus possíveis desdobramentos. Desde Getúlio Vargas até 
então a discussão girava e1n torno dos direitos trabalhistas 
e as conquistas sociais relacionadas ao mundo do trabalho, 
como, por exemplo, na Consolidação das Leis do Trabalho. 
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a 
unificação das leis trabalhistas até então em vigência no país. 
Foi criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 1 ° de março 
de 1943. A CLT regulamenta as leis individuais e coletivas 
relacionadas ao trabalho no Brasil. 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 2_7 ___ _ 
Figura 4: Cartei ra de Trabalho e Previdência Social 
Fonte: Wikimedia 
A repressão aos direitos durante o governo militar 
instaurado em 1964 inaugurou uma nova etapa na consideração 
a respeito dos direitos hu1nanos no país. O cercea1nento 
às liberdades individuais e coletivas como a proibição da 
organização sindical, a censura à liberdade de expressão e o 
cerco à imprensa, além da torhira e da prisão de oponentes 
políticos violava não apenas os direitos civis e políticos, mas 
ta1nbém os direitos econômicos, sociais e culturais. A reação 
a esse contexto de violações de direitos trouxe ao contexto 
nacional de forma 1nais evidente o debate internacional sobre 
a necessidade de respeito e da garantia dos direitos humanos. 
O período seguinte, da transição democrática após o fi1n 
do regime 1nilitar, insere o país em um processo de abertura 
co1nercial. No mesmo contexto em que a "Constituição 
Cidadã" de 1988 foi promulgada, a inserção do país na 
globalização econôn1ica internacional colocava em cheque 
a previsão de garantia de direitos, e1n especial os de orde1n 
econômica e social previstos na Constituição Federal de 1988. 
28 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
A Constituição Federal de 1988 ficou conhecida como 
a "Constituição Cidadã" por marcar a transição entre o 
regime autoritário e a reconquista da democracia, além de 
conter princípios constitucionais e garantias de direitos que 
consolidam direitos civis, políticos, econômicos, soc1a1s 
e culturais, dentre outros. Para mais informações acesse: 
https ://bit.ly/2KLG 1 CD 
O Contexto Brasileiro da Educação em Direitos 
Humanos 
Como observamos durante o período do regime militar 
de 1964 a abordagem ao te1na dos direitos humanos confonne 
compreendido em âmbito internacional ganhou mais relevo 
no país. Comissões de direitos humanos foram organizadaspor membros da Igreja Católica, movünentos sociais, dentre 
outros. Após a transição den1ocrática, o ten1a foi incorporado 
à discussão sobre a democracia em si. Nos espaços fonnais de 
educação o tema passou a ser abordado de forma transversal, 
além da organização de cursos, palestras e outras ações nos 
espaços não formais. 
Na atualidade a discussão sobre os direitos humanos 
enfrenta dois grandes desafios, o que atravessa diretamente a 
abordagen1 da educação sobre o ten1a, perpassando limitações: 
"Duas ordens de limitações pesam sobre o conceito de 
direitos humanos e sua capacidade de constituir força educadora 
significativa na consciência das pessoas. A primeira vem do 
choque desses direitos com o forte impulso repressivo que as 
Educação em Direitos Humanos ) ( 29 
------
reiteradas - e, via de regra, sensacionalistas - denúncias de casos 
de crimes violentos aponta, para a acentuação das condenações 
e penalizações, como se o aumento das penas pudesse, por si só, 
ter efeito importante na luta contra a impunidade e a in1posição 
do Estado de Dii-eito ( ... ) 
A outra grande dificuldade consiste na consideração 
dos direitos humanos de forma restrita, separado dos outros 
direitos - sobretudo econômicos e sociais. A origem do conceito 
contemporâneo pern1itiu essa fragmentação, porque ele nasceu 
na resistência à ditadura militar, com essa conotação, além do 
marco internacional, de hegemonia das concepções liberais, 
quer apontam nessa direção( ... )". (SADER, 2007) 
Sader argumenta que apenas u1na abordagem que 
considere o te1na dos direitos hun1anos de forn1a 111ais 
abrangente pode superar os desafios propostos. Conforme 
já foi estabelecido internacionalmente, os direitos humanos 
são indivisíveis, portanto a não garantia dos direitos sociais, 
econômicos e culturais, ou dos direitos coletivos, impacta 
diretamente na garantia dos direitos individuais e vice-versa. 
No que tange as ações oficiais sobre o te1na da 
educação em direitos humanos devemos pontuar a previsão 
da Constituição Federal de 1988, além da Lei Darcy Ribeiro, 
a lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional (LDB) a respeito da centralidade do exercício da 
cidadania como um dos objetivos da educação em nosso 
país, prevendo, para esse :fi1n, uma processo de ensino-
aprendizagem inspirado "nos princípios de liberdade e nos 
ideais de solidariedade hu1nana, com a :finalidade do pleno 
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício 
da cidadania e sua qualificação para o trabalho". 
Conforme falamos anteriormente, em 2003 foi lançado 
o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos a partir 
J ( Educação em D irei tos Humanos 
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30 
dos parâmetros internacionais e nacionais sobre o te1na, e1n 
especial a consideração do Programa Mundial de Educação 
em Direitos Humanos (PMEDH). No Plano Nacional o 
governo brasileiro em conjunto com as organizações da 
sociedade civil estabeleceu como objetivos em seu artigo 
2°: a) fortalecer o respeito aos direitos humanos e liberdades 
fundan1entais; b) promover o pleno desenvolvimento 
da personalidade e dignidade humana; c) fomentar o 
entendimento, a tolerância, a igualdade de gênero e a amizade 
entre as nações, os povos indígenas e grupos raciais, nacionais, 
étnicos, religiosos e lingüísticos; d) estünular a participação 
efetiva das pessoas e1n uma sociedade livre e democrática 
governada pelo Estado de Direito; e) construir, promover e 
manter a paz. 
Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos 
(PMEDH) disponibilizado e1n português, conheça a Primeira 
e a Segunda Fase dos planos de ação. Acesse: https:/ /bit. 
ly/2Z2JYl5 
Figura 5: 70 anos da Declaração 
Internacional dos Direitos Humanos 
-- ANOS --
DECLARACIÓN 
UNIVERSAL DE 
DERECHOS HUMANOS 
#STANDUP.<lHUMANRIGHTS 
Fonte; Wikimedia 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 3_1 ___ _ 
Nas reflexões sobre o contexto da educação en1 direitos 
humanos no Brasil é sempre importante lembrar que a 
desigualdade, em especial a social, que marca a sociedade 
brasileira representa um desafio potencial e, ao mesmo tempo, 
evoca a necessidade da reflexão, discussão e implementação 
de ações sobre o tema. A educação que estimule a consciência 
para os processos que geram e legitimam a desigualdade poden1 
fomentar a reflexão sobre a necessidade da solidariedade e da 
tolerância entre aqueles "diferentes". 
A exclusão social marca também o distanciamento de 
ampla parcela da sociedade brasileira de seu conjunto de 
direitos, relacionando direta1nente a falta de acesso à educação 
de qualidade ao processo de não reconhecünento do papel de 
cidadão em sociedade. O obstáculo ao exercício da cidadania 
perpassa não apenas a assimetria com relação à informação, à 
educação e à participação política, mas às condições básicas de 
existência, como a alitnentação, o saneamento básico, dentre 
outros fatores, evidenciando a importância das discussões 
sobre os direitos humanos perpassarem os processos fonnais 
e inf armais de educação. 
E então? Gostou do que lhe 1nostra1nos? Aprendeu 
mes1no? Agora, só para tennos certeza de que você realmente 
entendeu o te1na de estudo deste capítulo, van1os resumir tudo 
o que vimos . O tema dos direitos humanos no Brasil passou 
por contextos diferenciados nas últimas décadas. Previamente 
ao contexto do governo militar de 1964 a discussão sobre os 
direitos humanos e suas garantias não era um tema central 
no país, focado nas questões ligadas ao desenvolvimento e 
seus possíveis desdobramentos. A repressão aos direitos 
32 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
durante o governo militar instaurado em 1964 inaugurou 
un1a nova etapa na consideração a respeito dos direitos 
humanos no país, ensejando a organização de movimentos 
que pleiteassem o respeito e a garantia de direitos diante 
das violações identificadas naquele período histórico. No 
mesmo contexto em que a "Constituição Cidadã" de 1988 foi 
promulgada, a inserção do país na globalização econômica 
internacional colocava em cheque a previsão de garantia de 
direitos, em especial os de ordem econômica e social previstos 
na Constituição Federal de 1988. Atualmente debatemos a 
consideração de que os direitos humanos são indivisíveis, 
portanto a não garantia dos direitos sociais, econô1nicos e 
culturais, ou dos direitos coletivos, impacta diretamente na 
garantia dos direitos individuais e vice-versa, o que está 
diretamente relacionado a dois grandes desafios dos direitos 
humanos no Brasil: a questão da violência e a fragmentação 
de direitos . Desde 2003 o Plano Nacional de Educação em 
Direitos Humanos tem buscado balizara orientação oficial 
sobre o tema, após discussões com entidades da sociedade 
civil. 
Educação em Direitos Humanos na 
Contemporaneidade 
A Conexão Entre Direitos Humanos e a 
Educação Atualmente 
Atualmente a necessária conexão entre os direitos 
humanos e a educação e1n direitos hu1nanos torna-se ainda 
Educação em Direitos Humanos ) ( __ 3_3 ___ _ 
mais importante diante dos inú1neros desafios impostos a 
ambos, como a grande defasagem na educação formal, reflexo 
da desigualdade social, o modelo tradicional de educação e a 
resistência a pressupostos teóricos e práticas inovadoras que 
considerem o tema dos direitos humanos de forma transversal, 
a não implementação das ações previstas no Plano Nacional de 
Educação em Direitos Humanos, especialmente no que tange 
a abordagem do tema na formação continuada dos docentes, 
e os desafios aos direitos humanos como a resistência devido 
ao quadro de insegurança pública e o privilégio dado à 
consideração dos direitos civis e políticos em detrimento dos 
den1ais. 
A excessiva ênfase na consideração da educação 
co1no instrumento exclusivo de formação de 1não-de-obra, 
desconsiderando o caráter de inclusão, estímulo à reflexão 
crítica e inserção plena do cidadão em sociedade representa 
um desafio extra à educação em direitos humanos nos tempos 
atuais. Em paralelo, as sucessivascrises, em especial na 
educação pública nas últimas décadas, fruto de uma (re) 
consideração do papel do Estado e de crises orçamentárias do 
setor público, agravam ainda mais o cenário, impondo uma 
agenda do "mínimo" às condições adversas enfrentadas pela 
educação pública, considerando projetos e tarefas "extras" 
co1no podem vir a ser consideradas as que levam o tema 
dos direitos humanos à centralidade ( em uma visão que não 
concebe a questão desde o início do planejamento escolar). 
A Declaração Universal dos Direitos Hu1nanos assegura 
a educação enquanto direito humano fundamental, em seu 
artigo 26, que prevê que: 
"l . Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será 
gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. 
A instrução elen1entar será obrigatória. A instrução técnico-
profissional será acessível a todos, bem como a instlução 
superior, esta baseada no n1érito. 
34 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
2. A instrução será orientada no sentido do pleno 
desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do 
respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades funda1nentais. 
A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade 
entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as 
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. ( ... )". 
Dentro desse contexto, o direito à educação pressupõe, 
dentro da concepção da educação em direitos humanos, que o 
aluno seja visto co1no sujeito detentor de direitos e deveres, 
que deve ser respeitado em suas características étnicas, 
culturais, econômicas, dentre outras. O direito à educação 
recebe a missão de ser uma "porta de entrada" aos demais 
direitos, pois a reflexão do papel do indivíduo enquanto 
membro de uma coletividade, a sociedade, desperta a reflexão 
crítica necessária para compreensão dos direitos, alé1n dos 
deveres. 
Cabe ressaltannos que no Brasil, para alén1 da educação 
formal, desde a década de 1980 há um trabalho intenso 
das organizações da sociedade civil organizada, como as 
organizações não governamentais e movimentos sociais. 
Confonne vimos, a mobilização inicial em torno da garantia 
dos direitos civis e políticos no contexto do regime 1nilitar 
de 1964 despertaram o ativismo pelos direitos humanos e 
a 1nobilização em torno do tema. Este trabalho ocorre e1n 
consonância co1n o poder público, porém, 1nuitas vezes, busca 
suprir lacunas que a oferta de políticas públicas deixa no país. 
"A sociedade civil designa todas as formas de ação social 
levadas a cabo por indivíduos ou grupos que não emanam 
do Estado ne1n são por ele determinadas. Uma sociedade 
Educação em Direitos Humanos ) ( 35 
------
civil organizada é urna estrutura organizativa cujos membros 
serven1 o interesse geral através de um processo democrático, 
atuando como intennediários entre os poderes públicos e os 
cidadãos." Disponível e1n: https://bit.ly/2Sh96ch. (Acesso 
em 10/05/2019). 
Assim, tanto en1 espaços de educação não formal 
quanto, e principalmente, em espaços de educação formal, um 
desafios contemporâneos à educação em direitos humanos é a 
formação de professores habilitados a considerar o tema em 
seus planejamentos de aula, a partir de uma formação deles 
próprios em direitos humanos e a compreensão de como, 
metodologicamente, trabalhar as questões relacionadas. 
Apesar do Plano Nacional e1n Direitos Humanos prever 
ações no sentido da educação em direitos humanos integrar o 
currículo das instituições de formação de professores, ainda 
há lacunas nessa formação. 
Outra questão correlata, conforme debatemos no 
início desta unidade, é a necessidade da superação de uma 
educação meramente tecnicista, voltada exclusivamente 
para a capacitação específica para u1n ofício. É essencial a 
consideração dos professores também como cidadão capaz de 
não apenas participar do processo de ensino-aprendizagem, 
mas também enquanto agente fundamental de mobilização 
para os direitos humanos. 
Cabe ressaltarmos que nos espaços de educação não 
fonnal como presídios, organizações não-governamentais, 
espaços de educação religiosa, dentre outros, tan1bé1n cabe a 
mobilização dos docentes para o tema, pois, estes, muitas vezes, 
36 J ( Educação em D irei tos Humanos 
------
lidam diretamente com grupos excluídos e marginalizados 
em nossa sociedade, justa1nente onde a conscientização para 
a cidadania plena pode fazer ainda mais diferença. 
Hodiemamentetambéméfundamentalaconceitualização 
e a promoção da reflexão a respeito dos direitos de igualdade 
e os de diferença compreende especificidades das pautas 
identitárias, relacionadas a temas como sexualidade, étnico-
raciais, dentre outras. Esses são temas que tem mobilizado 
a sociedade devido a diferentes visões sobre como o direito 
à diferença deve ser tratado. Todavia, se consideramos a 
questão da educação e111 direitos hu1nanos devemos sempre 
le111brar que esta111os partindo de pressupostos teóricos e 
metodológicos consolidados nacional e internacionalmente a 
partir da garantia e da promoção de direitos, estabelecendo 
um roteiro mínimo e que busca ser consensual para estes 
temas. Para além de disputas políticas e ideológicas, há seres 
humanos que necessita1n da intervenção da sociedade para 
terem o direito à vida e à inclusão social garantidos. 
Algumas estratégias para a superação das questões aqui 
tratadas relacionadas aos desafios da educação em direitos 
humanos na contemporaneidade passam pelo trabalho de 
formação dos professores, para a consideração da temática na 
educação desde o ensino funda1nental, pelo reconhecimento 
das diferenças e do tratamento básico dado a essa questão 
e a efetivação do direito em direitos humanos em espaços 
formais e não formais de ensino. 
Educação em Direitos Humanos ) ( 37 
------
Estratégias para Conexão entre Direitos 
Humanos e Educação Atualmente 
O desafio da imple1nentação e da garantia dos direitos 
hu1nanos na sociedade moderna é permanente. Demanda 
educação e mobilização de indivíduos conscientes de seu 
papel na sociedade moderna e que possam, para além da 
consciência, ter acesso a mecanismos efetivos de garantia 
desses direitos . Como vimos ao longo da unidade I, há tanto 
em âmbito internacional quanto en1 âmbito nacional, no que 
tange a construção de direitos positivados, marcos legais 
que subsidiam e efetivam os direitos humanos . Todavia, é 
importante que a sociedade tenha a seu dispor a concepção de 
uma reflexão crítica contínua, além de instrumentos práticos. 
No Brasil, é importante irmos além do Plano Nacional 
de Educação em Direitos Humanos, fundamental em sua 
concepção e estratégias, porém, enquanto fruto de discussão 
e ünplementação de políticas públicas é um instrumento que 
baliza as discussões e as ações sobre o tema, demandando 
o investimento público e privado tanto em termos de 
recursos financeiros, quanto na concepção de estratégias e 
planejamentos de efetivação. 
Para isso, iniciativas de valorização de projetos e 
experiências que já lidan1 como o ten1a são fundamentais, 
assim como a parceria entre os diferentes setores da sociedade. 
Por fim, é necessário a reflexão constante sobre a formação de 
professores, a pesquisa científica na área e a ünplementação 
pedagógica em educação em direitos humanos, a fim de que 
os processos teóricos e 1netodológicos seja1n constantemente 
revistos e 1nelhorados em prol da consolidação e a1npliação 
de direitos. 
J ( Educação em Direitos Humanos 
------
38 
Figura 6: Representação figurativa de igua ldade 
Fonte: Frccpik 
Um exemplo de iniciativa de formação e valorização 
da educação em direitos humanos é o "Prêmio Municipal 
Educação em Direitos Hu1nanos da Cidade de São Paulo" que 
divide a pre1niação de boas práticas e1n categorias de projetos 
feitos por professores, estudantes, da unidade escolar con10 
um todo, dentre outros. Para mais informações sobre o prêmio 
acessar: https://bit.ly/2ORAo YH 
Nossa prüneira unidade está chegando ao fim,e então, 
gostou do que lhe mostran1os? Agora, só para tennos certeza 
de que você realn1ente entendeu o tema de estudo deste 
capítulo, vamos resun1ir tudo o que vimos. Atualn1ente a 
necessária conexão entre os direitos humanos e a educação 
em direitos humanos torna-se ainda mais importante diante 
	Educação em Direitos Humanos e o ContextoBrasileiro

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