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6 J ( Educação em Direitos Humanos ------ _,, INTRODUÇAO Prezado aluno, o que você entende por "Direitos Humanos"? Muito se fala atuahnente sobre o conjunto de direitos individuais e coletivos que regem nossa vida em sociedade, porém nen1 todos sabem precisar do que se trata. Para os educadores co1npreender de quais direitos tratamos quando usamos essa expressão e como trabalhar com o ten1a em suas aulas é fundan1ental. Nesta unidade iremos refletir juntos sobre o surgimento do que se concebe como Direitos Humanos, sua aplicação e sobre co1no conjugar esse conhecimento com a área de educação. Na atualidade, de onde surgiu o que conhecemos hoje como esse conjunto de direitos? A Declaração Universal dos Direitos I-Iumanos, de 1948, surgida co1no resposta às atrocidades co1netidas pelo fascis1no durante a Segunda Guerra Mundial, foi o marco inicial para alçar os direitos humanos a um patamar de guia ético para a orde1n internacional. Era o momento de reconstruir os direitos interrompidos pela guerra, através da universalização dos direitos individuais e coletivos do ser hu1nano, tirando do domínio exclusivo dos Estados a questão da garantia destes direitos. Além do caráter universal, uma vez que a condição de pessoa é o único requisito para ter direitos, os direitos humanos possuem também a característica da indivisibilidade, dado que apenas garantindo os direitos civis e políticos pode-se garantir os direitos econô1nicos, sociais e culturais, e vice- versa. Foi a primeira Declaração moderna de Direitos que conjugou o discurso liberal de cidadania co1n o discurso social. Este processo de universalização dos direitos humanos, reafirmado pela Declaração de Viena de 1993 ( que de fato coloca os direitos hu111anos con10 indivisíveis e universais), dá origem então a um sistema normativo internacional de proteção aos direitos. Va1nos aco1npanhar esta trajetória juntos nesta unidade. Educaçã.o em Direitos Hun1anos ) ( __ 7 ___ _ OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta etapa de estudos: Estabelecerasdelin1itaçõesteóricasen1etodológicas da educação en1 direitos hun1anos; Identificar os Tratados internacionais de direitos humanos; Conhecer a educação em direitos humanos e o contexto brasileiro; Refletir sobre a educação em direitos humanos na conte1nporaneidade. Então? Preparado para uma viagem se1n volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho ! "1> SUMARIO Estabelecer as delimitações teóricas e metodológicas da educação em Direitos Humanos ................................... 10 Delimitações Teóricas da Educação e1n Direitos Humanos ... ........ ........ ........ ........ ........ ... 1 O A Educação em Direitos Humanos ........................... 13 Delimitações Metodológicas da Educação em Direitos Humanos ..... ........ ........ ........ ........ ........ . 15 Identificar os tratados internacionais de Direitos Human.os ....................................................... 18 Educação em Direitos Humanos e o contexto brasileiro ......................................................... 26 Contexto Histórico ........ ........ ........ ........ ........ ........ .. 26 Educação em Direitos Humanos na contemporaneidade ..................................................... 32 A Conexão entre Direitos Humanos e a Educação Atualmente ............................................ 3 2 Estratégias para a conexão entre Direitos Humanos e a Educação Atualmente .. ..... ... . 37 Educaçã.o em Direitos Humanos ) (9 - UNIDADE 10 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ Estabelecer as Delimitações Teóricas e Metodológicas da Educação em Direitos Humanos Ao término deste capítulo você será capaz de identificar as delünitações do campo de estudos da educação em direitos humanos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. A compreensão da interseção entre o processo de ensino-aprendizagem e o tema transversal direitos humanos é essencial para educadores que busquem desenvolver a capacidade crítica de seus alunos em um contexto de educação para a cidadania. A compreensão dos direitos básicos dos seres humanos é fundamental para uma inserção plena dos indivíduos em sociedade. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante ! Delimitações Teóricas da Educação em Direitos Humanos Quando pensamos os direitos humanos, em âmbito internacional, o que vem à sua mente? A concepção dos direitos humanos como universais somente ganhou este real escopo com a Carta das Nações Unidas em 1945. A partir de então, o novo direito internacional reconhecia que a proteção dos indivíduos deveria se dar também no nível internacional, não mais somente pelos Estados como fora produzido desde a formação dos Estados Nacionais. Educação em Direitos Humanos ) ( __ 1_1 ___ _ Figura 1: Símbolo da Organização das Nações Unidas Fonte: Pixabay A história dos direitos atribuídos aos serem humanos data desde a antiguidade, quando o poder do Estado não era lünitado, logo os indivíduos não possuíam direitos frente ao poder do soberano. Foi a Magna Carta inglesa que e1n 1215 apresentou u1na limitação ao poder de atuação do soberano, dando início assim ao constitucionalismo e às conquistas liberais cuhninadas nas Revoluções Francesa e Americana. John Locke foi u1n filósofo inglês, considerado um dos "pais" do liberalismo filosófico. Foi um dos principais teóricos do que ficou conhecido como teoria do "contrato social". O jusnaturalismo de Locke deu um caráter 1nais universal aos recém criados direitos da Inglaterra. Segundo o pensamento político de Locke, o ser humano constitui a base 12 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ e origen1 do poder que é transferido ao soberano mediante o contrato social, reconhecendo assim a base dos direitos co1no os homens. Nas revoluções americana e francesa os direitos do homem e do cidadão são instituídos, em um conteúdo de característica individualista, apesar do universalismo da fraternidade, igualdade e liberdade. Objetivavam uma República democrática, que, através do contrato social, garantiriam os direitos dos homens. Segundo Massaro, o jusnaturalismo ou o direito natural "é a corrente de pensa1nento jurídico-filosófica que pressupõe a existência de uma norma de conduta intersubjetiva universalmente válida e imutável, fundada sobre a peculiar ideia da natureza preexistente em qualquer forma de direito positivo que possa formar o melhor ordenamento possível para regular a sociedade humana, principalmente no que se refere aos conflitos entre os Estados, governos e suas populações" (Massaro, 2019). Assim, surge então a Declaração Universal dos Direitos dos Ho1nens, que dava prioridade à liberdade e1n detrimento do poder estatal. Com a Declaração da ONU em 1945 e os posteriores tratados e convenções que traziam de fato um caráter internacional à legislação dos direitos humanos, a jurisdição doméstica deixou de ser a única responsável pelas garantias dos direitos. Após o totalitarismo da guerra, o elevado número de mortes, e ainda o Holocausto, os Estados objetivava1n construir um sistema internacional seguro, onde a garantia da paz viria através do cumprimento da legislação internacional e da Educação em Direitos Humanos ) ( 13 ------ vigilância dos demais Estados. A questão da etnia judaica foi fundamental para a redação dos direitos humanos na Carta da ONU, pois o "problema judeu" apresentado pelas autoridades nazistas alemães fez com que o povo judeu fosse desprotegido de seus direitos estatais através da desnacionalização. Sem Estado, os judeus não possuía1n garantias de respeito de direitos, assim como outras minorias. A Declaração Universal dos Direitos Hun1anos, de 1948, surgida como resposta às atrocidades cometidas pelo fascismo durante a Segunda GuerraMundial, foi o marco inicial para alçar os direitos humanos a um patamar de guia ético para a ordem internacional. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, em sua introdução, diz: "No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembléia Geral das Nações Unidas adotou e proclamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos cujo texto, na íntegra, pode ser lido a seguir. Logo após, a Assembléia Geral solicitou a todos os Países - Membros que publicassem o texto da Declaração para que ele fosse divulgado, mostrado, lido e explicado, principahnente nas escolas e e1n outras instituições educacionais, sem distinção nenhuma baseada na situação política ou econômica dos Países ou Estados." Acesse a declaração na página da Organização das Nações Unidas: https://bit.ly/2APix5U. A educação em direitos humanos O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, publicado pelo Governo Federal brasileiro e1n 2003, define que a educação em direitos humanos é: J ( Educação em D irei tos Humanos -------- 14 "compreendida como um processo multidimensional que orienta a formação direitos, articulando as seguintes dimensões: sistemático e do sujeito de • apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre direitos humanos e a sua relação com os contextos inte1nacional, nacional e local; • afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expresse1n a cultura dos direitos humanos e1n todos os espaços da sociedade; • formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente em níveis cognitivo, social, ético e político; • desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de construção coletiva, utilizando linguagens e 1nateriais didáticos contextualizados; • fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos direitos hun1anos, ben1 como da reparação das violações." (BRASIL, 2018: 11 ). Para a área de estudos da educação em direitos humanos a educação além de ser um direito em si mesma, possibilita o conhecimento, o acesso e a compreensão a respeito dos demais direitos, permitindo que o cidadão possa se inserir plenamente em sociedade, ciente do conjunto de seus direitos . A partir do estudo da educação em direitos humanos é possível que a cultura criada e1n torno da valorização dos direitos humanos permita o respeito às diversidades, seja de orde1n religiosa, cultural, étnico-racial, de gênero, de orientação sexual, de nacionalidade, dentre outras. Para Maria Victoria Benevides, três pontos são pre1nissas para a Educação e1n Direitos Humanos: "a educação continuada, a educação para a mudança e a educação compreensiva, no sentido de ser co1npartilhada e Educação em Direitos Humanos ) ( 15 ------ de atingir tanto a razão quanto a emoção." (BENEVIDES, 2000: 1 ). A autora enfatiza ainda a ideia de a educação em direitos humanos também é a educação para a cidadania, de formação de cidadãos participativos e, alé1n disso, solidários. É necessário que os educadores conheçan1, por suposto, os direitos hu1nanos, as instituições relacionadas a promoção dos mesmos. Delimitações Metodológicas da Educação em Direitos Humanos Quando tratamos da educação em direitos humanos estamos abordando direta1nente, con10 vin1os na seção anterior, a questão da fonnação de discentes e docentes para compreenderem a realidade a sua volta a partir dos pressupostos teóricos dos direitos hu1nanos. Partido da idéia de que a educação em direitos humanos pressupõe a educação para a cidadania e para a concepção de democracia com participação popular, podemos considerar a concepção de Adorno a respeito do tema: "A seguir, e assumido o risco, gostaria de apresentar a minha concepção inicial de educação. Evidentemente não a assim chamada modelagem de pessoas, porque não temos o direito de modelar pessoas a partir do exterior; mas tan1bém não a mera transmissão de conhecimentos, cuja característica de coisa morta já foi mais do que destacada, ma a produção de uma consciência verdadeira. Isso seria inclusive da n1aior importância política; sua idéia, se é permitido dizer assim, é uma exigência política. Isto é: uma de1nocracia com o dever de não apenas funcionar, 1nas operar conforn1e seu conceito, demanda pessoas emancipadas. Un1a democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto un1a sociedade de quen1 é emancipado" . (ADORNO, 2003, p. 142). J ( Educação em Direitos Humanos ------ 16 Dentro dessa concepção, a n1etodologia relacionada à educação em direitos humanos diz respeito a uma prática de ensino-aprendizagem que seja orientada para a educação em direitos humanos, considerando o caráter transversal e articulando conhecimentos e práticas com os de1nais atores sociais, para além dos espaços f onnais de educação. Para isso, é impo1iante a integração dos objetivos previstos para a educação em direitos humanos a todo o processo de ensino- aprendizagem, inclusive às diferentes formas de avaliação. Ta1nbé1n se faz necessário o desenvolvimento de programas e metodologias voltados para estimular a reflexão e a formação do tema, estabelecendo a troca de inf armações e experiência entre os atores governamentais e de1nais 1ne1nbros da sociedade civil organizada, inclusive os relacionado a educação não formal, a fim de construírem conjuntamente estratégias de formação. A resolução do Governo Federal, nº 1, de 30 de maio de 2012, prevê em seu artigo 6° que "A Educação em Direitos Humanos, de modo transversal, deverá ser considerada na construção dos Projetos Político-Pedagógicos (PPP); dos Regin1entos Escolares; dos Planos de Desenvolvimento Institucionais (PDI); dos Programas Pedagógicos de Curso (PPC) das Instituições de Educação Superior; dos materiais didáticos e pedagógicos; do modelo de ensino, pesquisa e extensão; de gestão, bem como dos diferentes processos de avaliação" e em seu artigo 7°, prevê as seguintes fonnas de inserção dos conhecünentos nas diferentes etapas da educação formal: "I - pela transversalidade, por meio de ten1as relacionados aos Direitos Humanos e tratados interdisciplinarmente; II - como um conteúdo específico de uma das disciplinas já existentes no cunículo escolar; III - de maneira nüsta, ou seJa, c01nbinando Educação em Direitos Humanos ) ( 17 ------ transversalidade e disciplinaridade ( ... )". (Resolução CNE/CP 1/2012. Diário Oficial da União, Brasília, 31 de maio de 2012 - Seção 1 - p. 48). Projeto de pesquisa financiada pelo MEC e1n parceira co1n a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) estimula alunos de escoa pública sobre Direitos Humanos. Saiba mais em: https://bit.ly/2YPc2Dx Segundo Bittar (2007) uma das formas de incentivar a educação e1n direitos hu1nanos é a partir do "desenvolvitnento e da valorização da pesquisa", que vise o "desenvolvimento da consciência crítica e enraizadora" e, ainda, seja capaz de: "aprofundar a consciência sobre a importância dos direitos humanos e de sua universalização; provocar a abe1iura criativa de horizontes para a auto-compreensão; incentivar a reinvenção criativa permanente das próprias técnicas; habilitar à criticidade; desenvolver o reconhecimento histórico dos problemas sociais; incentivar o conhecimento multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar sobre a condição hun1ana; habilitar a uma compreensão segundo a qual a conquista de direitos depende da luta pelos direitos; valorizar a sensibilidade em torno do que é hmnano; aprofundar a conscientização sobre questões de justiça social; recuperar a memória e a consciência de si no tempo e no espaço; habilitar para a ação e para a interação conjunta e coordenada de esforços; desenvolver o indivíduo como um todo, como forma de humanização e de sensibilização; capacitar para o diálogo e a interação social construtiva, plural e democrática.". 18 J ( Educação em D irei tos Humanos------ E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste tema, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que a forma como compreendemos hodiernamente o que são os direitos humanos, co1npreendidos como universais, ganhou esta dimensão co1n a Carta das Nações Unidas em 1945. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 foi a prüneira Declaração que conjugou o discurso liberal de cidadania com o discurso social. Oficialmente no Brasil a educação em direitos humanos é compreendida a partir da consideração de um sistema sistemático e com mais de uma dimensão orientada para a formação de sujeitos de direitos. Algu1nas premissas teóricas da educação em direitos hun1anos dizem respeito à co1npreensão da área como educação continuada, para a mudança e co1npreensiva. Metodologicamente, a educação em direitos humanos se estabelece de forma transversal na educação fonnal e na não-formal, por meio de estratégias de ensino-aprendizagem como o desenvolvimento do reconhecünento histórico dos problemas sociais, a valorização da sensibilidade em torno do que é humano e o aprofundamento da conscientização sobre questões de justiça social. Identificar os Tratados Internacionais de Direitos Humanos Além da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como já vimos, há outros documentos importantes para o processo de universalização dos direitos hu1nanos. A Declaração de Viena de 1993 ( que de fato coloca os direitos humanos como indivisíveis e universais) , dá origem então a Educação em Direitos Humanos ) ( __ 1_9 ___ _ um sistema normativo internacional de proteção aos direitos. Este processo, por sua vez, foi responsável por apresentar questionamentos à noção de soberania estatal, ao introduzir o tema de u1na "cidadania global", u1na vez que o interesse sobre o respeito ao indivíduo era internacional, e não mais apenas assunto de jurisdição doméstica. Figura2: Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA Fonte: Pixabay Deste 1nodo, as necessidades consideradas funda1nentais dos seres humanos, em grande parte contempladas pelos direitos de 2ª geração, conhecidos co1no direitos coletivos, deve1n de fato ser definidas como direitos, dado que acima de tudo protegem grupos vulneráveis da sociedade. Apesar de estar claro e1n â1nbito internacional que os direitos são indivisíveis, os direitos econômicos, sociais e culturais ainda necessitam de implementação e garantias. A Declaração de Viena é bastante clara na defesa dessa concepção ao definir a interdependência entre Direitos Humanos, Democracia e Desenvolvünento. Os direitos da 2ª Geração surgiram nas duas primeiras décadas do século XX, quando a Constituição Mexicana de 1917, a Revolução Russa, a Constituição da República de Weünar, em 1919, e a criação da Organização Internacional 20 J ( Educação em Direitos Humanos ------ do Trabalho, levaran1 os Direitos Humanos a tere1n uma abrangência maior, incorporando esta nova gama de direitos que exigem a ação positiva do Estado ( e não somente a negativa, ou seja, a ausência de interferência do Estado na garantia dos direitos individuais, como é o caso dos direitos de 1 ª geração). Assim como a garantia dos direitos da 1 ª geração foi un1a foi fruto da luta contra o absolutisn10 feudal durante os séculos XVII e XVIII, a garantia dos direitos de 2ª geração foi fruto das lutas sociais contra a exploração do trabalho, por novos espaços para a liberdade coletiva e por uma igualdade material maior que possibilitasse a dignidade hu1nana. No final da Guerra Fria, surgem ainda novas de1nandas dos novos movimentos sociais, que deran1 origem aos Direitos dos Povos, ou Direitos da Solidariedade, a 3ª geração dos Direitos Humanos, que são ao mesmo tempo direitos individuais e coletivos, de1nandantes de um esforço coletivo entre indivíduos e Estados, e demais atores da ordem mundial atual. Na 3ª geração estão o Direito ao Desenvolvimento, o Direito à Paz, o Direito à Autodeterminação dos Povos, ao Desenvolvimento Sustentável, dentre outros. OsDireitosEconômicos,SociaiseCulturaisestãogarantidos não só pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, e pela Declaração de Viena, mas também por tratados internacionais como o Pacto Internacional dos Direitos Econô1nicos, Sociais e Culturais; A Convenção sobre a Elüninação de todas as formas de Discriminação Racial; A Convenção sobre a Eliminação de todas as f armas de Discrilninação contra a Mulher; A Convenção sobre os Direitos das Crianças, dentre outros. Educação em Direitos Humanos ) ( 21 ------ Ainda sobre isso, salientamos o papel chave da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, de 1986. Vale apontar que, apesar de já ter sido reconhecida pela Comissão da ONU de Direitos Humanos em 1977, a Declaração foi consagrada pela Assembléia Geral da organização em 1986. Ao vincular os Estados ao dever de adotarem medidas efetivas, em âmbito individual ou coletivo, voltadas para políticas de desenvolvimento internacional a fim de realizar plenamente os direitos, e acrescentando que a cooperação internacional é uma peça chave no quebra-cabeça do desenvolvünento, em seu artigo 4°, o Direito ao Desenvolvimento apresenta a importância de u1na globalização inclusiva, solidária e que garanta o respeito aos direitos hu1nanos. Todavia, para garantir este respeito, a Declaração Universal de 1948 não era suficiente, u1na vez que não possui força jurídica vinculante, logo, foi necessária a criação de tratados internacionais que fossemjuridica1nente obrigatórios no plano do direito internacional. Surgem então, em 1966, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. Os dois pactos, em conjunto com a Declaração Universal forma1n a Carta Internacional dos Direitos Humanos, ou "International Bill of Rights". Conheça u1n pouco mais sobre a Carta Internacional dos Direitos Humanos (International Bill of Rights) https:// bit.ly/2Pu5Jkq. 22 J ( Educação em Direitos Humanos ------ Continuando, o PIDESC (Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais) inclui deveres para os Estados, ao contrário do PIDCP (Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos) que lista os direitos referentes aos indivíduos. Os direitos da Segunda Geração (PIDESC), representa1n un1 esforço dos Estados parte a fi1n de progressivan1ente assegurare1n estes direitos, que incluem, dentre outros, o direito à previdência social, à moradia, à educação, ao trabalho e à justa remuneração, à fonnação e filiação à sindicatos, à saúde física e mental adequadas, à um nível de vida adequado e ao gozo dos benefícios da liberdade cultural e do progresso científico. O mecanisn10 disponível para o monitoramento e imple1nentação é o de relatórios periódicos, onde os Estados apontam que medidas estão sendo tomadas em âmbito interno para a observância dos direitos, assim como dificuldades que assegurem u1nareal efetivação. Os relatórios são encaminhados ao Secretário-Geral da ONU, e depois repassados para análise por parte do ECOSOC (Conselho Econômico e Social). Quando o mecanismo de exigibilidade in1plementado pelo Estado Parte não é suficiente, a ONU recomenda mecanismos mais eficazes. A Declaração de Viena recomenda que seja criado també1n o direito de petição co1n relação aos direitos previstos no Pacto, através de Protocolo Adicional, ela ainda sugere que sejam estabelecidos indicadores para o acompanha1nento da garantia dos DESC (Direitos Econôn1icos, Sociais e Culturais), assim con10 um esforço integrado pelo seu reconhecimento. No âmbito da OEA, existe o Protocolo de San Salvador, de 1999, que estabelece deveres jurídicos dos Estados parte com relação aos direitos sociais. Segundo o Protocolo, os Estados Parte devem empenhar o máxüno de recursos disponíveis para progressivamentealcançarem a plena Educação em Direitos Humanos ) ( __ 2_3 ___ _ realização dos DESC. No Protocolo de San Salvador, existe a possibilidade de petição individual a instâncias internacionais com relação ao direito à educação e aos direitos sindicais. Com o fim da Guerra Fria, e o avanço nas telecomunicações, o surgimento dos novos temas, e o aumento da cooperação internacional, o tema dos direitos humanos passou a ter 1nais destaque co1no pauta da agenda internacional. Todavia, n1esmo com a ratificação dos principais instrumentos de proteção dos direitos humanos em âmbito internacional (A Carta de Direitos e os Pactos Internacionais de 1966), o caráter social da jurisdição internacional em prol da garantia dos direitos humanos só passou a se consolidar com a Conferência do Cairo de 1944, sobre População e Desenvolvimento ( onde surgiu a expressão "Agenda Social da ONU") que deu origem ao Programa de Ação do Cairo, como um conjunto de medidas a serem implementadas de fonna conjunta em prol das questões sociais relativas ao tema principal da Conferência. A Conferência do Cairo foi essencial para a evolução da proteção aos DESC, uma vez que concluiu que famílias que possuen1 os direitos fundan1entais garantidos são capazes de planejar a fecundidade e garantir a sustentabilidade dos filhos, recriando assim o conceito de Direito Reprodutivo. Em Copenhague, 1995, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social, os países em desenvolvimento resistiram aos condicionantes que os desenvolvidos apresentavam para a consecução de investimentos, dentre eles, o de possuir uma "boa governança". Na Cúpula Mundial de 199 5, poden1os apontar as bases para a Declaração do Milênio de 2000, em especial sobre os compromissos de redução da pobreza e 1niséria absoluta em 2015, através de medidas como a destinação de 0,7% do PIB dos países desenvolvidos à Assistência Oficial ao Desenvolvimento. Fora1n estabelecidas também as bases J ( Educação em Direitos Humanos ------ 24 para as 111etas relativas à igualdade de gênero, à redução da mortalidade infantil, e à educação. Ainda na década de 90 podemos apontar a Conferência de Beijing, de 1995, sobre os Direitos da Mulher, e a Habitat II (Conferencia sobre Assentamentos Humanos) de 1996, em Istambul. Figura2: Sede das Nações Unidas em Nova York/EUA Fonte: Wikimedia O principal resultado dessas conferências foi o fortalecimento do conceito de "empowerment" das 1nulheres, e o fortalecimento do direito a moradia como direito hun1ano. Na agenda da Habitat, houve ainda a inovação da participação de outros atores como ONGS, sindicatos e diversos movimentos sociais, e a repetição das soluções apontadas em Copenhague para o financiamento das propostas, que foi essencialmente a questão dos O, 7% de investimento do PIB dos países desenvolvidos na Assistência Oficial ao Desenvolvünento. Diante da situação apresentada pelas Conferências da década de 90, surge a Declaração do Milênio, no ano 2000, com metas a serem alcançadas até o ano de 2015, complementando e tomando como base as diversas Conferências previamente citadas. A Conferência de Monterrey, de 2002, apresenta Educação em Direitos Humanos ) ( 25 ------ então soluções de como viabilizar a ünplementação dos acordos de 2000, fechando a série de Conferências sobre as questões sociais no âmbito das Nações Unidas. Também devemos destacar, em 2001, a Conferencia de Durban contra o Racismo, a Discriminação Racial, e Intolerância Correlata, que apesar da resistência dos países desenvolvidos, as recomendações de Durban têm se mostrado positivas para a in1plementação da proteção e medidas de reparação contra o racismo em âmbito interno de Estados e1n desenvolvimento. Gostou do que lhe mostramos? Ainda temos muita coisa para aprender! Va1nos resumir tudo o que vimos até agora. Alé1n da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, como já vimos, há outros docu1nentos importantes para o processo de universalização dos direitos hmnanos. A Declaração de Viena de 1993 ( que de fato coloca os direitos humanos como indivisíveis e universais), dá origem então a um sistema normativo internacional de proteção aos direitos. Apesar de estar claro em âmbito internacional que os direitos são indivisíveis, os direitos econô1nicos, sociais e culturais ainda necessitam de implementação e garantias. Assün como a garantia dos direitos da 1 ª geração foi uma foi fruto da luta contra o absolutis1no feudal durante os séculos XVII e XVIII, a garantia dos direitos de 2ª geração foi fruto das lutas sociais contra a exploração do trabalho, por novos espaços para a liberdade coletiva e por uma igualdade material maior que possibilitasse a dignidade humana. No final da Guerra Fria, surgem ainda novas demandas dos novos movünentos sociais, que deram origem aos Direitos dos 26 J ( Educação em Direitos Humanos ------ liiií RESUMINDO (CONTINUAÇ}O) Povos, ou Direitos da Solidariedade, a 3ª geração dos Direitos Humanos, que são ao mesmo tempo direitos individuais e coletivos, demandantes de um esforço coletivo entre indivíduos e Estados, e demais atores da orde1n 1nundial atual. Educação em Direitos Humanos e o Contexto Brasileiro Educação em Direitos Humanos e o Contexto Brasileiro O te1na dos direitos humanos no Brasil passou por contextos diferenciados nas últimas décadas. Previamente ao contexto do governo militar de 1964 a discussão sobre os direitos hu1nanos e suas garantias não era um tema central no país, focado nas questões ligadas ao desenvolvimento e seus possíveis desdobramentos. Desde Getúlio Vargas até então a discussão girava e1n torno dos direitos trabalhistas e as conquistas sociais relacionadas ao mundo do trabalho, como, por exemplo, na Consolidação das Leis do Trabalho. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é a unificação das leis trabalhistas até então em vigência no país. Foi criada pelo Presidente Getúlio Vargas em 1 ° de março de 1943. A CLT regulamenta as leis individuais e coletivas relacionadas ao trabalho no Brasil. Educação em Direitos Humanos ) ( __ 2_7 ___ _ Figura 4: Cartei ra de Trabalho e Previdência Social Fonte: Wikimedia A repressão aos direitos durante o governo militar instaurado em 1964 inaugurou uma nova etapa na consideração a respeito dos direitos hu1nanos no país. O cercea1nento às liberdades individuais e coletivas como a proibição da organização sindical, a censura à liberdade de expressão e o cerco à imprensa, além da torhira e da prisão de oponentes políticos violava não apenas os direitos civis e políticos, mas ta1nbém os direitos econômicos, sociais e culturais. A reação a esse contexto de violações de direitos trouxe ao contexto nacional de forma 1nais evidente o debate internacional sobre a necessidade de respeito e da garantia dos direitos humanos. O período seguinte, da transição democrática após o fi1n do regime 1nilitar, insere o país em um processo de abertura co1nercial. No mesmo contexto em que a "Constituição Cidadã" de 1988 foi promulgada, a inserção do país na globalização econôn1ica internacional colocava em cheque a previsão de garantia de direitos, e1n especial os de orde1n econômica e social previstos na Constituição Federal de 1988. 28 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ A Constituição Federal de 1988 ficou conhecida como a "Constituição Cidadã" por marcar a transição entre o regime autoritário e a reconquista da democracia, além de conter princípios constitucionais e garantias de direitos que consolidam direitos civis, políticos, econômicos, soc1a1s e culturais, dentre outros. Para mais informações acesse: https ://bit.ly/2KLG 1 CD O Contexto Brasileiro da Educação em Direitos Humanos Como observamos durante o período do regime militar de 1964 a abordagem ao te1na dos direitos humanos confonne compreendido em âmbito internacional ganhou mais relevo no país. Comissões de direitos humanos foram organizadaspor membros da Igreja Católica, movünentos sociais, dentre outros. Após a transição den1ocrática, o ten1a foi incorporado à discussão sobre a democracia em si. Nos espaços fonnais de educação o tema passou a ser abordado de forma transversal, além da organização de cursos, palestras e outras ações nos espaços não formais. Na atualidade a discussão sobre os direitos humanos enfrenta dois grandes desafios, o que atravessa diretamente a abordagen1 da educação sobre o ten1a, perpassando limitações: "Duas ordens de limitações pesam sobre o conceito de direitos humanos e sua capacidade de constituir força educadora significativa na consciência das pessoas. A primeira vem do choque desses direitos com o forte impulso repressivo que as Educação em Direitos Humanos ) ( 29 ------ reiteradas - e, via de regra, sensacionalistas - denúncias de casos de crimes violentos aponta, para a acentuação das condenações e penalizações, como se o aumento das penas pudesse, por si só, ter efeito importante na luta contra a impunidade e a in1posição do Estado de Dii-eito ( ... ) A outra grande dificuldade consiste na consideração dos direitos humanos de forma restrita, separado dos outros direitos - sobretudo econômicos e sociais. A origem do conceito contemporâneo pern1itiu essa fragmentação, porque ele nasceu na resistência à ditadura militar, com essa conotação, além do marco internacional, de hegemonia das concepções liberais, quer apontam nessa direção( ... )". (SADER, 2007) Sader argumenta que apenas u1na abordagem que considere o te1na dos direitos hun1anos de forn1a 111ais abrangente pode superar os desafios propostos. Conforme já foi estabelecido internacionalmente, os direitos humanos são indivisíveis, portanto a não garantia dos direitos sociais, econômicos e culturais, ou dos direitos coletivos, impacta diretamente na garantia dos direitos individuais e vice-versa. No que tange as ações oficiais sobre o te1na da educação em direitos humanos devemos pontuar a previsão da Constituição Federal de 1988, além da Lei Darcy Ribeiro, a lei nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a respeito da centralidade do exercício da cidadania como um dos objetivos da educação em nosso país, prevendo, para esse :fi1n, uma processo de ensino- aprendizagem inspirado "nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade hu1nana, com a :finalidade do pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Conforme falamos anteriormente, em 2003 foi lançado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos a partir J ( Educação em D irei tos Humanos ------ 30 dos parâmetros internacionais e nacionais sobre o te1na, e1n especial a consideração do Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH). No Plano Nacional o governo brasileiro em conjunto com as organizações da sociedade civil estabeleceu como objetivos em seu artigo 2°: a) fortalecer o respeito aos direitos humanos e liberdades fundan1entais; b) promover o pleno desenvolvimento da personalidade e dignidade humana; c) fomentar o entendimento, a tolerância, a igualdade de gênero e a amizade entre as nações, os povos indígenas e grupos raciais, nacionais, étnicos, religiosos e lingüísticos; d) estünular a participação efetiva das pessoas e1n uma sociedade livre e democrática governada pelo Estado de Direito; e) construir, promover e manter a paz. Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH) disponibilizado e1n português, conheça a Primeira e a Segunda Fase dos planos de ação. Acesse: https:/ /bit. ly/2Z2JYl5 Figura 5: 70 anos da Declaração Internacional dos Direitos Humanos -- ANOS -- DECLARACIÓN UNIVERSAL DE DERECHOS HUMANOS #STANDUP.<lHUMANRIGHTS Fonte; Wikimedia Educação em Direitos Humanos ) ( __ 3_1 ___ _ Nas reflexões sobre o contexto da educação en1 direitos humanos no Brasil é sempre importante lembrar que a desigualdade, em especial a social, que marca a sociedade brasileira representa um desafio potencial e, ao mesmo tempo, evoca a necessidade da reflexão, discussão e implementação de ações sobre o tema. A educação que estimule a consciência para os processos que geram e legitimam a desigualdade poden1 fomentar a reflexão sobre a necessidade da solidariedade e da tolerância entre aqueles "diferentes". A exclusão social marca também o distanciamento de ampla parcela da sociedade brasileira de seu conjunto de direitos, relacionando direta1nente a falta de acesso à educação de qualidade ao processo de não reconhecünento do papel de cidadão em sociedade. O obstáculo ao exercício da cidadania perpassa não apenas a assimetria com relação à informação, à educação e à participação política, mas às condições básicas de existência, como a alitnentação, o saneamento básico, dentre outros fatores, evidenciando a importância das discussões sobre os direitos humanos perpassarem os processos fonnais e inf armais de educação. E então? Gostou do que lhe 1nostra1nos? Aprendeu mes1no? Agora, só para tennos certeza de que você realmente entendeu o te1na de estudo deste capítulo, van1os resumir tudo o que vimos . O tema dos direitos humanos no Brasil passou por contextos diferenciados nas últimas décadas. Previamente ao contexto do governo militar de 1964 a discussão sobre os direitos humanos e suas garantias não era um tema central no país, focado nas questões ligadas ao desenvolvimento e seus possíveis desdobramentos. A repressão aos direitos 32 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ durante o governo militar instaurado em 1964 inaugurou un1a nova etapa na consideração a respeito dos direitos humanos no país, ensejando a organização de movimentos que pleiteassem o respeito e a garantia de direitos diante das violações identificadas naquele período histórico. No mesmo contexto em que a "Constituição Cidadã" de 1988 foi promulgada, a inserção do país na globalização econômica internacional colocava em cheque a previsão de garantia de direitos, em especial os de ordem econômica e social previstos na Constituição Federal de 1988. Atualmente debatemos a consideração de que os direitos humanos são indivisíveis, portanto a não garantia dos direitos sociais, econô1nicos e culturais, ou dos direitos coletivos, impacta diretamente na garantia dos direitos individuais e vice-versa, o que está diretamente relacionado a dois grandes desafios dos direitos humanos no Brasil: a questão da violência e a fragmentação de direitos . Desde 2003 o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos tem buscado balizara orientação oficial sobre o tema, após discussões com entidades da sociedade civil. Educação em Direitos Humanos na Contemporaneidade A Conexão Entre Direitos Humanos e a Educação Atualmente Atualmente a necessária conexão entre os direitos humanos e a educação e1n direitos hu1nanos torna-se ainda Educação em Direitos Humanos ) ( __ 3_3 ___ _ mais importante diante dos inú1neros desafios impostos a ambos, como a grande defasagem na educação formal, reflexo da desigualdade social, o modelo tradicional de educação e a resistência a pressupostos teóricos e práticas inovadoras que considerem o tema dos direitos humanos de forma transversal, a não implementação das ações previstas no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, especialmente no que tange a abordagem do tema na formação continuada dos docentes, e os desafios aos direitos humanos como a resistência devido ao quadro de insegurança pública e o privilégio dado à consideração dos direitos civis e políticos em detrimento dos den1ais. A excessiva ênfase na consideração da educação co1no instrumento exclusivo de formação de 1não-de-obra, desconsiderando o caráter de inclusão, estímulo à reflexão crítica e inserção plena do cidadão em sociedade representa um desafio extra à educação em direitos humanos nos tempos atuais. Em paralelo, as sucessivascrises, em especial na educação pública nas últimas décadas, fruto de uma (re) consideração do papel do Estado e de crises orçamentárias do setor público, agravam ainda mais o cenário, impondo uma agenda do "mínimo" às condições adversas enfrentadas pela educação pública, considerando projetos e tarefas "extras" co1no podem vir a ser consideradas as que levam o tema dos direitos humanos à centralidade ( em uma visão que não concebe a questão desde o início do planejamento escolar). A Declaração Universal dos Direitos Hu1nanos assegura a educação enquanto direito humano fundamental, em seu artigo 26, que prevê que: "l . Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elen1entar será obrigatória. A instrução técnico- profissional será acessível a todos, bem como a instlução superior, esta baseada no n1érito. 34 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades funda1nentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. ( ... )". Dentro desse contexto, o direito à educação pressupõe, dentro da concepção da educação em direitos humanos, que o aluno seja visto co1no sujeito detentor de direitos e deveres, que deve ser respeitado em suas características étnicas, culturais, econômicas, dentre outras. O direito à educação recebe a missão de ser uma "porta de entrada" aos demais direitos, pois a reflexão do papel do indivíduo enquanto membro de uma coletividade, a sociedade, desperta a reflexão crítica necessária para compreensão dos direitos, alé1n dos deveres. Cabe ressaltannos que no Brasil, para alén1 da educação formal, desde a década de 1980 há um trabalho intenso das organizações da sociedade civil organizada, como as organizações não governamentais e movimentos sociais. Confonne vimos, a mobilização inicial em torno da garantia dos direitos civis e políticos no contexto do regime 1nilitar de 1964 despertaram o ativismo pelos direitos humanos e a 1nobilização em torno do tema. Este trabalho ocorre e1n consonância co1n o poder público, porém, 1nuitas vezes, busca suprir lacunas que a oferta de políticas públicas deixa no país. "A sociedade civil designa todas as formas de ação social levadas a cabo por indivíduos ou grupos que não emanam do Estado ne1n são por ele determinadas. Uma sociedade Educação em Direitos Humanos ) ( 35 ------ civil organizada é urna estrutura organizativa cujos membros serven1 o interesse geral através de um processo democrático, atuando como intennediários entre os poderes públicos e os cidadãos." Disponível e1n: https://bit.ly/2Sh96ch. (Acesso em 10/05/2019). Assim, tanto en1 espaços de educação não formal quanto, e principalmente, em espaços de educação formal, um desafios contemporâneos à educação em direitos humanos é a formação de professores habilitados a considerar o tema em seus planejamentos de aula, a partir de uma formação deles próprios em direitos humanos e a compreensão de como, metodologicamente, trabalhar as questões relacionadas. Apesar do Plano Nacional e1n Direitos Humanos prever ações no sentido da educação em direitos humanos integrar o currículo das instituições de formação de professores, ainda há lacunas nessa formação. Outra questão correlata, conforme debatemos no início desta unidade, é a necessidade da superação de uma educação meramente tecnicista, voltada exclusivamente para a capacitação específica para u1n ofício. É essencial a consideração dos professores também como cidadão capaz de não apenas participar do processo de ensino-aprendizagem, mas também enquanto agente fundamental de mobilização para os direitos humanos. Cabe ressaltarmos que nos espaços de educação não fonnal como presídios, organizações não-governamentais, espaços de educação religiosa, dentre outros, tan1bé1n cabe a mobilização dos docentes para o tema, pois, estes, muitas vezes, 36 J ( Educação em D irei tos Humanos ------ lidam diretamente com grupos excluídos e marginalizados em nossa sociedade, justa1nente onde a conscientização para a cidadania plena pode fazer ainda mais diferença. Hodiemamentetambéméfundamentalaconceitualização e a promoção da reflexão a respeito dos direitos de igualdade e os de diferença compreende especificidades das pautas identitárias, relacionadas a temas como sexualidade, étnico- raciais, dentre outras. Esses são temas que tem mobilizado a sociedade devido a diferentes visões sobre como o direito à diferença deve ser tratado. Todavia, se consideramos a questão da educação e111 direitos hu1nanos devemos sempre le111brar que esta111os partindo de pressupostos teóricos e metodológicos consolidados nacional e internacionalmente a partir da garantia e da promoção de direitos, estabelecendo um roteiro mínimo e que busca ser consensual para estes temas. Para além de disputas políticas e ideológicas, há seres humanos que necessita1n da intervenção da sociedade para terem o direito à vida e à inclusão social garantidos. Algumas estratégias para a superação das questões aqui tratadas relacionadas aos desafios da educação em direitos humanos na contemporaneidade passam pelo trabalho de formação dos professores, para a consideração da temática na educação desde o ensino funda1nental, pelo reconhecimento das diferenças e do tratamento básico dado a essa questão e a efetivação do direito em direitos humanos em espaços formais e não formais de ensino. Educação em Direitos Humanos ) ( 37 ------ Estratégias para Conexão entre Direitos Humanos e Educação Atualmente O desafio da imple1nentação e da garantia dos direitos hu1nanos na sociedade moderna é permanente. Demanda educação e mobilização de indivíduos conscientes de seu papel na sociedade moderna e que possam, para além da consciência, ter acesso a mecanismos efetivos de garantia desses direitos . Como vimos ao longo da unidade I, há tanto em âmbito internacional quanto en1 âmbito nacional, no que tange a construção de direitos positivados, marcos legais que subsidiam e efetivam os direitos humanos . Todavia, é importante que a sociedade tenha a seu dispor a concepção de uma reflexão crítica contínua, além de instrumentos práticos. No Brasil, é importante irmos além do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, fundamental em sua concepção e estratégias, porém, enquanto fruto de discussão e ünplementação de políticas públicas é um instrumento que baliza as discussões e as ações sobre o tema, demandando o investimento público e privado tanto em termos de recursos financeiros, quanto na concepção de estratégias e planejamentos de efetivação. Para isso, iniciativas de valorização de projetos e experiências que já lidan1 como o ten1a são fundamentais, assim como a parceria entre os diferentes setores da sociedade. Por fim, é necessário a reflexão constante sobre a formação de professores, a pesquisa científica na área e a ünplementação pedagógica em educação em direitos humanos, a fim de que os processos teóricos e 1netodológicos seja1n constantemente revistos e 1nelhorados em prol da consolidação e a1npliação de direitos. J ( Educação em Direitos Humanos ------ 38 Figura 6: Representação figurativa de igua ldade Fonte: Frccpik Um exemplo de iniciativa de formação e valorização da educação em direitos humanos é o "Prêmio Municipal Educação em Direitos Hu1nanos da Cidade de São Paulo" que divide a pre1niação de boas práticas e1n categorias de projetos feitos por professores, estudantes, da unidade escolar con10 um todo, dentre outros. Para mais informações sobre o prêmio acessar: https://bit.ly/2ORAo YH Nossa prüneira unidade está chegando ao fim,e então, gostou do que lhe mostran1os? Agora, só para tennos certeza de que você realn1ente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resun1ir tudo o que vimos. Atualn1ente a necessária conexão entre os direitos humanos e a educação em direitos humanos torna-se ainda mais importante diante Educação em Direitos Humanos e o ContextoBrasileiro
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