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335 CP x Prescrição da pretensão punitiva do crime de falsidade ideológica

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Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
CP x Prescrição da pretensão punitiva do crime de falsidade 
ideológica 
 
 
 
**RvCR 5.233 STJ (Info 672): 
 
REVISÃO CRIMINAL. ART. 621, I, CPP. CONDENAÇÃO POR 
FALSIDADE IDEOLÓGICA (ART. 299, CP) DECORRENTE DA 
INSERÇÃO DO NOME DE TERCEIROS (“LARANJAS”), NO 
CONTRATO SOCIAL DE EMPRESA QUE ERA DA PROPRIEDADE 
DO RÉU. CRIME INSTANTÂNEO CONSUMADO NO MOMENTO DA 
PRIMEIRA ALTERAÇÃO FRAUDULENTA, QUE NÃO SE REITERA 
OU CONTINUA PELO FATO DE, EM ALTERAÇÕES CONTRATUAIS 
POSTERIORES, OS NOMES DAS SÓCIAS “LARANJA” NÃO TEREM 
SIDO TROCADOS PELOS NOMES DOS VERDADEIROS SÓCIOS. 
TERMO INICIAL DA CONTAGEM DO PRAZO PRESCRICIONAL: O 
MOMENTO DA CONSUMAÇÃO DO DELITO. PRESCRIÇÃO DA 
PRETENSÃO PUNITIVA QUE SE RECONHECE. 
1. Por força do art. 105, inciso I, alínea e da Constituição Federal, a 
competência desta Corte para processar e julgar Revisão Criminal limita-se 
às hipóteses de seus próprios julgados, demandando, ainda, que a questão 
tenha sido examinada no mérito nesta instância. Precedentes do STJ. Se a 
alegação de atipicidade da conduta não chegou a ser conhecida em recurso 
especial julgado nesta Corte, não é do STJ a competência para reexaminá-
la, em sede de revisão criminal. 
2. A falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos efeitos podem 
vir a se protrair no tempo. A despeito dos efeitos que possam, ou não, vir a 
gerar, ela se consuma no momento em que é praticada a conduta. 
Precedentes. 
3. Diante desse contexto, o termo inicial da contagem do prazo da 
prescrição da pretensão punitiva é o momento da consumação do delito, e 
não da eventual reiteração de seus efeitos. Se o julgado rescindendo admite 
que os falsos foram praticados em 2003 e 2007, quando as sócias “laranja” 
foram incluídas pela primeira vez no contrato social da empresa, erra ao 
afirmar que teriam sido reiterados quando, por ocasião das alterações 
contratuais ocorridas em 21/06/2010, 1°/06/2011 e 26/07/2011, o réu 
deixou de regularizar o nome dos sócios verdadeiramente titulares da 
empresa, mantendo o nome dos “laranjas”. Isso porque, não há como se 
entender que constitui novo crime a omissão do réu em corrigir informação 
falsa por ele inserida em documento público quando teve oportunidade para 
tanto. Tampouco há como se entender que a lei pune um crime instantâneo 
porque ele continua produzindo efeitos depois de sua consumação. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
4. Considerando-se que o julgado rescindendo deu parcial provimento ao 
recurso especial da defesa para, estabelecida a pena-base no mínimo legal, 
fixar a pena definitiva em 1 ano, 2 meses e 12 dias de reclusão, e 12 dias-
multa, a prescrição pela pena em concreto, nos termos dos arts. 109, VI, c/c 
110, caput, do Código Penal, verifica-se “em 3 (três) anos, se o máximo da 
pena é inferior a 1 (um) ano”. Sabido que a denúncia (primeiro dos marcos 
interruptivos da prescrição – art. 117, I, CP) foi recebida em 10/01/2013, 
tem razão o autor da revisão criminal quanto afirma que os delitos, 
praticados 2003 e 2007, pelos quais foi condenado estão prescritos. 
 5. Revisão criminal conhecida em parte, e, na parte conhecida, julgada 
procedente, para reconhecer a ocorrência da prescrição da pretensão 
punitiva estatal. 
 
 
FRASE-RESUMO: 
 
 Na falsidade ideológica, o termo inicial da contagem do prazo da 
prescrição da pretensão punitiva é o momento da consumação do delito e 
não o da eventual reiteração de seus efeitos. 
 
 
**Trechos do julgado acima: 
. 
 
(...) 
 
Reconhecendo a competência desta Corte para apreciar e julgar apenas os 
pedidos revisionais que abranjam questões cujo mérito já foi examinado 
por esta Corte (seja para negar ou dar provimento), confiram-se, dentre 
outros, os seguintes precedentes: 
 
PENAL E PROCESSUAL. REVISÃO CRIMINAL. 
COMPETÊNCIA DO STJ. QUESTÃO ANALISADA PELA 
CORTE. NECESSIDADE. DECISÃO CONDENATÓRIA 
CONTRÁRIA A TEXTO EXPRESSO DE LEI. INEXISTÊNCIA. 
DOSIMETRIA DEVIDAMENTE MOTIVADA. TESES JÁ 
ANALISADAS ANTERIORMENTE PELO ACÓRDÃO 
REVISANDO. REITERAÇÃO. 
1. A Terceira Seção deste Superior Tribunal possui entendimento 
de que compete a esta Casa o julgamento de revisão criminal 
somente quando a questão objeto do pedido revisional tiver sido 
examinada anteriormente por esta Corte, o que não ocorreu 
quanto ao regime de cumprimento da pena. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
(...) 
5. Os tribunais pátrios têm o entendimento de que não se admite 
a mera reiteração de teses já analisadas pelo acórdão revisando. 
Precedente do Supremo Tribunal Federal. 
 6. Revisão parcialmente conhecida, sendo o pedido, nessa 
extensão, julgado improcedente. 
(RvCr 2.877/PE, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, 
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/02/2016, DJe 10/03/2016) – 
negritei. 
 
REVISÃO CRIMINAL. ROUBO DUPLAMENTE 
CIRCUNSTANCIADO EM CONTINUIDADE DELITIVA 
(ART. 157, § 2o., I e II, C/C O ART. 71, PARÁG. ÚNICO, 
TODOS DO CPB). INEXISTÊNCIA DE JULGADO DESTA 
CORTE PASSÍVEL DE REVISÃO. INCOMPETÊNCIA DO 
STJ. INTELIGÊNCIA DO ART. 105, I, A DA CF. NÃO 
CONHECIMENTO. 
1. Por força do art. 105, inciso I, alínea e da Constituição 
Federal, a competência desta Corte para processar e julgar 
Revisão Criminal limita-se às hipóteses de seus próprios 
julgados; assim, inexistindo nesta Corte julgamento de mérito 
passível de revisão em relação à condenação sofrida pelo 
recorrente, forçoso o reconhecimento da incompetência deste 
Tribunal para o julgamento do presente pedido. 
 2. Revisão Criminal não conhecida. 
 (RvCr 1.029/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA 
FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/10/2009, DJe 
10/12/2009) – negritei. 
 
"REVISÃO CRIMINAL. ROUBO QUALIFICADO. CONCURSO 
FORMAL. 
 É competente o Superior Tribunal de Justiça para conhecer, em 
parte, da súplica, tendo em vista que o concurso formal foi 
reconhecido por essa Corte, ao prover, em parte, recurso 
especial aviado pelo Ministério Público contra o acórdão do 
Tribunal de Alçada Criminal que, provendo parcialmente 
recurso de apelação do réu, modificou a sentença condenatória 
em tal segmento. 
É incompetente para rever a decisão quanto ao concurso de 
agentes, visto que nada decidiu a respeito. (...) Pedido 
parcialmente conhecido e, nessa parte, julgado improcedente. 
(RvCr 717/SP, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, 
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 10/08/2005, DJ 14/09/2005, p. 
189) – negritei. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
 
Assim sendo, manejado o pedido de revisão criminal com amparo no art. 
621, I, do CPP (“quando a sentença condenatória for contrária ao texto 
expresso da lei penal ou à evidência dos autos”) e preenchidos os requisitos 
processuais para o seu conhecimento, ainda que em parte, recebo a petição 
inicial apenas no que toca às alegações de prescrição da pretensão punitiva 
e de inexistência de continuidade delitiva. 
 
Da alegação de prescrição da pretensão punitiva 
 
No que diz respeito à alegação de prescrição da pretensão punitiva, entendo 
que a tese do autor merece ser acolhida. 
 
 Com efeito, a falsidade ideológica é crime formal e instantâneo, cujos 
efeitos podem vir a se protrair no tempo. A despeito dos efeitos que possa, 
ou não, vir a gerar, ela se consuma no momento em que é praticada a 
conduta. 
 
A propósito da natureza jurídica do delito, confira-se a lição de Guilherme 
de Souza Nucci quando comenta o art. 299 do Código Penal: 
 
79. Classificação: trata-se de crime comum (aquele que pode ser 
cometido por qualquer pessoa); formal (delito que não exige, 
para sua consumação, a ocorrência de resultado naturalístico, 
consistente na efetiva ocorrência de um dano para alguém)(...); 
comissivo (o verbo implica ação) na forma “inserir” ou “fazer 
inserir”, e omissivo (o verbo indica abstenção), na modalidade 
“omitir”. (...); instantâneo (cuja consumação não se prolonga 
no tempo, dando-se em momento determinado); (...). 
(in Código Penal comentado. 19ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 
2019, p. 1.396) 
 
Vale à pena examinar também o entendimento do STJ a respeito do 
momento da consumação de delitos instantâneos de efeitos permanentes e, 
de consequência, do termo inicial para a contagem do prazo prescricional: 
 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. 
PARCELAMENTO ILEGAL DE SOLO. CRIME INSTANTÂNEO 
DE EFEITOS PERMANENTES. CONSUMAÇÃO NA DATA EM 
QUE INICIADO O LOTEAMENTO. PRESCRIÇÃO. NÃO 
INDICAÇÃO DA DATA EXATA DOS FATOS NA DENÚNCIA. 
CRIME QUE TERIA OCORRIDO DENTRO DE UM LAPSO 
TEMPORAL. CONSIDERAÇÃO DA DATA MAIS BENÉFICA 
AO ACUSADO. TRANSCURSO LAPSO TEMPORAL 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
SUFICIENTE AO RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO DA 
PRETENSÃO PUNITIVA ESTATAL. PROVIMENTO DO 
RECLAMO. 
 1. O crime de parcelamento ilegal de solo é instantâneo de 
efeitos permanentes, razão pela qual o termo inicial do prazo 
prescricional é a data do início do loteamento, momento em que 
o crime se consumou. Doutrina. Precedentes do STJ e do STF. 
2. Nos casos em que o Ministério Público não declina na 
denúncia o(s) dia(s) preciso(s) dos fatos, indicando apenas um 
período de tempo dentro do qual a conduta teria sido praticada, 
esta Corte Superior de Justiça e o Supremo Tribunal Federal tem 
reputado a data mais benéfica ao acusado como sendo aquela a 
ser tida em conta para o cômputo do lapso prescricional. 
3. Na hipótese em apreço, não tendo o órgão ministerial 
indicado as datas em que o recorrente teria praticado o ilícito 
disposto no artigo 50, inciso I, e parágrafo único, inciso I, da Lei 
6.766/1979, afirmando, apenas, que os fatos teriam ocorrido 
entre os anos de 2002 a 2014, impõe-se a consideração da data 
mais benéfica ao acusado, qual seja, o dia 1.1.2002. 4. Entre 
1.1.2002 e 4.2.2014, data em que recebida a denúncia e primeiro 
marco interruptivo previsto no artigo 117 do Código Penal, 
transcorreram mais de 12 (doze) anos, o que revela a ocorrência 
da prescrição da pretensão punitiva estatal em sua modalidade 
retroativa (artigo 110, §§ 1º e 2º, do Código Penal, na redação 
anterior à Lei 12.034/2010). 
5. Recurso provido para declarar extinta a punibilidade do 
recorrente pela prescrição da pretensão punitiva estatal, 
estendendo-se os efeitos da decisão ao corréu em idêntica 
situação, na forma do artigo 580 do Código de Processo Penal. 
(RHC 65.785/RJ, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA 
TURMA, julgado em 19/04/2018, DJe 27/04/2018) – negritei. 
 
 PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO 
EM RECURSO ESPECIAL. ESTELIONATO 
PREVIDENCIÁRIO. ART. 171, § 3º, DO CP. AUSÊNCIA DE 
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. SÚMULA 182/STJ. 
PRESCRIÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. CRIME INSTANTÂNEO 
DE EFEITOS PERMANENTES. SÚMULA 568/STJ. AGRAVO 
REGIMENTAL IMPROVIDO. 
 (...) 
 4. A jurisprudência desta Corte tem entendido que o crime de 
estelionato previdenciário praticado para que terceira pessoa 
possa se beneficiar indevidamente da fraude tem natureza de 
crime instantâneo com efeitos permanentes, devendo ser 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
contado o prazo prescricional a partir do recebimento da 
primeira prestação do benefício indevido. 
5. Não tendo transcorrido período superior a 8 anos entre os 
marcos interruptivos do prazo prescricional, inviável o 
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva, como 
pretendido na irresignação. 6. Agravo regimental improvido. 
 (AgRg no AREsp 1.203.461/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO 
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/04/2018, DJe 
12/04/2018)- negritei. 
 
PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. 1. 
IMPETRAÇÃO SUBSTITUTIVA DO RECURSO PRÓPRIO. 
NÃO CABIMENTO. 2. CRIME DE APROPRIAÇÃO INDÉBITA 
TRIBUTÁRIA. ART. 2º, II, DA LEI 8.137/1990. TERMO INICIAL 
DO PRAZO PRESCRICIONAL. DATA DA ENTREGA DA 
DECLARAÇÃO (DIRF). CRIME INSTANTÂNEO. 3. 
PRESCRIÇÃO IMPLEMENTADA EM RELAÇÃO A UM DOS 
FATOS. 4. CRÉDITO TRIBUTÁRIO REMANESCENTE 
INFERIOR A 20 MIL. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA 
INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. PARÂMETRO 
FIRMADO PELO STJ EM 10 MIL. 5. HABEAS CORPUS NÃO 
CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO, APENAS 
PARA RECONHECER A PRESCRIÇÃO DO PRIMEIRO FATO. 
 (...) 
 2. O art. 2º, II, da Lei n. 8.137/1990 não é crime permanente. 
Com efeito, sua consumação é instantânea, e se dá com a 
omissão dos valores na Declaração de Imposto Retido na Fonte 
e o seu consequente não recolhimento. Como é cediço, o crime 
permanente não se confunde com o crime instantâneo de 
efeitos permanentes. A omissão ocorreu em momento 
determinado, irradiando seus efeitos, o que não revela conduta 
permanente mas apenas efeitos permanentes. 
3. Os pacientes deixaram de recolher em 2010, os valores 
referentes ao ano-calendário 2009, tendo entregado a DIRF em 
20/3/2010. E deixaram de recolher em 2011, os valores relativos 
ao ano-calendário 2010, tendo entregado a DIRF em 23/6/2011. 
Cuidando-se, portanto, de crime instantâneo, consumou-se no 
momento em que os pacientes entregaram a DIRF com 
informações incorretas, não recolhendo, consequentemente, os 
valores devidos. Dessa forma, verificando-se que a denúncia foi 
recebida em 5/6/2013, implementou-se o prazo necessário ao 
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva estatal, 
apenas com relação aos valores não declarados nem recolhidos 
em 2010, referentes ao ano-calendário 2009. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
4. (...) 
5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, 
apenas para reconhecer a prescrição da pretensão punitiva 
estatal, na modalidade retroativa, com relação ao primeiro fato. 
(HC 374.318/SP, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA 
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 16/02/2017, DJe 
21/02/2017) – negritei. 
 
RECURSO EM HABEAS CORPUS. 1. CRIME CONTRA A 
ORDEM PRESCRICIONAL. MOMENTO CONSUMATIVO. 
CRIME FORMAL E INSTANTÂNEO. FRAUDE 
CONTRATUAL. CONDUTA QUE NÃO SE PROLONGA NO 
TEMPO. EFEITOS QUE PERDURAM ATÉ SUA 
DESCOBERTA. DELITO QUE SE CONSUMA COM A 
CONDUTA E NÃO COM A DESCOBERTA DA FRAUDE. 2. 
LAPSO PRESCRICIONAL IMPLEMENTADO. ART. 109, V, DO 
CP. CONDUTA PERPETRADA NO ANO DE 2000. DENÚNCIA 
RECEBIDA EM 2/2/2011. FATO COMETIDO ANTES DA LEI 
N. 12.234/2010. 3. RECURSO EM HABEAS CORPUS A QUE 
SE DÁ PROVIMENTO, PARA RECONHECER A PRESCRIÇÃO 
E EXTINGUIR A PUNIBILIDADE DO RECORRENTE. 
1. A celeuma apresentada nos presentes autos diz respeito ao 
início do prazo prescricional, no que concerne ao crime do art. 
2º, inciso I, da Lei n. 8.137/1990. Referido tipo tem natureza de 
crime formal, instantâneo, sendo suficiente a conduta 
instrumental, haja vista não ser necessária a efetiva supressão 
ou redução do tributo para a sua consumação. No caso, a 
fraude foi empregada em momento determinado, irradiando 
seus efeitos até sua descoberta, o que não revela conduta 
permanente mas apenas de efeitos permanentes, os quais 
perduraram até a descoberta do engodo. 
 2. Dessarte, cuidando-se de crime instantâneo, cuja 
consumação se deu com a alteração fraudulenta do contrato 
social da empresa, a qual foi perpetrada no ano de 2000, 
verifico que este deve ser o termo inicial do prazo prescricional, 
nos termos do art. 111, inciso I, do Código Penal. Importante 
destacar, ademais, que no caso dos autos não se aplica a parte 
final do art. 110, § 1º, do Código Penal, haja vista referida 
alteração legislativa, trazida pela Lei n. 12.234/2010, ser 
posterior à data dos fatos. 
3. Recurso em habeas corpus provido, para reconhecer a 
prescriçãoda pretensão punitiva estatal com base na pena 
aplicada em concreto, extinguindo, por conseguinte, a 
punibilidade do recorrente. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
(RHC 36.024/ES, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA 
FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 
01/09/2015) – negritei. 
 
No caso concreto, o julgado rescindendo admite que os falsos foram 
praticados em 2003 e 2007, mas parte do princípio de que teriam sido 
reiterados quando, por ocasião das alterações contratuais ocorridas em 
21/06/2010, 1°/06/2011 e 26/07/2011, o réu deixou de regularizar o nome 
dos sócios verdadeiramente titulares da empresa, mantendo o nome dos 
“laranjas”. 
 
(...) 
 
No entanto, a interpretação dada pelo julgado rescindendo é equivocada. A 
lei não pune um crime instantâneo porque ele continua produzindo efeitos 
depois de sua consumação. Seria absurdo punir um homicídio 
perpetuamente porque a vítima continua morta. O prazo prescricional deve 
ser contado da consumação do delito, e não da eventual reiteração de seus 
efeitos. 
 
Também não há como se entender que constitui novo crime a omissão do 
réu em corrigir informação falsa por ele inserida em documento público 
quando teve oportunidade para tanto. 
. 
**Outros julgados sobre crime de falsidade ideológica (art. 
299 do CP): 
. 
 
**HC 261.074 STJ (Info 546): 
 
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE 
RECURSO ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. CRIMES DE USO DE 
DOCUMENTO FALSO E FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO 
DE POBREZA PARA OBTENÇÃO DA JUSTIÇA GRATUITA. 
CONDUTA ATÍPICA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 
AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL 
EVIDENCIADO. ORDEM NÃO CONHECIDA. HABEAS CORPUS 
CONCEDIDO DE OFÍCIO. 
– O Superior Tribunal de Justiça, seguindo o entendimento da Primeira 
Turma do Supremo Tribunal Federal, passou a inadmitir habeas corpus 
substitutivo de recurso próprio, ressalvando, porém, a possibilidade de 
concessão da ordem de ofício nos casos de flagrante constrangimento 
ilegal. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
 – O entendimento do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que a 
mera declaração de estado de pobreza para fins de obtenção dos benefícios 
da justiça gratuita não é considerada conduta típica, diante da presunção 
relativa de tal documento, que comporta prova em contrário. 
 Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício para determinar 
o trancamento da ação penal. 
 
 
**Trechos do julgado acima: 
 
(...) 
 
Extrai-se dos autos que o paciente foi denunciado como incurso nas 
sanções do art. 304, caput, do Código Penal, por suposto uso de documento 
público falsificado, consistente em uma declaração de hipossuficiência, a 
fim de beneficiar-se da justiça gratuita. 
 
(...) 
 
O Superior Tribunal de Justiça, na esteira do entendimento firmado pelo 
Supremo Tribunal Federal, tem amoldado o cabimento do remédio heróico, 
adotando orientação no sentido de não mais admitir habeas corpus 
substitutivo de recurso no processo penal. Contudo, à luz de princípios 
constitucionais, sobretudo o do devido processo legal e da ampla defesa, 
tem-se analisado as questões suscitadas na exordial a fim de se verificar a 
existência de constrangimento ilegal para, se for o caso, deferir-se a ordem 
de ofício. 
 
A propósito, confira-se: 
 
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO 
ORDINÁRIO. DESCABIMENTO. COMPETÊNCIA DAS 
CORTES SUPERIORES. MATÉRIA DE DIREITO ESTRITO. 
MODIFICAÇÃO DE ENTENDIMENTO DO STJ, EM 
CONSONÂNCIA COM O STF. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
CONTRA A MULHER. MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA. 
PRISÃO PREVENTIVA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. 
FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE 
FLAGRANTE QUE, EVENTUALMENTE, PUDESSE ENSEJAR 
A CONCESSÃO DA ORDEM DE OFÍCIO. HABEAS CORPUS 
NÃO CONHECIDO. 
 1. O Excelso Supremo Tribunal Federal, em recentes 
pronunciamentos, aponta para uma retomada do curso regular 
do processo penal, ao inadmitir o habeas corpus substitutivo do 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
recurso ordinário. Precedentes: HC 109.956/PR, Primeira 
Turma, Rel. Ministro Marco Aurélio, julgado em 07/08/2012, 
publicado no DJe de 11/09/2012; HC 104.045/RJ, Primeira 
Turma, Rel. Ministra Rosa Weber, julgado em 28/08/2012, 
publicado no DJe de 06/09/2012; HC 108181/RS, Primeira 
Turma, Relator Min. LUIZ FUX, julgado em 21/08/2012, 
publicado no DJe de 06/09/2012. Decisões monocráticas dos 
ministros Luiz Fux e Dias Tóffoli, respectivamente, nos autos do 
HC 114.550/AC (DJe de 27/08/2012) e HC 114.924/RJ (DJe de 
27/08/2012). 
2. Sem embargo, mostra-se precisa a ponderação lançada pelo 
Ministro Marco Aurélio, no sentido de que, 'no tocante a habeas 
já formalizado sob a óptica da substituição do recurso 
constitucional, não ocorrerá prejuízo para o paciente, ante a 
possibilidade de vir-se a conceder, se for o caso, a ordem de 
ofício.' 
3. Hipótese em que o Paciente teve a prisão preventiva decretada 
a fim de assegurar a execução de medida protetiva de urgência, 
porque, 'usuário de drogas, já se envolveu em outras situações 
de violência doméstica contra a mulher, estando, inclusive, 
respondendo por tentativa de homicídio de [sua esposa], de onde 
se infere que a sua custódia é necessária para a garantia da 
ordem pública e, sobretudo, da segurança da ofendida'. 
4. Ausência de ilegalidade flagrante que, eventualmente, 
ensejasse a concessão da ordem de ofício. 
5. Habeas corpus não conhecido 
(HC 221.200/DF, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 
19.9.2012). 
 
Assim, deixo de conhecer o presente writ por se cuidar de substitutivo de 
recurso próprio e passo a analisar se é o caso de concessão da ordem de 
ofício. 
 
A questão jurídica debatida consiste na subsunção da conduta de 
apresentação de declaração de estado de pobreza com o fim de obter os 
benefícios da justiça gratuita aos tipos previstos nos arts. 299 e 304 do 
Código Penal (falsidade ideológica ou de uso de documento falso). 
 
Extrai-se da exordial acusatória que o paciente requereu os benefícios da 
justiça gratuita nos autos de uma ação cível, apresentando declaração de 
hipossuficiência sob alegação de não ter condições de suportar as custas do 
processo. Contudo, tal declaração foi impugnada pela parte contrária e 
julgada procedente diante da grande quantidade de bens em nome do 
paciente. Daí a razão pela qual a denúncia foi apresentada nos seguintes 
 
 
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termos (fls. 48/49): 
 
(...) 
 
De início, vale mencionar o disposto no art. 4º da Lei 1.060/50, o qual 
dispõe que a sanção aplicada àquele que apresenta falsamente declaração 
de hipossuficiência é meramente econômica, sem previsão de sanção penal, 
in verbis: 
 
Art. 4º. A parte gozará dos benefícios da assistência judiciária, 
mediante simples afirmação, na própria petição inicial, de que não 
está em condições de pagar as custas do processo e os honorários 
de advogado, sem prejuízo próprio ou de sua família. 
§ 1º. Presume-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa 
condição nos termos desta lei, sob pena de pagamento até o 
décuplo das custas judiciais. 
§ 2º. A impugnação do direito à assistência judiciária não suspende 
o curso do processo e será feita em autos apartados. 
 
No caso, a mera declaração falsa do estado de hipossuficiência do paciente, 
devidamente impugnada pela parte contrária – e cuja falsidade foi 
reconhecida pelo MM. Juízo de primeiro grau – merece ser punida tão 
somente com a pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais, nos 
termos previstos em lei. Nesse sentido, é pacífico o entendimento do 
Superior Tribunal de Justiça. A propósito, confiram-se os seguintesjulgados desta Corte: 
 
HABEAS CORPUS. ARTIGOS 299 E 304 DO CÓDIGO PENAL. 
TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. DECLARAÇÃO DE 
POBREZA FALSA. OBJETIVO DE OBTENÇÃO DOS 
BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA GRATUITA. CONDUTAS 
ATÍPICAS. ORDEM CONCEDIDA. 
 1. Somente se configura o crime de falsidade ideológica se a 
declaração prestada não estiver sujeita a confirmação pela 
parte interessada, gozando, portanto, de presunção absoluta de 
veracidade. 
2. Esta Corte já decidiu ser atípica a conduta de firmar ou usar 
declaração de pobreza falsa em juízo, com a finalidade de obter 
os benefícios da gratuidade de justiça, tendo em vista a 
presunção relativa de tal documento, que comporta prova em 
contrário. 
 3. Ordem concedida para trancar a ação penal. 
 (HC 218570/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, DJe 5.3.2012) 
 
 
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HABEAS CORPUS. CRIMES DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E 
DE USO DE DOCUMENTO FALSO. DECLARAÇÃO DE 
POBREZA PARA A OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA 
GRATUITA. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. FALTA DE 
JUSTA CAUSA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ORDEM 
CONCEDIDA. 
1. A conduta daquele que apresenta, em processo judicial, 
declaração de hipossuficiência inidônea, declarando-se pobre 
em desacordo com a realidade ou com as hipóteses taxativas da 
Lei nº 1.060/50, não pode ser enquadrada como crime de 
falsidade ideológica (art. 299 do CP) ou de uso de documento 
falso (art. 304 do CP), pois aludida manifestação não pode ser 
considerada documento para fins penais, já que é passível de 
comprovação posterior, seja por provocação da parte contrária 
seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. 
Precedentes do STJ e do STF; magistério de Guilherme de 
Souza Nucci e de Juarez Tavares. 
2. Ordem concedida para trancar a ação penal. (HC 217.657/SP, 
Rel. Ministro Vasco Della Giustina – Desembargador convocado 
do TJ/RS, SEXTA TURMA, julgado em 02/02/2012, DJe 
22/02/2012) 
 
HABEAS CORPUS. PENAL. CRIME DE FALSIDADE 
IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO DE POBREZA PARA 
OBTENÇÃO DO BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA. 
CONDUTA ATÍPICA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. 
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM 
CONCEDIDA. 
1. O trancamento da ação penal, em sede de habeas corpus, 
somente deve ser acolhido se restar demonstrado, de forma 
indubitável, a ocorrência de circunstância extintiva da 
punibilidade, a ausência de indícios de autoria ou de prova da 
materialidade do delito, ou a atipicidade da conduta. 
2. A declaração de pobreza com o intuito de obter os benefícios 
da justiça gratuita goza de presunção relativa, passível, 
portanto, de prova em contrário. 
3. Assim, a conduta de quem se declara falsamente pobre 
visando aludida benesse não se subsume àquela descrita no art. 
299 do Código Penal. Precedentes. 
4. Ordem concedida para determinar o trancamento da ação 
penal. 
(HC 105.592/RJ, Rel. Ministro Jorge Mussi, QUINTA TURMA, 
julgado em 23/03/2010, DJe 19/04/2010) 
 
 
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No mesmo sentido é o entendimento esboçado pelo Supremo Tribunal 
Federal: 
 
FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO DE POBREZA 
PARA FINS DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA. 
Declaração passível de averiguação ulterior não constitui 
documento para fins penais. 
HC deferido para trancar a ação penal. 
(HC 85.976/MT, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJ de 
24.02.2006) 
 
Também a doutrina entende que a mera declaração de hipossuficiência 
inidônea não pode ser considerada documento para fins penais. 
 
Veja-se, a título de exemplo, o que ensina o professor Guilherme de Souza 
Nucci: 
 
71-A. Declaração de pobreza para obter os benefícios da justiça 
gratuita: não pode ser considerada documento para os fins deste 
artigo, pois é possível produzir prova a respeito do estado de 
miserabilidade de quem pleiteia o benefício da assistência 
judiciária. O juiz pode, à vista das provas colhidas, indeferir o 
pedido, sendo, pois, irrelevante a declaração apresentada. No 
mesmo sentido: TJRJ: "A declaração de pobreza como é cediço 
goza de presunção relativa, passível, portanto, de prova em 
contrário". (HC 0031891-25.2009.8.19.0000 (2009.059.07443)-RJ, 
7ª C. C., Rel. Siro Darlan de Oliveira, 10.11.2009) (Código Penal 
Comentado, São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 14ª edição, 
2014, p. 1237) 
 
 Logo, mostra-se justificado o pleito excepcional de trancamento da ação 
penal, em razão da evidente ausência de justa causa. 
. 
**DoD: 
. 
Resumo do julgado 
É atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada 
com o intuito de obter os benefícios da justiça gratuita. 
A conduta de firmar ou usar declaração de pobreza falsa em 
juízo, com a finalidade de obter os benefícios da gratuidade de 
justiça, não é crime, pois aludida manifestação não pode ser 
considerada documento para fins penais, já que é passível de 
 
 
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comprovação posterior, seja por provocação da parte contrária 
seja por aferição, de ofício, pelo magistrado da causa. 
STJ. 6ª Turma. HC 261074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard 
(Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em 5/8/2014 
(Info 546). 
 
Comentários do julgado 
 
 
O delito de falsidade ideológica está previsto no art. 299 do CP: 
Art. 299 — Omitir, em documento público ou particular, declaração que 
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou 
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar 
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: 
Pena — reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e 
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. 
 
O crime de uso de documento falso, por sua, vez, está tipificado no art. 
304: 
Art. 304 — Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a 
que se referem os arts. 297 a 302: 
Pena — a cominada à falsificação ou à alteração. 
 
Documento, para os fins do tipo penal, é o instrumento idôneo a provar um 
fato independentemente de qualquer verificação ulterior. O documento 
prova o fato por si só. 
Segundo a jurisprudência do STJ, a conduta de apresentar, em juízo uma 
declaração de pobreza ideologicamente falsa (com informações falsas em 
seu conteúdo), por si só, não caracteriza o crime do art. 299 do CP, 
considerando que essa “declaração de pobreza” ainda poderá ser 
impugnada pela outra parte e será analisada pelo juiz, não se enquadrando, 
portanto, no conceito de documento para fins penais. 
Vale ressaltar que este é também o entendimento do STF: 
FALSIDADE IDEOLÓGICA. DECLARAÇÃO DE POBREZA PARA 
FINS DE GRATUIDADE JUDICIÁRIA. 
Declaração passível de averiguação ulterior não constitui documento para 
fins penais. HC deferido para trancar a ação penal. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
(HC 85976, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 
13/12/2005). 
 
Muita atenção a este julgado porque se trata de tema constantemente 
cobrado nas provas, especialmente nos concursos da Defensoria Pública. 
 
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsa declaração de 
hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299). Buscador 
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e94f63
f579e05cb49c05c2d050ead9c0>. Acesso em: 19/06/2020 
. 
**APn 530 STF (Info 758): 
 
Ementa: DIREITO PENAL. CRIMES DE FALSIDADE IDEOLÓGICA E 
DE USO DE DOCUMENTO FALSO. 1. Admite-se a possibilidade de que 
a denúncia anônima sirva para deflagrar uma investigação policial, desde 
que esta seja seguida da devida apuração dos fatos nela noticiados. 
Precedente citado. 2. Não há nulidade automática na tomadade declarações 
sem a advertência do direito ao silêncio, salvo quando demonstrada a 
ausência do caráter voluntário do ato. Ademais, a presença de defensor 
durante o interrogatório do investigado ou acusado corrobora a higidez do 
ato. Precedente citado. 3. Condenação pelo crime de falso. Restou provada 
a falsidade do contrato social da radiodifusão Dinâmica, sendo o primeiro 
acusado o verdadeiro controlador. Com efeito, o denunciado omitiu esta 
condição por ser parlamentar federal, diante da vedação prevista no art. 54 
da Constituição Federal e no art. 38, §1º, da Lei nº 4.117/62. 4. De acordo 
com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal 
de Justiça, o crime de uso, quando cometido pelo próprio agente que 
falsificou o documento, configura "post factum" não punível, vale dizer, é 
mero exaurimento do crime de falso. Impossibilidade de condenação pelo 
crime previsto no art. 304 do Código Penal. 5. A alteração do contrato 
social não constitui novo crime, já que a finalidade do agente já havia sido 
atingida quando da primeira falsificação do contrato social. 6. O contrato 
social não pode ser equiparado a documento público, que é criado por 
funcionário público, no desempenho das suas atividades, em conformidade 
com as formalidades previstas em lei. 7. Extinção da punibilidade dos 
acusados, em face da prescrição da pretensão punitiva, baseada nas penas 
em concreto, restando prejudicada a condenação. 
. 
**Trechos do voto-vista vencedor (Min. Barroso): 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e94f63f579e05cb49c05c2d050ead9c0
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e94f63f579e05cb49c05c2d050ead9c0
 
 
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. 
Por outro lado, o objeto material do crime de falso em questão é o 
documento particular, e não público. Com efeito, o contrato social foi 
firmado por particulares, mesmo quando registrado na junta comercial. 
Documento público é aquele criado por funcionário público, nacional ou 
estrangeiro, no desempenho das suas atividades, em conformidade com as 
formalidades prescritas em lei. Em outras palavras, a qualidade de 
funcionário público daquele que elabora o documento, no amplo alcance 
dado pelo art. 327 do Código Penal, é requisito de sua existência. A lei (art. 
297, § 2º, do Código Penal) equipara a documento público determinados 
documentos, dentre os quais não está o contrato social, como na espécie. 
Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica: 
 
PENAL - FALSIDADE IDEOLÓGICA - CONTRATO SOCIAL 
- DOCUMENTO PARTICULAR E NÃO PÚBLICO - 
FALSIDADE INSERIDA NO CONTRATO ORIGINÁRIO E 
SUAS ALTERAÇÕES - PRESCRIÇÃO QUE DEVE SER 
EXAMINADA EM RELAÇÃO A CADA UM DOS CRIMES 
ISOLADAMENTE - PRESCRIÇÃO JÁ OCORRIDA – 
RECURSO PROVIDO PARA DECLARAR EXTINTA A 
PUNIBILIDADE, DETERMINANDO O TRANCAMENTO DA 
AÇÃO PENAL. 
 O contrato social, ainda que devidamente registrado, com a 
finalidade de lhe dar publicidade, não constitui, para fins 
penais, documento público e sim documento particular. 
Documento público, para fins penais é aquele emitido, na sua 
origem por funcionário público, de qualquer dos Poderes, no 
exercício de suas funções. Documentos públicos por 
equiparação, para fins penais são os previstos nos parágrafos 
2º, 3º e 4º, do artigo 297 do Código Penal, não podendo ser 
ampliado o rol ali existente. 
No caso de concurso de crimes, a prescrição deve incidir sobre 
cada um dos delitos, isoladamente, podendo alcançar prazo 
anterior ao recebimento da denúncia. 
O crime do artigo 299, c/c o artigo 297, ambos do Código Penal, 
prescreve em oito anos. 
Recurso provido para reconhecer a prescrição e determinar o 
trancamento da ação penal. (RHC 24.674/PR, Rel. Ministro 
CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO 
TJ/SP), SEXTA TURMA, julgado em 19/02/2009, DJe 
16/03/2009) 
 
HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. 
INSERÇÃO, COMO SÓCIOS, EM CONTRATO 
 
 
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SOCIETÁRIO, DE PESSOAS SEM VÍNCULO COM A 
EMPRESA (LARANJAS). DOCUMENTO PARTICULAR E 
NÃO PÚBLICO. PRECEDENTE DO STJ. PENA MÁXIMA 
COMINADA AO DELITO: 3 ANOS DE RECLUSÃO. LAPSO 
PRESCRICIONAL DE 8 ANOS ATINGIDO. PARECER DO 
MPF PELA CONCESSÃO DA ORDEM. ORDEM 
CONCEDIDA, PARA, RECONHECENDO TRATAR-SE DE 
CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA DE DOCUMENTO 
PARTICULAR, DECLARAR EXTINTA A PUNIBILIDADE 
DOS PACIENTES PELA OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. 
1. O contrato social da empresa, ainda que devidamente 
registrado na Junta Comercial, com a finalidade de dar-lhe 
publicidade, não constitui, para fins penais, documento 
público e sim documento particular. Inteligência dos arts. 
297, § 2º e 299 do CPB. Precedente: RHC 24.674/PR, Rel. Min. 
CELSO LIMONGI, DJe 16/03/2009). 
2. A pena cominada para o crime de falsidade ideológica em 
documento particular é de 3 (três) anos de reclusão, ocorrendo a 
prescrição em 8 anos (art. 109, inc. IV do CPB); assim, deve ser 
declarada a extinção da punibilidade dos pacientes pela 
ocorrência da prescrição, uma vez que transcorreram mais de 10 
anos entre a data do fato e a do recebimento da denúncia. 
3. Parecer do MPF pela concessão da ordem. 
4. Ordem concedida, para, reconhecendo tratar-se de crime de 
falsidade ideológica de documento particular, declarar extinta a 
punibilidade dos pacientes pela ocorrência da prescrição. 
(HC 168.630/PB, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA 
FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 05/08/2010, DJe 
20/09/2010) 
 
(...) 
. 
**Trechos muito interessantes da relatora Min. Rosa Weber 
(voto-vencido): 
. 
O art. 54, I, “a” e II, “a”, da Constituição Federal dispõe: 
 
“Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão: 
 I – desde a expedição do diploma: 
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, 
autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou 
empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato 
obedecer a cláusulas uniformes; 
 
 
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 (...) 
II – desde a posse: 
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de 
favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, 
ou nela exercer função remunerada; 
(...)” 
 
As proibições do art. 54, ditas incompatibilidades parlamentares, têm longa 
tradição no nosso Direito. 
 
 Já estavam presentes nos arts. 32 e 33 da Constituição Imperial e nos arts. 
23 e 24 da Constituição Republicana de 1891. A partir da Constituição de 
1934, as incompatibilidades assumiram redação semelhante à atual, como 
se verifica no art. 33 daquela Carta, no art. 44 da de 1937, no art. 48 da de 
1946, no art. 36 da de 1967 e art. 34 da de 1969. 
 
As incompatibilidades servem a bons propósitos. Primeiro, garantem o 
exercício independente do mandato parlamentar, dificultando a cooptação 
de deputados e senadores pelo Poder Executivo, dele não podendo obter 
benesses ou favores. Segundo, têm efeito moralizador pois obstam que o 
parlamentar, utilizando seu prestígio, busque tais benesses e favores. 
 
Acerca desses propósitos, transcrevo comentário do eminente Carlos 
Maximiliano sobre as incompatibilidades da primeira Carta Republicana: 
 
“A incompatibilidade, adotada nos países de governo 
parlamentar, ainda mais se impõe sob o regime presidencial. É 
um daqueles freios e contrapesos que caracterizam o sistema 
vigente. Corolário da doutrina de Montesquieu, não permite que 
se acumulem funções de dois dentre os três poderes 
constitucionais. Tira ao Executivo um instrumento de 
predomínio, impedindo de acenar a legisladores altivos com as 
honras e investiduras rendosas, e excluindo das deliberações do 
Congresso a influência oficial daquelesque dependem 
diretamente do Chefe de Estado. Arranca aos poderosos uma 
arma de corrupção, outorga ao parlamento mais um penhor de 
independência, assegura ao aparelho governamental uma garantia 
da divisão do trabalho. Em defesa do princípio na Convenção de 
Philadelphia e apoiando Mason em caloroso debate, Pinckeny 
afirmou advogar a causa da própria honra do Congresso e seguir 
a política dos romanos que faziam do templo da virtude caminho 
para o templo da fama.” (MAXIMILIANO, Carlos. Comentários 
à Constituição Brasileira de 1891. Brasília: Senado Federal, 
Conselho Editorial, 2005, Coleção história constitucional 
 
 
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brasileira, edição original de 1918, p. 309-310) 
 
 Como mencionado pelo ilustre Ministro, não se trata de criação brasileira. 
Diversos outros países adotam, em seus textos legais, incompatibilidades 
parlamentares específicas, com perfis variados. 
 
Sobre a incompatibilidade em questão, a de contratar com o Poder Público, 
leciona Pinto Ferreira sobre algumas regras vigentes em outros países: 
 
 “Na Inglaterra, por exemplo, a pessoa beneficiária desse 
contrato, direta ou indiretamente, através de contratos passados 
com os comissários da tesouraria, da marinha, do 
reabastecimento etc., torna-se inelegível. De envolta com essa 
proibição, vigora ainda um outro método: de acordo com uma 
lei de Jorge III, de 1782, toda pessoa que tenha contratado com 
o Estado não pode ser membro da Câmara dos Comuns, sob 
pena de multa de 500 libras para cada voto emitido. A multa 
revém para o denunciador. Há exemplos históricos disto: em 
1913 um membro da Câmara dos Comuns contratou com o 
secretário de Estado, para a Índia, certo fornecimento, mas foi 
denunciado por haver pronunciado noventa e três votos, dele se 
reclamando uma multa de 1.750.000 francos. Um comitê 
especial declarou que a multa seria aplicada, reduzindo-a a 
325.000 francos, correspondentes a vinte e seis votos, em favor 
do denunciante. Posteriormente, o Parlamento votou um Bill de 
Indenidade beneficiando o deputado. 
Na França, a Lei eleitoral de 1849 (art. 81) proibia que o 
representante ou parlamentar mantivesse contrato de 
fornecimento com o Estado, sob pena de ser considerado 
demissionário. Conquanto a Lei de 1875 não regulasse o 
assunto, alguns diplomas legais particulares fizeram aplicação 
desse pensamento. 
Na Constituição da Colômbia de 1936 (art. 30), são inelegíveis 
todos os cidadãos que na época da eleição ou seis meses antes 
tenham tratado de negócios com o Estado, em seu próprio 
interesse ou no de outras pessoas, exceto as instituições oficiais. 
 Alguns States norte-americanos também se orientam assim. No 
Nebraska, qualquer pessoa interessada em contrato com o 
Estado, ainda não terminado, não pode ser deputado ou senador. 
No Delaware, o mesmo ocorre a qualquer pessoa obrigada por 
contrato para com o exército ou a marinha. 
 (...) 
 No Canadá, uma lei de 1927 tornou inelegíveis aqueles que 
empreendem ou executam, direta ou indiretamente, contratos de 
 
 
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fornecimento com o governo. Tais pessoas são inelegíveis. Se, 
inelegíveis, vierem entretanto a ocupar uma cadeira no 
Parlamento, e, eleitas, contratarem com o governo, recebem uma 
multa de 200 dólares por sessão que tenham votado. Sofrem 
também a pena da perda do mandato. 
Verifica-se, destarte, no direito comparado a eficácia do 
princípio da incompatibilidade. Geralmente deputados e 
senadores não podem contratar com as autoridades públicas, e o 
exercício do seu mandato torna-se incompatível com 
determinadas ocupações privadas, onde exista a subvenção do 
Estado ou da autoridade pública sob qualquer forma. A extensão 
da incompatibilidade varia de país a país, mas a tendência é 
para garantir a independência do parlamentar em face de um 
possível suborno do Executivo.” (FERREIRA, Pinto. 
Comentários à Constituição brasileira. São Paulo: Saraiva, 
1992, vol. 3, p. 19-20) 
 
A proibição de contratar não inclui os denominados contratos por adesão 
ou de cláusulas uniformes, por exemplo, a contratação pelo parlamentar de 
serviços públicos de água e luz, pois, na hipótese, ausente o risco de 
favorecimento indevido. 
Além da proibição geral de contratação com o Poder Executivo, há 
proibição legal específica para a exploração de serviços de radiodifusão e 
que remonta pelo menos a 1962. 
 O art. 38, parágrafo único, da Lei nº 4.117/1962 tinha a seguinte redação 
ao tempo dos fatos: 
 
 “Art. 38. Nas concessões e autorizações para a execução de 
serviços de radiodifusão serão observados, além de outros 
requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas: 
 (...) Parágrafo único. Não poderá exercer a função de diretor ou 
gerente de empresa concessionária de rádio ou televisão quem 
esteja no gozo de imunidade parlamentar ou de fôro especial.” 
 
Mais recentemente, o dispositivo foi alterado pela Lei n.º 10.610/2002, não 
havendo, porém, modificação substancial da proibição que ficou assim 
redigida: 
 
“Art. 38. Nas concessões, permissões ou autorizações para 
explorar serviços de radiodifusão, serão observados, além de 
outros requisitos, os seguintes preceitos e cláusulas: 
Parágrafo único. Não poderá exercer a função de diretor ou 
gerente de concessionária, permissionária ou autorizada de 
serviço de radiodifusão quem esteja no gozo de imunidade 
 
 
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parlamentar ou de foro especial.” 
 
De certa maneira, a proibição específica tem o mesmo propósito da 
proibição geral do art. 54 da Constituição Federal, evitando a corrupção do 
mandato parlamentar. 
 
 Entretanto, serve ela também a outros propósitos. 
 
Democracia não consiste apenas na submissão dos governantes a aprovação 
em sufrágios periódicos. Sem que haja liberdade de expressão e de crítica 
às políticas públicas, direito à informação e ampla possibilidade de debate 
de todos os temas relevantes para a formação da opinião pública, não há 
verdadeira democracia. 
 
Há certo consenso de que em um regime democrático deve ser ampla a 
liberdade de expressão, a de comunicação e os direitos de informação e de 
participação. 
 
Assiste razão àqueles que entendem merecer proteção jurídica especial 
essas liberdades, essenciais à livre formação da opinião pública e ao 
funcionamento da democracia. 
 
A Constituição brasileira foi pródiga em garanti-las, protegendo-as em 
diversos dispositivos (art. 5.º, IV, IX, XXXIII, LXXII, arts. 14, 15, 215 e 
220). 
A proteção da liberdade de expressão e dos direitos à informação e de 
participação não se limita necessariamente a coibir intervenções estatais. 
 
Por exemplo, no campo das comunicações de massa, as cortes não podem 
ignorar a necessidade de alguma regulação e controle estatal. 
 
 Afinal, citando Alexandre Ditzel Faraco: 
 
 “o espaço público de diálogo e interação numa democracia 
complexa está significativamente baseado nos meios de 
comunicação social de massa, os quais viabilizam o acesso a 
informações de uma foram coerente e organizada, permitem a 
disseminação de idéias e visões de mundo com uma abrangência 
que, em geral, não tem como ser replicada através de outros 
processos de comunicação, além de possibilitar o 
desenvolvimento de um referencial comum que agrega pessoas 
sem qualquer espécie de vínculo ou relação.” (FARACO, 
Alexandre Ditzel. Democracia e regulação das redes eletrônicas 
de comunicação: Rádio, televisão e internet. Belo Horizonte: 
 
 
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Editora Fórum, 2009, p. 39) 
 
 Para garantir esse espaço livre para o debate público, não é suficiente 
coibir a censura,mas é necessário igualmente evitar distorções 
provenientes de indevido uso do poder econômico ou político. 
 
Será válida a regulação e controle desde que persiga não a censura, mas 
sim a livre formação da opinião pública, ou seja, o objetivo deve ser a 
formação de um espaço público e aberto para o livre debate e intercâmbio 
do pensamento, da criação, da expressão e da informação. 
 
Nessa perspectiva é que deve ser entendida a proibição específica de que 
parlamentares detenham o controle sobre empresas de comunicação, como 
de radiodifusão. 
 
Há um risco óbvio na concentração de poder político com controle sobre 
meios de comunicação de massa. 
 
Sem a proibição, haveria um risco de que o veículo de comunicação, ao 
invés de servir para o livre debate e informação, fosse utilizado apenas em 
benefício do parlamentar, deturpando a esfera do discurso público. 
 
Dependendo ainda a concessão, a permissão ou a autorização para a 
exploração do serviço de comunicação de massa, de aprovação do 
Congresso, como prevê o art. 223, §1º, da Constituição Federal, haveria 
igualmente um risco de desvio nas outorgas, concentrando-as nas mãos de 
poucos e prevenindo que adversários políticos dos parlamentares lograssem 
o mesmo acesso. 
 
A regulação e o controle pelo poder público dos serviços de radiodifusão 
são legítimos devido à necessidade de se organizar a utilização do espectro 
de radiofrequência. Entretanto, o objetivo de tal regulação e controle deve 
ser apenas democratizar o acesso e a utilização igual desse recurso 
limitado, promovendo o pluralismo político e cultural, o que é compatível 
com a liberdade de expressão e de informação. 
 
(...) 
. 
**DoD: 
. 
Resumo do julgado 
O contrato social de uma sociedade empresária é documento 
particular. Assim, caso seja falsificado, haverá o crime de 
 
 
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falsificação de documento particular (e não de documento 
público). 
Não se pode condenar o réu pelo crime de uso de documento 
falso quando ele próprio foi quem fez a falsificação do 
documento. A pessoa deverá ser condenada apenas pela 
falsidade, e o uso do documento falso configura mero 
exaurimento do crime de falso. 
STF. 1ª Turma. AP 530/MS, rel. orig. Min. Rosa Weber, red.p/ o 
acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 9/9/2014 (Info 758). 
 
Comentários do julgado 
 
 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
João era Deputado Federal e decidiu, em 2000, constituir uma empresa de 
radiodifusão para tentar conseguir a concessão de emissora de rádio. No 
entanto, para evitar que seu nome aparecesse como o real proprietário, 
combinou com Pedro e Tiago que estes iriam figurar, no contrato social, 
como sócios da empresa de radiodifusão. Em outras palavras, Pedro e 
Tiago seriam “laranjas” (“testas-de-ferro”) do Deputado. 
Em 2002, após a empresa já estar constituída, João venceu a licitação e, 
assim, obteve o direito de explorar uma frequência de rádio FM. Nessa 
ocasião, um dos documentos apresentados foi o contrato social onde 
constam os nomes de Pedro e Tiago como sócios. 
Em 2004, o contrato social foi alterado para incluir João como um dos 
sócios. No contrato social, quem figurava como administrador da sociedade 
era Pedro, porém, na prática, quem exercia essa função era João, que não 
foi incluído formalmente como administrador porque, como Deputado 
Federal, submetia-se a uma vedação prevista no art. 54, II, “a”, da CF/88. 
 
Denúncia 
O Ministério Público denunciou João pela prática dos seguintes crimes: 
· falsidade ideológica de documento público (art. 299 do CP) duas 
vezes, em concurso material (uma em 2000, quando o contrato social foi 
feito, e outra em 2004, quando houve a alteração contratual); 
· uso de documento público ideologicamente falso (art. 304 do CP) em 
razão de ter sido apresentado, à comissão de licitação, em 2002, o 
 
 
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contrato social ideologicamente falso. 
 
O STF concordou com a capitulação feita pelo MP? 
NÃO. 
 
Contrato social é documento particular 
Inicialmente, o STF entendeu que o contrato social não é documento 
público, mas sim particular. 
O documento é público quando for criado por funcionário público no 
desempenho de suas atividades, em conformidade com as formalidades 
prescritas em lei. 
O contrato social é elaborado e assinado por particulares e o fato de ser 
posteriormente registrado na junta comercial não faz com que perca a 
característica de ser documento particular. 
Logo, não havia que se falar em falsidade de documento público, mas sim 
particular (cuja pena é menor). 
 
Não houve dois crimes de falsidade 
Em seguida, o STF concluiu que não houve a prática de dois crimes de 
falsidade ideológica em concurso material. 
A falsidade ocorreu em 2000 quando foi elaborado o contrato social 
omitindo-se que João era o verdadeiro dono da empresa, com o objetivo de 
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. 
A alteração contratual de 2004 não pode constituir novo crime, pois o 
objetivo de esconder o fato juridicamente relevante (que o Deputado era o 
proprietário e administrador da sociedade) já havia sido atingido na 
primeira falsificação do contrato social, sendo, portanto, desimportante a 
modificação contratual. 
 
Não se pode condenar o autor do falso por falsidade e por uso de 
documento falso 
Por fim, o STF afirmou que não se poderia condenar o Deputado pelo uso 
de documento falso, já que foi ele próprio o autor da falsidade. 
Segundo ressaltou o Min. Roberto Barroso, não se pode condenar o réu 
pelo crime de uso de documento falso quando ele próprio foi quem fez a 
falsificação do documento. 
A pessoa deverá ser condenada apenas pela falsidade, e o uso do 
 
 
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documento falso configura mero exaurimento do crime de falso. 
 
 
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsidade de contrato social para 
ocultar o verdadeiro sócio. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível 
em: 
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17
e395d3049b03e0f1ccebb02b4d>. Acesso em: 19/06/2020 
. 
**APn 931 STF (Info 868): 
 
EMENTA: AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. FALSIDADE IDEOLÓGICA. 
AUSÊNCIA DE DOLO. ABSOLVIÇÃO. 
 1. A materialidade e a prática da conduta estão comprovadas pela 
assinatura do denunciado em documentos que continham informações 
falsas. 
2. As provas produzidas, no entanto, não evidenciam que o denunciado 
tivesse ciência inequívoca do conteúdo inverídico dos documentos que 
assinara na condição de prefeito e tampouco que o tenha feito com o 
objetivo de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade de fato 
juridicamente relevante. 
 3. Ausente o dolo, elemento subjetivo do tipo, é forçoso reconhecer que o 
fato praticado não constitui infração penal. 
 4. Absolvição por não constituir o fato infração penal, nos termos do art. 
386, III, do CPP. 
. 
**Trechos do julgado acima: 
. 
(...) 
 
Infere-se do art. 386 do Código de Processo Penal que a sentença 
condenatória demanda um juízo de certeza sobre a materialidade e sobre a 
autoria delitiva. Não constatada a firmeza sobre a ocorrência de um desses 
vetores, impõe-se a absolvição do acusado. É o que se tem na espécie. 
 
De fato, a materialidade delitiva está cabalmente atestada por meio de 
prova documental e testemunhal acostada aos autos. 
 
Por outro lado, a acusação não se desincumbiu do seu ônus de comprovar o 
dolo específico exigido pelo tipo penal imputado ao réu. 
 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17e395d3049b03e0f1ccebb02b4d
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c5cc17e395d3049b03e0f1ccebb02b4dMaterial produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
O dispositivo legal imputado ao réu possui a seguinte redação: 
 
 Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, 
declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir 
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de 
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato 
juridicamente relevante: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é 
público, e reclusão de um a três anos, e multa, de quinhentos mil 
réis a cinco contos de réis, se o documento é particular. 
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o 
crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração 
é de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta 
parte. 
 
Como se observa, tal infração penal só se configura na forma dolosa e 
estabelece como dolo específico o “fim de prejudicar direito, criar 
obrigação ou alterar a verdade sobre o fato juridicamente relevante”. 
 
Acerca dessa elementar, a doutrina especializada dispõe que: 
 
“O dolo é o elemento subjetivo que informa a conduta do agente, 
não havendo previsão de modalidade culposa. O dolo é o 
específico (vontade de praticar o fato e produzir um fim 
especial), objetiva no que dispõe o artigo ‘com o fim de 
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato 
juridicamente relevante’. O agente deve visar o prejudicium 
alterius, sendo irrelevante o prejuízo efetivo ou potencial. Para a 
caracterização do crime basta o dano potencial” (SILVA 
JÚNIOR, José e DEZEM, Guilherme Madeira. Código Penal e 
sua Interpretação. 8ª edição. Editora Revista dos Tribunais. 2007, 
p. 1.402) 
. 
**DoD: 
. 
Resumo do julgado 
Prefeito que assina documentos previdenciários com conteúdo 
parcialmente falso não deve ser condenado por falsidade 
ideológica se não foram produzidas provas de que ele tinha 
ciência inequívoca do conteúdo inverídico da declaração. Neste 
caso, ele deverá ser absolvido, nos termos do art. 386, III, do 
CPP, por ausência de dolo, o que exclui o crime. 
STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
em 6/6/2017 (Info 868). 
 
Comentários do julgado 
 
 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Marx era Prefeito de um Município do interior de Alagoas. Ele assinou e 
apresentou ao Ministério da Previdência Social comprovantes de Repasse e 
Recolhimento ao Regime Próprio de Previdência Social contendo 
informações falsas. 
Os documentos atestavam o recolhimento integral da parcela patronal 
referente a alguns meses, quando, na verdade, teria havido recolhimento a 
menor das respectivas contribuições sociais. 
Diante disso, ele foi denunciado pelo crime de falsidade ideológica, 
previsto no art. 299 do CP: 
Falsidade ideológica 
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele 
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da 
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou 
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e 
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. 
 
Nas alegações finais, o próprio Ministério Público pediu a absolvição do 
réu porque entendeu que as provas produzidas não demonstraram que ele 
tinha ciência inequívoca do conteúdo inverídico dos documentos que havia 
assinado na condição de Prefeito nem foram produzidas provas de que ele 
tenha feito isso com o objetivo de prejudicar direito, criar obrigação ou 
alterar a verdade de fato juridicamente relevante. 
Diante disso, como atualmente Marx é Deputado Federal, quem julgou o 
caso foi o STF, que acolheu o pedido de absolvição. 
Neste caso, o parlamentar foi absolvido, nos termos do art. 386, III, do 
CPP, por ausência de dolo, o que exclui o crime. 
 
STF. 1ª Turma. AP 931/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
6/6/2017 (Info 868). 
 
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Necessidade de prova de que o 
Prefeito que assinou documentos do Município tinha ciência 
inequívoca de que a declaração era falsa. Buscador Dizer o Direito, 
Manaus. Disponível em: 
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/351869
bde8b9d6ad1e3090bd173f600d>. Acesso em: 19/06/2020 
. 
**HC 814.51 STJ (Info 610): 
 
PROCESSUAL PENAL. INSERÇÃO DE DADO FALSO EM 
CURRÍCULO LATTES. FALSIDADE IDEOLÓGICA. ATIPICIDADE. 
OCORRÊNCIA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. PECULATO-
FURTO POR OMISSÃO RELEVANTE. DESCRIÇÃO FÁTICA 
INSUFICIENTE. INÉPCIA DA DENÚNCIA. 
1 - Documento digital que pode ter a sua higidez aferida e, pois, produzir 
efeitos jurídicos, é aquele assinado digitalmente, conforme a Infraestrutura 
de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). 
2 - O currículo inserido na página digital Lattes do CNPq não é assinado 
digitalmente, mas decorrente da inserção de dados, mediante imposição de 
login e senha, não ostentando, portanto, a qualidade de "documento digital" 
para fins penais. 
3 - Além disso, como qualquer currículo, material ou virtual, necessita ser 
averiguado por quem tem nele tem interesse, o que, consoante consagradas 
doutrina e jurisprudência, denota atipicidade na conduta do crime de 
falsidade ideológica. 
4 - A consumação do crime de peculato-furto por meio de omissão (crime 
comissivo por omissão) é excepcional e, como tal, há de constar na 
denúncia narrativa de como a atuação do recorrente ou, melhor, de como a 
sua falta de ação deu causa à figura do ilícito penal. 
5 - Descrição, na espécie, insuficiente que limita-se a fazer constar ser o 
recorrente Procurador-Geral da Universidade, o que, por óbvio, não é 
possível aceitar. Inépcia da incoativa. 
 6 - Recurso provido para para trancar a ação penal quanto ao crime de 
falsidade ideológica, por falta de justa causa, ante a constatada atipicidade e 
para declarar nula a denúncia, por inépcia, no tocante ao crime de peculato, 
sem prejuízo de que outra peça acusatória seja apresentada com 
observância da lei processual penal. 
 
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/351869bde8b9d6ad1e3090bd173f600d
https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/351869bde8b9d6ad1e3090bd173f600d
 
 
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**Trechos do julgado acima: 
 
(...) 
Primeiramente vejamos a descrição típica do crime de falsidade ideológica 
(art. 299 do Código Penal): 
 
Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele 
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou 
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, 
criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente 
relevante. 
 
No caso concreto, como visto, a ação tida por típica estaria no fato de que o 
recorrente teria inserido no seu currículo, na plataforma Lattes do CNPq, 
informação falsa, afirmando que trabalhava como professor adjunto efetivo 
da UFES em regime de 40 horas semanais quando, na verdade, seriam 20 
horas. Segundo o Ministério Público Federal, assim agiu o recorrente, 
visando obter uma melhor avaliação do curso de mestrado daquela 
instituição de ensino. 
 
 Contudo, data venia, não enxergo, na espécie, ação típica. 
 
Com efeito, falta o objeto material do tipo, é dizer, o documento. 
 
A plataforma Lattes, como se sabe, é virtual e nela o usuário, mediante 
imposição do "login" e senha, insere as informações. 
 
Não se trata, portanto, de um escrito palpável, ou seja, um papel do mundo 
real, mas de uma página em um sítio eletrônico.E, embora possa existir "documento eletrônico", não está ele presente no 
caso concreto, porquanto somente pode ser assim denominado aquele 
constante de página ou sítio na rede mundial de computadores que possa ter 
sua autenticidade aferida por assinatura digital. 
 
Nesse sentido, a Medida Provisória nº 2.200-2, de 24 de agosto de 2001, 
que instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), 
dispõe no seu art. 1º: 
 
Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - 
ICP-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a 
validade jurídica de documentos em forma eletrônica, das 
aplicações de suporte e das aplicações habilitadas que utilizem 
 
 
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certificados digitais, bem como a realização de transações 
eletrônicas seguras. 
 
No Brasil, a infraestrutura de chaves públicas é de responsabilidade de uma 
Autarquia Federal, o ITI - Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, 
ligado à Presidência da República. 
 
Colhe-se do seu sítio eletrônico, aliás: 
 
 O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação – ITI é uma 
autarquia federal, ligada a Casa Civil da Presidência da 
República, que tem por missão manter e executar as políticas da 
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP-Brasil. Ao ITI 
compete ainda ser a primeira autoridade da cadeia de certificação 
digital – AC Raiz. 
 
A Medida Provisória 2.200-2 de 24 de agosto de 2001 deu início 
à implantação do sistema nacional de certificação digital da ICP-
Brasil. Isso significa que o Brasil possui uma infraestrutura 
pública, mantida e auditada por um órgão público, no caso, o ITI, 
que segue regras de funcionamento estabelecidas pelo Comitê 
Gestor da ICP-Brasil, cujos membros, representantes dos poderes 
públicos, sociedade civil organizada e pesquisa acadêmica, são 
nomeados pelo Presidente da República. 
(http://www.iti.gov.br/institucional/43-institucional/89-o-iti 
consulta realizada em 08/08/2017) 
 
E ainda do mesmo "site" é possível obter esclarecimentos no sentido de que 
a assinatura digital é um meio suficiente e idôneo para confirmar a validade 
jurídica de um documento na rede mundial de computadores: 
 
O documento assinado digitalmente possui presunção de 
autenticidade, ou seja, de que os arquivos eletrônicos foram 
subscritos e encaminhados pela pessoa física ou jurídica 
detentora daquele certificado digital; presunção de integridade, 
entendida no sentido de que o documento encaminhado pelo 
remetente é exatamente o mesmo recebido pelo destinatário, de 
modo que não sofreu qualquer alteração no iter compreendido 
entre o emissor e o receptor. Caso tenha havido alguma mudança, 
por menor que seja (um simples espaço, por exemplo, no final de 
uma frase), a assinatura restará inválida. 
 
Mas, enfim, e o terceiro atributo previsto na Medida Provisória 
(validade jurídica)? A validade nada mais é que a síntese do 
http://www.iti.gov.br/institucional/43-institucional/89-o-iti%20consulta%20realizada%20em%2008/08/2017
http://www.iti.gov.br/institucional/43-institucional/89-o-iti%20consulta%20realizada%20em%2008/08/2017
 
 
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silogismo. Logo, justamente porque o documento é autêntico e 
íntegro, também se presumirá válido, ou seja, feito de acordo 
com as regras jurídicas e apto à produção de efeitos também 
jurídicos. (http://www.iti.gov.br/perguntas-frequentes/41-
perguntas-frequentes/567 -questoes-juridicas - Consulta realizada 
em 08/08/2017) 
 
Portanto, in casu, não se pode ter como documento o currículo inserido na 
plataforma virtual do Lattes do CNPq, porque desprovido de assinatura 
digital e, pois, sem validade jurídica. 
 
 Mas ainda que pudesse o currículo Lattes ser considerado um documento 
digital válido para fins jurídicos, especialmente aqui, para fins penais, tem-
se que, como qualquer currículo, seja clássico (papel escrito) ou digital, é 
passível de averiguação, ou seja, as informações nele contidas deverão ser 
objeto de aferição por quem nelas tem interesse, o que denota atipicidade. 
 
Assim já decidiram as duas Turmas de direito penal neste Superior 
Tribunal de Justiça, mutatis mutandis: 
 
PENAL. HABEAS CORPUS. FALSIDADE IDEOLÓGICA. 
CONSIDERAÇÃO DE DOCUMENTO PARA CONFIGURAÇÃO DO 
DELITO. AUSÊNCIA DE CONFIGURAÇÃO DOS REQUISITOS QUE 
COMPÕEM O TIPO. IRRELEVÂNCIA DA CONDUTA. RECURSO 
PROVIDO. 
O documento para fins de falsidade ideológica deve ser uma peça que tenha 
possibilidade de produzir prova de um determinado fato, sem 
necessidade de outras verificações, valendo como tal por si mesma. 
Simples correspondência enviada a um órgão, visando obtenção de 
endereço da parte adversária, ainda que sem autorização do juízo, mesmo 
de modo a parecer ter sido expedida judicialmente, não configura o delito 
de falsidade ideológica, se nenhum dos especiais fins de agir foi objetivado. 
Recurso provido para trancar a ação penal. 
(RHC 19.710/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA 
CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 28/08/2008, 
DJe 15/09/2008) 
 
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. FALSIDADE 
IDEOLÓGICA. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. INDICAÇÃO DE 
ENDEREÇO FALSO EM PETIÇÃO INICIAL. FATO SUJEITO À 
AVERIGUAÇÃO. NÃO CARACTERIZAÇÃO DE DOCUMENTO 
PARA FINS PENAIS. MANIFESTA ATIPICIDADE DA CONDUTA. 
PROVIMENTO DO RECURSO. 
1. O trancamento de inquérito policial ou de ação penal em sede de habeas 
 
 
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corpus é medida excepcional, só admitida quando restar provada, 
inequivocamente, sem a necessidade de exame valorativo do conjunto 
fático-probatório, a atipicidade da conduta, a ocorrência de causa extintiva 
da punibilidade, ou, ainda, a ausência de indícios de autoria ou de prova da 
materialidade do delito. 
2. Já se sedimentou na doutrina e na jurisprudência o entendimento de 
que a petição apresentada em Juízo não caracteriza documento para 
fins penais, uma vez que não é capaz de produzir prova por si mesma, 
dependendo de outras verificações para que sua fidelidade seja 
atestada. 
 3. A indicação de endereço incorreto em petição inicial para fins de 
alteração da competência para processar e julgar determinada ação 
não caracteriza o crime previsto no artigo 299 do Código Penal, pois a 
veracidade do domicílio poderá ser objeto de verificação. Precedentes. 
4. Recurso provido para determinar o trancamento da ação penal instaurada 
contra o recorrente no que se refere ao delito de falsidade ideológica, 
estendendo-se os efeitos da decisão ao corréu em idêntica situação. 
(RHC 70.596/MS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, 
julgado em 01/09/2016, DJe 09/09/2016) 
 
Nesse sentido, Guilherme de Souza Nucci afirma que "havendo 
necessidade de comprovação - objetiva e concomitante -, pela autoridade, 
da autenticidade da declaração, não se configura o crime, caso ela seja 
falsa ou, de algum modo, dissociada da realidade." (Código Penal 
Comentado, 13ª edição, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2013, 
página 1.138) 
 
 E veja-se, por mais paradoxal que seja, a própria denúncia mostra a 
atipicidade da conduta, porquanto nela consta a impossibilidade material, 
real mesmo, de que pudesse o recorrente exercer a função de professor em 
regime de 40 horas, pois, em igual período, exercia, concomitantemente, o 
cargo de procurador federal, o que era de fácil constatação pela simples 
leitura do currículo, pois ambas as informações estavam lá consignadas. 
 
Confira-se: 
 
A certeza de que o denunciado não trabalhava num regime de 40 
horas semanais decorre do fato deste também ocupar o cargo de 
Procurador Federal, que possui um regime também de 40 horas 
(fato mencionado, inclusive, no própriocurrículo lattes), donde 
decorre a absoluta impossibilidade de compatibilizar as duas 
cargas horárias. Ademais, a informação prestada pela UFES à fl. 
219 dos autos é clara ao afirmar o regime de 40 horas junto à 
AGU e de 20 horas junto à Universidade. 
 
 
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Neste contexto tão específico, poder-se-ia até afirmar que, sequer, dolo 
houve, mais se afeiçoando a incompatibilidade de horas entre a atuação de 
professor na UFES e a de procurador federal em um mero equívoco 
mesmo, constante do currículo, dada a impossibilidade, óbvia, de alguém 
estar em dois lugares ao mesmo tempo. 
 
A raça humana ainda não tem o dom da ubiquidade. 
 
 A falta de tipicidade, portanto, é patente. 
 
(...) 
. 
**DoD: 
. 
Resumo do julgado 
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que 
não condiz com a realidade. 
Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP) porque: 
1) currículo Lattes não é considerado documento por ser 
eletrônico e não ter assinatura digital; 
2) currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é 
objeto material de falsidade ideológica. Quando o documento é 
passível de averiguação, o STJ entende que não há crime de 
falsidade ideológica mesmo que o agente tenha nele inserido 
informações falsas. 
STJ. 6ª Turma. RHC 81451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis 
Moura, julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
Comentários do julgado 
 
 
Imagine a seguinte situaçãoadaptada: 
João é professor de uma Universidade Federal. 
Ele inseriu seu currículo pessoal na plataforma digital Lattes, mantida pelo 
CNPq. 
Ocorre que João colocou que seu regime de trabalho na Universidade era 
de 40 horas semanais, quando, na verdade, era de apenas 20 horas. 
Essa inexatidão foi descoberta e João foi denunciado, pelo MPF, pela 
 
 
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prática do crime de falsidade ideológica, delito previsto no art. 299 do 
Código Penal: 
Art. 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele 
devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da 
que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou 
alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante: 
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e 
reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é particular. 
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime 
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de 
assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte. 
 
A denúncia narrou o seguinte: 
“Conforme restou demonstrado nos autos, JOÃO, de forma livre e 
consciente, inseriu dados falsos na plataforma Lattes (sistema informático 
da CAPES), com o objetivo de obter uma melhor avaliação do curso de 
mestrado da Universidade Federal do XXX, do qual seria o coordenador. 
No dia 22 de fevereiro de 2010, o denunciado inseriu na plataforma 
mencionada informação inverídica, afirmando que trabalhava como 
Professor Adjunto Efetivo da XXX num regime de 40 horas semanais, 
quando, na verdade, seriam 20 horas. 
As informações lançadas na plataforma Lattes têm relevância no sentido de 
subsidiarem a atuação do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico no que diz respeito especialmente à avaliação de 
cursos que podem se beneficiar dos recursos de programas desenvolvidos 
pela autarquia. 
Ao inserir na plataforma informações não condizentes com a verdade no 
que concerne à carga horária que cumpria como professor da XXX, o 
denunciado pretendeu ludibriar o CNPq nas avaliações trienais sobre o 
Programa de Pós-Graduação da universidade. 
Assim agindo, JOÃO praticou o delito previsto no art. 299 do Código 
Penal.” 
 
O STJ concordou com a tese do MPF? A conduta narrada configura 
crime? 
NÃO. 
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não 
condiz com a realidade. 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP). 
STJ. 6ª Turma. RHC 81.451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 
julgado em 22/8/2017 (Info 610). 
 
Plataforma Lattes não é considerada documento 
Conforme vimos acima, o crime de falsidade ideológica consiste em 
“omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia 
constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que 
devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar 
a verdade sobre fato juridicamente relevante”. 
Na situação narrada envolvendo João, não há o objeto material do tipo. Isso 
porque não há “documento” no qual tenha sido inserida declaração falsa. 
A plataforma Lattes, como se sabe, é virtual e nela o usuário, após colocar 
seu "login" e senha, insere as informações desejadas. Não se trata, portanto, 
de um escrito palpável, ou seja, um papel do mundo real, mas sim de uma 
página em um sítio eletrônico. 
 
Para que seja documento eletrônico, é necessária assinatura digital 
Embora possa existir "documento eletrônico", não está ele presente no caso 
concreto. Isso porque somente pode ser considerado “documento 
eletrônico” aquele que consta em site que possa ter sua autenticidade 
aferida por assinatura digital. Nesse sentido, a MP 2.200-2/2001, que 
instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil), dispõe 
no seu art. 1º: 
Art. 1º Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-
Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica 
de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das 
aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a 
realização de transações eletrônicas seguras. 
 
No Brasil, a infraestrutura de chaves públicas é de responsabilidade de uma 
Autarquia Federal, o ITI - Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, 
ligado à Presidência da República. 
Para que pudesse ser considerado documento eletrônico, a plataforma 
Lattes teria que ter a sua validade jurídica atestada por meio da assinatura 
digital. 
Logo, não se pode ter como documento o currículo inserido na plataforma 
virtual do Lattes do CNPq, porque desprovido de assinatura digital e, 
 
 
Material produzido por @conquistando.atoga. Permitido o compartilhamento. Venda proibida. 
 
portanto, sem validade jurídica. 
 
Currículo Lattes é passível de averiguação e, portanto, não é objeto 
material de falsidade ideológica 
O STJ foi além e disse o seguinte: ainda que o currículo Lattes pudesse ser 
considerado um documentodigital válido para fins penais, mesmo assim 
não teria havido crime. Isso porque,comoqualquer currículo, seja clássico 
(papel escrito) ou digital, o currículo Lattes é passível de averiguação, 
ouseja, as informações nele contidas deverão ser objeto de aferição por 
quem nelas tenha interesse. 
Quando o documento é passível de averiguação, o STJ entende que não há 
crime de falsidade ideológica, mesmo que o agente tenha inserido nele 
informações falsas. Nesse sentido: 
(...) Já se sedimentou na doutrina e na jurisprudência o entendimento de 
que a petição apresentada em Juízo não caracteriza documento para fins 
penais, uma vez que não é capaz de produzir prova por si mesma, 
dependendo de outras verificações para que sua fidelidade seja atestada. 
(...) 
STJ. 5ª Turma. RHC 70.596/MS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 
01/09/2016. 
 
(...) somente se configura o crime de falsidade ideológica se a declaração 
prestada não estiver sujeita a confirmação pela parte interessada, gozando, 
portanto, de presunção absoluta de veracidade. (...) 
STJ. 6ª Turma. RHC 46.569/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, 
julgado em 28/04/2015.

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