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CONFISCO DE PROPRIEDADE EM RAZÃO DO TRABALHO ESCRAVO

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CONFISCO DE PROPRIEDADE EM RAZÃO DO TRABALHO ESCRAVO (ART. 243 /CC)
E
FUNÇÃO SOCIAL 
1)CONCEITO – FUNÇÃO SOCIAL:
A função social da propriedade consiste em um conjunto de direitos, deveres, obrigações e ônus; pelos quais estão sujeitos, com o intuito de garantir o fim a que se destina a propriedade. Uma vez que são elencados pelo ordenamento jurídico, por exemplo, nos artigos 5º, XXII; 182º e 186º da Constituição Federal, além do artigo 1228º do Código Civil de 2002. 
Tal que o desrespeito à função social da propriedade suscite medidas que sejam adotadas, com o objetivo de garantir o interesse social da coletividade e de uma vida digna aqueles que necessitam. De modo a assegurar o desenvolvimento nacional e contribuir para a diminuição da pobreza concomitante as desigualdades sociais.
2) RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO SOCIAL E CONFISCO DE PROPRIEDADE EM RAZÃO DO TRABALHO ESCRAVO:
A Emenda Constitucional nº81 promulgada em 05 de junho de 2014, dispõe sobre nova redação ao artigo 243 (“As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º”) da Constituição Federal, tal Emenda diz que a exploração de trabalho escravo acarretará o confisco e a expropriação (desapropriação forçada por lei), na qual, a parte ilícita não recebe nenhuma compensação financeira sobre a propriedade, sendo ela rural ou urbana. 
Feito o confisco e a expropriação, se cria a relação entre os temas supra citados, já que os imóveis dotados de atividades ilícitas serão destinados a programas sociais; o imóvel urbano que for expropriado será destinado a programas de habitação popular e o imóvel confiscado em área rural será destinado a reforma agrária, fazendo dessa forma o cumprimento de suas respectivas funções sociais. 
3) JURISPRUDÊNCIA: 
Superior Tribunal de Justiça STJ - PETICAO DE RECURSO ESPECIAL: REsp 1215274
RECURSO ESPECIAL Nº 1.215.274 - RS (2010/0180164-2) RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA PROCURADOR : VALDEZ ADRIANI FARIAS E OUTRO (S) RECORRIDO : ALFREDO WILIAM LOSCO SOUTHAL E OUTROS ADVOGADO : CÉSAR AUGUSTO GULARTE DE CARVALHO E OUTRO (S) ADMINISTRATIVO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. REFORMA AGRÁRIA. REQUISITOS PARA CUMPRIMENTO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. ACÓRDÃO DECIDIDO COM ENFOQUE EXCLUSIVAMENTE CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA DO STF. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO EM PARTE E IMPROVIDO. DECISÃO Vistos. Cuida-se de recurso especial interposto pelo INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA - INCRA, com fundamento no art. 105, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, contra acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região assim ementado(fls. 466-e):"ADMINISTRATIVO. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. PROPRIEDADE PRODUTIVA. COMPROVAÇÃO. GEE E GUT. LEI Nº 8.628/93. 1.- Caracterizada a produtividade da propriedade imóvel rural, resta vedada a desapropriação por interesse social para fisn de reforma agrária, em virtude do imperativo constitucional constante no inciso I do art. 185. 2. - Atingidos, simultaneamente, graus de utilização da terra (GUT) e graus de eficiência na exploração (GEE), conforme índices fixados pelo INCRA e nos termos do artigo6ºº da Lei nº8.6288/93, a propriedade é considerada produtiva, não podendo, portanto, ser desapropriada para fins de reforma agrária." Os embargos de declaração opostos pelo recorrente foram acolhidos em parte, tão somente para fins de prequestionamento (fl. 482-e). No presente recurso especial, alega o recorrente, preliminarmente, ofensa ao art.5355, inciso II, doCPCC, porquanto, apesar da oposição dos embargos de declaração, o Tribunal de origem não se pronunciou sobre pontos necessários ao deslinde da controvérsia. Aduz, no mérito, que o acórdão regional contrariou as disposições contidas nos arts5ºº,6ºº e9ºº da Lei n.8.6299/93. Apresentadas as contrarrazões às fls. 533/552-e, sobreveio o juízo de admissibilidade negativo da instância de origem (fls. 574/575-e). Este Relator houve por bem dar provimento ao agravo de instrumento, para determinar a subida do presente recurso especial.É, no essencial, o relatório. DA INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO ART.5355 DOCPCC Inexistente a alegada violação do art.5355 doCPCC, pois a prestação jurisdicional foi dada na medida da pretensão deduzida, como se depreende da análise do acórdão recorrido. Na verdade, a questão não foi decidida conforme objetivava a recorrente, uma vez que foi aplicado entendimento diverso. É cediço, no STJ, que o juiz não fica obrigado a manifestar-se sobre todas as alegações das partes, nem a ater-se aos fundamentos indicados por elas ou a responder, um a um, a todos os seus argumentos, quando já encontrou motivo suficiente para fundamentar a decisão, o que de fato ocorreu. Ressalte-se, ainda, que cabe ao magistrado decidir a questão de acordo com o seu livre convencimento, utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso concreto. Nessa linha de raciocínio, o disposto no art. 131 do Código de Processo Civil:"Art. 131. O juiz apreciará livremente a prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes; mas deverá indicar, na sentença, os motivos que lhe formaram o convencimento."Em suma, nos termos de jurisprudência pacífica do STJ,"o magistrado não é obrigado a responder todas as alegações das partes se já tiver encontrado motivo suficiente para fundamentar a decisão, nem é obrigado a ater-se aos fundamentos por elas indicados"(REsp 684.311/RS, Rel. Min. Castro Meira, DJ 18.4.2006), como ocorreu na hipótese ora em apreço. Nesse sentido, ainda, os precedentes:"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CARACTERIZADA – EXECUÇÃO FISCAL – DECRETAÇÃO DA PRESCRIÇÃO. 1. Não ocorre ofensa ao art. 535, II, do CPC, se o Tribunal de origem decide, fundamentadamente, as questões essenciais ao julgamento da lide. 2. É inviável a aplicação do art. 8º, § 2º, da Lei 6.830/1980, tendo em vista a prevalência do art. 174 do CTN, para os executivos fiscais ajuizados antes da LC 118/2005. Precedentes do STJ. 3. Recurso especial não provido." (REsp 1.142.474/RS, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 23.2.2010, DJe 4.3.2010.) "PROCESSUAL CIVIL. OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. MULTA ADMINISTRATIVA. PRESCRIÇÃO. APLICABILIDADE DO DECRETO 20.910/1932. 1. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC. 2. Ausente previsão em lei específica, o prazo prescricional nas ações de cobrança de multa administrativa é de cinco anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/1932, à semelhança das ações pessoais contra a Fazenda Pública. 3. Orientação reafirmada pela Primeira Seção, no julgamento do REsp1.105.442/RJ , submetido ao rito do art. 543-C do CPC. 4. Agravo Regimental não provido."(AgRg no Ag 1.000.319/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 23.2.2010, DJe 4.3.2010.) DA ALEGADA VIOLAÇÃO DA LEGISLAÇÃO FEDERAL Sustenta o recorrente que o acórdão violou os arts.5ºº,6ºº e9ºº da Lei n.8.6299/93, quando considerou que basta o cumprimento dosíndices de produtividade para que a propriedade fique insuscetível de desapropriação por interesse social. Alega, em outras palavras, que não apenas a produtividade, mas também, e simultaneamente, o aproveitamento racional e adequado, o respeito aos recursos naturais e ao meio ambiente, o cumprimento das normas que regulam a relação de emprego e a exploração que favoreça o bem-estar social, são condicionantes para que a propriedade cumpra a sua função social e, portanto, fique insuscetívelde desapropriação para a reforma agrária. Portanto, como no caso concreto, segundo o recorrente, o imóvel, apesar de produtivo, está descumprindo a sua função social por desrespeitar a legislação ambiental, o processo de desapropriação para reforma agrária deveria ser permitido. O Tribunal de origem apreciou esta matéria com os seguintes argumentos (fls. 460/462-e):"Dispõe o artigo1855 daCF/888: Art.1855 - São insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva.Parágrafo unicoo - A lei garantirá tratamento especial à propriedade produtiva e fixará normas para o cumprimento dos requisitos relativos a sua função social. Denota-se da leitura do dispositivo constitucional acima que uma vez caracterizada a produtividade da propriedade imóvel rural, resta vedada a desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, em virtude do imperativo constitucional constante no inciso I do art.1855. Portanto, a propriedade produtiva é, por força constitucional, imuneà ação expropriatória fundada em interesse social para fins de reforma agrária. Nesse sentido: "A propriedade produtiva, independentemente de sua extensão territorial e da circunstância de o seu titular ser, ou não, proprietário de outro imóvel rural, revela-se intangível à ação expropriatória do Poder Público em tema de reforma agrária (CF, art. 185, II), desde que comprovado, de modo inquestionável, pelo impetrante, o grau adequado e suficiente de produtividade fundiária"(STF - Pleno - MS nº 22.022/ES - Rel. Min. Celso de Mello) Outrossim, a norma constitucional prevê imunidade à propriedade produtiva sem qualquer exigência, ou seja, basta restar demonstrada a produtividade para que o imóvel rural seja insuscetível de desapropriação para fins de reforma agrária, diversamente do caso do inciso I do art. 185 da Constituição, vez que nesta hipótese, para que a propriedade seja considerada insuscetível de desapropriação, a extensão territorial deve enquadrar-se no conceito de pequena ou média propriedade rural, nos termos da lei, bem como seu proprietário não pode possuir outro imóvel rural. Por outro lado, nos termos do artigo 186 da Constituição Federal, a função social será cumprida quando a propriedade rural atender, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos requisitos (1) aproveitamento racional e adequado (produtividade), (2) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, (3) observância das disposições que regulam as relações de trabalho e (4) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Assim, exsurge do texto constitucional que a produtividade(aproveitamento racional e adequado) é apenas um dos requisitos exigidos constitucionalmente para fins de cumprimento da função social da propriedade. Todavia, depreende-se também do texto constitucional que nem todo imóvel rural que não cumpre a função social da propriedade é passível de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, pois, nos termos do inciso II do art. 185, se satisfeito o requisito produtividade (exploração racional e adequada), a ordem constitucional vigente coloca a propriedade rural a salvo desse gravame ainda que não cumpridos os demais requisitos da função social estabelecidos no art. 186 (utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente, observância das disposições que regulam as relações de trabalho e exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores). Depreende-se daí que o requisito"produtividade"foi sumamente privilegiado no contexto constitucional, pois basta sua comprovação para que não seja aplicada ao imóvel a sanção de desapropriação (CF, art. 185, II), sendo irrelevante se os demais requisitos da função social estão ou não preenchidos.É manifesta a carência de adequada valoração do legislador constituinte ao conceber a disposição do inciso II do art. 185 da Constituição, sendo notório que a grande maioria dos juristas e operadores do Direito - inclusive este juízo -, percebem sem qualquer dificuldade a grande aberração política, jurídica e social aí estampada, pois pode até mesmo culminar por dar azo a esdrúxulas situações jurídicas como, v. g., o caso do imóvel rural utilizado para perpetração de trabalho escravo, ou com severas degradações ambientais, ser protegido da referida desapropriação pelo simples fato de ser produtivo segundo índices de exploração econômica preconizados. Mas é situação claramente expressa na Constituição. Tenho que contra a clareza do texto constitucional não labora sequer a invocação da interpretação conforme à Constituição, buscando socorro no cabedal de princípios insculpidos na Carta, pois trata-se de texto democraticamente concebido, maturado em prolongados debates parlamentares pelo poder constituinte originário, já constante da Constituição desde sua redação original promulgada em outubro de 1988 (há quase 20 anos!!) e até hoje não modificado, precisamente em uma Carta Política que sem qualquer exagero pode ser vista mesmo como uma verdadeira"colcha de retalhos", tamanha a quantidade de emendas constitucionais já aprovadas e efetivadas em seu texto, e, portanto, se até hoje o inciso II do art. 185 ainda não foi objeto de emenda constitucional modificativa, não obstante os precisos apontamentos de juristas e operadores, por certo essa é a vontade nacional manifestada indireta e tacitamente (através do silêncio) pelos legítimos representantes do povo detentores de poder político e legitimidade para eventual modificação caso desejada (deputados e senadores). Assim querendo, cabe à sociedade exigir de seus representantes uma tomada de posição conforme a vontade nacional que deve ser adequadamente definida a respeito. Obviamente, tal disposição (art. 185, inciso II) carece urgentemente de modificação no foro político adequado. Mas enquanto tal não ocorre, não se pode negar validade a texto constitucional tão claro, notadamente o Poder Judiciário que tem o dever precípuo de fazer cumprir a Constituição, sob pena de perpetuarmos cada vez mais aberrações como o cotidiano acatamento, como se válidas fossem, das inúmeras medidas provisórias de duvidosa constitucionalidade que permeiam nosso ordenamento jurídico. No que tange às disposições constantes na Lei nº 8.628/93, que a propriedade rural que não atenda à função social é passível de desapropriação, sem ressalva correspondente ao inciso II do art. 85 da Constituição, trata-se de norma infraconstitucional que inexoravelmente limita-se aos preceitos constitucionais." Conforme se observa no trecho transcrito, o Tribunal de origem decidiu a questão com enfoque exclusivamente constitucional. Foi a Constituição, e apenas ela, que orientou a Corte a quo na sua decisão. Sendo assim, a matéria merece a apreciação pelo Supremo Tribunal Federal, o que será feito em razão da interposição do recurso extraordinário de fls. 513/529-e, carecendo esta Corte Superior de competência para apreciar o tema decidido com enfoque eminentemente constitucional. No mesmo sentido, o seguinte precedente:"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. SELOS DE CONTROLE DO IPI. COMPROVAÇÃO DA INEXISTÊNCIA DE DÉBITOS COM A FAZENDA PÚBLICA. ACÓRDÃO RECORRIDO COM FUNDAMENTAÇÃO EMINENTEMENTE CONSTITUCIONAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Trata-se de agravo de instrumento interposto contra decisão que inadmitiu recurso especial ao fundamento de que a controvérsia foi dirimida pelo Tribunal de origem com fundamento eminentemente constitucional, o que inviabiliza o reexame da lide na via especial. 2. A Corte a quo apreciou a lide sob enfoque eminentemente constitucional, notadamente se valendo dos princípios da legalidade e do livre exercício da atividade econômica como fundamentos para a conclusão do julgado.3. É inviável a análise de acórdão com fundamento eminentemente constitucional na via recursal eleita. Isso porque, nos termos do art. 105, III, da CF/88, o recurso especial destina-se à uniformização do direito federal infraconstitucional. Não se presta, portanto, à análise de possível violação de matéria constitucional, cuja competência está reservada ao Supremo Tribunal Federal, conforme disposto no art. 102 da CF/88. 4. Agravo regimental não provido."(AgRg no Ag 1.340.088/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 19.10.2010, DJe 27.10.2010.) Ante o exposto, com fundamento no art. 557, caput, do CPC, conheço em parte do recurso especial e nego-lhe provimento. Publique-se. Intimem-se. Brasília (DF), 30 de novembro de 2010. MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator
(STJ - REsp: 1215274, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Publicação: DJ 06/12/2010)
Nomes: Caio Arruda, Hudson Muller, Luana Westerman e Leonardo Albuquerque

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