Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIFOR- UNIVERSIDADE DE FORTALEZA DISCIPLINA- DIREITO PROCESSUAL PENAL I PROFESSOR- FRANCISCO ANDRÉ KARBAGE NOGUEIRA TEMA: AÇÃO PENAL 1) CONSIDERAÇÕES Pedro Demercian (2014): “A ação penal é o instrumento por meio do qual se torna possível exigir do Estado a prestação da tutela jurisdicional, em face daquele que praticou um fato infringente da norma penal. Funda-se no preceito constitucional que estabelece: 'a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de direito' (artigo 5º, inciso XXXV, da CF), e, como consequência, veda a justiça com as próprias mãos (...) Trata-se, na verdade, de um direito público, subjetivo, autônomo, abstrato e instrumentalmente conexo a um caso concreto”. Pacelli (2016): “Se e enquanto houver um Direito Penal, se e enquanto a alguém se puder imputar e se pretender a imposição de uma pena pública, para além dos desejos e das pretensões das vítimas, cumpre esclarecer que o processo, mais que instrumento, se impõe como espaço e ambiente deliberativo (democrático, nesse sentido), no qual se permite a ampla participação dos atores designados em lei e na Constituição da República (Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria Pública e Ordem dos Advogados, aqui em ordem de entrada em cena), na construção da decisão final. Não esqueçamos a relevante função da polícia judiciária, cuja atuação, porém, se dá na fase anterior ao processo, ou seja, na fase pré-processual. Assim, o processo assume os contornos de um verdadeiro lócus (lugar) argumentativo, no sentido de tornar possível o sonho pós- positivista de que a decisão judicial não seja obra única daquele que detém a autoridade para fazê-lo. É dizer: o juiz não pode e não deve decidir segundo suas preferências e convicções pessoais, mas, sim, a partir do diálogo e da 1 interlocução mantida no processo com as partes. Com isso, obtém-se algo mais próximo do que, em doutrina, se afirma tratar-se do justo processo, encerrado por uma decisão democraticamente construída.” 2) CLASSIFICAÇÃO No processo penal a ação é classificada de acordo com a sua titularidade. 2.1) A ação penal será pública, quando o titular for o Ministério Público, podendo ser incondicionada ou condicionada; a) Ação penal púbica incondicionada: É a regra. Como os crimes não devem ficar impunes, uma vez que, o direito penal tutela os bens jurídicos mais importantes, a ação penal deverá ser proposta pelo Ministério Público, de ofício, sem a necessidade de manifestação/autorização de quem quer que seja. Ex. Art 121 do CP. b) Ação penal púbica condicionada: É exceção. Neste caso, a titularidade da ação penal permanece com o Ministério Público, que só poderá propô-la depois de autorizado por quem de direito (ofendido/representante legal ou Ministro da Justiça, conforme o caso). Ex.: Art.147 do CP. 2.2) A ação penal será privada quando o titular for o ofendido, ou quem o represente legalmente, conforme dispõe o art. 100, caput, do CP. Ex. Art. 179, CP. 3) CONDIÇÕES GERAIS PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO PENAL Pacelli (2016): “As denominadas condições da ação, no processo penal brasileiro, condicionam o conhecimento e julgamento da pretensão veiculada pela demanda ao preenchimento prévio de determinadas exigências, ligadas ora à identidade das partes, com referência ao objeto da relação de direito material a ser debatida, ora à comprovação da efetiva necessidade da atuação jurisdicional. Certamente a exigência conceitual de se fixar os contornos da distinção entre o direito de petição, histórica e constitucionalmente assegurado aos cidadãos em face do Estado, e o direito de ação, cuja elaboração teórica remonta ao século passado, teve decisiva contribuição de Enrico Túlio Liebman, ilustre processualista italiano, no que se refere às denominadas condições da ação. Estas atuariam, então, como uma necessária mitigação do direito, abstratamente assegurado a 2 todos, à provocação da jurisdição, independentemente da obtenção de qualquer resultado favorável (teorias do direito abstrato de ação).” A ação penal só poderá ser proposta quando presentes as condições gerais: a) possibilidade jurídica do pedido; b) legitimidade; c) interesse de agir; d) justa causa. A ação penal é o instrumento pelo qual se faz valer uma pretensão em juízo. Para que ações penais não sejam propostas indevidamente (abusivamente), a lei impõe ao magistrado o exame, ab ovo, do interesse do autor na contenda, ou seja, se o pedido deduzido é juridicamente possível, se há legitimidade das partes e se é plausível. É o chamado juízo de prelibação ou juízo de admissibilidade da ação penal. Carência de ação: inexistindo alguma das condições necessárias à interposição da ação penal, deve o magistrado julgar o autor CARECEDOR DE AÇÃO, impedindo, assim, que a relação processual se estabeleça. Mogenout (2016): “Diante da inexistência, no caso concreto, de qualquer das condições da ação penal, o juiz deverá decretar a carência da ação, anulando o processo ‘ab initio’, extinguindo-o sem proceder ao julgamento do mérito, que, no processo penal é a pretensão punitiva do Estado (...) Não obstante esse controle prévio acerca das condições da ação, caso o processo continue indevidamente, a qualquer tempo poderá ser decretada a nulificação do feito, com base no art.564, II do CPP.” 3.1) CONDIÇÕES GERAIS DA AÇÃO A) POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO O autor da ação penal deve solicitar providência que esteja prevista em nosso ordenamento jurídico. Em suma, o fato imputado a alguém deve ser tipificado como crime (tipicidade, ilicitude e culpabilidade). NUCCI: “Sendo atípica a conduta o pedido é juridicamente impossível, pois não se pode pedir a condenação de alguém por ter praticado conduta penal irrelevante” . Ex. não é juridicamente possível a propositura de uma ação penal, imputando a alguém, o incesto. Esse ato (incesto) não se encontra tipificado em nosso ordenamento jurídico como infração. IMPORTANTE: Se o acusador, ao ofertar a ação penal, requerer a condenação do réu a uma pena não aplicável ao caso, ainda assim, a ação deverá ser recebida, não cabendo a rejeição sob a alegativa 3 da impossibilidade jurídica do pedido. Registre-se que o pedido, na ação penal, deve ser genérico. Pacelli (2017): “Entretanto, pelo menos nas ações penais condenatórias, é bem de ver que, ainda que se requeira a condenação do acusado à pena de morte, por exemplo (caso típico de ausência de previsibilidade da providência requerida), nada impede que a ação penal se desenvolva regularmente, porque ao juiz permite-se a correta adequação do fato à norma penal correspondente, com a aplicação da sanção efetivamente cominada, por força da emendatio libelli prevista no art. 383 do CPP. Por isso, não se podendo extinguir o processo pela impossibilidade jurídica do pedido assim aviado, não se pode, também, aceitar tal hipótese como de condição da ação penal condenatória.” B) LEGITIMIDADE (legitimatio ad causam) Pedro Demercian (2014): “É a pertinência subjetiva da ação. Somente o titular da lide pode propô-la; somente aquele que cometeu o ilícito ou dele participou de qualquer forma (art. 29, Código Penal) pode responder penalmente (legitimidade ativa e passiva)”. B.1) Legitimidade ativa (para promover a ação): Ação Penal Pública: É o MP quem tem legitimidade (ativa) para propor, com exclusividade, a ação penal pública (art. 100, § 1° do CP). Ação Penal Privada: A legitimidade para propor a ação é do ofendido ou de seu responsável legal. Aqui há o fenômeno da substituição processual. O jus puniendi continua sendo do Estado que, excepcionalmente concede ao particular o jus acusationis (faculdade de propor a ação penal). Observeque o “interesse em penalizar o autor da conduta punível é sempre do estado. Sempre. Inexoravelmente sempre” (TOURINHO FILHO). b.2) Legitimidade passiva: De regra, qualquer pessoa que tenha contribuído para a prática do crime deve ocupar o polo passivo de uma ação penal. Mougenot (2016): “O ajuizamento da ação penal, com efeito, visa, do ponto de vista do acusador, à imposição de uma penalidade ao acusado. Se o acusado não pode, sequer em tese, ser penalmente punido – seja porque contava, na data do crime a ele imputado, menos de 18 anos, seja porque em seu favor incide uma causa de imunidade-, não poderá figurar no polo passivo do processo, sendo, portanto, parte 4 ilegítima, de modo que o processo contra ele, não poderá ser instaurado. (…) O STF tem entendido pela responsabilização da pessoa jurídica pela prática de crime ambiental ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa”. SMANIO (2007): “Somente as partes que têm interesse no conflito são legítimas: a que pode promover a ação e aquela contra quem deve ser proposta. A legitimação para ser regular deve verificar-se no pólo ativo e no pólo passivo da relação processual. A ilegitimidade da parte nos termos do art. 564, II, do CPP, acarreta nulidade absoluta, enquanto a ilegitimidade do representante da parte (art.568, do CPP) gera nulidade relativa, podendo ser sanada a todo o tempo como, por exemplo, um defeito na procuração”. C) INTERESSE DE AGIR O interesse de agir está relacionado a utilidade da ação, significa que a ação penal deve apresentar-se útil para a realização da pretensão punitiva do Estado. Pacelli (2016): “No âmbito específico do processo penal, entretanto (e o mesmo ocorre no processo civil, como um verdadeiro plus ao conceito de interesse), desloca-se para o interesse de agir a preocupação com a efetividade do processo, de modo a ser possível afirmar que este, enquanto instrumento da jurisdição, deve apresentar, em juízo prévio e necessariamente anterior, um mínimo de viabilidade de satisfação futura da pretensão que informa o seu conteúdo. É dizer: sob perspectiva de sua efetividade, o processo deve mostrar-se, desde a sua instauração, apto a realizar os diversos escopos da jurisdição, isto é, revelar-se útil. Por isso, fala-se em interesse-utilidade.” Assim, alcançada a prescrição de uma determinada infração e se, mesmo assim, a ação penal vier a ser proposta, deverá ser de logo rejeitada, uma vez que o processo se apresentaria inútil, já que o estado não mais detinha o direito de punir. Afrânio Silva Jardim (1997): “o interesse de agir existe quando o processo é condição única para a satisfação da pretensão deduzida, para que o autor alcance o bem da vida desejado (...) Desta forma, o interesse processual surge da impossibilidade de se obter a satisfação do direito alegado sem a intervenção do estado. Diferencia-se da justa causa, pois, sempre que praticado um crime, o Estado tem, em tese, o interesse do agir (já que os crimes não devem ficar 5 impunes), mas, ausente a ‘justa causa’, não há como ser proposta a ação, objetivando a satisfação deste interesse.” Mougenot (2016): “No que tange à utilidade, expressa-se ela no caso concreto na idoneidade do processo para ensejar, em seu final, os efeitos que dele se deseja. A ação penal condenatória tem por finalidade impor determinada pena ao acusado. Se por qualquer motivo existente no caso concreto essa pena não mais possa ser imposta (v.g.: a ocorrência de prescrição da pretensão punitiva), então o ajuizamento da ação será inútil, de modo que será inexistente o interesse de agir”. D) JUSTA CAUSA: Não basta que a ação penal descreva o fato criminoso e aponte a autoria. É imprescindível que esteja embasada em um suporte (mínimo) probatório, a fim de que o pedido formulado na inicial seja digno de apreciação. Desnecessário, por outro lado, que a prova seja esmagadora. Afrânio Silva Jardim (1997): “Desta forma, torna-se necessário ao regular exercício da ação penal a demonstração, prima facie, de que a acusação não é temerária ou leviana, por isso lastreada em um mínimo de prova. Este suporte probatório mínimo se relaciona com os indícios de autoria, existência material de uma conduta típica e alguma prova de sua antijuridicidade. Somente diante de todo este conjunto probatório é que, a nosso ver, se coloca o princípio da obrigatoriedade do exercício da ação penal pública.” 4) AÇÃO PENAL PÚBLICA 4.1) TITULARIDADE O Brasil adotou o sistema processual acusatório mitigado (impuro), vez que, há uma clara separação das funções de acusar, defender e julgar, cada uma delas entregue a um sujeito processual distinto. A ação penal pública (incondicionada ou condicionada) é de titularidade exclusiva do MP (art. 129, I da CF, art.24 do CPP e art. 100 §1° do CP). Mougenot (2015): “Dessa forma, quando a lei penal, tipificando uma infração penal, não determinar expressamente que a ação deva ser promovida pelo ofendido, deve-se assumir que a ação penal será de iniciativa pública”. 6 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: Há, todavia, uma única exceção, ressalvada pela própria Constituição, pelos Código Penal e Processo Penal. Se o Ministério Público receber o inquérito policial (ou peça de informação) e não se manifestar no prazo legal (ofertar a ação penal, requerer o arquivamento ou encaminhar os autos à delegacia, para novas diligências), o ofendido (ou seu representante legal) poderá provocar, através da queixa (nome dado a ação penal privada), a prestação jurisdicional do Estado propondo a ação penal privada subsidiária da pública (art. 5°, LIX da CF, art29 do CPP e art. 100, §1° do CP). Inércia do MP: Registre-se que só caberá a “queixa substitutiva” quando o Ministério Público quedar-se inerte no prazo legal de manifestação. STF: “A Ação Privada Subsidiária da Pública, sendo a única exceção, prevista constitucionalmente à regra da titularidade exclusiva do Ministério Público sobre a Ação Penal Pública, só se mostra cabível em casos de ausência de manifestação ministerial (...) (HC nº 84.659). Obs: Diante da regra insculpida na Constituição Federal (art.129, I), de que ação penal é de titularidade exclusiva do Ministério Público, o artigo 26 do CPP não foi recepcionado pela Carta Magna. Norberto Avena (2015): “Não foi recepcionado pela Constituição Federal o denominado procedimento judicialiforme, previsto no art. 26 do CPP, no qual se permitia que a ação penal pública nas contravenções penais fosse iniciada por auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pelo juiz ou pela autoridade policial.” 4.2) PRINCÍPIOS REITORES a) OBRIGATORIEDADE/LEGALIDADE Requisitos: Presentes as condições para o exercício da ação penal (as gerais e, nos casos previstos em lei, as específicas), tem o MP a obrigação, via de regra, de propô-la, independentemente de critérios de conveniência. Age de ofício (oficiosidade), sem precisar de provocação. Este princípio tem como base a máxima nec delicta maneant impunita (os crimes não podem ficar impunes) e, por isso o Ministério Público não pode transigir ou perdoar o infrator. Marcão (2015): “Contrariamente ao que ocorre na ação penal incondicionada, na hipótese de ação condicionada, ausente a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça (a depender do caso), a autoridade policial não poderá instaurar investigação ex officio; o 7 Ministério Público não poderá oferecer denúncia, e o juiz não poderá instaurar o processo.” Ressalte-se que esse princípio foi mitigado, inicialmente, pela lei dos juizados especiais (Lei 9099/95), que trouxe para a justiça penal, com o devido amparo da Constituição Federal (art.98da CF), a possibilidade de, nos crimes de pequeno potencial ofensivo, haver conciliação (composição civil e transação penal). É o que a doutrina chama de “discricionariedade regrada” ou “disponibilidade temperada”. Hodiernamente, temos uma nova hipótese, prevista na Lei 12.850/13, em que o Ministério Público poderá deixar de propor a ação penal, mitigando, mais uma vez, o princípio da obrigatoriedade. Pedro Demercian (2014): “A Lei n. 12.850/13, que trata das organizações criminosas, admitiu uma nova hipótese de mitigação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal (…) O § 4º do art. 4º da Lei n. 12.850/13 ainda prevê a possibilidade de o Ministério Público deixar de oferecer a denúncia, em decorrência da colaboração premiada, se o colaborador: I –não for o líder da organização criminosa; II – for o primeiro a prestar efetiva colaboração. Nessa hipótese, a conveniência da ação penal pública fica sujeita à avaliação do membro do Ministério Público, que deverá levar em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração, como se verifica também na hipótese do perdão judicial (art. 4º, § 1º), na qual o magistrado, antes de concedê-lo, deve observar sua conveniência, com base nas citadas condições. Naturalmente, o arquivamento da investigação pode ser postergado, no aguardo do cumprimento das condições da colaboração do membro da organização criminosa, aplicando-se, por analogia, o prazo de seis meses do § 3º do art. 4º da Lei, prorrogável por igual período.” Marcão (2015): “A Lei n. 12.850/2013 (Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o proce- dimento criminal a ser aplicado) introduziu regras de abrandamento ao princípio ora tratado, na medida em que passou a permitir que o Ministério Público proponha, a qualquer tempo (portanto, antes ou depois de oferecer denúncia), a concessão de perdão judicial àquele que prestar “colaboração premiada” (§ 2o do art. 4o), ou deixe de oferecer denúncia, nas situações tipificadas no § 4o de seu art. 4o.” 8 b) INDISPONIBILIDADE Trata-se de consectário lógico do princípio da obrigatoriedade. Proposta a ação penal, dela não pode o Ministério Público desistir (art. 42 do CPP). Pedro Demercian (2014): “O artigo 42 do CPP diz que o Ministério Público não pode desistir da ação que haja proposto, não pode dispor da ação por razões de conveniência, política criminal etc. Isso não significa que não possa e deva alvitrar a absolvição, quando vislumbrar a inocência do acusado, máxime porque jamais perde sua qualidade de fiscal da lei, ainda quando atuando na acusação.” Recursos: Referido princípio abrange a matéria recursal, isto é, interposto o recurso, dele também não pode o MP desistir (art. 576 do CPP). Exceção: A Lei dos Juizados Especiais também trouxe uma exceção a este princípio. Trata-se do instituto da Suspensão Condicional do Processo (art. 89 da lei 9099/95). Mougenot (2015): “A obrigatoriedade da ação penal estende- se durante o curso do processo. Não pode o Ministério Público desistir da ação penal (art. 42 do Código de Processo Penal). Com efeito, o órgão do Parquet, ao ajuizar a ação e conduzir a acusação, não age em interesse próprio. Representa o Estado, titular do direito defendido, que em última análise pertence à sociedade como um todo. Assim, não tem o Ministério Público poder para transigir, abrindo mão de interesse que não lhe pertence. A Lei n. 9.099/95, no art. 89, ao estabelecer a possibilidade de suspensão condicional do processo, excepcionou o princípio em tela com a possibilidade de o Ministério Público oferecer a suspensão do curso do processo, com a imposição de determinadas condições ao beneficiado, durante certo período de prova, que poderá levar à extinção da punibilidade”. c) OFICIALIDADE Por esse princípio, o órgão incumbido da persecução criminal deve ser criado pelo próprio Estado. Órgão oficial, portanto. Nas ações penais públicas (condicionadas e incondicionadas), quem tem a titularidade da persecutio criminis in judicio é justamente o MP. Pedro Demercian (2014): “Como já salientamos anteriormente, o Estado é o titular do direito de punir e, para o exercício dessa atividade em juízo, inseriu no seu próprio 9 aparato um órgão dotado de independência e autonomia, a quem atribuiu, no âmbito da ação penal pública, a defesa dos interesses sociais. Na verdade, conquanto órgão oficial do Estado, o Ministério Público defende a própria sociedade. Componente do chamado estado-comunidade, sua atividade oficial (consubstanciada no monopólio da ação penal pública) é a defesa dos direitos fundamentais, notadamente aqueles ligados ao próprio status libertatis.” Mougenot (2015): “Tendo em conta que a ação penal pública é, por definição, aquela em relação à qual a legitimidade ativa cabe ao Estado, aplica-se à ação penal pública o princípio da oficialidade. Segundo esse princípio, a ação penal pública somente poderá ser proposta por um órgão do Estado: o Ministério Público (...) A prerrogativa do órgão do Parquet vem consubstanciada nos ditames da Constituição Federal, que estabelece como uma das funções institucionais do Ministério Público promover privativamente a ação penal pública, na forma da lei (art. 129, I), ação essa que será exercida por meio de denúncia (art. 24, caput, do Código de Processo Penal). Caracterize-se como exceção ao referido princípio a ação penal privada subsidiária, prevista no art. 5o, LIX, da CF, art. 29 do CPP e art. 100, § 3o, do CP.” d) INDIVISIBILIDADE Ação penal deve ser proposta contra todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para o delito (art.29 do CP). Pelo princípio, não pode o MP, por qualquer motivo, exercer o poder/dever de propor ação penal somente contra alguns dos autores, deixando outros de lado. Seria, inclusive, um ataque ao princípio da obrigatoriedade. Tourinho Filho (2009): “Se a propositura da ação penal constitui um dever, é claro que o Promotor não pode escolher em relação a quem deva ela ser proposta (...) Ela deve ser proposta em relação a todos aqueles que cometeram a infração (Nec delicta maneant impunita) (...) Aliás, analisando o art.77, II, combinado com o art.79 do CPP, infere-se que a ação penal é indivisível (...) Evidente, por outro lado, que, ao receber os autos de inquérito policial instaurado em relação a duas ou mais pessoas, se o Promotor não encontrar respaldo probatório em relação a uma ou a algumas delas, nada o impede de promover a ação penal em relação àquelas cuja responsabilidade estiver esclarecida, e, tão logo venham outras informações complementares quanto à responsabilidade das demais, se for o caso, far-se-á um aditamento.” 1 Marcão (2015): “Apurado determinado delito que tenha sido cometido em concurso de agentes, o Ministério Público não poderá deixar de ajuizar ação penal em relação a todos os responsáveis. Não lhe é dado escolher quem irá ou não incluir no polo passivo da ação penal. Em síntese: a ação penal deve ser proposta contra todos os que cometeram o delito.” e) INTRANSCENDÊNCIA A ação penal só pode ser proposta contra aquele que, de alguma forma contribuiu para a prática do delito. O responsável civil, por exemplo, segundo nosso ordenamento jurídico, não será responsabilizado penalmente pela infração cometida por quem ele se responsabiliza. Mougenot (2015): “A ação penal será promovida sempre e somente contra as pessoas a quem se atribui a prática de uma infração penal”; Marcão (2015): ”A ação penaldeve ser ajuizada apenas em face de quem for autor, coautor ou partícipe do delito, e nenhuma pena passará da pessoa do condenado (CF, art. 5o, XLV). De tal sorte, a rigor não é possível ajuizar ação penal contra os pais do menor que tenha praticado ato infracional, salvo se a responsabilidade decorrer do disposto no art. 29 do CP (concurso de agentes ou participação) ou a conduta daqueles se ajustar a outro tipo de delito.” 5) AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA Como os crimes não devem ficar impunes o MP, de regra, não depende de condição especial para propor a ação penal pública, necessitando apenas dispor de indícios suficientes de autoria, bem com da materialidade delitiva. Assim, estando presentes as condições gerais para o exercício da ação penal, deverá ela ser proposta. Norberto Avena (2015): “Na ação penal pública incondicionada, o Ministério Público é o dominus litis, podendo instaurar o processo criminal independente da manifestação de vontade de qualquer pessoa e até mesmo contra a vontade expressa ou tácita da vítima ou de seu representante legal. Ressalva a esta titularidade exclusiva do Ministério Público existe apenas na ação penal privada subsidiária da pública, facultada ao ofendido ou seu representante legal na hipótese de não oferecimento de denúncia pelo promotor de justiça no prazo legal (art. 5.º, LIX, da CF, art. 29 do CPP e art. 100, § 3.º, do CP).” 1 Mougenot (2015): “É aquela promovida pelo Ministério Público sem que haja a necessidade de manifestação de vontade de terceira pessoa (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça) para sua propositura. No silêncio da lei, a ação penal pública será incondicionada. Vale dizer, a regra em nosso direito é que a ação penal pública não dependa da manifestação de terceiros. A exigência de prévia manifestação, portanto, somente existirá se for expressamente prevista em lei, por meio de expressões como “somente se procede mediante representação”, ou “somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”. Se a lei nada prevê, o Ministério Público, convencendo-se da prática de crime, ajuizará a ação ex officio, oferecendo a denúncia. Há, porém, outro critério para determinar o caráter público da ação penal. Se o delito for perpetrado em detrimento do patrimônio ou interesse dos entes políticos (União, Estados-membros, Distrito Federal ou Municípios), a ação penal, conquanto originariamente privada, será pública (art. 24, § 2o, do CPP).” 6) AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA A propositura da ação penal pública condicionada, está sujeita a certas condições específicas de procedibilidade, que são: a representação do ofendido (ou de seu responsável), ou a requisição do Ministro da Justiça. Embora haja necessidade de manifestação positiva do ofendido ou do Ministro da Justiça, a ação ainda é pública, de titularidade do MP. Marcão (2015): “Condicionada é a ação penal pública cuja persecução depende da manifestação positiva de vontade de quem de direito. São duas as espécies de ação penal condicionada: (1) ação penal pública condicionada à representação do ofendido (ou de seu representante legal, sendo caso), e (2) ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça.” Mougenot (2015): “Em determinados casos, a lei sujeitará expressamente (art. 24, caput, do Código de Processo Penal e art. 100, § 1o, do Código Penal) a propositura da ação penal pública ao implemento de uma condição, qual seja, a representação do ofendido (ou de quem o represente), ou a requisição do Ministro da Justiça. A natureza da manifestação de vontade que condiciona o ajuizamento da ação penal é controvertida. A doutrina ora a classifica como condição suspensiva de procedibilidade, ora como condição objetiva de punibilidade, ou mesmo como condição de procedibilidade. O entendimento majoritário, entretanto, é no sentido de que a representação e a requisição do 1 Ministério da Justiça constituem instituto processual e não material”. 6.1) AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO Marcão (2015): “Há determinados tipos de delitos em que, a despeito do interesse público evidenciado, o legislador preferiu deixar a possibilidade de persecução penal a critério do ofendido, tendo em vista a relevância de algum interesse seu. Nesses casos, procura-se impedir que a investigação e o processo causem mal ainda maior ao ofendido, daí a lei condicionar a instauração da persecução ao desejo do interessado. Visa-se evitar o strepitus fori ou strepitus judicii. A representação, em casos tais, constitui verdadeiro obstáculo que somente poderá ser removido por quem de direito.” Nos crimes desta natureza, a própria lei que cria o tipo penal, define a natureza da ação, dispondo: “somente se procede mediante representação”. Importante: Nos crimes de lesão corporal dolosa leve e lesão corporal culposa, a ação será pública condicionada, a luz do que dispõe o art. 88 da Lei n. 9.099/95. Se não houver permissão da vítima/representante legal, o inquérito policial ou TCO, não poderão ser instaurados pela autoridade policial. Algumas infrações penais, condicionadas a representação: a) perigo de contágio venéreo (art. 130, §2º, CP); b) crime contra a honra de funcionário público, em razão de suas funções (art. 141, II, c/c o art. 145, par. único)*; c) ameaça (147, par. único); d) violação de correspondência (art. 151, §4º), correspondência comercial (art. 152, par. único); e) furto de coisa comum (art. 156, §1º); f) tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de transporte sem ter recursos (art. 176, p.ú.); g) corrupção de preposto e violação de segredo de fábrica ou negócio (art. 196, §1º, X a XII, c/c o §2º); i) lesão corporal leve e culposa. Nestes casos, excepcionalmente, foi o art. 88 da Lei nº 9.099/95 que condicionou a ação penal em relação a tais crimes à representação. Ação Penal Concorrente ― Crime contra honra de servidor público em razão do exercício de suas funções: Segundo a súmula 714 do STF, “é concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, 1 para a ação por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções.” 6.1.1) CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO Manifestação de vontade do ofendido, ou de seu representante legal, autorizando a “persecutio criminis in judicio” pelo MP (art.24 do CPP). Mougenot (2015): “O que a lei chama de representação nada mais é do que a manifestação de consentimento no sentido de que o Ministério Público possa proceder ao ajuizamento da ação penal (...) Repita-se: a representação é manifestação de mero consentimento”. Marcão (2015): “A representação é instituto de natureza processual que exterioriza manifestação positiva de vontade que pode ser feita pelo ofendido ou outro legitimado com vistas à instauração de inquérito pela autoridade policial e oferecimento de denúncia pelo representante do Ministério Público, constituindo verdadeira delatio criminis postulatória.” 6.1.2) NATUREZA JURÍDICA DA REPRESENTAÇÃO Condição específica de procedibilidade: sem ela a ação penal não pode ser proposta. 6.1.3) TITULAR DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO É o próprio ofendido, desde que maior de 18 anos e mentalmente sadio. Poderá nomear procurador com poderes especiais. Com a mudança da maior idade civil, perdeu a razão de ser, no dizer de Tourinho Filho, a regra do art.34 do CPP e a súmula 524 do STF. Se o ofendido completou a maioridade, só ele, ou procurador especial por ele nomeado, poderão exercer o direito de representação. Seria um desproposito falar em representação legal em relação a uma pessoa que já atingiu a maioridade, não há mais, pois, a chamadarepresentação concorrente. Marcão (2015): “Em regra, titular do direito de formular representação é o ofendido, assim entendido o sujeito passivo do delito; aquele que sofreu as consequências da ação ou omissão delitiva.” Se o ofendido for menor de 18 anos ou mentalmente enfermo, o direito de representação caberá ao seu representante legal (art. 33 do CPP). 1 Marcão (2015): “Se o ofendido for menor de 18 anos ou mentalmente enfermo, o direito de representação deverá ser exercido por seu representante legal, e, no caso de não ter representante legal, ou colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de representação poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal, conforme interpretação tirada do art. 33 do CPP, por analogia.” Smanio (2007): “A jurisprudência tem admitido representação dos avós, tios, irmãos, pais de criação, pessoa pela qual o menor tenha dependência econômica etc.” . Se o representante legal do ofendido incapaz (menor de 18 anos ou mentalmente enfermo), não ofertar a representação no prazo legal, ele poderá fazê-lo. O primeiro, quando tiver reestabelecida a sanidade e, o segundo, ao completar a maioridade civil. STF (HC 75.697-2/DF): “Se o representante legal do ofendido não ofertar a representação no prazo legal, poderá o próprio ofendido, ao completar a maioridade penal, ofertar a representação nos seis meses subsequentes àquela data, sob pena de decadência.” Nucci (2008): “Se o prazo de decadência iniciou-se e terminou quando a vítima tinha menos de 18 anos, não sendo legitimada a agir, mas somente seu representante, que ficou inerte, há que se computar o seu prazo integral de seis meses, a contar da data em que atingir a capacidade processual penal. Isto porque os prazos são independentes: um para o representante e outro para o menor ofendido”. Ofendido incapaz e sem representante legal ou em conflito com este: Nesse caso, não tendo o ofendido representante legal ou, havendo conflito de interesses entre ofendido e seu representante legal, o Juiz deverá, de ofício, ou a requerimento do MP, nomear curador especial ao mesmo, a quem caberá, se for o caso, oferecer a representação (art.33 do CPP). Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): “O curador especial deve ser pessoa da confiança do magistrado e não é obrigado a oferecer a representação, incumbindo-lhe, em verdade, avaliar se o ato trará benefícios ou prejuízos ao menor”. Mougenot (2015): “Sendo o ofendido menor de 18 anos, ou absolutamente incapaz, poderá o seu representante legal realizar a representação; no entanto, se o incapaz não tiver representante legal, ou se os interesses do representante 1 colidirem com os seus – se, por exemplo, o representante legal for o próprio agressor, ou se for conivente com a agressão–, o juiz nomeará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, curador especial para exercer por ele a representação. O curador, evidentemente, não é obrigado a exercer a representação (o que descaracterizaria, como tal, a ação penal pública condicionada), devendo avaliar a conveniência, de acordo com os interesses do ofendido, de que seja ela exercida. O art. 33 do Código de Processo Penal, embora faça referência ao direito de queixa, aplica-se, por analogia, ao exercício da representação”. No caso de morte do ofendido ou declaração de ausência: o direito de representação caberá ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 24, §1° do CPP). Obs. 1: Trata-se de rol taxativo, assim, o curador do ausente nomeado no juízo cível não tem direito de representação, nem o amante da vítima. Obs. 2: A ordem em que os legitimados são mencionados determina a escala de preferência. Marcão (2015): “No caso de morte do ofendido antes do escoamento do prazo para a representação, ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (CPP, art. 24, § 1o). Comparecendo mais de um dentre os legitimados, a solução do impasse deverá levar em conta o disposto no art. 36 do CPP, segundo o qual terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração.” Pessoas jurídicas: o direito de representação caberá àquelas pessoas indicadas no contrato ou no estatuto social. No silêncio destes, os sócios-gerentes ou os diretores ficarão responsáveis por exercer o direito de representação (art. 37 do CPP). 6.1.4) PRAZOS PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO Regra: 06 meses, tendo como marco inicial, o dia em que a vítima/responsável legal identificam o autor do crime (art. 38 do CPP) e não, necessariamente, a data do crime. Prazo decadencial: trata-se de prazo decadencial cuja contagem se inicia a partir da data do conhecimento da autoria do delito, (prazo penal, uma vez que influencia no direito de punir do estado), sendo uma das causas extintivas da punibilidade (art. 107, IV do CP). 1 Norberto Avena (2009): “Assim, conhecido o autor do fato no dia 20 de abril, esgota-se o prazo em 19 de outubro do mesmo ano, sem que se cogite da sua interrupção por qualquer motivo. Sua fluência acarreta extinção da punibilidade (art.107, IV, do CP)”. Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): “O prazo a que a lei se refere é para que a representação seja oferecida, podendo o Ministério Público oferecer denúncia mesmo após esse período”. Morte ou ausência do ofendido: no caso de morte ou de ausência judicial do ofendido, o prazo só começa a fluir da data em que o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão tomarem conhecimento da autoria (art. 38, p.ú. do CPP). Marcão (2015): “Se qualquer dos sucessores legitimados deixar transcorrer o prazo sem o oferecimento de representação, deverá ser julgada extinta a punibilidade, visto não ser concebível a infinita multiplicidade de prazos. Não haverá, portanto, um prazo para cada sucessor legitimado.” 6.1.5) FORMA DA REPRESENTAÇÃO Mougenot (2015): “A representação define-se como a declaração da vítima ou de seu representante legal autorizando – ou requerendo – o Estado a proceder à persecutio criminis. A lei não lhe prescreve forma, de modo que poderá ela ser formulada por escrito, ou oralmente, sendo reduzida a termo, se necessário (art. 39, § 1o). Sua apresentação é opcional, cabendo ao interessado decidir se deseja ou não permitir o início das investigações.” a)A representação poderá ser exercida pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial; b)A representação, quando feita oralmente, deverá ser reduzida a termo; c)A representação, embora informal, deverá conter todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria; d)A representação, quando feita ao juiz, ou perante este, será reduzida a termo e remetida ao Ministério Público para análise meritória. Não deve ser remetido à autoridade policial, como preceitua o CPP. A luz do nosso sistema processual, não nos parece que o juiz ainda possa requisitar a instauração de inquérito policial. 1 e)O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 (quinze) dias. Marcão (2015): “Conforme se tem decidido, 'A representação não necessita ser exteriorizada de forma solene, sendo bastante que a vítima explicite sua intenção de ver processar o autor do ataque, mesmo que através de um simples boletim de ocorrência'”. 6.1.6) DESTINATÁRIO DA REPRESENTAÇÃO Conforme o art. 39, caput, do CPP, a representação poderá ser dirigida ao Juiz, ao Ministério Público ou à Autoridade Policial. Juiz: Feita a representação ao Juiz, este deverá, encaminhá-la ao MP e não requisitar a instauração de inquérito, como prevê o CPP. Ministério Público: Dirigida ao órgão do MP, havendo elementos, a denúncia deverá ser proposta num prazo de 15 dias (art. 39, §5º do CPP). Não havendo os tais elementos, o Ministério Público deverá requisitar a abertura de procedimento policial (Inquérito Policial ou TCO), anexando ao ofício requisitório, a representação. Poderá, ainda, dependendo do caso, solicitar o arquivamento das peças de informação. 6.1.7) RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO Uma vez apresentada a representação, poderá haver retratação, de regra, até o oferecimento da denúncia (art. 25 do CPP). Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): “A vítima, portanto, pode retirar a representação, de forma a impossibilitar o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público”. Retratação da retratação: a lei processual penal não prevê tal hipótese, razão pela qual os autores Tourinho Filho e Fernando Capez, não a admitem. Admitindo-a, temos Damásio de Jesus, Mirabete e Djalma Eutímio, este se diz favorável a possibilidade “da retratação da retratação” e aponta essa corrente como sendo a dominante. STJ: “ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. ART. 214, CAPUT, C.C. 224, A, DO CP. REPRESENTAÇÃO. RETRATAÇÃO. RECONSIDERAÇÃO DA RETRATAÇÃO. POSSIBILIDADE DENTRO DO PERÍODO DECADENCIAL. ORDEM DENEGADA. 1. A reconsideração da retratação, dentro do período decadencial, é possível e permite o regular curso da ação penal condicionada. 2. Ordem denegada.” (HC 59.188/PA). 1 Mougenot (2015): “A doutrina majoritária entende, ainda, ser possível a retratação da retratação (ou a revogação da retratação). Nesse caso, basta que o ofendido ofereça nova representação, após haver-se retratado, para que possa prosseguir a persecução penal (desde que não expirado o prazo decadencial correspondente).” A retratação nos crimes envolvendo violência doméstica (Lei Maria da Penha), só poderá ser efetivada perante o juiz, em audiência designada para esse fim (art.16, Lei 11340/2006). 6.1.8) NÃO-VINCULAÇÃO DO MP À REPRESENTAÇÃO Formulada a representação, não significa que a ação penal será obrigatoriamente proposta. Deverá o órgão do MP debruçar-se sobre os elementos de informação existentes e formar sua convicção. Dependendo do caso, poderá requisitar diligências à autoridade policial, propor a ação penal ou, até mesmo, requerer o arquivamento das peças de informação. Noberto Avena (2015): “Como já dissemos, a representação dá-se em relação à conduta praticada, não vinculando de forma alguma o Ministério Público, que, assim, não apenas poderá se inclinar pelo respectivo arquivamento, como também oferecer denúncia atribuindo ao mesmo fato definição jurídica diversa daquela que restou incorporada à representação antes realizada.” 6.1.9) RENÚNCIA A composição civil, nos crimes de pequeno potencial ofensivo, acarreta renuncia ao direito de representação, nos termos do art.74 da lei 9099/95. Mougenot (2015): “Uma vez aceita a composição civil, portanto, extingue-se o direito de representação, tornando- se impossível o prosseguimento da ação penal pública condicionada.” 6.1.10) Eficácia objetiva da representação: Se o ofendido ou seu representante legal representa contra um só infrator, o MP estará autorizado, a luz dos princípios da obrigatoriedade/indivisibilidade, a propor a ação contra todos envolvidos no crime (eficácia objetiva da representação). Smanio (2007): “Pode haver denúncia do MP contra pessoa não mencionada na representação? Sim, aplicando-se o 1 princípio da obrigatoriedade, conforme decisões do STF (RTJ, 79/406; 88/86)”. Marcão (2015): “A representação do ofendido tem eficácia objetiva, vale dizer: no caso de concurso de agentes, ainda que feita apenas em relação a um deles, alcança todos aqueles que cometeram o delito, o que decorre do princípio da indivisibilidade da ação penal.” 6.2) AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA Nesse caso, a ação penal é pública, pois promovida pelo MP, entretanto, condicionado o seu exercício, a requisição do Ministro da Justiça. Trata-se de ato essencialmente político, calcado na conveniência e oportunidade, cujo escopo é evitar que a ação seja proposta com base na tendenciosidade das dissensões políticas. Mougenot (2015): “Requisição é a autorização fundamentada em razões políticas, para que o Ministério Público promova a ação penal pública. A requisição é prevista como condicionante para o exercício da ação penal em certos crimes de cunho eminentemente político (crimes contra a honra praticados contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro, por exemplo), motivo pelo qual se justifica que a persecução penal fique condicionada ao prudente arbítrio do Ministro da Justiça, que julgará a conveniência e oportunidade de que seja ajuizada ação penal para cada caso que se lhe apresente.” Smanio (2007): “É um ato administrativo, discricionário, que deve conter a manifestação de vontade para a instauração da ação penal. Não é exigida formalidade especial.” Tourinho Filho (2009): “A requisição, na espécie, é um ato político, porque há certos crimes em que a conveniência da persecução penal está subordinada a essa conveniência política (...) Assim, a requisição nada mais é senão mera autorização para proceder, permissão para ser instaurado o processo, manifestação de vontade que tende a provocar a atividade processual. Ela é, por assim dizer, a representação política”. 6.2.1) INFRAÇÕES PENAIS QUE EXIGEM A REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA a) Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do Brasil: art. 7°, § 3°, “b” do CP; 2 b) Crimes contra honra cometidos contra chefe de governo estrangeiro: art. 141, I c/c art. 145 p.ú., do CP; c) Crimes contra honra praticados contra o Presidente da República: art. 141, I c/c art. 145 p.ú., do CP; 6.2.2) PRAZO PARA O OFERECIMENTO DA REQUISIÇÃO O CPP é omisso quanto ao prazo para a requisição, não estando, portanto, sujeito ao prazo decadencial, como a representação. Assim, a qualquer tempo poderá o Ministro da Justiça requisitar a instauração da ação penal, observado o prazo prescricional. 6.2.3) RETRATAÇÃO DA REQUISIÇÃO A possibilidade de retratação da requisição é discutida. Tourinho Filho (2009): “um ato administrativo, como a requisição, partindo do governo por meio do Ministro da Justiça, há de ser, necessariamente, um ato que se reveste de seriedade e não fruto de irreflexão”. Norberto Avena (2015): “Há dúvidas quanto a poder ou não o Ministro da Justiça retratar-se da requisição que tenha realizado, posicionando-se alguns no sentido da impossibilidade dessa retratação, já que, em primeiro lugar, trata-se de ato administrativo oriundo do governo mediante atitude do Ministro da Justiça, revestindo-se, pois, de seriedade; e, em segundo, inexiste previsão legal de que possa ser reconsiderado. Particularmente, não pensamos assim, acreditando que, exatamente por cuidar a requisição de um ato administrativo é que deve admitir retratação eficaz, desde que realizada esta reconsideração antes do ajuizamento da ação penal (após o ajuizamento é indisponível a ação penal pública). Justificamos esse ponto de vista na simples razão de que atos administrativos, modo geral, podem ser revistos, inclusive de ofício, por quem os editou.” 6.2.4) NÃO-VINCULAÇÃO DO MP À REQUISIÇÃO Assim como a representação do ofendido, per si, não obriga o órgão do MP a propor a ação penal, também nãoo faz, a requisição do Ministro da Justiça. A opinio delicti continua sendo de exclusividade do MP que, conforme sua convicção, oferecerá a ação penal, requisitará diligências, ou, até mesmo, poderá pedir o arquivamento do inquérito. 2 Smanio (2007): “a requisição do Ministro da Justiça não condiciona obrigatoriamente a propositura da ação pelo MP.” Noberto Avena (2015):“O Ministério Público é o destinatário da requisição do Ministro da Justiça, o qual, porém, não fica atrelado a seus termos, podendo divergir não apenas em relação à definição jurídica do delito, como também requisitar diligências e até mesmo postular o arquivamento caso se convença da inexistência de elementos que conduzam à dedução da ação penal.” 6.2.5) EFICÁCIA OBJETIVA DA REQUISIÇÃO Assim como na representação, apresentada a requisição, o MP estará apto a propor ação penal contra todos os envolvidos, mesmo contra aqueles que não foram nela (requisição) mencionados. 6.2.6) CONTEÚDO DA REQUISIÇÃO O CPP também foi omisso quanto a esse aspecto, entretanto, é de se supor que deva constar a qualificação da vítima e do autor do delito, bem como a exposição do fato considerado criminoso. 6.2.7) DESTINATÁRIO DA REQUISIÇÃO A doutrina aponta o Ministério Público, por ser o titular da ação penal, como único destinatário da requisição. 7) AÇÃO PENAL PRIVADA 7.1) CONSIDERAÇÕES Como se sabe, o Estado é o exclusivo titular do jus puniendi. Na ação de iniciativa privada, o Estado transfere à vítima ou ao seu representante legal (substituição processual) a legitimidade para propor a ação. Smanio (2007): “O direito de punir continua do Estado. O direito de agir cabe ao particular”. Mougenot (2015): “Via de regra, a ação penal deverá ser exercida pelo Poder Público. É o que acontece na grande maioria das vezes. Nesses casos, a ação penal será ajuizada pelo Ministério Público, instituição à qual a Constituição Federal (art. 129) atribui, privativamente, a iniciativa para sua propositura. Em certas ocasiões, entretanto, a própria lei reserva o exercício da ação penal a um particular. São aqueles casos em que, por determinação legal, a ação penal será de iniciativa privada (ou, abreviadamente, os casos de ação penal privada). O autor da ação será chamado de 2 querelante e o réu, de querelado. Conforme já se disse, ao transferir para o ofendido o exercício da ação penal (jus accusationis), o Estado continua a deter, com exclusividade, o direito de punir (jus puniendi). O particular, ajuizando e conduzindo a ação penal, na verdade, defende não apenas seu próprio interesse em ver punido o suposto autor de uma conduta criminal que se perpetra contra ele, mas também, e principalmente, o interesse social em que sejam perseguidos e devidamente punidos aqueles que infringem a lei penal.” 7.2) FUNDAMENTO Pacelli (2016): “A única razão para a permanência da ação penal privada parece ser o controle – objetivo, e não discricionário – de propositura da ação penal, o que permite à vítima de determinados delitos ingressar no juízo criminal independentemente do juízo de valor que dele ou sobre ele fizer o Ministério Público. Em outras palavras, a ação privada existiria para reservar inteiramente ao seu respectivo titular – ofendido e/ou legitimados para o processo – não só o juízo de conveniência e oportunidade da ação, mas, sobretudo, para permitir que o ofendido (ou seu representante legal e os demais legitimados para a ação, em caso de morte ou ausência dele) manifeste livremente a sua convicção – opinio delicti – acerca da existência do crime e da suficiência da prova para a instauração da ação penal.” 7.3) TITULAR Regra: na dicção do art. 100, §2° do CP, o titular do direito de queixa (nome dado a ação penal privada) pertence ao ofendido ou ao seu representante legal. O sujeito ativo é chamado de querelante, ao passo que, o réu, é denominado querelado. Pacelli (2016): “A regra é que a legitimação ativa para a ação privada seja atribuída ao ofendido, quando capaz, a quem caberá avaliar a conveniência e a oportunidade da instauração da ação penal. Tratando-se de ofendido menor de 18 anos, a lei não reconhece a ele capacidade processual para estar em juízo, atribuindo-a ao seu representante legal (art. 30, CPP). Na hipótese de ele não ter representante legal, cujo poder de representação decorra da lei (poder familiar – art. 1.630 e seguintes do Código Civil –, tutela ou curatela), ou, se tiver, houver conflito de interesse entre ambos, o juiz deverá, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, nomear curador especial para a defesa de seus interesses. Igual procedimento será adotado quando se tratar de pessoa incapaz, mentalmente enferma ou retardada mental (art. 33, CPP).” 2 Morte ou ausência judicial do ofendido: segundo o art. 31 do CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Obs.: Doutrina e jurisprudência têm considerado o rol do art. 31 do CPP taxativo, não podendo ser ampliado para, por exemplo, incluir o curador do ausente ou o amásio da ofendida. Entretanto, o companheiro terá, de acordo com alguns (Paulo Rangel, p. exemplo), o direito de queixa, já que a união estável foi equiparada ao casamento, consoante a CF/88. Em sentido contrário, Mirabete. Norberto Avena (2015): “De acordo com o art. 37 do CPP, poderão figurar como autores da ação penal privada as fundações, associações ou sociedades legalmente constituídas, hipótese na qual deverão ser representadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes. É importante ter em mente que a previsão inserida no precitado artigo não se restringe à ação penal privada exclusiva, podendo abarcar, também, a iniciativa da ação penal privada subsidiária da pública na inércia do Ministério Público em crimes nos quais figurem pessoas jurídicas como vítimas, v.g., furto de coisa comum (art. 156 do CP)”. Pacelli (2016): “A legitimação ad causam (titularidade, em tese, do direito) e a capacidade processual – ou seja, capacidade de estar em juízo – não dispensam, entretanto, a exigência de profissional do Direito devidamente habilitado na Ordem dos Advogados do Brasil, único com capacidade postulatória para o ajuizamento da ação penal privada. A procuração deverá conter poderes especiais para o oferecimento da queixa, bem como o nome do outorgante – querelante – e a referência ao fato criminoso, a menção aos fatos quando não depender de qualquer providência judicial anterior (art. 44, CPP). Se pobre o ofendido, assim considerado aquele que não pode prover as despesas do processo sem se privar dos recursos indispensáveis ao próprio sustento ou da família (art. 32, § 1o, CPP), o juiz deverá nomear advogado para a promoção da ação penal, onde não houver Defensoria Pública organizada em carreira.” 7.4) PRINCÍPIOS REITORES 7.4.1) OPORTUNIDADE OU CONVENIÊNCIA: O titular do direto de ação poderá optar entre propô-la ou não, de acordo com sua conveniência e interesse pessoal. É um ato discricionário. 2 Mougenot (2015): “O princípio da oportunidade contrapõe-se ao princípio da obrigatoriedade, que rege a ação penal pública. Enquanto o órgão do Ministério Público, se dispuser de elementos de prova que o convençam da prática de crime, estará obrigado a ajuizar a lei penal, no caso da ação penal privada isso não ocorre. De fato, a lei confere à vítima ou a seu representante legal a faculdade, e não a obrigação, de promover a ação penal. O particular é livre para formar seu próprio juízo de conveniência. Somente iniciará o processo, ajuizandoa ação penal, se assim o desejar, ou seja, se julgar que o ajuizamento da ação é conveniente para si. Caso contrário, poderá evitar o strepitus iudicii, se julgá-lo inoportuno, deixando impune a conduta criminosa”. Renúncia: o direito de queixa não pode ser exercido se renunciado expressa ou tacitamente (art. 104, CP). É ato pré-processual e irretratável. Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): ”É um ato pelo qual o ofendido abre mão (abdica) de direito de oferecer a queixa. Trata-se de ato unilateral, uma vez que, para produzir efeitos, independe de aceitação do autor do delito”. Renúncia tácita: quando se pratica ato incompatível com a vontade de se exercer o direito de queixa. Recebimento de indenização: o recebimento, pelo ofendido, de indenização do dano causada pelo crime não é considerado, pelo próprio CP (art. 104, pú) ato incompatível com a vontade de exercer o direito de queixa, a não ser nas infrações de menor potencial ofensivo, onde, havendo homologação, pelo Juiz, da composição civil dos danos, o ofendido renuncia ao direito de queixa (art. 74 da Lei 9.099/95). Existindo mais de um réu, a renúncia em relação a um deles, alcança (beneficia) os demais (art.49 CPP). Renúncia à ação penal privada (art. 49 do CPP e art. 104 do CP) Norberto Avena (2015): “A renúncia ao exercício do direito de queixa poderá ocorrer antes do ajuizamento da queixa- crime, caracterizando-se como ato ou fato impeditivo do ajuizamento da ação penal. Coerente com o princípio da indivisibilidade que informa a ação penal privada, dispõe o art. 49 do CPP que a renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá. Quanto à forma, classifica-se a renúncia em expressa e tácita. Diz-se expressa (art. 50 do CPP) quando constar de declaração assinada pelo ofendido, seu 2 representante legal ou procurador com poderes especiais. É, por outro lado, tácita quando o ofendido: • Deixa escoar o prazo decadencial sem ajuizar a queixa- crime; • Sendo instado a aditar a inicial para a inclusão de coautores ou partícipes, mantém-se inerte; • Realizar a composição dos danos cíveis da infração penal com o autor do fato no âmbito dos juizados especiais criminais mediante acordo judicialmente homologado (art. 74, parágrafo único, da Lei 9.099/1995); • Promover atos, fatos e circunstâncias que revelem a ausência de seu interesse em promover a responsabilização penal do ofensor, v.g., convidando-o para ser padrinho de batismo de seu filho. Nesse último exemplo, se, apesar do convite realizado, vier o ofendido a ingressar com ação penal, poderá o querelado, nos termos do art. 57 do CPP, utilizar de todo o meio de prova admitido para comprovar a ocorrência de anterior renúncia tácita à ação penal e, assim, buscar a extinção da punibilidade (art. 107, V, do CP).” 7.4.2) DISPONIBILIDADE: Ao contrário da ação pública, na ação penal privada, o ofendido tem a faculdade de escolher prosseguir ou não com a ação. Poderá dela desistir, através do perdão (1), ou demonstrar desinteresse em seu prosseguimento, o que acarretará a perempção (2). (1) Perdão - Espécie de benevolência, que acarreta a extinção da punibilidade (art.107, V, do CP). Pode ser expresso ou tácito. O perdão expresso é aquele declarado e o tácito consiste na prática de ato pelo querelante, incompatível com o desejo de prosseguir com a ação penal, como por exemplo, quando contrai casamento com o querelado. É ato bilateral, ou seja, tem que ser aceito pelo querelado, para que produza efeito. O perdão oferecido a um dos querelados aproveitará a todos que aceitarem. Só pode ser concedido após a propositura queixa, até o trânsito em julgado da sentença pena condenatória. No caso de pluralidade de vítimas (querelantes) o perdão concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito de ação dos outros. (2) Perempção - Representa desídia do querelante. Demonstra seu desinteresse no prosseguimento do processo. Acarreta a extinção da punibilidade (art.107, IV do CP) e ocorrerá (art. 60 do CPP): I) quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II) quando, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36 do CPP; 2 III) quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais; IV) quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Norberto Avena (2015): “A perempção é instituto próprio da ação penal privada exclusiva, implicando a extinção da punibilidade do querelado (art. 107, IV, do CP). Resulta, em síntese, de certos atos, fatos ou circunstâncias que fazem presumir o desinteresse do querelante no andamento da ação penal.” Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): “É uma sanção aplicada ao querelante, consistente na perda do direito do prosseguir na ação penal privada, em razão de sua inércia ou omissão no transcorrer da ação penal.” IMPORTANTE: Na ação penal privada subsidiária de pública, não se aplica o perdão, tampouco a perempção. Ocorrendo alguma das hipóteses do art. 60 do CPP, o MP deverá retomar a ação penal como parte principal (art. 29 do CPP). 7.4.3) INDIVISIBILIDADE: O ofendido pode escolher, apenas, entre propor ou não a ação penal privada. Optando pela queixa, deverá dirigi-la contra todos os ofensores, não podendo, assim, escolher somente um ou alguns para processar (art.48 do CPP), ou seja, havendo concurso de pessoas, ou processa todos ou não processa ninguém. O MP, nos crimes de ação penal privada, não poderá aditar a queixa para incluir coautores ou partícipes, pois lhe falta legitimidade ativa (Em sentido contrário: Tourinho Filho). O MP só poderá aditar a queixa para incluir dados importantes, mas não essenciais, tais como: a data do fato, qualificação precisa do querelado etc. Esse o verdadeiro teor do art. 45 do CPP. STJ: “Nos termos do artigo 45 do CPP, a queixa poderá ser aditada pelo Ministério Público, ainda que se trate de ação penal privativa do ofendido, desde que não proceda à inclusão de coautor ou partícipe, tampouco inove quanto aos fatos descritos” (HC 85.039/SP, DJ 30.03.2009). Prazo para aditamento: três dias (art. 45 e 46 § 2º CPP). Aditamento da queixa pelo querelante: o querelante, não havendo renúncia tácita ou expressa, poderá aditar a ação penal. Assim, se depois de instaurada a ação penal privada surgirem provas contra 2 outros envolvidos, o querelante deverá aditar a queixa, para incluí- los, sob pena de renúncia. Aditamento e decadência: só ocorrerá a decadência 06 (seis) meses após o conhecimento dos novos infratores. Renúncia tácita: ocorrerá quando existir elementos contra certo autor e o querelante não o incluir na queixa. Ação penal privada subsidiária da pública: nessa ação será possível o aditamento pelo MP, que pode, se for o caso, incluir fatos novos, coautores, partícipes. Se o processo já estiver muito adiantado, ou com sentença de 1º grau prolatada, por exemplo, é mais interessante a propositura de uma nova denúncia (lembrar que, originariamente, a ação penal é pública). Litisconsórcio ativo – MP e Querelante – Crime de Ação Pública e de Ação Privada: Nesses casos (conexão e continência – art. 79 CPP), deve ser oferecida a denúncia pelo MP e a queixa pelo querelante. 7.4.4) INTRANSCENDÊNCIA A ação penal só poderá ser dirigida contra o autor ou partícipe da infração. Responsável civil: não pode serdirigida ao responsável civil do acusado (art. 5°, XLV da CF). Mougenot (2015): “Não pode a ação penal privada atingir pessoas estranhas à autoria do fato, alcançando tão somente os autores, coautores e partícipes da infração penal.” 7.5) CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES PENAIS PRIVADAS 7.5.1) AÇÃO PRIVADA EXCLUSIVA/PROPRIAMENTE DITA/PRINCIPAL Poderá ser proposta pelo ofendido ou por seu representante legal. É a mais comum. Nessa modalidade de ação é possível a sucessão em caso de falecimento ou ausência do querelante, podendo ocupar o seu lugar no polo ativo da ação, as pessoas mencionadas no art.31 do CPP. Mougenot (2015): “Também chamada de ação privada propriamente dita ou ação privada principal, é aquela que deve ser proposta pelo ofendido ou por quem legalmente o represente para a persecução de determinados crimes, cuja apuração e julgamento ficam sujeitos, por expressa determinação legal, à exclusiva iniciativa do ofendido. É o 2 caso padrão de ação penal privada, aplicável quando a lei determina que a ação deva ser proposta mediante queixa, mas não especifica seu caráter personalíssimo, nem condiciona sua propositura à inércia do Ministério Público em ajuizar a ação penal pública.” Smanio (2007): “A Parte Especial do CP e a legislação penal especial, especificam quais os delitos que a admitem, geralmente com a expressão ‘só se procede mediante queixa’”. 7.5.2) AÇÃO PRIVADA PERSONALÍSSIMA Titularidade: é exclusiva do ofendido, só poderá ser proposta por ele. Intransferibilidade: Trata-se de direito personalíssimo e intransferível, mesmo com a morte da vítima. Smanio (2007): “Na hipótese de ação penal privada personalíssima, não é possível que a queixa seja apresentada por representante legal ou curador especial, já que a lei se refere especialmente ao ‘contraente enganado’ e ao ‘cônjuge ofendido’, respectivamente. Sendo a vítima incapaz (doente mental), menor de 18 anos, não é possível a instauração da ação penal. Somente a recuperação da vítima, na primeira hipótese, ou a maioridade processual, na segunda, possibilitará a propositura da queixa. Não há que se falar em decadência’ ”. Mougenot (2015): “Em certos casos, a ação privada somente poderá ser promovida pelo próprio ofendido, sem que, por sua morte ou ausência, esse direito se transmita aos sucessores previstos no art. 31 do Código de Processo Penal (daí sua qualificação como personalíssima). Assim, o falecimento do ofendido acarretará a extinção da punibilidade do ofensor. Já se o ofendido for incapaz, o direito também não será transmissível aos seus representantes, sendo que a única providência a ser tomada é aguardar a cessação da incapacidade para, aí sim, ingressar com a queixa-crime, permanecendo suspenso, neste ínterim, o prazo decadencial.” Em nosso ordenamento, há apenas um caso: o induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento (art. 236, p.ú. do CP). Ainda na linha da discricionariedade, a nossa legislação, para determinados delitos, reserva exclusivamente ao ofendido o juízo de conveniência acerca da propositura da ação penal, não sendo facultada a ninguém a substituição processual em caso de morte ou ausência do interessado. 2 Pacelli (2016): "É o que ocorre na hipótese do crime contra o casamento definido no art. 236 do CP (induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento, no casamento), cuja ação penal deverá ser promovida unicamente pelo contraente enganado, depois de transitada em julgado a decisão que anular o casamento. Aqui, como se percebe, presente uma condição de procedibilidade – ou condição objetiva de punibilidade, como queiram –, o prazo decadencial somente correrá após o citado trânsito em julgado." Adultério: o crime de adultério foi banido do nosso ordenamento jurídico penal pela Lei nº 11.106/2005. 7.5.3) AÇÃO PENAL SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA Cabimento: Se o MP, nos crimes de ação penal pública permanecer inerte, o ofendido/responsável legal poderá (é uma faculdade), no lugar daquele, apresentar a queixa-crime (arts. 5°, LIX, e 129, I da CF). É uma forma assegurar a propositura da ação e, com isso, a punição do infrator, em caso de inércia do MP. Pacelli (2016): “Com o objetivo de tutelar o mais amplamente possível os interesses da vítima, seja em razão da repercussão patrimonial eventualmente decorrente da ação criminosa, seja ainda em sede da própria exigência da resposta penal ao ilícito contra ela praticado, prevê a Constituição Federal, em seu art. 5o, LIX, que 'será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal' ”. Mougenot (2015): “Se, nos casos em que a ação penal seja ordinariamente de iniciativa pública, o Poder Público, por meio do Ministério Público, não intenta a ação penal no prazo legal, o ofendido ou seu representante legal poderão, subsidiariamente, ajuizá-la. A ação penal privada subsidiária da ação penal pública é prevista em sede constitucional (art. 5o, LIX, da Constituição Federal), encontrando ainda previsão legal tanto no Código de Processo Penal (art. 29) quanto no Código Penal (art. 100, § 3o)”. Smanio (2007): “A possibilidade de ação subsidiária não afasta a titularidade do MP, que pode aditar queixa, oferecer denuncia substitutiva e funcionar em todo processo, retomando a ação. (...) Se houver negligência do querelante, deve retomar a qualquer tempo a ação. A negligência está prevista no art.60, I, II, III, do CPP. Portanto, não há perempção na ação penal privada subsidiária da pública. (...) O Ministério Público se manifesta depois do querelante e 3 antes do querelado, que se manifesta por último em razão do princípio da ampla defesa.” A queixa subsidiária (art.100, §3º, do CP e art29, CPP) só terá lugar no caso de inércia do MP. Assim, na hipótese de requerimento de arquivamento do inquérito ou de requisição de diligências investigatórias não há possibilidade do ofendido impetrar a “queixa subsidiária”. Pacelli (2016): “Pressuposto, então, do exercício de tal direito, é precisamente a desídia do Ministério Público, isto é, a ausência de manifestação tempestiva de ato de ofício, no prazo previsto em lei. Não a caracterizam, portanto, o só não oferecimento da denúncia, no prazo legal, desde que tenha ele, tempestivamente, pugnado pela necessidade de novas diligências a serem realizadas pela autoridade policial ou tenha se manifestado pelo arquivamento dos autos. O que efetivamente caracteriza a desídia é a ausência de qualquer manifestação dentro do prazo previsto na lei para o oferecimento da denúncia. Ver, nesse sentido, Superior Tribunal de Justiça, julgado em 2.12.2010, HC 175.141/ MT, Informativo STJ, dez. 2010).” Esgotado o prazo para a manifestação do MP, o ofendido ou seu representante legal terão 06 (seis) meses para propor a respectiva queixa. Após este prazo, haverá, para a vítima, decadência, não podendo mais ofertar a queixa-crime. Ressalte-se que, ainda assim, poderá o MP ofertar denuncia, salvo se houver ocorrido a prescrição. Mougenot (2015): “Além do próprio ofendido e de seu representante legal, o Código de Defesa do Consumidor passou a prever outros legitimados para a propositura de ação penal privada subsidiária: a) as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos do consumidor, ainda que não tenham personalidade jurídica; b) as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e direitos do consumidor, dispensada para tanto a autorização assemblear (art. 80, em combinação com o art. 82, III e IV, da Lei n. 8.078/90)”. 7.6) PRAZOSPARA A AÇÃO PENAL PRIVADA É de 06 (seis) meses o prazo para o exercício do direito de queixa, contados a partir do dia em que se vier a conhecer quem é o autor da infração (art.38 CPP). O próprio Código, entretanto, prevê exceções: 3 a) Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento: 06 meses, contados a partir do trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento: art. 236, p. ú do CP; e b) Crimes contra a propriedade imaterial que deixar vestígios, sempre que for requerida a prova pericial: 30 dias, contados a partir da homologação do laudo (art. 529, caput). Obs: No caso de ação penal privada subsidiária da pública, o ofendido ou seu representante legal terão 06 meses para propor a respectiva queixa, tendo como marco inicial, o esgotamento do prazo para a manifestação do MP. Alexandre Reis e Victor Gonçalves (2012): “De acordo com o art.46 do Código de Processo Penal, o prazo para oferecimento da denuncia é de 5 dias, se o indiciado estiver preso, e de 15 dias, se estiver solto, a contar da data em que for recebido o inquérito policial. Findo este prazo sem que o Ministério Público tenha apresentado manifestação, surge o direito para a vítima de oferecer a queixa em substituição a denúncia não apresentada no prazo. Tal possibilidade inicia- se com o termino do prazo para o Ministério Público e se estende por 6 meses.” 08. DENÚNCIA e QUEIXA- A PEÇA INICIAL ACUSATÓRIA 8.1) CONSIDERAÇÕES Consiste na exposição por escrito dos fatos que, em tese, constituem o ilícito penal. Deve conter, de forma manifesta, o interesse de que seja aplicada a lei penal ao acusado, bem como a indicação das provas em que se fundamenta a pretensão punitiva. Denúncia – denominação técnica da ação penal pública; Queixa – denominação técnica da ação penal privada. 8.2) REQUISITOS DA INICIAL(Art. 41 do CPP) Pacelli (2016): “Segundo o disposto no art. 41 do CPP, a denúncia ou queixa 'conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas'. As exigências relativas à 'exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias' atendem à necessidade de se permitir, desde logo, o exercício da ampla defesa. Conhecendo com precisão todos os limites da imputação, poderá o acusado a ela se contrapor o mais amplamente possível, desde, então, a delimitação temática 3 da peça acusatória, em que se irá fixar o conteúdo da questão penal. Mas, de outro lado, a correta delimitação temática, ou imputação do fato, presta-se, também, a viabilizar a própria aplicação da lei penal, na medida em que permite ao órgão jurisdicional dar ao fato narrado na acusação a justa e adequada correspondência normativa, isto é, valendo-nos de linguagem chiovendiana, dizer a vontade concreta da lei (subsunção do fato imputado à norma penal prevista no ordenamento).” 8.2.1) ENDEREÇAMENTO É a indicação do órgão jurisdicional ao qual é dirigida a ação penal. Ressalte-se que o endereçamento equivocado não impede o recebimento da vestibular acusatória, sanando-se a irregularidade, com a remessa ou recebimento dos autos pelo Juízo realmente competente (STF, RHC 60.126). 8.2.2) QUALIFICAÇÃO DO ACUSADO OU FORNECIMENTO DE DADOS QUE POSSIBILITEM SUA IDENTIFICAÇÃO É necessário apontar o conjunto de qualidades que possam identificar, com segurança, a pessoa contra quem se propõe a ação penal, distinguindo-a de outras. Na impossibilidade de identificação do réu através de sua qualificação civil, esta poderá ser feita através do fornecimento de traços físicos característicos próprios do autor, tais como: sexo, altura, idade, dentre outros (art. 259 do CPP). Norberto Avena (2015): “A qualificação incompleta ou vaga é causa de nulidade da denúncia ou queixa”. 8.2.3) DESCRIÇÃO DOS FATOS COM TODAS AS SUAS CIRCUNSTÂNCIAS Correta delimitação da imputação. Deve ser precisa, não podendo haver acusação vaga, pois só a descrição precisa dos fatos permite o exercício da ampla defesa. Devem ser incluídas todas as circunstâncias que cercam o fato, principalmente as elementares, qualificadoras e causas de aumento de pena. Deve apontar as circunstâncias de tempo, local e modo de execução. Norberto Avena (2015): “Trata-se de elemento essencial da peça acusatória, pois é do fato descrito que o réu se defende e será em relação ao fato descrito que deverá estar relacionada a sentença a ser proferida. Como circunstâncias obrigatórias, reputa-se quando o fato foi praticado, onde ocorreu, quem o praticou, o motivo que o ensejou (se conhecido), os meios utilizados, o modo como foi cometido o 3 delito, o malefício causado e, por fim, a explicação quanto ao contexto no qual perpetrado.” Nucci (2015): “Em suma, ao denunciar o acusado, torna-se indispensável que o promotor narre ao magistrado o fato principal (como o agente matou a vítima) e as qualificadoras envolvidas (em que consistiu a motivação considerada fútil, como se deu a crueldade na execução etc.). Esse é o conteúdo do fato criminoso com todas as suas circunstâncias previsto no art. 41 do CPP.” Concurso de pessoas: quando não for o caso de ações uniformes, a INICIAL deve precisar, sempre que possível, a conduta de cada um dos coautores ou partícipes, afinal o art. 29 do CP prevê que a pena seja aplicada na medida da culpabilidade de cada agente. STJ: “Não é inepta a denúncia que, embora sintética, permite o exercício da ampla defesa. A descrição da coautoria, sem particularizar a atuação dos acusados, é possível quando a natureza do crime e suas circunstâncias não permitem a individualização pormenorizada dos atos de cada um”. (RHC- Rel. Min. Assis Toledo- RSTJ 68/91). Norberto Avena (2015): “No caso de concurso de agentes, embora seja dispensável que a inicial descreva minúcias da conduta de cada acusado (o detalhamento mais preciso pode ser reservado à fase da instrução criminal), os fatos deverão ser narrados de forma a possibilitar o exercício da ampla defesa, sob pena de inépcia. Neste sentido têm decidido os Tribunais Superiores, compreendendo que 'no caso de crime praticado mediante concurso de agentes, afigura-se dispensável que a denúncia descreva de forma minuciosa e individualizada a conduta de cada acusado, bastando, para tanto, que a exordial narre o fato principal e as qualificadoras de forma a possibilitar o exercício da ampla defesa'. Visando a não inviabilizar a acusação, em circunstâncias excepcionais, admite-se, inclusive, a denúncia genérica, ou seja, aquela que não realiza a descrição individualizada da ação de cada um dos envolvidos. Mas isso, repita-se, apenas em casos especialíssimos, como na hipótese de a denúncia incorporar vários crimes cometidos por vários autores; nos crimes multitudinários, assim considerados os crimes praticados por multidões impelidas pelo ódio, raiva, desespero; e nos crimes que, por sua própria natureza, devam ser praticados em concurso.” Imputação alternativa: 3 Smanio (2007): “É quando se descreve que o acusado praticou uma ou outra das condutas descritas”. Não é admitida, pois torna a acusação incerta, além de dificultar ou até mesmo inviabilizar o exercício da ampla defesa”. (Entendimento contrário: Afrânio Silva Jardim). Mougenot (2015): “Essa medida, segundo a corrente a que nos filiamos, atinge diametralmente o princípio da ampla defesa, obrigando o acusado a apresentar argumentos defensivos em vários sentidos, sem saber, no entanto, efetivamente contra qual conduta será ele perseguido
Compartilhar