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Determinantes Sociais da Saúde (DSS) Histórico das principais teorias sobre a determinação social dos processos saúde-doença e primeiros modelos REGINA C. FIORATI Modelos conceituais em estudos sobre desigualdades em saúde - pressupostos • A ideia básica é que as doenças “não caem do céu” e são distribuídas aleatoriamente por toda a população – mas são profundamente determinadas pela estrutura social, política e econômica de uma sociedade. • Opõe-se a ideia dominante que adoecer estaria condicionado exclusivamente a herança genética, estilo de vida e maus hábitos, a descobertas médicas e, ainda que hilário, a “castigos divinos”.... Modelos conceituais em estudos sobre desigualdades em saúde – pressupostos • Os estudos sobre desigualdades em saúde partiram do pressuposto de que era necessário condicionar os processos de saúde-doença, ou seja a distribuição da mortalidade, deficiência e morbidade a classe social, etnia, gênero, a níveis de educação, condições de trabalho e renda, ou a áreas geográficas de risco e que se constituíam assim em DETERMINANTES SOCIAIS de processos de saúde-doença de pessoas e populações. • A saúde passa de um objeto médico para um objeto ético, político e social Modelos conceituais em estudos sobre desigualdades em saúde – definição de iniquidade em saúde • Esses determinantes sociais da saúde colocam as pessoas e população em situação de desigualdades em relação aos recursos necessários a manutenção de uma boa saúde e qualidade de vida quando: • 1- quando a doença é potencialmente evitável • 2- quando é resultado de injustiça social– imputado não por agentes incontroláveis, mas imputados por desigualdades sociais de acessos, ou seja, são imputados pela estrutura social desigualmente injusta. • • Desigualdades em saúde inaceitáveis Modelos conceituais em estudos sobre desigualdades em saúde - princípios • Saúde como um fenômeno social – saúde como justiça social • Equidade em saúde torna-se um guia ou a missão primordial da ação sobre os DSS • Adotando os parâmetros da justiça social e da equidade entende-se que a equidade em saúde é um DIREITO HUMANO e portanto está dentro dos objetivos adotados pelos Carta Universal dos Direitos Humanos • Entendendo-se direitos humanos, não de um ponto de vista individual, mas dos direitos garantidores do completo bem estar de grupos humanos • Modelo conceitual da CSDH-WHO – resultado de modelos e teorias anteriores Mas como surgiram esses estudos sobre a determinação social dos processos saúde-doença? Endereçados a que necessidades sociais, políticas e econômicas esses estudos vieram responder? Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • Nas 6 últimas décadas do Século XX, as agendas internacionais sobre saúde oscilaram entres duas visões que se alternaram na condução e concepção e intervenções em saúde: • 1- abordagens baseadas em intervenções e tecnologias médicas e estritamente de saúde pública. • 2- uma compreensão da saúde como um fenômeno social, exigindo formas mais complexas de ação de políticas intersetoriais e às vezes vinculadas a uma agenda mais ampla de justiça social. Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • A Constituição da OMS em 1948 - reconhece claramente o impacto das condições sociais e políticas sobre a saúde e a necessidade de colaboração com setores como agricultura, educação, habitação e bem-estar social para alcançar ganhos de saúde. • Década de 1950 e 1960, no entanto, a OMS e outros atores mundiais da saúde enfatizaram as campanhas "verticais" de tecnologia voltadas para doenças específicas, com pouca consideração por contextos sociais • Os efeitos generalizados de gradientes sociais em saúde foram progressivamente esclarecidos, em particular pelo Whitehall Studies of Comparative Health Outcomes na Inglaterra em 1967. • Declaração de Alma-Ata de 1978 a partir das preconização sobre Atenção Primária à Saúde e o movimento de “Saúde para Todos” que se seguiu, retoma o modelo social de saúde e reafirma a necessidade de fortalecer a equidade em saúde ao abordar as condições sociais através de programas intersetoriais Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • Porém na década de 1980 a orientação neoliberal ascende em todo o mundo, e principalmente, na Europa, impulsionado pela política econômica estadunidense. Na orientação neoliberal enfatiza-se: • 1-a auto regulação do mercado e saída do Estado como regulador das políticas econômicas, • 2-a sobreposição da economia sobre as politicas sociais, • 3- enxugamento das politicas sociais de proteção social e bem estar • no setor saúde as ações voltam-se para a ampliação da tecnologia médica voltada para a eficiência (produtividade) em detrimento da equidade e das ações sobre os DSS Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • Entretanto, como sob o neoliberalismo as iniquidades em saúde crescem, muitos estudos ganham destaque nesse processo e emergem em importância The Black Report no Reino Unido (Douglas Black). • The Black Report (1980) inspirou outros estudos destacando Espanha, Holanda e Suécia. • O trabalho importante na Organização Europeia da OMS no início da década de 1990 estabeleceu fundamentos conceituais para uma nova agenda de equidade em saúde e o vocabulário dos DSS começou a se disseminar mais amplamente https://en.wikipedia.org/wiki/Douglas_Black_(physician) Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • No final da década de 1990 e no início dos anos 2000, em resposta à crescente documentação sobre as desigualdades e à evidência de que as políticas sociais e de saúde existentes não conseguiram reduzir as lacunas de equidade a equidade em saúde e os determinantes sociais da saúde foram adotados como preocupações políticas explícitas por um número crescente de países • Particularmente na Europa- Inglaterra, Irlanda,Italia, Holanda, Irlanda do Norte, Escócia e Páis de Gales – • Mas também na Austrália, Nova Zelandia, África, Ásia, Mediterrâneo Oriental e América latina. Histórico dos estudos pioneiros sobre os DSS • Em 2003, Lee Jong-Wook assumiu o cargo de Diretor-Geral da OMS a partir de uma plataforma de compromissos em matéria de equidade em saúde, justiça social e revigoramento dos valores do lema “Saúde para Todos”. • Em 2004 Lee cria a Comissão dos Determinantes Sociais da Saúde da OMS (CSDH-WHO) • A partir de então vários documentos foram elaborados para relatar como as iniquidades em saúde com base na ação sobre os DSS estavam sendo enfrentados e que ganharam destaque no contexto científico. • A recomendação mais importante da CSDH-WHO para os governos foi (e ainda é) a política intersetorial “Health in all Policies” (HiP) – a qual foi abraçada por muitos governos dando destaque para os países do norte europeu, UK e Espanha. • Surgem também vários modelos conceituais sobre a determinação social dos processos saúde- doença e de ações sobre os DSS Teorias sobre a produção social da saúde- doença e de ação sobre os DSS • 1-Abordagens psicossociais – seleção ou mobilidade social • 2-Abordagem político-econômica da saúde – causalidade social • 3-Abordagens ecológicas – em perspespectiva eco- social da saúde – perspectivas do curso da vida • Posição social como determinante principal Teorias sobre a produção social da saúde-doença e dos DSS – Modelo de Diderichsen e Hallqvist – mecanismos para a desigualdade em saúde CONTEXTOS SOCIAIS Estrutura social Relações sociais Criam estratificação social Remete os sujeitos a diferentes POSIÇÕES SOCIAIS ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL Exposição diferenciada a condições prejudiciais à saúde Vulnerabilidade diferencial Condições de saúde desiguais Disponibilidade de recursos DESIGUALDADES EM SAÚDE A estratificação social também determina as consequências diferenciais da saúde para grupos mais ou menos favorecidos (incluindo consequências econômicas e sociais, além de resultados diferenciais de saúde per se).O modelo de Diderichsen e Hallqvist, de 1998, foi adaptado por Diderichsen, Evans e Whitehead (2001) • Enfatiza a estratificação social gerada pelo contexto social, que confere aos indivíduos posições sociais distintas, as quais por sua vez provocam diferenciais de saúde. • (I) Representa o processo segundo o qual cada indivíduo ocupa determinada posição social como resultado de diversos mecanismos sociais, como o sistema educacional e o mercado de trabalho • (II) De acordo com a posição social ocupada pelos diferentes indivíduos, aparecem diferenciais, como o de exposição a riscos que causam danos à saúde • (III) Uma vez exposto a estes riscos O diferencial de vulnerabilidade à ocorrência de doença • (IV) E o diferencial de consequências sociais ou físicas, uma vez contraída a doença Fonte: Paulo Marchiori Buss e Alberto Pellegrini Filho. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007 Modelo dos DSS de Dahlgren e Whitehead • DSS dispostos em diferentes camadas, desde uma camada mais próxima dos determinantes individuais até uma camada distal, onde se situam os macrodeterminantes. • Os indivíduos estão na base do modelo, com suas características individuais de idade, sexo e fatores genéticos. • Na camada imediatamente externa aparecem o comportamento e os estilos de vida individuais. • A camada seguinte destaca a influência das redes comunitárias. • No próximo nível estão representados os fatores relacionados a condições de vida e de trabalho, disponibilidade de alimentos e acesso a ambientes e serviços essenciais, como saúde e educação. • No último nível estão situados os macrodeterminantes relacionados às condições econômicas, culturais e ambientais da sociedade. Fonte: Paulo Marchiori Buss e Alberto Pellegrini Filho. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007 Abordagens que enfatizam a Posição Social - interfaces • Os direitos humanos determinam a demanda por empoderamento das comunidades oprimidas e marginalizadas pela expressão de seu poder social coletivo. • Abordar os determinantes sociais das desigualdades na saúde é um processo político que envolve a agência das comunidades desfavorecidas e a responsabilidade do Estado. • Ação política sobre os determinantes sociais da saúde e sobre as desigualdades sociais que geram determinantes sociais das desigualdades em saúde O modelo dos DSS da CSDH-WHO • Reuniu todos os modelos anteriores e buscou uma síntese estrutural e dos mecanismos pelos quais os DSS geram as desigualdades em saúde. • Determinantes estruturais – contextos políticos e econômicos – que incluem governança, políticas macroeconômicas, políticas sociais (mercado de trabalho e emprego, habitação e propriedade da terra), políticas públicas (educação, saúde, proteção social), a cultura que molda os valores sociais posição socioeconômica que influem nas desigualdades de classe social, etnicidade, gênero, educação, acesso a trabalho e renda • Determinantes intermediários – circunstâncias materiais da vida (condições de trabalho, habitação, acesso a alimentos), sistema de saúde, fatores comportamentais e biológicos, fatores psicossociais. • Esses dois tipos de determinantes têm como fator de ligação entre eles a coesão social (Capital social) Mecanismos pelos quais operam os DSS • Os determinantes estruturais são os determinantes das iniquidades em saúde • Os determinantes estruturais operam através dos determinantes intermediários e estes, por sua vez, operam moldando os resultados de saúde • Há uma relação causal – estruturais intermediários resultados de saúde. Determinantes estruturais • Se configuram no contexto que inclui mecanismos sociais e políticos que geram, configuram e mantêm hierarquias sociais, incluindo: o mercado de trabalho; o sistema educacional, as instituições políticas e outros valores culturais e societários. • Entre os fatores contextuais que mais afetam a saúde são o estado do bem-estar social e suas políticas redistributivas (ou a ausência de tais políticas). • No quadro da CSDH, os mecanismos estruturais são aqueles que geram divisões de estratificação e classe social na sociedade e que definem a posição socioeconômica individual dentro das hierarquias de poder, prestígio e acesso aos recursos. • Os mecanismos estruturais estão enraizados nas principais instituições e processos do contexto socioeconômico e político. Determinantes intermediários • As circunstâncias materiais incluem fatores como habitação e qualidade da vizinhança, potencial de consumo (por exemplo, recursos financeiros para comprar alimentos saudáveis, roupas quentes, etc.) e o meio- ambiente. • As circunstâncias psicossociais incluem estressores psicossociais, circunstâncias de vida estressantes e relacionamentos, e suporte social e estilos de enfrentamento (ou a falta dele). • Os fatores comportamentais e biológicos incluem nutrição, atividade física, consumo de tabaco e consumo de álcool, que são distribuídos de forma desigual. E os fatores biológicos são provenientes do meio ambiente e fatores genéticos. Capital social –coesão social • Capacidade de uma comunidade manter laços fortes de solidariedade e cooperação • Coletivismo e cooperativismo • Laços determinam um sistema recíproco de ajuda comunitária que beneficiam todos e cada um individualmente. Ação política sobre as iniquidades em saúde a partir dos DSS • Três abordagens gerais para reduzir as desigualdades na saúde podem ser identificadas: • (1) programas específicos para populações desfavorecidas; • (2) fechar lacunas de saúde entre os grupos em situação mais desfavorecida e os mais desfavorecidos; • (3) abordando o gradiente social de saúde em toda a população como guia das ações políticas. • Uma abordagem consistente baseada em equidade sobre os DSS deve, em última análise, liderar as ações que são complementares. Ação política sobre as iniquidades em saúde a partir dos DSS • Quadros estruturais para o desenvolvimento de políticas podem ajudar os analistas e formuladores de políticas a identificar os níveis de intervenção e os pontos de entrada para a ação sobre os DSS • As ações devem contemplar desde políticas que abordam determinantes estruturais subjacentes até abordagens focadas no sistema de saúde e reduzindo as desigualdades nas consequências da saúde sofrida por diferentes grupos sociais • As considerações sobre a análise das 3 abordagens necessárias para o enfrentamento dos DSS, tendo como foco as desigualdades em saúde pedem três orientações estratégicas fundamentais para as ações/políticas: • (1) a necessidade de estratégias para abordar o contexto; • (2) ação intersetorial; e • (3) participação social e capacitação Desafios de ação política para a CSDH • O desafio mais importante é que as intervenções e políticas para reduzir as desigualdades em saúde devem incluir políticas especificamente criadas para enfrentar os mecanismos sociais que produzem sistematicamente uma distribuição desigual dos determinantes da saúde entre os grupos populacionais. • Para enfrentar fatores estruturais e intermediários, os determinantes requerem ABORDAGENS DE POLÍTICAS INTERSETORIAIS. Fonte: Solar O, Irwin A. A conceptual framework for action on the social determinants of health. Social Determinants of Health DiscussionPaper 2 (Policy and Practice). Referências • Buss PM, Pellegrini-Filho, A. PHYSIS: Rev. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 17(1):77-93, 2007. • Segura Del Pozo J. Desigualdades Sociales en Salud: conceptos, estudios e intervenciones (1980-2010). Bogotá : Universidad Nacional de Colombia. Doctorado Interfacultades en Salud Pública, 2013. • Solar O, Irwin A. A conceptual framework for action on the social determinants of health. Social Determinants of Health Discussion. Paper 2 (Policy and Practice).
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