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Medicalização do Corpo Feminino

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Trabalho Final – Habilidades Humanísticas
Medicalização do Corpo Feminino
Giovanna Rita Calvo Costa
Turma C – Grupo Preto
2ª Etapa
2017
Questão 1
O artigo “A Vagina Pós-Orgânica: Intervenções e saberes sobre o corpo feminino acerca do ‘Embelezamento Orgânico’” aborda aspectos socioculturais por trás dos procedimentos de embelezamento íntimo.
O Brasil lidera o ranking de cirurgias íntimas. Segundo pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética, no ano de 2014 15.812 mulheres se submeteram à labioplastia – cirurgia cujo intuito é reduzir o tamanho dos grandes lábios vaginais. A procura por procedimentos semelhantes aumenta a cada ano, por mulheres de diversos países, condições financeiras e faixas etárias.
Durante muitos anos, sob influência da sociedade conservadora e patriarcal, nutriu-se o pensamento de que a mulher deveria ser submissa ao esposo. Enquanto o homem trabalhava para sustentar a família, a mulher deveria permanecer em casa, cuidar dos afazeres domésticos e ser servil.
Devido à pressão social, a principal meta para a realização pessoal das mulheres era obter um casamento estável e duradouro – mesmo que isso restringisse a sua liberdade. A fim de se adequarem às tradições da época, muitas mulheres permaneciam “presas” a relacionamentos abusivos e infelizes. Muitas, ainda, resistiam caladas a agressões verbais e físicas de seus maridos. Em nome do amor, elas eram tolerantes. Além disso, uma separação poderia marginalizá-las socialmente.Anos 70
Campanhas Publicitárias que evidenciavam a submissão da mulher ao esposo e ao casamento
Anos 60
Anos 50
Frente a essa situação, a “tirania das aparências” ganhava espaço. No início do século XXI, a maioria das mulheres movia esforços para serem consideradas atraentes pelos homens e, assim, pudessem encontrar seu “par ideal” e manter um relacionamento sólido. Entretanto, ainda havia certa relutância por parte das mulheres em alterar radicalmente a sua aparência natural. Ainda não se falava em cirurgia íntima. A popularização do silicone, por exemplo, só ocorreu por volta da década de 1990. Antes disso, as mulheres optavam por enchimentos. Além da aparência física, valorizava-se o comportamento recatado, doce e bem humorado.
Na década de 1950, a popularização das tele e fotonovelas favoreceu o enaltecimento de “ícones” femininos da época, que serviam de inspiração às mulheres. Também houve a popularização das revistas voltadas ao público feminino, com publicidades que incentivavam a prática do embelezamento pelas mulheres. Em 1960, a cosmética passou a adquirir caráter científico, e se popularizou, com a expansão de salões de beleza e clínicas. 
As mulheres, então, passaram a reconhecer que poderiam sentir-se bem belas por satisfação pessoal, e não apenas por devoção ao esposo.
Ainda hoje, muitas mulheres buscam atingir a beleza “ideal”, imposta pela mídia, a fim de agradarem aos homens. Com o avanço da Medicina, e a popularização da internet, onde as mulheres podem acessar facilmente informações sobre procedimentos estéticos e ainda debatê-los com outras pessoas, ficou mais fácil se submeter a cirurgias e outros meios para atingir o objetivo esperado.
Dessa maneira, as cirurgias íntimas foram se popularizando aos poucos. Enquanto algumas mulheres se submetem a esse tipo de cirurgia a fim de se sentirem mais seguras quanto ao próprio corpo, outras veem esses procedimentos como uma maneira de se tornarem mais “sexualmente atraentes” aos seus parceiros ou parceiras. 
A estereotipação feminina, aliada ao estabelecimento de padrões estéticos incompatíveis com a realidade disseminada pelos veículos midiáticos, faz com que muitas mulheres sejam estigmatizadas por sua aparência. Algumas vezes, a autoestima feminina está ligada a capacidade de se “enquadrar” nesses padrões. Os “defeitos” de aparência – em geral, características físicas consideradas desagradáveis por uma parcela dos homens – impostos pela mídia, são vistos como pontos a serem “corrigidos” pelas mulheres. Isso gera uma busca insaciável pela perfeição, que não existe; e por esse motivo, algumas mulheres tendem a desenvolver transtornos psíquicos e alimentares devido à frustração de não conseguir corresponder às expectativas impostas socialmente e, assim, terem sua autoestima consolidada. Não é por mera coincidência que somente 1 em cada 10 pessoas com anorexia nervosa é homem, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria. O saber médico também é cada vez mais requisitado a fim de atender os desejos das mulheres de se enquadrarem a esses “padrões de beleza”, ligado à magreza e jovialidade.
As tecnologias plásticas são uma forma de atenuar as imperfeições presentes no corpo feminino. Em geral, “propagandas” de serviços plásticos relacionam a mudança da aparência ao aumento da qualidade de vida e autoestima.
Alargamento do canal vaginal, reparação de excesso ou falta de gordura nos lábios vaginais ou no monte púbico, excesso de pelos, flacidez, assimetrias são os principais motivos que levam as mulheres a buscar cirurgias íntimas. Enquanto 5% das pacientes buscam esses serviços com funções reparadoras, 95% recorrem a ela por razões estéticas. Boa parte dessas mulheres recorrem a isso não por satisfação pessoal, mas para agradar aos seus parceiros. E essa “construção técnica” da feminilidade produz a vagina pós-orgânica.
A concepção de “corpo pós orgânico” emergiu após a possibilidade de alteração das características naturais do corpo por intervenções estéticas cirúrgicas.
Atualmente, há até himenoplastia (cirurgia de reconstrução do hímen) ao imaginário masculino. Por muitos anos, a virgindade foi alvo de pressões culturais e religiosas, um símbolo de honra e pureza. A “recuperação cirúrgica” da virgindade pode ter relação com essa concepção.
O sofrimento feminino geralmente é associado ao predomínio da emoção, que alguns homens relacionam à certa “sensualidade natural” feminina (Rohden, 2002, p. 116-119). Portanto, o universo médico feminino sempre foi pautado no detalhismo e atenção redobrada.
Mesmo que muitos fechem os olhos a essa realidade, a mulher ainda é objetificada em diversas situações. Mesmo após inúmeras batalhas travadas pelas mulheres em busca da igualdade de gênero, ainda assim diversas regras de comportamento são impostas às mulheres – mesmo que de maneira velada.
Ainda hoje, o comportamento das mulheres é constantemente vigiado. E muitas são alvo de críticas devido ao seu número de parceiros sexuais, à sua orientação sexual, a hábitos como beber e fumar, ao estado de seu relacionamento, entre inúmeras escolhas que dizem respeito somente à vida de quem os pratica, e não de quem insiste em fomentar o preconceito através de comentários desnecessários – e muitas vezes covardes – sobre a vida alheia.
É desanimador observar que, mesmo após o crescimento do movimento feminista e diversas maneiras de empoderamento feminino, ainda seja possível encontrar por aí frases como:
“ Existem mulheres para casar, namorar e ‘trepar’”
“Mulher ideal tem que saber lavar, passar e cozinhar”
“A garota não precisa demorar três meses para transar com você [...] mas logo de cara, sem qualquer intimidade, vai fazer você achar que ela age assim com todos os outros”
“Analisar o timbre de voz, entonação e expressão facial são formas de perceber se o que a mulher diz é mentira ou se realmente ‘vem do coração’”
“Não escolha para namorar uma mulher que trabalha pouco ou não trabalha. Essas mulheres realmente têm vida social agitada, difícil de acompanhar”
(Todas as frases acima foram postadas em 2013 em um site voltado ao público masculino, chamado “Área H”, vinculado ao portal Terra de notícias)
Isso demonstra que muitos homens ainda têm em mente a concepção de que a moça ideal deve ser “bela, recatada e do lar” – palavras usadas em 2016 pela revista Veja para se referir à Marcela Temer, esposa do atual presidente do país. Enquanto isso, nenhuma exigência desse tipo é imposta aos homens.
A disseminação de ideias como essas também pode ser considerada uma forma de controlee correção da liberdade feminina.
Dessa maneira, diversas verdades e necessidades “fabricadas” são impostas às mulheres. A visão sobre o corpo e mente feminina é repleto de construções culturais embasadas em concepções arcaicas acerca da feminilidade.
A diversidade parece ser constantemente deixada de lado, assim como a liberdade individual. A mulher tem direito de escolha sobre seu próprio corpo e atos. 
Mesmo assim, tantos tabus ainda assombram as mulheres que têm escolhas que não se limitam ao que lhes é imposto de maneira implícita pela sociedade, como as mulheres que não optam pelo casamento, pelas mulheres que escolhem não ter filhos, ou ter filhos sozinhas, pelas mulheres homossexuais, obesas, negras. Muitas delas são marginalizadas, por não atenderem a necessidades artificialmente impostas.
Questão 2
Medicalização é a criação ou incorporação de um problema “não médico” ao aparato da Medicina.
O conceito de medicalização foi desenvolvido a partir de estudos de investigadores sociais na década de 1970. Tinham, como referências iniciais, correntes marxistas e liberais humanistas.
No âmbito da medicalização, a Medicina pode ser encarada como uma instituição de controle social. O enfrentamento de certas condições “medicalizadas” é, em geral, aliado a questões morais.
A proposta de “cura gay”, que permite que psicólogos ofereçam psicoterapias de reversão sexual, é um exemplo de medicalização. Afinal, algo que não é doença é encarado como patologia – e ainda sobre ela, permite-se a aplicação de um suposto tratamento. É inegável que os apoiadores desse projeto carreguem consigo percepções preconceituosas e arcaicas sobre a homossexualidade.
Dessa maneira, a Medicina passa a ser vista como um meio de oferecer reparos aos “males existenciais”, mantendo o equilíbrio e corrigindo desvios que maculassem a sociedade.
A noção foucaultiana propõe que o exercício do poder implica em conduzir condutas e ordenar as probabilidades do outro. Dessa maneira, a Medicina pode atuar como uma estratégia de poder, que visa, por meio do conhecimento científico, operar sobre a subjetividade dos indivíduos, com poder social.
Questão 3
Como abordado na questão 1, a medicalização sobre o corpo feminino busca atender a perspectivas sociais sobre o que é belo. É uma tentativa de normatizar o corpo feminino.
Há, ainda, a influência da indústria pornográfica, altamente machista, pois objetifica a mulher como mera fonte de prazer aos homens. Um exemplo disso está no trecho “[...] nenhum pelinho pra contar história, coloração rosada, grandes lábios gordinhos e firmes, pequenos lábios discretos e clitóris bem escondidinho”, assemelhando-se à aparência de uma menina pré-púbere”.
Os padrões impostos pela mídia tendem a causar na mulher uma sensação de inadequação sobre seu próprio corpo. Por isso, algumas características passam a ser vistas como algo que necessita de reparos e auxílio médico, mesmo que não sejam condições essencialmente patológicas.
Fontes
SILVA, Marcelle Jacinto; PAIVA, Antonio Cristian Saraiva; COSTA, Irlena Maria Malheiros da Costa. “ A vagina pós-orgânica: intervenções e saberes sobre o corpo feminino acerca do “embelezamento íntimo”, Horizontes Antropológicos [Online], 47, 06-02-2017
CARVALHO, Sérgio; RODRIGUES, Camila; COSTA, Fabrício; ANDRADE, Henrique. “Medicalização: uma crítica pertinente?”, Departamento de Saúde Coletiva – FCM – UNICAMP, 29-06-2915

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