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O CORPO FEMININO E A SOCIEDADE: a objetificação da mulher e as conquistas do movimento feminista brasileiro na luta pelo seu fim1 João Guilherme Bezerra da Silva Oliveira2 Saulo Henrique Dias Oliveira3 RESUMO: O presente trabalho analisa a maneira que as mulheres são objetificadas, de forma a mostrar não apenas a repercussão desse processo dentro da sociedade, como também quais foram os avanços conquistados pelo movimento feminista brasileiro no que diz respeito à desobjetificação do corpo feminino, partindo da relação deste com a sociedade, baseando-se tanto nos fatores que mantêm quanto nos que atenuam esse comportamento sexista no Brasil. Problematiza-se, especialmente, o machismo estrutural e a necessidade de que este seja discutido, revisto e descontruído. Para isso, são apresentadas reflexões sobre a perspectiva social no tangente às mulheres e os diversos aspectos das discrepâncias de tratamento entre a figura feminina e a masculina. Logo, a partir de diferentes referenciais teóricos, pretende-se estabelecer uma sucinta e relevante contribuição para os estudos acerca da objetificação da mulher. Palavras-chave: Objetificação. Mulher. Corpo feminino. Sociedade. Movimento feminista. INTRODUÇÃO Desde o começo da sociedade brasileira, a figura feminina é compreendida a partir de uma perspectiva machista, de acordo com a qual a sua existência é voltada à satisfação das necessidades masculinas, o que faz com que ela seja considerada mero objeto do homem, perdendo a própria autonomia. Entretanto, o movimento feminista vem lutando intensamente pelo fim da objetificação da mulher, e, apesar de esta ainda ser uma problemática muito constante, diversos avanços foram conquistados. Nesse sentido, justifica-se a temática por ser de suma importância entender como as mulheres são impactadas em decorrência do machismo estrutural, na expectativa de que, num futuro próximo, este seja extirpado totalmente do tecido social. Sendo assim, tem-se por objetivo analisar o processo de objetificação da mulher, seus reflexos na sociedade contemporânea e as modificações promovidas pelo feminismo brasileiro. Para tanto, metodologicamente, o trabalho foi desenvolvido com base nas contribuições 1 Ensaio científico apresentado ao projeto facultativo da disciplina Pesquisa Jurídica, ofertada pela Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB), ministrada pelo Professor Doutor José Geraldo de Sousa Junior durante o 1º semestre de 2020. 2 Acadêmico do 1º semestre do curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB). E-mail: oliveira.bezerra@aluno.unb.br. 3 Acadêmico do 1º semestre do curso de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (FD/UnB). E-mail: saulo.oliveira@aluno.unb.br. 2 de diversos autores sobre o assunto em questão, por meio de consulta a livros, artigos e textos disponibilizados na internet. Ademais, explanou-se o conteúdo pesquisado em quatro partes, nas quais didaticamente esclareceu-se: a objetificação da mulher, as repercussões sociais e os fatores históricos dessa objetificação, bem como os avanços conquistados pelo movimento feminista. 1. A OBJETIFICAÇÃO DA MULHER Dentro da estrutura social, a figura masculina sempre foi dotada de privilégios, de modo que se impôs a ideologia segundo a qual a mulher é um ser inferior que deve subserviência ao homem. Por conseguinte, de acordo com Oliveira et al (2020, p. 6), “fica evidente uma dicotomia machista: a mulher como objeto (passivo) e o homem como sujeito (aquele que age sobre o objeto)”. Sob esse viés, Bourdieu afirma que: A dominação masculina, que constitui as mulheres como objectos simbólicos, cujo ser (esse) é um ser percebido (percipi) tem por efeito colocá-las em permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de dependência simbólica: elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos outros, ou seja, enquanto objectos receptivos, atraentes, disponíveis. Delas se espera que sejam "femininas", isto é, sorridentes, simpáticas, atenciosas, submissas, discretas, contidas ou até mesmo apagadas (BOURDIEU, 2002, p. 41). É, portanto, devido a esse estereótipo machista e desumano que o termo “objetificação” passou a ser relacionado à situação ocorrida com a mulher, tendo em vista que objetificar, segundo Belmiro et al (2015), é rebaixar um indivíduo à posição de objeto e tratá-lo como tal, não se importando com seu lado emocional ou psicológico. Isso, como se pode ver, é justamente o que ocorre com a figura feminina quando seu corpo é julgado como um simples instrumento de prazer sexual para o homem. Acerca disso, um grande problema é que essa perspectiva machista pela qual a mulher é vista, de tão enraizada na sociedade, advém não só de homens, como também das próprias mulheres. Isso porque elas se acostumaram a ter seu corpo visto como objeto e passaram a se preocupar com a própria imagem não para agradar a si próprias, e sim aos olhos que as observam. Essa questão é denominada auto-objetificação. A auto-objetificação consiste na internalização do olhar externo sobre o próprio corpo, ocorrendo a partir das experiências de objetificação sexual do indivíduo na sociedade. Ela leva à preocupação excessiva com a aparência em detrimento dos estados corporais e das competências físicas, sendo manifesta por uma autovigilância corporal constante que pode levar a diversas consequências que impactam a saúde e o bem- estar do indivíduo (LOUREIRO, 2015, p. 8). Desse modo, tem-se como consequência a estigmatização da figura feminina e a 3 obrigatoriedade de que seu corpo atenda a padrões estéticos e comportamentais que não condizem com a realidade, haja vista ter se estabelecido a ideia de que ela deve ser atrativa ao homem. Logo, percebe-se que isso nada mais é do que o reflexo do machismo naturalizado em nossa sociedade de tal forma que a mulher passou a ser vista como uma propriedade masculina (OLIVEIRA et al, 2020). 2. AS REPERCUSSÕES DA OBJETIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO NA SOCIEDADE A objetificação do corpo feminino é repercutida e ratificada de maneira bastante intensa dentro do tecido social, sobretudo a partir de atitudes machistas por parte da mídia e dos indivíduos, inclusive mulheres, que continuam a fomentar essa cultura de dominação masculina mesmo com todo o espaço e relevância já conquistados pela figura feminina. 2.1. A representação feminina na mídia A criação da prensa móvel por Gutenberg mudou a maneira como a informação era transmitida na Europa. Não é exagero dizer que essa invenção foi a precursora da criação da imprensa e, consequentemente, da mídia, que serve como uma espécie de conexão entre o ser humano e o mundo, na medida em que traz conhecimento às pessoas sobre assuntos importantes. Entretanto, trazer à tona informações importantes não é o único trabalho da mídia. Acima de tudo, ela cria uma visão de mundo, isto é, uma forma de ver a realidade. Nesse caso, ela pode fazer isso mediante a introdução de novos valores sociais ou pela perpetuação dos antigos. E como sempre é mais fácil trabalhar com aquilo que já existe ao invés de procurar inovação, a mídia trabalha, muitas vezes, com conceitos antiquados e que se mostram prejudiciais a determinados segmentos sociais. A partir desse momento, passamos a discutir sobre como a representatividade feminina na mídia pode se mostrar prejudicial às mulheres, por reforçar certos estereótipos e fazer com que aquelas que não se encaixem no padrão, sintam-se mal consigo mesmas. 2.1.1. Publicidade e propaganda De acordo com Braga (2009), o corpo humano é resultado das relações sociais e apropriações culturais. Logo, cada cultura pensa e sente o corpo de uma maneira diferente, e, 4 na era contemporânea, na qual a imagem se tornou uma das principais ferramentas para a transmissãode mensagens, analisar a maneira como a representação corpórea é feita tem uma importância fundamental para entender como a sociedade ocidental vê os sujeitos sociais, especialmente o feminino. Nesse quesito, podemos começar com a afirmativa de que a maioria das mulheres acredita que a representação feminina nas propagandas não é realista. Isso foi constatado por uma série de pesquisas intituladas como “O Perfil de Consumo das Mulheres Brasileiras”, realizadas pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). 58% das entrevistadas acreditam que as propagandas não retratam a realidade, tendo como justificativas as diferenças físicas (59,6%), a representação das mulheres como felizes em famílias perfeitas (29,5%), além de se sentirem incomodadas com a representação delas como objetos sexuais (32,1%). Além disso, quando perguntadas quais são os segmentos que precisam adequar a sua propaganda, elas responderam que os setores de moda, beleza e cerveja são os que estão mais distantes da realidade. Com base nisso, tomemos como ponto de partida a análise da imagem que essas áreas passam sobre o que é ser mulher. As marcas de cerveja utilizam com bastante frequência a imagem da mulher como um símbolo sexual para alavancar suas vendas, se aproveitando do fato de que seu público consumidor é composto majoritariamente por homens. Um dos exemplos mais notórios dos últimos anos foi a propaganda “O verão chegou”, da marca de cerveja Itaipava, que tinha como garota propaganda a modelo Aline Riscado, que interpretava a personagem Vera Verão. Na época do anúncio, várias reclamações foram feitas ao CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) afirmando que a propaganda abusava da imagem do corpo feminino e que fazia uma hipersexualização da personagem. Figura 1: Peça publicitária da Itaipava Fonte: Google Imagens 5 Como se pode observar nessa imagem, a objetificação que ela sofre é clara, uma vez que é feita uma comparação com a lata e a garrafa de cerveja com o seio da modelo, com um teor extremamente apelativo e que a reduz a um mero objeto de consumo. Essa ênfase nas partes femininas caracteriza o que Lessa (2005) chama de “bundalização da mídia”, que consiste na banalização de partes do corpo feminino, como a bunda, ou no caso da propaganda em questão, os seios. “As marcas de cerveja brasileiras, em alguns casos, se apropriam do corpo feminino para vender seus produtos. Despida, desprovida de inteligência e/ou falas, a mulher torna-se apenas um simples objeto cenográfico. Isto é visível por meio dos arquivos da CONAR, disponíveis no site do Conselho, que mostram um grande número de casos em que marcas de cerveja tiveram seus anúncios suspensos ou alterados após denúncia envolvendo, em sua maioria, machismo e sexualização desnecessária do corpo feminino” (BELMIRO et al, 2015, p. 8). Contudo, não apenas de banalização vive a exploração do corpo feminino. Lessa afirma que a bundalização consiste também na quebra do corpo em partes, como se fossem objetos que necessitam de reparo. Sua análise pode ser justificada por Traversa (1997), que “aponta para a considerável emergência, nos anos 20, de produtos anunciados como remédios – cremes, sabões e pós – para os males da superfície do corpo, exposta ao olhar do outro, e, mais que isso, para a porção máxima de exibição do corpo: o rosto” (BRAGA, 2009, p.5). Os escritos das autoras em questão demonstram mais uma maneira de tratar o corpo como um objeto, posto que existe um ramo da publicidade que incentiva as mulheres a procurarem maneiras de “melhorar” o próprio corpo, ao invés de aceitá-lo e se sentirem bem consigo mesmas. Tal modelo de propaganda é utilizado principalmente pelas indústrias da moda, de beleza e de cosméticos, visto que o seu “ganha-pão” é garantido pelo desejo das mulheres de se sentirem bonitas, o que elas só alcançarão se consumirem seus produtos. Pelo menos é nisso que elas querem que as consumidoras acreditem. 2.2. A ditadura da beleza No que diz respeito à imposição de uma ditadura da beleza, pode-se analisar a situação a partir da perspectiva de Bordieu (2002), segundo o qual o corpo feminino é um “corpo-para- o-outro”. Sob essa ótica, se a maioria das mulheres não se sentem representadas pelas garotas propagandas dos produtos de beleza, por qual razão elas ainda fazem tanto sucesso? A resposta para essa pergunta é bem simples, apesar de ser bem desanimadora: porque ser bonita torna mais fácil a aceitação na sociedade. Uma mulher bonita tem mais visibilidade social, é tratada de uma maneira melhor e possui mais facilidade para arranjar um parceiro. Em uma sociedade 6 patriarcal, em que os homens geralmente são o centro das atenções e possuem diversos privilégios sociais, o sonho de toda mulher é ser tratada desse modo, o que é mais fácil se ela possuir beleza. O desejo de ser bonita, porém, se revela extremamente prejudicial para as mulheres, que, por sua vez, sofrem tentando chegar ao padrão. Por conseguinte, adquirem problemas como a vigorexia, que é o fisiculturismo excessivo com o objetivo de alcançar um corpo escultural, além de patologias como a anorexia e a bulimia, que tendem a afetar mulheres que desejam ser magras assim como modelos publicitárias. Tais doenças expressam o que Braga (2009) chama de coerção social sobre o corpo feminino, resultante das idealizações difundidas pela mídia. Ademais, o desenvolvimento de novas tecnologias permitiu a criação do que Caron (2006?) chama de ciborgues, pessoas que tentam alterar seu corpo de uma maneira artificial, com a inserção de próteses e cirurgias plásticas, sendo a última a mais comum. De acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil é vice- campeão em cirurgias plásticas, atrás apenas dos Estados Unidos, todavia lidera em intervenções em jovens de 13 a 18 anos. Além disso, as mulheres são a maioria nos procedimentos estéticos, sendo responsáveis por 87,4% de todos esses procedimentos cirúrgicos. Isso demonstra como o ideal de buscar a aparência e o corpo perfeitos é ensinado desde a infância, com adolescentes preocupadas em se encaixarem no padrão de beleza, mesmo numa época em que o seu corpo ainda está em desenvolvimento. Entretanto, essa doutrinação não é de agora. Conforme Mead (1978), meninas e meninos são criados de maneira diferente em cada cultura, e isso gera uma diferença nos seus corpos. “ Como um exemplo, podemos pensar nos brinquedos que damos para nossas crianças: para os meninos, bola, que demanda atividade física intensa, deve ser praticada na rua, em amplas redes de socialização, ‘coisa de homem’; para as meninas, boneca, que demanda atividade física mínima, deve ser praticada dentro de casa, em redes de socialização doméstica, aprendendo a cuidar de casa e tratar de crianças, ‘coisas de mulher’” (BRAGA, 2009, p.3). Portanto, percebe- se que desde a infância ocorre uma segregação na educação e na vivência corporal das crianças de ambos os sexos. Tais práticas culturais, que glorificam o corpo masculino e menosprezam o feminino, acabam por justificar a objetificação das mulheres e a sua submissão aos desejos dos homens. Contudo, o avanço do movimento feminista mudou muito o cenário social no último século, pois agora a discussão sobre igualdade de gênero está sendo tratada com mais seriedade e novas políticas surgem para a inclusão feminina na sociedade. No entanto, a estrutura patriarcal da 7 sociedade ainda impõe diversos obstáculos a serem superados para que a liberdade feminina seja plenamente alcançada, e um desses obstáculos é a cultura do estupro. 2.3. A cultura do estuproO estupro da mulher, embora seja realizado por meio do sexo ou qualquer outro ato libidinoso contra ela sem sua permissão, nada tem a ver com a necessidade desenfreada de suprir uma lascívia masculina. Na realidade, ele configura como uma forma do homem se impor sobre a mulher através da violência, “de modo que esta se afigura como ‘[...] um mecanismo necessário a perpetuação do poder masculino sobre as mulheres (SANTOS, 2008, p. 46). Pode- se dizer, dessa maneira, que o estupro é um “ato ou ‘comportamento sexual a serviço de necessidades não sexuais’, quais sejam ‘agressão, controle e domínio’” (SOMMACAL; TAGLIARI, 2017, p. 249). Nesse sentido, ainda que o estupro seja um dos crimes com maior pena no Código Penal – podendo acarretar em até 30 anos de prisão –, ele continuará a ser cometido enquanto não houver uma mudança na mentalidade dos homens, para que aprendam a respeitar as mulheres, e na cultura, para que essa ideologia misógina deixe de ser reproduzida, de modo que se cesse o machismo estrutural. Este, por sua vez, pode ser exemplificado pela propaganda da Preservation Prudence – uma marca de preservativos – intitulada de “Feliz dia do ‘Relaxa, vou por só a cabecinha’”, que naturaliza a famosa mentira contada por homens para consumar a relação sexual quando suas parceiras estão resistindo a eles. Todavia, o aspecto mais preocupante, na situação supracitada, se concentra na defesa da empresa, tendo em vista que esta alega que “é frase comumente usada na rua, que alguém poderia, no máximo, considerar de mau gosto” (ARQUIVOS, CONAR). Logo, fica claro que, apesar da óbvia misoginia propagada no anúncio, o que a marca fez é apenas a reprodução de um pensamento que já é comum na população, podendo ser descrito como a supremacia da vontade masculina sobre a feminina: característica principal da cultura do estupro. Além do mais, outra questão referente ao estupro na cultura é a identidade do estuprador, dado que o senso comum o vê como um “ser anormal, desconhecido ou doente, cuja lascívia não pode controlar” (ANDRADE, 2005, p. 97 apud SOMMACAL; TAGLIARI, 2017, p. 251). Entretanto, segundo a Revista Fórum, cerca de 70% dos casos de estupros contra as mulheres são feitos por pessoas presentes em seu ciclo de vida, como pais, namorados, vizinhos e amigos da família. Isso demonstra a herança machista do século XX, época em que a mulher era 8 considerada incapaz pela legislação, e isso a tornava uma posse do marido ou da família, dando ao patriarca uma espécie de passe livre para fazer o que quisesse com a esposa ou com a filha. A despeito disso, é interessante notar que, mesmo que o crime seja cometido por um desconhecido, existe uma tendência quase que universal entre os homens de atribuir culpa à vítima. Perguntas como “estava andando com quem?” , “havia bebido?”, “estava usando qual tipo de roupa?” são comumente ouvidas por mulheres estupradas, pois como se já não bastasse terem que lidar com a humilhação e com o trauma decorrentes da experiência, elas ainda precisam justificar perante o tribunal da opinião pública que não mereciam ser estupradas, como nas palavras do então deputado Jair Bolsonaro à deputada Maria do Rosário em 2014. Esses questionamentos, longe de representarem uma preocupação com a vítima, são na realidade uma máscara para disfarçar a tentativa de reprimir a sexualidade feminina por parte do patriarcado, que quer controlar as roupas, companhias e atitudes da mulher. Nesses momentos, é perceptível que, ainda que seja um crime repudiado pela sociedade, o estupro faz parte de uma complexa teia de domínio social que tem a função final de subjugar as cidadãs. 2.3.1. A naturalização da cultura do estupro e a indústria pornográfica Há inúmeras ferramentas à disposição da sociedade controlada por homens para reprimir as mulheres. A propaganda da Preservation Prudence expôs como a violência sexual contra a mulher está naturalizada na sociedade e que pode, inclusive, ser reproduzida na mídia, e essa agressão contra a figura feminina é a marca registrada de uma das maiores indústrias de entretenimento existentes: a pornografia. Como bem ilustrado por Bernhardt, Studer e Ribeiro (2019), a pornografia é tida como um tipo de “entretenimento”, o que dificulta a explicação do porquê de isso ser um tipo de violência, não apenas para a mulher envolvida, mas para as mulheres de uma maneira geral. Para começar, precisa-se estabelecer uma afirmativa: as cenas de sexo em filmes pornôs não passam da glamourização do estupro. Isso é facilmente constatado pelos depoimentos de diversas atrizes pornôs, que afirmam que sofreram com atos violentos e que foram obrigadas a gravar cenas contra sua vontade durante as filmagens, tudo para realizar a vontade do diretor. Além disso, elas sofrem um constrangimento social devido à mercantilização de sua imagem, posto que não possuem direitos autorais sobre as gravações, como revelou a ex-atriz pornô Mia Khalifa em uma entrevista à BBC, em que afirma que imagens suas estão disponíveis no Google e ela não pode fazer nada para tirá-las de lá. 9 Posto isso, percebe-se que a indústria pornográfica tira a autonomia da mulher sobre o seu corpo e a transforma numa mercadoria a ser consumida pelo público masculino. Ademais, pode-se até mesmo dizer que a pornografia é praticamente voltada apenas a satisfazer a lascívia dos homens. Isso é comprovado pelo fato de o homem sempre aparecer como sendo o ativo da relação, realizando seus fetiches sobre a mulher, como se ela fosse um objeto inanimado, sem sentimentos ou vontade. Esse machismo no sexo pode ser encontrado na mentalidade popular, inclusive, expressões como “comi” e “peguei” são comumente utilizadas por homens quando querem dizer que tiveram relações sexuais com uma mulher, o que novamente as reduz a objetos a serem consumidos. Porém, devemos deixar claro que não estamos criticando as relações sexuais em si, mas sim alguns aspectos machistas que estão implicados nessas práticas e que são prejudiciais às mulheres. Outrossim, é importante ressaltar que o estigma social por atuar em filmes adultos pesa muita mais sobre as mulheres do que sobre os homens. Isso pode ser comprovado por meio da comparação entre um ator e uma atriz que já não trabalham mais nesses meio: Mia Khalifa trabalhou por apenas três meses na indústria, e foi tempo o suficiente para receber ameaças de morte do ISIS, por usar uma hijab – vestimentas comuns aos muçulmanos – nas cenas de sexo, e também para que seu passado a impedisse de conseguir um emprego em outra área, como afirma em entrevista à BBC. Por outro lado, Alexandre Frota atuou como ator pornô por quatro anos na produtora de filmes Brasileirinhas, e não teve sua integridade física ameaçada por conta disso, e seu passado, definitivamente, não o impediu de ser eleito como Deputado Federal pelo Estado de São Paulo em 2018. Pode-se perceber, então, que a mesma sociedade que mercantiliza o corpo das mulheres, condena hipocritamente sua atividade, relegando-as a um ostracismo social. Além disso, faz-se necessário analisar a maneira como essa estrutura que leva as mulheres a se venderem desse jeito é perpetuada. Como analisado pela socióloga feminista brasileira Heleieth Safiotti, o patriarcado se encontra presente não apenas na dimensão social, mas também na econômica. Nesse sentido, a autora argumenta que a principal razão que leva as mulheres a trabalharem na pornografia é a opressão econômica resultante do machismo aplicado à lógica do capital, uma simbiose que ela chama de “capitalismo-patriarcado”. Assim, demonstra seu argumento a partir de uma comparação entre as médias salariais feminina e masculina, durante o período de industrialização e urbanização dos anos 70, na qual a conclusão é que, de 1970 a 1976, houve uma queda de treze pontos percentuais do que as mulheres ganhavam em relaçãoaos homens. Isso, segundo a socióloga, ocorre devido à lógica patriarcal aplicada à regência do capital (SAFIOTTI, 1985). 10 “A simbiose patriarcado-capitalismo flexibiliza a maximização de lucro, que seria possível pela incorporação massiva de força de trabalho feminina por menores salários, para priorizar a alocação delas nos aparelhos de reprodução, a fim de salvaguardar em primeiro lugar a reprodução da família trabalhadora, explorando em grau mais intenso a força de trabalho feminina ‘quando dela necessita e nas proporções em que dela precisa’” (SAFIOTTI, 1985, p. 139). Nesse caso, percebe-se que a mulher é duplamente explorada: no trabalho, por receber menos que os homens, e no lar, por ter como obrigação, além dos afazeres domésticos, a função de reprodutora e cuidadora dos filhos. Essa condição é um dos incentivadores para a entrada da mulher na indústria pornográfica, que, em junção de outros fatores importantes, acaba se tornando realidade. Um exemplo são as promessas feitas por traficantes internacionais de pessoas, que se aproveitam de mulheres em países periféricos e semiperiféricos, prometendo realizar seus sonhos, quando, na realidade, estão conduzindo-as a um abatedouro sexual. A ex- atriz pornô Mia Khalifa declarou que quando foi convidada a fazer os vídeos, o recrutador lhe afirmou que era um trabalho de modelo, e quando ela percebeu que aquelas pessoas tiravam proveito dela, já era tarde demais. E, considerando que Khalifa já confirmou que sua inspiração para dar a entrevista foram os relatos de outras garotas, pode-se inferir que existem muitos casos iguais ou até mesmo mais graves que o dela. 3. FATORES HISTÓRICOS QUE INTERFERIRAM NA CULTURA DE OBJETIFICAÇÃO DO CORPO FEMININO Tal cenário machista e opressor com o qual as mulheres ainda são obrigadas a lidar consiste numa herança direta do modelo de sociedade instituído em nossa nação desde o início. Em razão disso, para pleno entendimento acerca da objetificação da mulher hodiernamente, é preciso analisar alguns fatores históricos, dentro do contexto nacional, que serviram de propulsores para a construção desses paradigmas que rondam o imaginário coletivo. Sob primeiro enfoque, é imprescindível que se rompa a ideia de que o machismo foi instaurado no Brasil a partir da colonização. Isso porque, conforme Baseggio e Silva (2015), na forma de estrutura social dos indígenas – termo pelo qual ficaram conhecidos os povos que habitavam em nosso país antes da chegada dos europeus – as mulheres já eram tidas como inferiores, de forma que deviam submissão ao homens, embora fossem elas as principais responsáveis pela subsistência do povo, dedicando-se ao trabalho doméstico e do campo, enquanto eles se dedicavam às artes. Contudo, apesar de não ser correto atribuir aos colonizadores toda a responsabilidade pelo estabelecimento dessa dominação masculina, foi a partir do processo de colonização – 11 iniciado no século XV – que a ideologia da mulher como posse do homem se tornou mais forte, visto que, em decorrência da imposição dos costumes e hábitos europeus, estabeleceu-se, de vez, um ideal conservador e essencialmente patriarcal que remodelava o papel das mulheres na sociedade brasileira. Nessa estrutura patriarcal, os homens eram chefes de família e detinham a posse das mulheres assim como dos filhos, escravos e servos. À época, a função delas, fossem escravas ou sinhás, era exclusivamente doméstica e reprodutiva. O sociólogo Gilberto Freyre as expõe como “(...) mulheres que, ainda meninas, se casavam; que muito cedo tornavam-se mães, que ainda novas começavam a envelhecer. E cuja única atividade, fora a procriação, a devoção e a administração das mucamas, era fazer renda e fazer doce” (FREYRE, 2006, p. 602 apud BELMIRO et al, 2015, p. 3). A esse respeito, em seus escritos, o botânico e viajante francês Saint-Hilaire afirma que a posição das mulheres na escala social, no Brasil Colônia, era tão inferior que se equiparava à de um cão (OLIVEIRA, 2017). Entretanto, vale ressaltar que, segundo Pantoja et al (2019), a condição piorava ainda mais quando se tratava das mulheres negras escravizadas, já que, somadas às infindas funcionalidades que estas eram obrigadas a exercer, estava a satisfação sexual de seus senhores, tornando-se amantes ou sendo violentadas sexualmente, o que era justificado por teorias “científicas” absurdas: [...] teorias pretensamente científicas reforçaram o preconceito: o tamanho e a forma do crânio dos negros, o peso de seu cérebro etc. "demonstravam" que se estava diante de uma raça de baixa inteligência e emocionalmente instável, destinada biologicamente à sujeição (FAUSTO, 1996, p. 30 apud PANTOJA et al, 2019, p. 5). Nessa perspectiva, as mulheres negras, em especial, foram vítimas de diversos abusos, tanto laborais quanto sexuais. Nota-se que isso também reflete na sociedade contemporânea, uma vez que, segundo um estudo da Rede de Observatórios da Segurança, quando analisados os perfis das mulheres vítimas de abusos sexuais, a maioria ainda é negra. Sendo assim, as negras não apenas são estigmatizadas pelo gênero sexual, como também pela raça. Todavia, embora o tratamento das mulheres ditas livres fosse menos ruim que o das escravas, a sua situação também não era nada fácil. Elas eram tidas como objeto na visão da sociedade: um objeto pertencente ao pai, ou depois do casamento, ao marido, dependendo daquele ou deste para expressar opiniões ou até mesmo para se deslocar a um local que não fosse sua casa (SEGATO, 2019). Além do mais, na tentativa de fortalecer essa supremacia e dominação masculina, de acordo com Oliveira (2017, p. 3), “o homem tendia a transformar a mulher num ser diferente dele, criando jargões do tipo sexo forte e sexo frágil”. 12 Somado a isso, eram incutidos, na mente das mulheres, diversos tabus por parte da Igreja e do Estado. O casamento, que antes do colonialismo não era algo comum, ao menos não nos moldes europeus, de acordo com Alves (2016), passa a ser algo super valorizado, juntamente com a virgindade, que deveria ser mantida até o casamento. No entanto, essa regra não se aplicava aos homens, os quais, desde cedo, iniciavam a vida sexual quase sempre com as escravas, sendo de maneira consentida ou não. Outrossim, no tangente às vestimentas, estas deviam ser totalmente compostas, longas, sem nada descoberto, para transmitir a decência das mulheres. Prova disso é que, segundo Alves (2016), sequer os dedos dos pés podiam ser mostrados por serem considerados muito eróticos. Sob essa ótica, é válido mencionar que essa ideia de decência no vestuário da mulher se manteve tão presente na sociedade que ainda hoje roupas femininas ainda são rotuladas como decentes ou indecentes. Dessa forma, vê-se que o comportamento feminino era totalmente voltado aos homens, tanto é que até mesmo o ato de sorrir da mulher, a depender do modo, era condenável, já que não se podia sorrir demais para não mostrar os dentes bonitos ou sorrir de menos e esconder os dentes ruins, tornando-se atrativa a outros homens que não fossem o seu marido ou o que estava predestinada a se casar (ALVES, 2016). Saffioti (1979) explica que, naquele modelo de estrutura social, o destino da figura feminina era o matrimônio. Porém, ainda que único, havia um meio de se livrar do domínio do pai ou do marido: a reclusão em um convento. Isso ainda lhe garantiria acesso à educação, visto que não era permitido às mulheres comuns da sociedade nem estudar, nem trabalhar, dado que, de acordo com Oliveira (2017), só precisavam ser capazes de exercer as funções domésticas e escrever o próprio nome. As mulheres, no entanto, tanto brancas quanto negras, não estavam satisfeitas com a maneira pela qual eram vistas na sociedade. Assim, pouco a pouco, passaram a se impor e buscar espaço, a fim de romper essa conjuntura dedesigualdades e negação de direitos. Dessa maneira, vários dos paradigmas que colocavam a figura feminina num papel de fragilidade e obediência ao homem já foram cessados. Todavia, ainda permanecem arraigados na cultura brasileira resquícios do passado, de modo que, embora menos do que já foi, o corpo feminino ainda é visto como objeto. 4. O MOVIMENTO FEMINISTA Primordialmente, convém salientar que o maior responsável pela busca de emancipação 13 das mulheres no que diz respeito à objetificação de seus corpos, junto a outras questões, é o movimento feminista. Isso uma vez que, por meio de conflitos que se estendem até hodiernamente, o feminismo possibilitou às mulheres a saída da domesticidade e a conquista de espaço e relevância no mundo social. Frente a esse soerguimento feminino, de modo vagaroso – considerando a estrutura patriarcal que marca a idiossincrasia social – porém constante, verifica-se avanços na proteção e protagonismo da figura feminina, com especial atenção a consolidação de um padrão de igualdade de direitos entre os gêneros, apto a consubstanciar os princípios que orientam o Estado Democrático de Direito (SEGATO, 2019, p. 12). Conforme Oliveira e Cassab (2014), o feminismo consiste num movimento social que busca discutir e lutar por direitos para as mulheres, propondo o fim da desigualdade de gênero. A propósito, é válido frisar que o movimento feminista busca a igualdade de gênero, de forma a empoderar mulheres, que por muito tempo foram – e ainda são – reprimidas e objetificadas pelo machismo estrutural. Entretanto, permeia no senso comum a ideia de que o feminismo quer a superioridade feminina, associando-o a algo similar ao machismo, porém de maneira invertida. Isso é completamente errôneo e não só dificulta a difusão dos ideais feministas, como também a concretização do objetivo do movimento, que é dar autonomia à mulher assim como o homem possui, tendo ambos os mesmos direitos, tratamentos e oportunidades. Ademais, sob uma perspectiva histórica, o movimento feminista eclodiu a partir do contexto das ideias iluministas – 1680 a 1780 – , com a Revolução Francesa – 1789 a 1799 – e Americana – 1775 a 1781 –, a partir de reinvindicações ligadas aos direitos políticos, à liberdade de escolha das mulheres e ao direito a desfrutar da vida pública, em face das modificações na estrutura social da época, por meio de grandes mobilizações por parte de mulheres de vários países. O período em questão é denominado como a primeira onda do feminismo, que se estende até a primeira metade do século XX, e traz como principal característica o movimento sufragista, o qual era formado por mulheres que demandavam a participação feminina nas eleições (LENZI, 2018; OLIVEIRA; CASSAB, 2014). Nesse sentido, vale frisar que, apesar de o movimento sufragista ser a marca da primeira onda do feminismo, de acordo com Lenzi (2018), nesse intervalo de tempo, houve outras movimentações e lutas sociais coordenadas por mulheres que foram importantes para o reconhecimento destas como sujeitas de direitos, ainda que não de modo imediato. Isso tendo em vista que o ocorrido era apenas o início da busca pela emancipação feminina, e, assim, a maior parte das reinvindicações feitas somente foram atendidas em momento posterior, em decorrência de contínua pressão por parte do movimento feminista. 14 Todavia, o feminismo possuía, nesse primeiro momento, uma articulação bem comportada, com um caráter mais conservador. Sendo assim, em busca de manter a harmonia, as questões eram tratadas de maneira mais vaga, tanto é que, conforme Oliveira e Cassab (2014), os direitos igualitários de gênero e, por óbvio, a dominação masculina ainda não eram muito questionados. Percebe-se, pois, que a posição social da figura feminina era tão baixa que exigir igualdade, de imediato, era utopismo. A segunda onda feminista, por sua vez, compreende o período dos anos 60 aos anos 90 e ressurge depois de um considerável período sem grandes mobilizações. Esta, consoante a Alves et al (2013), parte para um viés mais radical, demandando com grande intensidade questões de igualdade social e direitos, que antes eram, de certa forma, postergadas. Logo, há uma ampla abordagem sobre temas como dominação masculina, liberdade sexual, desobjetificação feminina, maternidade, direitos reprodutivos e divórcio, a fim de libertar o corpo das mulheres dos paradigmas que o rondavam. Isso, segundo Lenzi (2018), faz com que negras e lésbicas se unam à luta do feminismo, haja vista a discriminação ser sofrida pelo gênero como um todo, e, consequentemente, inicia-se, no movimento, um senso de coletividade, o que lhe trouxe mais força e aumentou suas demandas. Já a terceira onda do feminismo começou nos anos 90 e vigora até a atualidade. No entanto, é preciso mencionar que há divergências quanto a isso, posto que parte da academia afirma ter sido iniciada uma quarta onda do feminismo há alguns anos, sendo que esta seria marcada pela relação do movimento com as redes sociais, pelo fato de elas terem passado a ser o principal meio propagação dos ideais feministas. Porém, limitar-nos-emos à terceira fase, haja vista ser algo realmente concreto. Assim sendo, Lenzi (2018) aponta que tal período traz como principal aspecto a interseccionalidade, a qual diz respeito ao reconhecimento e combate aos diversos tipos de opressão sofrida pela figura feminina, que além do gênero, pode acontecer por raça, classe, comportamento, orientação sexual e outros fatores. Houve, portanto, maior visibilidade para questões discriminatórias, e, consequentemente, para a luta do movimento feminista, haja vista ter se entendido que o machismo estrutural, por ter sido construído socialmente, pode ser discutido, revisto e desconstruído. 4.1. O movimento feminista no Brasil No contexto brasileiro, o início do movimento feminista data o século XIX – época em que acontecem as primeiras movimentações e ações feministas no Brasil. Isso pois as mulheres 15 de nossa nação começaram a se despertar para o fato de que a sua função na sociedade não deveria ficar limitada tão somente à satisfação de seus maridos, aos afazeres doméstico e aos demais cuidados com a família (LENZI, 2018). Sob esse prisma, Lenzi (2018) ainda aponta que, a partir da década de 30, o feminismo brasileiro passou a ganhar força, aumentando a veemência da luta pela igualdade das mulheres. Fato é que conseguiram alcançar diversos objetivos, tal como o direito ao voto no governo do presidente Getúlio Vargas. Porém, o movimento feminista começou a ganhar a forma que tem atualmente a partir da década de 60. Desde então, coleciona diversas conquistas, sobretudo no que diz respeito à desobjetificação feminina, que convém ser analisada a partir da apresentação acerca de como era a situação da mulher e os avanços ocorridos após a luta do movimento feminista. Ademais, no tangente aos seus impactos, Garcia afirma: O movimento feminista brasileiro, mesmo sendo pequeno em termos de visibilidade social, contribuiu de maneira fundamental para a reversão das desigualdades de gênero no país e, apesar de a conexão não ser tão estreita, existe uma relação entre a história das lutas das mulheres e os processos de mudanças econômicas e sociais que ocorreram no Brasil. As conquistas foram parciais e progressivas. Pequenas vitórias foram se avolumando no tempo, mas as dificuldades não impediram seu desenvolvimento, mesmo que não linear (GARCIA, 2015, p. 3). 4.1.1. A situação da mulher brasileira antes dos avanços feministas A luta das mulheres para superarem o status de objeto e serem consideradas como iguais aos homens tem sido o principal objetivo de movimento feminista, uma vez que elas sempre foram vistas como inferiores, portanto não dignas de terem os mesmos direitos que suas contrapartes do sexo oposto. Issocaracteriza o que Pateman (1993) chama de subcidadania feminina, a ideologia responsável por colocar as mulheres como cidadãos de segunda classe e os homens como seus superiores, responsáveis por elas. A tutoria do homem sobre a mulher era um elemento essencial da sociedade, uma vez que ela constava nas leis, como é o caso das Ordenações Filipinas, que vigoraram no Brasil durante os períodos da Colônia, do Império e da Velha República e, até mesmo, no Código Civil de 1916, que durou até 2002. Entendia-se que a mulher necessitava de permanente tutela do marido, posto que detinham uma fraqueza de entendimento (PENA, 2008). O Código Civil de 1916 mantinha esse pensamento, já que imputava à mulher a condição de relativamente incapaz, que a tornava dependente do pai, do marido ou dos filhos, apesar de que ela poderia ser considerada plenamente capaz desde que fosse solteira, maior de 21 anos ou viúva (PENA, 2008). Entretanto, o diploma legal ainda limitava a autonomia feminina, pois colocava todo o poder do relacionamento na mãos do homem, que decidia onde 16 eles iriam morar, se a esposa podia trabalhar fora de casa, se ela poderia receber herança, como seria a educação dos filhos, além de ser obrigatório que a cônjuge adotasse o sobrenome de sua contraparte masculina, uma demonstração clara do poder patriarcal. Ainda nesse sentido, é preciso enfatizar que pelo fato da sexualidade feminina ser considerada como tabu em várias sociedades, incluindo a nossa, o Código Civil de 1916 tratava esse assunto de maneira extremamente retrógada, por meio da utilização de termos como “mulher honesta” para se referir àquelas que se mantinham virgens até o casamento. Dessa forma, ele dava garantias de que o pai poderia deserdar uma filha desonesta e que o marido poderia anular o casamento se sua esposa já tivesse sido deflorada, devolvendo ela a família (PENA, 2008). Ademais, antes, a parte geral do Código Penal de 1940 colocava os crimes sexuais, como o estupro, na categoria de crimes contra os costumes, sem levar em consideração a dignidade da vítima e o seu psicológico. Inclusive, o criminoso poderia ser perdoado pelo seu delito desde que se casasse com a mulher que ele abusou ou se ela contraísse matrimônio com um terceiro, o que demonstra que a real preocupação era proteger a moral decorrente da virgindade feminina e a honra da família, e não a mulher (MARCÃO, 2006). Portanto, as mulheres eram reprimidas da pior maneira possível pela sociedade, e essa opressão era amparada pelos dispositivos legais da época. Não é exagero afirmar que a mulher estava no mesmo patamar de direitos que um objeto, dado que ela era passada do controle do pai para o do marido. Dessa maneira, mesmo com esse passado marcado por opressão, a luta pelos direitos da mulher, liderada pelo movimento feminista, trouxe várias conquistas no âmbito legal que permitiram que a mulher usufruísse de uma autonomia inédita em períodos anteriores da nossa história. 4.1.2. As conquistas do movimento feminista no tocante à desobjetificação da mulher no âmbito brasileiro Conforme Lyra Filho (1982), idealizador dos fundamentos de O Direito Achado na Rua, os direitos constroem-se progressivamente nas ruas, mediante as lutas dos espoliados e oprimidos, que fazem suas reinvindicações, partindo de uma teoria geral de direitos humanos emancipatórios, até suas demandas serem atendidas e convertidas em direitos. No caso das mulheres não foi diferente, por meio do movimento feminista, lutaram até serem reconhecidas como sujeitos de direitos e conquistarem diversos avanços no tocante à desobjetificação de seus 17 corpos. Todavia, a luta não se encerra na conquista dos direitos. Além de conquistá-los, o feminismo luta pela sua efetivação. Assim, convém ressaltarmos algumas dessas conquistas. Nesse viés, é de extrema importância salientar que a Constituição Federal de 1988 transformou absolutamente a situação jurídica das mulheres no Brasil, abarcando cerca de 80% das propostas do movimento feminista, o que faz nossa nação ser uma das mais respeitadas mundialmente no que diz respeito à igualdade de gênero, embora grande parte das conquistas ainda permaneçam em teoria (CARNEIRO, 2003). Ademais, a mudança do Código Civil, em 2002, descriminalizou a não virgindade feminina, o que não permitia mais ao marido anular o casamento por esse motivo (PENA, 2008). Muito antes disso, em 1962 e 1977 foram aprovados, respectivamente, o Estatuto da Mulher Casada e a Lei do Divórcio, dispositivos legais que permitiam que a mulher trabalhasse sem a permissão do marido, recebesse herança, pudesse se divorciar e pedir a guarda dos filhos após a separação. Todas essas mudanças na legislação demonstram uma evolução na condição civil da mulher, visto que, agora, lhe são garantidas voz no seu relacionamento e na criação dos seus filhos, além de independência nas suas ações, sem depender do pai ou marido para tomar uma decisão (BRASIL, 1962; BRASIL, 1967). Além disso, o combate à violência contra a mulher serviu como base para vários ações e projetos de leis que visam a garantir a segurança e a dignidade da mulher na sociedade. Isso pode ser comprovado pela criação da Delegacia da Mulher, em 1985, cuja função principal é providenciar à mulher vítima de abuso um tratamento especializado, mas que também explica a ela seus direitos, estimula novas denúncias e cria um perfil de abusador (BREDER, 2018). Além da aprovação de leis como a Lei nº 11.106, de 2005, que retirou do Código Penal a extinção da punibilidade do crime de estupro mediante o casamento da vítima com um terceiro ou com o agente do crime, e a Lei nº 12.015, de 2009, que mudou a denominação de crimes contra costumes, presente no Código Penal, para crimes contra a dignidade sexual (BRASIL, 2005; BRASIL, 2009). Nesse sentido, pode-se, ainda, incluir as seguintes leis: Lei nº 11.340, de 2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para combater a violência doméstica; Lei nº 13.104, de 2015, que caracteriza o feminicídio como um tipo de homicídio decorrente da condição de mulher da vítima; Lei nº 13.7189, de 2018, que caracteriza importunação sexual, como o beijo forçado, por exemplo, como um crime contra a dignidade da vítima. A criação desses dispositivos legais demonstra, pois, o reconhecimento social e humano da identidade feminina na sociedade, conquistado através de muita luta (BRASIL, 2006; BRASIL 2015; BRASIL 2018). 18 Outrossim, outros mecanismos legais se mostraram importantes nessa luta, como é o caso do Código do CONAR, que em seus anexos A e P estão escritos que apelos à sexualidade não constituem o principal conteúdo da mensagem, e que modelos publicitárias jamais serão tratados como objeto sexual, o que vai de encontro com o que está escrito na seção 1 do capítulo II, o qual reitera que deve-se ter respeito pela dignidade da pessoa humana e que propagandas não podem estimular qualquer tipo de preconceito (CÓDIGO E ANEXOS, CONAR). Nesse caso, quaisquer anúncios que violem essas diretrizes estão passíveis de serem suspensos, como é o caso da peça de propaganda da campanha “Verão é nosso”, da Itaipava, e da propaganda da Preservation Prudence, que foram tiradas de circulação por seu teor machista e misógino, respectivamente. É interessante notar que, nesse tipo de situação, a maioria das reclamações vem de consumidores, o que demonstra como a luta feminista se tornou parte da consciência social, mesmo entre pessoas que não se dizem feministas. O combate ao machismo, à objetificação da mulher, à misoginia e à cultura do estupro, porém, ainda está longe de ser finalizado. Afinal, ainda vivemos numa sociedade comandada pelo patriarcado, o qual naturalizou a violência contra a mulher de uma maneira que demorou anos para que ela deixasse de ser uma atitude vista como normal, e que medidas paraa coibir fossem de fato realizadas. Assim, pode-se afirmar que o processo de desconstrução é demorado e difícil, o que faz com que determinadas ações levem tempo até serem reconhecidas como degradantes para as mulheres, já que os resquícios opressivos da legislação anterior ainda estão presentes na sociedade. CONCLUSÃO Infere-se, a partir desse trabalho, que a objetificação feminina é herança de uma cultura fundada com base em valores patriarcais, que se encontram presentes na sociedade brasileira desde os primórdios e foram intensificados a partir do colonialismo, de forma a manter-se até os dias de hoje. Esses valores podem ser representados pelo controle do homem sobre o comportamento da mulher, que era permitido pela legislação anterior e, mesmo com a conquista da autonomia feminina perante a lei, ainda se encontra presente na sociedade por meio de mecanismos de controle social, como o estupro. Além disso, cabe ressaltar que a reprodução de estereótipos machistas pela mídia é uma das razões pelas quais esse pensamento ainda persiste na sociedade contemporânea, uma vez que as pessoas naturalizaram a mulher na condição de objeto e entendem que isso é normal. 19 Prova disso é o sucesso da indústria pornográfica, que se mostra como um dos negócios mais lucrativos do mundo e tem como um dos principais pilares a exploração da imagem feminina. No entanto, apesar de todos esses problemas, a luta pelos direitos das mulheres, levada a cabo pelo movimento feminista, obteve várias conquistas desde o último século e garantiu às mulheres liberdades com as quais, no passado, elas não poderiam sequer sonhar. Contudo, a situação social feminina ainda está longe de ser ideal. Assim, é fundamental que a problematização da situação da mulher proposta pelo feminismo continue em vigor, para que a sociedade possa se descontruir e aprender, de fato, a respeitar as mulheres. Portanto, é de extrema importância que a objetificação feminina continue a ser analisada e descontruída, com estudos mais aprofundados, já que é um tema que não possui tanta visibilidade no tecido social e, menos ainda, no mundo acadêmico, tendo pesquisas escassas e, quando existentes, são em sua maioria publicadas há pouco tempo, o que indica que o interesse pela temática é recente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Januária Cristina. O lado feminino do Brasil colonial: a vida das mulheres no século XVI, 2016. Super Interessante. Disponível em: <https://super.abril.com.br/historia/o- lado-feminino-do-brasil-colonial-a-vida-das-mulheres-no-seculo-xvi/>. Acesso em: 17 de junho de 2020. ALVES, Ana Carla Faria et al. As trajetórias e lutas do movimento feminista no Brasil e o protagonismo social das mulheres, 2013. Disponível em: <http://www.uece.br/eventos/seminariocetros/anais/trabalhos_completos/69-17225- 08072013-161937.pdf>. Acesso em: 01 de julho de 2020. 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