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EDUCAÇÃO FÍSICA em foco EDUCAÇÃO FÍSICA EM FOCO UNIASSELVI 2016 Organização Meike Marly Schubert Autoria Rafaela Liberali Reitor da Uniasselvi Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação Eloisa Amanda Rodrigues Capa Djenifer Luana Kloehn Revisão Final Harry Wiese Diógenes Schweiger Propriedade do Centro Universitário Leonardo da Vinci CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br EDUCAÇÃO FÍSICA em foco Ficha catalográfica Elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri – UNIASSELVI – Indaial. 613.7 L695e Liberali, Rafaela Educação física em foco/ Rafaela Liberali; Meike Schubert (Org.) : UNIASSELVI, 2016. 135 p. : il. ISBN 978-85-7830-993-0 1.Educação física. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. EDUCAÇÃO FÍSICA em foco EDUCAÇÃO FÍSICA em foco ------------------ [ APRESENTAÇÃO EDUCAÇÃO FÍSICA EM FOCO ] ------------------ Prezado(a) acadêmico(a)! Bem-vindo(a) ao Caderno de Educação Física em Foco, que tem como objetivo levar os principais conteúdos trabalhados ao longo de seu curso. Assim, ele estará dividido em três unidades e cada um abordará diferentes e variados conteúdos. Ao longo da leitura deste Caderno de Estudos, você verá que o foco será trabalhar os principais conteúdos que envolvem o professor de Educação Física, passando desde os conceitos da formação profissional, pedagógica, curricular e política educacional, até os aspectos específicos relacionados à Educação Física, como os conhecimentos fisiológicos, anátomo-biológicos e biomecânicos aplicados à Educação Física Escolar. Na última unidade abordaremos a Educação Física Escolar, os esportes coletivos e individuais e a Educação Física adaptada, que darão conhecimentos necessários a sua formação e que permitam desenvolver atividades práticas na escola com segurança, aplicando esse conhecimento com maior inteligência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade. Desejo a você uma ótima leitura e que aproveite ao máximo o estudo dos temas abordados neste Caderno de Estudos. Bons estudos e sucesso! Professora Dra. Rafaela Liberali EDUCAÇÃO FÍSICA em foco EDUCAÇÃO FÍSICA em foco SUMÁRIO UNIDADE 1 – FORMAÇÃO PROFISSIONAL, PEDAGÓGICA, CURRICULAR E POLÍTICA EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA ........ 1 TÓPICO 1 – FORMAÇÃO E PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ............ 3 1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL E REGULAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA (PRÁTICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR) ...... 3 2 PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA (ASPECTOS PEDAGÓGICOS, CIDADANIA E INCLUSÃO) ......................................................................... 10 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................. 12 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 15 TÓPICO 2 – CULTURA DO MOVIMENTO, GÊNERO E EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................................ 17 1 CULTURA DO MOVIMENTO: AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA CULTURA CORPORAL ............................................................................... 17 2 PEDAGOGIA DO ESPORTE ....................................................................... 20 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................. 23 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 25 TÓPICO 3 – ASPECTOS METODOLÓGICOS QUE ENVOLVEM A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ............................................... 27 1 METODOLOGIA E CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .... 27 2 MÍDIAS ESPORTIVAS ................................................................................. 31 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................. 33 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 35 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 39 UNIDADE 2 – MOTRICIDADE HUMANA/CORPOREIDADE (O CONHECIMENTO SOBRE O CORPO HUMANO) .................. 43 TÓPICO 1 – LINGUAGEM CORPORAL NA ESCOLA .................................. 45 EDUCAÇÃO FÍSICA em foco 1 DANÇA, ATIVIDADE RÍTMICA E LINGUAGEM CORPORAL NA ESCOLA ....................................................................................................... 45 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................. 51 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 53 TÓPICO 2 – ASPECTOS DO JOGO, ESPORTE, GINÁSTICA E LUTA NA ESCOLA ..................................................................................... 57 1 DIMENSÕES DO ESPORTE E APLICAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .................................................................................................... 57 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................. 66 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 69 TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE ................................................. 73 1 EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE, APTIDÃO FÍSICA E EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .................................................................................................... 73 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................. 78 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 80 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 85 UNIDADE 3 – A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E OS ASPECTOS CINESIOLÓGICOS, BIOMECÂNICOS, FISIOLÓGICOS ........ 89 TÓPICO 1 – APLICAÇÃO DA BIOLOGIA, ANATOMIA, CINESIOLOGIA E BIOMECÂNICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ................................. 91 1 CONHECIMENTOS ANÁTOMO-BIOLÓGICOS, CINESIOLÓGICOS E BIOMECÂNICOS APLICADOS À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR .......... 91 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................. 98 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 100 TÓPICO 2 – APLICAÇÃO DOS ASPECTOS FISIOLÓGICOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................................ 103 1 CONHECIMENTOS FISIOLÓGICOS NECESSÁRIOS AO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA .............................................................................. 103 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................. 110 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 112 Educação Física em foco TÓPICO 3 – OBESIDADE INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA (ABORDAGEM NA ESCOLA) ............................................................................. 117 1 DESENVOLVIMENTO MOTOR E A EDUCAÇÃO FÍSICA .......................... 117 2 OBESIDADE INFANTIL E EDUCAÇÃO FÍSICA (ABORDAGEM NA ESCOLA) ..................................................................................................... 120 RESUMO DO TÓPICO 3 .................................................................................124 AUTOATIVIDADE ........................................................................................... 125 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 131 Educação Física em foco Educação Física em foco 1 UNIDADE 1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL, PEDAGÓGICA, CURRICULAR E POLÍTICA EDUCACIONAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de: • entender a importância e as características na formação do professor de Educação Física; • entender a regulamentação da educação física em contexto histórico e da legislação nacional; • entender os diferenciais do conteúdo pedagógicos da Educação Física em diferentes níveis educacionais, baseado nos PCN; • analisar os aspectos metodológicos que envolvem a Educação Física escolar. PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – FORMAÇÃO E PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA TÓPICO 2 – CULTURA DO MOVIMENTO, GÊNERO E EDUCAÇÃO FÍSICA TÓPICO 3 – ASPECTOS METODOLÓGICOS QUE ENVOLVEM A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Educação Física em foco 2 Educação Física em foco 3 ------ [ TÓPICO 1 – FORMAÇÃO E PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ] ------ Nesta unidade, você estudará os conteúdos relacionados à formação do professor de Educação Física, desde sua formação pedagógica, sobre os conhecimentos curriculares e de política educacional. 1 FORMAÇÃO PROFISSIONAL E REGULAMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA (PRÁTICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR) Caro(a) acadêmico(a)! Você já parou para refletir sobre o que representa ser um professor de Educação Física? É sobre isso que conversaremos a partir de agora. Por volta da década de 80, associava-se à formação dos professores a profissionalização, somando conhecimento de base para o ensino (forma mais complexa de obter conhecimento sobre os estudantes, escola e contexto social, pois pode dificultar o discernimento de como este conhecimento é convertido adequadamente para atender às exigências da prática), com responsabilidade coletiva (RAMOS; GRAÇA; NASCIMENTO, 2008). Shulman (1987 apud RAMOS; GRAÇA; NASCIMENTO, 2008) aponta sete categorias que fazem parte do conhecimento de base para o ensino: • conhecimento do conteúdo, o conhecimento pedagógico geral (princípios ou estratégias de gestão e organização de classe, úteis para ensinar o conteúdo); • conhecimento curricular (conhecimento do professor para selecionar e organizar os programas, bem como os meios que dispõe para isso); • conhecimento pedagógico do conteúdo (combinação especial entre conteúdo e pedagogia, típico do professor); • conhecimento dos alunos e de suas características; • conhecimento dos contextos educacionais (ambiente de trabalho, região e características culturais da comunidade); • conhecimento dos fins educacionais (valores sociais, propósitos e bases filosóficas e históricas). Educação Física em foco 4 Dentre todos esses conhecimentos, podemos argumentar que o conhecimento pedagógico do conteúdo tem certa singularidade frente aos demais e seria o mais provável para distinguir entre o conhecimento do conteúdo de um especialista de uma determinada área e o conhecimento de um professor nesta mesma área (RAMOS; GRAÇA; NASCIMENTO, 2008). Assim, perguntamo-nos qual é o conhecimento pedagógico do conteúdo voltado exclusivamente para o professor de Educação Física? Iniciamos esse assunto apontando que muitos alunos ingressam no curso de Educação Física com a concepção desta profissão sendo somente promotora de saúde apoiada em aspectos biológicos, treinamento de atletas, instrutora de exercícios físicos etc.; no entanto, ela deve ser compreendida em outras dimensões além da saúde, como culturais, sociais, lúdica e estética (FIGUEIREDO, 2004). Segundo Pretto e Label (2015, p. 1), a partir da regulamentação da Educação Física, ocorreram transformações e exigências sociais, educacionais com o surgimento a cada ano de novas modalidades, novas formas de praticar o exercício físico, assim exigindo que a Educação Física escolar também entre nesse processo integrado na escola. Veja no quadro a seguir um resumo breve historicamente da perspectiva que a legislação federal tem sobre a profissão do professor de Educação Física, sua regulamentação, profissionalização e saberes. QUADRO 1. A EDUCAÇÃO FÍSICA SOB A PERSPECTIVA DA LEGISLAÇÃO FEDERAL E OS SABERES DE CADA ÉPOCA Anos Características 1939 – A constituição do campo “Educação Física” 1824 e 1931 - Desenvolvimento dos exercícios físicos relacionados à preparação física, à defesa pessoal, aos jogos e esportes dentro do âmbito militar, médico e social. 1934 - O primeiro programa civil de um curso de Educação Física = o curso da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo. Figura 1 = programa com conteúdos e saberes. Educação Física em foco 5 1932 a 1945 (Era Vargas) - Educação Física estruturou-se profissionalmente na luta pelo seu espaço na sociedade Constituição de 1937 - Na busca de legitimidade para a área e o reconhecimento social de seus profissionais a Educação Física tornou-se obrigatória nas escolas. - Surgimento de um currículo mínimo para a graduação. 1939 - Decreto-lei nº 1.212, que criou a Escola Nacional de Educação Física e Desportos e estabeleceu as diretrizes para a formação profissional. - Criação da Universidade do Brasil e a Escola Nacional de Educação Física e Desportos. - Com exceção do curso para formar professores com duração de dois anos, os demais eram desenvolvidos no período de um ano. - Formação do professor é a de um técnico generalista, mas carregada no compromisso de ser um educador. Figura 2 = programa com conteúdos e saberes. 1º de janeiro de 1941 - Exigência para o exercício das funções de professor de Educação Física, nos estabelecimentos oficiais (federais, estaduais ou municipais) de Ensino Superior, secundário, normal e profissional, em toda a República, a apresentação de diploma de licenciado em Educação Física. 1945 – Revisão do currículo 1945, decreto-lei n. 8.270 - Segue a mesma sequência da proposta anterior de 1939, redimensionando-a em sua organização. - A duração do curso de formação do professor passou de dois anos para três anos. Figura 3 = programa com conteúdos e saberes. Educação Física em foco 6 1945 e 1968 - Pela Lei de Diretrizes e Bases – LDB – nº 4.024/61, a formação do professor passou a exigir um currículo mínimo e um núcleo de matérias que procurasse garantir formação cultural e profissional adequadas. - Os cursos deveriam atender a um percentual de 1/8 da carga horária para a formação pedagógica, visando a fortalecer a formação do professor e fazer dele um educador. - Em função dessa LDB, o Conselho Federal de Educação (CFE) apresentou os pareceres nº 292/62 e nº 627/69, estabelecendo os currículos mínimos dos cursos de licenciatura, sublinhando que “o que ensinar” preexiste ao “como ensinar” e estabelecer um núcleo de matérias pedagógicas. 1969 – Currículo mínimo e formação pedagógica 1969 - Parecer CFE nº 894/69 e a resolução CFE nº 69/69, os cursos de formação de professores passam a se restringir apenas aos cursos de Educação Física e técnico de desportos previsto para três anos de duração, com uma carga horária mínima de 1.800 horas-aula e redução das matérias básicas de fundamentação científica. Figura 4 = programa com conteúdos e saberes. Educação Física em foco 7 1987 – Licenciatura e bacharelado 1987 - Promulgação do parecer CFE nº 215/87 e da resolução CFE nº 03/87, criando o bacharelado em Educação Física. - Os saberes anteriormente divididos entre as matérias básicas e profissionalizantes – localizadas dentro dos núcleos de fundamentação biológica, gímnico-desportivo e pedagógica – assumem uma nova configuração, tendo como fundamentoda distribuição dos saberes na estrutura curricular duas grandes áreas: Formação Geral – humanística e técnica – e aprofundamento de conhecimentos. - O curso passou das 1.800 horas-aula para 2.880 horas-aula, com prazo mínimo de quatro anos, tanto para o bacharelado quanto para a licenciatura, estabelecendo, assim, uma nova referência para a formação profissional. Figura 5 = programa com conteúdos e saberes. 1996-1998 - Com as publicações da LDBEN nº 9.394/96, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e da Lei nº 9.696/98 com a regulamentação profissional da Educação Física, observou-se um novo desenho curricular como um todo e um novo delineamento no campo da intervenção profissional da Educação Física, bem como da educação, marcados por um novo fenômeno, o “profissionalismo”. FONTE: Adaptado de Souza Neto et al. (2004) A seguir, veja as figuras que complementam os saberes apresentados no Quadro 1, relacionados aos programas desenvolvidos para a profissionalização da Educação Física. Educação Física em foco 8 FIGURA 1: PROGRAMA DE SABERES DO CURSO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ESTADO DE SÃO PAULO DE 1934 FONTE: Souza Neto et al. (2004, p. 115) FIGURA 2: PROGRAMA DE SABERES DO DECRETO-LEI Nº 1.212 FONTE: Souza Neto et al. (2004, p. 117) Educação Física em foco 9 FIGURA 3: PROGRAMA DE SABERES DA PROPOSTA DE 1945 FONTE: Souza Neto et al. (2004, p. 118) FIGURA 4: PROGRAMA DE SABERES DA PROPOSTA DE 1969 FONTE: Souza Neto et al. (2004, p. 118) Educação Física em foco 10 FIGURA 5: PROGRAMA DE SABERES DA PROPOSTA DE 1987 FONTE: Souza Neto et al. (2004, p. 121) Com toda essa construção de saberes ao longo do tempo, a Educação Física ganha legitimidade e passa ser importante dentro do contexto social, educacional, cultural. Na escola, a Educação Física precisa garantir que, de fato, as ações físicas e as noções lógico-matemáticas que a criança usará nas atividades escolares e fora da escola possam se estruturar adequadamente (PRETTO; LABEL, 2015). 2 PEDAGOGIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA (ASPECTOS PEDAGÓGICOS, CIDADANIA E INCLUSÃO) Vimos acima, acadêmico, as sete categorias que fazem parte do conhecimento de base para o ensino. Para o entendimento do conteúdo pedagógico, podemos diferenciá-los. - o conhecimento da matéria apontando que ele se refere à quantidade e organização do conhecimento por si só na mente do professor; - o conhecimento curricular do conteúdo representa o conjunto de programas elaborados pelo professor sob um tema particular, considerando o nível dos alunos, bem como os meios disponíveis ao professor para o ensino da matéria; e - o conhecimento pedagógico do conteúdo como a forma de representação e transformação da matéria de ensino que Educação Física em foco 11 torna esta mesma matéria compreensível ao aluno, em outras palavras, é o conhecimento sobre como ensinar um conteúdo ou tópico a um grupo específico de estudantes em um específico contexto (RAMOS; GRAÇA; NASCIMENTO, 2008, p. 163). Em 1997 foram lançados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) referentes aos 1º e 2º ciclos (1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental) e, no ano de 1998, os relativos aos 3º e 4º ciclos (5ª à 8ª séries), incluindo um documento específico para a área da Educação Física e, em 1999, foram publicados os PCN do Ensino Médio (DARIDO et al., 2001). Assim, os PCN possuem a função de orientar e garantir a coerência das políticas de melhoria da qualidade de ensino, socializando discussões, pesquisas e recomendações, além de nortear a prática pedagógica do professor de Educação Física com um planejamento direcionado no Projeto Político-Pedagógico da escola, de maneira dinâmica e concreta (SOUSA; FÁVERO, 2010). Segundo Darido et al. (2001), os PCN abriram espaços para a construção de uma escola comprometida com a cidadania e com a rejeição à exclusão, ao abordar na lei os princípios da educação, a garantia aos direitos e deveres da cidadania, a política da igualdade, a solidariedade e a ética da identidade. Os conteúdos dos PCN do Ensino Fundamental em Educação Física são divididos em três blocos, para melhor contextualização e aplicação no âmbito escolar (SOUSA; FÁVERO, 2010): • esportes, jogos, lutas, ginásticas; • atividades rítmicas e expressivas; • conhecimentos sobre o corpo. Os PCN trazem avanço nas dimensões do conteúdo para a profissão educação física, pois ultrapassam o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E busca, assim, garantir o direito do aluno de saber porque ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual) (DARIDO et al., 2001, p. 21). Educação Física em foco 12 ------ [ RESUMO DO TÓPICO 1 ] ------ Neste tópico, você viu que: • Sete categorias fazem parte do conhecimento de base para o ensino, conhecimento do conteúdo, curricular, pedagógico do conteúdo, dos alunos e de suas características, dos contextos educacionais e dos fins educacionais. • O conhecimento pedagógico do conteúdo é o mais singular frente aos demais. • O curso de formação do educador físico, além de ser promotora de saúde apoiada em aspectos biológicos, deve ser compreendido em outras dimensões, como culturais, sociais, lúdicas e estéticas. • Com a regulamentação da Educação Física ocorreram transformações e exigências sociais, educacionais. • Surgimento de novas formas de praticar exercício físico, exigindo que a Educação Física escolar também entre nesse processo, atuando como qualquer outra disciplina da escola, e não desintegrada dela. • Em 1934, desenvolvido o primeiro programa civil de um curso de Educação Física, o curso da Escola de Educação Física do Estado de São Paulo. • Com a Constituição de 1937, a Educação Física tornou-se obrigatória nas escolas, bem como surgiu um currículo mínimo para a graduação. • Em 1939, ocorreu a criação da Universidade do Brasil e a Escola Nacional de Educação Física e Desportos. • Em 1941, entrou nos estabelecimentos oficiais (federais, estaduais ou municipais) de Ensino Superior, secundário, normal e profissional, em toda a República, a apresentação de diploma de licenciado em Educação Física como exigência para o exercício das funções de professor de Educação Física. Educação Física em foco 13 • Pela nova lei, a Lei de Diretrizes e Bases – LDB – nº 4.024/61, a formação do professor passou a ter um currículo mínimo e um núcleo de matérias que procurasse garantir formação cultural e profissional adequadas. E os cursos deveriam atender a um percentual de 1/8 da carga horária. • Em 1969, o Parecer CFE nº 894/69 e a Resolução CFE nº 69/69 restringiram apenas aos cursos de Educação Física e técnico de desportos três anos de duração, com uma carga horária mínima de 1.800 horas-aula e redução das matérias básicas de fundamentação científica. • Em 1987, foi criado o bacharelado em Educação Física. Com os saberes divididos entre as matérias básicas e profissionalizantes, divididos em uma nova configuração, tendo como fundamento dos saberes na estrutura curricular duas grandes áreas: formação geral – humanística e técnica – e aprofundamento de conhecimentos. • O curso passou das 1.800 horas-aula para 2.880 horas-aula, com prazo mínimo de quatro anos, tanto para o bacharelado quanto para a licenciatura, estabelecendo, assim, uma nova referência para a formação profissional. • Com toda essa construção de saberes ao longo do tempo, a Educação Física ganha legitimidade e passa a ser importante dentro do contexto social, educacional, cultural. • O conhecimento pedagógico do conteúdo seria como a forma de representação e transformação da matéria de ensino que torna esta mesmamatéria compreensível ao aluno. • O conhecimento pedagógico do conteúdo seria o conhecimento sobre como ensinar um conteúdo ou tópico a um grupo específico de estudantes em um específico contexto. • Em 1999, a Educação Física foi incluída pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Educação Física em foco 14 • Os PCN abriram espaços para a construção de uma escola comprometida com a cidadania e com a rejeição à exclusão. • Os PCN abordaram na lei os princípios da educação, a garantia aos direitos e deveres da cidadania, a política da igualdade, a solidariedade e a ética da identidade. • A educação é dividida em três blocos nos PCN, para melhor contextualização e aplicação no âmbito escolar (esportes, jogos, lutas, ginásticas, atividades rítmicas e expressivas e conhecimentos sobre o corpo). • Os PCN buscam incorporar a dimensão procedimental, atitudinal e conceitual. Educação Física em foco 15 AUT OAT IVID ADE � Questão 1: QUESTÃO 11 do ENADE (2014). FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 6 jul. 2016. A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. Não é fácil e imediata a adoção dessas novas práticas, pois ela depende de mudanças que vão além da escola e da sala de aula. Para que essa escola possa se concretizar, é patente a necessidade de atualização e desenvolvimento de novos conceitos, assim como a redefinição e a aplicação de alternativas e práticas pedagógicas e a educacionais compatíveis com a inclusão. Avalie as propostas a seguir, feitas por professores de Educação Física, para um projeto de inclusão escolar e indique quais estão em consonância com o texto. I. Um torneio esportivo com equipes formadas apenas por estudantes com deficiências, para que os demais alunos possam assistir aos jogos e aprender a conhecer e a lidar com as pessoas com deficiência, contemplando ainda a participação de gestores da escola, funcionários, pais e professores que trabalharão na organização do evento. II. Uma gincana com jogos motores com a participação de várias equipes compostas e mescladas por alunos com deficiências, alunos do Ensino Fundamental e Médio, gestores da escola, professores, funcionários e a comunidade local. III. Atividades em equipes (membros dos vários segmentos da comunidade escolar e alunos com deficiência), com o objetivo de verificar se a escola e Educação Física em foco 16 o ambiente de seu entorno possuem barreiras arquitetônicas que dificultam a locomoção dos alunos com deficiência física na escola e a sua inserção e interação nas atividades motoras espontâneas de pátio. É correto o que se afirma em: ( ) A = I, apenas. ( ) B = II, apenas. ( ) C = I e III, apenas. ( ) D = II e III, apenas. ( ) E = I, II e III. Gabarito Questão 1 – Letra D. Educação Física em foco 17 ------ [ TÓPICO 2 – CULTURA DO MOVIMENTO E PEDAGOGIA ] ------ DO ESPORTE Especialmente, neste tópico, você entenderá que a definição de cultura, entendida como um produto da coletividade, está relacionada diretamente à cultura do movimento. Também abordaremos a questão de gênero e sua relação com a Educação Física. 1 CULTURA DO MOVIMENTO: AS DIFERENTES MANIFESTAÇÕES DA CULTURA CORPORAL Iniciemos esse tópico, caro(a) acadêmico(a), levantando alguns questionamentos sobre o que é educação “corporal” e porque ela deve ser entendida pelo professor de Educação Física que atua principalmente nas escolas. Começaremos entendendo que cultura, segundo os PCN (BRASIL, 1997, p. 23), é “um produto da sociedade, da coletividade à qual os indivíduos pertencem, ou seja, um conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo”. E a relação com a educação física, segundo os PCN (BRASIL, 1997, p. 23): Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar. Educação Física em foco 18 FIGURA 6: PRODUÇÕES DA CULTURA CORPORAL, INCORPORADAS PELA EDUCAÇÃO FÍSICA FONTE: BRASIL (1997, p. 24) Observamos, caro(a) acadêmico(a), que as produções da cultura corporal relatadas acima na Figura 6 tem em comum a representação corporal, com características lúdicas, de diversas culturas humanas (BRASIL, 1997, p. 24). Daolio (1996) observa que se a Educação Física trata da cultura de movimento, temos que fazer com que na escola, tanto no 1º quanto no 2º grau, ela deva ser feita nos mesmos moldes das outras disciplinas escolares, partindo do conhecimento corporal popular e das suas variadas formas de expressão cultural, almejando que o aluno possua um conhecimento organizado, crítico e autônomo a respeito da chamada cultura humana de movimento. Daolio (1996) faz uma análise da Educação Física na escola, apontando que geralmente sua prática valoriza a Educação Física biológica e universalizante, excluindo muitos alunos. O autor vai além, propondo uma nova aula focando na Educação Física Plural, cuja condição mínima e primeira é que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos, partindo do pressuposto que os alunos são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los. Educação Física em foco 19 QUADRO 2. PROPOSTA DE CONTEÚDOS BASEADO NA EDUCAÇÃO FÍSICA PLURAL Anos Características Objetivo dessa Educação Física = abarcar todas as formas da chamada cultura corporal – jogos, esportes, danças, ginásticas e lutas – e, ao mesmo tempo, abranger todos os alunos. Nos anos iniciais - conhecimento a respeito da cultura corporal, desenvolvido prioritariamente, de forma vivencial. - ampla gama de oportunidades motoras. - explorar a capacidade de movimentação, descubra novas expressões corporais, domine seu corpo em várias situações, experimente ações motoras com novos implementos, com ritmos variados. Nos anos iniciais e finais - enfatizar o desenvolvimento e a reconstrução das técnicas esportivas, ginásticas ou de dança, considerando-se diversos níveis de relação. - não se trata de ensinar a técnica tida como correta, mas de propiciar aos alunos o desenvolvimento de uma série de relações com o espaço. Nos anos finais e ensino Médio. - partindo da capacidade cognitiva que os alunos possuem, que permite a eles pensar de forma abstrata, é possível ampliar os objetivos da Educação Física. - trabalhar com a cultura corporal não só no sentido de vivenciá-la, mas também compreendendo-a, criticando-a e transformando-a. FONTE: Adaptado de Daolio (1996, p. 41-42) Acadêmico(a)! Ao ler o quadro acima (Quadro 2), consegue-se visualizar “Por que a proposta da Educação Física Plural se torna uma alternativa importante de valorização da cultura do movimento para as aulas de Educação Física?” Vejamos a resposta: Propor uma Educação Física Plural significa fazer com que esta prática seja democrática, colocando seus serviços Educação Física em foco 20 à disposição de todos os alunos. Para isso, é necessário considerar as individualidades dos alunos, expressas nas diferenças apresentadas por eles. Uma Educação Física Plural tentará considerar, num sentido mais amplo, o contexto sociocultural onde ela se dá, e num sentido mais específico, as diferenças existentes entre os alunos. Uma EducaçãoFísica Plural permitirá fazer das diferenças entre os alunos, condição de sua igualdade, ao invés de ser critério para justificar preconceitos que levam à subjugação de uns sobre outros. Só assim, será garantido o direito de todos e de cada um à prática de Educação Física na escola (DALIO, 1995, p. 136). [...] jogos, brincadeiras e brinquedos populares são parte da cultura, habitualmente transmitidos de geração para geração, por meio da oralidade. Muitos desses brinquedos e brincadeiras preservam sua estrutura inicial; outros se modificam, recebendo novos conteúdos. No entanto, observa-se, cada vez mais, que o contato das crianças com jogos, brinquedos e brincadeiras tradicionais vem perdendo espaço, possivelmente como consequência dos processos de urbanização e de produção/ consumo de equipamentos de alta tecnologia (videogames, computadores, televisores e brinquedos de controle remoto) (GONÇALVES JUNIOR, 2004, p. 133). Portanto, vimos que a Educação Física que leva em conta a pluralidade seria uma excelente alternativa de trabalho a ser desenvolvido, pois engloba todos os princípios propostos pelos PCN, tais como inclusão, autonomia, cooperação e diversificação. 2 PEDAGOGIA DO ESPORTE O que seria pedagogia do esporte? Que relação existe entre a pedagogia e o esporte voltado à Educação Física escolar? O conteúdo a seguir responderá a estas perguntas, caro(a) acadêmico(a), levando-o ao entendimento que ao trabalharmos no ambiente escolar devemos ter em mente não somente a técnica, mas a forma como ela é construída. Para Bento (2006, p. 14), “a pedagogia objetiva entender o conhecimento historicamente produzido pelo sujeito, ao longo de sua existência e, assim, se Educação Física em foco 21 interessa pelas práticas esportivas corporais, pois o esporte é um fenômeno social”. Atualmente, essa área de conhecimento chamada de pedagogia do esporte objetiva contribuir com propostas relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem de modalidades esportivas, ou seja, com métodos e estratégias de ensino que favoreçam uma aplicação apropriada do esporte dentro e fora do ambiente escolar (BARROSO; DARIDO, 2009). Para Reverdito, Scaglia e Paes (2009, p. 603), devemos ter claro que toda essa prática pedagógica se apoia além dos princípios pedagógicos com a diversidade, do ensinar esportes a todos, ensinar esporte bem a todos, ensinar mais que esportes e ensinar a gostar de esportes, pautando- se no aprendizado do jogo por meio do jogo jogado, sendo o ensino orientado para compreensão do jogo, com o objetivo do desenvolvimento da capacidade tática (cognitiva) em direção à especificidade técnica (motora específica), privilegiando situações de jogos e brincadeiras populares da cultura infantil, metodicamente orientados pelo jogo-trabalho. Os autores apoiam-se nos fundamentos das abordagens interacionista e do pensamento sistêmico-complexo, para as bases da teoria do jogo, privilegiando o aprendizado na interação entre a capacidade de aprender e das diferentes produções culturais já existentes, sendo o jogo principal ambiente dessa interação. Para ser abordado na escola, o esporte, como um conteúdo tradicional da Educação Física, precisa receber um tratamento pedagógico adequado, não somente ensinando movimentos e gestos técnicos específicos, mas proporcionando um conhecimento específico, para que ele saiba analisar o porquê da realização de tais movimentos, como também possa atribuir valores e ter atitudes apropriadas para e nas diversas práticas esportivas (BARROSO; DARIDO, 2009). Ao abordarmos a Educação Física enquanto pedagogia do esporte, devemos ter em mente a importância de valorizar o indivíduo em sua totalidade, proporcionando estímulos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, estimulando as inteligências múltiplas com destaque a autoestima, autoconfiança, iniciativa, autonomia e cooperação (GALATTI, PAES, 2006). Educação Física em foco 22 Princípios Características Primeiro Conjunto de Princípios - Futebol entendido como processo de ensino e aprendizagem para todos. - Competição e disputa vistas como conteúdos de uma ação pedagógica. - A não cobrança de resultados e a não preocupação com a formação de equipes, como fator relevante para uma escolinha de futebol. - Gerar uma organização para que o aluno pegue mais vezes na bola, ou seja, tenha muito contato com a bola durante a aula, portanto, evitando-se grandes filas. - Possibilitar oportunidades para que eles saibam se auto- organizarem, se preciso for até que eles aprendam a votar, para tomadas de decisões democráticas. - Estimular a construção de regras, para que os alunos sejam regidos por suas próprias regras. Segundo Conjunto de Princípios - Divisão das turmas através de uma adequação etária. - Desenvolvimento harmônico e global das crianças, atentando- se sempre aos seus aspectos cognitivos, afetivos (sociais), sensitivos e motores. - Variações mais complexas da brincadeira, estimulando o aumento da complexidade dos movimentos destas. - Nunca realizar atividades que se resumem na prática pela prática, através de conversas e explicações situar o aluno no contexto em que a atividade é executada. Terceiro Conjunto de Princípios - Resgatar a cultura infantil, adaptando brincadeiras infantis, adequando-as à aprendizagem do futebol. - Liberdade no transcorrer do processo de ensino-aprendizagem do futebol. - Levar em conta o que a criança traz com ela, suas características, sua bagagem motora e cultural. - Aproveitar o conhecimento do aluno, que deve aprender, avançar a partir do que já sabe. QUADRO 3. EXEMPLO DE UMA ESCOLINHA DE FUTEBOL BASEADO NA PEDAGOGIA DO ESPORTE FONTE: Adaptado de SCAGLIA (1996) Educação Física em foco 23 ------ [ RESUMO DO TÓPICO 2 ] ------ Neste tópico, você viu que: • Cultura definida pelos PCN como um produto da sociedade. • Produções da cultura corporal, incorporadas pela Educação Física (jogo, esporte, dança, ginástica e luta). • A Educação Física, quando trata da cultura de movimento, deve partir do conhecimento corporal popular e das suas variadas formas de expressão cultural. • O professor de Educação Física na escola deve resgatar o conhecimento que o aluno possui a respeito da chamada cultura humana de movimento. • O professor de Educação Física na escola não deve apenas levar em conta sua prática biológica e universalizante, excluindo muitos alunos. • O professor de Educação Física deve propor uma nova aula focando na Educação Física Plural, cuja condição mínima e primeira é que as aulas atinjam todos os alunos, sem discriminação dos menos hábeis, ou das meninas, ou dos gordinhos, dos baixinhos, dos mais lentos, partindo do pressuposto que os alunos são diferentes, recusando o binômio igualdade/desigualdade para compará-los. • A Educação Física que leva em conta a pluralidade seria uma excelente alternativa ao professor de Educação Física, pois engloba todos os princípios propostos pelos PCN, tais como inclusão, autonomia, cooperação e diversificação. • A pedagogia se interessa pelo esporte, por este ser um fenômeno social. • A pedagogia do esporte objetiva contribuir com propostas relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem de modalidades esportivas. Educação Física em foco 24 • A pedagogia do esporte utiliza métodos e estratégias de ensino que favoreçam uma aplicação apropriada do esporte dentro e fora do ambiente escolar. • Na escola, o esporte, como um conteúdo tradicional da Educação Física, precisa receber um tratamento pedagógico adequado, não somente ensinando movimentos e gestos técnicos específicos, mas proporcionando um conhecimento específico. • O professor de Educação Física deve mostrar ao aluno o motivo da realização de tais movimentos, como também pode atribuir valores e ter atitudes apropriadas para e nas diversas práticas esportivas. Educação Física em foco 25 AUT OAT IVID ADE � Questão 1: QUESTÃO 18 do ENADE (2014).FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 6 jul. 2016. O jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta, enquanto componentes culturais da Educação Física, têm como características comuns a ludicidade e a função educativa, nas quais cada manifestação corporal vivida no interior da escola possibilita a formação e o desenvolvimento humano em sua totalidade. Assim, a Educação Física contempla conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento, com finalidade de lazer, manutenção da saúde, expressão da afetividade e da cidadania. Com base no texto, e considerando o papel do professor ao planejar, participar e avaliar projetos pedagógicos, educacionais e da gestão escolar, avalie as afirmações a seguir. I. Deve-se valorizar a rotina da aula e a improvisação, o que estimulará a renovação do conhecimento, que deve ser diariamente produzido pelo professor e seus alunos. II. É recomendável que o aluno desenvolva sua bagagem cultural através de jogos e brincadeiras, considerando sua criatividade e seu poder de imaginação. III. É preciso considerar o espaço físico onde as brincadeiras devem ser realizadas, pois este deve transmitir a sensação de conforto, de segurança e de confiança. IV. É importante promover a formação integral dos alunos, visando às finalidades educacionais, com a intenção de proporcionar o bem-estar e o Educação Física em foco 26 desenvolvimento corporal em suas diferentes dimensões. É correto apenas o que se afirma em: ( ) A= I e II. ( ) B = I e III. ( ) C= III e IV. ( ) D = I, II e IV. ( ) E = II, III, IV. Gabarito Questão 1 – Letra E. Educação Física em foco 27 ------ [ TÓPICO 3 – ASPECTOS METODOLÓGICOS QUE ENVOLVEM ] ------ A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Neste tópico, você entenderá os aspectos metodológicos que envolvem a Educação Física e a importância atualmente das mídias esportivas, tanto no esporte de rendimento quanto na aplicação no âmbito escolar. 1 METODOLOGIA E CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Todos os aspectos metodológicos que envolvem a Educação Física são as mesmas substancialmente das demais áreas do conhecimento e devem ter como meta a busca constante de estratégia metodológica que possa dar conta das novas necessidades (OLIVEIRA, 1997). Hoje, a Educação Física conta com várias propostas metodológicas de destaque. No entanto, para o presente estudo destacamos: metodologia do ensino aberta; metodologia crítico-superadora; metodologia construtivista e metodologia crítico-emancipadora (OLIVEIRA, 1997, p. 23). Para que seja efetivo o ensino, deve-se sempre buscar a realidade do educando para ensinar fatos, pessoas e objetos que os alunos conhecem na sua vida diária e sobre os quais manifestam interesse e curiosidade para ampliar seus conhecimentos, sendo que para isso o professor pode utilizar várias metodologias que utilizam essas estratégias (SHIGUNOV, 2008). Veja algumas caraterísticas no quadro a seguir, destas metodologias que você, professor de Educação Física, pode optar em usar em suas aulas: QUADRO 4. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS METODOLOGIAS DE ENSINO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Características 1 – METODOLOGIA DO ENSINO ABERTO Idealizadores da proposta - Reiner Hildebrandt e Ralf Laging da Alemanha (1986) e Cardoso et al. (1991) – Grupo de Trabalho Pedagógico), UFPe e UFSM, do Brasil. Educação Física em foco 28 Referencial teórico - Teoria Sociológica do Interacionismo Simbólico (Mead/Blumer) e Teoria Libertadora (Paulo Freire). Tendência educacional Progressista crítica. Objeto de estudo O mundo do movimento e suas implicações sociais. Objetivos gerais Trabalhar o mundo do movimento em sua amplitude e complexidade com a intenção de proporcionar, autonomia para as capacidades de ação. Seriação escolar Pode ser trabalhada dentro da atual estrutura curricular escolar. Conteúdos básicos O mundo do movimento e suas relações com os outros e as coisas. os conteúdos são construídos através de temas geradores. Enfoque metodológico - Ações problematizadoras. - Ações metodológicas organizadas para aumento no nível de complexidade dos temas tratados e realiza-se em uma ação participativa, em que professor e alunos interagem na resolução de problemas e no estabelecimento de temas geradores; o ensino aberto exprime-se pela “subjetividade” dos participantes. Avaliação Privilegia a avaliação do processo ensino-aprendizagem. 2 - METODOLOGIA CRÍTICO-SUPERADORA Idealizadores da proposta - Valter Bracht et al. (1992). - Coletivo de autores. Referencial Teórico Teoria do materialismo histórico-dialético. Tendência Educacional Progressista crítica. Objeto de estudo - Temas inerentes à cultura corporal do homem e da mulher brasileiros, entendendo-a como uma dimensão da cultura. Busca desenvolver a apreensão, por parte do aluno, da cultura corporal, como parte constitutiva da sua realidade social complexa. Educação Física em foco 29 Objetivos gerais Desenvolver a apreensão, por parte do aluno, da sua cultura corporal, entendendo-a como parte constitutiva da sua realidade social complexa. Seriação escolar – Pré e anos iniciais – organização da identificação dos dados da realidade. – anos iniciais – iniciação à sistematização do conhecimento; – anos finais – aplicação da sistematização do conhecimento; – Ensino Médio – aprofundamento da sistematização do conhecimento. Conteúdos básicos - Temas que, historicamente, compõem a cultura corporal brasileiro, tais como o jogo, a ginástica, a dança e os esportes. Enfoque metodológico - Práticas constitutivas da cultura corporal como “práticas sociais”, produzidas pela ação (trabalho) humana com vistas a atender a determinadas necessidades sociais. Avaliação - Privilegia a avaliação do processo ensino-aprendizagem. 3 – METODOLOGIA CONSTRUTIVISTA idealizadores da proposta João Batista Freire – na Educação Física – (1989). Referencial Teórico Piaget, especialmente com as obras “O nascimento da inteligência na criança” e “O possível e o necessário, fazer e compreender”. Tendência Educacional Construtivista (com tendência ao socioconstrutivismo). Objeto de estudo Motricidade humana. Objetivos gerais Ensinar as pessoas a se saberem corpo. Seriação escolar Adaptada ao currículo atual, mas aponta para alterações no currículo, inclusive na seriação. Conteúdos básicos Educação dos sentidos, com a educação da motricidade, com a educação do símbolo. Enfoque metodológico A partir do que o sujeito sabe sugerir mudanças no conteúdo, criando o conflito entre o que se sabe e o que é preciso ser aprendido. Do conflito vem a consciência do fazer. Avaliação - Educação Física em foco 30 4 - METODOLOGIA CRÍTICO-EMANCIPADORA Idealizadores da proposta Elenor Kunz (1994). Referencial Teórico Teoria sociológica da razão comunicativa (Habermas). Tendência Educacional Progressista crítica. Objeto de estudo Movimento humano – esporte e suas transformações sociais. Objetivos gerais Conhecer e aplicar o movimento conscientemente, libertando-se de estruturas coercitivas; refuncionalizar o movimento. Seriação escolar - Conteúdos básicos O movimento humano através do esporte, da dança e das atividades Lúdicas. Enfoque metodológico Categorias de ação: trabalho, interação e linguagem. Avaliação Processo ensino-aprendizagem. FONTE: Adaptado de Oliveira (1997) Devemos ter em mente que, para as metodologias expostas no quadro acima, para funcionarem, elas devem facilitar a aprendizagem do aluno, apresentar o conteúdo, atingir os objetivos propostos, mesmo com os estilos de atuação diferenciados, levando em conta a ação, a forma de comunicação do professor em contato com os alunos (SHIGUNOV, 2008). [a comunicação no ensino] mediante a comunicação que se estabelece em todo o processo de ensino, o aluno adquire uma determinada informação. Esta informação, que é fornecida em função de umdesenvolvimento ótimo de habilidades nos níveis cognitivo, afetivo e motor, tem que servir para ajudar o indivíduo a tomar as decisões corretas sobre seu movimento corporal e os mecanismos cognitivos corretos para a realização eficiente de uma tarefa (SHIGUNOV, 2008, p. 42). Educação Física em foco 31 2 MÍDIAS ESPORTIVAS Kellner (2003, p. 5) aponta que atualmente a indústria cultural possibilitou a multiplicação dos espetáculos por meio de novos espaços e sites, e o próprio espetáculo está se tornando um dos princípios organizacionais da economia, da política, da sociedade e da vida cotidiana, incluindo o esporte. A economia baseada na internet permite que o espetáculo seja um meio de divulgação, reprodução, circulação e venda de mercadorias. A cultura da mídia promove espetáculos tecnologicamente ainda mais sofisticados para atender às expectativas do público e aumentar seu poder e lucro, em que novas multimídias – que sintetizam as formas de rádio, filme, noticiário de TV e entretenimento – e o crescimento repentino do domínio do ciberespaço se tornam espetáculos de tecnocultura, gerando múltiplos sites de informação e entretenimento, ao mesmo tempo em que intensificam a forma-espetáculo da cultura da mídia (KELLNER, 2003, p. 5). O avanço do uso das novas mídias nos últimos anos, além de aumentar os setores de aplicação e o espectro daqueles que podem interagir no mundo virtual, possibilitou a criação de um espaço de expressão de ideias e concepções, para muitos que antes não tinham qualquer relação com a mídia informativa formal (jornais, revistas, televisão etc.) (REBUSTINI et al., 2012). Os fatos esportivos são usados diariamente pelas mídias impressa, televisiva, radiofônica e virtual que se apropria (mobiliza estratégias simbólicas singulares) da cena discursiva do fato para produzir sentidos (agendas) (BORELLI, 2001). O mesmo autor, caro(a) acadêmico(a), faz uma análise da representação da mídia nos eventos esportivos, a saber: Os eventos esportivos, como movimentos sociais, não se limitam apenas a representar uma competição, pois refletem também características culturais, econômicas, sociais, políticas, étnicas, religiosas etc. Assim, tomam-se os acontecimentos esportivos como fatos complexos, que trazem um conjunto de dimensões das relações interculturais, em que os atores sociais não são apenas os competidores, mas a plateia, os dirigentes, os mídias, os patrocinadores, os diretores esportivos etc. (BORELLI, 2001, p. 3). Educação Física em foco 32 Atualmente, a televisão vem se “naturalizando” como um membro das famílias brasileiras e é um dos mais importantes e poderosos meios de produção midiática e veiculação de informações (KENSKI, 1995). Expresso especialmente pela televisão, o esporte apresenta-se como um dos principais elementos da cultura marcado pelo processo de espetacularização midiática, por gerar um mercado “de milhões”, a compreensão do esporte na atualidade precisa considerar a sua mediatização pela televisão, ou seja, este meio de comunicação de massa não pode ser considerado instância externa à cultura esportiva, mas parte integrante que concorre para a instauração de uma nova percepção e prática desse elemento da cultura de movimento (LISBÔA, 2007). Temos que deixar claro que, nesse contexto, o professor de Educação Física deve ter conteúdo de cultura midiática, através da problematização do esporte da mídia nas aulas de Educação Física. Lisbôa (2007, p. 2) aponta a importância desses conhecimentos trazidos pelas crianças: Acreditando na capacidade transformadora e produtora de conhecimentos por parte das crianças, que não apenas recebem estas informações da televisão passivamente, mas também são capazes de ressignificá-las à luz de suas “múltiplas mediações”, surge a necessidade de se estabelecer um nexo entre as representações sociais produzidas pela mídia/TV, e aquelas que efetivamente se constituem em sua cultura lúdica. Desta forma, sabendo que existem milhares de crianças na escola com uma bagagem da televivência esportiva, o professor deve explorar esse conhecimento. Educação Física em foco 33 ------ [ RESUMO DO TÓPICO 3 ] ------ Neste tópico, você viu que: • Os aspectos metodológicos das demais áreas do conhecimento são as mesmas que envolvem a Educação Física. • A Educação Física conta com várias propostas metodológicas de destaque, que vão desde metodologias tradicionais, como metodologias que apoiam na cultura do movimento. • As metodologias não tradicionais são: metodologia do ensino aberta; metodologia crítico-superadora; metodologia construtivista e metodologia crítico-emancipadora. • Para que seja efetivo o ensino, deve-se sempre buscar a realidade do educando para ensinar fatos, pessoas e objetos que os alunos conhecem na sua vida diária. • A indústria cultural possibilitou a multiplicação dos espetáculos por meio de novos espaços e sites. • O esporte virou espetáculo. • A indústria cultura e mídia tornou-se um dos princípios organizacionais da economia, da política, da sociedade e da vida cotidiana. • A economia baseada na internet permite que o espetáculo seja um meio de divulgação, reprodução, circulação e venda de mercadorias. • A cultura da mídia promove espetáculos tecnologicamente sofisticados para atender às expectativas do público e aumentar seu poder e lucro. • Os fatos esportivos são usados diariamente pelas mídias impressa, televisiva, radiofônica e virtual que se apropria (mobiliza estratégias simbólicas singulares) da cena discursiva do fato para produzir sentidos (agendas). Educação Física em foco 34 • A televisão é um dos mais importantes e poderosos meios de produção midiática e veiculação de informações. • Expresso especialmente pela televisão, o esporte apresenta-se como um dos principais elementos da cultura marcado pelo processo de espetacularização midiática. • O esporte gera um mercado “de milhões”, como parte integrante que concorre para a instauração de uma nova percepção e prática desse elemento da cultura de movimento. • A Educação Física deve se apropriar desse conhecimento de televivência das crianças e explorá-lo nas aulas. Educação Física em foco 35 AUT OAT IVID ADE � Questão 1: QUESTÃO 15 do ENADE (2014). FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 6 jul. 2016. É preciso considerar que as mídias privilegiam a forma do espetáculo e do entretenimento, quase sempre distante das preocupações educativas- escolares. O que as mídias proporcionam é um grande mosaico sem estrutura lógica aparente, composto de informações desconexas, em geral descontextualizadas e recebidas individualmente, sem instaurar, portanto, um verdadeiro processo de comunicação. Em uma escola, o Projeto Político-Pedagógico (PPP) prevê a discussão da questão étnico-racial em todas as disciplinas curriculares. Para atender a esse PPP, o professor de Educação Física escolar pediu que os alunos prestassem atenção ao que os comentaristas de jogos de futebol falam sobre os jogadores, com atenção a possíveis comentários que diferenciam jogadores brancos, negros ou de origem asiática. Avalie as afirmações a seguir, que descrevem as atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula com base nos relatos da pesquisa realizada pelos estudantes. I. Mediação entre o discurso televisivo e os discursos presentes em outros tipos de mídia, demonstrando como informações tendenciosas e preconceitos étnicos-raciais estão enraizadas na sociedade e podem ocorrer em situações de jogo nas aulas de Educação Física. II. Mediação entre o discurso midiático e os objetivos da Educação Física escolar, discutindo situações em que se evidenciaram informações tendenciosas e preconceitos em relação às diferentes identidades. Educação Física em foco 36 III. Discussão e reflexão sobre questões étnico-raciais, frequentemente presentes em redes sociais, apesar de não estarem previstasnas diretrizes curriculares nacionais da Educação Básica. É correto o que se afirma em: ( ) A = I, apenas. ( ) B = III, apenas. ( ) C = I e II, apenas. ( ) D = II e III, apenas. ( ) E = I, II e III. Questão 2: QUESTÃO 24 do ENADE (2014). FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 6 jul. 2016. Tendo em vista a Educação Física que se renova, recria e aprimora seus conceitos, conteúdos e didáticas, sugerem-se algumas reflexões sobre propostas contemporâneas e as práticas que vemos constantemente nas ruas. Por que não levá-las para a escola? Por que não perguntar e conversar com as crianças? Talvez, muitas queiram novas modalidades dentro do âmbito escolar. Às vezes, as crianças já praticam tais atividades nos momentos livres e recreativos, porém se não olharmos para o ser humano em plena formação, talvez algumas desistam no meio do caminho, por não se desenvolverem, nem melhorarem em tais práticas. O trecho sugere que existe uma integração entre os conteúdos escolares e a vida do ser humano fora da escola. De acordo com essas reflexões, conclui-se que: ( ) a - conversas com as crianças a respeito de seus momentos livres garantem que o professor consiga inserir corretamente os saberes construídos nas ruas nos conteúdos de suas aulas. ( ) b - saberes construídos nas ruas são os que agradam aos alunos e, por isso, são conteúdos escolares de caráter atitudinal essenciais para o desenvolvimento social de crianças e adolescentes. Educação Física em foco 37 ( ) c - saberes construídos nas ruas são conteúdos escolares que podem promover o desenvolvimento integral dos alunos e que lhes ensinam mais possibilidades para usufruir dos momentos de lazer. ( ) d - práticas que as crianças realizam nos momentos livres precisam ser bem analisadas antes de se tornarem conteúdos escolares, de forma a privilegiar aquelas que todos conheçam. ( ) e - práticas que as crianças realizam nos momentos livres são conteúdos escolares por excelência, excetuando-se aquelas que apresentam caráter elitista, por não serem compatíveis com os ideais igualitários. Questão 3: QUESTÃO 16 do ENADE (2014). FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 6 jul. 2016. A mídia televisiva em geral tem privilegiado as transmissões de espetáculos esportivos que comumente reforçam a supremacia do sexo masculino em relação ao feminino, reforçando também o caráter sexista da prática esportiva. As consequências de tal situação são preocupantes, pois os índices de desrespeito aos direitos da mulher continuam altos. No que diz respeito à Educação Física, infelizmente ainda é comum encontrarmos aulas em que as práticas reforçam negativamente as diferenças entre os sexos e incentivam o sexismo, como aulas de futebol para meninos e queimada para as meninas, ou até mesmo aulas separadas por sexo com a alegação de que os meninos machucam as meninas. O enfrentamento desta situação perpassa várias condições, como, por exemplo, os ordenamentos legais, as políticas públicas de vários segmentos, a formação de educadores, a concepção de mundo dos professores e as representações dos próprios alunos. Em se tratando de política pública de Educação Física, considerando os Parâmetros Curriculares Nacionais, há pouco posicionamento com relação a essa temática. Assinale a alternativa que sintetiza tal posicionamento. ( ) a - as aulas mistas de Educação Física devem possibilitar a convivência de estudantes de sexos diferentes para conhecerem as diversidades de gêneros, desenvolverem uma postura de inconformidade com relação a Educação Física em foco 38 essas diferenças e promoverem práticas de superação das meninas sobre os meninos. ( ) b - as aulas mistas de Educação Física permitem que meninos e meninas convivam, se observem, se descubram e aprendam a se respeitar, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir relações autoritárias. ( ) c- as aulas mistas de Educação Física devem ser mescladas com aulas separadas por sexo, para propiciar momentos de diversão (aulas mistas), de aprendizados técnicos (aulas separadas) e de desenvolvimento de uma postura de tolerância entre os gêneros. ( ) d - as aulas mistas de Educação Física devem ser intercaladas com aulas separadas por sexo, para promover momentos de convivência pacífica, de conscientização para os alunos do sexo masculina e de desenvolvimento de uma postura de tolerância entre os sexos. ( ) e - as aulas mistas de Educação Física tem o objetivo de levar os estudantes, que são os futuros cidadãos, a reproduzi a concepção histórica sobre a inferioridade feminina, sendo, por esse motivo, fundamentais no contexto da educação básica. Gabarito Questão 1 – Letra C. Questão 2 – Letra C. Questão 3 – Letra B. Educação Física em foco 39 REFERÊNCIAS BARROSO, A. L. R.; DARIDO, S. C. A pedagogia do esporte e as dimensões dos conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal. 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Educação Física em foco 42 Educação Física em foco 43 UNIDADE 2 MOTRICIDADE HUMANA/CORPOREIDADE (O CONHECIMENTO SOBRE O CORPO HUMANO) OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade você deverá ser capaz de: • econhecer novas formas de ver a dança; • entender os diferenciais do conteúdo pedagógicos da dança na Educação Física baseado nos PCN; • analisar os aspectos metodológicos que envolvem a dança, atividades rítmicas na Educação Física escolar; • conhecer os aspectos do jogo, esporte, ginástica e luta que devem ser trabalhados na Educação Física escolar; • analisar os aspectos que caracterizam a Educação Física relacionada à saúde. sar os aspectos metodológicos que envolvem a Educação Física escolar. PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em dois tópicos. Em cada um deles, você encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos abordados. TÓPICO 1 – LINGUAGEM CORPORAL NA ESCOLA TÓPICO 2 – ASPECTOS DO JOGO, ESPORTE, GINÁSTICA E LUTA NA ESCOLA TÓPICO 3 – EDUCAÇÃO FÍSICA E SAÚDE Educação Física em foco 44 Educação Física em foco 45 ------ [ TÓPICO 1 – LINGUAGEM CORPORAL NA ESCOLA ] ------ Neste tópico, você verá os conteúdos relacionados à cultura do movimento que diz respeito à linguagem corporal que engloba a dança, atividades rítmicas, brinquedos cantados, bem como suas caraterísticas pedagógicas, curriculares e sociais. 1 DANÇA, ATIVIDADE RÍTMICA E LINGUAGEM CORPORAL NA ESCOLA Na medida em que a Educação Física lida, pedagogicamente, com expressões da cultura, então, pela educação do corpo também se difunde uma determinada ordem cultural, da qual a cultura corporal é constitutiva e constituinte (BRASILEIRO; MARCASSA, 2008). Caro(a) acadêmico(a)! Vamos entender a partir da leitura a seguir como a dança é uma importante forma de linguagem corporal, da cultura que pode e deve ser explorada pelo professor de Educação Física. Marques (1997) explica que a dança seria o primo da educação e assim os educadores buscaram incorporar a dança nos currículos, programas educacionais, como em 1992, a dança passou a fazer parte do Regimento da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo como linguagem artística diferenciada. Segundo Oliveira (2001, p. 14), a dança pode ser considerada como uma das “atividades físicas mais significativas para o homem antigo, utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, praticada por todos os povos, desde o paleolítico superior (60.000 a.C.)". No Brasil e no mundo, a dança vem ganhando cada vez mais espaço pelos benefícios comprovados que, de acordo com Gariba (2005), vão desde a melhora da autoestima, passando pelo combate ao estresse, depressão, até o enriquecimento das relações interpessoais. A dança, por ser uma das principais manifestações instintivas, faz parte da natureza humana (TONELI, 2007), sendo uma atividade completa em vários Educação Física em foco 46 aspectos. Veja na figura a seguir os aspectos que a dança aborda enquanto atividade. FIGURA 7. ASPECTOS DA DANÇA FONTE: TONELI (2007) A dança e as brincadeiras cantadas fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 38) da Educação Física, no bloco atividades rítmicas, como “manifestações da cultura corporal que têm como características comuns a intenção de expressão e comunicação mediante gestos e a presença de estímulos sonoros como referência para o movimento corporal”. Strazzacappa (2001) aponta que o movimento corporal leva o aluno a sentir o mundo e por ele ser sentido e que uma das formas seria pela dança, pois esta proporciona experiências com atividades motoras de real importância para as relações interpessoais, proprioceptivas, ambientais, necessárias ao desenvolvimento infantil, ou seja, o processo de ensino e aprendizagem por meio das atividades rítmicas deve se apresentar como intermédio entre o saber, corpo e movimento. Nos PCN são descritas algumas características que devem ser abordadas na dança enquanto linguagem corporal: Os conteúdos deste bloco são amplos, diversificados e podem variar muito de acordo com o local em que a escola estiver inserida. Sem dúvida alguma, resgatar as manifestações culturais tradicionais da coletividade, por intermédio principalmente das pessoas mais velhas é de fundamental importância. A pesquisa sobre danças e brincadeiras cantadas de regiões distantes, Educação Física em foco 47 com características diferentes das danças e brincadeiras locais, pode tornar o trabalho mais completo. Por meio das danças e brincadeiras os alunos poderão conhecer as qualidades do movimento expressivo como leve/pesado, forte/fraco, rápido/ lento, fluido/interrompido, intensidade, duração, direção, sendo capaz de analisá-los a partir destes referenciais; conhecer algumas técnicas de execução de movimentos e utilizar-se delas; ser capazes de improvisar, de construir coreografias, e, por fim, de adotar atitudes de valorização e apreciação dessas manifestações expressivas (BRASIL, 1997, s.p.). Podemos nos perguntar se a dança inserida na escola como uma atividade rítmica deve ser predominante técnica? A dança tem, sim, um caráter técnico, mas no âmbito escolar cabeao professor de Educação Física não estar centrado predominantemente no domínio técnico da dança, mas na possibilidade de incorporação das muitas técnicas de execução que possibilitem a sua transferência para várias outras situações ou contextos, levando o aluno a vivências diversificadas, proporcionando experiências de manifestação corporal (RONDON et al., 2010). Surge como uma alternativa dessa forma de dança na escola, a dança criativa como uma alternativa de variação de movimentos codificados e rígidos (RONDON et al., 2010). A dança estimula a criatividade e a memorização e, ao praticá-la, somos induzidos a entrar em contato e nos interessarmos por conhecer fatos, narrações, histórias e costumes da humanidade acerca da evolução e até de outras culturas (ARCE; DÁCIO, 2007). Proporcionar o desenvolvimento da criatividade reforça as interações com o meio sociocultural, não sendo uma simples determinação biológica, mas uma possibilidade a ser construída com/através das aulas de dança. Pelo fato de a dança trabalhar diversos aspectos, como a coordenação motora, agilidade, ritmo e percepção espacial; desenvolve a musculatura corporal de forma integrada e natural; permitir uma melhora na autoestima e quebra de diversos bloqueios psicológicos; possibilitar o convívio e aumento do rol de relações sociais (ARCE; DÁCIO, 2007). Na escola, o professor pode explorar o movimento da dança, ou seja, dançar é combinar movimentos e mais movimentos, formas e mais formas, Educação Física em foco 48 modificando-os, refinando-os, entendendo-os com todos os aspectos psíquicos de possibilidade de intervenção e de elaboração (MANSUR, 2003). É neste sentido que devemos superar o ensino em que o professor transmite e o estudante apenas reproduz. Assim surge a improvisação em dança, um aspecto dentro da dança criativa, que é um caminho que favorece: FIGURA 8. ASPECTOS DA DANÇA IMPROVISAÇÃO FONTE: Mansur (2003) Somado às características da dança improvisação, a dança como atividade pedagógica, segundo Carvalho e Silva et al. (2012), objetiva: • proporcionar atividades de desenvolvimento da memória, do raciocínio, da autoestima e autoconfiança; • estimular a capacidade de solucionar problemas de maneira criativa; • fazer com que a criança tenha uma melhor relação consigo mesma e com os outros; • ampliar seu repertório de movimentos, despertando no aluno uma relação concreta de sujeito-mundo. Devemos pensar a dança, caro acadêmico, como uma atividade rítmica que deve ser centrada no aluno, com participação em todo o contexto escolar e não somente em festas juninas e em demais festejos escolares, atuando ativamente na interdisciplinaridade, na qual tem sentido profundo e desempenha papel integrador plural e interdisciplinar no processo formal e não formal da educação (SOUSA; Educação Física em foco 49 HUNGER; CARAMASCHI, 2010). Os PCN (BRASIL, 1997, s.p.) apontam uma lista de sugestão de danças e outras atividades rítmicas e/ou expressivas que podem ser abordadas e deverão ser adaptadas a cada contexto: • danças brasileiras: samba, baião, valsa, quadrilha, afoxé, catira, bumba-meu-boi, maracatu, xaxado etc.; • danças urbanas: rap, funk, break, pagode, danças de salão; • danças eruditas: clássicas, modernas, contemporâneas, jazz; • danças e coreografias associadas a manifestações musicais: blocos de afoxé, olodum, timbalada, trios elétricos, escolas de samba; • lengalengas; • brincadeiras de roda, cirandas; • escravos-de-Jó. Veja, na tabela a seguir, alguns estudos com dança na escola e seus benefícios aos alunos. QUADRO 5. ESTUDOS DE CAMPO COM A DANÇA NA ESCOLA Estudo/ referência Sujeitos/ Idade (anos)/ sexo Intervenção Duração (semanas) Resultados Mota, Mota e Liberali (2012) 20 alunas (11 - 16 anos) Objetivo = nível de motivação e autoestima de adolescentes do sexo feminino de um projeto social de dança - projeto de dança para atendimento à família, visando a criar condições para prevenir situações de risco. - A dança é um dos serviços oferecidos como uma atividade socioeducativa. - a dança é “muito importante” para a saúde. - querem ser bailarinos quando crescerem. - aprender novas danças. - boa autoestima. - adolescentes que dançam aceitam o projeto social como um caminho na realização de um grande sonho; “ser uma bailarina quando crescer”, com novas experiências. Educação Física em foco 50 Castro et al. (2011) 115 alunas (05 - 66 anos) Objetivo = avaliar a socialização - projeto de dança com 18 aulas. - vivências de danças, vídeos, historinhas etc. - gostam de dançar em grupo. - gostam de se apresentar. - a dança trouxe receptividade. - a dança trouxe ludicidade, musicalidade, socialização e movimentos variados. Educação Física em foco 51 ------ [ RESUMO DO TÓPICO 1 ] ------ Neste tópico, você viu que: • A dança é uma importante forma de linguagem corporal que pode e deve ser explorada pelo professor de Educação Física. • A dança foi incorporada nos currículos e em programas educacionais, desde 1992, nas escolas municipais de São Paulo como linguagem artística diferenciada. • A dança foi usada como atividades físicas mais significativas para o homem antigo, desde o paleolítico superior (60.000 a.C.). • No Brasil e no mundo, a dança vem ganhando cada vez mais espaço pelos benefícios comprovados. • Alguns benefícios da dança podem ser a melhora da autoestima, combate ao estresse, depressão, até o enriquecimento das relações interpessoais. • A dança e as brincadeiras cantadas fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) da Educação Física no bloco atividades rítmicas. • Para os PCN, a dança é uma manifestação da cultura corporal que tem como característica comum a intenção de expressão e comunicação. • A dança proporciona experiências com atividades motoras de real importância para as relações interpessoais, proprioceptivas, ambientais. • A dança auxilia no desenvolvimento infantil, ou seja, o processo de ensino e aprendizagem por meio das atividades rítmicas deve-se apresentar como intermédio entre o saber, corpo e movimento. • A dança no âmbito escolar não está centrada predominantemente no domínio técnico, mas nas experiências de manifestação corporal. Educação Física em foco 52 • A dança criativa é uma alternativa de variação de movimentos codificados e rígidos. • A dança estimula a criatividade e a memorização. • A dança proporciona as interações com o meio sociocultural, não sendo uma simples determinação biológica, mas uma possibilidade a ser construída com/ através das aulas de dança. • A dança trabalha diversos aspectos, como a coordenação motora, agilidade, ritmo e percepção espacial; desenvolve a musculatura corporal de forma integrada e natural; permitir uma melhora na autoestima e quebra de diversos bloqueios psicológicos; possibilitar o convívio e aumento do rol de relações sociais. • Na escola o professor pode explorar o movimento da dança, combinando movimentos e mais movimentos. • A improvisação em dança trona-se com a dança criativa uma opção na escola de trabalhar a criatividade, a experimentação, a superação dos modelos e a espontaneidade. • A dança, como atividade pedagógica, proporciona atividades de desenvolvimento da memória, do raciocínio, da autoestima e da autoconfiança. • A dança faz com que a criança tenha uma melhor relação consigo mesma e com os outros e amplia seu repertório de movimentos, despertando no aluno uma relação concreta de sujeito-mundo. • A dança é uma atividade rítmica que deve ser centrada no aluno, com participação em todo o contexto escolar. Educação Física em foco 53 AUT OAT IVID ADE � Questão 1: QUESTÃO 30 do ENADE (2014). FONTE: Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/enade/provas-e-gabaritos-2015>. Acesso em: 7 jun. 2016. A Resolução CNE/CEB 2/2010, que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, prevê que a Educação Física
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