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Lei de Crimes Hediondos: crimes hediondos e equiparados Direito Penal IV – prof. André Grandis // 31/03/2020 Sugestões de referências bibliográficas • ARAÚO, Fábio Roque; ALENCAR, Rosmar Rodrigues; TÁVORA, Nestor. Legislação Criminal Especial para Concursos. Editora JusPodivm • CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista; SOUZA, Renee. Leis Penais Especiais – Comentadas Artigo por Artigo. Editora JusPodivm • HABIB, Gabriel. Leis Especiais para Concursos. Leis Penais Especiais. volume único. Editora JusPodivm, • LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. Editora JusPodivm PREVISÃO CONSTITUCIONAL Art. 5º, XLIII, CRFB/88 - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura , o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 Art. 1o da Lei 8.072/90. São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados: I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII); CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 II - roubo: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º); (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte (art. 158, § 3º); (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o); V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o); VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 VII-A – (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) CRIMES HEDIONDOS – LEI 8.072/90 VII-A – (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998). VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º). IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS ** O parágrafo único trata dos crimes equiparados a hediondos Art. 1º, Parágrafo único, da Lei 8.072/90. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) CRIMES EQUIPARADOS A HEDIONDOS Observação Art. 1º, Parágrafo único, da Lei 8.072/90. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados: II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) O entendimento que tem prevalecido na doutrina é de que são crimes hediondos tanto o tipo penal previsto no caput do art. 16 da Lei n. 10.826/03, quanto em seu Parágrafo Único, que traz as modalidades assemelhadas. REGRASA MAIS RÍGIDAS Art. 2º da Lei 8.072/90. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I - anistia, graça e indulto; II - fiança. § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. REGRASA MAIS RÍGIDAS Art. 2º da Lei 8.072/90. § 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. § 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal). (Redação dada pela Lei nº 13.769, de 2018) (Revogado pela Lei nº 13.964, de 2019) ATENÇÃO À JURISPRUDÊNCIA Súmula Vinculante 26: “Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico”. ATENÇÃO À JURISPRUDÊNCIA Súmula 471 do STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”. OBS.: Até 28/03/2007, exigia-se o cumprimento inicial de 1/6 da pena, para obter a melhoria. A partir de 29/03/2007, com a entrada em vigor da Lei 11.464/2007, se for réu primário cumpre 2/5 da pena, se for reincidente 3/5 da pena. REGRASA MAIS RÍGIDAS Art. 2º da Lei 8.072/90. § 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. § 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. REGRASA MAIS RÍGIDAS Art. 3º da Lei 8.072/90. A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduaisponha em risco a ordem ou incolumidade pública. ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA E LEI 8.072/90 Art. 8º da Lei 8.072/90. Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços. ALTERAÇÕES NO CP E VULNERABILIDADE PRESUMIDA Art. 9º da Lei 8.072/90. As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts. 157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas no art. 224 também do Código Penal. OBS.: O art. 224 do CP tratava de vulnerabilidade presumida e foi revogado pela Lei 12.015/2009 Lei de Tortura – Lei 9.455/97 Direito Penal IV – prof. André Grandis // 31/03/2020 PREVISÃO CONSTITUCIONAL Art. 5º, III, CRFB/88 - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; Art. 5º, XLIII, CRFB/88 - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984 (Decreto nº. 40/1991) ARTIGO 1º . 1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram. Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984 (Decreto nº. 40/1991) ARTIGO 2º . 1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição. 2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública como justificação para tortura. 3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade pública não poderá ser invocada como justificação para a tortura. Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984 (Decreto nº. 40/1991) ARTIGO 3º . 1. Nenhum Estado Parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de uma pessoa para outro Estado quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida a tortura. 2. A fim de determinar a existência de tais razões, as autoridades competentes levarão em conta todas as considerações pertinentes, inclusive, quando for o caso, a existência, no Estado em questão, de um quadro de violações sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos. Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes de 1984 (Decreto nº. 40/1991) ARTIGO 4º . 1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua cumplicidade ou participação na tortura. 2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas adequadas que levem em conta a sua gravidade. Crime de tortura – Lei 9.455/97 Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. Constitui crime de tortura: I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c) em razão de discriminação racial ou religiosa; Crime de tortura – Lei 9.455/97 Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. Constitui crime de tortura: II - submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo. Pena - reclusão, de dois a oito anos. § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal. Crime de tortura – Lei 9.455/97 Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. §2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos. OBS.: Trata-se de: • Crime comissivo por omissão (omissivo impróprio) • Tipo penal autônomo de menor potencial ofensivo • Espécie não submetida à Lei de Crimes Hediondos Crime de tortura – Lei 9.455/97 Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. § 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos. Espécies/denominações de tortura - Lei 9.455/97 PREVISÃO LEGAL ESPÉCIE DE TORTURA Art. 1º, I, “a”, da Lei 9.455/97 tortura-prova, tortura-institucional, tortura-inquisitorial, tortura-confissão Art. 1º, I, “b”, da Lei 9.455/97 tortura-meio ou tortura-crime Art. 1º, I, “c”, da Lei 9.455/97 tortura-discriminatória ou tortura- racismo Art. 1º, II, da Lei 9.455/97 tortura-castigo Art. 1º, §1º, da Lei 9.455/97 forma equiparada de tortura-castigo ou tortura do encarcerado Art. 1º, §2º, da Lei 9.455/97 tortura imprópria ou tortura-omissiva Art. 1º, §3º, da Lei 9.455/97 tortura qualificada “diversamente do previsto no tipo do inciso II do artigo 1º da Lei 9.455/97, definido pela doutrina como tortura-pena ou tortura-castigo, a qual requer intenso sofrimento físico ou mental, a tortura-prova, do inciso I, alínea ‘a’, não traz o tormento como requisito do sofrimento causado à vítima. Basta que a conduta haja sido praticada com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa e que haja causado sofrimento físico ou mental, independentemente de sua gravidade ou sua intensidade”. (STJ, REsp nº 1.580.470/PA, Data de Julgamento: 24/8/2018) Tortura-castigo(pena) X Tortura-prova Causas de aumento de pena – Lei 9.455/97 Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço: I - se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 10.741, de 2003 – Estatuto do Idoso) III - se o crime é cometido mediante sequestro. Efeitos secundários da condenação por tortura Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada. Afastamento dos benefícios Art. 1º da Lei nº. 9.455/97. § 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Regime inicial de cumprimento de pena Art. 1º da Lei nº. 9.455/97.§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado. OBS.: Lembrar do raciocínio da Súmula Vinculante 26 e da violação ao princípio da individualização da pena. Extraterritorialidade do crime de tortura Art. 2º da Lei nº. 9.455/97. O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira. Prova do crime de tortura “não é necessária a existência de sofrimento físico e mental simultaneamente para a caracterização do crime de tortura, pois a comprovação de tortura psicológica, por si só, é suficiente para a condenação” (STJ, AgRg no AREsp nº. 466.067/SP, Data de Julgamento: 21/10/2014) Atenção! Cuidado com a redação da Súmula 698 do STF: “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura.” O enunciado da Súmula 698 do STF é anterior à Súmula Vinculante 26! Lei Antiterrorismo – Lei 13.260/16 Direito Penal IV – prof. André Grandis // 31/03/2020 PREVISÃO CONSTITUCIONAL Art. 4º, VIII, CRFB/88 - A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; Art. 5º, XLIII, CRFB/88 - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; Convenção Americana contra o Terrorismo de 2002 (promulgada pelo Decreto nº. 5.639/05) Considerando que o terrorismo constitui uma grave ameaça para os valores democráticos e para a paz e a segurança internacionais e é causa de profunda preocupação para todos os Estados membros; Reafirmando a necessidade de adotar no Sistema Interamericano medidas eficazes para prevenir, punir e eliminar o terrorismo mediante a mais ampla cooperação; Convenção Americana contra o Terrorismo de 2002 (promulgada pelo Decreto nº. 5.639/05) Reconhecendo que os graves danos econômicos aos Estados que podem resultar de atos terroristas são um dos fatores que reforçam a necessidade da cooperação e a urgência dos esforços para erradicar o terrorismo; Reafirmando o compromisso dos Estados de prevenir, combater, punir e eliminar o terrorismo Convenção Americana contra o Terrorismo de 2002 (promulgada pelo Decreto nº. 5.639/05) Artigo 4º 1. Cada Estado Parte, na medida em que não o tiver feito, deverá estabelecer um regime jurídico e administrativo para prevenir, combater e erradicar o financiamento do terrorismo e lograr uma cooperação internacional eficaz a respeito, a qual deverá incluir: Terrorismo – Lei 13.260/16 Art. 1º da Lei nº. 13.260/16. Esta Lei regulamenta o disposto no inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal, disciplinando o terrorismo, tratando de disposições investigatórias e processuais e reformulando o conceito de organização terrorista. Conceito de terrorismo – Lei 13.260/16 Art. 2º da Lei nº. 13.260/16. O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. Atos de terrorismo – Lei 13.260/16 Art. 2º, §1º, da Lei nº. 13.260/16. São atos de terrorismo: I - usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa; II – (VETADO); III - (VETADO); Atos de terrorismo – Lei 13.260/16 Art. 2º, §1º, da Lei nº. 13.260/16. São atos de terrorismo: IV - sabotar o funcionamento ou apoderar-se, com violência, grave ameaça a pessoa ou servindo-se de mecanismos cibernéticos, do controle total ou parcial, ainda que de modo temporário, de meio de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia, instalações militares, instalações de exploração, refino e processamento de petróleo e gás e instituições bancárias e sua rede de atendimento; Atos de terrorismo – Lei 13.260/16 Art. 2º, §1º, da Lei nº. 13.260/16. São atos de terrorismo: V - atentar contra a vida ou a integridade física de pessoa: Pena - reclusão, de doze a trinta anos, além das sanções correspondentes à ameaça ou à violência. Atos que não se enquadram em terrorismo Art. 2º, §2º, da Lei nº. 13.260/16. O disposto neste artigo não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, visando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei. Crime de organização Terrorista Art. 3º da Lei nº. 13.260/16. Promover, constituir, integrar ou prestar auxílio, pessoalmente ou por interposta pessoa, a organização terrorista: Pena - reclusão, de cinco a oito anos, e multa. Punição autônoma de atos preparatórios Art. 5º da Lei nº. 13.260/16. Realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito inequívoco de consumar tal delito: Pena - a correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade. Punição autônoma de atos preparatórios Art. 5º da Lei nº. 13.260/16. § 1º Incorre nas mesmas penas o agente que, com o propósito de praticar atos de terrorismo: I - recrutar, organizar, transportar ou municiar indivíduos que viajem para país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade; ou II - fornecer ou receber treinamento em país distinto daquele de sua residência ou nacionalidade. Punição autônoma de atos preparatórios arrependimento posterior e desistência voluntária Art. 10 da Lei nº. 13.260/16. Mesmo antes de iniciada a execução do crime de terrorismo, na hipótese do art. 5º desta Lei, aplicam-se as disposições do art. 15 do Decreto- Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. Art. 15 do Código Penal - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados. Crime de financiamento do terrorismo Art. 6º da Lei nº. 13.260/16. Receber, prover, oferecer, obter, guardar, manter em depósito, solicitar, investir, de qualquer modo, direta ou indiretamente, recursos, ativos, bens, direitos, valores ou serviços de qualquer natureza, para o planejamento, a preparação ou a execução dos crimes previstos nesta Lei: Pena - reclusão, de quinze a trinta anos. Crime de financiamento do terrorismo Art. 6º da Lei nº. 13.260/16. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem oferecer ou receber, obtiver, guardar, mantiver em depósito, solicitar, investir ou de qualquer modo contribuir para a obtenção de ativo, bem ou recurso financeiro, com a finalidade de financiar, total ou parcialmente, pessoa, grupo de pessoas, associação, entidade, organização criminosa que tenha como atividade principal ou secundária, mesmo em caráter eventual, a prática dos crimes previstos nesta Lei. Competência jurisdicional e atribuição investigatória Art. 11 da Lei nº. 13.260/16. Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei são praticados contra o interesse da União, cabendo à Polícia Federal a investigação criminal, em sede de inquérito policial, e à Justiça Federal o seu processamento e julgamento, nos termosdo inciso IV do art. 109 da Constituição Federal. Quais crimes da Lei de Antiterrorismo devem ser equiparados a hediondos? 1ª Corrente (Débora de Souza Almeida): Somente o artigo 2º da Lei n°. 13.260/16, que anuncia os atos de terrorismo, crimes de terrorismo propriamente dito, de que trata a Constituição Federal. Os demais crimes são relacionados ao de terrorismo e não são hediondos. Isso resta evidenciado pelo art. 19 da Lei 13.260/16. 2ª Corrente (Rogério Sanches Cunha): todos os crimes da Lei nº. 13.260/16 são equiparados a hediondos, pois a Constituição Federal equipara a hediondo o terrorismo e não os atos terroristas apenas. Todos os crimes da Lei nº. 13.260/16 são de terrorismo no sentido constitucional, de forma que são todos equiparados a hediondos. A corroborar, ainda, segue o art. 17 da Lei nº. 13.260/16, que remete à aplicação da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) aos crimes previstos na Lei nº. 13.260/16.
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