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Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO FUNDAMENTAL REITOR Prof. Ms. Gilmar de Oliveira DIRETOR DE ENSINO PRESENCIAL Prof. Ms. Daniel de Lima DIRETORA DE ENSINO EAD Prof. Dra. Giani Andrea Linde Colauto DIRETOR FINANCEIRO EAD Prof. Eduardo Luiz Campano Santini DIRETOR ADMINISTRATIVO Guilherme Esquivel SECRETÁRIO ACADÊMICO Tiago Pereira da Silva COORDENAÇÃO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza COORDENAÇÃO ADJUNTA DE ENSINO Prof. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo COORDENAÇÃO ADJUNTA DE PESQUISA Prof. Ms. Luciana Moraes COORDENAÇÃO ADJUNTA DE EXTENSÃO Prof. Ms. Jeferson de Souza Sá COORDENAÇÃO DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE GESTÃO E CIÊNCIAS SOCIAIS Prof. Dra. Ariane Maria Machado de Oliveira COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE T.I E ENGENHARIAS Prof. Me. Arthur Rosinski do Nascimento COORDENAÇÃO DOS CURSOS - ÁREAS DE SAÚDE E LICENCIATURAS Prof. Dra. Katiúscia Kelli Montanari Coelho COORDENAÇÃO DO DEPTO. DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS Luiz Fernando Freitas REVISÃO ORTOGRÁFICA E NORMATIVA Beatriz Longen Rohling Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Caroline da Silva Marques Eduardo Alves de Oliveira Jéssica Eugênio Azevedo Marcelino Fernando Rodrigues Santos PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO Hugo Batalhoti Morangueira Vitor Amaral Poltronieri ESTÚDIO, PRODUÇÃO E EDIÇÃO André Oliveira Vaz DE VÍDEO Carlos Firmino de Oliveira Carlos Henrique Moraes dos Anjos Kauê Berto Pedro Vinícius de Lima Machado Thassiane da Silva Jacinto As imagens utilizadas neste material didático são oriundas dos bancos de imagens Shutterstock . 2023 by Editora Edufatecie. Copyright do Texto C 2023. Os autores. Copyright C Edição 2023 Editora Edufatecie. O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. https://www.shutterstock.com/pt/ 3 AUTORA Fabiane Fantacholi Guimarães ●Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias (Universidade Pitágoras Unopar). ● Licenciatura e Bacharel em Pedagogia (CESUMAR). ● Especialista em Psicopedagogia Institucional (Faculdade Maringá) ● Especialista em Educação Especial (Faculdade de Tecnologia América do Sul) ● Especialista em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais (UniCESUMAR). ● Especialista em Docência no Ensino Superior (UniCESUMAR). ● Especialista em Tecnologias Aplicadas no Ensino A Distância (UniFCV). ● Professora orientadora de trabalho de conclusão de curso da Pós-Graduação (UniFCV). ● Professora conteudista na área da Educação (UniFCV/UniFATECIE). ● Professora de disciplinas de Pós-Graduação na área da Educação (UniFEV). ● Coordenadora de cursos EAD de Pós-Graduação na área da Educação (UniFCV). ● Supervisora de Cursos EAD de Graduação na área da Educação (UniFCV). ● Psicopedagoga do Núcleo de Atendimento Escolar (NEA). ● Experiência na Educação Básica há 9 anos. ● Experiência no Ensino Superior (presencial e a distância) desde 2012 até os dias atuais. Acesse meu currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/7315666246327967 http://lattes.cnpq.br/7315666246327967 4 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Olá, prezado(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) aos estudos sobre PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO FUNDAMENTAL, nos quais o objetivo geral desta disciplina é elencar os princípios que fundamentam as práticas pedagógicas relacionados à atuação docente do ensino fundamental - anos finais na diversidade dos espaços escolares. Esperamos que as ideias e discussões trazidas neste material didático possam mobilizar reflexões e gerar outros debates, de maneira a oportunizar a apropriação de conhecimentos sobre as práticas pedagógicas da formação do professor. Para tanto, organizamos esta obra em quatro unidades que subsidiam a discussão do Ensino de Arte em diferentes contextos, bem como introdução, conclusão e referências. Na Unidade I, com o tema A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL E A PRÁ- TICA PEDAGÓGICA NO ENSINO FUNDAMENTAL, cujos conteúdos de destaque são: ● Profissionalização docente: trabalho docente, formação docente, profissionalização docente, autonomia e a identidade profissional do docente. ● Aspectos históricos da formação docente no ensino fundamental - anos finais no Brasil: aspectos legais da formação inicial docente, Lei de diretrizes e bases da edu- cação nacional (LDBEN/96), diretrizes curriculares nacionais dos cursos de licencia- tura, plano nacional de educação. ● Ensino fundamental no Brasil: ensino fundamental e seus principais desafios, ensino fundamental no campo das políticas educacionais. Na Unidade II, com o tema CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL, cujos conteúdos de destaque são: ● Formação de professores na pedagogia tradicional, escolanovista, libertadora e histórico-crítica. ● Professor reflexivo e a pesquisa sobre a prática, a importância do estágio na formação de professores e a escola como lócus da formação. ● Inclusão, EAD, tecnologias e formação de professores. Na Unidade III, com o tema A ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA, cujos conteúdos de destaque são: ● Algumas teorias da aprendizagem: teoria do condicionamento, teoria da Gestalt, teoria de campo, teoria cognitiva, teoria fenomenológica. ● Professores e Alunos: relação dinâmica, interação social, percepção, clima psicológico. 5 ● A relação entre teoria e prática. Na Unidade IV, com o tema OS EIXOS NORTEADORES DA PRÁTICA PEDAGÓGICA, cujos conteúdos de destaque são: ● Prática Pedagógica e Desenvolvimento Humano. ● Prática Pedagógica, Educação e Sociedade. ● Prática Pedagógica e os Saberes Docentes. Por fim, lembre-se, caro(a) graduando(a), que o texto apresentado não esgota todas as possibilidades de pensar e refletir acerca das temáticas abordadas, mas iniciará momentos importantes e oportunos para a compreensão das análises realizadas acerca das temáticas propostas. Para tanto, cumpre destacar que ao final de cada unidade você encontrará uma conclusão do texto realizado, a fim de facilitar seus estudos e compreensão. Assim, vamos dar início ao nosso trabalho. Tenha uma ótima leitura e não se esqueça: este é só seu primeiro passo no campo da PRÁTICA DE ENSINO DAS MATÉRIAS PEDAGÓGICAS DO ENSINO FUNDAMENTAL! Faça outras viagens, teça outras teias e consolide seu conhecimento no campo da formação humana. Vamos aos estudos! SUMÁRIO UNIDADE 1 A Formação do Professor no Brasil UNIDADE 2 Concepções, Teorias e Tendências da Profissionalização Docente no Brasil UNIDADE 3 A Articulação Entre Teoria e Prática UNIDADE 4 Os Eixos Norteadores da Prática Pedagógica 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • Profissionalização docente: trabalho docente, formação docente, profissionaliza- ção docente, autonomia e a identidade profissional do docente; • Aspectos históricos da formação docente no ensino fundamental - anos finais no Brasil: aspectos legais da formação inicial docente, Lei de diretrizes e bases da educação nacional (LDBEN/96), diretrizes curriculares nacionais dos cursos de licenciatura, plano nacional de educação (PNE); • Ensino fundamental no Brasil: ensino fundamental e seus principais desafios, ensino fundamental no campo das políticas educacionais. Objetivos da Aprendizagem ● Conceituar a profissionalização docente, abordar os seguintes assuntos: trabalho docente, formação docente, profissionalização docente, autonomia e a identidade profissional do docente. ● Abordar as implicações para a formação docente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/96) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Licen- ciatura. Também discutir brevemente as metas do Plano Nacional de Educação. ● Tratar sobre o ensino fundamental - etapa da educação básica com nove anos de obrigatoriedade, bem como abordar aspectos como constituição, legislação específica, funcionamento, duração, oferta, demanda, currículo, metodologia e políticas educacionais. 1UNIDADEUNIDADE A FORMAÇÃO DO A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASILPROFESSOR NO BRASIL Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães INTRODUÇÃO UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL 8 Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à Unidade I da disciplina de Prática de Ensino das Matérias Pedagógicas do Ensino Fundamental. Nesta Unidade intitulada, “A formação do professor no Brasil”, iniciaremos abordando um tema muito importante, o conceito de profissionalização docente, abordar aspectos históricos da formação docente no ensino fundamental - anos finais no Brasil e, por fim, tratar sobre o ensino fundamental no Brasil. A partir desta unidade, outros temas serão desenvolvidos, cada qual se articulará com a ideia de profissionalização docente. Serão centrais na discussão, os conceitos de trabalho, formação e profissionalização docente. Esses três conceitos devem ser entendidos de forma articulada, além de estarem relacionados com questões da autonomia e identidade docente, bem como com a definição dos conceitos necessários para a formação e atuação do professor na direção da constituição da práxis pedagógica. Além disso, vamos discutir aspectos centrais da legislação educacional que interferem na formação de professores. No nosso país, temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), que define questões gerais a respeito da formação de professores. Também é importante conhecermos, em linhas gerais, o Plano Nacional de Educação (PNE) e as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Licenciatura (DCN), os quais interferem diretamente na direção das políticas educacionais voltadas para a formação docente. Para fechar a unidade, vamos tratar sobre o ensino fundamental no Brasil, o qual é a segunda etapa da educação básica em nosso país, bem como abordar aspectos como constituição, legislação específica, funcionamento, duração, oferta, demanda, currículo, metodologia e políticas educacionais. A compreensão desta primeira unidade contribuirá para a sua formação em seu Curso Superior. Boa leitura e bons estudos! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Acadêmico(a), vamos iniciar este tópico abordando um tema muito importante, o conceito de profissionalização docente, em que trabalharemos os seguintes assuntos: trabalho docente, formação docente, profissionalização docente, autonomia e a identidade profissional do docente. Todos os itens a serem trabalhados visam propiciar reflexão crítica sobre os assuntos, de modo que seja possível relacionar a teoria estudada com aspectos importantes da prática pedagógica. 1.1 Trabalho docente Para entender o trabalho docente, precisamos, primeiramente, compreender o conceito genérico de trabalho humano: A medida em que determinado ser natural se destaca da natureza e é obrigado, para existir, a produzir sua própria vida é que ele se constitui propriamente enquanto homem. Em outros termos, diferentemente dos animais, que se adaptam à natureza, os homens têm que fazer o contrário: eles adaptam a natureza a si. O ato de agir sobre a natureza, adaptando-a às necessidades humanas, é o que conhecemos pelo nome de trabalho. Por isto podemos dizer que o trabalho define a essência humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua própria existência através do trabalho. Isto faz com que a vida do homem seja determinada pelo modo como ele produz a sua existência (SAVIANI, 1994, p. 152). O trabalho humano, portanto, entendido de forma genérica, é a maneira como as pessoas produzem as condições da sua existência. A partir da definição de trabalho em geral, podemos compreender a especificidade do tipo de trabalho realizado pelo profes- . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE TÓPICO 9 10UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL sor. O trabalho docente é uma forma específica de trabalho que pode ser entendida como “trabalho não-material”. Isso significa que esse tipo de trabalho difere de outros que geram coisas físicas, materiais, ou seja, um trabalho não material não gera um produto que tenha corporeidade, mas, sim, conhecimentos, valores, ideias, cultura (SOARES, 2020). Dessa forma, o trabalho do professor é diferente, por exemplo, do trabalho de um confeiteiro. O produto do trabalho do confeiteiro, o biscoito ou o bolo, tem corporeidade física. Já o produto do trabalho docente dispõe no “âmbito do conhecimento, da alteração de consciência, da formação humana”. No entanto, isso “não significa que esses tipos de trabalho não sejam articulados e não dependam um do outro, na medida em que se desenvolvem as relações sociais” (SOARES, 2020, p. 7). Ensinar exige certo domínio teórico-prático presente na relação indissociável conteúdo-forma. No entanto, embora, o trabalho docente sistematicamente organizado seja um ato consciente e intencionalmente planejado, nem sempre há clareza, por parte do professor, sobre quais são as bases teóricas, epistemológicas (relacionadas ao como se conhece) e ontológicas (relacionadas ao que é o conhecimento) sobre que se firma o seu trabalho. Isso nos parece decisivo para a própria possibilidade de desenvolvimento e efetividade da atividade de que se trata (SOARES, 2008, p. 23, apud SOARES, 2020, p. 7). Portanto, a citação acima remete-nos a uma reflexão sobre a relação entre a compreensão de trabalho docente e a necessidade de formação docente. Trabalho e formação docente são dois termos relacionados, dependentes, e não existem isoladamente. A formação de professores é elemento indispensável para a atuação profissional do professor. 1.2 Formação docente Conforme já definimos anteriormente, o trabalho docente é uma forma de trabalho não-material, pois está inserido no âmbito da produção de conhecimentos, ideias e valores. Dessa forma, esta definição tambémrecai sobre o entendimento de formação de professores. Se o conhecimento muda constantemente e o professor trabalha diretamente com ele, esse profissional precisa de uma formação de qualidade. Vamos então, procurar entender o conceito de formação: [...] quando falamos sobre formação de professores, estamos nos referindo à ideia de formar para a ação, formar para a atuação profissional, para a qualificação do trabalho a ser realizado. Essa formação ocorre num processo contínuo e não linear, que envolve toda a vida pessoal e profissional do professor, desde suas experiências formativas estabelecidas nos diferentes espaços de convívio social, até a qualificação formal, por meio dos cursos de formação inicial e continuada (ALMEIDA; SOARES, 2012, p. 36-37, grifo da autora). 11UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Conforme vimos, a formação envolve toda a vida do professor e, de maneira institucional, pode ser inicial ou continuada. A formação inicial é realizada nos cursos de Formação de Docentes em nível médio (Magistério) ou, preferencialmente, nos cursos superiores, de licenciaturas (Pedagogia, Geografia, Matemática, História, entre outros) para atuar na educação básica. Além da formação inicial, o professor precisa estudar continuamente; por isso, precisa de formação continuada, permanente e também em serviço. O desenvolvimento profission- al docente dá-se com base no tripé: formação inicial, formação continuada e experiência profissional, que ocorre na própria escola, na aprendizagem que realiza no seu cotidiano. 1.3 Profissionalização docente Buscar compreender a profissionalização docente significa pensar como se concede para uma pessoa o status de professor e, isso se dá, em uma primeira etapa, por meio de curso de formação inicial. Ao tratar sobre o conceito de profissionalização docente, pre- cisamos entender inicialmente que existe, de fato, um processo de tornar-se professor, ou seja, existe um desenvolvimento profissional docente. E, conforme já abordamos, esse desenvolvimento envolve três aspectos centrais: formação inicial, formação continuada e experiência profissional. Alguém torna-se professor, não por ter acesso apenas a um desses aspectos ou momentos, mas por ter a vivência privilegiada e articulada dos três. “Ser profissional signifi- ca ser habilitado para exercer uma profissão e, no caso do professor, exige boa formação inicial, que é sua base teórica e metodológica", e uma sólida formação continuada, “que lhe dá aporte para atualização constante, além da experiência profissional, toda a vivência no seu cotidiano, as dificuldades, desafios e superações que o exercício profissional pode propiciar diariamente” (SOARES, 2020, p. 8-9). As marcas de identidade dessa profissão apontam para um fazer voca- cionado, como um ato de fé, mas que no decorrer do desenvolvimento da escola assume a condição de profissão. Uma das características fundamentais da profissão docente é acreditar na educabilidade de seus alunos. A maioria dos professores considera muito importante gostar do que faz, ou seja, além do conhecimento, sabemos que essa profissão envolve sentimentos. Além disso, a educação como prática social incorpora significado social para essa profissão. Implica compromisso, cientificidade, coletividade competência e comunicab- ilidade. Torna-se inadmissível realizarmos o ensino mecanicamente (ROMANOWSKI, 2012, p. 19). Ser professor é mais do que assumir uma vocação. Não é algo inato, que nasce com a pessoa naturalmente, mas sim uma profissão historicamente constituída, que responde aos interesses da sociedade em determinado espaço e tempo, e que envolve múltiplas questões, como: compromisso, coletividade, competência e comunicabilidade (ROMANOWSKI, 2012). 12UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Assim, podemos concluir ressaltando que a qualidade da profissionalização docente depende de uma série de fatores, envolvendo a formação inicial destinada aos professores, bem como o acesso à formação continuada e experiências formativas enriquecedoras que acompanhem a prática profissional dos educadores. 1.4 Autonomia e Identidade docente Como se constrói a autonomia e a identidade docente? Por autonomia docente, compreende-se a possibilidade de o professor poder definir sua metodologia de trabalho, suas estratégias e encaminhamentos metodológicos, a perspectiva com que desenvolverá os conteúdos com seus alunos e, inclusive, o proces- so avaliativo. Entretanto, é preciso ressaltar que a autonomia constrói-se com seriedade e responsabilidade, pois é sempre uma autonomia relativa ao projeto político-pedagógico da instituição, às normas emanadas das mantenedoras de ensino e à legislação educacional. Também devemos refletir sobre a identidade docente, sobre como identificamos-nos com nossa profissão e com nossos colegas de trabalho (SOARES, 2020). Mas veja, essa identidade não é dada, ao contrário, é construída tanto pelo indivíduo ao longo de sua vida como pelo coletivo de profissionais de uma determinada categoria de trabalhadores. Na configuração profissional dessa categoria incluem-se as experiências realizadas no cotidiano, referenciadas, cultural e historicamente - no espaço social que unifica e corporifica -, conferindo um status social a cada profissão. Igualmente, são incorporadas lutas, conflitos, problemas, avanços de cada categoria (ROMANOWSKI, 2012, p. 18). Sendo assim, a conformidade docente é muito mais que uma questão individual, ela é parte da ideia de coletivo, de classe, de categoria de trabalho a qual pertencemos. Transformando em necessidade o saber que se é professor, dentro de um contexto específico no qual estamos inserido, para que haja consciência de classe. O processo de constituição da identidade profissional é de desenvolvimento permanente, coletivo e individual, no confronto do velho com o novo, frente aos desafios de cada momento sócio-histórico. Essa identidade contém, ao mesmo tempo, a unidade ensinar, uma multiplicidade de amplitude pela natureza da educação prática social, como uma série de interesses, significados e possibilidades (ROMANOWSKI, 2012). Essa série de significados e interesses diversos, que envolve a profissionalização docente, dá-nos uma ideia da dimensão complexa dessa profissão, dada a sua importância no campo da formação humana. 13UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Para saber mais sobre “profissionalização docente” indicamos a leitura do livro abaixo, no qual aborda a temática sobre a Formação de professores em diferentes níveis e modalidades de educação e ensino e apresenta o resultado de estudos que foram realizados por pesquisadores da área da educação de diferen- tes grupos de pesquisa, do Brasil e do Exterior, especificamente, no campo da formação de professores, diante das perspectivas histórica, política e pedagógica. Os capítulos desta obra evidenciam a relação entre a formação docente e os diferentes níveis e as modalidades de educação e ensino. As contribuições dos autores revelam importantes discussões para a formação inicial e continuada de professores. A formação docente apresenta-se como um processo multifacetado, em que é necessária a interconexão de vários sa- beres, sejam teóricos ou práticos. A educação sofre influências sociais, políticas e econômicas que afetam diretamente a formação docente. Ser professor demanda enfrentar as mudanças e as incertezas da área educacional, assim como os desafios impostos à carreira docente. Esta obra pretende enriquecer científica e culturalmente os professores que buscam desenvolvimento profissional em suas áreas do conhecimento. Busca, também, possibilitar ao professor e ao estudante universitário uma significativa imersão ao com- plexo processo da formação docente. Para tanto, os pesquisadores abrangem diferentes níveis de ensino: educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, educação profissional técnica de nível médioe edu- cação superior, e as modalidades de educação: Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Tec- nológica, Educação Especial, Educação Básica do Campo, Educação Escolar Indígena, Educação a Distância e Educação Escolar Quilombola. FERREIRA, J. de L. (Org.). Formação de professores em diferentes níveis e modalidades de educação e ensi- no. Curitiba/PR: Editora Appris, 2017. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 ASPECTOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL TÓPICO Acadêmico(a), neste tópico, abordaremos as implicações para a formação docente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/96) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Licenciatura. Também vamos discutir criticamente as metas do Plano Nacional de Educação. Em geral, discutir aspectos centrais da legislação educacional que interferem na formação de professores. No nosso país, temos a LDBEN, que define questões gerais a respeito da formação de professores, também é importante conhecermos, em linhas gerais, o Plano Nacional de Educação e as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Licenciatura, que interferem diretamente na direção das políticas educacionais voltadas para a formação docente. 2.1 Aspectos legais da formação inicial docente Iniciaremos, buscando conhecer aspectos gerais que norteiam legalmente a formação docente. Vamos tratar, portanto, sobre a questão da legislação educacional. Cabe indagar: O que é legislação? Qual sua importância? Como isso traz implicações para formação docente? Partiremos do seguinte entendimento de legislação: Fonte: Soares, K. e Soares, M. (2017, p. 3). 14 15UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Portanto, ao tratarmos sobre prática de pesquisa e formação de professores, precisamos, no mínimo, conhecer as leis maiores que definem aspectos relativos à formação docente no nosso país. No caso da formação de professores, trataremos ao longo deste tópico, sobre formação inicial e formação continuada. A formação inicial de um professor, nada mais é que o curso que irá habilitar o profissional para o exercício de sua profissão, consistindo na primeira etapa da profissionalização docente, na qual permitirá que o graduado possa atuar como professor. Atualmente nos deparamos com dois pontos relevantes interligados nessa etapa formativa, sendo elas, a escassez de professores habilitados em determinadas áreas do conhecimento, incluindo específicas regiões do país, e a carência de uma formação de qualidade para o crescimento do trabalho docente. Quando falamos sobre formação continuada, estamos nos referindo aos cursos realizados para atualização, ao longo da carreira docente. Sendo assim, “a formação continuada é uma exigência para todos os profissionais que querem se manter atualizados”, além de ser “uma exigência específica do trabalho docente e uma condição fundamental para que seja possível a realização da função social da escola: a garantia da efetivação do processo ensino-aprendizagem” (ALMEIDA; SOARES, 2012, p. 126-127). Ambas, tanto a formação inicial, quanto a formação continuada, precisam ser legalmente fundamentadas. Afinal, em um país de dimensões tão grandes é necessário regulamentar e padronizar,de alguma forma, a oferta desses cursos. A legislação educacional, em qualquer área específica a que se refere, auxilia a definir, normalizar e institucionalizar, colocando algumas regras que devem ser seguidas. No caso da formação docente e da educação, devem ser considerados documentos importantes, como: a Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Plano Nacional de Educação e as Diretrizes Curriculares Nacionais. Esses documentos precisam ser conhecidos por todos aqueles que se interessam em compreender a organização e o funcionamento da educação no Brasil. Afinal, “em uma sociedade democrática, a legislação, em seus diversos campos, deveria ser fruto de discussão, debate e consenso possível em prol do bem comum”. E, é por esse motivo, que elegemos nossos representantes no governo, “com intuito de que legislem em benefícios da coletividade” (SOARES, K., SOARES, M., 2017, p. 31). Contudo, não basta eleger os governantes, é preciso ainda acompanhar as suas ações depois de eleitos. Infelizmente, muitas vezes, apenas delegamos poder a algumas pessoas e não vigiamos, no sentido de verificar constantemente se estão agindo em prol do bem comum. No caso da educação e da formação docente, as leis também são im- portantes, e auxiliam no sentido de regular o desenvolvimento das práticas desenvolvidas neste campo (SOARES, 2020). Vejamos no próximo item o que define a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na- cional, bem como as Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Licenciatura para a formação inicial de professores. 16UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL 2.2 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional No Brasil, regulamentando a Constituição Federal e detalhando as definições a respeito da educação, existe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. A LDBEN define, em seu art. 62, como deve ocorrer a formação inicial dos professores que irão atuar nos anos finais do Ensino Fundamental deve ocorrer em cursos específicos de graduação, licenciatura em diversas áreas do conhecimento, como, por exemplo: Geografia, Matemática, História ou Língua Portuguesa. E, sobre a questão da formação continuada, a LDBEN indica em seu art. 67 que tal formação está relacionada com a possibilidade de valorização profissional, e indica a necessidade de aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive licença para estudar. Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público: I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos; II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licencia- mento periódico remunerado para esse fim; III - piso salarial profissional; IV - progressão funcional baseada na titulação ou habilitação, e na avaliação do desempenho; V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação, incluído na carga de trabalho; VI - condições adequadas de trabalho. (BRASIL, 1996). Portanto, pensar sobre a formação inicial de professores exige que levemos em conta, além do nível em que esta formação ocorrerá, o local, a organização curricular, a definição dos conteúdos, a realização de estágios durante o curso, e a distribuição da carga horária das disciplinas. Todos esses elementos são definidos com maior cuidado nas Dire- trizes Curriculares Nacionais, que regulamentam os cursos de formação docente. 2.3 Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Licenciatura A legislação educacional na área da formação de professores também é composta pelas Diretrizes Curriculares Nacionais específicas de cada curso de licenciatura. Nessas diretrizes, é possível conhecer o perfil do egresso do curso, além de objetivos, competên- cias e habilidades a serem desenvolvidos. Além disso, as diretrizes dão orientações gerais sobre a organização desses cursos, tratando inclusive da definição e distribuição da carga horária das atividadesque devem ser desenvolvidas. Tais diretrizes são importantes para que, num país tão grande como o Brasil, que tem tantas instituições de ensino superior, públicas e privadas, exista uma certa padronização, de Norte a Sul. Existem Diretrizes Curriculares para inúmeros cursos de li- cenciatura, como, por exemplo: Geografia, Matemática, História, Letras, Artes Visuais, para citar apenas alguns. É importante que, se você tem interesse por algum desses campos de formação, procure conhecer suas diretrizes específicas. 17UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL 2.4 Plano Nacional de Educação O Plano Nacional de Educação (PNE) é uma lei, de n. 13.005, de 25 de junho de 2014, essa lei apresenta vinte metas, com estratégias para atingi-las, em prol da educação no Brasil, sendo válidas por um período de dez anos. Trata-se de uma exigência consti- tucional, e articuladora de um Sistema Nacional de Educação. O PNE define também questões de financiamento educacional, e deve orientar a definição dos planos estaduais e municipais de educação. Dentre as metas do PNE, de- stacamos a meta 15, que trata da formação de professores, e solicita que estados, União, municípios e Distrito Federal organizem em conjunto uma política nacional de formação de profissionais da educação, assegurando que todos os professores da educação básica sejam formados em nível superior. Estudante, acesse as Diretrizes Curriculares Nacionais do seu Curso, para conhecer o objetivo principal da formação de professores para a educação básica. Acesse o link: http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=12991. Acesso em: 09 out. 2021. 18UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Também destacamos a meta 16, que incentiva a pós-graduação dos professores e a formação continuada, considerando suas necessidades, demandas e os contextos de ensino. O PNE busca garantir condições para o exercício profissional do professor seja de qualidade,no qual sabemos que professores bem formados podem contribuir para a formação dos seus alunos, elevando culturalmente o nível de conhecimento da sociedade. “Alguns podem considerar isso uma utopia, no entanto, a utopia nada mais é do que a possibilidade de vislumbrar um caminho e caminhar na sua direção” (SOARES, 2020, p. 22). Para saber mais a respeito dos aspectos legais relacionados com a formação de professores, indicamos que você acadêmico(a) acesse na internet os documentos sobre os quais conversamos: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n. 9.394/96. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de sua formação. Plano Nacional de Educação, Lei n. 13.005/2014. Leia e destaque nesses documentos legais os aspectos que se referem à formação de professores: onde deve ocorrer, em que nível de ensino, quais as questões curriculares envolvidas, carga horária do curso, disciplinas, indicações gerais, entre outros aspectos. Fonte: A autora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL O ensino fundamental é a segunda etapa da educação básica no nosso país, localizada entre a educação infantil e o ensino médio. Atualmente, o ensino fundamental é composto de nove anos e compreende duas fases. A primeira fase corresponde do 1º ao 5º anos, e a segunda, do 6º ao 9º anos de ensino. Cada uma tem características distintas, problemas e desafios a serem enfrentados na atualidade. Em relação à oferta por parte do Estado, o ensino fundamental é obrigatório e cabe às famílias garantir a frequência do aluno à escola. A importância dessa etapa da educação básica relaciona-se à alfabetização e ao letramento dos alunos, bem como, de modo geral, ao acesso às bases de matemática, história, geografia, ciências, arte e educação física. Portanto, tem um papel fundamental na constituição da cidadania plena dos sujeitos de nossa cidade. São vários os documentos e leis que regulamentam o ensino fundamental e dão as orientações gerais para seu funcionamento, entre os quais destacamos: a Constituição Federal (CF), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasil (LDBEN), as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (DCN), o Plano Nacional de Educação (PNE) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Essas normas orientam e estabelecem a direção para elaborar e desenvolver as políticas educacionais nesse campo específico da educação básica. Acadêmico(a), vamos conhecer um pouco mais sobre o ensino fundamental? 3.1 Ensino fundamental e seus principais desafios O ensino fundamental regular corresponde à etapa da educação básica que atende crianças e adolescentes, com duração de nove anos, obrigatória e gratuita a partir dos 4 anos de idade. A Lei n. 11.274, de 06 de fevereiro de 2006, fixa em nove anos a duração do . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 ENSINO FUNDAMENTAL NO BRASIL TÓPICO 19 20UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL ensino fundamental, assim, os nove anos de obrigatoriedade do ensino fundamental podem contribuir para que uma grande parcela da população tenha acesso aos conhecimentos científicos, sistematizados e necessários à construção da cidadania. De acordo com a LDBEN, no art. 24, o ensino fundamental será organizado em 800 horas anuais, distribuídas em 200 dias de efetivo trabalho escolar, entendidos como aque- les dias nos quais se desenvolvem atividades orientadas com alunos e excluídos períodos destinados aos exames finais quando existirem. Ainda: Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula, sendo progressiva- mente ampliado o período de permanência na escola. [...] § 2º O ensino fundamental será ministrado progressivamente em tem- po integral, a critério dos sistemas de ensino. (BRASIL, 1996). O desafio para expansão do ensino fundamental não é tão grande quanto no caso da educação infantil, mas, ainda assim, outros problemas e desafios estão presentes nessa etapa da educação básica. Não é suficiente apenas conhecermos a legislação que garan- te o direito à educação, precisamos ir mais adiante e buscar saber em que medida a lei é realmente colocada em prática e quais são os desafios para o ensino fundamental na atu- alidade (SOARES, K., SOARES, M., 2017). Acadêmico(a), dessa forma, existe um embate entre os avanços que ocorreram nas últimas décadas em relação ao ensino fundamental e os problemas ainda encontrados em relação à qualidade do ensino. Mesmo com os avanços nos aspectos de matrícula, permanência e conclusão nessa etapa de ensino, existe a desvalorização na credibilidade do ensino público, inevitavelmente destacada pela mídia, ao relatar sobre o analfabetismo funcional, sem trazer mais informações ao público. A ampla disseminação do termo analfabetismo funcional em âmbito mundial deve- Estudante, para saber mais sobre o índice de analfabetismo funcional da população brasileira, acesse o site observatório do PNE. Disponível em: https://www.observatoriodopne.org.br/. Acesso em: 09 out. 2021. 21UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL se basicamente à ação da Unesco que adotou o termo na definição de alfabetização que propôs, em 1978, visando padronizar as estatísticas educacionais e influenciar as políticas educativas dos países-membros. A definição de alfabetização que a Unesco propôs em 1958 fazia referência à capacidade deler compreensivamente ou escrever um enunciado curto e simples relacionado à sua vida diária. Vinte anos depois, a mesma Unesco propõe outra definição, qualificando a alfabetização de funcional quando suficiente para os indivíduos possam inserir-se adequadamente em seu meio, sendo capazes de desempenhar tarefas em que a leitura, a escrita e o cálculo são demandados para seu próprio desenvolvimento e para o desenvolvimento de sua comunidade. O qualitativo funcional insere a definição do alfabetismo na perspectiva do relativismo sociocultural. Tal definição já não visa limitar a competência ao seu nível mais simples (ler e escrever enunciados simples referidos `vida diária), mas abrigar graus e tipos diversos de habilidades, de acordo com as necessidades impostas pelos contextos econômicos, políticos ou socioculturais (RIBEIRO, 1997, apud SOARES, K., SOARES, M., 2017). Em relação à constatação de problemas no campo do ensino fundamental, faz-se necessário discutir, com maior profundidade, no mínimo, três elementos: acesso, per- manência e qualidade. O primeiro desses elementos, o acesso, está diretamente relacionado à questão da oferta das vagas para os alunos em idade de frequentar o ensino fundamental. Em algumas localidades, esse acesso pode não ser tão fácil pelo fato de as escolas ficarem distantes das residências dos alunos. Assim, não basta a existência de vagas em número suficiente para atender à demanda; é preciso que os alunos consigam chegar até as escolas, o que, por vezes, implica outras questões, como a do transporte escolar, necessário em muitas regiões rurais, onde a distância entre as residências dos alunos e as instituições esco- lares pode ser muito maior do que nas regiões centrais e urbanas das grandes metrópoles (SOARES, K., SOARES, M., 2017). Sobre o elemento permanência, podemos dizer que não é suficiente que as crianças ou os adolescentes tenham sua vaga garantida na escola; é preciso que se mantenham nela durante todo o percurso escolar. Ainda, temos que considerar e enfrentar um problema ainda existente, a evasão. Alunos abandonam a escola após nela ingressar por diversos motivos, entre os quais estão: número elevado de reprovações; faltas excessivas, que implicam a perda dos conteúdos escolares; necessidade de trabalhar para auxiliar a família; pouco acompanhamento familiar; inserção no mundo das drogas e da violência, principalmente, no caso dos adolescentes, que, muitas vezes, estão sujeitos às situações de risco social. Para o enfrentamento desses problemas, é necessário o acompanhamento conjunto das escolas com os conselhos tutelares de cada localidade e também a constituição das chamadas redes de proteção (SOARES, K., SOARES, M., 2017). Por fim, mas não menos importante, temos a necessidade de refletir a respeito da qualidade da educação ofertada. Mais uma vez, não é suficiente o acesso à escola, e também não basta a permanência no percurso da escolarização. Embora necessários, esses dois elementos só se completam com um ensino de qualidade. Crianças, adolescentes e jovens não devem apenas “passar” pela escola, mas se apropriar dos conhecimentos 22UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL necessários a sua inserção na sociedade, ampliando sua compreensão do mundo e sua capacidade de intervenção nele. Isso só é possível com o cumprimento da função social da escola, ou seja, com a garantia da efetivação do processo de ensino e aprendizagem, a democratização e o acesso aos conhecimentos produzidos e acumulados histórica e coletivamente pela sociedade (SOARES, K., SOARES, M., 2017). Um ponto importante no quesito qualidade do ensino ofertado é a questão da formação dos professores. O art. 62 da LDBEN, aborda a formação dos docentes para a educação básica, destaca que deve ocorrer em “[...] nível superior, em curso de licenciatura plena, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal” (BRASIL, 1996). Além de uma formação inicial de qualidade, garantida preferencialmente em nível superior, teórica e metodologicamente sólida, é também necessária a garantia de uma boa formação continuada dos docentes, que lhes permitam o aprimoramento constante em relação aos conhecimentos que permeiam o ato educativo. Entre as tentativas de enfrentamento dos problemas já elencados (garantia do acesso, permanência e qualidade da educação ofertada no ensino fundamental regular e obrigatório) no campo da legislação educacional, está a importância da LDBEN, que de- staca sua preocupação com a democratização da permanência e acesso dos alunos na escola, no decorrer da etapa obrigatória, pois existe uma tendência de desburocratização dos rituais institucionais dentro das práticas escolares, colaborando para a restrição de per- manência dos alunos nas escolas. As indicações legais no plano da LDBEN, orientam o desenvolvimento de políticas educacionais no campo do ensino fundamental. É preciso enfrentar a lógica seriada, que contribui, em alguns locais de nosso país, para um sistema educacional ainda centrado na reprovação escolar, e não em uma avaliação diagnóstica e contínua com a finalidade de promover os alunos, garantindo sua aprendizagem. Cabe ressaltar o papel da LDBEN nas definições acerca do processo avaliativo no ensino fundamental. A esse respeito, a lei mantém o caráter atribuído ao processo de ver- ificação do rendimento escolar, em seu art. 24, V, “[...] a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Além disso, “b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar” (BRASIL, 1996). As definições no campo da avaliação da aprendizagem, ao priorizarem os aspectos qualitativos sobre os quantitativos, remetem ao campo das definições curriculares, que estão com elas diretamente articuladas. Os aspectos qualitativos referentes aos conteúdos ensinados dizem respeito ao significado dos conhecimentos escolares, que devem fazer sentido em relação à vida dos alunos, auxiliá-los na ampliação de sua compreensão sobre o mundo em que estão inseridos. Nesse sentido, a escola não deve priorizar conteúdos ba- seados apenas na memorização, sem sentido e significado, desvinculados da prática social concreta (SOARES, K., SOARES, M., 2017). 23UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Para tanto, a LDBEN indica a necessidade do estabelecimento de uma base co- mum nacional e também de uma parte diversificada em relação à definição dos conteú- dos curriculares. Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996). Para definir a base comum e parte diversificada do currículo do ensino fundamental, as escolas no Brasil devem seguir as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o En- sino Fundamental de 9 (nove) anos, instituídas pela Resolução CNE/CEB n. 7, de 14 de dezembro de 2010. A contribuição mais relevante das DCN para o ensino fundamental está no auxílio às diversas redes de ensino do nosso país em relação à definição dos conteúdos escolares, dando certa unidade ao conjunto nacional de estabelecimentos de ensino. Podemos dizer que as DCN atuam como guia para organizar as diretrizes curriculares estaduais e mu- nicipais e delimitar os projetos políticos pedagógicos das instituições escolares de todo o Brasil. Assim, as DCN para o ensino fundamental orientam sobre o que será ensinado como na BNCC nesse nível de ensino, de modo geral, abrangendo:área de linguagens, área de matemática, área de ciências humanas, área de ensino religioso (BRASIL, 2018) . De acordo com o art. 26 da LDBEN: § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigato- riamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhe- cimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. § 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno [...]. (Redação dada pela Lei nº 10.793, de 1º.12.2003) § 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia. § 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 6º As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as linguagens que constituirão o componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de 2016) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12796.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.793.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.793.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13278.htm#ART1 24UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL § 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) § 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá componen- te curricular complementar integrado à proposta pedagógica da es- cola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais. (Incluído pela Lei nº 13.006, de 2014) § 9º Conteúdos relativos aos direitos humanos e à prevenção de to- das as formas de violência contra a criança, o adolescente e a mulher serão incluídos, como temas transversais, nos currículos de que trata o caput deste artigo, observadas as diretrizes da legislação corres- pondente e a produção e distribuição de material didático adequado a cada nível de ensino. (Redação dada pela Lei nº 14.164, de 2021) § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluída entre os te- mas transversais de que trata o caput. (Incluído pela Lei nº 13.666, de 2018) § 10. A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obri- gatório na Base Nacional Comum Curricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) (BRASIL, 1996). Ao longo do Ensino Fundamental – Anos Finais, os estudantes deparam-se com de- safios de maior complexidade, sobretudo devido à necessidade de apropriarem-se das dif- erentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados às áreas (BRASIL, 2018). 3.2 Ensino fundamental no campo das políticas educacionais Entre as questões importantes a serem discutidas no campo das políticas educacio- nais relacionadas ao ensino fundamental está a municipalização e as consequências dessa política de descentralização, visto que, na atualidade, os municípios responsabilizam-se pelo maior número das matrículas no ensino fundamental regular. Em relação à responsabilidade pela oferta da educação no ensino fundamental, lem- bramos aqui o que descreve a LDBEN sobre o regime de colaboração entre os entes da federação, art. 8 “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os respectivos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996). Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino; II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na oferta do en- sino fundamental, as quais devem assegurar a distribuição proporcio- nal das responsabilidades, de acordo com a população a ser atendida e os recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público; III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em conso- nância com as diretrizes e planos nacionais de educação, integrando e coordenando as suas ações e as dos seus Municípios; http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13006.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/Lei/L14164.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13666.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13666.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13415.htm#art2 25UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e avaliar, respec- tivamente, os cursos das instituições de educação superior e os esta- belecimentos do seu sistema de ensino; V - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com prioridade, o en- sino médio a todos que o demandarem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 12.061, de 2009) VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede estadual. (In- cluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as competências referentes aos Estados e aos Municípios. (BRASIL, 1996). Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e planos edu- cacionais da União e dos Estados; II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas; III - baixar normas complementares para o seu sistema de ensino; IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabelecimentos do seu sistema de ensino; V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em outros ní- veis de ensino somente quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manu- tenção e desenvolvimento do ensino. VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede municipal. (In- cluído pela Lei nº 10.709, de 31.7.2003) Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele um sistema único de educação básica. (BRASIL, 1996). Portanto, a LDBEN indica que a oferta do ensino público gratuito deve acontecer em regime de colaboração entre as esferas municipal, estadual e federal. Todavia, existe um movimento nas últimas duas décadas que defende que os municípios devem respons- abilizar-se pela oferta da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental. No campo das políticas educacionais, esse movimento é chamado de municipalização. Porém, em que pesem as diferenças socioeconômicas entre tantos municípios no nosso país, é preciso considerar a capacidade real da maioria dos municípios de arcar com os custos da oferta educacional (SOARES, K., SOARES, M., 2017). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12061.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.709.htm#art2 26UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL São muitos os desafios para a educação no campo do ensino fundamental nos próx- imos anos. Fonte: Soares, K., Soares, M. (2017, p. 110). Para tanto, podemos dizer que existem relações entre o desenvolvimento de políti- cas educacionais e o das práticas pedagógicas realizadas nas escolas, embora elas não ocorram de forma linear, são mediadas por diversos fatores. A qualidade da educação não é apenas um produto obtido por meio de avaliações externas como o Ideb (índice de Desen- volvimento da Educação Básica) que ocorre a cada dois anos. Cada escola tem seus de- safios, dependendo do contexto em que está inserida. As políticas educacionais promovem impactos na qualidade da educação ofertada, os quais estão relacionados às mudanças que podem impulsionar melhorias no cotidiano escolar (SOARES, K., SOARES, M., 2017). Enfim, são várias as políticas educacionais desenvolvidas na atualidade voltadas ao ensino fundamental, como a municipalização, a ampliação do ensino fundamental obrigatório para nove anos, os ciclos de aprendizagem, a educação em tempo integral, o Ideb, o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica, o PNAIC (Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa), e com certeza existem muitas outras a serem abordadas. CONSIDERAÇÕES FINAIS UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Caro(a) acadêmico(a)! Chegamos ao final de nossa primeira unidade, na qual conceituamos a profissionalização docente, discutimos os seguintes assuntos: trabalho docente, formação docente, profissionalização docente, autonomia e a identidade profissional do docente. No segundo momento abordamos as implicações para a formação docente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/96) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de Licenciatura. Também discutimos brevemente as metas do Plano Nacional de Educação (PNE). E, por fim, tratamos o ensino fundamental - etapa da educação básica com nove anos de obrigatoriedade, bem como abordamos os aspectos como: constituição, legislação específica, funcionamento, duração, oferta, demanda, currículo, metodologia e políticas educacionais. Para finalizar, convidamos você, acadêmico(a) a consultar as referências, de modo a aprofundar neste mar de conhecimento. Boa leitura! 27 LEITURA COMPLEMENTAR UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL Acadêmico(a), para complementar seu estudo sobre o tema história da educação especial, consulte as fontes indicadas a seguir: ● GASPARINI, C. Professor reflexivo no Brasil: uma análise do conceito nos documen- tos de formação docente e suas implicações. Dissertação. Mestre em Educação. Faculdade de Educação, da Universidade de Passo Fundo, 2013. GOMES, M. M. et.al. Reflexões sobre a formação de professores: características, histórico e perspectivas. Revista Educação Pública, v. 19, nº 15, 6 de agosto de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/15/reflexoes-sobre-a-formacao-de-pro- fessores-caracteristicas-historico-e-perspectivas Acesso em: 17 set. 2021. ● JUNIOR, C. L. História da formação de professores no Brasil: análise crítica das políticas de formação, por vídeos da década de 1990. Tese. Doutor em Educação. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2013. ● MONTEIRO, M. do R. G. Formação continuada de professores: um estado da arte (2013-2016). Dissertação. Mestre em Educação. Universidade Federal do Acre, 2017. 28 https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/15/reflexoes-sobre-a-formacao-de-professores-caracteristicas-historico-e-perspectivas https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/15/reflexoes-sobre-a-formacao-de-professores-caracteristicas-historico-e-perspectivas MATERIAL COMPLEMENTAR UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL LIVRO Título:Qualidade do ensino e formação do professorado: uma mudança necessária Autor:Francisco Imbernón Editora: Cortez Sinopse:Este livro tem como objetivo ajudar o leitor a refletir sobre questões relacionadas com a educação. Está dividido em duas partes. Na primeira, são analisadas a figura do professor, a escola e a qualidade do ensino. A segunda trata dos profes- sores e sua formação como elemento essencial na qualidade da educação em todos os âmbitos, para ser conduzida até os novos aspectos, como a criação de redes de formação. São intercaladas ideias, quadros, matérias da internet, citações, filmes, livros, rostos etc. com o intuito de refletir sobre as mu- danças na educação. O leitor pode adicionar aspectos que o ajudem a aprimorar e ampliar aquilo que o livro desenvolve. Porque já não servem conceitos antigos para problemas novos. Temos de buscar soluções para os problemas e desafios atuais da educação, temos de ampliar nossos conhecimentos sobre a educação. Por isso, oferecemos aqui pistas para que se en- contrem instrumentos para poder mudar a educação, ou, pelo menos, que nos permitam refletir sobre como a educação pode nos levar a melhorar a humanidade. FILME/VÍDEO Título:A voz do coraçào Ano:2004 Sinopse:Pierre Morhange (Jacques Perrin) é um famoso maes- tro que retorna a sua cidade natal ao saber do falecimento de sua mãe. Lá ele encontra um diário mantido por seu antigo pro- fessor de música, Clémente Mathieu (Gérard Jugnot), através do qual passa a relembrar sua própria infância. Mais exatamente na década de 40, quando passou a participar de um coro or- ganizado pelo professor, que terminou por revelar seus dotes musicais. Link do vídeo (se houver). 29 UNIDADE 1 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NO BRASIL WEB Portal MEC - Ministério da Educação. O site do MEC pode ser acessado no endereço www.mec.gov.br para acompanhar as notícias e demais informações pertinentes a alunos, professo- res, profissionais da educação e toda a sociedade. Link do site. http://portal.mec.gov.br/.Acesso em: 09 out. 2021. 30 http://portal.mec.gov.br/ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Plano de Estudos • • Formação de professores na pedagogia tradicional, escolanovista, liberta- dora e histórico-crítica; • • Professor reflexivo e a pesquisa sobre a prática, o estágio na formação de professores e a escola como lócus da formação; • • Inclusão, EAD, tecnologias e formação de professores. Objetivos da Aprendizagem • • Identificar as diferentes teorias pedagógicas e verificar sua correspondência com a concepção de formação docente; • • Compreender a relação entre cada uma das tendências pedagógicas, e suas respectivas concepções relativas à formação de professores; • • Discutir como cada forma de se pensar a educação, a sociedade e o sujeito humano acaba também por determinar uma prática pedagógica específica na formação docente; • • Abordar tendências atuais no campo da formação e da profissionalização docente, pensando nos desafios que são postos pela sociedade na atualidade. 2UNIDADEUNIDADE FORMAÇÃO DE PROFESSORES FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PEDAGOGIA TRADICIONAL, NA PEDAGOGIATRADICIONAL, ESCOLANOVISTA, TECNICISTA, ESCOLANOVISTA, TECNICISTA, LIBERTADORA E HISTÓRICO-CRÍTICALIBERTADORA E HISTÓRICO-CRÍTICA Professora Mestre Fabiane Fantacholi Guimarães INTRODUÇÃO Caro(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à Unidade II da disciplina de Prática de Ensino das Matérias Pedagógicas do Ensino Fundamental. Nesta Unidade, intitulada, “Concepções, teorias e tendências da profissionalização docente no Brasil” iniciaremos abordando um tema muito importante, as concepções de educação ou tendência pedagógica, sendo elas: Tradicional, Escola Nova, Tecnicista, Libertadora e Histórico-Crítica, cada qual com suas especificidades. No segundo momento, vamos abordar tendências atuais no campo da formação e da profissionalização docente, pensando nos desafios que são postos pela sociedade na atualidade, sendo eles: o entendimento do conceito de professor reflexivo e a pesquisa sobre a prática pedagógica, ainda a importância do estágio para a formação dos professores e a compreensão da escola como lócus privilegiado da formação docente. Para fechar a unidade, vamos tratar sobre mais algumas tendências atuais no campo da formação e da profissionalização docente: inclusão, EAD e tecnologias. A compreensão desta primeira unidade contribuirá para a sua formação em seu Curso Superior. Boa leitura e bons estudos! UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL 32 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PEDAGOGIA TRADICIONAL, ESCOLANOVISTA, TECNICISTA, LIBERTADORA E HISTÓRICO- CRÍTICA TÓPICO Cada concepção de educação ou tendência pedagógica revela uma maneira diferente, às vezes oposta, de entender a formação dos professores. Assim, caro(a) estudante veremos as concepções Tradicional, Escola Nova, Tecnicista, Libertadora e Histórico-Crítica, cada qual com suas especificidades. Algumas dessas concepções são conservadoras, outras são progressistas em relação à crítica social. No geral, gostaríamos de colaborar para o entendimento de que conhecer as concepções é muito importante para que possamos fazer escolhas adequadas para a nossa prática pedagógica, que deve ser intencional. 1.1 Formação de professores na Pedagogia Tradicional A Pedagogia Tradicional remete a uma concepção ou entendimento de mundo, so- ciedade e sujeito numa visão essencialista, ou seja, idealista. Nessa concepção, que vigorou no Brasil até as décadas de vinte e trinta, o professor era visto como o centro do processo ensino-aprendizagem. Ele era considerado o mestre, o detentor dos conhecimentos, e deveria ser reconhecido como a autoridade máxima em sala de aula. Os alunos, por sua vez, deveriam ser submissos e obedecer aos ensinamentos do mestre, sem questionamentos e sem o direito ao debate de ideias e pensamentos. Também podemos ressaltar que na Pedagogia Tradicional o método de ensino era predominantemente expositivo, baseado na memória, no decorar, no desenvolvimento de um aluno adaptado à sala de aula, à escola e à sociedade. Nesse contexto, muitas vezes, a autoridade confundia-se com autoritarismo. Os conteúdos na Pedagogia Tradicional eram bastante eruditos, mas, em geral, descontextualizados (SOARES, 2020). Dermeval Saviani auxilia-nos a melhor compreender a Pedagogia Tradicional como aquela que tinha o papel de: 33 34UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL Difundir a instrução, transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade e sistematizados logicamente. O mestre-escola será o artífice dessa grande obra. A escola organiza-se como uma agência centrada no professor, o qual transmite, segundo uma gradação lógi- ca, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conteúdos que lhes são transmitidos (SAVIANI, 2002, p. 06). Na história da educação brasileira, no contexto da concepção pedagógica tradicion- al, a formação de professores passou a ser organizada de forma mais sistematizada, ape- nas após a chegada da família real ao Brasil, quando foi criada a primeira escola normal (de magistério), em 1835. Essa escola permaneceu funcionando até 1849, depois disso, aparecem outras escolas normais, como iniciativas isoladas pelo país. Somente após a proclamação da República em nosso país, em 1888, é que se passou a exigir que os pro- fessores fossem formados no curso normal para lecionar nos chamados grupos escolares (SOARES, 2020). A concepção tradicional de educação vigorou com maior força até a década de trinta, quando surge o movimento escolanovista. 1.2 Formação de professores na Pedagogia Escolanovista A Pedagogia Escolanovista desenvolve-se no nosso país a partir da década de trin- ta. Ela origina-se como crítica à Pedagogia Tradicional. Assim, muda o foco do processo de ensino e aprendizagem, e, portanto, reconfigura-se o papel do professor e de sua for- mação. Ao escolanovismo, são fundamentais os seguintes princípios (PEREIRA, 2012, p. 138): ● Puericentrismo - aprendizagem motivada, reconhecimento do papel essencialmente ativo da criança; ● Valorização do fazer; ● Motivação, segundo a qual toda aprendizagem real e orgânica deve estar ligada a um interesse por parte da criança, movida pelas determinações emotivas; ● Centralidade do estudo do ambiente; ● Socialização, vista como uma necessidade primária da criança; ● Antiautoritarismo - regime político contrário ao autoritarismo. Dessa forma, o aluno passa a ser o centro do processo de ensino-aprendizado, tornando-se sujeito ativo e participante do processo, baseado em uma visão de mundo naturalista e preeminentemente empírico. Por consequência, o professor deixa de ser o detentor majoritário do conhecimento e passa a ser, então, um facilitador, um orientador da aprendizagem. Mudam-se também os métodos de ensino, apoiando-se em pesquisas e no manuseio de materiais concretos. Por fim, nessa concepção o ápice da aprendizagem, deixa de ser apenas o conteúdo que o aluno deveria aprender, mas também os descobertos 35UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL por ele, numa perspectiva construtivista, pois valoriza-se o ritmo individualizado de cada indivíduo (SOARES, 2020). Neste período em que o escolanovismo foi mais forte como tendência pedagógica no Brasil, entre a década de trinta e sessenta, houve incremento nos currículos dos cursos de formação de professores. No entanto, haviam ainda muitos profissionais leigos atuando, e a educação de modo geral não foi atingida por esses avanços (SOARES, 2020). Na sequência, abordaremos a concepção tecnicista de educação, e suas influências no campo da formação de professores. 1.3 Formação de professores na Pedagogia Tecnicista A Pedagogia Tecnicista desenvolve-se no Brasil na década de setenta, no período da ditadura militar no nosso país, e traz implicações para a prática pedagógica e a formação de professores. De acordo com essa tendência pedagógica, o foco do processo de ensino- aprendizagem não é nem o professor, nem o aluno, mas os meios, os recursos a serem utilizados, por isso o nome tecnicismo, que remete à técnica. Essa técnica pedagógica, denota a importância do professor saber conhecer e aplicar diferentes técnicas,seguindo manuais de instrução preparados por especialistas. Na outra ponta, o aluno deve adaptar-se a esses métodos, seguindo as instruções programáticas, pois a base desse ensino está na repetição, treinamento, na valorização do acerto e penalização do erro. Pontuando esse contexto capitalista e industrializado do país, esses conteúdos são, sobretudo, técnicos e pragmáticos, ou seja, precisam ter aplicação imediata e prática (SOARES, 2020). Na pedagogia tecnicista, [...] o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e o aluno posição secundária, relegados que são a condição de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos, imparciais. A organização do processo converte-se na garantia da eficiência, compensando e corrigindo as deficiências do professor e maximizando os efeitos de sua intervenção (SAVIANI, 2002, p. 13). Em geral, o período em que vigorou mais efetivamente a pedagogia tecnicista, na década de 1970, “ não trouxe avanços significativos para a formação de professores no nosso país; ao contrário, em termos da organização curricular dos cursos voltados para a preparação dos docentes, houve um processo de fragmentação dos currículos” (SOARES, 2020, p. 29). Acadêmico(a), ressaltamos a necessidade de olhar com atenção para os determinantes, condicionantes e características dessa concepção pedagógica, dado que alguns de seus aspectos parecem reanimados no tempos atuais, por meio da ênfase em 36UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL competências e habilidades, racionalidade e eficiência no campo curricular, e sua articulação com as propostas de avaliações da aprendizagem emanadas do governo federal para a Educação Básica. 1.4 Formação de professores na Pedagogia Libertadora A Pedagogia Libertadora tem base nas ideias do educador Paulo Freire. Algumas de suas obras mais conhecidas são: Pedagogia da Autonomia, Pedagogia do Oprimido e Professora sim, tia não. Suas ideias desenvolvem-se no contexto da ditadura militar no Bra- sil, mas acabam por ser mais divulgadas a partir do período da abertura política nos anos oitenta, até porque, o autor foi, inclusive, exilado do país no contexto da ditadura militar, e havia censura aos seus escritos, por seu caráter de crítica social. Por esses motivos, essa tendência pedagógica é considerada uma concepção de educação progressista, ou seja, preocupada com a crítica social à sociedade capitalista. Nessa concepção educacional, muito relacionada com movimentos sociais e com a educação de jovens e adultos, o professor assume também o papel de orientador ou facilit- ador da aprendizagem, de alguém que orienta e promove o debate e a discussão com seus alunos a partir de questões sociais implicadas em suas vidas. Nessa concepção, o professor era o responsável por orientar as atividades que deveriam ser organizadas em conjunto com os alunos. O enfoque desse processo educacional não era exclusivamente a sistematização do conhecimento, mas, sim, o processo de participação dos alunos em atividades e debates. O aluno, por sua vez, era visto como sujeito histórico, ativo e participante do processo educativo, tendo duas ideias de mundo e experiências respeitadas e valorizadas, usando-se do diálogo, debates, discussões com temas geradores e motivadores de críticas sociais (SOARES, 2020). Estudante, estaríamos vivenciando um período de neotecnicismo? Velhas práticas, com uma nova roupagem? Deixamos aqui pensamentos para reflexão e vamos adiante, com propostas críticas e progressistas para o meio educacional e a formação docente. Fonte: A autora (2021). 37UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL QUADRO 1 - RESUMO DA TENDÊNCIA PEDAGÓGICA LIBERTADORA Tendência Libertadora Descrição Manifestação da Prática Pedagógica ● Primeira experiência: Movimento de Cultura Popular no Recife (1964). ● Projeto de Educação de Adultos: círculo de cultura; centro de cultura. Papel da Escola Formação da consciência política do aluno para atuar e transfor- mar a realidade. ● Problematização da realidade, das relações sociais do homem com a natureza e com os outros homens, visando a transformação social. Função da Avaliação ● Prática emancipadora. ● Desenvolvimento e progresso do grupo a partir de um programa definido coletivamente com o grupo. ● Prática vivenciada entre educador e educando, no pro- cesso de grupo, pela compreensão e reflexão crítica. ● Trabalhos escritos e autoavaliação em termos do com- promisso assumido com o grupo e com a prática social. Relação Professor - alu- no ● Professor e aluno são sujeitos do ato do conhecimento. ● O professor é o coordenador de debates, adaptando-se às características e necessidades do grupo. ● O aluno é sujeito ativo no grupo. Técnicas de Ensino Métodos e técnicas que se refazem na práxis: Grupos de discus- sões, debates, entrevistas. Métodos de Ensino Método Dialógico 1. O método exige uma relação de autêntico diálogo, em que os sujeitos do ato de conhecer se encontram mediatizados pelo objeto a ser conhecido. 2. A problematização da situação permite aos alunos chegar a uma compreensão mais crítica da realidade através da troca de experiências em torno da prática social. 3. Deve possibilitar a vivência de relações efetivas. 4. Dispensam-se programas previamente estruturados, bem como aulas expositivas, assim como qualquer tipo de verificação direta da aprendizagem, formas essas próprias da "educação bancária", portanto domestica- doras. Fonte: Elaborado com base em Brasil - Secretaria da Educação (2021). 1.5 Formação de professores na Pedagogia Histórico-crítica A Pedagogia Histórico-crítica desenvolve-se nos anos oitenta no Brasil, com base nas ideias do professor Dermeval Saviani, também numa perspectiva crítica progressista, voltada para uma concepção contra hegemônica da sociedade. 38UNIDADE 2 CONCEPÇÕES, TEORIAS E TENDÊNCIAS DA PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO BRASIL Nessa tendência, o professor retoma seu papel de autoridade no processo de ensino, vale ressaltar que existe diferença com o autoritarismo da pedagogia tradicional. Dessa forma, a autoridade do professor está relacionada com o domínio do conhecimento pedagógico, permitindo que o aluno aproprie-se de conhecimentos científicos e elaborados. Ou seja, cabe ao professor organizar, intencional e sistematicamente, o processo de ensino do conhecimento que ele domina e deve ser apropriado pelos alunos (SOARES, 2020). O aluno é considerado sujeito histórico e social, e, portanto, os conteúdos precisam ser contextualizados, ter sentido e significado, a partir da práxis social, econômica e política em que a escola está inserida. Os métodos de ensino são definidos de acordo com os objetivos do que se ensina (SOARES, 2020). A Pedagogia Histórico-crítica baseia-se em um método de ensino, explicitado no livro Escolar e Democracia, do professor Dermeval Saviani, de 2002, que apresenta como passos do processo ensino-aprendizagem a seguinte sequência (SAVIANI, 2002): ● Prática social inicial - realidade vivenciada, por professor e alunos. ● Problematização - o conteúdo é problematizado a partir do contexto em que se insere, ou seja, se indagam os motivos de estudar aquele tema. ● Instrumentalização: quando o professor traz para a sala de aula os subsídios que irão possibilitar ao aluno entender o tema/conteúdo em estudos (textos, vídeos, músicas, mapas, materiais diversos…). ● Catarse - a apropriação interna, de cada aluno, a partir do seu referencial, do conteúdo estudado. ● Nova prática social - nada mais é do que a mesma prática social inicial, mas agora renovada, no sentido de que a compreensão sobre o assunto/tema/conteúdo foi aprofundada e pode modificar a compreensão da realidade e as possibilidades de