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CONTRATOS ADMINISTRATIVOS (arts. 54 a 80 da Lei 8666/93) Inicialmente, torna-se interessante estabelecer a distinção entre atos e contratos administrativos. Enquanto os atos administrativos (já estudados anteriormente) são sempre unilaterais e impostos pela Administração, os contratos são acordos e, por isso mesmo, sempre bilaterais. Como todo contrato, é regido por dois princípios essenciais: lex inter partes (o contrato faz lei entre as partes, não podendo, por isso, em princípio, ser unilateralmente alterado) e pacta sunt servanda (obrigação que têm as partes de cumprir fielmente o entre elas avençado). Os contratos administrativos são sempre consensuais, e, em regra, formais, onerosos, comutativos e realizados intuitu personae (devem ser executados por quem os celebrou, não se admitindo, regra geral, a subcontratação). Além dessas características, os contratos administrativos devem ser precedidos de licitação, somente inexigível ou dispensável nos casos expressamente previstos na Lei. Conceito e Características Podemos definir contrato administrativo como o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa qualidade, firma com o particular ou outra entidade administrativa para a consecução de objetivos de interesse público, sob regime jurídico de direito público. Devemos observar que esta conceituação refere-se apenas aos denominados contratos administrativos propriamente ditos (típicos), que são justamente aqueles em que a Administração atua nessa qualidade e, portanto, dotada das prerrogativas características de direito público (supremacia). Doutrinariamente, admitia-se a possibilidade de a Administração celebrar contratos sob normas predominantemente de direito privado, caso em que, em princípio, encontrar-se- ia em posição de igualdade com o particular (contrato administrativo atípico). Porém, a Lei 8.666, em seu art. 62, § 3º, I, embora haja reconhecido expressamente a existência de contratos cujo conteúdo fosse regido predominantemente por norma de direito privado (como exemplo, os contratos de seguro, financiamento e locação em que o Poder Público seja locatário), fez estenderem-se a tais contratos as principais prerrogativas da Administração aplicáveis aos contratos administrativos propriamente ditos. Os contratos administrativos diferem dos contratos de direito privado pelo fato de possuírem as assim denominadas cláusulas exorbitantes, explícitas ou implícitas, caracterizando uma vantagem ou uma restrição à Administração ou ao contratado. São chamadas exorbitantes justamente porque extrapolam as cláusulas comuns do direito privado e não seriam neste admissíveis. São elas: 1 – Exigência de Garantia Este assunto encontra-se regulado no art. 56 da Lei 8666/93, sendo facultada, a critério da autoridade competente e desde que prevista no instrumento convocatório, a exigência de garantia. A escolha da modalidade de garantia a ser prestada ficará a critério do contratado, dentre as possibilidades elencadas na lei. Como regra, o valor da garantia não poderá ser superior a 5% do valor do contrato; porém, poderá ser elevado para até 10%, quando se tratar de obras, serviços ou fornecimentos de grande vulto, envolvendo alta complexidade técnica e riscos financeiros consideráveis. São as seguintes as modalidades de garantia previstas: - caução em dinheiro ou títulos da dívida pública; - seguro-garantia; - fiança bancária. Após a execução do contrato, a garantia deverá ser restituída ao contratado, com os valores devidamente atualizados monetariamente. 2 – Poder de Modificação Unilateral do Contrato Esta prerrogativa, evidentemente apenas aplicável à Administração, está expressa no art. 58, inciso I, da Lei 8666/93. Ali obtemos que esta alteração unilateral deve sempre ter por escopo a melhor adequação do contrato às finalidades de interesse público e que devem ser respeitados os direitos do administrado. O art. 65, I, especifica os casos em que cabível a alteração unilateral do contrato pela Administração: a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei; e limites, para acréscimos ou supressões de obras, serviços ou compras, encontram-se estabelecidos nos §§ 1º e 2º do mesmo artigo e são os seguintes: a) 25% do valor inicial atualizado do contrato; b) 50% no caso específico de reforma de edifício ou de equipamento, aplicável este limite ampliado somente para os acréscimos (para as supressões permanece o limite de 25%); c) Qualquer porcentagem, quando se tratar de supressão resultante de acordo entre os contratantes (não se refere a hipótese, portanto, a alteração unilateral e sim consensual). A possibilidade de alteração unilateral do contrato pela Administração somente abrange as cláusulas regulamentares ou de serviço (as que dispõem sobre o objeto do contrato e sua execução). Nunca podem ser modificadas unilateralmente as denominadas cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos, que estabelecem a relação entre a remuneração e os encargos do contratado, relação esta que deve ser mantida durante toda a execução do contrato. A impossibilidade de alteração unilateral de tais cláusulas e a necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro do contrato estão expressamente previstas nos §§ 1º e 2º do art. 58 da Lei. 3 – Poder de Rescisão Unilateral do Contrato A possibilidade de rescindir unilateralmente um contrato inexiste no direito privado. Neste, os contratos somente podem ser desfeitos ou amigavelmente ou judicialmente, pelo motivo elementar de que deve ser observada a estrita igualdade jurídica entre as partes contratantes, igualdade esta característica de todas as relações regidas pelo direito privado. Já nos contratos administrativos não se observa igualdade jurídica entre os contratados e a Administração, uma vez que são regidos basicamente por normas de direito público. Assim, a Lei 8.666, em seu art. 58, inciso II, expressamente confere à Administração a prerrogativa de rescindir unilateralmente (ou seja, sem necessidade de recorrer ao Poder Judiciário e sem acordo amigável) os contratos administrativos, sempre que verificadas as hipóteses enumeradas no art. 79, inciso I da mesma Lei. Consultando o dispositivo mencionado, obtemos que são as seguintes as situações em que cabível a rescisão unilateral do contrato por mero ato escrito da Administração: 1- descumprimento ou cumprimento irregular do contrato pelo particular (art. 78, I e II) ou ainda a lentidão do cumprimento que impossibilite a conclusão nos prazos estipulados, provada essa impossibilidade pela Administração (art. 78, III); 2- o atraso injustificado no início da execução do contrato (art. 78, IV); 3- a paralisação da execução do contrato, sem justa causa e sem prévia comunicação à Administração (art. 78, V); 4- a subcontratação total ou parcial do objeto do contrato, a associação do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato (art. 78, VI); 5- o desatendimento das determinações regulares das autoridades designadas para acompanhar e fiscalizar a execução do contrato (art. 78, VII); 6- o cometimento reiterado de faltas na execução do contrato, anotadas em registro próprio, pelo representante da Administração (art. 78, VIII); 7- a decretação de falência ou a instauração de insolvência civil (art. 78, IX); 8- a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado (art. 78, X); 9- a alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da empresa, que prejudique a execução do contrato (art. 78, XI); 10- razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento, justificadas e determinadas pela máxima autoridade da esferaadministrativa a que está subordinado o contratante e exaradas no processo administrativo a que se refere o contrato (art. 78, XII); 11- ocorrência de caso fortuito ou força maior que impeça a execução do contrato (art. 78, XVII). Nesta hipótese o contratado será ressarcido dos prejuízos comprovados que houver sofrido sem que haja culpa sua, tendo ainda direito à devolução da garantia, aos pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da rescisão e ao pagamento do custo da desmobilização (art. 79, § 2º). A rescisão contratual será sempre motivada e deve ser assegurada ao particular a ampla defesa e o contraditório (art. 78, parágrafo único). A rescisão unilateral autoriza a Administração, a seu critério, a assumir imediatamente o objeto do contrato administrativo, inclusive mediante a ocupação temporária e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal empregados na execução do contrato, necessários à sua continuidade (art. 80, I e II). A Administração pode dar continuidade à obra ou ao serviço por execução direta ou indireta (art. 80, § 1º). A rescisão unilateral acarreta ainda para o administrado a execução da garantia contratual para ressarcimento da Administração e pagamento automático dos valores das multas e indenizações a ela devidos, além da retenção dos créditos decorrentes do contrato até o limite dos prejuízos causados à Administração (art. 80, III e IV). Por último, cabe observarmos, embora não se trate de hipótese de rescisão, que a Administração possui a prerrogativa de declarar a nulidade do contrato administrativo quando verificada ilegalidade em sua celebração. A declaração de nulidade do contrato administrativo opera retroativamente impedindo os efeitos jurídicos que ele, ordinariamente, deveria produzir, além de desconstituir os já produzidos (art. 59). Entretanto, a nulidade não exonera a Administração do dever de indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não seja, a nulidade, imputável ao administrado (art. 59, parágrafo único). 4 – Poder de Fiscalização, Acompanhamento e Ocupação Temporária A prerrogativa, que possui a Administração, de controlar e fiscalizar a execução do contrato administrativo é um dos poderes a ela inerentes e, por isso, a doutrina assevera estar este poder implícito em toda contratação pública, dispensando cláusula expressa. De qualquer forma, a Lei 8666 expressamente enumera como prerrogativa da Administração a fiscalização da execução dos contratos administrativos (art. 58, III). A mesma Lei, em seu art. 67, estabelece que a execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada por um representante da Administração especialmente designado, cabendo a este anotar, em registro próprio, todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato. O Poder de controle do contrato administrativo, em sua forma mais exacerbada, confere à Administração a prerrogativa de intervir na execução do contrato mediante o instituto da ocupação temporária. A ocupação temporária está prevista, genericamente, no art. 58, V, da Lei 8.666, como transcrito: “Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de: (...) V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis, imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.” Mais adiante, a Lei reitera a hipótese e os procedimentos cabíveis, em seu art. 80, I e II, como se lê: “Art. 80. A rescisão de que trata o inciso I do artigo anterior acarreta as seguintes conseqüências, sem prejuízo das sanções previstas nesta Lei: I - assunção imediata o objeto do contrato, no estado e local em que se encontrar, por ato próprio da Administração; II - ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal empregados na execução do contrato, necessários à sua continuidade, na forma do inciso V do art. 58 desta Lei;” Podemos assim afirmar que o poder de controle e acompanhamento da execução do contrato administrativo é prerrogativa inerente à atividade administrativa e, em casos extremos, a fim de garantir a continuidade dos serviços públicos essenciais, autoriza a Administração a, direta ou indiretamente, assumir o objeto do contrato e, para tanto, ocupar provisoriamente as instalações e utilizar os recursos vinculados a esse objeto, que se encontravam, antes da intervenção, sob responsabilidade do contratado faltoso. 5 – Manutenção do Equilíbrio Financeiro do Contrato A necessidade de manutenção do equilíbrio financeiro dos contratos administrativos é situada, pelo Prof. Hely Lopes Meirelles, como uma das denominadas cláusulas exorbitantes. Devemos, entretanto, observar que não se trata, aqui, de prerrogativa da Administração e sim, contrariamente, de uma restrição à atuação desta. Ocorre que, embora possa a Administração, como vimos, alterar unilateralmente o objeto e as condições de execução dos contratos administrativos, modificando suas cláusulas ditas regulamentares ou de serviço, deve ser garantida ao contratado a impossibilidade de alteração, por ato unilateral, das cláusulas econômico financeiras do contrato (art. 58, §§ 1º e 2º). Assim, a equação financeira originalmente fixada quando da celebração do contrato deverá ser respeitada pela Administração. Esta terá que proceder, sempre que houver alteração unilateral de alguma cláusula regulamentar, aos ajustamentos econômicos necessários à manutenção do equilíbrio financeiro denotativo da relação encargo- remuneração inicialmente estabelecida para o particular como justa e devida (art. 65, § 6º). Outra conseqüência da inalterabilidade do equilíbrio financeiro do contrato é a previsão legal e contratual de reajuste periódico de preços e tarifas, conforme expressamente estipulado no art. 55, inciso III, da Lei 8.666. A Lei esclarece, também, que a variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços previsto nele próprio não caracteriza alteração do contrato (art. 65, § 8º). 6 – Inoponibilidade da Exceção do Contrato não Cumprido Nos contratos onerosos regidos pelo direito privado é permitido a qualquer dos contratantes suspender a execução de sua parte no contrato enquanto o outro contratante não adimplir a sua. Assim, se José contrata a prestação de um serviço mensal a ser realizado por Pedro e este deixa de prestar o serviço no terceiro mês, é lícito a José suspender o pagamento até que Pedro realize o avençado. Da mesma forma, se José não efetua o pagamento na data combinada, fica Pedro autorizado a não prestar o serviço enquanto não efetivado o pagamento. A esta suspensão da execução do contrato pela parte prejudicada com a inadimplência do outro contratante dá-se o nome de oposição da exceção do contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus). Pois bem, em relação aos contratos administrativos, a doutrina sempre defendeu a inoponibilidade, contra a Administração, desta exceção do contrato não cumprido, ou seja, não seria lícito ao particular interromper a execução da obra ou do serviço objeto do contrato, mesmo que a Administração permanecesse sem pagar pela obra ou pelo serviço. Invoca-se, para justificar tal prerrogativa, o princípio da continuidade do serviço público. Ao particular prejudicado somente caberia indenização pelos prejuízos suportados, cumulada ou não com rescisão contratual por culpa da Administração. Esta posição extremamente rigorosa em prejuízo do contratado acabou sendo substancialmente atenuada pela Lei 8.666. Atualmente, somente podemos falar em uma relativa ou temporária inoponibilidade da exceção do contrato não cumprido. Isso porque a oposição, peloparticular, desta cláusula implícita, passou a ser expressamente autorizada quando o atraso do pagamento pela Administração seja superior a 90 (noventa) dias, possibilitando este atraso, ainda, a critério do contratado, a rescisão por culpa da Administração com indenização do particular, sendo esta a literal disposição do inciso XV de seu art. 78. 7 – Aplicação Direta de Penalidades Contratuais A última das cláusulas exorbitantes comumente mencionadas diz respeito à possibilidade de aplicação de penalidades contratuais diretamente pela Administração e se encontra, evidentemente, vinculada à prerrogativa de controle da execução do contrato, acima expendida. A Administração, por força dessa cláusula exorbitante, pode, ela própria, sem necessidade (em princípio) de autorização judicial, punir o contratado pelas faltas cometidas durante a execução do contrato. Esse poder decorre, também, do já estudado atributo da autoexecutoriedade, que informa os atos administrativos em geral, e é extensivo aos contratos administrativos. As sanções aplicáveis pela administração estão estabelecidas nos art. 86 e 87 da Lei 8.666. São elas: 1 – multa de mora, por atraso na execução: esta sanção, aplicável cumulativamente com as demais, inclusive com a rescisão unilateral do contrato, representa uma das poucas situações em que à Administração é possibilitada a cobrança de um determinado valor sem necessidade de recurso à via judicial. Isso ocorre, aqui, porque a Lei prevê a possibilidade de, após regular processo administrativo, a Administração descontar o valor da multa da garantia oferecida pelo contratado quando da celebração da avença (art. 86, § 2º). Entretanto, se a multa for de valor superior ao valor da garantia prestada, além da perda desta, responderá o contratado pela sua diferença, a qual será descontada dos pagamentos eventualmente devidos pela Administração ou ainda, quando for o caso, cobrada judicialmente (art. 86, § 3º). 2 – advertência (art. 87, I); 3 – multa, por inexecução total ou parcial (art. 87, II): esta sanção pode ser aplicada cumulativamente com as previstas nos itens 2, 4 e 5 (art. 87, § 2º); 4 - suspensão temporária da possibilidade de participação em licitação e impedimento de contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos (art. 87, III); 5 - declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a penalidade. A reabilitação somente pode ser requerida após dois anos da aplicação desta sanção (art. 87, § 3º) e será concedida sempre que o contratado ressarcir a Administração pelos prejuízos resultantes da inexecução total ou parcial do contrato (art. 87, IV). Formalização Este tema está tratado nos arts. 60 a 64 da Lei 8666. segundo o referido diploma legal, será nulo e de nenhum efeito o contrato verbal, salvo o de pequenas compras de pronto pagamento, feitas em regime de adiantamento, que não excedam a 5% do valor previsto para compras na modalidade convite (R$4.000,00). A minuta do contato deverá integrar o edital ou o ato convocatório da licitação (art. 62, §1º). O instrumento do contrato é obrigatório para os casos de concorrência e tomada de preços, ou dispensas e inexigibilidades compreendidas nos limites destas duas modalidades de licitação. Nos demais casos, o instrumento do contrato é facultativo, podendo ser substituído por outros, tais como carta-contrato, nota de empenho, autorização de compra ou ordem de execução de serviço (art. 62). Todo contrato deverá mencionar (art. 61): - os nomes das partes e de seus representantes - finalidade - ato que autorizou sua lavratura - número do processo de licitação, dispensa ou inexigibilidade - sujeição dos contratantes às normas da lei e às cláusulas contratuais A publicação resumida do instrumento de contrato na imprensa oficial é requisito de eficácia do contrato, devendo ser providenciada pela Administração, qualquer que seja o seu valor. É ainda permitido a qualquer licitante o conhecimento dos termos do contrato, e a qualquer pessoa a obtenção de cópia autenticada do mesmo. Execução Este assunto encontra-se disciplinado nos arts. 66 a 76 da lei de Licitações. Executar o contrato é cumprir suas cláusulas segundo a comum intenção das partes no momento de sua celebração. O contratado é responsável pelos danos causados diretamente à Administração ou a terceiros, decorrente de sua culpa ou dolo, não excluindo ou reduzindo esta responsabilidade a fiscalização ou o acompanhamento pelo órgão interessado. Direitos e Obrigações da partes: O principal direito da Administração é o de exercer suas prerrogativas diretamente, sem a intervenção do Judiciário, ao qual cabe ao contratado recorrer sempre que não concordar com as pretensões da Administração. O principal direito do Contratado é de receber o preço nos contratos de colaboração na forma e no prazo convencionados, ou a prestação devida nos contratos de atribuição. Normas técnicas e material apropriado: suas observâncias constituem deveres ético- profissionais do contratado, presumidos nos ajustes administrativos, que visam sempre ao melhor atendimento. Variações de quantidade: são acréscimos ou supressões legais, admissíveis nos ajustes, nos limites regulamentares, sem modificação dos preços unitários e sem necessidade de nova licitação, bastando o respectivo aditamento, ou a ordem escrita de supressão. Execução pessoal: todo contrato é firmado intuitu personae. Assim sendo, compete ao contratado executar pessoalmente o objeto do contrato, sem transferência de responsabilidade ou sub-contratações não autorizadas. Encargos da Execução: independente de cláusula contratual, o contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais decorrentes da execução do contrato. Importante ressaltar que a Administração Pública responde solidariamente com o contratado apenas pelos encargos previdenciários resultantes da execução do contrato, não sendo a esta transferidos eventuais débitos trabalhistas, fiscais ou comerciais. Manutenção de preposto: é obrigação impostergável do contratado a manutenção de preposto credenciado da Administração na execução do contrato, sendo admitida a contratação de terceiros para atuar em seu auxílio. Acompanhamento da Execução do Contrato e Recebimento de seu Objeto: o acompanhamento da execução é direito e dever da Administração e nele se compreendem: - Fiscalização: sua finalidade é assegurar a perfeita execução do contrato, ou seja, a exata correspondência dos trabalhos com o projeto ou com as exigências estabelecidas pela Administração, nos seus aspectos técnicos e nos prazos de sua realização; abrange a verificação do material e do trabalho. - Orientação: se exterioriza pelo fornecimento de normas e diretrizes sobre seus objetivos, para que o particular possa colaborar eficientemente com o Poder Público no empreendimento que estão empenhados. Limita-se à imposição das normas administrativas que condicionam a execução do objeto. - Interdição: é o ato escrito pela qual é determinado a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento que venha sendo feito em desconformidade com o avençado. - Intervenção: é providência extrema que se justifica quando o contratado se revela incapaz de dar fiel cumprimento ao avençado, ou há iminência ou efetiva paralisação dos trabalhos, com prejuízos potenciais ou reais para o serviço público. - Aplicação de penalidades: garantida a prévia defesa, é medida auto-executória, quando é verificada a inadimplência do contratado na realização do objeto, no atendimento dos prazos ou no cumprimento de qualquer outra obrigação a seu cargo. Recebimento do Objeto do Contrato: constitui etapa final da execução de todo ajuste para a liberação do contratado. Pode ser: Provisório: é o quese efetua em caráter experimental dentro de um período determinado, para a verificação da perfeição do objeto do contrato (prazo de 15 dias após comunicação escrita do contratado); Definitivo: é o feito em caráter permanente, incorporando o objeto do contrato ao seu patrimônio e considerando o ajuste regularmente executado pelo contratado. Inexecução, Revisão e Rescisão Inexecução: é o descumprimento de suas cláusulas, no todo ou em parte. Pode ocorrer por ação ou omissão. Culposa: é a que resulta de ação ou omissão da parte, decorrente da negligência, imprudência ou imperícia no atendimento das cláusulas. Sem Culpa: é a que decorre de atos ou fatos estranhos à conduta da parte, retardando ou impedindo totalmente à execução do contrato. A inexecução sem culpa pressupõe a existência de uma causa justificadora do inadimplemento e libera o inadimplente de responsabilidade, em razão da aplicação da denominada Teoria da Imprevisão. - Aplicação da Teoria da Imprevisão: A Teoria da Imprevisão resulta da aplicação de uma antiga cláusula, que se entende implícita em qualquer contrato de execução prolongada, segundo a qual o vínculo obrigatório gerado pelo contrato somente subsiste enquanto inalterado o estado de fato vigente à época da estipulação. Esta cláusula é conhecida como rebus sic stantibus. Consiste no reconhecimento de que eventos novos, imprevistos e imprevisíveis pelas partes e a elas não imputáveis, refletindo sobre a economia ou execução do contrato, autorizam sua revisão, para ajustá-lo às circunstância supervenientes. A cláusula rebus sic stantibus desdobra-se em cinco hipóteses: caso fortuito, força maior, fato do príncipe, fato da Administração e interferências imprevistas, a seguir tratadas. Caso Fortuito e Força Maior - Essas hipóteses referem-se a eventos imprevisíveis e inevitáveis que geram para o contratado excessiva onerosidade ou mesmo impossibilidade da normal execução do contrato. Encontram-se, tais hipóteses, expressamente previstas no inciso XVII do art. 78 da Lei 8.666. Para Hely Lopes Meirelles, caso fortuito refere-se a evento da natureza, não humano, como um furacão em região não sujeita a tal fenômeno, uma inundação imprevisível etc. Já a hipótese de força maior, estaria relacionada a evento humano, como uma greve, que paralise os transportes, revoluções, guerras etc. Devemos ressaltar que não existe nenhum consenso quanto a tais definições, havendo respeitáveis autores que dão conceituação justamente contrária. O que importa, de qualquer forma, são os efeitos da verificação de uma dessas causas justificadoras, quais sejam, a possibilidade de revisão contratual (quando ainda possível a execução do contrato, embora extraordinariamente mais onerosa) ou de rescisão sem culpa do inadimplente. Fato do Príncipe: Fato do príncipe é toda determinação estatal geral, imprevisível, que impeça ou, o que é mais comum, onere substancialmente a execução do contrato. O fato do príncipe encontra-se expressamente mencionado (embora não definido) no art. 65, II, “d”, da Lei 8.666 como situação ensejadora da revisão contratual para garantir a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Exemplos de fatos do príncipe seriam um significativo e imprevisível aumento de um imposto incidente sobre bens a que tenha o contratado se obrigado fornecer ou até mesmo a edição de lei proibindo a importação de um bem que devesse ser fornecido pelo contratado à Administração. Fato da Administração: Ocorre a causa justificadora de inadimplemento do contrato conhecida como fato da Administração toda vez que uma ação ou omissão do Poder Público especificamente relacionada ao contrato, impede ou retarda sua execução. Nesta especificidade da ação ou omissão da Administração relativamente ao contrato reside a diferença entre esta causa justificadora e o fato do príncipe, precedentemente analisado (lembremos que o fato do príncipe é sempre uma determinação geral do Estado, que atinge o contrato apenas reflexamente). O fato da Administração pode ensejar a rescisão judicial ou amigável do contrato, ou, em alguns casos, a paralisação (nunca sumária) de sua execução pelo contratado até a normalização da situação, como veremos. As hipóteses de fatos da Administração comumente mencionados pela doutrina estão, atualmente, previstas na Lei 8.666, art. 78, incisos XIV, XV e XVI, transcritos: Interferências Imprevistas: As denominadas interferências imprevistas constituem-se em elementos materiais que surgem durante a execução do contrato, dificultando extremamente sua execução e tornando sua execução insuportavelmente onerosa. A característica marcante das interferências imprevistas é que elas antecedem a celebração do contrato. Sua existência, entretanto, por ser absolutamente excepcional ou incomum, não foi prevista à época da celebração do ajuste e, se houvesse sido, teria resultado na celebração do contrato em bases diversas das observadas, com a inclusão dos custos correspondentes à dificuldade imprevista. São exemplos, da lavra de Hely Lopes Meirelles, o encontro de um terreno rochoso e não arenoso como indicado pela Administração, na execução de uma obra pública; ou a passagem de canais ou dutos subterrâneos não revelados no projeto em execução. Revisão do Contrato: pode ocorrer por interesse da própria Administração - surge quando o interesse público exige a alteração do projeto ou dos processos técnicos de sua execução, com o aumento dos encargos ajustados - ou pela superveniência de fatos novos - quando sobrevêm atos do governo ou fatos materiais imprevistos e imprevisíveis pelas partes que dificultam ou agravam, de modo excepcional, o prosseguimento e a conclusão do objeto do contrato. É obrigatória a recomposição de preços quando as alterações do projeto ou do cronograma de sua execução, impostas pela Administração, aumentam os custos ou agravam os encargos do particular contratado; é admitida por aditamento ao contrato, desde que seja reconhecida a justa causa ensejadora da revisão inicial. Rescisão do Contrato: é o desfazimento do contrato durante sua execução por inadimplência de uma das partes, pela superveniência de eventos que impeçam ou tornem inconveniente o prosseguimento do ajuste ou pela ocorrência de fatos que acarretem seu rompimento de pelo direito. Os motivos para a rescisão do contrato estão elencados no art. 78. Todos os casos de rescisão deverão ser formalmente motivados, assegurados o contraditório e ampla defesa. - Administrativa: é a efetivada por ato próprio e unilateral da Administração, por inadimplência do contratado ou por interesse do serviço público; é exigido procedimento regular, com oportunidade de defesa e justa causa, pois a rescisão não é discricionária, mas vinculada aos motivos ensejadores desse excepcional distrato, opera efeitos a partir da data de sua publicação ou ciência oficial ao interessado (ex nunc). - Amigável: é a que se realiza por mútuo acordo das partes, para a extinção do contrato e acerto dos direitos dos distratantes; opera efeito a partir da data em que foi firmada (ex nunc). - Judicial: é decretada pelo Judiciário em ação proposta pela parte que tiver direito à extinção do contrato; a ação para rescindir o contrato é de rito ordinário e admite pedidos cumulados de indenização, retenção, compensação e demais efeitos decorrentes das relações contratuais, processando-se sempre no juízo privativo da Administração interessada, que é improrrogável. - De pleno direito: é a que se verifica independentemente de manifestação de vontade de qualquer das partes, diante da só ocorrência de fato extintivo do contrato previsto na lei, no regulamento ou no próprio texto do ajuste. A rescisão por ato unilateral da Administração traz como conseqüências a assunção imediata do objeto do contrato, ocupação e utilização do local, instalações, equipamentos, material e pessoal, execução da garantia contratual e retenção dos créditos contratuaisporventura existentes (art. 80).
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