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Autores Marcelo F.S.F. de Moura, Alfredo B. de Morais, António G. de Magalhães título Materiais Compósitos - Materiais, Fabrico e Comportamento Mecânico editor Publindústria, Edições Técnicas Praça da Corujeira n.º 38 . 4300-144 PORTO www.publindustria.pt distribuidor Engebook - Conteúdos de Engenharia e Gestão Tel. 220 104 872 . Fax 220 104 871 . E-mail: apoiocliente@engebook.com . www.engebook.com desiGN Publindústria, Produção de Comunicação, Lda. Copyright © 2010 | Publindústria, Produção de Comunicação, Lda. todos os direitos reservados a Publindústria, Produção de Comunicação, lda. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, seja electrónico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros sem autorização prévia por escrito do autor. Cdu 624 Engenharia Estrutural. 061 Materiais Compósitos. isbN (ebook) 978-972-8953-73-7 engebook – Catalogação da publicação Família: Mecânica subfamília: Materiais/Metalurgia Índice Prefácio 1. INTRODUÇÃO AOS MATERIAIS COMPÓSITOS 1 1.1. Perspectiva global dos compósitos e suas aplicações 1 1.2. Reforços 9 1.2.1. Fibras de vidro 9 1.2.2. Fibras de carbono 11 1.2.3. Fibras aramídicas 13 1.2.4. Fibras de boro 14 1.2.5. Outros tipos de reforços 15 1.3. Formas que podem apresentar os reforços 16 1.3.1. Roving 16 1.3.2. Mantas 16 1.3.3. Tecidos 2D 17 1.3.3.1. Tecidos entrelaçados (woven fabrics) 17 1.3.3.2. Tecidos quase unidireccionais 18 1.3.3.3. Tecidos híbridos 18 1.3.4. Malhas (knitted fabrics) 18 1.3.5. Tecidos 3D 19 1.3.6. Entrançados (braids) 19 1.3.7. Pré-formas 17 1.4. Matrizes 21 1.4.1. Temperaturas de transição 22 1.4.2. Temperatura de deflexão sob carga 23 1.4.3. Matrizes termoplásticas 24 ÍNDICE iii 1.4.3.1. Polipropileno (PP) 24 1.4.3.2. Poliamida (PA) 24 1.4.3.3. Policarbonato (PC) 25 1.4.3.4. Poli-éter-éter-cetona (PEEK) 25 1.4.3.5. Poliimidas termoplásticas 25 1.4.3.6. Polisufureto de fenileno (PPS) 26 1.4.4. Matrizes termoendurecíveis 27 1.4.4.1. Poliesteres insaturados 27 1.4.4.2. Resinas de vinilester 28 1.4.4.3. Resinas fenólicas 28 1.4.4.4. Resinas de epóxido 29 1.4.4.5. Bismaleimidas 29 1.4.4.6. Poliimidas termoendurecíveis 30 1.5. Semi-produtos 31 1.5.1. Compostos de moldação 31 1.5.1.1. SMC (sheet molding compound) 31 1.5.1.2. TMC (thick molding compound) 31 1.5.1.3. DMC (dough molding compound) 32 1.5.1.4. Compostos termoplásticos 32 1.5.2. Pré-impregnados 32 1.6. Cargas e outros aditivos 33 1.7. Conclusão 34 Questões 34 Referências 35 2. PROCESSAMENTO DE MATERIAIS COMPÓSITOS 37 2.1. Moldação por contacto 38 2.1.1. Moldação manual 38 2.1.2. Moldação por projecção 40 2.2. Moldação por vácuo 41 2.3. Moldação por compressão 43 2.3.1. Moldação por compressão a frio 44 2.3.2. Moldação por compressão a quente 44 2.4. Moldação por injecção 45 2.5. Moldação por injecção a baixa pressão e por transferência 48 2.5.1. RTM (Reaction Transfer Moulding) 48 2.5.2. SRIM (Structural Reaction Injection Moulding) 50 2.5.3. RRIM (Reinforced Reaction Injection Moulding) 50 2.6. Moldação em autoclave 51 2.7. Enrolamento filamentar 54 2.8. Pultrusão 56 2.9. Moldação por centrifugação 57 2.10. Moldação em contínuo 58 2.11. Maquinagem de materiais compósitos 59 MATERIAIS COMPÓSITOS iv 2.11.1. Furação de materiais compósitos 60 2.11.2. Corte de materiais compósitos 62 2.12. Reciclagem de materiais compósitos 63 Questões 64 Referências 64 3. LEIS CONSTITUTIVAS DA CAMADA 67 3.1. Introdução 67 3.2. Análise geral de sólidos anisotrópicos 68 3.3. Ortotropia e isotropia transversal 71 3.4. Constantes de Engenharia da camada 75 3.5. Lei constitutiva tridimensional 78 3.6. Lei constitutiva para estado plano de tensão 82 Referências 89 4. ANÁLISE MICROMECÂNICA DA CAMADA 91 4.1. Introdução 91 4.2. Análise das constantes de engenharia 92 4.2.1. Modelos de mecânica dos materiais 93 4.2.2. Modelo auto-consistente 97 4.2.3. Limites superior e inferior 98 4.2.4. Modelos semi-empíricos 101 4.2.5. Método das células 102 4.2.6. Conclusão 106 4.3. Análise das resistências 108 4.3.1. Resistência longitudinal à tracção 111 4.3.2. Resistência longitudinal à compressão 119 4.3.3. Conclusão 126 Referências 127 5. CRITÉRIOS DE ROTURA DA CAMADA 131 5.1. Introdução 131 5.2. Critérios não-interactivos 132 5.3. Critérios interactivos 134 5.4. Critérios parcialmente interactivos 137 5.5. Conclusão 143 Referências 144 6. ANÁLISE DOS COMPÓSITOS DE FIBRAS CURTAS 147 6.1. Introdução 147 6.2. Compósitos de fibras alinhadas 148 6.2.1. Modelo de Kelly-Tyson 149 6.2.2. Modelo de Cox 151 6.3. Compósitos de fibras com orientação aleatória 156 ÍNDICE v Referências 160 7. ANÁLISE DOS LAMINADOS 163 7.1. Introdução 163 7.2. Teoria clássica dos laminados 164 7.2.1. Relações esforços-deformações de alguns laminados 170 7.2.2. Constantes de engenharia de laminados simétricos 175 7.2.3. Análise da resistência de laminados 178 7.3. Teorias avançadas dos laminados 184 7.3.1. Teorias de deformação globais 184 7.3.2. Teorias de deformação locais 187 7.3.3. Teorias de deformação globais-locais 187 Referências 188 8. EFEITOS HIGROTÉRMICOS E VISCOELÁSTICOS 191 8.1. Introdução 191 8.2. Efeitos higrotérmicos 193 8.2.1. Degradação de propriedades 193 8.2.2. Leis constitutivas com efeitos higrotérmicos 196 8.3. Viscoelasticidade linear 204 8.3.1. Princípio da sobreposição de Boltzmann 204 8.3.2. Modelos de comportamento viscoelástico 205 8.3.3. Análise quase-elástica 209 8.3.4. Solicitações sinusoidais e notação complexa 210 8.3.5. Princípio de equivalência tempo-temperatura 213 Referências 216 9. MECÂNICA DA FRACTURA 221 9.1. Introdução 221 9.2. Fundamentos de Mecânica da Fractura 222 9.2.1. Teoria de Griffith 222 9.2.2. Extensão da teoria de Griffith 225 9.2.3. Factor intensidade de tensão e tenacidade à Fractura 226 9.2.4. Relação entre G e K 228 9.2.5. Modos de solicitação 230 9.2.6. Teoria da densidade de energia de deformação 234 9.3. Aplicação da mecânica da fractura aos compósitos 236 9.3.1. Fractura intralaminar 237 9.3.1.1. Factor intensidade de tensão e taxa de libertação de energia 237 9.3.1.2. Processo de rotura micromecânica em compósitos 239 9.3.1.3. Teoria da densidade de energia de deformação 241 9.3.2. Fractura interlaminar 243 9.3.2.1. Obtenção da taxa crítica de libertação de energia em modo I 243 9.3.2.2. Obtenção da taxa crítica de libertação de energia em modo II 248 MATERIAIS COMPÓSITOS vi 9.3.2.3. Modo Misto 249 9.4. Métodos numéricos aplicados à fractura interlaminar 252 9.4.1. Método do fecho virtual de fenda 252 9.4.2. Elementos finitos de interface 254 Referências 258 10. TÓPICOS AVANÇADOS EM MATERIAIS COMPÓSITOS 261 10.1. Efeito de bordo 261 10.1.1. Laminados tipo (0, 90) 262 10.1.2. Laminados tipo (+�, -�) 263 10.1.3. Análise teórica de laminados 264 10.1.4. O ensaio de provetes delaminados nos bordos 265 10.2. Critérios de rotura para compósitos com furo e entalhes 268 10.3. Impacto em compósitos 273 10.3.1. Impacto de baixa velocidade 273 10.3.1.1. Ensaios de impacto de baixa velocidade 274 10.3.1.2. Métodos experimentais usados para a detecção do dano 276 10.3.1.3. Dano causado por impacto de baixa velocidade 277 10.3.1.4. Modelação 279 10.3.1.4.1. Força de impacto 279 10.3.1.4.1.1. Modelo do balanço energético 279 10.3.1.4.1.2. Modelo de massa e mola 281 10.3.1.4.1.3. Distribuição espacial da força de contacto 282 10.3.1.4.2. Previsão do dano causado pelo impacto 283 10.3.2. Impacto de alta velocidade 287 10.3.3. Parâmetros fundamentais na resistência ao impacto 289 10.3.4. Resistência residual após impacto 291 10.4. Fadiga em compósitos 295 10.4.1. Mecanismos de dano 295 10.4.2. Factores que afectam o comportamento à fadiga 298 10.4.3. Modelos 29910.4.3.1. Modelos de previsão da vida à fadiga 300 10.4.3.2. Modelos fenomenológicos 301 10.4.3.2.1. Modelos de rigidez residual 301 10.4.3.2.2. Modelos de resistência residual 302 10.4.3.2.3. Modelos de dano progressivo 303 Referências 305 11. ENSAIOS MECÂNICOS 311 11.1. Introdução 311 11.2. Ensaios de tracção 312 11.3. Ensaios de compressão 316 11.4. Ensaios de corte 320 11.4.1. Ensaio de tracção de laminados ±45º 320 ÍNDICE vii 11.4.2. Ensaio de tracção de laminados unidireccionais a 10º 321 11.4.3. Ensaios de corte em calha 322 11.4.4. Ensaio Iosipescu 324 11.4.5. Ensaio de torção de placas 325 11.4.6. Ensaio de torção de tubos de paredes finas 326 11.5. Ensaios de flexão 327 11.6. Medição das propriedades na direcção da espessura 330 11.7. Ensaios de fractura 333 11.7.1. Modo I 333 11.7.2. Modo II 335 11.7.3. Modo misto I-II 337 11.7.4. Laminados multidireccionais 338 Referências 340 12. LIGAÇÕES EM MATERIAIS COMPÓSITOS 345 12.1. Ligações aparafusadas e rebitadas 346 12.1.1. Características 346 12.1.2. Modos de rotura 347 12.1.3. Modelação 349 12.2. Ligações coladas 352 12.2.1. Características 352 12.2.2. Procedimentos de execução de uma ligação colada 354 12.2.3. Tipos de adesivos 356 12.2.4. Modos de rotura 361 12.2.5. Modelação 363 12.2.6. Regras de projecto de uma ligação colada 366 12.3. Ligações por fusão 367 Referências 368 MATERIAIS COMPÓSITOS viii Prefácio Os materiais compósitos iniciaram a sua caminhada de sucesso em meados do século 20 e daí em diante a sua expressão industrial não mais parou de crescer. Desde artigos simples, utilizados quotidianamente por todos nós, até aplicações em estruturas e componentes para a indústria aeronáutica e aeroespacial, os materiais compósitos ocupam actualmente um lugar destacado entre os materiais de engenharia. Isto deve-se naturalmente às vantagens que possuem relativamente aos materiais tradicionais, entre as quais sobressaem a facilidade de processamento, a elevada rigidez e resistência mecânica e o baixo peso específico dos compósitos de matriz polimérica. Por con- seguinte, são eles o objecto de estudo neste livro. O primeiro capítulo apresenta exemplos particularmente significativos da aplicação de materiais compósitos em diversos domínios e descreve as características dos constitu- intes principais, com ênfase nos tipos de fibras e de matrizes mais utilizados. Um factor decisivo na disseminação dos compósitos é a existência de técnicas de fabrico que dão ao projectista uma enorme liberdade de concepção e a garantia da competitividade do produto final. As técnicas de processamento são por isso descritas detalhadamente no capítulo 2. Os capítulos 3 a 7 tratam os aspectos essenciais do comportamento mecânico. Os materiais compósitos de alto desempenho são frequentemente constituídos por várias camadas reforçadas com fibras contínuas. No capítulo 3 são formuladas as relações entre tensões e deformações da camada, tratada como um sólido anisotrópico PREFÁCIO ix homogéneo, abordagem que se designa por macromecânica. Todavia, a compreensão do comportamento mecânico requer uma análise à escala microscópica, objecto dos modelos micromecânicos que são apresentados no capítulo 4. Além disso, a natureza heterogénea ao nível microscópico é responsável pela existência de vários modos de rotura. O capítulo 5 aborda precisamente a previsão da rotura da camada, matéria de grande complexidade. Sendo a utilização de fibras contínuas fundamental para a obtenção de elevadas propriedades mecânicas, em certas aplicações prevalecem a facilidade de processamento e o menor custo dos compósitos de fibras curtas. Os fun- damentos do seu comportamento micro e macromecânico são tratados no capítulo 6, onde se constata que a rigidez e a resistência são muito inferiores aos da camada unidireccional de fibras contínuas na direcção longitudinal. Porém, os laminados unidireccionais apresentam propriedades na direcção transversal relativamente baixas. A solução para este problema passa pela utilização de laminados constituídos por camadas com diferentes orientações. O seu comportamento é descrito habitual- mente pela teoria clássica dos laminados, apresentada no capítulo 7. Para além dos esforços mecânicos, os materiais estão geralmente expostos a condições de humidade e temperatura que influenciam o seu comportamento. O estudo dos chamados efeitos higrotérmicos assume particular relevância nos com- pósitos de matriz polimérica, dado que as matrizes têm um carácter acentuadamente viscoelástico, que se manifesta por exemplo em fenómenos de fluência e relaxação. Estes assuntos são objecto de estudo no capítulo 8. Os progressos nos meios computacionais de projecto e as exigências crescentes de competitividade económica têm diminuído a margem de segurança no projecto de estruturas. Em muitos casos, é actualmente admissível a presença de defeitos, desde que a sua evolução e efeitos na resistência possam ser previstos no sentido de evitar a rotura catastrófica. Isto constitui o domínio da Mecânica da Fractura, cujas aplicações aos compósitos são apresentadas no capítulo 9. Por outro lado, a natureza laminada dos compósitos de elevado desempenho gera um conjunto particularidades no seu compor- tamento, de que é exemplo significativo a sensibilidade ao impacto. Estes aspectos mais avançados do comportamento mecânico são analisados no capítulo 10. As aplicações estruturais exigem um conhecimento preciso do comportamento mecânico dos materiais, que é geralmente obtido em ensaios de amostras. Há actualmente um conjunto significativo de ensaios que são objecto de normas internacionais. Porém, como veremos no capítulo 11, subsistem dificuldades importantes na determinação de várias vertentes do comportamento mecânico complexo dos compósitos. MATERIAIS COMPÓSITOS x Finalmente, o capítulo 12 é dedicado às ligações de materiais compósitos. A necessidade de efectuar ligações pode dever-se a razões tão diversas como limitações nas dimensões ou formas das peças, requisitos de desmontabilidade ou realização de reparações. No caso dos laminados, as ligações aparafusadas e rebitadas interrompem a continuidade das fibras e favorecem danos localizados. Por conseguinte, assumem particular importância as ligações coladas com adesivos estruturais. Como se depreende deste breve resumo, este livro descreve detalhadamente o com- portamento mecânico e os modelos usados para o cálculo de estruturas compósitas. Trata-se de um assunto que é de relevância crescente para os profissionais das Engenharias Mecânica, Civil, Aeronáutica e outras afins. De facto, a temática dos materiais compósitos consta actualmente dos planos de estudos das licenciaturas e dos mestrados naqueles domínios. A profundidade com que os assuntos são tratados neste livro é consistente com as exigências de uma disciplina de mestrado. Todos os capítulos têm por base uma revisão bibliográfica extensa da literatura internacional, incluindo artigos científicos nas mais prestigiadas revistas sobre materiais compósitos. Por outro lado, este livro pode servir de base à leccionação de disciplinas que tratem os materiais compósitos a outros níveis. Assim, para uma disciplina de introdução aos materiais serão úteis conhecimentos transmitidos nos capítulos 1 e 2. Além disso, os capítulos 4.1, 4.2.1, 6.1 e 6.2.1 proporcionarão um entendimento básico do compor- tamento mecânico. No caso de uma disciplina de materiais compósitos de licenciatura, recomendam-se os capítulos 1 a 8 e 11.1 a 11.5. A preparação deste livro assenta evidentemente na formação e na experiência de mais de uma década dos autores em materiais compósitos. De facto, sendo todos licenciados e doutorados em Engenharia Mecânica, os seus trabalhos de doutoramento foram dedicados a diferentes aspectos do comportamento mecânico de materiais compósitos. Para além da experiênciana leccionação de disciplinas sobre compósitos, os autores têm também realizado vários trabalhos de investigação nesta área publicados em revistas científicas internacionais. Os autores têm também em comum o facto de terem sido alunos de licenciatura e de doutoramento de António Torres Marques, Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Departamento de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial. O Professor António Torres Marques tem tido um papel preponderante no desenvolvimento de trabalhos de investigação sobre materiais compósitos em Portugal, sendo reconhecido actual- mente como um dos grandes especialistas mundiais na matéria. Os autores querem expressar um voto de agradecimento ao Professor António Torres Marques pela colaboração prestada e pelo interesse na investigação que lhes incutiu. PREFÁCIO xi Capítulo 1 Introdução aos materiais compósitos 1.1. Perspectiva Global dos Compósitos e suas Aplicações Um material diz-se compósito quando resulta da combinação de dois ou mais materiais distintos. O exemplo clássico e mais vulgar são os compósitos fibrosos, isto é, que resultam da dispersão de fibras num material aglomerante, que se designa por matriz. A incorporação de fibras para melhorar as propriedades dos materiais tradicionais começou nos primórdios da história da humanidade. Um dos primeiros exemplos, referido no nti o esta ento, são os tijolos de argila reforçados com fibras de palha. Hoje em dia, o conjunto de materiais que se adjectivam de compósitos é muito vasto, e vão desde o vulgar betão armado até aos compósitos de elevado desem- penho, à base de resinas de epóxido reforçadas com fibras contínuas de carbono. Uma das razões principais para as excelentes propriedades dos compósitos resulta do facto de as fibras apresentarem propriedades mecânicas muito superiores às dos materiais idênticos na forma maciça. Isto foi pela primeira vez demonstrado por Griffith 1.1 , que constatou que, na forma maciça, o vidro possuía tensões de rotura de cerca de 170 MPa, enquanto fibras de vidro com cerca de 20 μm de diâmetro alcançavam tensões de rotura de 3500 MPa. A tabela 1.1 apresenta propriedades de algumas fibras bem como de materiais na forma maciça, ilustrando de forma clara a importância das fibras na obtenção das elevadas propriedades mecânicas dos compósitos fibrosos. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 1 Tabela 1.1. Propriedades de fibras e de materiais na sua forma maciça, adaptada de [1.2] e [1.3]. Apesar do papel fundamental no desempenho dos compósitos, devido à pequena secção resistente, as fibras não podem ser directamente utilizadas em aplicações estruturais de engenharia. De facto, cabem à matriz as funções essenciais de dar forma estável ao compósito, de assegurar a distribuição eficiente de carga pelas fibras e de proteger as suas superfícies. Os materiais compósitos podem classificar-se segundo vários critérios, sendo precisamente o tipo de matriz um dos mais relevantes. Podemos então distinguir compósitos de matriz polimérica, metálica, cerâmica e cimentosa. A facilidade do processamento e a baixa densidade dos polímeros fazem com que os compósitos de matriz polimérica sejam actualmente os mais importantes em termos de desempenho e de campo de aplicações. Por conseguinte, são eles o objecto de estudo neste livro, em que se adopta uma perspectiva de caracterização do comportamento mecânico, tendo em vista aplicações estruturais e semi-estruturais. As fibras mais utilizadas em compósitos de matriz polimérica são as fibras de carbono, de vidro e de aramida, cujas características principais são descritas nos capítulos 1.2 e 1.3. Por seu turno, as matrizes podem ser termoplásticos, como o polipropileno, poliamida e o poli-éter-éter-cetena (PEEK), bem como resinas termoendurecíveis de poliester ou epóxidas, entre outras, conforme se verá no capítulo 1.4. As fibras e a matriz podem ser pré-combinadas, dando origem aos chamados semi-produtos (ver capítulo 1.5), que são posteriormente processados para a obtenção da peça compósito final mediante técnicas descritas no capítulo 2. Finalmente, no capítulo 1.6 faz-se referência a um conjunto de aditivos frequente- mente presentes nos compósitos, tendo objectivos tão diversos como diminuir o custo, aumentar a tenacidade ou melhorar o comportamento ao fogo. Para concluir MATERIAIS COMPÓSITOS 2 esta secção, apresentam-se alguns exemplos ilustrativos da variedade e relevância das aplicações actuais dos compósitos. Como é evidente, os materiais compósitos alargam substancialmente o leque de opções que se colocam aos projectistas e engenheiros de materiais 1.4 . portanto com toda a naturalidade que os materiais compósitos se encontram disseminados por diferentes áreas de actividade que incluem indústrias de grande exigência e visibili- dade tecnológica como a aeronáutica e as indústrias espacial e de defesa, ou outras como os transportes (com particular destaque para a indústria automóvel), artigos desportivos, componentes eléctricos e electrónicos e a construção civil. a) b) c) d) Figura 1.1. Aplicações de materiais compósitos na aeronáutica: a) helicóptero Bell modelo 430 que utiliza materiais compósitos nas pás e no garfo que as sustenta [1.5]; b) o design apresentado pelo pequeno avião M309 seria impensável de realizar sem o recurso em grande escala aos materiais compósitos [1.6]; c) C-17 Globemaster III que apresenta partes importantes da estrutura em materiais compósitos [1.7]; d) Sonic cruiser, avião da Boeing em desenvolvimento que apresentará 60% dos seus materiais em compósitos [1.8]. Na indústria aeronáutica os desafios tecnológicos são permanentes e a sua especifici- dade resulta de ser um tipo de produção em pequena escala, em que os elevados custos de fabrico podem ser compensados por menores custos operacionais. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 3 Utilizam-se compósitos de elevado desempenho mecânico, fundamentalmente à base de fibras de carbono, aramida, híbridos de carbono-aramida, e até fibras de boro em aplicações mais específicas. O objectivo é conseguir estruturas onde a elevada resistência específica e a grande leveza se associam a uma enorme liberdade de concepção do produto. A figura 1.1 mostra exemplos que ilustram estes princípios. Esta trajectória dos materiais compósitos na indústria aeronáutica iniciou-se por volta dos anos 60. São de realçar aplicações em aeronaves militares, caso da cobertura dos estabilizadores horizontais dos F-14A e, posteriormente, por ordem histórica, nos estabilizadores verticais e leme dos F-15 e F-16, cobertura das asas dos F-18 e, final- mente, asa completa, estabilizadores e parte da fuselagem exterior do A -8B 1.9 (figura 1.2). Também na aviação comercial a utilização em larga escala de materiais compósitos nas estruturas contribui para uma redução significativa de peso, permitindo deste modo um aumento da lotação dos aparelhos e, consequentemente, uma maior rentabilidade que as diferentes empresas não podem descurar num mercado de forte concorrência. A estrutura típica de um avião pode representar até 30 do peso total, sendo que apenas 10 corresponde a peso útil efectivamente pago. Tomando em conta que aviões comerciais como o Boeing 757 e 767 incorporam apenas 4 em peso de compósitos avançados, percebe-se que o campo de progressão neste domínio é enorme. a) b) c) d) Figura 1.2. Aeronaves militares com aplicações significativas de compósitos: a) F15 [1.10]; b) F16 [1.11]; c) F-18 [1.12]; d) AV-8B [1.13]. MATERIAIS COMPÓSITOS 4 A indústria espacial é uma aplicação estrutural de enorme impacto e relevância evidenciando as potencialidades dos materiais compósitos. O custo em combustível para colocação em órbita de qualquer estrutura é elevadíssimo, pelo que qualquer ganho em peso é um factor decisivo na escolha. Algumas antenas incorporadas em veículos espaciais,quando expostas directamente aos raios solares necessitam de manter a sua estabilidade dimensional para se obter um bom desempenho no envio do sinal. A utilização de estruturas de carbono-epóxido, que podem apresentar coeficientes de expansão térmica nulos, são particularmente úteis para esse tipo de aplicações. A figura 1.3 ilustra o lançamento do Space Shuttle Atlantis, um exemplo de utilização diversificada de materiais compósitos. Figura 1.3. Space Shuttle Atlantis [1.14]. Na indústria automóvel, o constrangimento de custos com que se deparam os construtores determina que a produção se faça adaptada a elevadas cadências e baixos custos. Assim, os compósitos de matriz de poliester e reforço em fibra de vidro ocupam um lugar de destaque. Nos anos 30, a Ford iniciou a aplicação de materiais compósitos em modelos seus, embora o maior sucesso conhecido seja a realização de uma estrutura em fibra de vidro para o Chevrolet Corvette em 1953 (figura 1.4). Figura 1.4. Chevrolet Corvette de 1953 [1.15, 1.16]. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 5 Os anos 70 e 80 ficaram marcados por grandes esforços no sentido de actualizar técnicas de fabrico aplicáveis aos diversos tipos de materiais que permitem reduções significativas de peso. Contudo, a adesão às técnicas de produção desenvolvidas especificamente para os materiais compósitos ficou aquém das expectativas iniciais, o que se reflectiu naturalmente num crescimento mais lento do número de aplicações. Nos anos 90, assistiu-se a progressos substanciais que tornaram as técnicas de produção compatíveis com as necessidades da produção massificada característica da indústria automóvel. A Ford, por exemplo, demonstrou que a moldação em grande escala de cerca de meia centena de peças a incorporar na estrutura de um seu veículo proporcionava uma economia de cerca de 60 relativamente à utilização de chapa embutida. O progresso conseguido, ano após ano, torna mais próximo o objectivo de produzir automóveis em materiais compósitos ao mesmo preço dos que são produzidos com materiais metálicos 1.17 . Na figura 1.5, por exemplo, pode observar-se um modelo actual onde se introduziram diversos componentes estru- turais em materiais compósitos. Figura 1.5. Aston Martin V12 Vanquish com indicação de locais (a verde) onde se utilizaram compósitos de fibra de carbono [1.18]. Ainda na indústria automóvel, mas num sector muito mais restrito como é o da competição, o custo final tem um peso bastante reduzido. O desenvolvimento de pro- tótipos onde são testadas soluções inovadoras pode gerar uma vantagem tecnológica decisiva em relação aos concorrentes. Até ao início dos anos 50, todos os chassis desenvolvidos para a fórmula 1 eram feitos com perfis tubulares de alumínio, sendo o monobloco revestido por painéis de alumínio. Por esta altura fez-se a introdução de compósitos à base de fibra de vidro, com fibras aleatoriamente distribuídas numa matriz de poliester. Estes materiais cedo se revelaram uma solução técnica e economi- camente interessante, tanto mais que se adaptavam com facilidade à produção de peças com geometria complexa. A sua utilização manteve-se até aos anos 80 quando se formou a McLaren international, a primeira equipa a introduzir os compósitos de carbono no chassis do modelo McLaren MP4-1, ilustrado na figura 1.6. Na opinião MATERIAIS COMPÓSITOS 6 do seu director técnico, Ron Dennis, a introdução de materiais exóticos permitiu um aumento da rigidez torsional estimado em 66 e uma considerável redução de peso. A evolução tecnológica não parou e vários outros componentes foram sendo sucessivamente substituídos por compósitos à base de carbono. Os chassis MP4-6, utilizados pela McLaren em 1991, apresentavam cerca de 75 do seu peso em materiais compósitos. Actualmente, conseguem-se atingir percentagens ainda mais elevadas, o que diz bem das potencialidades reconhecidas a estes materiais 1.9 . Figura 1.6. MacLaren MP4-1 de 1981 [1.19]. No domínio dos transportes é de salientar ainda outros exemplos paradigmáticos. Barcos, comboios, novos veículos em desenvolvimento, movidos a energias alternativas (figura 1.7) são áreas onde os materiais compósitos desempenham papéis relevantes, com tendência clara para aumentarem a sua influência. a) b) c) Figura 1.7. Aplicações de materiais compósitos no domínio dos transportes [1.20]: a) barco; b) veículo solar; c) comboio de alta velocidade. A indústria de componentes eléctricos e electrónicos representa actualmente cerca de CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 7 15 do mercado de materiais compósitos a nível mundial. Exigências de segurança relacionadas com isolamento eléctrico justificam o uso de materiais compósitos em vários componentes, como blindagens, circuitos impressos ou baterias. A figura 1.8 ilustra alguns exemplos de aplicações neste domínio. Outras aplicações comerciais típicas são a produção de artigos desportivos (figura 1.9). A generalização das aplicações em áreas tão díspares tem contribuído significativa- mente para a redução do preço dos materiais compósitos e, consequentemente, para a sua expansão. A provar que as propriedades mecânicas apresentadas concorrem, com grande vantagem, com os materiais tradicionais de utilização estrutural, está o reforço de colunas de pontes em regiões sismicamente activas, como a Califórnia e o apão, recorrendo a compósitos de carbono epóxido (figura 1.10). a) b) c) d) Figura 1.8. Aplicações na área dos componentes eléctricos e electrónicos [1.5]: a) circuito impresso com aplicação de uma resina de epóxido reforçada com fibras de vidro; b) cablagens em fibras ópticas; c) torre de distribuição de energia eléctrica com perfis pultrudidos; d) tambor de máquina de lavar em polipropileno reforçado com fibra de vidro. MATERIAIS COMPÓSITOS 8 a) b) Figura 1.9. Aplicações de materiais compósitos em artigos desportivos: a) garfo de bicicleta que utiliza combinações de fibra de vidro sob a forma de entrançado e fibra de carbono [1.21]; b) raquetes de ténis [1.22]. ´ Figura 1.10. Aplicação de materiais compósitos em pontes [1.5]. 1.2. Reforços 1.2.1. FIBRAS DE VIDRO As fibras de vidro constituem o tipo de reforço mais utilizado. A técnica mais comum para produzir fibras de vidro é o estiramento de vidro fundido através de uma fieira em liga de platina-ródio com orifícios de dimensões muito precisas, conforme ilustra a figura 1.11. A temperatura de fusão depende da composição do vidro, mas ronda normalmente os 1260ºC. As fibras de vidro são sujeitas a tratamentos superficiais à saída da fieira, que variam consoante o fim a que se destinam um revestimento têxtil para o fabrico de tecidos sem risco de danificação da fibra um revestimento plástico para permitir a compatibilização da fibra com as diferentes matrizes orgânicas CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 9 existentes. O revestimento plástico contém quatro componentes distintas um ligante que permite manter os filamentos unidos, evitando-se movimento relativo e abrasão os ligantes são constituídos por suspensões ou emulsões de poliacetato de vinilo, resinas de poliester ou epóxido um agente de adesão à base de compostos orgânicos de silício com o objectivo de facilitar a adesão fibra-matriz de resina um lubrificante agentes anti-estáticos e ou agentes de impregnação. Figura 1.11. Representação esquemática da produção de fibras de vidro. Segundo estudos recentes, o teor alcalino é o principal responsável pela resistência ao envelhecimento. Fibras com teores alcalinos inferiores a 14 apresentam alterações menos significativas em contacto com agentes atmosféricos ou químicos particular- mente desfavoráveis1.23 . Assim, a fibra do tipo A, fortemente alcalina, foi sendo progressivamente substituída pela fibra do tipo E, um vidro de borosilicato com baixa quantidade de compostos alcalinos, que apresenta boas propriedades eléctricas, mecânicas e químicas. Actualmente, pelo menos três tipos de fibras são produzidas sob a forma de fio, casos dos tipos E, S, e R. As duas últimas são produzidas a partir de vidros de alta resistência e são muito aplicadas na indústria aeronáutica. Na tabela 1.2 são indicadas algumas propriedades que podemos encontrar nas principais fibras de vidro. Tabela 1.2. Propriedades de alguns tipos de fibra de vidro. MATERIAIS COMPÓSITOS 10 As fibras de vidro são identificadas e classificadas por normas BS ISO. Segundo estas normas, a designação EC 12 40 2400 diz respeito a uma fibra contínua de vidro E, com um diâmetro nominal de 12 μm e com um peso de 40 gramas por cada 1000 metros. Outra forma de classificação utiliza o conceito de e . Este termo designa o peso de 1000 metros de um fio composto por aproximadamente 200 filamentos. Segundo esta terminologia, a designação anterior, corresponderia a um fio com um e de 40. 1.2.2. FIBRAS DE CARBONO Existem dois tipos de fibras agrupáveis no termo mais lato de fibras de carbono as fibras de carbono propriamente ditas, com percentagens de carbono entre 80 e 95 , e as fibras de grafite onde a percentagem de carbono chega aos 99 . Estas são apli- cadas em compósitos de elevado desempenho mecânico, em áreas como a aeronáutica e a indústria espacial. A tecnologia mais recente para a produção de fibras de carbono centra-se na decomposição térmica de vários precursores orgânicos, que são essencialmente três a celulose, que dá origem às chamadas ra on fibers , o poliacrilonitrilo (PAN) e o alcatrão ( itc ). Os precursores devem possuir algumas características específicas, tais como possuir resistência apropriada e características de manuseamento necessárias para manter as fibras juntas durante todas as etapas do processo de conversão em carbono não fundir durante qualquer etapa do processo (para isso deve seleccionar-se um precursor não-fusível ou estabilizar o precursor termoplástico antes do processo de conversão) não volatilizar completamente durante o processo de pirólise. Os diferentes precursores conduzem a fibras de carbono com características mecânicas distintas. A produção a partir da celulose, que foi o primeiro dos processos utilizados, conduzia a fibras com baixas propriedades mecânicas e caiu rapidamente em desuso. O método foi posteriormente melhorado e passou-se a obter fibras com propriedades idênticas às obtidas pelos restantes processos. Contudo, são exigidas elevadíssimas temperaturas na grafitização, tornando o processo muito dispendioso. As fibras obti- das a partir do precursor de alcatrão apresentam propriedades mecânicas ligeira- mente inferiores, embora, ainda assim, satisfaçam um largo conjunto de mercados, como por exemplo, a indústria automóvel. Apresentam essencialmente vantagens económicas. O precursor actualmente mais utilizado é o poliacrilonitrilo. O processo, CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 11 esquematicamente representado na figura 1.12 , comporta as seguintes etapas oxidação - as fibras são aquecidas até 300 ºC em atmosfera rica em oxigénio, con- duzindo à formação de uma estrutura reticular da cadeia molecular o objectivo desta fase é suprimir artificialmente o ponto de fusão das fibras carbonização - a cadeia molecular é aquecida progressivamente até cerca de 1100 ºC num forno de atmosfera neutra permitindo que apenas átomos de carbono per- maneçam no final as fibras obtidas apresentam boas propriedades mecânicas e podem ser usadas sem posterior tratamento superficial grafitização - é um processo necessário quando se pretende obter fibras de elevado módulo de elasticidade em atmosfera neutra é feita a pirólise das fibras, obtendo-se um elevado grau de orientação da estrutura tratamento superficial - numa atmosfera de ácido nítrico ou ácido sulfúrico as super- fícies são modificadas de forma a atingirem-se elevados níveis de adesão entre as fibras e os vários sistemas de resina empregues como matrizes. Figura 1.12. Processo esquemático de obtenção de fibras de carbono a partir do poliacrilonitrilo (PAN). A tabela 1.3 ilustra exemplos de propriedades mecânicas de fibras de carbono obtidas por qualquer um dos processos referenciados. As fibras de carbono são classificadas com base na sua resistência mecânica e comercializadas segundo as seguintes desig- nações 1.24 UHM ( tra i od s) para fibras com módulos superiores a 500 GPa HM ( i od s) para fibras com módulos superiores a 300 GPa e rácio resistên- cia mecânica módulo em tracção inferior a 1 IM (inter ediate od s) para fibras com módulos até 300 GPa e rácio resistência mecânica módulo de cerca de 1 fibras de baixo módulo, com valores inferiores a 100 GPa HS ( i stren t ) para fibras de resistências à tracção superiores a 3 GPa e rácio resistência rigidez entre 0.015 e 0.02. MATERIAIS COMPÓSITOS 12 Tabela 1.3. Propriedades de alguns tipos de fibra de carbono. As fibras de carbono apresentam uma particularidade importante no sentido longi- tudinal têm um coeficiente de dilatação negativo ou quase nulo. Associadas a materiais com coeficiente de dilatação positivo podem dar origem ao aparecimento de tensões prejudiciais na interface. Pelo contrário, conseguindo uma conjugação criteriosa entre a fibra e a matriz, conseguem-se fabricar materiais compósitos com coeficiente de dilatação nulo, o que é útil para aplicações no domínio da metrologia, da óptica e aeroespacial. 1.2.3. FIBRAS ARAMÍDICAS As fibras aramídicas são produzidas a partir de poliamidas aromáticas. A solução de polímero é mantida a baixa temperatura (entre -50ºC e -80ºC), sendo depois extru- dida a uma temperatura de aproximadamente 200ºC. Por este método, a cadeia molecular é alinhada conseguindo-se obter uma melhoria das propriedades mecânicas. As fibras aramídicas foram comercializadas pela primeira vez pela Dupont, em 1972, e posteriormente quer a Enke, quer a Teijin desenvolveram fibras similares. Actualmente existem dois tipos de produtos 1.25 as fibras standard, tipo Kevlar 29, T aron ou HM.50 (referência utilizada pela Teijin), com aplicações correntes em cabos, materiais diversos de baixo coeficiente de atrito e objectos de protecção pessoal as fibras de elevado módulo, tipo Kevlar 49 da Dupont ou T aron HM da Enke, com inúmeras aplicações em cascos de barcos, estruturas de aviões, capacetes, coletes de protecção balística e automóveis de competição. Apresentam excelente resistência química, mecânica, óptima relação rigidez-peso, boa resistência ao impacto e à fadiga, boa capacidade de amortecimento de vibrações, boas características dieléctricas, elevada resistência a solventes orgânicos, com- bustíveis e lubrificantes. Possuem também boa resistência a ácidos e alcalis. O seu coeficiente de dilatação tem um comportamento idêntico ao das fibras de carbono 1.26 , com as consequências que então se referiu. As principais desvantagens são a CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 13 baixa resistência à compressão e à flexão, bem como elevada sensibilidade ao corte interlaminar. Esta desvantagem é normalmente atribuída à fraca ligação interfacial entre a matriz e as fibras, pelo que se desenvolveram diferentes tratamentos super- ficiais das fibras aramídicas para melhorar a ligação interfacial e a resistência à delaminagem. A tabela 1.4 ilustra algumas propriedades mecânicas características. Tabela 1.4. Propriedades mecânicas de fibras aramídicas. 1.2.4. FIBRAS DE BORO As fibras de boro são produzidas por deposição de boro em fase de vapor sobre um fio de tungsténio ou carbono, que actua como substrato 1.27 . O diâmetro deste é cerca de 12 m e o resultado, após deposição do boro, é uma fibra que pode atingir os200 μm. As fibras de boro apresentam um módulo de elasticidade cinco vezes superior ao da fibra de vidro mas são ligeiramente mais pesadas do que estas. Utilizam-se na forma de fitas pré-impregnadas numa resina de epóxido, fenólica ou poliimida. Pelo seu elevado custo, os compósitos com fibras de boro aplicam-se sobretudo na indústria aeronáutica. As fibras de boro também podem ser integradas no seio de matrizes metálicas para produzir materiais de utilização a temperaturas muito elevadas. Contudo, o boro tem o inconveniente de reagir com a matriz metálica, destruindo-se. Esta situação é ultrapassada através de uma deposição final de car- boneto de boro ou de carboneto de silício, que actua como barreira ao mecanismo de difusão. Esta fibra designa-se por . Propriedades típicas de fibras de boro são indicadas na tabela 1.5. Tabela 1.5. Propriedades mecânicas de fibras de boro em função do seu diâmetro. MATERIAIS COMPÓSITOS 14 1.2.5. OUTROS TIPOS DE REFORÇOS Existe uma grande variedade de outras fibras que podem ser empregues em estruturas compósitas, maioritariamente associadas a desempenhos de menor exigência. Estão neste caso as fibras de amianto (asbestos), sisal, poliamidas e poliesteres. Amianto - é uma fibra mineral, formada por um silicato complexo de composição variável e possui como principais propriedades 1.28 elevada resistência mecânica a temperaturas elevadas, incombustibilidade, boa qualidade isolante, durabilidade, flexi- bilidade, resistência elevada aos ataques de ácidos, alcalis e bactérias, e baixo custo, por ser abundante na natureza. Como material para fins industriais teve o seu apogeu no período compreendido entre as duas guerras mundiais, tendo vindo a decair pelo conhecimento de que estava associado ao desenvolvimento de doenças particularmente graves, como cancros de pulmão e outros tumores malignos. Sisal - é constituído por fibras naturais com diâmetros entre 125 e 500 μm e com com- primentos entre 100 e 150 cm, habitualmente. Como reforço em materiais compósitos, as suas propriedades estão francamente abaixo das que se conseguem com reforços em fibra de vidro. Além disso salienta-se o facto de serem bastante higroscópicas. Poliamidas - são mecanicamente resistentes, tenazes e resistentes à abrasão, e bastante resistentes aos solventes orgânicos mais comuns, alcalis e alguns ácidos. São produzi- das em filamentos contínuos e podem ser processadas em várias formas para aplicações na indústria têxtil. Apresentam baixo módulo de elasticidade. Poliesteres - As fibras de poliester apresentam propriedades semelhantes às poliami- das, excepto o módulo de elasticidade, que é superior. Os laminados com fibras de poliester comportam-se melhor que os seus congéneres em fibra de vidro nos casos em que se exige resistência ao impacto e à abrasão. Para aplicações a altas temperaturas, são de salientar as fibras cerâmicas obtidas por deposição química em fase de vapor. Trata-se de fibras que combinam uma elevada resistência mecânica e elevado módulo de elasticidade a uma capacidade de resistên- cia a altas temperaturas bastante apreciável. De entre elas, distinguem-se as fibras de alumina e de carboneto de silício. As fibras de natureza cerâmica são normalmente produzidas sob a forma de pequenos w iskers. Os w iskers são constituídos por cristais simples, produzidos em condições de crescimento controlado, conseguindo-se resis- tências mecânicas equivalentes às fibras de vidro, módulos de elasticidade superiores aos apresentados pelas fibras de boro 1.23 e tolerando alongamentos elásticos de CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 15 3-4 , o que lhes confere propriedades assinaláveis. ários materiais, como os metais, óxidos, carbonetos e compostos orgânicos podem ser preparados sob a forma de w iskers. Estas fibras estão principalmente associadas à produção de compósitos de matriz metálica, pelo que caem fora do âmbito desta publicação. 1.3. Formas que podem apresentar os Reforços 1.3.1. ROVING O rovin , figura 1.13, é basicamente um cordão de filamentos contínuos enrolado helicoidalmente em bobines. Habitualmente o rovin é constituído por fibras com diâmetros de 9 ou 13 μm. Pode destinar-se à produção de fibras curtas (por exemplo para a moldação por projecção), tecidos, ou pode ser processado para a produção de mantas, entrançados, malhas ou híbrido. Figura 1.13. Bobine de roving [1.5]. 1.3.2. MANTAS Nas mantas (figura 1.14) as fibras são distribuídas aleatoriamente e agregadas com um ligante especial em emulsão ou em pó que confere estabilidade e deve ser solúvel na impregnação. Podemos distinguir três tipos fundamentais de mantas as mantas de filamentos cortados, designadas por CSM ( o ed trand at), as mantas de fila- mentos contínuos designadas por CRM ( ontin o s ando at) e as mantas de superfície. Nas CSM, as fibras apresentam comprimentos típicos menores do que 50 mm e as propriedades mecânicas são baixas. Com o CRM consegue-se melhor conformabilidade e melhores propriedades do compósito. As mantas de superfície caracterizam-se pela sua leveza (20 a 30 g m2) e são constituídas por fibras curtas pré-impregnadas com resina, nas quais se evita o afloramento de fibras à superfície. MATERIAIS COMPÓSITOS 16 Apresentam bom acabamento superficial e possuem uma maior resistência química. a) b) Figura 1.14. Mantas tipo: a) CSM (Chopped Strand Mat); b) CRM (Continuous Random Mat) [1.29]. 1.3.3. TECIDOS 2D Um tecido pode ser do tipo 2D ou 3D e define-se como a confecção de uma ligação entre feixes de fibras longas de carbono, aramida, vidro ou a combinação destas, para aplicações em que se exigem elevadas propriedades mecânicas. Existem em várias larguras, espessuras, orientações e resistências mecânicas. Devem ser suficientemente estáveis para serem manuseados, cortados e aplicados, mantendo contudo uma grande capacidade de conformação à forma do molde (propriedade que se designa por dra abi it ). Os tecidos 3D distinguem-se dos 2D por possuírem fibras orientadas na direcção da espessura, facto que confere melhor resistência interlaminar ao com- pósito (ver capítulo 9). Porém, a necessidade de garantir a boa impregnação pela resina, limita o teor das fibras orientadas no plano, diminuindo as propriedades mecânicas em relação aos tecidos 2D. Os tecidos são caracterizados pela orientação das fibras, pelos diferentes métodos empregues na sua confecção e classificados pela massa por unidade de área, tal como as mantas. 1.3.3.1. Tecidos entrelaçados (woven fabrics) São produzidos pelo entrelaçamento de fibras segundo direcções perpendiculares, podendo apresentar padrões variados. Os mais comuns são designados por ane weave , twi weave , e satin weave 1.30 . Nos tecidos ane weave , cada fibra orientada a 0º passa, alternadamente, por baixo e por cima de cada fibra orientada a 90º (figura 1.15a). O tecido é simétrico e com boa estabilidade. Nos tecidos twi weave (figura 1.15b), uma ou mais fibras a 0º é tecida, alternadamente, por cima e por baixo de duas ou mais fibras a 90º de uma forma regular ou repetida 1.31 . Os CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 17 tecidos satin weave (figura 1.15c) são basicamente tecidos do tipo twi weave modificados de forma a provocar poucas intersecções entre as fibras a 0º e as fibras a 90º. a) b) c) Figura 1.15. Diferentes tipos de tecido [1.32]: a) "plane weave"; b) "twill weave"; c) "satin weave". 1.3.3.2. Tecidos quase unidireccionais Estes tecidos caracterizam-se por apresentarem uma elevada predominância de fibras orientadas a 0º (até 95 da massa total). A principal função das fibras na trama é garantir alguma estabilidade, permitindo colocar as fibras, num determinado compo- nente, no local exacto pretendido e nas quantidades necessárias. 1.3.3.3. Tecidos híbridos Os tecidos híbridos resultam decombinações de diferentes tipos de fibras, como por exemplo vidro e carbono ou carbono e aramida. Desta forma, juntam-se as caracterís- ticas mais favoráveis de cada tipo de fibra. A utilização de tecidos híbridos permite confeccionar compósitos com algumas vantagens relativamente aos compósitos convencionais, nomeadamente minimização de distorções de origem térmica, melhor compromisso entre resistência mecânica, rigidez e tenacidade ou ainda reduções de peso e ou de custo. 1.3.4. MALHAS (KNITTED FABRICS) São produzidos pela ligação sucessiva de camadas de fibras alinhadas. As diferentes camadas são cozidas em conjunto, como ilustra a figura 1.16. Este tipo de construção facilita a distribuição da carga pelas fibras, permitindo obter elevados módulos em tracção e em flexão. Apresentam ainda excelente conformabilidade e boa resistência MATERIAIS COMPÓSITOS 18 interlaminar. uando se utilizam diferentes orientações de fibras consegue-se obter um reforço com propriedades quase isotrópicas (ver capítulos 3 e 7). Figura 1.16. Exemplo de uma malha. É visível a existência de várias camadas cozidas entre si [1.33]. 1.3.5. TECIDOS 3D Os tecidos 3D são obtidos por processos especiais de tecelagem (figura 1.17) que ligam múltiplas camadas de fibras com orientações diversas. Esta tecnologia permite a confecção de formas para painéis e perfis com fins estruturais 1.21 . A sua resistên- cia interlaminar é naturalmente boa. Figura 1.17. Tecido 3D [1.34]. 1.3.6. ENTRANÇADOS (BRAIDS) Os entrançados (figura 1.18) são geralmente mais caros do que as mantas devido ao processo de confecção. A sua resistência específica é mais elevada. Os entrançados estão disponíveis em configuração tubular e plana, apresentam boa conformabilidade podendo ser utilizados como forma de reforço no fabrico de produtos diversos como raquetes de ténis, sticks de hóquei ou pás de hélices de avião. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 19 Figura 1.18. Figura 1.18. Entrançado (braid) em forma tubular [1.32]. 1.3.7. PRÉ-FORMAS As pré-formas são produzidas com diversas formas 2D ou 3D (figura 1.19), e tendo fibras curtas ou fibras contínuas. As pré-formas de fibras curtas podem resultar do corte e sobreposição manual de mantas ou da projecção das fibras e de um ligante sobre uma armação perfurada. A sobreposição manual de mantas é um processo de baixa reprodutibilidade que apenas se justifica para pequenas séries. A projecção é um processo automatizável, mais dispendioso, que permite a realização de formas complexas 3D com distribuição planar das fibras. As pré-formas de fibras contínuas resultam da união de camadas bidimensionais de tecidos com várias orientações. Apresentam melhor resistência interlaminar e é possível fazer variar a sua espessura. a) b) Figura 1.19. Exemplos de pré-formas: a) 2D em fibra de carbono [1.29]; b) 3D em fibra de vidro [1.5]. As pré-formas são utilizadas no fabrico de produtos complexos. Depois de colocadas na cavidade de moldação é feita a injecção de resina. As pré-formas são estáveis e oferecem óptima relação resistência - peso. MATERIAIS COMPÓSITOS 20 1.4. Matrizes As matrizes de natureza polimérica dividem-se em duas categorias principais termo- plásticas e termoendurecíveis. As matrizes termoplásticas são constituídas maioritariamente pelos designados plás- ticos técnicos. Estes plásticos são formados a partir de macromoléculas individuais lineares sem qualquer reticulação entre si. Estas moléculas de grandes dimensões são mantidas nas suas posições à custa de ligações secundárias (forças intermoleculares), tais como forças de van der aals e ligações de hidrogénio. uando se aquecem os polímeros termoplásticos, estas ligações são temporariamente quebradas e passa a existir mobilidade molecular que permite a reconformação. Com o arrefecimento posterior, as moléculas como que congelam nas posições entretanto alcançadas, restabelecendo-se as ligações químicas acima referidas. Em geral, os termoplásticos salientam-se por apresentarem maior resistência ao impacto, maior tenacidade e bastante menor higrospicidade quando comparados com os polímeros termo- endurecíveis. São facilmente processados por injecção ou por termoformação e podem ser reciclados, o que constitui um ponto importante nos dias de hoje. A expansão dos compósitos de matriz termoplástica sempre foi condicionada pela maior dificuldade em impregnar completamente os reforços. A produção comercial de grânulos reforçados que ocorreu a partir da década de 60 facilitou o rápido cresci- mento dos compósitos de matriz termoplástica, estimando-se que representem actualmente cerca de 35 do mercado mundial de materiais compósitos. As matrizes termoendurecíveis são constituídas por polímeros em que as moléculas formam estruturas tridimensionais bastante rígidas. Os termoendurecíveis, ao con- trário dos termoplásticos, não podem ser reprocessados. Uma vez aquecidos assumem uma forma permanente. Estes polímeros, vulgarmente designados por resinas termoendurecíveis, são frequentemente fornecidos para processamento sob a forma de uma mistura de dois ou três componentes resina, acelerador e catalisador. uando estes componentes são misturados na proporção adequada, dá-se a polime- rização e a constituição da estrutura tridimensional, num processo que se designa habitualmente por cura . Algumas resinas requerem a aplicação adicional de calor e pressão para se efectuar a cura. Noutras, porém, a cura ocorre à temperatura ambi- ente. Contudo, as propriedades mecânicas das resinas tendem a melhorar com um tratamento de pós-cura a altas temperaturas. Uma das principais vantagens das resinas termoendurecíveis é a maior facilidade de impregnação do reforço, dado que, antes da cura, apresentam viscosidades bastante inferiores às dos termoplásticos. Uma das características fundamentais das resinas é a temperatura limite de funciona- CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 21 mento. Neste contexto, assumem particular relevância as temperaturas ditas de tran- sição e a temperatura de deflexão sob carga. 1.4.1. TEMPERATURAS DE TRANSIÇÃO No aquecimento ou no arrefecimento de um polímero são observáveis várias fases a que estão associadas te erat ras de transi o . Consideremos a figura 1.20, repre- sentativa do andamento do volume específico de polímeros termoplásticos com a temperatura. Os polímeros total ou parcialmente amorfos são caracterizados pela sua temperatura de transição vítrea, . Esta temperatura marca a mudança de um com- portamento rígido para um comportamento caracterizado pelo amolecimento. Acima da temperatura de transição vítrea, o módulo reduz-se consideravelmente e os polímeros são dúcteis e facilmente deformáveis. Continuando a aumentar a tempe- ratura atinge-se o estado de líquido viscoso a uma temperatura designada por tem- peratura de fusão, . Idealmente, um polímero totalmente cristalino não apresenta temperatura de transição vítrea. uando se aproxima da temperatura de fusão, a sua estrutura sofre um colapso catastrófico passando-se a um estado de líquido viscoso, com o consequente aumento brusco do seu volume específico 1.35 . Figura 1.20. Variação do volume específico de um polímero com a temperatura. Os polímeros termoendurecíveis não apresentam fusão. A temperaturas elevadas degradam-se de forma irreversível. A sua temperatura de transição vítrea é controlada pelo grau de reticulação da estrutura e, normalmente, as alterações são muito menos acentuadas do que nos termoplásticos 1.36 . A medição da temperatura de transição vítrea em polímeros é realizada recorrendo a métodos como a calorimetria diferencial de varrimento (DSC) ou análise térmica diferencial (DTA). MATERIAIS COMPÓSITOS 22 Os efeitos da transição vítrea e da fusão no comportamento mecânico dos polímeros são facilmente perceptíveis pela análise da evolução do módulo de elasticidade, , com a temperatura, como ilustraa figura 1.21. Um termoplástico amorfo apresenta uma considerável alteração das propriedades mecânicas para a temperatura de tran- sição vítrea. Assim, a temperatura máxima de utilização de um termoplástico amorfo deve ser inferior a . Um polímero termoendurecível sofre alterações muito menos pronunciadas a esta temperatura, devido ao elevado grau de reticulação. Contudo, a temperatura máxima de utilização não deve exceder , para evitar fenómenos de fluência e relaxação acentuados (ver capítulo 8). Os polímeros semicristalinos apre- sentam igualmente pequenas variações de propriedades à temperatura de transição vítrea, devido à presença das regiões cristalinas da matriz. Neste caso, é corrente a utilização a temperaturas compreendidas entre e , pois abaixo de os polímeros semicristalinos são geralmente demasiado frágeis. a) b) c) Figura 1.21. Evolução do módulo de elasticidade em função da temperatura: a) termoplástico amorfo; b) termoendurecível; termoplástico semicristalino. 1.4.2. TEMPERATURA DE DEFLEXÃO SOB CARGA (HEAT DEFLECTION TEM- PERATURE, HDT) As características de amolecimento de polímeros não reforçados são determinadas com base na sua temperatura de deflexão sob carga, HDT. Um provete é sujeito a uma tensão de flexão em três pontos de 264 psi (1.82 MPa) e aquecido a taxa constante até se deformar de um valor específico. A esta temperatura, o material apresenta ainda propriedades estruturais aceitáveis. Este procedimento encontra-se descrito pela norma ASTM D648-72. uer a temperatura de deflexão ao calor sob carga, HDT, quer a temperatura de transição vítrea, , dependem da densidade de reticulação de um polímero. Os polímeros que apresentam HDT mais elevada apresentam melhores propriedades a temperaturas altas e melhor resistência química. CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 23 A escolha do agente de cura e o ciclo de cura são os principais factores que a afectam 1.37 . 1.4.3. MATRIZES TERMOPLÁSTICAS Genericamente, podemos dividir os compósitos de matriz termoplástica em duas categorias distintas os compósitos de fibras curtas, produzidos a partir de grânulos contendo fibras de comprimento inferior a 6.4 mm, e os compósitos de fibras longas, que se destacam por apresentarem propriedades mecânicas superiores. Para aplicações não estruturais e semi-estruturais, os polímeros que podemos encontrar mais frequentemente como matriz são polipropilenos, poliamidas, e policarbonatos. Nos compósitos avançados de alta resistência usam-se sobretudo o PEEK (Poli-éter- -éter-cetona), Poliimidas e o PPS (Polisulfureto de fenileno). 1.4.3.1. Polipropileno (PP) O polipropileno é um polímero do grupo das poliolefinas, produzido pela primeira vez em 1957. Trata-se de um termoplástico branco e opaco com cristalinidade em torno de 60 a 70 . Apresenta boa resistência ao impacto e rigidez, resistência à distorção e possui excelente resistência ao ataque químico por ácidos, álcalis e sais, mesmo a ele- vadas temperaturas. As suas propriedades mecânicas dependem largamente do peso molecular médio, da distribuição do peso molecular, da estereoregularidade da cadeia e das condições de processamento. A sua cadeia macromolecular é aparentemente desequilibrada, uma vez que, em átomos alternados da cadeia principal, aparecem gru- pos laterais de metilo de grande peso molecular em comparação com os átomos de hidrogénio. A temperatura típica de processamento ronda os 200 ºC, o que o torna um dos mais acessíveis ao processamento por técnicas tradicionais. 1.4.3.2. Poliamida (PA) As poliamidas, vulgarmente designadas por Nylons, têm designações específicas (6, 66, 11, entre outras) que se baseiam no número de átomos de carbono do ácido que deu origem à amida-base. As que derivam de aminoácidos são designadas por um único algarismo enquanto as que resultam de diaminas e de diácidos são designadas por dois algarismos. As poliamidas são fortemente higroscópicas, apresentam baixos MATERIAIS COMPÓSITOS 24 coeficientes de atrito, grande resistência ao desgaste, boa resistência térmica e, nas va- riedades reforçadas, uma boa resistência mecânica. Como apresentam habitualmente pesos moleculares inferiores aos dos plásticos comuns, a sua viscosidade é menor, o que determina a necessidade de precauções especiais no processamento. 1.4.3.3. Policarbonato (PC) O policarbonato é um termoplástico amorfo que resulta da reacção de compostos de dihidróxido aromático com ácido carbónico. incolor, dimensionalmente estável, durável, com boa resistência térmica, química e à exposição aos agentes ambientais. Salienta-se ainda o facto de se tratar de um polímero retardador de chama, optica- mente transparente e pouco higroscópico. A sua resistência ao impacto é elevada, considerando-se mesmo a mais elevada de entre os diversos termoplásticos. bastante utilizado na indústria automóvel, sob a forma de compósitos de fibras longas, para certas aplicações onde a absorção de energia entre -40º C e 80º C é importante. Apresenta temperatura de transição vítrea, , entre 140 e 150 ºC, mas não é recomendável o seu uso em contínuo a temperaturas superiores a 80 ºC. A temperatura típica de processamento é de 200 ºC. 1.4.3.4. Poli-éter-éter-cetona (PEEK) A poli-éter-éter-cetona é um polímero semicristalino, com grau de cristalinidade máximo de 48 , utilizado frequentemente em compósitos para a indústria aeronáu- tica. Apresenta temperatura de transição vítrea, , próxima dos 143ºC e pode ser usado em contínuo a temperaturas até 250 ºC. Relativamente às resinas de epóxido, tem algumas vantagens importantes, como maior tenacidade e baixa absorção de água (menor do que 0.5 a 23 ºC). Todavia o processamento é mais difícil devido do facto da sua cristalinidade ser variável, e o seu custo é elevado. Para garantir uma boa impregnação dos reforços são necessárias temperaturas e pressões elevadas. 1.4.3.5. Poliimidas termoplásticas As poliimidas termoplásticas caracterizam-se genericamente pela boa resistência a altas temperaturas, que lhes permitem funcionar em contínuo até aos 260 ºC. Ao contrário das poliimidas termoendurecíveis, podem ser reprocessadas por aplicação de calor e pressão. As polietermidas (PEI) e as poliamidas-imidas (PAI) são dois exemplos de poliimidas termoplásticas. São ambas polímeros amorfos, com tempe- raturas de transição vítrea de 217 ºC e 280 ºC, respectivamente 1.36 . A temperatura CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 25 de processamento é próxima dos 350 ºC. Apresentam elevada resistência mecânica e rigidez a altas temperaturas, estabilidade dimensional e boas propriedades eléctricas. São também retardadoras de chama e resistem bem a agentes químicos como hidro- carbonetos e solventes halogenados. Em alguns casos, a sua elevada resistência à fluência permite substituir metais e outros materiais em muitas aplicações estruturais. Duas outras poliimidas termoplásticas, conhecidas como polímeros K e LARC-TPI (Langley Research Center Thermoplastic Imide), são geralmente disponibilizadas sob a forma de pré-polímeros dissolvidos em solventes adequados. Nesta forma apresentam baixas viscosidades que permitem impregnar as fibras para a produção de pré-impregnados flexíveis. A cura requer temperaturas à volta dos 300 ºC. Dos polímeros K conhecem-se duas versões K-1 e K-2. A poliimida K-1 é um polímero amorfo com temperatura de transição vítrea de 210 ºC, que possui boas propriedades mecânicas, excelente tenacidade, baixa absorção de humidade e boa resistência a diversos agentes químicos. A poliimida K-2 é superior à K-1 em termos de tempe- ratura de transição vítrea (cerca de 270 ºC) e de tenacidade 1.38 . A poliimida LARC-TPI, que pertence ao grupo das poliimidas lineares, foi desenvolvida por laboratórios da NASA e apresenta boa tenacidade, é flexível e tem excelentes carac- terísticas mecânicas e eléctricas para uma larga gama de temperaturas. 1.4.3.6. Polisufureto de fenileno (PPS)O Polisulfureto de fenileno é um polímero semicristalinino, com grau de cristali- nidade máximo de 65 , que tem temperatura de transição vítrea a 85ºC. O baixo valor de resulta da ligação bastante flexível entre o sulfureto e os anéis aromáticos. Apresenta elevada resistência mecânica, excelente resistência química e pode ser usado em contínuo a temperaturas até 225 ºC. A tabela 1.6 apresenta algumas propriedades das matrizes termoplásticas acima referidas, e onde se ilustram os benefícios significativos do reforço na resistência e na rigidez. MATERIAIS COMPÓSITOS 26 Tabela 1.6. Propriedades típicas de alguns termoplásticos [1.39]. A amorfo C semicristalino R reforçado com 30 em peso de fibra curta de vidro NR não reforçado 1.4.4. MATRIZES TERMOENDURECÍVEIS As resinas termoendurecíveis mais utilizadas no fabrico de compósitos para apli- cações não-estruturais e semi-estruturais são os poliesteres insaturados, as resinas de vinilester e as resinas fenólicas. Em compósitos avançados de alta resistência, os epóxidos, as bismaleimidas e as poliimidas são as referências mais comuns. 1.4.4.1. Poliesteres insaturados As resinas de poliester classificam-se em duas grandes classes, designadas, respectiva- mente, por saturadas e insaturadas. No primeiro grupo estão os poliesteres comercia- lizados sob a forma de filme ou fibras, resinas termoplásticas ou plasticizadores poliméricos. As resinas de poliester insaturado são das mais utilizadas no fabrico de materiais compósitos, devido ao seu baixo custo, facilidade de processamento e bom compromisso entre propriedades mecânicas, eléctricas e químicas. A cura tem início imediatamente após adição de catalisadores - habitualmente peróxidos orgânicos - e aceleradores especiais, por exemplo à base de cobalto. O processo desenvolve-se em duas etapas na primeira, a resina líquida transforma-se num material gelatinoso - etapa que se designa por ponto de gel a segunda fase conduz ao endurecimento final através de um processo exotérmico (com libertação de calor). A velocidade de reacção depende de vários factores, tais como a reactividade da resina, o teor de acelerador, o teor de catalisador e as condições ambientais. Por ordem crescente de resistência química, as resinas de poliester insaturado dividem-se em três grandes grupos as resinas ortoftálicas, que têm aplicação geral as resinas isoftálicas, que se distinguem por possuírem boa resistência térmica e que CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 27 são aplicadas em meios levemente agressivos, húmidos ou sujeitos a condições ambientais bastante desfavoráveis as resinas bisfenólicas, usadas em meios particularmente agressivos - sobretudo com características ácidas. 1.4.4.2. Resinas de vinilester As resinas de vinilester são produzidas pela reacção de uma resina de vinilester insa- turada com uma resina de epóxido. Estas resinas apresentam como características uma excelente resistência química, elevada tensão de rotura, baixa viscosidade e processo de cura rápido. A principal desvantagem é a elevada contracção volumétrica, que pode atingir valores até 10 . uando comparadas com as resinas de epóxido, exibem adesão moderada. As resinas de vinilester foram especificamente desenvolvi- das para o fabrico de compósitos com aplicações em ambientes corrosivos e por isso é frequente a sua utilização no fabrico de tubos e tanques para a indústria química. 1.4.4.3. Resinas fenólicas As resinas fenólicas resultam da reacção de fenol com o formaldeído em condições ácidas ou alcalinas, conforme o tipo de resina pretendida. Estas resinas foram primeiramente introduzidas por Beakland, de que resultou o nome de Baquelite para o primeiro tipo de resina fenólica produzida. Podem apresentar-se no estado líquido (resóis) ou no estado sólido (novolacs), dependendo da proporção de cada reagente, do tempo de polimerização, etc. As resinas líquidas, que são soluções ou emulsões em água, álcool ou misturas água - álcool, usam-se para impregnação de materiais diversos, como papéis, tecidos, madeiras, etc. O processo de fabrico dos resóis desenrola-se em meio alcalino ou seco e é usado apenas quando se deseja obter resinas translúcidas ou de cores muito claras. Estas resinas podem curar sem adição de outro material. As resinas sólidas apresentam-se normalmente já formuladas com cargas, plastificantes e outros aditivos, que lhe conferem uma cor escura. O processo de fabrico é designado por ácido ou húmido e a sua reticulação faz-se por adição de um agente endurecedor e aplicação de calor. A resina resultante presta-se bem à moldação por compressão e por transferência. As resinas fenólicas têm geralmente excelente comportamento ao fogo, com baixa emissão de fumos. A principal desvan- tagem é o facto de haver libertação de voláteis na cura, que faz com que sejam pouco usadas em compósitos de alto desempenho. MATERIAIS COMPÓSITOS 28 1.4.4.4. Resinas de epóxido As resinas de epóxido apresentam grande variedade de formulações químicas, a maior parte baseadas no diglicidil éter de bisfenol A (DGEBA). O esquema de cura destas resinas passa pela adição de um agente endurecedor apropriado, como aminas alifáti- cas, aromáticas ou algumas poliamidas. O custo destas resinas é cerca de quatro vezes o preço das resinas de poliester e cerca de duas vezes o custo das resinas de vinilester. Como vantagens principais citam-se a elevada resistência mecânica, resistência à abrasão, resistência química (sobretudo em meios alcalinos), boas propriedades de adesão à fibra, processo de cura sem libertação de voláteis, grande estabilidade dimensional em resultado da sua baixa contracção (2 a 3 ), baixa absorção de água e temperaturas de funcionamento tipicamente entre 100 e 220 ºC. Apresentam boa processabilidade, embora inferior à apresentada pelas resinas de poliester, face às maiores viscosidades iniciais e aos tempos de cura longos. Por outro lado, as formu- lações de base são algo frágeis, mas esta deficiência é facilmente colmatada através de aditivos de alta tenacidade, tais como alguns termoplásticos como o ABS e borrachas CTBN. 1.4.4.5. Bismaleimidas As resinas bismaleimidas são substâncias de baixo peso molecular (pós secos) contendo estruturas imida já sob a forma de monómero. Estes monómeros podem desencadear várias reacções de poli(adição) entre eles, bem como com outros co-monómeros. Em contraste com as poliimidas, as reacções de poli(adição) nas bismaleimidas não produzem polímeros lineares mas sim reticulações tridimensionais, estruturas termoendurecíveis que também exibem elevada resistência térmica. Além disso, as reacções de poliadição não produzem qualquer tipo de produtos voláteis 1.40 . As resinas bismaleimidas são largamente utilizadas na sua forma mais pura - sólida. Em muitas aplicações, elas estão em conjunto com co-monómeros reactivos, por exemplo, vinil e seus compostos, aminas aromáticas, compostos à base de fenol, etc.. A vantagem mais significativa destas misturas sobre a forma original é a melhor processabilidade. Com a ajuda dos co-monómeros, os pós podem ser transformados em pasta e moldados à forma desejada. Contudo, a viscosidade destes sistemas é muitas vezes elevada, pelo que se torna necessário adicionar solventes para facilitar o processamento, ou mesmo para o tornar viável. As resinas bismaleimidas são utilizadas como matrizes para compósitos de elevado grau de desempenho para a indústria aeronáutica e espacial. Apresentam excelente resistência térmica, bom comportamento ao desgaste, baixa flamabilidade e baixa emissão de fumos. No processo de cura, é CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 29 frequente requererem tempos longos e temperaturas elevadas (mais de 200 ºC). São também caras e susceptíveis a ataques por alcalis. 1.4.4.6. Poliimidas termoendurecíveis As poliimidas termoendurecíveis são utilizadas em compósitos aos quais é exigida elevada estabilidade dimensionala temperaturas elevadas. São preparadas fazendo reagir uma diamina com um dianidrido, tornando-se insolúveis e infusíveis após polimerização. As principais vantagens das resinas poliimidas são a sua elevada resistência térmica (260 ºC em funcionamento contínuo, podendo chegar a 460 ºC para curtos períodos, mesmo na presença de solventes), a elevada resistência mecânica, a boa resistência ao impacto, a resistência à oxidação, a boa capacidade de adesão e o baixo coeficiente de atrito. Como desvantagens, citam-se o elevado custo, a tendên- cia para uma elevada absorção de água e a sua difícil transformação. Como consequência do elevado grau de reticulação que é possível atingir, estes materiais são frequentemente frágeis, o que origina alguma tendência para uma excessiva microfissuração. A melhoria da tenacidade passa por adicionar poliimidas termoplásticas 1.37 , o que aumenta o tempo de reacção e melhora a processabili- dade, aspectos favoráveis para o fabrico de peças de geometria mais complexa. A tabela 1.7 apresenta algumas propriedades das matrizes termoendurecíveis acima referidas. Tabela 1.7. Propriedades de resinas termoendurecíveis [1.41]. MATERIAIS COMPÓSITOS 30 1.5. Semi-Produtos Os semi-produtos são pré-combinações de fibras e matriz que são posteriormente processados para a obtenção da peça compósito final, através das técnicas descritas no capítulo 2. Há basicamente dois tipos de semi-produtos os compostos de moldação e os chamados pré-impregnados. 1.5.1. COMPOSTOS DE MOLDAÇÃO Os compostos de moldação são produzidos a partir de fibras curtas ou longas impregna- das com resina. Geralmente são utilizados para a moldação por injecção ou moldação por compressão (ver capítulo 2). Existem vários tipos disponíveis, com resinas de base termoendurecível ou termoplástica, sendo os mais comuns designados por s eet o din co o nd (SMC), t ick o din co o nd (TMC), do o din co o nd (DMC) ou b k o din co o nd (BMC) e ass at t er o astic (GMT), respectivamente. 1.5.1.1. SMC (sheet molding compound) A designação SMC refere-se a um composto constituído por fibras e resina (poliester ou vinilester) envolvidas por folhas de polietileno, estando disponíveis com espessuras até 6 mm. Utilizam-se para produção de componentes em que se exige uma elevada cadência de produção e uma resistência mecânica moderada. Os SMC apresentam tipicamente 30 de fibras em peso. Há também SMC especiais, com elevada resistência mecânica e elevada resistência ao impacto, pelo que são designados por i act ou, simplesmente, HMC. Considerando a forma da fibra utilizada, existem três tipos de SMC disponíveis no mercado SMC-R, com fibras curtas dispersas aleatoriamente, SMC-CR, composto formado por fibras contínuas unidi- reccionais e fibras curtas dispostas aleatoriamente, MC, que consiste numa mistura de fibras curtas dispostas aleatoriamente e fibras contínuas dispostas numa configu- ração 1.26 . 1.5.1.2. TMC (thick molding compound) Distinguem-se dos compostos SMC porque apresentam espessuras que podem ir até 50 mm. Com este tipo de composto de moldação evita-se a necessidade de utilizar várias camadas de SMC para produzir peças moldadas mais espessas. Devido à sua CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 31 espessura, é reduzida a possibilidade de empilhamento. Nos compostos TMC, as fibras cortadas estão aleatoriamente distribuídas de uma forma tridimensional. 1.5.1.3. DMC (dough molding compound) Os compostos DMC, também designados por BMC ( k o din o o nd), referem-se a uma mistura pastosa de uma resina de poliester ou vinilester com fibras curtas. A percentagem de fibras é de 15 a 20 , tendo comprimentos entre 6 e 12 mm. Devido à menor quantidade de fibras e aos menores comprimentos destas, a resistência mecânica é inferior à dos compostos SMC. 1.5.1.4. Compostos termoplásticos O interesse na utilização de compósitos termoplásticos tem-se acentuado nos últimos anos. Estes materiais oferecem algumas vantagens relativamente aos compósitos de matriz termoendurecível, nomeadamente porque podem ser reprocessados. Genericamente estes compósitos podem apresentar-se nas seguintes formas pré-preparadas GMT (G ass at er o astics) e ATC ( dvanced er o astic o osites). Em princípio, as formulações GMT podem utilizar qualquer tipo de matriz termoplástica, embora 95 das aplicações comerciais sejam à base de polipropileno. O reforço é constituído por fibras curtas de vidro E. A temperatura de utilização destes não excede os 110ºC. O seu domínio de utilização é fundamental- mente a indústria automóvel. Originalmente, os ATC utilizavam termoplásticos amorfos para a matriz, tais como as polietersulfonas e as polietermidas. Hoje em dia outros termoplásticos podem ser usados, como por exemplo PEEK e PPS. O reforço, sob a forma de fibras contínuas, pode ser vidro E (para temperaturas de utilização mais baixas), carbono ou aramida. O seu domínio preferencial de utilização é a indústria aeronáutica. 1.5.2. PRÉ-IMPREGNADOS Os pré-impregnados constituem misturas de fibra e resina para posterior consoli- dação, geralmente através da moldação em autoclave (ver capítulo 2). São semi- -produtos de custo elevado para aplicações de grande exigência, como é o caso da indústria aeronáutica. Existem pré-impregnados de base termoendurecível e MATERIAIS COMPÓSITOS 32 pré-impregnados de base termoplástica, embora os primeiros sejam de aplicação mais generalizada. Os reforços podem ser à base de vidro, carbono ou aramida na forma de fibras contínuas unidireccionais ou tecidos. Nos pré-impregnados termoen- durecíveis, o sistema de resina mais comum é o epóxido. resina são adicionados inibidores que impedem a cura antes do processamento, desde que armazenados a temperaturas baixas. Como características mais importantes salientam-se maneabi- lidade, auto-adesão de camadas no empilhamento, facilidade de posicionamento, boa conformabilidade a curvaturas do molde, mas validade limitada. Ao invés, os pré-impregnados termoplásticos têm um tempo de validade ilimitado à temperatura ambiente. São processados à temperatura de fusão da resina, cuja elevada viscosidade dificulta a impregnação e consolidação. São também rígidos e mais difíceis de manter em posição no empilhamento. Como não possuem capacidade de auto-adesão de camadas, o processamento posterior exige pré-aquecimento. Os maiores benefícios do uso de pré-impregnados termoplásticos são a sua capacidade de reciclagem, o reduzido tempo de processamento, elevada tenacidade e resistência ao impacto. 1.6. Cargas e outros aditivos Para além do reforço e da matriz os compósitos são constituídos por cargas e outros aditivos que se juntam com o propósito de produzir vários efeitos como diminuição do custo facilidade de manuseamento melhoria das características de moldação melhoria das propriedades pós-cura introdução de motivos decorativos. As cargas mais comuns são obtidas a partir de depósitos naturais, por exemplo mica, feldspato, sílica, quartzo, argila ou cálcio e têm como principal função diminuir o preço do compósito. As suas principais características devem ser a boa dispersabili- dade, estabilidade de suspensão, baixa densidade, cor clara, baixa percentagem de humidade, baixa absorção de óleo, resistência ao calor e resistência química. Com o objectivo de melhorar determinadas propriedades específicas são empregues aditivos que, embora em peso tenham uma reduzida percentagem relativamente às cargas e aos reforços, desempenham funções muito importantes, como por exemplo diminuição da contracção da matriz durante o processo de cura melhoria da resistência ao fogo CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO 33 diminuição da emissão de voláteis supressão da emissão de estireno, contribuindo para a melhoria da qualidade do ar no ambiente de trabalho condutibilidade eléctrica melhoria da tenacidade estabilizadores de ultravioletas
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