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Saúde em Debate ISSN: 0103-1104 revista@saudeemdebate.org.br Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Brasil Vieira Moura Rabelo, lonara; Carneiro Tavares, Rosana Homens-carrapatos e suas mulheres: relato de experiência em Saúde Mental na Estratégia Saúde da Família Saúde em Debate, vol. 32, núm. 78-79-80, enero-diciembre, 2008, pp. 133-142 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Rio de Janeiro, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341773013 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto http://www.redalyc.org/revista.oa?id=4063 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=4063 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341773013 http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=406341773013 http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=4063&numero=41773 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406341773013 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=4063 http://www.redalyc.org ARTIGO ORIGINAL I ORIGINALARTICLE Homens-carrapatos e suas mulheres: relato de experiência em Saúde Mental na Estratégia Saúde da Família Tick-men and their women: a report about Mental Health issue in Family Health Strategy lonara Vieira Moura Rabelo 1 Rosana Carneiro Tavares 2 133 I Psicóloga do Cemro de Apoio Psicossocial (CAPS) Beija Flor - SMS Goiânia; doutoranda em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNF.sr). ionaravmr@yahoo.com.br 2 Psicóloga do CAI'S Beija Flor - SMS Goiânia; mestre em psicologia. rosa na.ca rnei rotava res@gmail.com RESUMO Este trabalho apresenta os resultados de uma intervençãopsicossocial planejada para atender mulheres que estavam usando medicação ansiolítica. Esta intervençãojói organiZtUia por uma equipe de profissionais do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) em conjunto com equipes de saúde dajàmília (ESF). Ao todo jóram realizados dez encontros com diftrentes dinâmicas de grupo, desenvolvidas para o grupo de mulheres e ESF com o objetivo de problematizar o papel da mulher em conjunto com osignificado do remédio na construção desta identidade. Constatou-se que ogrupo ajudou estas mulheres a entenderem seu sofrimentopara além do sintoma, uso racional, bem como a retirada da medicação. PALAVRAS-CHAVE: Saúde Mental; Gênero; Programa Saúde da Família. ABSTRACT Thispaperpresents the results ofa psychosocial intervention planned to attend women who were taking anxiolytic medicines. This intervention was carried out by a profissional team from the Mental Health Services (CAPS II) along with profissional groups ofthe jàmily health strategy. ln total, ten weekly meetings using diffirent group dynamic techniques were accomplished developed jór women andprofissionaisfrom thejàmily health strategy. These meetings aimed at discussing the women's role, together with the meaning ofthe medicine in the construction ofa identity. [t was jóund that the group helped the participants to understand their suffiring beyond the symptoms, the rational use and the withdrawal ofthe medication. KEYWORDs: Mental Health; Gender; Family Health Programo Sll1,dum D~bau, Rio de Janeiro, v. 32. n. 78/79/80, p. 133-142. jan.ldt."Z. 2008 Anotacao Título do Artigo: HOMENS-CARRAPATOS E SUAS MULHERES: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM SAÚDE MENTAL NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA Autor(es): Ionara Vieira Moura Rabelo, Rosana Carneiro Tavares a_Ionara_Vieira_Moura_Rabelo a_Rosana_Carneiro_Tavares 134 RABELO, I.V.M, TAVARES. R.C. • Homens-carmpams c suas mulheres: relato de cxperiênci3 cm S3úde Memalll3 Esmtégia S3úde da F3mília. INTRODUÇÃO A Reforma Psiquiátrica coloca-se como um desa- fio às ações de Saúde Mental na atenção básica, pois confronta a lógica do encaminhamento, bem como reafirma a comunidade como o locus para o atendimento aos transtornos metais. É a partir deste princípio que os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) se propõem a trabalhar em conjunto com as equipes de atenção à saúde da família, atualmente nomeadas como Estratégia Saúde da Família (ESF), através de diferentes estratégias de atuação em cada região do país. Desde as primeiras oficinas propostas pelo Mi- nistério da Saúde, realizadas no ano de 2001, para se avaliar a inclusão de ações de Saúde Mental na atenção básica, houve a discussão tanto dos principais proble- mas e situações de risco em Saúde Mental, bem como, O direcionamento para estratégias de intervenções comunitárias conjuntas, estudos de caso, construção de projeto terapêutico individualizado, evitando as- sim a lógica do encaminhamento. Percebe-se que a princípio o Governo Federal optou por uma lógica nomeada como matriciamento (ou apoio matricial) para a atuação de equipes de Saúde Mental em con- junto com as ES F. O apoio matricial é uma estratégia que busca co- nhecer e interagir com as equipes de atenção básica em seu território; procura estabelecer iniciativas conjuntas de levantamento de dados relevantes sobre as demandas em Saúde Mental no território; atender conjuntamente situações complexas, realizar visitas domiciliares acom- panhadas da equipe e atender casos complexos em conjunto (BRASIL, 2007). É importante ressaltar que tais estratégias confron- tam o modelo manicomial, pois rompem com a lógica Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. ll. 78/79/80, p. 133-142, jan.ldcz. 2008 da especialização, e, portanto, ampliam para fora do hospital psiquiátrico todas as estratégias de atenção em Saúde Mental. A partir destas considerações coloca-se a relevância deste trabalho, a qual propõe relatar uma experiência realizada no município de Goiânia a partir do ano de 2006, entre a equipe de um CAPS II que atende a usuários com transtorno mental e duas equipes de saúde da família. Este trabalho iniciou-se a partir de um levanta- mento realizado pela equipe de mulheres atendidas nesta comunidade que faziam uso continuado de ansiolíticos. A proposta de busca apenas por mulhe- res ocorteu em função de estudos que indicam uma prevalência de pessoas do sexo feminino como sendo o público que mais faz uso abusivo de ansiolíticos. Sendo assim, justificam-se a relevância e a contempo- raneidade deste estudo por avaliar que a consolidação de novos paradigmas de atenção em Saúde Mental depende das possibilidades de reinvenção da atuação em comunidades. OS ENCONTROS POSSívEIS: SAÚDE MEN- TAL E ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA O compromisso com a intervenção nos processos de adoecimento, através de ações localizadas na comuni- dade, tem sido um eixo norteador da política de atenção básica em saúde que se fortaleceu com a implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF), anteriormente nomeada como Programa de Saúde da Família (PSF). Até o ano de 2007, estas equipes totalizaram aproxima- damente 29 mil em todo o território nacional, atingindo cerca de 90 milhões de brasileiros. Porém, percebe-se que essas equipes apresentam deficiências quanto às atuações em Saúde Mental visto a hegemonia do modelo biomédico (FILHO; ROCHA; RABELO. LV.M, TAVARES, R.C. • Homens-carrapalos e suas mulheres: relalO de experiência em Saúde Mental na Eslrarégia Saúde da Famflia. 135 FRANÇA, 2006). Dessa forma, nota-se a importância na reflexão e pesquisa sobre estas novas práticas que se inse- rem no processo da reforma sanitária brasileira, elegendo neste instante o núcleo familiar como possibilidade de intervenção e manejo do processo saúde e doença. Simultaneamente à implantação e implementação das equipes de saúde da família, o Ministério da Saúde totalizou a implantação de aproximadamente 1.100 CAPS em todo Brasil. Para detectar a necessidade de expansão da rede de Saúde Mental, a proposta do Ministério da Saúde (BRA- SIL, 2005) é de um CAPS para cada 100 mil habitantes, porém O critério populacional não deve ser o único para se planejar a rede de SaúdeMental, cabendo ao gestor local junto a outras instâncias planejar os dispositivos que melhor atendam à população local. Ao avaliar-se apenas os CAPS direcionados para o atendimento aos usuários com transtornos mentais, considera-se que os CAPS I dá resposta efetiva a 50 mil habitantes, os CAPS II dá cobertura a 100 mil habitantes, e os CAPS III a 150 mil habitantes, sendo assim, de acordo como Ministério da Saúde, há déficit em todas as regiões brasileiras, pois atualmente os CAPS estão assim distribuídos: região Norte com 0,19 CAPS; região Nordeste com 0,28 CAPS; região Centro-Oeste com 0,27 CAPS; região Sudeste com 0,34 CAPS e região Sul com 0,41 CAPS por 100 mil habitantes. Mesmo ao se considerar um mapa com tantas deficiências, para um país de dimensões continentais, é importante ampliar o debate sobre a Saúde Mental, pois a lógica do território como espaço de relações e trocas, que permeiam os princípios do CAPS e da Saúde da Família, terminam por contribuir para a conver- gência de ações apoiadas por um mesmo paradigma em saúde. A integração prevista entre os CAPS e a ESF passa a ser discutida sob um novo enfoque quando, o Minis- tério da Saúde (2008) publica a Portaria 154 em 24 de janeito de 2008. Tal portaria cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), compostos por profissionais de diferentes áreas de conhecimento com O objetivo de apoiar, atuar em conjunto e compartilhar com a ESF, práticas em saúde nos territórios sob responsabi- lidade das mesmas. A portaria recomenda a presença de pelo menos um profissional de Saúde Mental na implementação das equipes dos NASF, porém, não há exigência que este profissional esteja lotado nos CAPS do território, mas apenas que esteja lotado em uma das unidades de saúde do território. Tal fato deve ser objeto de discussão dentro de cada município, pois ficará a critério do gestor local a escolha da composição e lotação das equipes dos NASF. Esta proposta fomenta novos debates, e propõe que profissionais dos CAPS fiquem atentos para que as NASF e os CAPS não passem a desenvolver atividades paralelas, mas que possam funcionar em rede para a atenção em Saúde Mental . , . no mesmo tern tono. Ao mesmo tempo em que novos dispositivos são criados, os trabalhadores de CAPS e equipes de saúde da família já têm construído experiências muito ricas em Saúde Mental, mesmo que nomeadas diferente, mas que mantém entre si a lógica do matriciamento, onde são priorizadas a supervisão, o atendimen to compartilhado e a capacitação em serviço, com o objetivo de aumen- tar a capacidade resolutiva das ações de Saúde Mental naquele território. A atuação de forma compartilhada permite a integralidade das ações e favorece o trabalho de ques- tões de forma transversal como o conceito de gênero, o qual é capaz de interligar situações de exploração, discriminação, violência, salientando determinantes sociais e culturais que interferem na saúde de mulheres. Para melhor especificar como o conceito de gênero se inscreve de maneira importante no cotidiano de Saúde Mental, são discutidos alguns estudos que abordam , . esta temanca. Sll1,dum D~bau, Rio de Janeiro, v. 32. n. 78/79/80. p. 133-142. jan.ldt."Z. 2008 136 RABELO, I.V.M, TAVARES. R.C. • Homens-carmpams c suas mulheres: relato de cxperiênci3 cm S3úde Memalll3 Esmtégia S3úde da F3mília. INTERFACES SAÚDE MENTAL E GÊNERO Para confrontar o cotidiano excludente das re- lações em sociedade é necessário pensar as relações historicamente construídas de exploração da mulher, pobre, negra, analfabeta, louca, desempregada que mora longe e sofre violência física por parte do parceiro. Dar nome, cor, sentido, data e hora para o sofrimento, pode possibilitar aos trabalhadores e usuários dos serviços construírem reflexões sobre o que estão vivenciando, possibilitando a transformação desta identidade nome- ada como vítima-doente, podendo ser reposicionada e não só ceder à mera repetição de uma identidade pressuposta pelo outro (CIAMPA, 2001). Ao se procurar estudos que tentam compreender as trajetórias e pontos de aproximação e afastamento das categorias Saúde Mental e gênero, percebem-se duas grandes bases teóricas: abordagens epidemiológicas com base no modelo biomédico e abordagens sociológicas que tentam compreender os determinantes sociais e as representações compartilhadas que estão presentes no fenômeno. Os estudos de base epidemiológica (NUNES FILHO; BUENO; NARDI, 2000) afirmam que a prevalência de transtornos mentais leves é maior entre mulheres, principalmente em áreas urbanas. Com relação ao transtorno depressivo, ele ocorre três vezes mais em mulheres que em homens, tais dados avaliam de forma essencialista a Saúde Mental, transformando sofrimento em adoecimento. Por outro lado, as abordagens sociológicas irão enfatizar os estudos sobre como as situações de vio- lência, exploração e gênero interferem no processo saúde-doença. Como exemplo pode-se citar o estudo de Adeodato; Carvalho; Siqueira e Souza (2005), no qual em uma amostra de 100 mulheres que foram agredidas por seus parceiros e fizeram denúncia na Delegacia da Mulher do Ceará, 72% apresentaram quadro sugestivo Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. ll. 78/79/80, p. 133-142, jan.ldcz. 2008 de depressão, 78% queixavam-se de sintomas de ansie- dade e insônia, 39% confirmavam ideação suicida e 24% iniciaram o uso de medicação ansiolítica após as situa- ções de agressão. Mesmo que tal estudo seja norteado pela semiologia psiquiátrica, ele é válido no sentido de apontar como a rede de conflitos sociais que, em alguns casos configuram-se também como violência intrafami- liar, é constituinte do campo da Saúde Mental. A situação de violência familiar constrói diferentes processos e resistências, porém, pode-se avaliar o quanto crianças, adolescentes e mulheres (mães de crianças, vítimas de abuso sexual) também apresentam conflitos e sofrimento diante da lei do silêncio imposta pelas relações de poder (ARAúJo, 2002). Pode-se também, encontrar discussões como as rea- lizadas por Maragno; Goldbaum, Gianini e Novaes, em que se detectaram diferenças significativas na prevalência de transtornos mentais comuns em determinados grupos populacionais, sendo maior entre mulheres, idosos e pessoas com menor renda ou de menor escolaridade. Este estudo foi realizado em regiões periféricas da ci- dade de São Paulo e demonstra o quanto os processos que envolvem o sofrimento psíquico conectam-se aos indicadores de vulnerabilidade social. Neste cenário de turbulência das relações de violên- cia e exploração sociais, é necessário salientar o conceito de gênero como categoria que se afasta dos princípios essencialistas ao tentar explicar o ser humano, e tenta investigar a realidade de maneira plural, histórica e cultural (GUACIRA, 1997). Neste sentido, pode-se pensar como as experiências vivenciadas por mulheres, que não se igualam sob esta nomenclatura, podem produzir 'sofrimentos psíquicos' (reforça-se aqui o plural porque também plural será o sofrer) diante da significação que dão e recebem sobre seu cotidiano. Como exemplo desta perspectiva, cita-se o estudo de Alves (2002) no qual o sofrimento descrito por mulheres idosas, ao narrarem suas histórias de vida, é nomeado RABELO. LV.M, TAVARES, R.C. • Homens-carrapalos e suas mulheres; relalO de experiência em Saúde Mental na Eslrarégia Saúde da Famflia. 137 como 'nervoso', ou seja, relatam como uma vida vinculada à pobreza e violência gerando experiências de fragilização, e tais experiências são objetivadas num sofrimento cultu- ralmente compartilhado, como relatos do nervoso. A partir da concepção de que Saúde Mental e gêne- ro tecem fios que podem ser tocados nas relações entre profissionais de saúde e comunidade, pode-se pensar em tais fios que ao mesmo tempo em que produzem sentidos para as mulheres, também constroem barreiras entre profissionais e pacientes, na medida em que existamtrabalhadores que não conseguem mais ouvir O sofrer e o transformam em dor ou querelância, e a resposta para este problema será a coisificação-medicalização. Com base no que foi exposto acima, pode-se refletir o grande investimento que o Brasil tem feito a fim de criar novos dispositivos de atenção em Saúde Mental. Dessa forma, torna-se essencial que os trabalhadores de Saúde Mental estejam envolvidos nesse processo, trans- versalizando o aparato biomédico com possibilidade de intervenções que possam enriquecer não só o referencial teórico, mas também as estratégias utilizadas. Sendo assim, fundamenta-se a discussão de gênero como um dos prismas que pode transversalizar este ema- ranhado, pois esta temática é capaz de tocar diferentes experiências, ao mesmo tempo em que desencadeia reflexões pertinentes ao viver em comunidade. A conectividade do sofrimento psíquico às questões transversais da vida em sociedade, como por exemplo, as questões de gênero, torna-se a principal referência para a atuação em Saúde Mental. Nessa perspectiva, destaca-se o trabalho desenvolvido por um CAPS de Goiânia, em conjunto com duas equipes de saúde da família, cujo principal objetivo foi retomar o sofrimento psíquico pelo viés do sofrimento sócio-afetivo relacionado às questões de gênero, e proporcionar aos profissionais de saúde da família a ampliação das possibilidades de reflexão e compreensão do adoecimento psíquico para além dos aspectos biomédicos dos sintomas. o CAPS E A ESF: CO-AUTORIA EM SAÚDE MENTAL O trabalho desenvolvido foi planejado em conjunto com as enfermeiras de duas equipes de saúde da família e com os agentes comunitários destas equipes. O pla- nejamento em conjunto teve como principal objetivo possibilitar a aproximação da equipe do CAPS com as equipes de saúde da família e romper com O estigma de que trabalhar a Saúde Mental é ação restrita de unidades de Saúde Mental, cuja compreensão coloca a atuação do ESF na lógica de encaminhamentos quando se detecta problemas de ordem psíquica. O planejamento deu-se por meio de reuniões com as equipes de Saúde da Família, a fim de fazer levanta- mento da demanda, de quais seriam os ptoblemas viven- ciados pela população do bairro que pudessem indicar a existência de sofrimento psíquico. Buscou-se nesta fase priorizar a atenção à população feminina que estivesse fazendo uso continuado de ansiolítico ou que estivesse solicitando à equipe de saúde o uso da medicação. Para este levantamento foram feitas buscas em todos os prontuários das duas equipes, a fim de detectar aquelas famílias que tivessem mulheres em uso de ansiolíticos e/ou de antidepressivos. Com este levantamento foram encontradas nas duas equipes, 53 mulheres com este perfil (27 de uma equipe e 26 de outra). Após este primeiro levantamento foram planejadas visitas domiciliares a todas essas mulheres, a fim de conhecer a história de vida e uso de ansiolíticos. Tais visitas foram realizadas pelos agentes comunitários de saúde (ACS) e tiveram importante papel para a capaci- tação em serviço dos ACS, pois constituíram elementos de re-significações do que é adoecimento psíquico e de como os sintomas aparecem no curso de vida das pessoas. Todos os casos visitados foram discutidos em equipe e propiciaram aos ACS trabalhar com crenças, tais como, 'usam remédio porque não conseguem dor- Sll1,dum D~bau, Rio de Janeiro, v. 32. n. 78/79/80. p. 133-142. jan.ldt."Z. 2008 138 RABELO, I.V.M, TAVARES. R.C. • Homens-carmpams c suas mulheres: relato de cxperiênci3 cm S3úde Memalll3 Esmtégia S3úde da F3mília. mir'; e reelaborar novos significados que permitissem compreender os sintomas como não desconectados da vida e da realidade dessas mulheres. Com os estudos de casO a equipe de saúde da família pôde conectar, por exemplo, a insônia com a realidade de vida das mulheres, com relações de poder e com questões sociohistóricas de gênero. O passo seguinte foi planejar quais seriam as intervenções a serem realizadas. Decidiu-se, assim, or- ganizar reuniões semanais e convidar essas mulheres a participarem. O planejamento das reuniões era realizado semanalmente com as equipes de saúde da família. As reuniões semanais com as mulheres ocorriam com a par- ticipação de duas psicólogas do CAPS, de uma enfermeira da equipe de saúde da família e de umaACS. Após cada reunião com Ogrupo de mulheres foram realizadas reu- niões com todo o restante dos ACS, a fim de apresentar os conteúdos trabalhados, avaliar o desenvolvimento do grupo de mulheres e planejar o que seria trabalhado na • semana seguInte. Os encontros semanais com as mulheres tinham como objetivo problematizar o papel da mulher na re- alidade histórico-social, em conjunto com o significado do remédio na construção da identidade feminina. Fo- ram desenvolvidas dinâmicas e vivências que pudessem transportar as mulheres ao núcleo de seus sentimentos e sofrimento, como meio de fazer a junção entre os sintomas (que exigiam o uso da medicação) e a realidade vivenciada (opressora e impeditiva de rompimentos). De todas as experiências realizadas destacam-se al- gumas mais provocadoras de reflexões e importantes para a compreensão da efetividade do trabalho ora apresenta- do. São descritas a seguir algumas destas dinâmicas: • apresentação com figuras: no primeiro encontro foi realizada uma dinâmica de apresentação, cujo objeti- vo foi conhecer as mulheres que estavam participando, propiciar o conhecimento entre elas, esclarecer o objeti- Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. ll. 78/79/80, p. 133-142, jan.ldcz. 2008 vo do grupo e motivá-las para a participação nos encon- tros. Foi desenvolvida uma dinâmica de apresentação, com gravuras de conteúdos diversos e solicitou-se que cada uma das mulheres escolhesse a gravura que melhor representasse o seu jeito de ser e que permitisse a sua apresentação por meio desta gravura. Essa dinâmica foi suficiente para uma significativa mobilização de algumas mulheres e permitiu a reflexão quanto à necessidade de propor vivências e dinâmicas menos complexas e mais lúdicas, a fim de evitar a auto-exposição desnecessária, mas muitas vezes inevitável, dadas as poucas oportuni- dades de fala e reflexões que essas mulheres têm no seu cotidiano; • complementação de um pensamento: foi solici- tado que cada mulher do grupo completasse a seguinte frase: 'Se eu pudesse, eu trocaria meu remédio por...'. O objetivo era possibilitar a reflexão do sentido do uso do remédio na vivência de cada mulher, ou seja, buscar, minimamente, conectar o sintoma gerador do uso da medicação à realidade vivenciada por cada mulher. Nesra dinâmica foi possível emergir conteúdos relativos ao desejo por estabilidade financeira, à vontade de sentir-se feliz, ao desejo de ter novamente a alegria de antes e de retomar vínculos com familiares, o qual foi colocado por algumas como tendo sido perdido, em função do casa- mento, das dificuldades financeiras (muitos familiares moravam em outras cidades ou o marido as impedia de vê-los, etc). Foram expressos conteúdos de identidade de gênero e sua relação com o casamento, o sofrimento de algumas mulheres pelo fato de serem obrigadas a romper com o seu núcleo familiar primário e ter de se adaptar à cultura imposta pelo esposo; • recortes de nomes e características: tal dinâmica foi planejada, em função dos conteúdos emergentes na dinâmica anterior com relação ao afasramento do núcleo familiar primário. Foi solicitado que cada mu- RABELO. LV.M, TAVARES, R.C. • Homens-carrapalos e suas mulheres: relalO de experiência em Saúde Mental na Eslrarégia Saúde da Famflia. 139 lher escrevesse o seu nome e sobrenome em uma folha, destacando cores diferentes para cada nome/sobrenome e características que pudessem definir cada nome. O objetivo foi trabalhar a construção da identidade destas mulheres em cada eixo familiar (mãe, pai e esposo). Foram emersos conteúdos relativos à formação da iden- tidadeno seio familiar, como por exemplo, a família materna e paterna produzindo preconceito de raça; e a construção da identidade familiar se contrapondo à identidade construída com O casamento. Ou seja, foram conteúdos que marcaram as contradições viveneiadas por essas mulheres, que ao se casarem renunciavam a identidade construída em seu núcleo familiar e se rendiam à exigência de uma aceitação incondicional da idencidade da família construída com o esposo (esposa, mãe, cuidadora). Para o desenvolvimento desta dinâmica houve um problema: algumas mulheres não sabiam ler e escrever. Na reunião de avaliação deste encontro com rodos os ACS, estes avaliaram que o ambiente familiar dessas mulheres é opressor e dificulta que os agentes possam intervir. Os ACS reAetiram também sobre as especificidades do bairro: distante, tem alto índice de criminalidade que gera preconceito e dificulta o acesso da população masculina a empregos, fazendo com que as mulheres tornem-se arrimo de família. Foram reAexões feitas pela equipe de saúde da família que, concretamente, retiraram o sofrimento como sendo apenas o sintoma ('não dorme e por isso toma remédio') e possibilitou sua compreensão pelo viés do sofrimento sócio-ps ico-afetivoo • linha da vida: foi trabalhada a dinâmica da linha da vida, iniciando-se aos 15 anos e utilizando intervalos de cinco anos. Foi solicitado que cada mulher representasse em um papel pardo (por meio de escrita ou qualquer outra expressão gráfica, como desenhos ou símbolos) cada período de sua vida, iniciando-se aos 15 anos e passando pelos 20, 25, 30, e assim sucessivamente. Com essa dinâmica surgiram elementos que possibilitaram trabalhar questões de gênero relativas ao papel da mulher no casamento, no qual ficou marcado um modelo idealizado de casamen- to perfeito e o sofrimento advindo da realidade, ou seja, da impossibilidade de realização de uma relação homem/mulher plena. Foram trabalhados ditados como: 'Quem faz o casamento é a mulher'; 'por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher'. Foi constatada a dificuldade das mulheres em abando- narem as escolhas de forma ativa, de sair de relações infelizes sem necessitar 'fugir', os rompimentos relata- dos eram todos sem autonomia. Os conteúdos foram trabalhados buscando reAetir a necessidade de que as mulheres construam recursos pessoais e sociais que permitam os rompimentos necessários ao bem-estar e à Saúde Mental. Dificuldade de lidar com a própria sexualidade foi outro elemento que emergiu com essa dinâmica e permitiu que fossem, minimamente, dis- cutidos aspectos relacionados a gênero e sexualidade. Na avaliação com os ACS muitos se identificaram com os relatos das mulheres, pois a maioria eram mulheres, e neles elas puderam reAetir suas próprias vidas. Foi evidente a coincidência do início do uso da medicação com o confronto e a realidade do casamento infeliz. A realização da dinâmica da linha da vida durou três encontros e permitiu amplas reAexões, ressalta-se que o conteúdo mais homogêneo que emergiu dos encontros entre todas as mulheres que freqüentaram o grupo é a condição histórico-social da identidade feminina cons- truída para o casamento perfeito, no qual a mulher se incumbe do papel de fazer tudo o que o homem solicita ou deseja; nunca dizer não ao homem; e sempre permitir que o marido sugue todas as energias. Uma condição que coloca na mulher a posição de impossibilitada de romper com uma relação infeliz e na qual muitas vezes não há, inclusive, percepção dessa infelicidade, visto que Sll1,dum D~bau, Rio de Janeiro, v. 32. n. 78/79/80. p. 133-142. jan.ldt."Z. 2008 140 RABELO, I.V.M, TAVARES. R.C. • Homens-carmpams c suas mulheres: relato de cxperiênci3 cm S3úde Memalll3 EsU3tégi3 S3úde da F3mília. culturalmente se o casamento não está bom é porque a mulher está agindo errado. Esta condição histórica da mulher de se colocar como principal responsável pela felicidade do casamen- to, aliada à condição do homem de não fazer concessões na relação marital impõe à mulher, principalmente àquela que se encontra em desvantagem socioeconâmica e educacional uma postura de não conseguir romper com uma relação infeliz e nem superar os estigmas socio- culturais. Houve relatos de mulheres que se percebiam infelizes na relação, mas não tinham recursos pessoais para superar suas dificuldades e romper com essa relação, assim, algumas vezes, sentiam-se obrigadas a conviver 'h 'com um ornem-carrapato. A expressão 'homem-carrapato' foi utilizada por uma dessas mulheres e é retomada no presente artigo como sendo a forma mais fidedigna de expressar sua condição de vida ao lado de um homem que a massacra e que a impede de viver a própria vida, um homem cuja ação se limita a sugar o sangue da uma mulher presa a uma sicuação, cuja condição histórico-social a impede de se libertar. Assim, possibilitar a essas mulheres momentos de reflexão e compartilhamento de todo o seu sofrimento, advindo muitas vezes de sua própria condição sociohis- tórica, cria possibilidades de re-significação do sofrimen- to e de ampliação de recursos pessoais e afetivos para lidar com o seu sofrimento. Fornece condições, mesmo que minimamente, de reelaborar o papel da mulher na formação do 'homem-carrapato', pois se ela procura de todas as formas atender a todos os desejos ou exigências do homem, obviamente ele se sentirá muito tranqüilo na relação e utilizará de todos os seus potenciais masculinos para manter-se nessa condição. Após seis meses, foi realizada avaliação das atividades no grupo, e encerramento do mesmo. Neste período foram realizadas reuniões para escudo de caso de algumas mulheres que participavam do grupo e estavam há vários Stltid~ ~m Debau, Rio de Janeiro, 1/. 32. ll. 78/79/80, p. 133-142, jan.ldcz. 2008 anos utilizando a medicação em função de prescrições anteriores, requisitavam a continuidade da medicação apenas porque entendiam que este tratamento era o mais adequado, até o momento que perceberam, no grupo realizado, que sua relação necessitava de algo mais que abafàr quimicamente seu sofrimento. Após estudo de caso com equipe do CAPS, os médicos das ESF fizeram novas avaliações para hipótese diagnóstica e, contando com O apoio do grupo, foi possível a retirada do ansiolítico em alguns casos, uso racional e troca de medicação em outros. Algumas mulheres que foram ao grupo em busca do medicamento encerraram o processo compreendendo melhor os mecanismos geradores de sofrimento e as ha- bilidades sociais para lidar com os mesmos, sem que para isso precisassem silenciar-se com o medicamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS o trabalho desenvolvido entre o CAPS e as equipes de saúde da família, como capacitação em serviço por meio de escudos de caso e realização de grupos de gênero possibilitou às ACS e às enfermeiras das equipes de saúde da família a compreensão do sofrimento psíquico para além do sintoma, pois inicialmente a associação feita por esses profissionais era de que o uso de ansiolítico era devido e justificado por um sintoma específico: a insônia. Ao final, todos os profissionais da equipe de saúde da família demonstraram novas compreensões a respeiro da insônia como indicando a existência de um sofrimento socioafetivo, mesmo que ainda não rotai mente declarado. O trabalho em conjunto com as equipes de saúde da família permitiu não só a aproximação das equipes, mas também, a garantia da capacitação em serviço, haja vista que no decorrer desta atividade, não só as mulheres acompanhadas no grupo foram re-avaliadas RABELO. LV.M, TAVARES, R.C. • Homens-carrapalos e suas mulheres: relalO de experiência em Saúde Mental na Eslrarégia Saúde da Famflia. 141 com a possibilidade de se beneficiarem tanto das temá- ticas trabalhadas no grupo, bem como, da utilização do uso racional da medicação. Por outro lado, entende-se que estes estudos de caso funcionam como capacitação em serviço, pois o conhecimento compartilhadoentre todos os profissionais ultrapassa os casos estudados e serve de apoio para manejos em outras situações que se configurem demandas em Saúde Mental. Pode-se considerar que o trabalho em equipe, com relação à estratégia saúde da família, propicia a re-signi- ficação do sofrimento e a ampliação das ações do CAPS, rompendo com a lógica do encaminhamento. Tal ação traz para o profissional da unidade de atenção à família a condição de ser capaz de intervir efetivamente na Saúde Mental das pessoas da comunidade de sua abrangência, sem necessitar encaminhar a um serviço especializado uma possibilidade que se dá pela transversalidade das temáticas trabalhadas em Saúde Mental, como a pro- posta aqui relatada de inserção da categoria gênero para a compreensão do sofrimento psíquico. É importante ressaltar que houve uma mudança significativa na percepção dos ACS, pois durante este pro- cesso eles começaram a trazer casos novos de pessoas em grave sofrimento psíquico, que se encontravam isoladas em casa há vários anos. Este fato chama atenção, pois, por mais que os ACS já soubessem e trabalhassem com o CAPS nesta região, ainda assim não conseguiam enxergar como situações de Saúde Mental os casos de isolamento como o do exemplo acima. Até mesmo a descrição de casos novos quando precisavam solicitar visitas domi- ciliares com a equipe do CAPS, passou a ser detalhada, contextualizada e já com as nuances de vulnerabilidade social típicas das vivências em Saúde Mental. A experiência de trabalho em apoio à ESF também foi essencial para a criação de alguns pro- tocolos para o funcionamento da atenção em rede. Com relação à dispensação de alguns medicamentos psicotrópicos, o CAPS passou a garantir a entrega desta medicação para as usuárias do grupo em acompanhamento na ESF, pois tais medicações não existem nestas unidades. Também com relação ao prontuário, foi estabelecido que haveria a evolução do prontuário da família (ESF), como forma de pri- vilegiar uma comunicação única, e mesmo que os/as usuários(as) também estivessem em atendimento no CAPS, a equipe de Saúde Mental teria um prontuário na unidade, mas manteria atualizado O prontuário na ESF. Tal conduta facilitou O monitoramento do uso de medicamentos, pois O ACS passou, a saber, por exemplo, o projeto terapêutico do usuário e apoiá-lo na implementação do mesmo, seja no uso diário da medicação, seja na busca por escolas e atividades de geração de renda da região. Como parte do protocolo, também com relação às visitas domiciliares dos técnicos dos CAPS, passou- se a agendá-las com antecedência para que fossem sempre realizadas com ACS e enfermeiras da ESF. Tal procedimento fez com que novas redes de suporte social começassem a interagir com as famílias com pessoas com sofrimento psíquico grave. Tal fato foi e é crucial na diminuição das internações psiquiátricas e manejo das situações de crise, pois a família passa , . - .a contar com varIaS atares, e, portanto, nao mais recorre à lógica crise-doença-internação. Também a equipe de saúde da família passou a compreender o sofrimento psíquico conectado com as experiências vividas, e, sentindo-se mais próxima da equipe do CAPS passou a evitar o uso da ambulância (tanto no sentido literal como no figurado), acreditando e reinventando estratégias para atender ao sofrer sem necessariamente encaminhá-lo. Novas estratégias para a compreensão do sofri- mento psíquico também foram viabilizadas para a equipe do CAPS, que na interlocução com a atenção básica tem conseguido aliar não só novos atores para confrontar a lógica asilar, mas também tem encon- Sll1,dum D~bau, Rio de Janeiro, v. 32, n. 78/79/80, p. 133-142, jan.ldt."Z. 2008 142 RABELO, I.V.M, TAVARES. R.C. • Homens-carmpams c suas mulheres: relato de cxperiênci3 cm S3úde Memalll3 EsU3tégi3 S3úde da F3mília. trado suporte para a criação de projetos terapêuticos individualizados de usuários de Saúde Mental, que sem nunca colocar os pés no CAPS já começam a estabelecer laços contratuais na comunidade, graças ao empoderamento construído pelos trabalhadores e trabalhadoras das ESF. REFERÊNCIAS AoEODATO, VG.; CARVALHO, R.R.; SIQUEIRA, VR.; Sou- ZA EG.M. Qualidade de vida e depressão em mulheres vítimas de seus parceiros. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 10S-113, 2005. ALvES, PC Nervoso e experiência de fragilização: narra- tivas de mulheres idosas. ln: MINAYO, M.CS.; COIMBRA Jr., CE.A (Orgs.). Antropologia, saúde eenvelhecimento. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2002. p.153-174. ARAúJo, M. E Violência e abuso sexual na família. Psi- cologia em Estudo, Maringá, v. 7, n. 2, p. 3-11, 2002. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nO 154, de 24 de janeiro de 200S. 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