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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC CAMPUS VIDEIRA CURSO DE PSICOLOGIA DAIANE MOLON ADADA THAYNE FLAVIA MACHINSKI RELATÓRIO DE ESTÁGIO BÁSICO V Videira 2020 DAIANE MOLON ADADA THAYNE FLAVIA MACHINSKI RELATÓRIO DE ESTÁGIO BÁSICO V Relatório apresentado ao Curso de Psicologia, da Área das Ciências das Humanidades, da Universidade do Oeste de Santa Catarina como requisito para a conclusão do Componente Curricular disciplina de Estágio Básico V. Orientador: Prof. Katia Toazza Videira 2020 RESUMO Buscando acrescentar experiência prática na formação acadêmica, o estágio possui a proposta de, para além de observar a dinâmica de funcionamento dos mais diferentes contextos de atuação do psicólogo, também viabilizar uma intervenção, a partir das demandas observadas e/ou ofertadas em seus respectivos locais de atividade. O objetivo do estágio é permitir ao acadêmico integrar seus conhecimentos com a realidade profissional e desenvolver uma proposta de intervenção, de acordo com as necessidades observadas e da percepção em campo. Identificar as possibilidades de atuação do psicólogo, reconhecer a complexidade dos fenômenos psicológicos associando o conhecimento da psicologia com outras áreas de conhecimento, refletir e identificar as possibilidades de intervenções no âmbito da saúde mental, redigir relatórios científicos a partir da intervenção e/ou observação realizada, compreender e identificar os conceitos éticos da profissão. Este relatório foi elaborado a partir de fundamentação teórica acerca do fenômeno da saúde mental, e tinha a previsão de 12 horas de observações e intervenções no Centro de Atenção Psicossocial – CAPS – Videira, porém por consequência da pandemia da COVID-19 foi necessário alterar a dinâmica do trabalho, utilizando dessa forma a entrevista com a psicóloga e uma análise fílmica com planejamento e intervenção pedagógica. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5 2 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 8 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................... 8 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .............................................................................................. 8 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... 9 3.1 PROCESSOS GRUPAIS .................................................................................................... 9 3.2 CONTEXTO DO CAMPO (ORGANIZAÇÃO\INSTITUIÇÃO). ................................... 10 3.3 PROCESSOS GRUPAIS NO CONTEXTO DO CAMPO ............................................... 11 3.4 FUNDAMENTAÇÃO SOBRE O FENÔMENO PRINCIPAL A SER OBSERVADO .. 12 3.5 ATUAÇÃO DO PSICOLOGO NO CONTEXTO DO CAMPO ...................................... 13 3.6 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO PRESENTES NA LITERATURA ............... 14 4 DESCRIÇÃO DO LOCAL ............................................................................................. 17 5 PSICÓLOGO ................................................................................................................... 19 6 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES E ANÁLISE ......................................................... 22 7 DEVOLUTIVA ................................................................................................................ 26 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 27 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 28 5 1 INTRODUÇÃO Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), nas suas diferentes modalidades, são pontos de atenção estratégicos da RAPS: serviços de saúde de caráter aberto e comunitário constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza prioritariamente atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, em sua área territorial, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação psicossocial e são substitutivos ao modelo asilar. Os CAPS são divididos em modalidades, em Videira – SC, funciona o CAPS I que tem como objetivo o atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes. O CAPS de Videira – SC, foi inaugurado em 28 de fevereiro de 2008. Apesar da incerteza que fazia parte da equipe, havia uma grande vontade de aprender e fazer com que o espaço fizesse a diferença em saúde mental. No começo, passou a atender as pessoas que sofriam de transtornos mentais severos e persistentes. Porém, aos poucos, foi ampliando os serviços, inclusive com atendimento dependentes químicos. Atualmente, os atendimentos ocorrem de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e 13h às 17h. As atividades desenvolvidas são distribuídas em grupos conforme a patologia e a gravidade da doença. São realizados atendimentos multiprofissional com médico psiquiatra, clínico geral, enfermeira, assistente social, psicóloga e técnico de enfermagem, além do apoio de professora de trabalhos manuais e artesanato, cozinheira, ajudante de serviços gerais, motorista e vigilante. Os pacientes são incluídos no CAPS após uma avaliação da equipe multiprofissional, sendo divididos e inseridos em grupos intensivos, para pacientes que necessitem de atendimento diário; semi-intensivo, para pacientes que deverão frequentar os grupos três vezes por semana; e não-intensivos, para os pacientes que serão atendidos quinzenalmente ou mensalmente. O atendimento também abrange visitas em domicilio, para aqueles pacientes debilitados que não conseguem se deslocar até o local. Um dos principais objetivos do CAPS é trabalhar na prevenção e melhoria da vida dos indivíduos em relação a doença mental, prevenir novas internações psiquiátricas, reduzir os sintomas através da farmacologia, grupos terapêuticos, atendimentos individuais. Buscar contribuir na relação familiar repassando conhecimento sobre os sinais e sintomas da doença mental de cada paciente e formas de enfrentar e conviver com a doença. Um detalhe importante é encontrar estratégias para reduzir preconceitos que giram em torno das pessoas acometidas pela 6 doença. O CAPS tem como objetivo também propiciar espaço adequado para tratamento em saúde mental, resguardando os direitos à promoção do bem-estar físico e psicossocial dos usuários. O CAPS trabalha com atendimentos em grupos: nas terças e quintas-feiras pela manhã atende cerca de 30 pacientes; nas segundas, terças, quintas e sextas-feiras, à tarde, aproximadamente 35; nas quartas-feiras à tarde, com um grupo de 10 pessoas, além de consultas com o psiquiatra. Nas segundas e quintas-feiras são efetuadas consultas com o clínico geral para os pacientes usuários de álcool e ou drogas e programa de tabagismo. Cada paciente passa por pelo menos um profissional de saúde mental, é acolhido e participa de várias atividades, como oficinas de trabalhos manuais, jogos e terapia de grupo. Todos os usuários se chegam pela manhã, são recebidos com café da manhã e à tarde recebem lanche. Em datas especiais, são realizados eventos com o objetivo de integrar os pacientes. Foram realizados eventos de bailes de carnaval, com confecções de máscaras, festa junina, onde o ambiente é decorado pelos próprios pacientes, e confraternização denatal. Também são realizados passeios, tais como uma visita à Cidade Criança, onde foi feito um piquenique, com várias brincadeiras. Outro passeio foi realizado para ver a decoração de Páscoa na Praça de Videira. Em relação ao transporte, ele é disponibilizado para todos os pacientes, alguns esperam a condução em um local previamente estabelecido perto das suas residências, e outros por motivos de dificuldades motoras são acolhidos na sua própria casa. A partir do mês de agosto de 2010 o CAPS passou a atender os usuários de Álcool e Drogas (Grupo AD), além de fornecer o espaço para o programa SOS Vida, que é voltado para usuários de álcool e drogas. Os pacientes que fazem o tratamento e acompanhamento têm direito a consultas. O grupo AD tem encontros semanais todas às sextas-feiras à tarde. Os usuários e suas famílias são atendidos sempre que manifestarem necessidade. A internação ocorre somente por indicação médica, e depois do retorno ao convívio social voltam para fazer acompanhamento, como prevenção a recaídas. O grupo SOS Vida promove encontros todas as quartas-feiras à noite, às 19h30min. Do ponto de vista das práticas desenvolvidas nesses serviços, a tarefa exigida é a de inovar, na prática concreta, as relações entre as instituições e os sujeitos, por meio de uma inscrição cotidiana do direito de cidadania do louco (Nicácio, 1994). Busca-se garantir, além do direito à hospitalidade diurna e noturna, da atenção à crise ou de um espaço de convivência, a criação de redes de relações que se estendam para além das fronteiras dos NAPS e CAPS, atingindo o território onde vivem os usuários. O trabalho inclui ações que vão das visitas domiciliares, do estabelecimento de vínculos com familiares e pessoas do bairro ao confronto 7 com as resistências, na tentativa de abrir espaços e ampliar as possibilidades de inserção do louco. O presente trabalho estava definido em 12 horas de observação e intervenção no CAPS – Videira, porém por consequência da pandemia da COVID-19 foi necessário alterar a dinâmica do trabalho, utilizando dessa forma a entrevista com a psicóloga e uma análise fílmica com planejamento e intervenção pedagógica. 8 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL Realizar o processo de observação, planejamento, intervenção e avaliação em diferentes contextos de atuação profissional do psicólogo. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Identificar as possibilidades de atuação do psicólogo em diversificados contextos de trabalho; • Reconhecer a complexidade dos fenômenos psicológicos em contextos diversificados, associando o conhecimento da Psicologia com outras áreas de conhecimento; • Identificar e refletir sobre as possibilidades de contribuições da intervenção e/ou observação participativa em diferentes contextos da atuação do psicólogo; • Elaborar proposta de intervenção pedagógica e aplica-la (sob supervisão acadêmica e do supervisor do local, acompanhado por este); • Redigir relatórios científicos a partir das intervenções e/ou observações participativas realizadas; • Posicionar-se eticamente em campo, seja durante intervenções pedagógicas e/ou observação. 9 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 PROCESSOS GRUPAIS Os seres humanos são simultaneamente seres sociáveis e seres socializados, com isso ao mesmo tempo em que ele é um sujeito que busca se comunicar com os seus pares no seu meio, também é membro de uma sociedade e de um círculo que os forma e controla, conscientemente ou não. “A história de vida do indivíduo é a história de pertencer a diversos grupos sociais. É através dos grupos que as características sociais mais complexas agem sobre o ser humano. É no grupo meio familiar que ele aprenderá a língua de sua nação. A partir daí este aprendizado possibilitará seu ingresso em outros grupos sociais e sua participação nas determinações que agem sobre ele” (ALEXANDRE, 2002). Para conhecer-se inteiramente um ser, é necessário saber quais grupos o mesmo faz parte e está inserido, desde as primeiras relações do ser, grupo familiar, estágios de separações para participar e adentrar em outros meios e grupos adiante com relações sociais mais amplas. Sendo assim, há a preparação do indivíduo significa, ao longo de sua existência, “que ele irá internalizar, apropriar-se da realidade objetiva”, isso será de extrema importância para a sua formação psíquica enquanto ser em processo de desenvolvimento e construção. O grupo é constituído por duas ou mais pessoas que obtém um contato simultâneo face a face, que defendem ideias e objetivos em comum, tendo uma boa interação entre si aos membros que introduzem neste meio com reciprocidade, interação, interdependência e uma consciência mutua. Ao nascer, o indivíduo já está incorporado dentro de um grupo especifico, crescendo e se desenvolvendo dentro de diferentes grupos ao decorrer da evolução, tornando-se adultos e inserindo em outros novos grupos, alguns destes se mantêm ao longo da vida, outros se fazem presentes em algumas fases especificas. Com isso, só é possível compreender o ser humano, a partir das relações que ele estabelece no seu meio, contexto e conexões. Consideramos que nas equipes, acontecem processos grupais que precisam ser conhecidos pelos próprios integrantes, para que, juntos possam criar significados, problematizando suas ações e atualizando as suas relações entre si, com aqueles a que atendem, esclarecendo e revendo o que tomam por problema de saúde e por ação. (CM Fortuna, 2005). As equipes e grupos quando se juntam, têm objetivos e tarefas implícitas ou explicitas a desempenhar. As mesmas podem estar nitidamente claras aos integrantes dos grupos e trabalhadores que buscam chegar a uma conectividade de ideias para assim, exercer as mesmas. A aprendizagem caminha como que em um trilho de trem, isto é, ao lado da comunicação. 10 Aprender está sendo tomado aqui, como algo que ultrapassa que vai além da transferência de saber de uma pessoa a outra. Estamos falando de um aprender com o outro e não do outro (CM Fortuna 2005). Com isso, dentro de uma instituição os processos grupais são de extrema importância para um trabalho em conjunto mais amplo, operando trocas de conhecimentos em beneficio ao humano que vem a frequentar aquele meio. 3.2 CONTEXTO DO CAMPO (ORGANIZAÇÃO\INSTITUIÇÃO). Instituição é um conjunto de normas, leis e princípios que regem a padronização de um determinado comportamento naquele meio. Já a organização é a parte material das instituições sob a forma de um organismo, uma entidade na qual assume uma configuração mais complexa ou mais simples. O nível organizacional é o responsável pela reprodução do nível institucional e é aquele onde o controle se apresenta de uma forma mais clara. O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) surgiu no Brasil a partir de 1986, sendo uma instituição formalmente definida pela Portaria nº 224 de 29 de janeiro de 1992, do ministério da saúde, como unidades locais regionalizadas, que contam com uma população inserida definida pelo nível local e que oferecem atendimento de cuidados intermediários entre regimes laboratoriais e a internação hospitalar, em um ou dois turnos de quatro horas, por equipe multiprofissional. Estes serviços se encontram incorporados como políticas públicas de saúde mental, com uma referência em nível de país e se adentrando em um contexto na qual pretendem desenvolver novas tecnologias em saúde mental que respeitem o usuário no seu direito de cidadania e que se diferenciem do modelo manicomial exclusivo dominante. A eleição do CAPS como uma área de investigação da atuação profissional de psicólogos, surgiu a partir de uma demanda da categoria, observada no V Congresso Nacional de Psicologia-CNP, qual foi realizado em 2004. Este tema emergiu e ampliou junto a tantos outros que apontavam para o Sistema Conselhos a necessidade de uma maiorqualificação e orientação para a prática nos serviços públicos. A reforma psiquiátrica, política pública do estado brasileiro as quais tem o cuidado com pessoas de sofrimento mental, em sua concepção vai muito, além disso, de uma assistência pública em saúde mental. É um complexo processo de transformação assistencial e cultural no qual, ao deslocar-se o tratamento do espaço restrito e especializado de cuidados com a loucura: o hospital psiquiátrico, para a cidade acontece um grande impacto, e como a sociedade em si irá relacionar com esta experiência. O qual vem a acarretar aos demais dispositivos trazidos com essa política, conhecidos como serviços substitutos (CREPOP, 2013). 11 No entanto, o CAPS é um destes serviços, no qual traz uma dupla missão: a de serem lugares de cuidado com os seres, sociabilidade e convívio da cidade com a loucura que os habita. Envolve também os familiares no atendimento com a devida atenção necessária, ajudando na recuperação e na reintegração social do indivíduo com sofrimento psíquico (CREPOP, 2013). 3.3 PROCESSOS GRUPAIS NO CONTEXTO DO CAMPO Todo e qualquer grupo exerce uma função histórica de manter ou transformar as relações sociais desenvolvidas em decorrência das relações de produção e, acerca disso o grupo, tanto na sua forma de organização como nas suas ações, reproduz ideologia, que sem um enfoque histórico, não é compreendida (LANE, 2007). O CAPS no seu meio de atuação busca envolver vários profissionais nas discussões e propostas, fazendo com que os mesmos possam participar dos encontros, reuniões e decisões com a Secretaria de Saúde. Assim, podendo assumir um papel maior na atenção voltada a saúde mental, sobressaindo como ordenador na rede de cuidados em prol a saúde humana. A instituição busca trabalhar de forma integrada, todos os serviços e servidores em uma dinâmica conjunta, coletiva. As estratégias de intervenções são planejadas, tendo objetivos já estabelecidos (projeto terapêutico individualizado) e são também, periodicamente avaliadas pela equipe que trabalha em totalidade. Seguindo os objetivos do CAPS, todas as atividades que são realizadas, incluindo os grupos, devem ser orientadas por projetos terapêuticos mais singulares a cada usuário daquele meio, ou por princípios e propostas que sejam coletivas, com temas, questões, reflexões e pensamentos que sejam pertinentes para as pessoas que frequentam aquela instituição, as quais irão construir subgrupos dentro do serviço. Desta forma, devem ser construídos sempre levando em conta a interdisciplinaridade e participação dos membros, as suas escolhas, desejos, autonomia do sujeito ativo dentro desse projeto que está sendo executado. Contudo, os facilitadores dos grupos obtendo finalidade terapêutica e de sociabilidade, tem a necessidade de compreender a história e a identidade tanto singular e subjetiva de cada paciente, como coletiva aos significados e sentidos que são historicamente construídos em torno da vida dos seres que possuem transtornos mentais graves, muitas vezes existindo um histórico de internação seguidas ou anos de vida em instituições fechadas. Deste modo, os trabalhadores da saúde mental devem estar atentos as concepções socioculturais a que os sujeitos históricos estão inseridos, e então desmistificando as crenças, ideias, ações e expectativas. Assim, deve-se considerar tanto os participantes como a si mesmos como sujeitos históricos e, consequentemente autores da sua própria história pessoal (ANDALO, 2006). 12 O CAPS trabalha com métodos e parâmetros grupais, os quais visa o executar em conjunto, sendo ele com equipe multidisciplinar, com modelo de atendimento o trabalho em rede, que é a comunicação ativa entre os demais componentes que compõe essa rede de atendimento em saúde mental. Essa instituição trabalha com atendimento individual, atendimento em grupo, atendimento para a família, atividades comunitárias, assembleias ou reuniões de organização do serviço. Assim, sendo nítida a presença dos grupos nessa instituição e a importância dos mesmos para o desempenho do trabalho, para os seres que lá frequentam e necessitam dos profissionais que estão inserto nestes grupos (CREPOP, 2013). 3.4 FUNDAMENTAÇÃO SOBRE O FENÔMENO PRINCIPAL A SER OBSERVADO A reforma Psiquiátrica brasileira trouxe melhorias substanciais à população, ela se baseia em normas, como a liberdade em que o paciente deve ter em seu tratamento, a aposta da reinserção social, a humanização dos cuidados e na recuperação da cidadania dos usuários. Durante os últimos anos, estão sendo criadas cada vez mais políticas públicas sob forma de leis, portarias, instruções normativas que constituem novos serviços públicos trazendo mudanças, auxiliando na inovação das práticas clínicas e grupais. As políticas públicas de saúde mental desde a instituição do SUS se configura com um processo social complexo. O ponto principal deixa de ser a doença mental como processo natural e se transforma no conjunto de condições concretas de existência da população, seus determinantes nos processos saúde-doença, suas expressões em experiências de sofrimento de indivíduos singulares. O transtorno mental, preenchido como circunstância estrema de um processo social complexo e problemático, que se manifesta e se constitui como sofrimento na experiência de indivíduos singulares, potencializa a definição de uma atual forma de atividade para a clínica, exigindo modificações metodológicas e tecnológicas para o atendimento em saúde mental. Os transtornos mentais graves com que lidam essa clínica são, antes de serem tomados como uma patologia, portanto, doença mental, tomados como desenvolvimentos complexos, que implicam a trajetória de vida de indivíduos singulares em condições objetivas e concretas de existência (CREPOP, 2013). Conforme caracteriza a organização Mundial da Saúde (OMS) o termo saúde é um "estado completo de bem estar físico, mental e social" e não apenas ausência de doenças. Amarante (2007) descreve que a saúde mental é um estado mental sadio, portanto um estado de normalidade, onde não há nenhuma desordem mental. E a doença mental sendo o desiquilíbrio mental, anormalidade, patologia. A saúde mental é um assunto bastante polissêmico e plural na 13 medida em que diz respeito ao estado mental dos indivíduos e da coletividade, pois qualquer tipo de categorização é acompanhado do risco de um simplismo e de achatamento das possibilidades da existência humana e social. A saúde mental como integrante da saúde pública, esta inclusa no contexto de um sistema descentralizado, regionalizado e hierarquizado, sendo um tipo de ação especial que deve ser integrada aos serviços de saúde de caráter interdisciplinar, cientifico, social, cultural e humanizado. A doença mental é, talvez, a que mais exige “solidariedade humana, desprendimento, destemor, capacidades de absorção, de produção de sentimentos de cooperação e de integração social”. As pessoas com sofrimento psíquico desejam aquilo que é oferecido a qualquer pessoa nas diversas áreas, ou seja, uma assistência confiável, de qualidade, com comprometimento, resolução dos problemas e inclusão social (BÜCHELE 2006). 3.5 ATUAÇÃO DO PSICOLOGO NO CONTEXTO DO CAMPO O atendimento clínico é uma das práticas que se destacam no CAPS, o suporte social a família dos usuários revela-se essencial uma vez que é preciso orientá-los, as dinâmicas de grupo são formas de auxílio ao processo terapêutico, onde buscam relacionar e trabalhar com conteúdos pertinentes a todos os envolvidos. As oficinas com artesãos, professores de artes e educadores físicos tem a função de integração e melhoria das relações psicossociais. De acordo com Brandão (2001), o atendimento domiciliar representa os limites do atendimento institucional e da atuação individual do profissional, e, em saúde mental, entre os pressupostosda reforma psiquiátrica, de busca da inclusão social do louco pela ruptura de padrões culturais e pela condição de ver a loucura como um fenômeno complexo, a limitação da instituição e do profissional se faz mais evidente. O principal objetivo da visita domiciliar é preparar as famílias dos usuários para que elas consigam usar recursos próprios, com o intuito de resolução dos seus problemas, incluindo- as no processo de tratamento, diminuindo dessa forma as internações recorrentes e a cronificação do paciente. A escuta atenta do psicólogo sem julgamentos e rótulos beneficia o tratamento e uma possível melhora ou estabilização do quadro. Durante as visitas os profissionais utilizam técnicas na tentativa de integração, fazendo com que a família passe a ver o indivíduo com outros olhos, contribuindo para o processo de socialização. De acordo com Silva (2001), a doença mental é caracterizada por sua multidimensionalidade e multideterminação, e, com isso, deve ser abarcada em todos os campos: biológico, psicológico, individual, familiar e social. 14 Kubo e Botomé destacam diversas atribuições do psicólogo, dentre elas, a preparação do doente mental para sua reinserção social e sua manutenção na comunidade, a orientação da família dos pacientes, a preparação e orientação profissional do doente mental, a realização de pesquisas e avaliação de programas, a participação na formação dos demais trabalhadores de saúde mental e a produção de informação à sociedade sobre aspectos relacionados à saúde mental (2001, p. 4) Pietroluongo e Resende descrevem que o psicólogo tem um papel especial dentro da equipe multidisciplinar, construído a partir da escuta, que possibilita o profissional desenvolver situações de subjetivação no âmbito familiar, melhorando a percepção da equipe e da família. De acordo com os especialistas as capacidades e possibilidades da Psicologia nos CAPS tratam-se da prática de atendimentos que privilegiem o trabalho em grupo, buscando através destes atendimentos a ressocialização dos usuários e por meio das oficinas de geração de renda e reinserção no trabalho. (CREPOP/ CFP, 2007). A grande intenção da reforma psiquiátrica é a desconstrução do estigma da loucura como doença orgânica que passa a ser analisada em sua complexidade. O psicólogo tem como função desenvolver estratégias para adaptação dos usuários, visando à reinserção dos pacientes na família e na sociedade. 3.6 POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO PRESENTES NA LITERATURA Para problemas relacionados a uso de substâncias químicas é possível aplicar diferentes tipos de tratamento. Hoje as abordagens relevantes utilizadas misturam intervenções de caráter cognitivo - comportamental (prevenção à recaída, entrevista motivacional), autoajuda e tratamentos medicamentosos definidos por um médico psiquiatra. O trabalho e a intervenção com as famílias tem o objetivo de identificar as situações de risco e a partir disso incorporar estratégias de enfrentamento. O programa de prevenção a recaída combina um treinamento de habilidades comportamentais, intervenções cognitivas e mudanças do estilo de vida. A entrevista motivacional é fundamentada em concepções cognitivas que busca ajudar o indivíduo nos processos de mudança comportamental através da modificação dos padrões de pensamento, compreensão das reações emocionais e resolução de problemas. Atualmente o modelo de redução de danos se destaca no contexto das drogas, conforme o Programa de Orientação e Atendimento aos Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (PROAD-UNIFESP), o objetivo é minimizar os efeitos danosos das drogas para melhoria do bem-estar físico e social dos usuários. Para isso ocorre trabalhos de campo nas ruas, em hospitais e em prisões, para tornar 15 mais acessíveis os serviços de saúde, e assegurar possibilidades de reabilitação social. Aconselha-se que os profissionais que trabalham neste programa assumam postura compreensiva e inclusiva a fim de evitar o uso de substâncias psicoativas ou o envolvimento precoce; ajudar os indivíduos já incluídos a não se tornar dependentes e aos já dependentes apresentar meios para o abandono da droga ou indicações para que tenham menos prejuízos. Os sistemas especializados no tratamento de indivíduos com problemas de dependência química são: hospitais com alas especializadas, clínicas especificas, comunidades terapêuticas, grupos de autoajuda (Alcoólicos Anônimos AA, Narcóticos Anônimos, NA) e Centros de Atenção Psicossocial álcool e drogas (CAPS). A prevenção em saúde mental tem como essência o progresso saudável do indivíduo em suas diversas fases do ciclo da vida e procura diminuir, por meio de ações antecipadas, os problemas e riscos que impedem tal desenvolvimento (O’Connel, Boat, & Warner, 2009). Intervenções combinadas, focadas na pessoa e no ambiente, alcançaram impactos práticos e de mudanças sociais na vida dos participantes e na dinâmica de sua comunidade. Intervenções que focavam mudanças pessoais cognitivas e mudanças sociais, como a diminuição do preconceito, fortalecimento da identidade e reinserção profissional apresentaram impactos diretos no aumento da autoestima dos participantes e na minimização do envolvimento destes em episódios de delinquência e violência (Gomes, Minayo, Assis, Njaine, & Schenker, 2006). A rede social pessoal é definida e limitada a partir do indivíduo, é analisada como o "área relacional de uma pessoa". Sendo a interação que os indivíduos mantem entre si, as conversas, relações, é a soma de todos os vínculos compreendidos como significativo. Podemos reunir as intervenções em rede em dois tipos: as que criam uma rede e as que potenciam a rede (Erickson, 1984, citado por Góngora, 1991). Os tipos de intervenção que criam redes, de acordo com Góngora (1991), são usados fundamentalmente quando o indivíduo se encontra isolado socialmente, com um número muito reduzido de vínculos, por um lado, ou quando os vínculos sociais existentes são considerados como prejudiciais para o sujeito, por outro. O seu objetivo essencial é, por isso, aumentar o número de membros da rede, gerando novos vínculos. Este tipo de intervenção aplica-se em situações de indivíduos que apresentam problemáticas associadas com doenças crónicas, velhice, emigração, entre outras, sendo levadas a cabo por redes secundárias, focalizando e mobilizando o desenvolvimento das redes primárias e a optimização do nível de uso dos serviços disponíveis nas instituições. Os tipos de intervenção que potenciam a rede (idem, 1991) tem o propósito de incrementar a eficácia da rede do indivíduo no sentido de uma resolução autónoma dos seus problemas, intensificando os vínculos que, por alguma razão, estariam inativos. 16 A ausência de intervenções para a população adulta e idosa é alarmante. As intervenções preventivas poderiam ser guiadas ao longo do ciclo de vida, visto que durante o desenvolvimento do ser humano é necessário a criação de recursos e técnicas de enfrentamento para o ajuste a novas ações que podem ser consideravelmente estressoras (Fragelli & Günther, 2008; Xavier, Ferraz, Marc, Escosteguy, & Moriguchi, 2003). 17 4 DESCRIÇÃO DO LOCAL Nome e Endereço. Centro de Atenção Psicossocial – CAPS VIDEIRA, localizado na rua: Prefeito César Augusto Filho, 229 - São Francisco, Videira - SC, 89560-000. Histórico. Os Centros de Atenção Psicosssocial (CAPS) foram inseridos na atual política de saúde mental substituindo o modelo hospitalocêntrico. Passaram então a oferecer cuidados clínicos e de reabilitação psicossocial, objetivando evitar as internações e favorecendo o exercício da cidadania e da inclusão social dos usuários e de suas famílias. Frente a essa nova visão surge o CAPS de Videira em 28 de fevereiro de 2008 e se operacionaliza dentro de uma atenção em saúde, na qual o sujeito é visto de forma integral,em sua dimensão biopsicossocial e cultural, levando em consideração o contexto no qual está inserido socioeconomicamente, de modo indissociável. Os CAPS são regulamentados pela portaria n. 336/GM de 19 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre o papel estratégico dos centros na nova organização, além de definir diversos tipos de CAPS. Foram assim regulamentados os CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS AD II e CAPS i II, os quais são classificados de acordo com o perfil do usuário (adultos, crianças/adolescentes e usuários de álcool e drogas), do contingente populacional a ser coberto (pequeno, médio e pequeno porte) e do período de funcionamento. Descrição física do contexto. O CAPS de Videira conta com uma estrutura física própria, com 06 banheiros, 02 cozinhas, sendo que uma delas é utilizada para realização de oficinas com pacientes, 01 lavanderia, 01 auditório, 01 sala TV, 01 sala de oficinas diversas, 01 quarto, 01 sala de artesanato, 01 almoxarifado, 05 salas para atendimento de profissionais técnicos, 01 recepção, 01 refeitório. Quadro de funcionários. 18 01 enfermeiro, 01 técnico de enfermagem, 01 assistente social, 01 terapeuta ocupacional, 01 psicóloga (coordenadora), 02 médicos, 01 educadora física, 01 artesã, 01 recepcionista. Funcionamento do CAPS atualmente. O CAPS I de Videira, funciona em horário comercial das 8:00 as 12:00 horas - 13:00 as 17:00 horas onde é realizado, acolhimento e encaminhamentos necessários pela equipe técnica; elaboração de Projeto Terapêutico Singular (PTS); atendimento e avaliação medica especializada; oficinas terapêuticas (atividades expressivas, produtivas e construtivas, horta terapêutica, oficina da beleza, oficina informática, oficina de vôlei, entre outras); grupo de atividades corporais (reiki, auriculoterapia); atividade de convivência e reinserção social (festas, passeios, viagens, eventos diversos, cinemas, entre outras); atendimento individual ao usuário e familiares; programa nacional de controle de tabagismo; realização de palestras em escolas, empresas, serviços de saúde em geral. 19 5 PSICÓLOGO Função (local), formação, tempo de formação e tempo de trabalho no local. Psicóloga e Coordenadora do CAPS, formação acadêmica: Mestre em educação pela UNOESC – Universidade do Oeste de Santa Catarina (2011). Pós-graduação em Ciências da Saúde – Concentração em Saúde Mental UNC – Concordia, SC em (2007). Pós-graduação em psicopatologia UNC – Caçador em Santa Catarina (2009). Graduação pela UNC (2005). Trabalha no CAPS desde fevereiro de 2018. Descrição da Função do Psicólogo. Como coordenadora trabalhar toda a parte administrativa do CAPS e equipe. E como Psicóloga, realizar acolhimento, atendimento individual e grupo, visitas domiciliares, trabalhos com grupos e oficinas terapêuticas. As normas e rotinas do psicólogo destacadas como as atividades obrigatórias e opcionais são: realização da anamnese, acolhimento avaliação, atendimentos individuais e em grupo. Supervisionar estágios de Psicologia. Trabalhar com atividade lúdico-terapêutica variada (pintura, desenho, etc). Atividade que vise estimular o desenvolvimento interior (relaxamentos, reflexões, meditação). Visitas domiciliares quando necessário. Participação de datas festivas (Páscoa, festa junina, natal). Trabalhar a superação do estigma da loucura, divulgando o Dia Nacional de Luta Antimanicomial. Psicoterapia individual para pacientes que frequentam o CAPS, do grupo AD, dos encaminhamentos do Conselho Tutelar, do CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social), Delegacia de Polícia e Fórum de justiça. Trabalhar com grupo de terapia para os pacientes que frequentam o CAPS. Participar de reuniões para discutir casos clínicos. Acompanhar o médico nas consultas quando necessário. Realizar atividades recreativas e trabalhos manuais com os pacientes. Conhecimentos e competências necessárias para a função. Prestar atendimento clínico de forma humanizada em regime de atenção diária, evitando a internação hospitalar; acolher e atender as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, procurando preservar e fortalecer os laços sociais do usuário em seu território; promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais por meio de ações intersetoriais; regular a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação; dar 20 suporte a atenção a saúde mental na rede básica; organizar a rede de atenção as pessoas com transtornos mentais nos municípios; articular estrategicamente a rede a política de saúde mental num determinado território; promover a reinserção social do indivíduo através do acesso ao trabalho, lazer, exercício dos direitos civis e fortalecimento dos lados familiares e comunitários. Demandas emergentes ou urgentes da prática. As demandas de urgência e emergência que surgem na profissão (casos de surto e tentativas de suicídio) na maioria das vezes são encaminhadas para atendimento junto a UPS 24 horas ou hospitais especializados. Quais técnicas, dinâmicas, são utilizadas para tratamento dos usuários, como funciona as práticas na rotina do CAPS para tratamento e prevenção. O CAPS possui grupos semanais (grupo de vôlei, grupo terapêutico, grupo de artesanato, grupo horta, entre outras atividades que buscam trabalhar, utilizando técnicas e dinâmicas o atual estado emocional, psicológico e aspectos funcionais dos pacientes. Momento em que os pacientes expressam seus sentimentos, auxiliando na solução dos conflitos internos, diante de situações problemas e desafios do cotidiano e valorização das habilidades individuais dos usuários. O que você vê de mais positivo, que mais beneficia os usuários no seu trabalho dentro da instituição? A atuação do psicólogo dentro do CAPS é de extrema importância, pois traz um olhar e uma escuta clinica qualificada na equipe, mas é importante destacar que a pratica em um CAPS é diferente do consultório privado, o que muitas vezes dificulta e cria uma lacuna, por isso a importância de formação direcionada para a área de saúde mental, onde o psicólogo trabalha de forma multidisciplinar todas as especificidades, o todo, de forma clara e humanizada, por meio de várias atividades e técnicas envolvendo o bio-psico-social-espiritual. Em relação aos usuários, nos atendimentos, e nos grupos terapêuticos os retornos são positivos, ou não? Ou depende do caso, da circunstância? 21 A grande maioria dos casos o início do tratamento sempre vem acompanhado de estigma e preconceito principalmente por parte do paciente e familiares, que muitas vezes demonstra Resistencia dependendo do transtorno. Dessa forma, é comum estes deixarem de seguirem de forma disciplinada com a medicação necessária para o próprio bem estar, o que torna uma fator muito prejudicial ao bom andamento do tratamento. Entretanto, a equipe de atendimento acompanha os casos com empenho, procurando sempre da forma mais eficaz ajudar esses pacientes a aceitação e criação de vinculo terapêutico. Com a adesão ao tratamento médico e terapêutico multidisciplinar é visível a estabilização dos quadros clínicos e a diminuição das desistências ou crises e o CAPS passa a ser a sua segunda família, onde criam vínculos entre os usuários e passam a entender a necessidade do tratamento e manutenção do mesmo. 22 6 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES E ANÁLISE O filme escolhido para a análise e posterior intervenção pedagógica foi “Uma Mente Brilhante”, lançado em 2001, que conta a história de um matemático introspectivo, considerado antissocial e muito famoso chamado John Nash, sendo demonstrada sua trajetória com início na faculdade, o desenvolvimento das suas teorias e conseguinte a sua doença mental. É apresentado o desenvolvimento da esquizofrenia, as alucinações perceptivas que ele tinhadiariamente, visto que as alucinações iniciam na faculdade, onde John acha que divide quarto com o amigo Charles Herman, porém esse amigo é apenas uma alucinação. John era arrogante e criticava os outros estudantes, considerava as aulas na faculdade chatas e limitadas, por isso decidiu que não iria mais frequentar. Dessa forma, começou a buscar e aprofundar-se nas ideias para uma teoria original onde pudesse se destacar, e tornar-se merecedor. A inspiração veio durante conversas com outros estudantes em um bar, e então com essa Teoria de Jogos Não Coorporativos ele conseguiu um trabalho de pesquisa no laboratório e uma vaga de professor na Universidade. Durante as aulas conheceu Alicia uma de suas alunas, e em um dos encontros ao conversarem, ela toca em sua questão de ser mais quieto, introspectivo, e não falar muito sobre o seu trabalho, ele menciona “não posso falar do meu trabalho Alice, eu acho que aperfeiçoar minhas interações para se tornar associáveis, requer um tremendo esforço, eu tenho a tendência de expressar informações de maneira direta e as vezes os resultados não agradam”. O que ele queria dizer era que muitas das suas formas de expressão podiam parecer grosseiras e não remeter ao que ele gostaria de passar realmente, por ser da sua personalidade assim. Após isso, os vínculos foram se tornando ainda mais fortes e casando-se com ela. John vivia em uma realidade somente dele, o externo não o compreendia. A partir dos seus delírios ele imaginava que fazia parte de uma operação secreta e que foi contratado por Willian, um militar do serviço secreto dos EUA onde precisava descobrir como decifrar códigos no período da guerra fria. Ele acreditava conversar com o militar o qual era extremamente rígido e vingativo, e recebia missões secretas para realizar, como também acreditava firmemente em ter passado por um processo no qual tinha sido introduzido em seu braço códigos, e aqueles números passaram a lhe perseguir por um grande período de sua vida. Com o passar do tempo com as pressões internas de ser sempre o melhor e conseguir dar conta de tudo, os delírios foram aumentando e John foi ficando cada vez mais agitado e confuso com o que realmente era real, ou não passava de fantasias criadas por sua mente. Alice, sua companheira, fica preocupada com o comportamento, e durante uma palestra que estava 23 ministrando John teve um surto, fazendo com que a Alice o internasse em um hospital psiquiátrico. Nesse momento ele é diagnosticado com esquizofrenia, e descobre que seu amigo de quarto, o militar, e as missões eram alucinações causadas pela patologia que ali já se fazia presente. O tratamento acontece antes da reforma psiquiátrica, através de eletrochoques, e com medicações fortíssimas, a qual causava espanto aos familiares, mas com finalidade de tentar diminuir suas alucinações. Depois de algum tempo e passando por vários processos de crises intensas, com muito esforço John criou estratégias e métodos para evitar e lidar melhor com as alucinações e delírios, assim passando a não se afetar tanto e conseguindo controlá-las de uma maneira mais positiva. Mas dentro deste processo, John finge estar fazendo o uso correto da medicação, deixando de tomá-las e voltando a ter crises fortes, diz ter parado de tomar pois não estava mais dando conta do trabalho, filho e satisfazer sua esposa, vindo a afetar o seu lado pessoal. Durante o seu tratamento fica evidenciado o grau de importância da família, em cuidar e acompanhar o indivíduo, em focar e confiar na eficiência e no humano que tem por de trás daquela patologia instalada. Alice nunca desistiu de John, a pessoa fantástica a qual conheceu, por mais que com o tempo e agravamento da sua patologia, muitos comportamentos mudaram, vindo a afetar também a sua persona. Ela, buscava sempre apoiá-lo mesmo passando por momentos complicados e desafiantes. Quando sua doença é controlada John consegue retornar a Universidade e após alguns anos volta a lecionar, seu gozo por estudos, descobertas e pesquisas sempre tiveram presente, assim não rompendo o ciclo e continuando a exercitar sua mente. As alucinações ainda se faziam presentes, mas já tendo um controle muito maior sobre as mesmas, ele afirma “Os problemas não deixaram de existir, nem sumiram, apenas passaram a não ter mais importância, as vozes não tomaram mais conta do meu ser”. Em 1994, ganha o prêmio Nobel de Economia com a sua contribuição essencial para a Teoria dos Jogos. Sempre sendo um homem inteligente e dedicado deixou a sua marca, o qual trouxe muitas contribuições com sua forma única de intuir e pensar sobre as coisas, tornando-lhe ainda mais singular. Conforme o DSM IV (2002) os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem uma serie de disfunções cognitivas, comportamentais e emocionais, mas nenhum sintoma é patognomônico do transtorno. O diagnóstico inclui o reconhecimento de agrupamento de sinais e sintomas associados a um funcionamento profissional ou social afetado. Indivíduos com o transtorno apresentarão variações substanciais na maior parte das características, uma vez que a esquizofrenia é uma síndrome clínica heterogênea. Atualmente não há exames laboratoriais, radiológicos ou testes psicométricos para o transtorno. As diferenças são claras em múltiplas 24 regiões do cérebro entre grupos de pessoas saudáveis e pessoas com esquizofrenia, incluindo evidências de estudos por neuroimagem, neuropatologia e neurofisiologia. Diferenças ficam também evidentes na arquitetura celular, na conectividade da substância branca e no volume da substância cinzenta em uma variedade de regiões, como os córtices pré-frontal e temporal. É observada redução no volume cerebral total, bem como aumento da redução de volume com o envelhecimento. Em relação à família do paciente esquizofrênico, o adoecimento de um membro retrata um grande abalo na estrutura, sendo que seus familiares dificilmente se encontram preparados para enfrentar a real situação de uma forma mais transparente, e sentem-se incapacitados para realizar qualquer intervenção, muitas vezes não sabendo como intervir e lidar com o indivíduo quando entra em crises. Deste modo, as famílias vivenciam sentimentos de apatia, aflição, espanto, depressão, isolamento, raiva, angústia, devastação, contradição, frustração, incerteza, culpa, tristeza crônica, bem como aceitação e esperança para o futuro durante a convivência com a esquizofrenia. Os familiares próximos ficam sobrecarregados pelas necessidades de acompanhamento dos pacientes, cuidar deles e arcar com os encargos econômicos, pelo custo com medicações e pela impossibilidade e acesso ao trabalho. Como consequência do cuidado os familiares se distanciam da vida social, e apresentam, na maioria das vezes dificuldades para lidarem com as situações de surtos, com os conflitos familiares emergentes, com a culpa, e o pessimismo por não conseguirem encontrar saídas para os problemas, pelo isolamento social a que ficam sujeitos, pelas dificuldades materiais da vida cotidiana, bem como pelo desconhecimento da doença propriamente dita, entre outros desprazeres (ZANETTI; GALERA, 2007). As pessoas portadoras de esquizofrenia, inúmeras vezes não obtém a real consciência do momento presente e o que está se passando consigo mesma no agora. Com isso, gerando um grande vazio existencial, do que passa a ser real e o que é fictício criado por sua mente, vivendo então em um mundo ilusório e único, onde apenas o próprio criador das paranoias pode compreender o que está sentindo, visualizando e convivendo, pois para um esquizofrênico “Todo o simbólico é real”. A alucinação sensorial tem forte evidência na esquizofrenia, vindo acompanhada de vozes, vultos, cheiros e outros sentidos que podem ser manifestados dentro de uma crise, acarretando em uma falsa realidade, ou melhor, uma realidade criada por um esquizofrênico,que só é compreendida por ele mesmo. Seguindo a ideia Psicanalista sobre a Esquizofrenia, é desvinculada a ideia de coerência e harmonia do eu, para indicar que há também uma desarmonia no eu, um desconhecimento, tal como na constituição do eu a partir da fase do espelho, do narcisismo, que leva a uma alienação 25 no outro, pois é a partir da relação com o outro que o eu passa a se constituir enquanto sujeito. Lacan dá grande ênfase à função do imaginário no sentido de considerar os “fenômenos patológicos” como uma exacerbação deste registro, como é o caso da paranoia, em que há grande consistência desse registro, prevalecendo apenas a alienação do eu, ocasionando numa exacerbação do sentido. Assim, não obtendo consciência genuína do que realmente é real descendente de um ser portador desta patologia (Autor) Intervenção proposta: Com base na realidade fílmica onde demonstra o transtorno mental, especificamente a esquizofrenia, a proposta de intervenção é uma dinâmica da “Caixa de Sentimentos”, que consiste em um caixinha com várias palavras, como amor, carinho, ódio, atenção, paixão e raiva. Em um grupo formado por pessoas sentadas em círculos a caixinha vai passando por cada integrante, onde cada um retira uma palavra, reflete e fala sobre o que o sentimento sorteado traz a sua mente. Além da dinâmica, ainda dentro desse contexto grupal, sugerimos uma roda de conversa onde cada integrante do grupo opcionalmente pode estar compartilhando momentos vividos na semana, trazendo acontecimentos, assuntos diversos e trocando experiências. O objetivo da atividade é despertá-los para a reflexão dos seus sentimentos, fortalecendo o meio em que estão inseridos enquanto grupo e sociedade, trazendo à consciência as emoções, expressando e compartilhando seus sentimentos. Com a troca de experiências e os acontecimentos diários é possível estimular as memórias e os comportamentos. 26 7 DEVOLUTIVA 27 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na universidade temos contato com a teoria aplicada da nossa profissão e com os estágios de observação e intervenção é possível obter uma visão mais ampla sobre a dimensão do psicólogo. O estágio foi essencial para agregar ao nosso conhecimento enquanto acadêmicas sobre a doença mental e tudo que engloba. O Centro de Apoio Psicossocial (CAPS), o funcionamento dele e a função da psicóloga. Em razão da Pandemia da Covid-19 as atividades do estágio foram modificadas e dessa forma, a partir da análise fílmica e com a leitura da fundamentação teórica foi possível analisar e compreender os sinais e sintomas vividos por um esquizofrênico. Em relação às atividades e obrigações da psicóloga do CAPS a partir da entrevista com ela ficou claro a função de acolhimento, atendimento individual (anamnese) e em grupo, visitas domiciliares, as oficinas terapêuticas, e os trabalhos com grupos trazendo às emoções, os sentimentos, as situações da rotina diária de cada um, o compartilhamento de experiências buscando a união de todos em um trabalho coletivo, em prol do mesmo fim. O trabalho em equipe multidisciplinar, acompanhando o médico nas consultas quando necessário, as reuniões para discussão de casos clínicos são essenciais e não pode ser deixado de lado. A preservação da saúde mental a individualidade de cada ser que ali está para receber auxilio e direcionamento, o trabalho humanizado que envolve diferentes atividades e técnicas compreendendo o indivíduo nos aspectos bio-psico-social-espiritual, com isso obtendo uma maior compreensão, direcionando a circunstância que precisam ser trabalhadas, desenvolvidas e pautadas. Foi possível confirmar a importância da família do paciente, as instruções que são repassadas a elas para uma melhor compreensão da doença mental e os fatores que envolvem o todo. Tendo firmeza, ao olhar o ser e todo o envoltório que ele traz consigo, respeitando sua história e sentires que lhe constituíram enquanto humano, subjetivo e vulnerável. Acolhendo seus anseios, mazelas e patologias. Assim, desenvolvendo um trabalho em conjunto para trabalhar positivando e potencializando aquele indivíduo, para que possa vivenciar sua vida de uma forma mais harmônica. 28 REFERÊNCIAS ABREU, Samia; MIRANDA, Ana Aparecida Vilela; MURTA, Sheila Giardini. Programas preventivos brasileiros: quem faz e como é feita a prevenção em saúde mental - 2016. ALEXANDRE, Marcos. Breve descrição sobre processos grupais. Comum, v. 7, n. 19, p. 209- 19, 2002. AMARANTE, Paulo. Saúde mental e atenção psicossocial. SciELO-Editora FIOCRUZ, 2007. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: texto revisado (DSM-IV-TR). Artmed, 2002. BÜCHELE, Fátima et al. A interface da saúde mental na atenção básica. Cogitare Enfermagem, v. 11, n. 3, 2006. CANTELE, Juliana; ARPINI, Dorian Monica; ROSO, Adriane. La Psicología en el modelo actual de atención en salud mental. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 32, n. 4, p. 910-925, 2012. FERREIRA, Jhennipher Tortola et al. 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