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Visão 25 06 A 01 07 2020

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WWW.VISAO.PT A NEWSMAGAZINE MAIS LIDA DO PAÍS
DEPRESSÃO
O RISCO 
ESCONDIDO
DOS HOMENS
QUE NÃO CHORAM
INÉDITO
O 25 DE ABRIL
DESCONHECIDO
DE AMÁLIA
N
º 
14
25
 . 
25
/6
 A
 1
/7
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 . 
SE
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A
N
A
L
16 ESCAPADAS
ISOLADAS
NA NATUREZA
O TELETRABALHO AM
ENIZOU OU FEZ AUME
NTAR OS ABUSOS? O Q
UE DISTINGUE OS BON
S DOS MAUS LÍDERES
 
A VANTAGEM DAS M
ULHERES NAS CHEF
IAS • O QUE FAZER 
PARA SE DEFENDER
COMO LIDAR 
COM CHEFES TOXICOS
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16 ESCAPADAS
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NTAR OS ABUSOS? O Q
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S DOS MAUS LÍDERES
 
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TODO O PARTIDO DA APP
A EVOLUÇÃO 
FORÇADA
Uma investigadora 
portuguesa está a estudar a 
resposta dos animais para se
adaptarem às mudanças 
provocadas pelo 
aquecimento global
LUÍS RIBEIRO
Diana Madeira quer saber se as 
alterações climáticas podem acabar com 
uma espécie de minhocas marinhas do 
género científico Ophryotrocha. 
Olhando para elas, uns vermes 
minúsculos que mais parecem 
centopeias viscosas, é fácil pensar que a 
sua extinção, seja por que razão for, não 
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33 / 102< ANTERIOR SEGUINTE >
35 / 132
24 horas seguidas, subindo ao topo três 
vezes, perfazendo mais de 2 700 metros 
de altura escalados na vertical. Em 2012, 
também no Yosemite, fez subidas 
consecutivas do “El Cap”, da Half Dome 
e do Monte Watkins, as três mais altas 
elevações do parque, perfazendo 2 133 
metros verticais em menos de 19 horas. 
E dois anos depois, com David Allfrey, 
subiu sete rotas diferentes do 
“El Cap”, em sete dias. No México, em 
2015, escalou o Sendero Luminoso – 
500 metros de rocha no Parque de 
Potrero Chico, em apenas três horas, 
quando muitas duplas de alpinistas 
demoram dois dias, com proteção. 
EMPREENDIMENTO ARRISCADO
Na origem de Free Solo está uma 
amizade e a determinação em superar o 
que parece impossível. Alex Honnold e o
realizador Jimmy Chin também
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Económica e Empresarial
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O ISEG faz parte de um grupo restrito de escolas de 
negócios que possuem as acreditações AACSB e AMBA
Com um corpo docente experiente e bem preparado, 
estudantes de mais de 70 países contribuem para um 
ambiente académico internacional e aproveitam a 
excelência da escola, reconhecida pela eduniversal e pelo 
Financial Times com mestrados no ranking global.
*cursos lecionados em Inglês
 2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 3
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25 JUNHO 2020 / Nº 1425
D.
R.
Interdita a reprodução, mesmo parcial, 
de textos, fotografias ou ilustrações sob 
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inclusive comerciais.
46 Amália, os primeiros dias de Abril
Amália assistiu aos primeiros dias de liberdade, sem saber que seria 
perseguida por uma ligação à PIDE que nunca teve. Excerto do novo livro 
do jornalista da VISÃO Miguel Carvalho: Amália, Ditadura e Revolução
28 Chefes altamente tóxicos
Quando as chefias se tornam um pesadelo para os subordinados. 
O stresse, a pressão, as injustiças. Sinais de alerta e dicas para lidar 
com o problema
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Manuel Sebastião, ex-presidente da Autoridade da Concorrência, 
deverá ser ouvido em breve no processo da EDP
54 O silêncio triste dos homens que não choram
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Admiti-la e pedir ajuda é um estigma social que persiste
60 A segunda vida de Foz Côa
Com a recente descoberta da maior gravura do mundo ao ar livre, 
datada do Paleolítico Superior, reaviva-se o interesse por um projeto 
cultural que fez História
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Entrevista com Ricky Gervais sobre estes tempos estranhos
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21 Transições
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FOCAR 
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da Champions em Portugal
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VISÃO SETE
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OPINIÃO
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8 Rui Tavares Guedes
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88 Capicua
130 Ricardo Araújo Pereira
Luís Delgado
LINHAS DIREITAS
O passo certo do 
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Mafalda Anjos
COVIDIÁRIO
A nova vaga dos 
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CRÓNICAS D.C.
Deseducação 
para a cidadania
4 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
Já nas bancas
Morreu o nosso bravo soldado Luís
Quando uma equipa de repórteres 
da VISÃO saía em reportagem, era 
o Luís que tratava do aluguer do carro. 
Burocracia resolvida, o Luís dirigia- 
-se ao jornalista e, não raras vezes, 
à chegada da dita viatura, acrescentava 
um comentário cheio de humor: 
“O teu Porsche amarelo à Futre está 
cá amanhã de manhã.”
Era assim o Luís Pinto, que integrava 
a nossa equipa desde a fundação da 
revista. Sentido de humor nunca lhe 
faltava,tinha simpatia e cordialidade 
em doses suficientes para espalhar 
por toda a Redação. Se há talento que 
o Luís tinha era o da tirada repentina. 
Certeiro, sem nunca precisar de 
recorrer ao vernáculo para que a graça 
surtisse efeito (inesquecível, a sua 
gargalhada).
Nascido há 52 anos em São Pedro do Sul, começou a trabalhar aos 16 anos, 
no grupo da Projornal, a sociedade de jornalistas que criou o semanário 
O Jornal cuja equipa viria, mais tarde, em 1993, a fundar a VISÃO. José Carlos 
de Vasconcelos, um dos fundadores de O Jornal e atual diretor do Jornal de 
Letras, Artes e Ideias, recorda o “miúdo” que então chegou às instalações 
do grupo, na Avenida da Liberdade, em Lisboa: “Fazia serviço do que ao 
tempo se chamava ‘paquete’. Depois, foi progredindo, com tarefas de maior 
dificuldade e responsabilidade. Manteve-se simpático e disponível, mas 
sempre de uma dedicação exemplar.” Na Redação da VISÃO, os amigos mais 
próximos recordam infinitas histórias que exemplificam o seu fino humor. 
Dos tempos em que trabalhou no semanário Se7e, ainda na Projornal, ficou-
lhe também a alcunha de “soldado Luís”, posta pelos jornalistas Viriato Teles 
e António Macedo, numa referência ao golpe de 11 de março de 1975, 
no RALIS, e que originou uma única vítima que ficou para a História com 
esse nome. E agora, Luís, que já cá não estás, temos de nos rir sem ti? S.B.L.
Luís Pinto – que integrava a equipa da VISÃO desde a fundação da revista 
– morreu, no passado dia 19, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, 
após complicações causadas por um AVC ocorrido há cerca de um mês. 
Dele, recordamos o seu bom humor e a sua infinita dedicação à VISÃO
MICROPLÁSTICOS
O miúdo que pode 
salvar os oceanos
EMAGRECER
A ciência da 
alimentação
JOÃO DE MELO
Novo romance do 
autor de Gente Feliz 
com Lágrimas
As teorias da conspiração 
tornaram-se uma verdadeira 
arma de propaganda
Teresa Fonseca, Porto
RACISMO 
“Portugal é o País da Europa com maior 
racismo biológico”, escrevia Mafalda Anjos 
no editorial [Racistas, Nós?!, V1424]. 
Portugal é também, provavelmente, 
o País da Europa com mais ignorantes, 
semianalfabetos, iletrados funcionais, 
etc. O racismo tem muito de maldade, 
ignorância ou estupidez. Haverá sempre 
pessoas más, ignorantes e estúpidas. 
A democracia concede-lhes o direito 
à existência e à manifestação. 
Paulo Dias, Lisboa
Sempre se disse que o ser humano tem 
horror ao vazio. Pois se apagássemos 
toda a nossa História, logo nascia uma 
outra visão da mesma. Não seria tal 
visão um horror ainda maior? Não 
há sociedade sem símbolos nem seres 
humanos sem mácula na sua vida. 
Ângelo Santos, Peniche
Quero felicitar José Manuel Pureza pelo 
excelente artigo [O Joelho de Derek 
Cauvin, V1423] sobre o caso do crime 
sem nome cometido pela polícia norte-
-americana contra o cidadão George 
Floyd. Uma análise fina da situação atual.
Danielle Foucaut
CORREÇÃO
Na primeira pergunta do Quiz da edição 
passada (V1424), sobre a idade de 
Fernando Pessoa ao morrer, a resposta 
correta é 47 anos (opção B) e não 36 
(opção A), como, por lapso, indicámos 
nas soluções. Aos leitores, as nossas 
desculpas.
CORREIO: Rua da Fonte da Caspolima 
– Quinta da Fonte, 
Edifício Fernão Magalhães, 8, 
2770-190 Paço de Arcos 
NOVA MORADA
visao@visao.pt
As cartas devem ter um máximo 
de 60 palavras e conter nome, morada 
e telefone. A revista reserva-se 
o direito de selecionar os trechos 
que considerar mais importantes.
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Frase de Ricardo 
Araújo Pereira, publicada 
em novembro de 2019, 
na sua crónica semanal 
“Boca do Inferno”
N E M T U D O É F I C Ç Ã O
6 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
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Todos 
os domingos
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om quanto esquecimento se ergue uma 
estátua?”
Isto foi o que pensou Hipólito Azagu-
ri enquanto o seu melhor amigo, Isaías 
Pinto, se exaltava com o derrube das 
estátuas:
– Estão a destruir a memória da nação 
— queixou-se Isaías. 
Hipólito pensou em retorquir: cada 
uma daquelas estátuas pretendia perpe-
tuar a memória e a grandeza do projeto escravocra-
ta. Ao mesmo tempo, assinalavam um vazio, pois 
erguiam-se por entre o triste silêncio dos humi-
lhados e esquecidos. Não disse nada. Ficaram os 
dois calados, assistindo ao espetáculo da turba que, 
depois de atirar baldes de tinta vermelha contra o 
rosto da estátua, se afadigava agora a amarrar gros-
sas cordas nas pernitas marmóreas da mesma. 
– Vê como sofre! – disse Isaías. – Não resistirá 
ao primeiro puxão. 
 2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 7
Há 20 anos que se encontravam naquele parque, 
todos os domingos, ao meio-dia, depois da missa – 
contando que fizesse sol. Sentavam-se a uma mesa, 
à sombra húmida de uma pujante figueira-da-índia. 
Hipólito ia montando o tabuleiro de xadrez enquanto 
cantarolava: “Cuando tengas que partir / Quiero que 
sepas / Que estaré pensando en tí / Todos mis días.”
Perdiam e ganhavam tendo a estátua como testemu-
nha. Até lhe tinham posto uma alcunha: o Petulante. 
Incluíam-na nas suas conversas:
– Ali o Petulante jogava pior do que tu – costumava 
dizer Isaías, apontando com o quei-
xo para a estátua. – Dizem que 
um dia jogou a própria esposa 
e a perdeu. 
O Petulante era como se fosse 
um companheiro mudo, porém 
atento, que partilhava os risos e as 
memórias dos dois homens. Isaías 
e Hipólito haviam combatido em 
Angola. Um ganhara, outro perdera. 
O que ganhara, perdera um pé. 
O que perdera, ganhara uma entra-
nhada paixão pela culinária ango-
lana. Conheceram-se alguns anos 
depois da independência de Angola, 
porque Hipólito precisava de uma 
nova prótese e alguém lhe indica-
ra o nome de Isaías. O antigo sol-
dado português fabricava próteses 
estéticas hiper-realistas em silicone. 
Ficaram amigos. Mais tarde, Hipóli-
to reformara-se, trocara Luanda por 
Lisboa, e desde então os dois homens 
passaram a encontrar-se todos os 
domingos. Depois do jogo, Hipólito 
convidava Isaías para almoçar em 
sua casa. A esposa, dona Fina, cozi-
nhava às vezes um funje de peito alto, 
às vezes um feijão de óleo de palma. 
Isaías comia e chorava por mais. 
– Não há melhor cozinha do que 
a sua, dona Fina. Não se quer casar 
comigo?
Agora ali estavam os dois, 
o angolano e o português, num fres-
co domingo de primavera. Enquanto 
viam ruir o Petulante, voltavam a 
posicionar-se em lados diferentes 
da barricada. Isaías sentia a queda da estátua como se 
fosse a dele, que se batera pelo Império, com todas as 
suas glórias e todos os seus inumeráveis crimes, in-
cluindo o da escravatura. Hipólito experimentava uma 
espécie de pequeno renascimento, como se lhe esti-
vessem a recolocar na perna o pé legítimo, perdido na 
guerra de libertação. Avançou a rainha no tabuleiro:
– Acho que perdeste – disse para o português. – Cai 
o Petulante e cai o teu rei.
Isaías deu um soco na mesa, derrubando as peças 
todas:
– Não se pode apagar a História!
Dessa vez, Hipólitoenfrentou-o:
– A História tanto se escreve erguendo uma estátua 
como deitando-a abaixo. Está sempre lá. O que muda é 
a forma como olhas para ela.
– Não me venhas tu ensinar História. Vocês nem 
História tinham quando os portugueses chegaram a 
África. O que sabes tu de História?
– Perdi um pé para ajudar a escrever uma outra 
História. 
– E eu dei-te um pé!
– Deste não, paguei-o! Mas que-
res o meu pé?! Então fica lá com o 
pé!... 
Dizendo isto, Hipólito desa-
tarraxou o pé e atirou-o contra a 
cabeça do amigo. O outro esqui-
vou-se a tempo. A prótese girou no 
ar, afundando-se, alguns metros 
adiante, num canteiro de hortên-
sias. Foi então que entrou em cena 
uma nova personagem — Kabiri, 
um fox terrier que tinha também o 
hábito de passear no parque. O ca-
chorro agarrou no falso pé e correu 
com ele nos dentes até junto dos 
jovens iconoclastas, os quais, con-
centrados a desmembrar o Petu-
lante à machadada, não deram logo 
por ele. Finalmente, uma rapariga 
viu-o e gritou:
– Um pé! O cão tem um pé na 
boca!
Foi a confusão geral. No meio 
da gritaria, Isaías conseguiu en-
curralar Kabiri, arrancando-lhe a 
prótese dos dentes. Regressou para 
junto do angolano. Sentou-se, sem 
conseguir conter o riso. Riram-se 
os dois. Hipólito voltou a colocar a 
prótese:
– Tens fome? – perguntou ao 
outro. 
O português assentiu com a ca-
beça. Uma hora mais tarde, suando 
muito, enquanto se batia brava-
mente com um magnífico calulu de 
carne seca, voltou a lembrar-se do 
Petulante. 
– À machadada, Hipólito?! Ninguém merece... 
Dona Fina assustou-se:
– Mataram alguém?
– Não! – sossegou-a o marido. – Mataram uma 
ideia. À machadada. 
Isaías ia retorquir – “ideias não se matam assim” 
–, mas desistiu. O calulu estava excelente. Fazia calor. 
Bebeu um gole de cerveja e sorriu. As estátuas que 
caíssem todas. O mundo que tremesse e se exaltasse. 
Não havia causa ou revolução que valesse o caloroso 
tempero de dona Fina. visao@visao.pt
Cada uma daquelas 
estátuas pretendia 
perpetuar a memória 
e a grandeza do 
projeto escravocrata. 
Ao mesmo tempo, 
assinalavam um vazio, 
pois erguiam-se por 
entre o triste silêncio 
dos humilhados 
e esquecidos. 
Não disse nada. 
Ficaram os dois 
calados, assistindo 
ao espetáculo da 
turba que, depois 
de atirar baldes de 
tinta vermelha contra 
o rosto da estátua, 
se afadigava agora 
a amarrar grossas 
cordas nas pernitas 
marmóreas da mesma
8 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
HISTÓRIAS 
DA CAPA
O P I N I Ã O
1
3
2
Fiem-se em milagres 
e não corram…
A
s maratonas olímpicas costu-
mam iniciar-se com duas voltas 
ao estádio. Nesse momento, é 
habitual um concorrente acelerar 
só para poder ser visto na frente, 
a comandar o pelotão, e a ganhar 
alguns minutinhos de fama na 
transmissão da TV e a receber os 
aplausos dos espectadores. Depois, aca-
ba por “desaparecer” porque não consegue 
manter aquele ritmo durante os mais de 42 
km da corrida. Este “clássico” das maratonas 
merece ser recordado agora, na maratona 
pandémica em que estamos envolvidos. Com 
uma certeza, desde já: ninguém ganha uma 
maratona por decreto nem por milagre e, 
muito menos, a tentar ganhar uns minutos 
de fama nos primeiros quilómetros. 
Só porque, no primeiro embate, não 
vivemos o caos e a mortandade de italianos, 
espanhóis, americanos ou brasileiros, não há 
nem haverá qualquer “milagre português” 
em relação à Covid-19. Tivemos, isso sim, a 
vantagem de assistir ao vírus a chegar pri-
meiro a outros países e, contra as expectati-
vas dos habituais pessimistas, o nosso Servi-
ço Nacional de Saúde ter demonstrado a sua 
resiliência, graças à competência e dedicação 
dos seus profissionais. De resto, o que nos 
“salvou” foi o medo, aquele impulso irra-
cional que fez as pessoas refugiarem-se em 
casa, fecharem escolas e comércios, ainda 
antes de o Governo decretar o estado de 
emergência.
Ao fim de três meses, o medo de ficar sem 
sustento tornou-se, no entanto, superior ao 
medo de se ser infetado. Era preciso reabrir 
a economia já quase moribunda e tentar que 
os níveis de consumo subissem para salvar 
negócios e empregos. Tudo correto. Só que 
era desnecessário anunciar essa nova etapa 
como se o pior já tivesse passado, graças ao 
tão proclamado e elogiado “milagre por-
tuguês” – ainda para mais quando este é 
alicerçado em números que, como se vê, 
mudam depressa e podem ser sempre lidos 
de maneira diferente, conforme as compara-
ções e os pontos de vista. 
Não faz qualquer sentido, perante uma 
crise mundial como esta, falar em milagres. 
Seria até um contrassenso, em 2020, quan-
do todo um planeta está expectante sobre 
a resposta da comunidade científica para 
conseguir encontrar um tratamento eficaz 
ou uma vacina. Não há milagre – há boas ou 
más decisões. E, para haver decisões melho-
res, é preciso que exista informação o mais 
completa possível sobre o problema que 
precisamos de solucionar. Para enfrentarmos 
a ameaça da pandemia já não chega indicar, 
burocraticamente, quais os concelhos com 
maior número de novos casos confirma-
dos ou continuar a dividir o País em regiões 
administrativas que, no caso do vírus, não 
significam nada – o contágio estabelece-se 
através de correntes de ligação, não impor-
ta as fronteiras que se desenhem no mapa. 
Para quê continuar a insistir, por exemplo, 
no debitar do aumento de casos em Lisboa 
e Vale do Tejo, uma região administrativa de 
que 99% dos portugueses desconhece os li-
mites e que alberga uma população superior 
a 3,5 milhões de pessoas (mais do que sete 
países da União Europeia)?. É preciso, isso 
sim, saber a localização exata de cada cluster 
de infeção, em cada bairro ou aglomerado, e 
atuar depressa. Nesses locais, com as pessoas 
informadas, o medo será útil para ajudar a 
combater o contágio. Nos outros, onde não 
existe qualquer ligação real, mas apenas ad-
ministrativa, não adianta continuar a insistir 
nele, até porque o resultado será o contrário 
e conduz às aglomerações de pessoas. Mais: 
é preciso ter consciência de que muitas das 
atuais correntes de contágio têm origem em 
pessoas de classes mais desfavorecidas que 
sempre tiveram de continuar a trabalhar no 
exterior, em profissões nas quais não era 
possível o teletrabalho. É preciso criar con-
dições específicas para elas, de forma a que 
possam continuar a garantir o sustento, em 
período de confinamento.
Temos de ter a consciência de que es-
tamos a correr uma maratona. Portanto, 
quanto mais abrirmos, mais novos casos irão 
surgir. As últimas semanas têm sido elo-
quentes nessa tendência: quase todos os dias, 
batem-se os recordes de novas infeções em 
todo o mundo. Esta semana, ultrapassou-
-se a marca dos nove milhões de infetados 
e estamos prestes a chegar, a nível global, ao 
meio milhão de mortes. Numa região da Ale-
manha foi necessário adotar novas medidas 
de confinamento, na Coreia do Sul cresce o 
receio de uma segunda vaga, em África os 
sinais são cada vez mais alarmantes. As ma-
ratonas só se ganham no fim. E se já vi mui-
tos campeões olímpicos elevados à condição 
de heróis, nunca vi nenhum adorado como 
santo milagreiro. rguedes@visao.pt
P O R R U I T A V A R E S G U E D E S / Diretor-executivo
Não é fácil 
“ilustrar” a ideia 
de um chefe tóxico. 
Associá-lo a uma 
espécie de diabo 
era uma hipótese...
Ou, então, ir 
 mais longe, 
e caricaturá-lo 
de uma forma 
ainda mais 
violenta 
e desprezível.
O melhor, no 
entanto, é olhá-lo 
diretamente nos 
olhos. E, dessa 
forma, transmitir 
a mensagem 
exata.
10 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
 Foram estruturas políticas, 
religiosas e culturais que 
instituíram a noção de que 
existem povos superiores 
a outros. É muito difícil apagar 
esta ideia, porque ela opera 
ao nível do inconsciente 
 A L E X A N D R A C O R R E I A L U Í S B A R R A
Cristina Roldão Socióloga e ativista
 2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 11
C
Cristina Roldão, 40 anos, é professora 
na Escola Superior de Educação de 
Setúbal.Doutorada em Sociologia pelo 
ISCTE, é investigadora no Centro de 
Investigação e Estudos de Sociologia 
(CIES) e dedica-se ao estudo das ques-
tões relacionadas com os afrodescen-
dentes e as desigualdades na Educação, 
a juventude e os bairros de realoja-
mento. Fomos ouvi-la a propósito do 
debate sobre o racismo em Portugal.
Portugal é um país racista?
Como é que se pode dizer que Portugal 
não é racista quando tudo na História 
nos mostra uma dificuldade enorme de 
lidar com o outro que é negro?
Podemos dizer isso de todo um País? 
Não estamos a generalizar, sendo 
justamente a generalização uma 
arma do racismo?
Estamos a falar de políticas de Estado, 
de padrões dominantes e de rela-
ções económicas. Quando se diz que 
Portugal é racista, não se está a dizer 
que cada um dos portugueses o é, mas 
que há uma matriz dominante que faz 
com que isso aconteça. Vou dar um 
exemplo: como é que nos manuais de 
História não há uma única referência 
à população cigana que está há 500 
anos em Portugal? Os portugueses têm 
muitas costelas ciganas e até o fado tem 
origem cigana, mas isto nunca é con-
tado. E estes silêncios não são acasos; 
são decisões políticas de como narrar 
a nação. 
Mas há dados estatísticos 
que o comprovem?
Sim, há dados como os estudos do 
European Social Survey. Os portugueses 
estão entre os povos europeus que mais 
acreditam que existem raças natural-
mente superiores a outras, ou que exis-
tem grupos culturalmente superiores 
– isto na ordem dos 50, 60 por cento. 
Vemos como a extrema-direta está a 
avançar, e as pessoas não se tornaram 
racistas agora porque houve manifesta-
ções antirracistas, como diz Rui Rio. 
Quais são as causas deste racismo? 
Ignorância? Ódio?
É um passado colonial que está na 
nossa memória e que perdura, porque 
não temos medidas ativas para o 
desconstruir. Há um imaginário de que 
determinados grupos são subalternos. 
Não se trata de ignorância, porque 
somos mais racistas exatamente com os 
grupos com quem temos proximidade 
histórica, como os brasileiros, as pessoas 
de origem africana ou a população 
cigana. Porque não há racismo com os 
finlandeses, com quem temos muito 
menos História comum? Porque não é 
uma questão de não conhecer o outro, 
tem que ver com hierarquias raciais que 
se estabeleceram historicamente e que 
durante séculos foram legitimadas por 
grandes instituições da Ciência, da Igreja 
e da Política. 
O racismo não é maior entre pessoas 
com baixa escolaridade?
Talvez essas pessoas tenham me-
nos ferramentas de sofisticação para 
ocultar o seu racismo, enquanto outros 
dominam mais a linguagem e a auto-
censura. Mas há momentos em que a 
coisa vem ao de cima, escapa. 
O que pensa quando vê líderes 
políticos como Rui Rio ou Jerónimo 
de Sousa a negar ou a minimizar a 
existência de racismo em Portugal?
É a tese do negacionismo com maçãs 
podres. Existe o negacionismo total, 
que é a versão do Chega: Portugal não 
tem racismo. E há a tese de que, gene-
ricamente, não há racismo, não há nada 
para resolver, mas existe um caso ou 
outro. O PSD, que até tem uma matriz 
católica, faz uma guinada à direita para 
não perder votos para o CDS e para o 
Chega. Já a Iniciativa Liberal tem outra 
posição, que é: capitalist lives matter, 
ou seja, diz que há discriminação com 
os empresários. [risos] 
E o PCP?
É muito dececionante. Os comunis-
tas acham que esta agenda é do tipo 
identitária e típica do Bloco de Esquer-
da e do Livre, e sempre fizeram esta 
distinção de que a classe é o elemento 
fundamental – que isto são divisões da 
classe operária e que a classe operária 
tem de estar unida. O PCP tem uma 
base de apoio conservadora e também 
não fez um trabalho de consciencia-
lização do seu eleitorado. Há muito 
racismo na cintura industrial. Se o PCP 
não o vê, pode ao menos olhar para os 
estudos que mostram desigualdades 
enormes na Educação, no Emprego, na 
Justiça e na Habitação. 
Faz sentido criar um partido 
de afrodescendentes?
Não sei responder a isso. A designação 
de “política identitária” serve, neste 
momento, para retirar valor. É óbvio 
que o racismo em Portugal não é só 
uma questão cultural, de identidade. 
Quando dizemos que os bairros de 
realojamento da periferia de Lisboa 
sofrem violência policial, não é uma 
questão identitária, é uma questão de 
justiça. Quando dizemos que a maior 
parte das pessoas negras trabalha no 
setor das limpezas e da construção 
civil, não é uma questão de identidade, 
mas de justiça redistributiva. O sufixo 
identitário tem sido usado para desviar 
o nosso olhar. Foi o que aconteceu com 
a manifestação de 6 de junho. Era uma 
manifestação sobre violência policial e 
racismo, mas o debate transformou-se 
numa questão culturalista do Padre 
António Vieira e da identidade nacio-
nal. É um grande debate que temos de 
fazer, mas ele não pode estar dissocia-
do das nossas vidas.
Porque é que as pessoas aderem 
ao tipo de discurso do Chega?
O Chega, de alguma forma, segue uma 
política e uma estratégia muito pare-
cidas como o que temos com Donald 
Trump ou Bolsonaro: a sua base são 
os destituídos da globalização, aqueles 
que chegaram a ter uma vida melhor 
e a perderam; não são os que nunca a 
tiveram, como os negros ou os ciganos. 
Falamos de população retornada, do 
pequeno comerciante que foi engolido 
pelas grandes corporações económicas, 
e de segmentos de funcionários públicos 
que viram a sua profissão desvalorizada 
a partir de 2008. Sentem-se impotentes 
face à complexidade da política atual 
e querem “voltar à ordem”. Mas é uma 
ficção. O Chega quer acabar com o 
Estado-providência, que permitiu que os 
filhos dessa gente chegassem ao Ensino 
Superior, por exemplo. 
Como foi a sua experiência na escola 
quando chegou a altura de aprender 
sobre os Descobrimentos?
Na altura, claro que me apercebia 
quando se começava a falar das questões 
da escravatura en passant; era ouro, 
borracha, café e escravos… E a maneira 
como se representava África deixava-me 
desconfortável, porque o pressuposto 
era que aquela aula estava a ser dada 
para portugueses brancos, aquilo era 
a história deles, não era a minha; eu 
estava do outro lado. Julgo que isso é 
algo que muitos jovens negros sentem e 
espero que cada vez mais jovens brancos 
12 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
também, ao perceberem que não podem 
continuar a glorificar o passado colonial. 
Não se trata de deixar de se falar; trata-
-se de falar sobre o que realmente acon-
teceu e as consequências na atualidade. 
Muitos professores de História dizem 
que precisamos de conhecer o passado 
para compreender o presente – é isso 
mesmo. Se olharmos para as desigual-
dades do mundo atual, para uma glo-
balização que é muito mais de mercado 
do que de circulação livre de pessoas, as 
crises dos refugiados, as migrações das 
pessoas dos países do Sul para o Norte, 
tudo isso são as ramificações diretas da 
história colonial. E isto nunca é explica-
do desta forma articulada. Os livros de 
História falam do Apartheid na África 
do Sul como exemplo de um racismo 
brutal, e está certo; falam do nazismo e 
do Holocausto, certo; falam do movi-
mento dos diretos civis, certíssimo; mas 
o colonialismo português não é associa-
do ao racismo. E esses recortes dizem 
muito sobre o que está por contar na 
História de Portugal. 
Falta descolonizar as mentes?
O 25 de Abril tinha isso como um dos 
objetivos, mas ficou por fazer. Toda a 
História atlântica com África e com o 
Brasil, com o tráfico de escravos, desa-
parece, tudo se apaga. Mas, em termos 
históricos, o colonialismo foi hoje de 
manhã. No estatuto do indigenato, 
em vigor até aos anos 60, definem-se 
três grandes grupos: os civilizados (a 
população branca); a população indígena 
(a maior parte da população negra); e 
depois os assimilados (famílias mestiças 
ou da pequena e alta burguesia negras, 
para quem era preciso criar uma distin-
ção, mas nunca igualdade). Este estatuto 
ajuda-nos a perceber como o racismo à 
portuguesa funciona: a ideia de que, se 
te portares bem,se não fizeres críti-
cas e aderires por completo à cultura 
dominante, nós deixamos-te estar aqui 
ao lado, não acima. Está tudo bem, se 
abandonares toda a tua cultura. Quem 
não cabe dentro da categoria de assi-
milado é considerado um vândalo, um 
arrogante, um ingrato, um incivilizado. 
Esta matriz continua muito presente.
O que responde quando lhe dizem 
que o colonialismo português foi 
mais suave?
É preciso não esquecer que dos 12 
milhões de pessoas que estão contabi-
lizadas como tendo sido escravizadas e 
traficadas no espaço atlântico, mais de 
40% foram-no pelos portugueses. Isto 
não é para culpabilizar; é para reco-
nhecer a História de forma a podermos 
Está muito 
presente a 
ideia de que, 
se te portares 
bem, se não 
fizeres críticas 
e abandonares a 
tua cultura para 
aderir à cultura 
dominante, nós 
deixamos-te 
estar aqui ao 
lado, não acima 
andar para a frente. Portugal foi dos 
países que mais tardaram a sair das 
colónias. E foi dos que tiveram a guerra 
colonial mais longa: bateu-se durante 
13 anos, bateu-se até à última por man-
ter o domínio colonial sobre outros!
Também se argumenta que os por-
tugueses eram dados a misturas…
Em territórios com poucos colonatos 
brancos, em que as famílias brancas 
ficavam na metrópole, quem ia para lá 
eram os funcionários da administração 
colonial, do exército, pequenos comer-
ciantes… Essas pessoas misturavam-se 
com as populações locais. Mas é preciso 
dizer que essa mistura não era feita 
em pé de igualdade; parte dela fez-se à 
custa da violação e exploração sexual de 
mulheres negras. Sei que, ao dizer isto, 
muitas pessoas desligam o seu botão 
da atenção. É não desligar o botão… É 
reconhecer e andar para a frente. Porque 
é que Portugal vai ter orgulho do seu 
passado colonial e não do projeto futuro 
de uma sociedade que tem uma política 
ativa de reparação do seu passado co-
lonial?
Levar o debate para as estátuas pode 
prejudicar a luta antirracista?
O debate da memória é importan-
tíssimo. Temos estátuas e nomes de 
ruas a glorificar pessoas que tiveram 
um profundo envolvimento no tráfi-
co de escravos e na colonização (Paiva 
Couceiro, Mouzinho de Albuquerque e 
por aí adiante...) e temos tentativas de 
criar um museu dos Descobrimentos 
em Lisboa. Agora, acho que temos todos 
a responsabilidade de não desarticular 
estas questões. A toponímia, as estátuas 
e os museus não podem ser discuti-
dos de forma desgarrada da vida das 
pessoas. Porque é que é importante 
desconstruir esta narrativa nacional? 
Porque ela nos ajuda a perceber porque 
é que algumas pessoas que nascem em 
Portugal não são consideradas portu-
guesas pela lei. Ou ajuda-nos a perceber 
porque temos zonas de exceção, onde os 
direitos humanos estão suspensos e as 
pessoas não são consideradas cidadãs de 
pleno direito, como em certos bairros de 
realojamento, chamados zonas urbanas 
sensíveis, onde a polícia pode ter uma 
intervenção distinta do que faz no resto 
do território. Pode cercá-los, proibir as 
pessoas de entrar e sair, revistar todas 
as pessoas que passem e não só as 
suspeitas… Há quase um salto para uma 
certa militarização, como se fosse um 
território de guerra. 
Porque não gosta da palavra 
integração?
É muito parecida com assimilação. 
Ou seja, há um molde, um padrão 
dominante, e quem não se adapta é um 
incivilizado. Outra coisa é a inclusão, o 
que implica uma mudança da própria 
sociedade para incluir as referências 
dos outros como suas. 
Não teme que o politicamente corre-
to possa alienar algumaspessoas?
Não podemos deixar que o debate mais 
culturalista tome a dianteira ao ponto de 
ficar desfasado. No entanto, as palavras 
são uma expressão do que pensamos e 
daquilo que se pretende, ao nível indi-
vidual, mas também de projeto político. 
No nosso currículo escolar, não se fala 
sobre antirracismo, mas sobre inter-
culturalidade – e é tão parecido com 
lusotropicalismo, porque é esta ideia de 
que os povos se misturam e não há lutas 
de poder. A vida real não é assim. Há 
culturas e povos e grupos que têm mais 
poder de impor as suas referências do 
que outros. Porque é que não ouvimos 
os nomes das pessoas que, em Portugal, 
sofreram violência policial?
Como ouvimos na América…
Quando o problema era lá longe, tudo 
bem; quando chegou aqui, ai a Covid, 
ai os cartazes, ai a estátua. E não se fala 
do que tínhamos de falar: como é que 
se pensa uma política de segurança e 
de território que não esteja assente na 
violência sistemática sobre determina-
do tipo de corpos? 
O que é o privilégio branco?
É uma noção de que há uma hierarquia 
entre pessoas de diferentes origens 
étnico-raciais. Isso foi construído his-
toricamente e, durante muito tempo, 
tivemos a Ciência a dizer que há povos 
que são subumanos. E tivemos a Igreja 
ligada ao tráfico de escravos. Foram es-
truturas políticas, religiosas e culturais 
que instituíram a noção de que existem 
povos superiores a outros. É muito 
difícil apagar esta ideia, até porque 
ela opera ao nível do inconsciente. O 
privilégio branco tem desdobramentos 
muito objetivos: numa entrevista de 
emprego, no ato de alugar uma casa ou 
a pedir crédito num banco…
Também há brancos pouco ou nada 
privilegiados, que toda a vida 
estiveram nas classes mais baixas.
Claro. Mas o privilégio branco não é 
sinónimo de que se é “rico”. Ele quer 
dizer que, na dimensão racial, aquela 
pessoa não teve de lidar com certos pro-
blemas. Mas teve de lidar com todos os 
outros. Imagine uma mulher branca da 
classe operária: lidou com o machismo, 
a exploração, mas não teve de lidar com 
a discriminação racial, como a sua cole-
ga negra. Isto não devia provocar tanta 
celeuma. Há um lado de sobrerreação 
que tem que ver com a negação do 
racismo. Então não sabemos que existe 
machismo em Portugal e que os homens 
ganham mais e são mais privilegiados 
do que as mulheres no acesso aos cargos 
de chefia, por exemplo? As pessoas não 
percebem como o machismo é insidio-
so, não precisa de ser declarado? Está 
tudo bem no jantar de Natal, mas as 
mulheres estão na cozinha a trabalhar e 
os homens, na sala a conviver. 
Porque seria útil, nos censos, 
a caracterização da população 
com base na etnia?
Primeiro, porque isso confrontaria a 
sociedade portuguesa com a sua diver-
sidade. Teríamos um instrumento do 
Estado a dizer que nós somos isso, so-
mos brancos, negros, ciganos, de origem 
asiática... Outra questão seria a possibi-
lidade de termos dados fidedignos sobre 
a desigualdade no Emprego, na Educa-
ção, na Saúde – dados que obrigariam 
a que se fizessem políticas para reduzir 
essas desigualdades estruturais.
Existe racismo contra os brancos, 
como alguns brancos se queixam?
Existem formas de discriminação que 
têm raízes históricas. Isto quer dizer 
que houve várias instituições ao longo 
da História que se conjugaram no sen-
tido de legitimar um conjunto de ideias. 
Pode ter-me escapado, mas não tive-
mos séculos em que a Igreja Católica, 
Estados-nação e Ciência se juntaram 
para dizer que os brancos eram um 
grupo inferior. acorreia@visao.pt
É preciso dizer 
que a mistura dos 
portugueses não 
era feita em pé de 
igualdade; e parte 
dela fez-se à 
custa da violação 
e da exploração 
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mulheres negras
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20,4
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sob o mandato da UNRWA
(Agência das Nações Unidas de Assistência 
aos Refugiados da Palestina)
5,6
MILHÕES
pessoas deslocadas
internamente
45,7
MILHÕES
requerentes de asilo
4,2
MILHÕES
venezuelanos
deslocados
para o exterior
3,6
MILHÕES
26
MILHÕES DE REFUGIADOS
Venezuela
80
60
40
20
0
1990 2000 2010 2019
Venezuelanos deslocados 
Refugiados
14 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
R A I O S X
Atlas da fuga Em média, uma em cada 98 pessoas, em todo o mundo, é refugiada ou foi obrigada a abandonar a sua residência por motivos de violência
Esquecidos por todos?
No final de 2019, existiam mais nove milhões de pessoas 
deslocadas do que no ano anterior e perto do dobro dos 
41 milhões registados em 2010. “Este número de quase 80 milhões 
é obviamente motivo de grande preocupação”, diz Filippo Grandi, 
o alto-comissário da ONU para os Refugiados
INFOGRAFIA MT/VISÃOFONTE ACNUR – Forced Displacement in 2019
16 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
 *Diretora
manjos@visao.pt
APRENDER A DANÇAR ESTA DANÇA
Há toda uma arte na condução de uma 
dança a par. Os passos sucedem-se ao 
sabor da música, e o espaço ocupado na 
pista tem de ser gerido com andamentos 
adiante, para o lado e à retaguarda. 
Conduzir a saúde pública em tempos 
de pandemia é mais ou menos como 
dançar um tango com um companheiro 
invisível, para variar das metáforas bélicas 
da guerra contra a Covid-19, mas em 
vez de sedução há uma atração fatal. 
Temos de conviver e de nos adaptar a 
este par que não foi convidado para a 
festa, e tentar conduzir a coreografia à 
nossa maneira tendo em conta os sinais 
que nos vai passando. O ritmo é o nosso 
companheiro invisível que dita, temos é 
de saber dançá-lo bem. Saber dar dois 
passos para a frente e um passo para trás.
Em maio, quando começou a reabertura, 
escrevi que quem pensava que o pior 
já tinha passado, estava enganado. O 
maior desafio para todos nós começou 
nessa altura. Porque desconfinar é muito 
mais difícil do que confinar, tal como 
proibir é muito mais fácil do que educar 
e sensibilizar. Entrar nas rotinas do dia 
a dia e viver num novo normal é a maior 
prova, quando tudo naturalmente nos 
puxa para os velhos hábitos e as velhas 
rotinas. Mais liberdade implica mais 
responsabilidade. 
O grande aumento entre os jovens 
– número de novos casos quase 
duplicou desde o desconfinamento 
– começou a preocupar os 
infecciologistas, que alertam agora 
para o aumento de situações graves 
entre pessoas mais novas, muito 
graças aos comportamentos de risco 
que recomeçaram em força. 34% dos 
doentes internados no Hospital de 
Santa Maria, em Lisboa, têm menos de 
35 anos. Isto não é só uma doença que 
“mata velhinhos”, como se ouve dizer.
Foram agora necessárias medidas de 
contenção mais apertadas para a Área 
Metropolitana de Lisboa: prolongamento 
do estado de calamidade em 15 freguesias 
da Amadora, Loures, Odivelas, Lisboa e 
Sintra, com novas regras e coimas para 
os ajuntamentos, que agora são restritos 
a dez pessoas, e fecho antecipado de 
estabelecimentos. 
Além de Portugal, outros países já deram 
ou estudam passos atrás: Espanha, País de 
Gales, Alemanha, Nova Zelândia, além da 
China, Japão e Coreia do Sul, que tiveram 
de reequacionar as medidas. Dar um 
passo atrás não é assumir uma derrota, 
mas assumir uma responsabilidade: 
quando abrimos já sabíamos que a 
situação teria de ser permanentemente 
reavaliada. 
Vamos ter de nos habituar a viver assim: 
ao sabor do ritmo imposto pela evolução 
da Covid. E não é descabido pensar numa 
estratégia de desconfinamento que é 
diferente entre regiões, tendo em conta 
o risco de contágio e o valor de R0, que 
indica a taxa de reprodução da infeção, tal 
como acontece já, por exemplo, no país 
vizinho. 
Há um ponto que nos deve alegrar nesta 
questão: o ritmo é ditado pela Covid-19, 
mas nós, coletivamente, podemos 
influenciar-lhe a cadência, o volume e os 
instrumentos incluídos na banda. Isso 
faz-se com regras, mas sobretudo com 
sensibilização, educação e informação. 
Temos de aprender a dançar esta dança. 
Está nas nossas mãos – e na forma 
como nos comportamos todos – fazer 
da Covid-19 um partner de dança 
manobrável e dócil. Não lhe podemos é 
pisar os calos que ela não gosta... 
GE
TT
YI
M
AG
ES7
PONTOS DA SEMANA
POR 
MAFALDA ANJOS*
2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 17
N Ú M E R O
590 348
estrangeiros 
a viver 
em Portugal 
O valor vale pelo 
simbolismo: no final 
de 2019, mais de meio 
milhão de estrangeiros 
vivia em Portugal, 
segundo os últimos 
dados do Serviço 
de Estrangeiros e 
Fronteiras. É o número 
mais alto registado 
desde 1976, quando foi 
criado este organismo. 
Os brasileiros ocupam 
a maior fatia, com quase 
26%, seguidos 
dos cabo-verdianos 
e dos ingleses, que 
subiram duas posições 
no ranking. 
D E P R E S S Ã O 
Sofrer 
em silêncio 
e com um 
sorriso
O suicídio de Pedro 
Lima, um pai de 
família exemplar e um 
ator unanimemente 
admirado, impressionou 
o País. E deve servir
como alerta geral
para a depressão, uma
doença que ainda é
tabu e que, nos homens,
é particularmente
invisível e traiçoeira.
É fundamental
desmistificar as doenças
mentais, para que pedir
ajuda não seja visto
como uma fraqueza
e ir a um psicólogo
ou psiquiatra se torne
tão banal como ir
ao dentista ou ao
ginecologista.
F R A S E 
“A Europa tem de se reindustrializar. E é agora, 
não é mais tarde. E não é uma questão apenas 
de conjuntura e sobrevivência, é uma questão 
de opção estrutural, a médio e longo prazo”
Marcelo Rebelo de Sousa, numa declaração 
na conferência da Cotec sobre o renascimento da indústria 
e os próximos passos para a era pós-Covid. 
A N T I R R A C I S M O 
A ignorância de spray na mão 
O movimento antiestátuas, como já lhe chamam, está cada vez 
mais absurdo. De Voltaire a De Gaulle, passando por George 
Washington ou Ulysses S. Grant, foram mais estas as estátuas 
de grandes figuras da História vandalizadas nos últimos dias. 
Era bom que os neoiconoclatas, eufemismo para vândalos, 
tivessem uma pitada de cultura geral. Voltaire foi uma figura 
do Iluminismo, acérrimo defensor da liberdade e das reformas 
sociais; De Gaulle, um símbolo da luta contra o nazismo; George 
Washington, um dos fundadores mais respeitados da nação 
americana e defensor de princípios que viriam a ser essenciais 
para erradicar a escravatura, e Ulisses S. Grant derrotou a 
Confederação na Guerra da Secessão e quis reformar os estados 
do Sul, perseguindo o Ku Klux Klan e impondo direitos civis. 
R E G R E S S O 
O desafio 
das escolas 
Tiago Brandão Rodrigues 
disse, esta semana, que o 
Governo vai propor que o 
próximo ano letivo se inicie 
entre os dias 14 e 17 de 
setembro, considerando que 
esse calendário dará tempo 
de preparação à comuni-
dade educativa. Este é dos 
assuntos mais prementes 
que temos para resolver nos 
próximos tempos. Parece 
evidente que não conse-
guiremos ter tudo como 
dantes na reabertura do ano 
escolar: horários normais 
e salas lotadas de crian-
ças será o caminho para o 
desastre, numa altura em 
que as infeções respiratórias 
se agravam. É fundamental 
começar a pensar o quanto 
antes em medidas criativas 
para fazer face às novas 
necessidades. Rotatividade 
de alunos nas aulas presen-
ciais, como acontece nas 
empresas? Aulas presen-
ciais apenas para algumas 
disciplinas fundamentais? 
Alargamento de horários?
A telescola é uma ideia 
bem-intencionada, mas 
cada vez mais se percebe 
que foi um penso rápido 
e não serve como solução 
de continuidade. 
E M P R E S A S 
Um Calimero chamado TAP 
O apelo surge dias depois 
de ser conhecido o processo 
interposto pela Associação 
Comercial do Porto para 
impedir o apoio financeiro do 
Estado, que pode ir até aos 
1 200 milhões de euros. “É 
muito importante o País unir-
se à volta de um plano futuro 
para a TAP”, disse Antonoaldo 
Neves, presidente executivo da 
companhia, lastimando ser “a 
única empresa da Europa,com 
exceção da Lufthansa, que 
não teve apoio” e criticando 
a severidade de Bruxelas. 
Talvez a compreensão geral 
em relação à empresa fosse 
mais fácil se os sucessivos 
casos, como os prémios 
incompreensíveis e os abonos 
suplementares para os pilotos 
em layoff, não tivessem vindo 
a público.
ora, 
nas 
tão 
”
18 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
HO LO FOT E
Olhos no novo 
mandato
São quase 
600 páginas a 
ajustar contas. 
No livro A Sala 
Onde Aconteceu, 
lançado esta 
terça-feira, 23, 
John Bolton tão 
depressa acusa 
Donald Trump de 
ter incentivado a 
China a manter 
campos de 
concentração 
para a etnia uigur 
como diz que 
ele considerou 
“porreira” a 
ideia de invadir 
a Venezuela. O 
ex-conselheiro 
para a Segurança 
Nacional 
multiplica-se em 
exemplos para 
desqualificar o 
antigo chefe: que 
ele pensava que 
a Finlândia fazia 
parte da Rússia, 
que desconhecia 
o facto de o Reino
Unido ser uma
potência nuclear,
que Kim Jong-un
“deve rir-se muito”
dele... Não há
uma estratégia
para a política
externa, escreve
Bolton, apenas
decisões “a pensar
na reeleição” em
novembro.
Sexta guerra 
mundial
John Bolton foi o 
terceiro homem 
a exercer o cargo 
no mandato de 
Donald Trump. 
Entrou na Casa 
Branca em abril 
de 2018 e saiu 
em setembro de 
2019, demitido, 
segundo a versão 
do Presidente dos 
EUA, ou pelo seu 
pé, a acreditar 
no próprio. 
Certo é que as 
divergências 
eram mais do que 
muitas – sobre o 
Irão, a Coreia do 
Norte, a Rússia, 
a Venezuela, os 
talibãs. “Ele foi 
despedido porque, 
francamente, se eu 
o tivesse ouvido,
já estaríamos
na sexta guerra
mundial”,
comentou o líder
norte-americano,
meses mais tarde,
após saber
que o livro
estava em
marcha.
Falcão de Bush
Filho de um 
bombeiro de 
Baltimore, 
John Bolton 
é um assumido 
republicano 
conservador, 
advogado de 
profissão, que já 
tinha passado pela 
Casa Branca nas 
administrações 
de Richard Nixon, 
Ronald Reagan 
e George W. 
Bush. Foi um 
dos chamados 
falcões, a par de 
Dick Cheney ou 
Donald Rumsfeld, 
que apoiaram a 
invasão do Iraque, 
em 2003, sob o 
pretexto nunca 
confirmado 
da existência 
de armas de 
destruição maciça 
no regime de 
Saddam Hussein. 
Em 2015, defendeu 
um ataque ao Irão 
e, em 2018, 
à Coreia do 
Norte. 
A aberração e o 
cachorro doente
Até ao último 
momento, a admi-
nistração Trump 
tentou impedir na 
Justiça a publica-
ção do livro, mas 
a decisão acabou 
por ser favorável 
ao ex-conselheiro. 
Nas entrevistas 
para promover 
a obra, Bolton 
sustentou que os 
Estados Unidos da 
América podem 
“superar um man-
dato” de Trump. “Já 
dois, tenho mais 
dúvidas”, contrapôs 
sobre o Presidente 
que espera vir a 
ser descrito na 
História como “uma 
aberração”.
A troca de insultos 
na praça pública 
tem sido de ida e 
volta nos últimos 
dias. No Twitter, 
Trump chamou-lhe 
“maluco”, “tolo 
chato” e “estúpido”. 
Sobre o livro, ca-
racterizou-o como 
“uma compilação 
de mentiras e his-
tórias inventadas” 
para o deixar mal-
visto: “Está apenas 
a tentar ajustar 
contas por tê-lo 
despedido como o 
cachorro doente 
que é.” 
 R U I A N T U N E S
LIVRO DO 
EX-CONSELHEIRO 
PARA A SEGURANÇA 
NACIONAL RETRATA 
O PRESIDENTE DOS EUA 
COMO UM IGNORANTE 
EM POLÍTICA EXTERNA 
QUE AGE SÓ A PENSAR 
NA REELEIÇÃO 
John Bolton Um falcão à caça de Trump
eram mais do que 
muitas – sobre o 
Irão, a Coreia do 
Norte, a Rússia, 
a Venezuela, os 
talibãs. “Ele foi 
despedido porque, 
francamente, se eu 
o tivesse ouvido,
já estaríamos
na sexta guerra
mundial”,
comentou o líder
norte-americano,
meses mais tarde,
após saber
que o livro
estava em
marcha.
Dick Che y
Donald Rumsfeld, 
que apoiaram a 
invasão do Iraque, 
em 2003, sob o 
pretexto nunca 
confirmado 
da existência 
de armas de 
destruição maciça 
no regime de 
Saddam Hussein. 
Em 2015, defendeu 
um ataque ao Irão 
e, em 2018, 
à Coreia do 
Norte. 
2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 19
I N B O X
C H O Q U E F R O N T A L
F R A S E D A S E M A N A
A pandemia 
e o ressurgi-
mento do 
movimento 
Black Lives 
Matter 
são uma 
oportunidade 
incrível para 
mudarmos a 
forma como 
vivemos
GWYNETH PALTROW 
A atriz acaba de estrear a segunda temporada 
da série The Politician, na Netflix
Não tenho 
dúvidas de que 
um dia seremos 
um grande 
partido
JOÃO COTRIM FIGUEIREDO 
Líder da Iniciativa Liberal explica 
que “proibir e obrigar são duas 
palavras que fazem muita 
confusão” ao seu partido
Não veria mal 
a possibilidade 
de termos padres 
casados dentro 
da nossa Igreja 
D. JOSÉ ORNELAS 
O bispo de Setúbal é o novo 
presidente da Conferência 
Episcopal Portuguesa
O CDS não diz que 
um jogador de futebol 
não pode comentar 
assuntos políticos, mas 
um político já pode 
passar os seus dias 
a fazer comentários 
de futebol
FRANCISCO RODRIGUES 
DOS SANTOS 
O líder do CDS diz que “o partido 
tem linhas vermelhas” e que “não 
pode fazer discurso baseado em 
conversas de café”
Acabar com o racismo 
é também acabar 
com os problemas 
do mundo
ANGELA DAVIS 
A filosofa e ativista norte-
americana dos direitos dos 
negros e das mulheres é pela 
primeira vez editada em Portugal, 
50 anos depois de um julgamento 
que fez dela um mito
Recebi ameaças 
de morte
CORINNA LARSEN 
A ex-amante de Juan Carlos, 
ex-rei de Espanha, acusa 
a Casa Real espanhola
A [Final 8 da 
Champions] é 
um prémio aos 
profissionais de 
saúde (...) que 
fizeram com 
que Portugal se 
afirmasse como um 
destino seguro
ANTÓNIO COSTA 
Primeiro-ministro
Os profissionais 
de saúde não andam 
a pedir prémios 
escondidos dentro das 
quatro linhas, o que 
querem é condições 
para realizar 
o seu trabalho
MOISÉS FERREIRA 
Deputado do Bloco 
de Esquerda
M O D É S T I A À P A R T E
Fontes: NBC, Jornal I, Público, Record, Rádio Renascença, Lux
C H O Q U E F R O N T A L
20 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
A L M A N A Q U E
Tal como os irredutíveis gauleses da 
aldeia de Astérix tinham medo – e era 
a única coisa que os atemorizava – de 
que o céu lhes caísse sobre as cabeças, há 
neste nosso planeta muito boa gente com 
o mesmo medo. Pelo menos, com receio
de que algum dos incontáveis asteroides
que gravitam pelo Espaço possa, um dia,
cair-nos em cima da cabeça. É, por isso,
normal que se estudem formas de evitar
um desastre desse género. Foi o que fez
uma equipa de especialistas, liderados
por Flaviane Vendetti, da Universidade
da Flórida Central, nos Estados Unidos.
Segundo o novo estudo, agora divulgado
no European Physical Journal, a
maneira ideal de defender a Terra do 
impacto de um asteroide seria amarrar 
o corpo rochoso a outro idêntico, o
que obrigaria o primeiro a mudar o seu
centro de gravidade e, por arrasto, a
sua trajetória. Como? Com cabos. “As
simulações mostraram que o método é
dinamicamente viável para mitigação do
impacto de asteroides”, lê-se no artigo,
que defende a mais-valia deste método,
porque dele “não resulta a fragmentação
dos objetos”. A técnica de detonar
explosivos na superfície dos asteroides
habitualmente resulta nos filmes, mas
“pode causar danos generalizados”,
avisa o estudo.
Vamos caçar asteroides?
Um estudo conclui que a melhor forma de evitar que corpos rochosos 
atinjam a Terra é amarrá-los uns aos outros. Se Astérix soubesse...
4 644
As salas portuguesas de 
cinema, que reabriram a 
1 de junho, tiveram, em duas 
semanas, pouco mais de 
4 600 espectadores, 
algumas sessões vazias 
e outras com lotação 
completa, segundo dados 
do Instituto do Cinema e 
do Audiovisual. Ao todo, 
os resultados de bilheteira 
rondaram os 22 mil euros.
60%
A campanha da cereja 
deverá cair 60% e a do 
pêssego 20% este ano, 
devido às “condições 
meteorológicas muito 
adversas da primavera”, 
enquanto os cereais de 
inverno deverão registar um 
aumento generalizado da 
produção, segundo dados 
divulgados pelo INE.
4 364
Um total de 4 364 casos 
de discurso de ódio na 
internet, a grande maioria no 
Facebook, foram detetados 
em seis semanas na União 
Europeia, com 475 a 
chegaremà polícia, anunciou 
hoje a Comissão Europeia.
48%
Desde o recomeço do 
campeonato espanhol, 
há uma semana, que os 
números das audiências 
televisivas dispararam. 
De acordo com La Liga, 
o aumento registado nestas
primeiras jornadas de
retoma atingiu os 48 por
cento. Principal motor do
crescimento foi o mercado
africano. Na Europa,
a Bélgica registou uma
subida de 130 por cento.
N O V A D E S C O B E R T A 
Stonehenge continua a revelar segredos
Um círculo de poços profundos, com cerca de 4 500 anos, foi localizado por um grupo 
de arqueólogos perto do Património Mundial de Stonehenge, no Reino Unido – um dos 
sítios arqueológicos mais conhecidos da Terra. Trabalhos de campo e análises recentes 
descobriram, pelo menos, 20 poços pré-históricos maciços, de mais de dez metros de 
diâmetro e cinco metros de profundidade, revela um artigo publicado, esta semana, por 
investigadores da Universidade de St. Andrews no Internet Archaeology. Segundo um 
comunicado da universidade, estes poços formam um círculo com mais de dois quilómetros 
de diâmetro, que envolve uma área superior a três quilómetros quadrados. Os arqueólogos 
acreditam que os poços serviram de limite a uma área sagrada ou recinto associado àquele 
monumento do Neolítico.
N Ú M E R O S D A S E M A N A
2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 21
T R A N S I Ç Õ E S
Nem crise financeira, nem familiar. 
Anna Westerlund, companheira 
de Pedro Lima há quase 20 anos e 
mãe de quatro dos seus cinco filhos, 
descarta aquelas duas hipóteses como 
possíveis causas de suicídio do “amigo, 
profissional, marido e pai excecional”. 
“O Pedro foi certamente surpreendido 
pela própria dor que naquele momento 
lhe terá sido insuportável”, escreveu a 
ceramista, esta segunda-feira, 22, na 
sua conta de Instagram, sobre “o amor” 
da sua vida. “Um homem responsável, 
terno, presente e dedicado.”
Com uma moradia em construção em 
Cascais, os dois tinham planos para 
se casarem no próximo ano, de modo 
a assinalar não só as duas décadas 
de relacionamento mas também 
os 50 anos do ator, presença regular 
nas telenovelas da TVI e conhecido 
pelo sorriso fácil. 
Há cerca de um mês, passado o 
confinamento por causa da pandemia, 
tinha voltado às gravações de Amar 
Demais, ao lado de Fernanda Serrano. 
Refutando a ideia de que a incerteza 
quanto ao futuro profissional pudesse 
estar na origem das inquietações 
de Pedro Lima, Nuno Santos, diretor 
de programas da estação de Queluz, 
revelou que o contrato entre as partes 
tinha sido recentemente renovado até 
junho de 2021.
Antes de se tornar ator, teve sucesso 
como modelo e nadador olímpico 
(Seul-1988 e Barcelona-1992). 
Representou a seleção de Angola, país 
onde nasceu e que abandonou ainda 
em bebé, quando os pais o enviaram 
para Portugal para ser criado pela 
avó Bernardette, a “vovocas”, como 
lhe chamava. Em 2019, admitiu que 
recorreu a terapia para ultrapassar 
este “abandono”, tendo assumido 
anteriormente, numa entrevista 
à TV Guia em 2018, a superação 
de “alguns momentos de angústia 
muito grande”, relacionados com 
a falta de autoestima.
Aos 49 anos, foi encontrado sem vida 
na Praia do Abano, em Cascais, na 
manhã de sábado, 20. Terá deixado 
uma carta de despedida à família e 
enviado mensagens a amigos a pedir- 
-lhes para cuidarem dos filhos. R.A.
 P E D R O L I M A 1 9 7 1 - 2 0 2 0 
O ator olímpico de sorriso fácil
Há dois anos, Pedro Lima admitiu ter problemas de autoestima 
e enfrentado “alguns momentos de angústia muito grande”
M O R T E S
O escritor catalão 
Carlos Ruiz Zafón tinha 
55 anos e lutava contra um 
cancro desde 2018. Morreu 
na última sexta-feira, 19, em 
Los Angeles, cidade onde 
vivia desde a década de 90. 
Nascido em Barcelona 
a 25 de setembro de 1964, 
Zafón, que se iniciou em 
1992 no “estranho ofício 
de romancista”, como 
costumava dizer, conquistou 
o público e a crítica com
A Sombra do Vento, vencedor 
do prémio Correntes de 
Escritas/Casino da Póvoa de 
Varzim em 2006, finalista 
do Prémio de Romance 
Fernando Lara 2001 e do 
Prémio Llibreter 2002, eleito 
o Melhor Livro de 2002 pelos
leitores do jornal 
La Vanguardia, traduzido 
para mais de 40 línguas e 
com mais de 6,5 milhões de 
exemplares vendidos em 
todo o mundo desde 
o lançamento, em 2001.
O historiador israelita 
Zeev Sternhell, 
sobrevivente do 
Holocausto, militante 
comprometido com a paz 
com os palestinianos e 
uma das principais figuras 
intelectuais e políticas da 
esquerda em Israel, morreu, 
no domingo, 21, aos 85 anos.
P R É M I O
O escritor 
Mário de Carvalho venceu 
o Grande Prémio de Crónica
e Dispersos Literários,
da Associação Portuguesa
de Escritores (APE), com
o livro O Que Eu Ouvi
na Barrica das Maçãs.
T Í T U L O
O treinador português 
Luís Castro sagrou-se, 
no último sábado, 20, 
campeão nacional de futebol 
da Ucrânia, ao serviço 
do Shakhtar Donetsk.
22 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
P R Ó X I M O S C A P Í T U L O S
P E R I S C Ó P I O
GE
TT
Y
Depois de limpar a secretária no Terreiro do Paço, Mário Centeno 
prepara-se também para arrumar os papéis na Europa. Ao fim de 
dois anos e meio de Ronaldo das Finanças, outros avançados se 
perfilam para agitar a sineta do Eurogrupo, aquilo a que a The Eco-
nomist chamou “clube de jantares” tornado órgão decisor de políti-
cas financeiras da zona euro – e que corre o risco de irrelevância. 
O prazo para o envio das cartas de motivação dos interessados, que 
têm de estar obrigatoriamente à frente da pasta das Finanças, ter-
mina esta quinta-feira (à hora de fecho desta edição, não havia ainda 
nenhuma formalização). A protocandidata mais bem posicionada pa-
rece ser a ministra da Economia espanhola, Nadia Calviño, que já teve 
o apoio do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, e concorreu a direto-
ra-geral do FMI. O nome do ministro das Finanças do Luxemburgo,
Pierre Gramegna, também é falado para o cargo (já tinha estado na
corrida em 2018), tal como o homólogo irlandês, Paschal Donohoe.
A eleição decorre em plena negociação do pacote financeiro de 750
mil milhões de euros – para enfrentar as consequências econó-
micas da pandemia –, que tem conheci-
do obstáculos por parte dos chamados 
“quatro frugais” da União: Áustria, Suécia, 
Dinamarca e Países Baixos. Nos trabalhos 
do fórum, está ainda o fecho da união ban-
cária com a criação do sistema europeu de 
garantia de depósitos, que não tem reunido 
consensos no seio do grupo. 
A eleição do sucessor de Centeno decorrerá 
durante a reunião do Eurogrupo, no início 
de julho (dia 9 é o mais falado), e o novo 
presidente toma posse no dia 13 desse mês. 
A partir daí, Centeno volta à condição de 
economista. E fica com caminho livre para, 
por exemplo, liderar o Banco de Portugal 
– um cargo de que, como disse, “qualquer 
economista pode gostar”. P.Z.G.
 E U R O G R U P O 
A sineta muda de mãos
A espanhola Nadia Calviño parece bem posicionada 
para suceder a Centeno na liderança do grupo 
de ministros das Finanças do euro
“TUDO O QUE 
É BOM TEM UM 
FIM. MAS AINDA 
ME VERÃO AQUI 
NA REUNIÃO 
DE JULHO”
MÁRIO CENTENO, 
Comunicado da 
reunião em que 
anunciou não ser 
recandidato ao 
Eurogrupo
Livre. Com 
a saída do 
Eurogrupo, 
Centeno fecha 
um ciclo 
governativo
 O I N C E N D I Á R I O
O fogo de Ventura
Meados de junho. Jantar na sala de condomínio 
do prédio do ideólogo do Chega, Diogo Pacheco 
de Amorim. André Ventura entre os convidados. 
A noite avança, a conversa flui, fumam-se uns 
cigarros, as beatas voam pela janela e o monte de 
papelão amontoado no pátio (despojos de umas 
obras em curso) pega fogo. Vieram os vizinhos 
de extintor em riste. E vieram, também, Ventura 
e Amorim dar uma ajuda. Incendiário das redes 
sociais e das sessões parlamentares, desta vez, o 
deputado levou a expressão à letra.
 L E I S ECA
JSD sem gins
Está finalmente reagendado o XXVI Congresso 
Nacional da JSD. Devido à Covid-19, só a 24, 25 e 
26 de julho os “jotas” vão eleger o(a) sucessor(a) 
de Margarida BalseiroLopes, num conclave 
que será realizado à distância. Pode parecer 
inexequível, mas será mesmo assim. O problema 
maior, dizem as más-línguas, vai colocar-se 
quando, no final de cada dia de trabalho, os jovens 
não puderem ir tratar da mercearia dos votos, 
enquanto despacham umas cervejas, uns gins 
ou uns uísques. Alexandre Poço e Sofia Matos, os 
candidatos, estão inconsoláveis. Serão saudades 
antecipadas dos congressos em que por um copo 
se ganhava e por um copo se perdia?
 A H , L E ÃO !
Aparição nas redes
João Leão assumiu funções como ministro de 
Estado e das Finanças na segunda-feira, 15, e 
entrou logo no ritmo que se exige a uma das 
mais altas figuras do Governo: não só começou 
por reunir as equipas com que vai trabalhar, 
nos próximos anos, como também aderiu ao... 
Instagram. Naquela rede social, logo no dia 
seguinte a ser empossado por Marcelo Rebelo 
de Sousa, João Carvalho Leão (nome adotado 
para a conta oficial) partilhou uma fotografia da 
cerimónia no Palácio de Belém. Na quarta-feira, 
17, o sucessor de Mário Centeno voltou à carga e 
publicou outra imagem, desta vez no Parlamento, 
na qual intervinha no debate sobre o Orçamento 
Suplementar. Para quem tinha dúvidas, foi mesmo 
uma entrada de Leão – pelo menos online.
LU
ÍS
 B
AR
RA
2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 23
O P I N I Ã O
P O R I S A B E L M O R E I R A / Deputada do Partido Socialista
Os populistas já 
não andam sós
A 
pedagogia permanente daquilo que 
significa uma Assembleia da República 
representativa de todos os portugueses 
estava a enfrentar, nos últimos tempos, 
os populistas. Os populistas em várias 
vestes fazem do Parlamento um lugar 
distante, fechado, casa de “políticos” devi-
damente caracterizados como “eles”, fora 
da cidade, cheios de vícios e de privilé-
gios, gente que não sabe o que é o País 
e fechada sobre si mesma. 
A pedagogia permanente sobre o significado 
do sufrágio universal, direto e secreto, uma conquista 
da democracia, que faz da Assembleia da República 
a casa de todas e de todos, estava a enfrentar, nos últi-
mos tempos, os populistas. 
A eficácia do ataque ao Parlamento parece ter con-
tagiado gente inesperada. Somos surpreendidos por 
quem tem poderes delegados do Estado, como uma 
ordem profissional, a fazer um discurso contra a legi-
timidade democrática da casa da democracia. 
Vários projetos de lei sobre a morte medicamen-
te assistida foram aprovados, na generalidade, por 
ampla maioria. Em plena discussão na especialidade, 
no âmbito da qual o Parlamento ouvirá quem quer ser 
ouvido, a Ordem dos Médicos (OM) não se limita a 
dar a sua legítima opinião. Anuncia, dramaticamente, 
que não cumprirá uma lei da República. 
Ora, com esta posição, a OM quer afirmar que se 
a lei em causa for aprovada carece de legitimidade. 
Acontece que este ruído faz esquecer que a Assem-
bleia da República representa os cidadãos e as cidadãs 
verdadeiramente, isto é, todos eles, na pluralidade das 
correntes políticas e sensibilidades existentes e tem 
competência reservada na matéria em causa. O lugar 
da legitimidade, quando falamos de morte assistida, 
chama-se Parlamento e mal estaríamos se uma ordem 
profissional, que recebe poderes delegados do Estado, 
o questionasse.
Mas questionou.
 Há qualquer coisa de profundamente perturbador 
quando a democracia representativa está a funcionar 
normalmente, no caso em projetos de lei que assegu-
ram, naturalmente, o direito à objeção de consciência, 
e a OM presume representar todos os médicos e mé-
dicas do País lançando um “veto” a uma futura lei.
As leis da República são para se cumprir, sabem 
os democratas. 
Os populistas já não andam sós. visao@visao.pt
A Ordem dos Médicos 
quer afirmar que se a lei 
em causa for aprovada 
carece de legitimidade. 
Acontece que este ruído faz 
esquecer que a Assembleia 
da República representa 
os cidadãos e as cidadãs 
verdadeiramente, isto é, 
todos eles, na pluralidade 
das correntes políticas 
e sensibilidades existentes 
e tem competência 
reservada na matéria 
em causa. O lugar da 
legitimidade, quando 
falamos de morte assistida, 
chama-se Parlamento 
e mal estaríamos se uma 
ordem profissional, que 
recebe poderes delegados 
do Estado, o questionasse
P O R I S A B E L M O R E I R A / Deputada do Partido Socialista
24 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
R E G R E S S O 
D A S M U L T I D Õ E S
O número de casos identificados com Covid-19 continua 
a subir à escala global, mas também crescem as 
aglomerações cada vez maiores de pessoas em locais 
públicos – em sinal de protesto ou por pura diversão
NÁPOLES, ITÁLIA
Os adeptos do Nápoles celebram a vitória 
da sua equipa na final da Taça de Itália, frente 
à Juventus, na Praça do Plebiscito... como nos 
velhos tempos
NANTES, FRANÇA
Marcha contra a violência policial e em memória 
do lusodescendente Steve Maia Caniço, encontrado 
morto, há um ano, após uma carga das forças 
de segurança num concerto ao ar livre
NOVA IORQUE, EUA
Grande manifestação de ciclistas contra 
o racismo, em Times Square, à semelhança
do que tem ocorrido, desde há três semanas,
nas grandes cidades americanas
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IMAGENS
2 5 J U N H O 2 0 2 0 V I S Ã O 25
BAMAKO, MALI
Vista aérea da manifestação compacta, na Praça 
da Independência, convocada pelo líder oposicionista 
Imam Mahmoud Dicko contra o Presidente, Ibrahim 
Boubacar Keita, e o seu Governo
BUDAPESTE, 
HUNGRIA
Os membros 
da claque do 
Ferencváros 
(conhecidos como 
Monstros Verdes) 
no jogo frente 
ao Újpest FC, 
que assinalou o início 
dos desafios 
no futebol húngaro 
sem limitações para 
espectadores
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26 V I S Ã O 2 5 J U N H O 2 0 2 0
BERLIM, ALEMANHA
Visitantes observam a instalação It Wasn't Us, da artista 
alemã Katharina Grosse, no museu de arte contemporânea 
Hamburger Bahnhof, agora reaberto
RIMINI, ITÁLIA
Alegria, sem máscara nem distância 
de segurança, na reabertura do Villa 
delle Rose, um dos mais famosos clubes 
noturnos da Costa Adriática
MOSCOVO, RÚSSIA
Visitantes tentam tirar fotos a um panda 
gigante no jardim zoológico da capital 
russa, depois de este ter reaberto ao fim 
de meses de confinamento
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IMAGENS
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BARCELONA, ESPANHA
O quarteto de cordas UceLi interpreta Crisantemi, de Puccini, 
para uma audiência de 2 292 plantas na reabertura do Teatro 
Liceu, após ser levantado o estado de emergência no país. 
As plantas foram depois entregues a 2 292 profissionais 
de saúde do Hospital Clínic, da cidade
PARIS, FRANÇA
Festa brasileira, no 
bairro de Marais, 
no primeiro dia da 
Festa da Música, 
uma iniciativa 
criada em França, 
em 1982, e que 
agora se realiza 
em mais de 120 
países. Este ano, os 
grandes concertos 
foram cancelados 
devido à pandemia, 
mas há muita 
música nas ruas
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CHEFES
ALTAMENTE
TÓXICOS
Líderes que humilham, que não deixam as pessoas brilhar. 
Chefias autoritárias ou inseguras, que massacram as suas 
equipas... O teletrabalho ameniza ou potencia os abusos? Fomos 
à procura das histórias de quem sofreu sob o seu domínio 
e mostramos como se pode dar a volta por cima
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“Gritos, gritos, gritos.” É desta forma 
que Pedro Pereira, 36 anos, resume 
os seus dias de trabalho nos últimos 
18 anos. O assistente operacional de 
um hospital de Lisboa foi obrigado 
a habituar-se a ouvir a enfermeira-
-chefe a chamar a si e aos seus colegas
“criados”. “Às tantas, já a conhecia pelo
andar e estava sempre atento para,
quando ouvisse os seus passos, fugir
para outro sítio. Se me cruzasse com
ela, era certo de que ia pôr defeitos no
meu trabalho”, conta.
Era habitual ser-lhe pedido para 
desempenhar tarefas que não lhe 
competiam ou mesmo para fazer 
recados pessoais. “Uma vez, cheguei 
ao hospital às oito da manhã, ela veio 
ter comigo toda simpática e pediu-me 
para lhe levar os sapatos ao sapateiro, 
porque tinha partido os saltos. Andei 
à procura de um sapateiro pela cida-
de inteira e, quando voltei, ela ainda 
me acusou de ter demorado muito”, 
recorda. As ameaças de despedimento 
ou de processos disciplinares eram 
constantes. E o desgaste foi-se acu-
mulando. “Ela chamava-me ‘burro’, 
mas as outras pessoas elogiavam o 
meu trabalho. Tinha uma boa autoes-
tima fora do hospital, mas lá dentro 
sentia-me espezinhado”, confessa.
Já tinha apresentado várias queixas 
à administração, mas a gota de água 
aconteceu em plena pandemia, quan-
do Pedro Pereira pediu autorização 
para faltar no sentido de acompanhar 
um familiar que ia ser operado. Apesar 
de ter autorização da hierarquia supe-
rior, a enfermeira-chefe quis instau-
rar-lhe um processo disciplinar por 
abandono do posto de trabalho. “O 
documentos e escrevendo um diá-
rio factual sobre os acontecimentos. 
Também é fundamental ter provas 
escritas do que se passa: “Tive uma 
cliente que passou mais de um ano 
a enviar diariamente emails à chefia 
a pedir trabalho. O objetivo não era 
ter uma resposta, mas ter o registo 
da situação.”
EM VIAS DE EXTINÇÃO?
A verdade é que os chefes estão 
sempre num pedestal, porque têm 
um papel de destaque. “Eles dão o 
exemplo e tomam decisões, e nós 
vemos constantemente o que fazem 
bem e mal”, lembra a psicóloga or-
ganizacional Inês Lourenço. O pro-
blema é quando estes chefes têm os 
tais comportamentos tóxicos e são 
protegidos, sublinha a coach que olha 
as estruturas hierárquicas como or-
ganizações desatualizadas. “Vivemos 
num VUCA world, um acrónimo saído 
das palavras volatilidade, incerteza, 
complexidade e ambiguidade, em 
inglês. Já não podemos esperar que 
as pessoas aceitem o princípio de que 
‘Você é pago para não pensar’. Claro 
que as equipas têm de pensar e de 
forma complexa.”
No mundo em que vivemos, Inês 
Lourenço acredita que os chefes tóxi-
cos estão em vias de extinção. “Hoje, 
queremos equipas superflexíveis e 
multidisciplinares, em que as pessoas 
têm um papel e não uma função”, jus-
tifica. “São estruturas mais dinâmicas, 
que respondem bem às mudanças de 
que a empresa vai precisando. Um 
espaço em que o feedback é constante 
e onde não cabem líderes tóxicos.”
Sandrine Veríssimo, diretora re-
gional de Lisboa do grupo de recru-
tamento Hays, sente sobretudo que as 
novas gerações são menos permeáveis 
a terem de lidar com este tipo de che-
fias. “São pessoas que, se não estão 
bem, ou saem da organização ou ex-
põem frontalmente o seu desagrado.”
Fazemos figas para que a sua extin-
ção esteja para breve quando ouvimos 
Fernando Neves de Almeida dizer que 
existem “verdadeiros psicopatas” na 
gestão. “Até podem parecer bons líde-
res, porque tendem a ser pessoas en-
cantadoras e ambiciosas, e, no limite, 
fica-se com a ideia de que têm vocação 
para aquilo”, observa o diretor-geral 
em Portugal da Boyden, empresa es-
pecializada em headhunting.
Mas não têm. E, a começar, porque 
não pensam nos outros nem olham a 
que me valeu foi eu ter a autorização 
por escrito”, diz, aliviado.
 Transferiram-no para outro ser-
viço e Pedro não podia estar mais 
satisfeito: “Sempre gostei do meu 
emprego, adoro o contacto com os 
doentes, mas era como se carregasse 
300 quilos em cada perna. Agora, saio 
de casa com vontade de trabalhar. É 
muito bom ter, finalmente, um chefe 
que me ouve e que confia na minha 
experiência.”
A advogada Rita Garcia Pereira, 
especialista em Direito do Trabalho, 
distingue dois tipos de chefes tóxicos. 
Os primeiros são os obcecados com os 
resultados, mesmo à custa dos direitos 
dos trabalhadores. Os segundos têm 
“um perfil mais sociopata” e fazem da 
vida dos trabalhadores um inferno. 
“A insegurança pode tornar os chefes 
autocráticos, assim como a inveja”, 
afirma. Pelas mãos passam-lhe casos 
de pessoas a quem é dado excesso 
de trabalho ou a quem são retiradas 
funções, a quem são atribuídos ho-
rários inconvenientes ou são elimi-
nados benefícios salariais ou mesmo 
proibidas de serem cumprimentadas 
pelos colegas...
Rita Garcia Pereira aconselha os 
trabalhadores vítimas destas situa-
ções a manterem um registo escrito 
de tudo o que acontece, imprimindo 
QUEIXAS POR ASSÉDIO 
LABORAL
recebidas pela Autoridade para 
as Condições do Trabalho (ACT), 
no ano passado, vindas do setor 
privado. Já os funcionários 
públicos entregaram 57 
reclamações à Inspeção-Geral 
de Finanças, durante o mesmo 
período
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NÃO SABE OUVIR
Só ouve aquilo que lhe 
interessa ou revela 
grande dificuldade 
em fazê-lo. Ignora, 
interrompe, não deixa 
responder, fazendo com 
que o interlocutor se 
sinta completamente 
desprezado.
NÃO DÁ O EXEMPLO 
Tem uma noção muito 
própria de moralidade – o 
que vale para ele não vale 
para os outros. Marca 
reuniões para as 8h da 
manhã, mas só chega às 
9h30, como se não fosse 
nada.
NÃO DÁ AUTONOMIA
Vê a iniciativa como 
uma ameaça ou mesmo 
como um desafio à sua 
autoridade. Não respeita 
as capacidades das 
pessoas, partindo do 
princípio de que elas não 
são capazes de evoluir.
NÃO HESITA 
EM HUMILHAR
Dá apenas feedback 
negativo e – pior – à frente 
de outras pessoas. Há 
quem argumente que “é 
para aprenderem”, um tipo 
de justificação que eterniza 
esse comportamento.
NÃO CUMPRE 
A PALAVRA
Dá o dito por não dito. Pode, 
inclusive, mentir para levar 
avante os seus propósitos. 
Não é por acaso que muitas 
das suas ordens são dadas 
oralmente – para não 
existirem provas.
NÃO DEIXA BRILHAR
Estereotipa as pessoas, 
como se as colocasse 
em caixinhas. Não sabe 
ensiná-las nem as 
motiva a serem 
melhores. E não atribui 
os louros de algo que foi 
feito por um elemento 
da sua equipa.
USA O CHICOTE
Institui um ambiente 
de terror, minando as 
interações da equipa. 
Como se trata de uma 
relação desigual, as 
pessoas não têm muitas 
ferramentas para se 
libertar desse medo.
DESCARTA CULPAS
Não assume 
responsabilidades. 
“Um por todos e todos 
por um”, neste caso, tem 
uma leitura dicotómica 
– se algo correu bem, o
mérito é todo seu; se algo
correu mal, a culpa é só
dos outros.
NÃO REVELA EMPATIA
Os sentimentos, as emoções 
e as necessidades dos outros 
não lhe interessam. Vê as 
dificuldades pessoais dos seus 
subordinados como uma mera 
desculpa para justificar um 
fracasso. Não é capaz de se pôr 
no lugar do outro porque 
pura e simplesmente não 
quer saber da sua existência.
É CONTROLADOR
Desconfia do subordinado e 
acredita que tem como função 
vigiá-lo e puni-lo. Não respeita o 
seu tempo de lazer, muitas vezes 
porque ele próprio não sabe 
planear as atividades.
TEM PREFERIDOS
Não tem nenhuma equidade 
interna. Revela grande 
ambivalência na forma como 
trata as várias pessoas da 
sua equipa, fazendo com que 
algumas não se apercebam 
da sua toxicidade.
NÃO TENTA MUDAR
Mesmo que tenha capacidade 
para o fazer, não tenta mudar 
os seus comportamentos – nem 
sequer pensa nessa hipótese. 
É orientado para objetivos 
individuais e não olha a meios 
para atingir os seus fins.
12 SINAIS DE UM CHEFE POUCO SAUDÁVEL
Todas as pessoas erram, mas a frequência, a duração e a intensidade de alguns comportamentos tóxicos indicam 
que algo vai mal numa liderança. Porque

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