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* Diego Miranda dos Santos – diegojgd@hotmail.com ** Vinícius Coelho do Nascimento – vnascimento@gmail.com *** Laís Bonagurio Peressim – lais.bona@hotmail.com Proto movimentação natural: aplicação de protocolo em mulheres mastectomizadas Diego Miranda dos Santos * Vinícius Coelho do Nascimento ** Laís Bonagurio Peressim *** Resumo: O diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes têm aumentado à sobrevida do câncer de mama, no entanto, muitas evoluem com complicações físico-funcionais secundárias ao tratamento, o que torna a fisioterapia essencial. O objetivo deste estudo foi avaliar um protocolo de tratamento de movimentação natural, na recuperação da amplitude de movimento do ombro, equilíbrio, coordenação motora e qualidade de vida de mulheres tratadas cirurgicamente por câncer de mama. Para isso, foi realizado um estudo de casos com duas voluntárias, uma com cirurgia há menos de um ano e outra há mais de um ano, submetidas a 15 sessões de exercícios baseados na movimentação natural de forma individual. Observaram-se melhoras expressivas na qualidade de vida (QV); amplitude de movimento (ADM) de flexão e abdução (40º/70º) de ombro na voluntária 1 e (10º/10º) na voluntária 2, homolateral à cirurgia; e melhora no desempenho físico. Dessa maneira, sugerem-se mais estudos sobre esta técnica e assim a possibilidade de uma nova abordagem na reabilitação de mulheres tratadas por câncer de mama. Palavras-chave: Mastectomia. Câncer de mama. Exercício físico. 1 INTRODUÇÃO A proliferação celular de forma descontrolada causada por alterações genéticas que envolvem a diferenciação e crescimento celular são as causas do câncer. Este processo geralmente é lento, sendo necessários anos de proliferação para resultar em um tumor ou nódulo palpável, principalmente em relação aos casos de câncer de mama. Os efeitos psicológicos causados pelo câncer de mama relacionado à autoimagem e sexualidade fazem desta neoplasia a mais temida pela população feminina (BRASIL, 2013). 2 Fatores como a vida reprodutiva, consumo de álcool, sedentarismo, excesso de peso, alta densidade do tecido mamário, casos de câncer de mama na família são predisponentes ao surgimento do câncer de mama, porém o principal fator é a idade avançada pois a partir dos 50 anos a incidência aumenta. O número de mortes decorrente desta patologia no ano de 2013 foi de 14.388 sendo 181 homens e 14.206 mulheres, e a estimativa para 2016 é de 57.960 novos casos no Brasil (INCA, 2015). Dentre os tratamentos para o câncer de mama existe a quimioterapia, radioterapia e as cirurgias (conservadoras e radicais). A quimioterapia é realizada por meio da administração de medicamentos, geralmente intravenosos, que agem combatendo células com características de proliferação acelerada, esta pode ser dividida em quatro modalidades, curativa, quando se busca eliminar o tumor por completo; adjuvante, realizada após a cirurgia para minimizar as possíveis metástases; neoadjuvante, para reduzir o tumor e potencializar o tratamento seguinte (cirurgia e/ou radioterapia); e paliativa, para somente minimizar os sintomas da doença (SILVA et al., 2010). A radioterapia é muito utilizada em casos de câncer de mama, e sua aplicação se dá por meio de radiação ionizante em células malignas, destruindo a estrutura do DNA das células tumorais, reduzindo o crescimento e diminuindo o risco de metástase. Esta terapia objetiva auxiliar no controle ou cura do câncer, pois interrompe a reprodução das células malignas. O tempo de tratamento varia de acordo com o estadiamento da doença, e assim como a quimioterapia, pode ser realizada de forma curativa, adjuvante ou paliativa (ARAÚJO; DANTAS; NASCIMENTO, 2012). Dependendo do estadiamento clínico e do tipo histológico do câncer opta-se por um tipo de cirurgia, dentre elas, existe a mastectomia radical. Inicialmente descrita por Halsted no ano de 1889, foi utilizada por aproximadamente 60 anos, sendo alterada por Patey e Dyson em 1948 e posteriormente por Madden no ano de 1965, passando a ser conhecida como mastectomia radical modificada, pois esta técnica preserva o músculo peitoral maior ou os dois peitorais. A quadrantectomia e a tumorectomia são cirurgias conservadoras aplicadas no tratamento do câncer de mama, e o procedimento consiste na retirada de um quadrante da mama, pele do local e a fáscia do 3 músculo peitoral menor ou somente a remoção do tumor e uma margem de tecido saudável respectivamente (MARQUES; SILVA; AMARAL, 2011). São várias as complicações pós-operatórias como o seroma, dor, deiscência e fibrose cicatricial, parestesia relacionada a lesão do nervo intercostobraquial, alterações respiratórias, escápula alada, alterações posturais, equilíbrio, coordenação motora, edema na mama residual, entre outros (PEREZ, 2015; GÓIS et al., 2011). Após a cirurgia uma das principais complicações observadas é a limitação da ADM do ombro, associada ao déficit da funcionalidade do membro. A rigidez e atrofia muscular se instala já na fase inicial da recuperação, comprometendo principalmente os movimentos de abdução e flexão de ombro, devido à imobilização, medo de movimentar o membro, tamanho da incisão, tipo de cirurgia, trauma do nervo torácico longo ou a linfonodectomia axilar (PETITO et al., 2012). A cinesioterapia convencional tem apresentado resultados positivos no tratamento das complicações causadas pelo tratamento do câncer de mama, utilizando como recursos, alongamentos, exercícios ativo-livres de membros superiores (MMSS), hidroterapia, massagens, mobilização articular, fortalecimento muscular, visando a melhora da ADM e diminuição do quadro álgico (MARIANO et al., 2015; RETT et al., 2012). A literatura tem destacado a importância do estudo do movimento, embasada pelos efeitos deletérios da hipomobilidade e a importância da mobilização precoce, isto pode proporcionar melhoras no bem-estar físico e psíquico do ser humano. O estudo do comportamento motor por meio de suas subdisciplinas oferece uma base significativa para o entendimento de como o movimento é controlado, como as alterações no desempenho motor em diferentes ciclos da vida influenciam no desenvolvimento normal e como se aprende a realizar movimentos habilidosos, seja no trabalho, no esporte ou nas atividades de vida diária (FAIRBROTHER, 2012). A compreensão das demandas relacionadas aos distúrbios do movimento, se torna o ponto de partida para o início do desenvolvimento de tratamentos generalizados mais benéficos para as pessoas com ampla gama de limitações de movimento, destacando-se o Método Natural, desenvolvido 4 por Georges Hébert (1912). Uma modalidade codificada, adaptada e graduada em seus procedimentos e meios empregados pelos seres vivos na natureza para adquirir o desenvolvimento integral. Um sistema de desenvolvimento e manutenção do físico segundo as leis da natureza, isto é, agir pelo instinto e pela necessidade. A concepção de Georges Hébert se deu pela observação das atividades vitais que deviam ser compostas de exercícios naturais e úteis, para os quais nosso corpo foi essencialmente construído (SOARES, 2003a). O Método Natural de Georges Hébert foi composto de uma série de 10 grupos de exercícios: marcha; corrida; salto; quadrupedia; trepar; equilíbrio; lançamentos; transporte; defesa e natação. Para ele, esses exercícios ou “atos naturais”, podem ser utilizados de forma simples ou combinada com atividades da vida prática e para o lazer. A influência do trabalho deste pesquisador teve forte impacto em muitas iniciativas, como o Le Parkour, um tipo modalidade física que utiliza o mobiliário urbano para se locomover e desenvolver habilidades motoras (SOARES, 2003b). Na França a partir de 2014, uma nova modalidade chama atenção da imprensa e de profissionais do movimento, pela similaridade com o Método de Hébert,chamada MovNat, criada pelo francês Erwan Le Corre. Tendo como inspiração alguns pioneiros da educação física na Europa (principalmente Amoros, Jahn e Hébert). Em 2009, Erwan faz uma releitura do conceito de Movimentação Natural, com mudanças significativas tendo como base disciplinas modernas como: fisiologia do exercício, cinesiologia, biomecânica, treinamentos de força e condicionamento. Estabelece o conceito de se obter primeiramente a qualidade do movimento antes de se propor força e velocidade, onde o praticante deve sentir o movimento fluir de forma natural, e que faça sentido tanto o esforço, a trajetória e a utilidade, sem causa dor ou medo, complementando um princípio utilizado por Georges Hébert em seu método (CORRE, 2009; SOARES, 2015). Independente da técnica utilizada no tratamento para o câncer de mama, o resultado gerado na vida da mulher, traz complicações de caráter motor e/ou emocional, prejudicando a relação dela com o corpo e a percepção perante a sociedade. A diminuição da ADM e força muscular (FM) são complicações decorrentes do tratamento que afetam suas atividades de vida diária e 5 capacidade funcional, sendo necessário intervenções que possam minimizar e/ou restaurar as funções comprometidas de maneira a não causar dor, dando ênfase a atividades de caráter funcionais. Sendo assim o presente estudo, propõe a utilização de um conjunto de movimentos adaptados com base na metodologia do movimento natural, na reabilitação da amplitude de movimentos do ombro, equilíbrio, força muscular e coordenação motora e qualidade de vida (QV). A esta adaptação chamamos de Proto Movimentação Natural, com alusão a palavra grega prötós (πρώτος; primeiro, anterior), um conceito de preparação para a movimentação natural em si. O objetivo deste trabalho foi avaliar a efetividade de um programa de exercícios na reabilitação de mulheres tratadas cirurgicamente por câncer de mama, baseado no método de movimentação natural. Além disso objetivou-se verificar o efeito do programa no equilíbrio, na amplitude de movimento e força muscular antes e após a intervenção; verificar de modo qualitativo a aceitabilidade da técnica e a compreensão do método, relatada pelas voluntárias e avaliar a QV antes e após a intervenção. 2 MATERIAL E MÉTODOS Este é um estudo do tipo relato de casos que incluiu duas voluntárias, acometidas por câncer de mama, submetidas à mastectomia radical modificada. As pacientes foram recrutadas por meio de convite, realizado no Serviço de Fisioterapia em Saúde da Mulher, da clínica de Fisioterapia da Faculdade de Americana (FAM). Os critérios de elegibilidade foram: apresentar limitação de amplitude de movimento; concordar em participar do estudo de forma voluntária e não ter tido experiência prévia com a prática de movimentos naturais; ter sido submetida à cirurgia de câncer de mama, do tipo mastectomia radical; não apresentar qualquer déficit neurológico, auditivo ou visual que comprometa a realização das atividades ou compreensão das instruções; e não apresentar metástase à distância. Avaliação das voluntárias A avaliação foi realizada antes da aplicação dos exercícios e ao término do período de intervenção pelo mesmo avaliador, e composta por ficha de 6 anamnese utilizada no serviço de fisioterapia em saúde da mulher da clínica de fisioterapia da FAM; aplicação do questionário de QV Study's Short Form-36 (SF-36), realização de goniometria de ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho e tornozelo e teste muscular manual dos músculos das articulações citadas; aplicação do Teste de Sentar e Levantar (TSL); e análise qualitativa da movimentação com o software KINOVEA. Características das voluntárias Voluntária 1 – 42 anos, casada, 1,65 metros (m) de altura, 73,7 quilos (kg), com índice de massa corporal (IMC) de 27 kg/centímetros quadrados (cm2). Aeromoça, aposentada por invalidez, realizou a cirurgia de Mastectomia Radical modificada a Madden com linfonodectomia à direita, em setembro de 2016, realizou 18 ciclos de quimioterapia neoadjuvante, e possui indicação de 28 sessões de radioterapia a serem realizadas. Apresentou hipoestesia em região posterior do braço. Voluntária 2 – 56 anos, casada, 1,57m m de altura, 63,2 kg, IMC de 25 kg/cm2. Professora aposentada, realizou Mastectomia Radical à direita em dezembro de 2014, com linfonodectomia, e estadiamento clínico grau 2, realizou seis ciclos de quimioterapia neoadjuvante; quatro ciclos adjuvante, 28 aplicações de radioterapia e faz uso de hormonioterapia desde setembro de 2015. Como complicador, a mesma sofreu acidente doméstico em maio de 2015, com fratura de vértebra torácica T12 (Figura 1) resultando em hipomobilidade dos movimentos. Figura 1 – Tomografias A) Imagens do exame realizado em 21/05/2015. B) Imagens do exame realizado em 01/09/2015. BA 7 Protocolo de tratamento Foram realizadas 15 sessões, três vezes por semana, com duração de 50 minutos. Todos os exercícios aplicados, foram demonstrados pelos pesquisadores pontuando a importância da atenção à respiração e sintomas de dor seguindo um protocolo de 18 exercícios (Tabela 1). Tabela 1. Descrição do protocolo de exercícios baseados no movimento natural. * Os exercícios 2, 3, 4, 7, 8 e 12 foram realizados e/ou iniciados em sedestação no solo * O exercício 8 foi realizado em decúbito ventral * Os exercícios de 13 a 18 foram realizados em ortostatismo * Todos exercícios descritos foram realizados em uma única sequência no tempo de 2 minutos * Não houve intervalo entre um exercício e outro Foram ensinados inicialmente, exercícios e posturas isoladas, seguindo o método de transição do mais simples para o mais complexo, segundo a habilidade motora e condição de cada paciente, de acordo com os princípios de movimentação natural. A execução dos exercícios foi realizada na forma de trabalho individual, priorizando a qualidade do movimento em detrimento da quantidade. A intervenção foi dividida em duas etapas. A 1ª etapa (1ª a 5ª sessão) exercícios do item 1 ao 12 e a 2ª etapa (6ª a 15ª sessão) do item 1 ao 18. Ambas as voluntárias realizaram todos exercícios das duas etapas. Protocolo de exercícios 01 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão 02 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio de cotovelos no solo 03 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio das mãos 04 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio de mão, rotação de coluna com flexão de até o limite do ombro homolateral e supinação de punho 05 Rotação de coluna torácica com flexão de ombros em 90º com isometria de abdome e flexão de quadril, joelho unidos em 90º com dorsiflexão 06 Abdução/adução horizontal, rotação interna/externa com flexão de ombro e prono/supinação com peso 07 Deslocamento em sedestação 08 Educativo de rastejar com rolo de espuma 09 Deslocamento em 4 apoios com apoio de joelhos em linha reta para frente/trás 10 Deslocamento em 4 apoios com apoio de joelhos lateralmente para esquerda/direita 11 Educativo de deslocamento em 4 apoio invertido (caranguejo) 12 Transição de sentado para semi-ajoelhado e para de pé a partir do solo 13 Caminhada em linha reta sobre madeira com halter de 2kg em cada mão para frente/trás 14 Caminhada em linha reta sobre madeira transpondo obstáculos 15 Caminhada sobre madeira lateralmente para direita/esquerda 16 Andar por debaixo da trave 17 Arremesso de bastão alternados 18 Arremesso de medicine ball 2kg com rotação de tronco 8 Figura 2. Demonstração dos exercícios (voluntária 2) Figura 3. Demonstração da evolução dos exercícios (voluntária 2). Para a realização dos exercícios foram utilizados materiais, tais como: caibrode madeira de 2,5 metros de comprimento por 10 centímetros de altura por 15 cm de largura; colchonete de 2x2 m; bola de basquete; tubo de PVC; rolo de polipropileno; máquina fotográfica e notebook. 9 Considerações éticas As voluntárias receberam o termo de consentimento livre e esclarecido, juntamente com a entrega do termo foram explicados os objetivos e justificativas para a realização do estudo, os possíveis riscos e benefícios aos quais as mesmas foram expostas, conforme os itens descritos nas Diretrizes do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96). Posteriormente as voluntárias assinaram duas vias do termo e foi garantido o direito de se recusar em participar do estudo em qualquer momento, sem nenhum prejuízo. 3 RESULTADOS As voluntárias foram muito participativas, e apresentaram ótima adesão, relataram ter ficado satisfeitas com o protocolo e sugeriram mais abordagens como esta. Quando se trabalha com mulheres com complicações secundárias ao tratamento para câncer de mama, a tendência é de priorizar a reabilitação do membro superior homolateral à cirurgia e alterações posturais, no entanto, o movimento natural pode proporcionar benefícios para demais articulações do corpo e melhorar a qualidade dos movimentos, e isso foi realmente constatado pelas voluntárias que ao final relataram estar mais dispostas e com facilidade para realização dos movimentos. A QV apresentou resultados satisfatórios notados pelas alterações positivas nos domínios do questionário SF-36, observou-se melhora em seis dos oito domínios (tabelas 2 e 3). Tabela 3. Domínios SF-36 e percentual de melhora da voluntária 2. Voluntária 2 Pré Pós ∆ Capacidade funcional 50 95 90% Limitação por aspectos físicos 0 100 100% Dor 62 84 35,5% Estado geral de saúde 75 75 0% Vitalidade 75 90 20% Aspectos sociais 75 100 33,3% Limitação por aspectos emocionais 66 100 51,5% Saúde mental 96 100 4,5% ∆ -diferença em porcentagem dos valores pré e pós protocolo Tabela 2. Domínios SF-36 e percentual de melhora da voluntária 1 Voluntária 1 Pré Pós ∆ Capacidade funcional 85 100 17,6% Limitação por aspectos físicos 0 100 100% Dor 62 100 61,3% Estado geral de saúde 67 67 0% Vitalidade 60 75 25% Aspectos sociais 75 100 33,3% Limitação por aspectos emocionais 0 100 100% Saúde mental 80 76 -5% ∆ -diferença em porcentagem dos valores pré e pós protocolo 10 Na comparação dos dados, a voluntária 1 apresentou melhores resultados nos itens relativo a limitação por aspectos físicos, emocionais, dor e vitalidade, e a voluntária 2 no item capacidade funcional. O domínio aspecto social, foi igualmente melhor e no estado geral de saúde não houve alteração. No item saúde mental, a voluntária 1 apresentou piora. Observou-se também melhora da ADM do membro superior homolateral à cirurgia de ambas a voluntárias, sendo que a evolução da flexão e abdução de ombro foi mais expressiva na voluntária com menos tempo de cirurgia, do que na que já tinha sido submetida ao procedimento há anos (figura 4). Como descrito na metodologia, realizou-se a goniometria da ADM de diversas articulações, inclusive para delimitar os objetivos e condutas propostas inicialmente, mas, nos resultados, estão dispostos apenas os valores da ADM que havia redução inicialmente e que apresentou evolução após a intervenção. Na articulação do quadril (movimentos de rotação interna e externa), bem como na articulação do punho (movimentos de flexão, extensão e desvio ulnar), constatou-se variações pouco expressivas após a intervenção. (Figuras 5 e 6). Figura 4: Goniometria da articulação do ombro 11 Foi realizada a avaliação da FM para estabelecer um critério para a elaboração dos exercícios. Sendo constatado ao final da pesquisa, que não houve alteração dos níveis de FM antes e após o protocolo. Na análise do TSL, observou-se uma melhora de 6,25% nos resultados de ambas as voluntárias, passando de uma pontuação classificada como baixa aptidão física, típica de quem não está praticando atividade física frequentemente, para um escore de plena forma física, não importando a idade. Sendo o score inicial de 8 pontos (5 Figura 6: Goniometria da articulação do punho Figura 5: Goniometria da articulação do quadril 12 para sentar e 3 para levantar) com um aumento 0,5 na avaliação final (levantar 3,5 pontos) de ambas as voluntárias. Durante a intervenção, foram coletados dados, em forma de diário, dos relatos de ganhos funcionais percebidos pelas voluntárias, estas relataram aumento da mobilidade de tronco e de MMII, aumento da disposição e diminuição da fadiga durante o dia. A fratura de vértebra sofrida pela voluntária 2 causava dores que limitavam suas atividades durante o dia, e após a quinta sessão a mesma relatou melhora significativa do quadro, sendo que na décima quinta sessão a dor era mínima. Na análise dos dados obtidos antes e depois da aplicação do protocolo pelo software Kinovea, observou-se melhora na ADM de ombro direito para os movimentos de flexão e abdução de ambas as voluntárias (figuras 7 e 8). Figura 7: Avaliação da flexão de ombro pelo software Kinovea A) Voluntária 1 B) Voluntária 2 Figura 8: Avaliação da abdução de ombro pelo software Kinovea A) Voluntária 1 B)Voluntária 2 B DEPOIS ANTES ANTES A DEPOIS DEPOIS ANTES B A DEPOIS ANTES 13 Na análise de equilíbrio, a trajetória demonstrada na figura 9, mostra uma melhora do equilíbrio durante a transição da postura de ajoelhada, semi- ajoelhada para de pé e retorno a posição inicial de ambas as voluntárias. Figura 9: Avaliação de equilíbrio pelo software Kinovea – A) Voluntária 1. B) Voluntária 2 4 DISCUSSÃO Não existe na literatura trabalhos associando exercícios naturais, baseados no método desenvolvido por Georges Hébert, Méthode Naturelle, e a reabilitação de pacientes acometidas por câncer de mama. Diversos estudos utilizaram a cinesioterapia convencional como forma de tratamento destes casos, obtendo bons resultados relativo à melhora da ADM do membro superior homolateral à cirurgia, principalmente dos movimentos de ombro, da QV e resultados relacionados à prevenção de complicações como: linfedema, seroma e fibroses (SILVA et al., 2013; TACANI et al., 2013). A estrutura utilizada neste trabalho teve como princípio, exercícios adaptados do Méthode Naturelle direcionados para as limitações que acometem as mulheres mastectomizadas, iniciando com posturas isoladas, seguidas de movimentos combinados, que estimulavam uma maior concentração e consciência corporal, na prática, com ênfase na flexibilidade, coordenação motora e equilíbrio por parte das voluntárias (SAHRMANN, 2014). A voluntária 1 apresentou melhora de 30% no movimento de flexão de ombro e 64% no movimento de abdução de ombro homolateral à cirurgia. A voluntária 2 apresentou melhora de 7% em flexão e 6% em abdução do ombro DEPOISANTES A ANTES DEPOIS B 14 homolateral à cirurgia. Sugere-se que essa diferença nos resultados seja pelo fato que a voluntária 1 tenha feito a cirurgia a menos tempo, mostrando que quanto mais precoce a aplicação dos exercícios melhores podem ser os resultados. A FM dos principais músculos dos MMSS, MMII e tronco foram avaliadas antes e após a intervenção, não sendo observado alterações expressivas nos valores. Atribui-se a este resultado o fato de não ter sido exigido ativação muscular necessária para gerar aumento de força, pois os movimentos foram realizados de forma lenta, sem sobrecarga excessiva, poucas sessões e baixo número de repetições para cada movimento. Contudo a avaliação da FM das voluntárias foi necessária paraa elaboração dos exercícios propostos. O TSL avalia de forma global a flexibilidade das articulações dos MMII, o equilíbrio, a coordenação motora e a relação entre potência muscular e peso corporal por meio dos atos de sentar e levantar do solo. Atribui-se a nota máxima de 5 pontos para cada ação, e para cada apoio utilizado há redução de um ponto da nota máxima e, havendo desequilíbrio perceptível, mais meio ponto é subtraído do escore máximo. Na avaliação final das voluntárias observou-se um aumento 0,5 de um score inicial de 8 pontos. Segundo estudo de Brito et al. (2014), menores valores obtidos no TSL foram associados com maior índice de mortalidade em sujeitos de 51 a 80 anos, e cada aumento de 0,5 na pontuação confere uma melhora de 21% na sobrevida do indivíduo. No entanto não há estudos utilizando o TSL com uma população de mulheres com câncer de mama (BRITO et al., 2013; BRITO et al., 2014; LIRA; ARAÚJO, 2000). Em estudo realizado com 20 mulheres submetidas a mastectomia de Lahoz et al. (2010), após aplicação do questionário SF-36 constatou um comprometimento maior nos itens de limitação por aspectos físicos, vitalidade e dor e os itens com menor influência foram aspectos emocionais, sociais e estado geral de saúde. Corroborando com o resultado deste estudo em que os domínios limitação por aspectos físicos e aspectos sociais foram piores na avaliação inicial e melhoraram após a intervenção e o estado geral de saúde se manteve. No item capacidade funcional a voluntária 1 obteve o score inicial elevado, fator 15 que pode estar associado à idade da voluntária e a prematuridade cirúrgica. O mesmo domínio em relação a voluntária 2 foi baixo, provavelmente devido a idade avançada, o estilo de vida sedentário e as complicações já instaladas, em função do tempo de cirurgia. No item aspectos emocionais da voluntária 1, o resultado encontrado, talvez esteja relacionado com a mudança do estilo de vida recente, imposto pela condição de saúde e pela dificuldade de aceitação e incertezas diante do novo cenário. Já na voluntária 2 o resultado sugere que há uma melhor capacidade de lidar com as limitações geradas pelo tratamento da doença a longo prazo. A qualidade dos movimentos antes e depois da aplicação do protocolo, melhoraram, pois, as voluntárias demonstraram maior controle dos movimentos realizados. O equilíbrio, era o item mais exigido durante as transições de postura, e os níveis de oscilações laterais durante a execução dos movimentos diminuíram tanto no ato de sentar, quanto de levantar do solo. Na análise comparativa das avaliações realizadas com goniômetro e o software Kinovea, observou-se valores diferentes para os movimentos de flexão e abdução de ombro. Isto pode ser explicado devido à avaliação ter sido realizada em decúbito lateral e dorsal, (abdução e flexão) na goniometria com a gravidade a favor do movimento e na avaliação com o Kinovea os movimentos foram realizados em ortostatismo tendo a gravidade como um fator de resistência. 5 CONCLUSÃO Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que o protocolo de tratamento baseado no movimento natural proposto para as voluntárias na fase pós-operatória de câncer de mama melhorou a ADM das articulações do ombro, punho e quadril, a percepção da qualidade de vida, o equilíbrio e o desempenho físico-funcional, assim como boa aceitação e compreensão do método aplicado, por meio dos relatos das voluntárias. Dessa maneira, sugerem-se mais estudos sobre esta técnica e assim possibilidade de uma nova abordagem na reabilitação de mulheres com complicações secundárias ao tratamento de câncer de mama. 16 Proto natural movement: protocol application in mastectomized women Abstract: Early diagnosis and more effective treatments have increased the survival of breast cancer, however, many of them evolve with physical- functional complications secondary to treatment, which makes physiotherapy essential. The aim of this study was to evaluate a protocol for the treatment of natural movement in the recovery of shoulder range of motion, balance, motor coordination and quality of life of women surgically treated for breast cancer. For this, a case study was carried out with two volunteers, one with surgery for less than one year and another for more than one year, submitted to 15 sessions of exercises based on natural movement individually. There were significant improvements in quality of life (QoL); Range of flexion and abduction (40º / 70º) of the shoulder in the volunteer 1 and (10º / 10º) in the volunteer 2, homolateral to the surgery; and improvement in physical performance. Thus, we suggest further studies on this technique and thus the possibility of a new approach in the rehabilitation of women treated by breast cancer Keywords: mastectomy, breast cancer, physical exercise. AGRADECIMENTOS Os autores expressam o seu agradecimento às voluntárias pela participação e colaboração sem o qual não seria possível a realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, D. N.; DANTAS, D. S.; NASCIMENTO, R. S. T. R. Efeitos do exercício físico em mulheres com câncer de mama submetidas à radioterapia: uma revisão sistemática. Arquivo Catarinense de Medicina. v. 41, p. 78-82, 2012. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. 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