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aplicacao protocolo mulherescmasctomizadas

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*	Diego	Miranda	dos	Santos	–	diegojgd@hotmail.com	
**	Vinícius	Coelho	do	Nascimento	–	vnascimento@gmail.com	
***	Laís	Bonagurio	Peressim	–	lais.bona@hotmail.com	
 
Proto movimentação natural: aplicação de protocolo em 
mulheres mastectomizadas 
 
Diego Miranda dos Santos * 
Vinícius Coelho do Nascimento ** 
Laís Bonagurio Peressim *** 
Resumo: O diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes têm aumentado à 
sobrevida do câncer de mama, no entanto, muitas evoluem com complicações 
físico-funcionais secundárias ao tratamento, o que torna a fisioterapia 
essencial. O objetivo deste estudo foi avaliar um protocolo de tratamento de 
movimentação natural, na recuperação da amplitude de movimento do ombro, 
equilíbrio, coordenação motora e qualidade de vida de mulheres tratadas 
cirurgicamente por câncer de mama. Para isso, foi realizado um estudo de 
casos com duas voluntárias, uma com cirurgia há menos de um ano e outra há 
mais de um ano, submetidas a 15 sessões de exercícios baseados na 
movimentação natural de forma individual. Observaram-se melhoras 
expressivas na qualidade de vida (QV); amplitude de movimento (ADM) de 
flexão e abdução (40º/70º) de ombro na voluntária 1 e (10º/10º) na voluntária 2, 
homolateral à cirurgia; e melhora no desempenho físico. Dessa maneira, 
sugerem-se mais estudos sobre esta técnica e assim a possibilidade de uma 
nova abordagem na reabilitação de mulheres tratadas por câncer de mama. 
 
Palavras-chave: Mastectomia. Câncer de mama. Exercício físico. 
 
1 INTRODUÇÃO 
A proliferação celular de forma descontrolada causada por alterações 
genéticas que envolvem a diferenciação e crescimento celular são as causas 
do câncer. Este processo geralmente é lento, sendo necessários anos de 
proliferação para resultar em um tumor ou nódulo palpável, principalmente em 
relação aos casos de câncer de mama. Os efeitos psicológicos causados pelo 
câncer de mama relacionado à autoimagem e sexualidade fazem desta 
neoplasia a mais temida pela população feminina (BRASIL, 2013). 
2 
 
 Fatores como a vida reprodutiva, consumo de álcool, sedentarismo, 
excesso de peso, alta densidade do tecido mamário, casos de câncer de mama 
na família são predisponentes ao surgimento do câncer de mama, porém o 
principal fator é a idade avançada pois a partir dos 50 anos a incidência 
aumenta. O número de mortes decorrente desta patologia no ano de 2013 foi 
de 14.388 sendo 181 homens e 14.206 mulheres, e a estimativa para 2016 é 
de 57.960 novos casos no Brasil (INCA, 2015). 
Dentre os tratamentos para o câncer de mama existe a quimioterapia, 
radioterapia e as cirurgias (conservadoras e radicais). A quimioterapia é 
realizada por meio da administração de medicamentos, geralmente 
intravenosos, que agem combatendo células com características de 
proliferação acelerada, esta pode ser dividida em quatro modalidades, curativa, 
quando se busca eliminar o tumor por completo; adjuvante, realizada após a 
cirurgia para minimizar as possíveis metástases; neoadjuvante, para reduzir o 
tumor e potencializar o tratamento seguinte (cirurgia e/ou radioterapia); e 
paliativa, para somente minimizar os sintomas da doença (SILVA et al., 2010). 
A radioterapia é muito utilizada em casos de câncer de mama, e sua 
aplicação se dá por meio de radiação ionizante em células malignas, 
destruindo a estrutura do DNA das células tumorais, reduzindo o crescimento e 
diminuindo o risco de metástase. Esta terapia objetiva auxiliar no controle ou 
cura do câncer, pois interrompe a reprodução das células malignas. O tempo 
de tratamento varia de acordo com o estadiamento da doença, e assim como a 
quimioterapia, pode ser realizada de forma curativa, adjuvante ou paliativa 
(ARAÚJO; DANTAS; NASCIMENTO, 2012). 
Dependendo do estadiamento clínico e do tipo histológico do câncer 
opta-se por um tipo de cirurgia, dentre elas, existe a mastectomia radical. 
Inicialmente descrita por Halsted no ano de 1889, foi utilizada por 
aproximadamente 60 anos, sendo alterada por Patey e Dyson em 1948 e 
posteriormente por Madden no ano de 1965, passando a ser conhecida como 
mastectomia radical modificada, pois esta técnica preserva o músculo peitoral 
maior ou os dois peitorais. A quadrantectomia e a tumorectomia são cirurgias 
conservadoras aplicadas no tratamento do câncer de mama, e o procedimento 
consiste na retirada de um quadrante da mama, pele do local e a fáscia do 
3 
 
músculo peitoral menor ou somente a remoção do tumor e uma margem de 
tecido saudável respectivamente (MARQUES; SILVA; AMARAL, 2011). 
São várias as complicações pós-operatórias como o seroma, dor, 
deiscência e fibrose cicatricial, parestesia relacionada a lesão do nervo 
intercostobraquial, alterações respiratórias, escápula alada, alterações 
posturais, equilíbrio, coordenação motora, edema na mama residual, entre 
outros (PEREZ, 2015; GÓIS et al., 2011). 
 Após a cirurgia uma das principais complicações observadas é a 
limitação da ADM do ombro, associada ao déficit da funcionalidade do membro. 
A rigidez e atrofia muscular se instala já na fase inicial da recuperação, 
comprometendo principalmente os movimentos de abdução e flexão de ombro, 
devido à imobilização, medo de movimentar o membro, tamanho da incisão, 
tipo de cirurgia, trauma do nervo torácico longo ou a linfonodectomia axilar 
(PETITO et al., 2012). 
A cinesioterapia convencional tem apresentado resultados positivos no 
tratamento das complicações causadas pelo tratamento do câncer de mama, 
utilizando como recursos, alongamentos, exercícios ativo-livres de membros 
superiores (MMSS), hidroterapia, massagens, mobilização articular, 
fortalecimento muscular, visando a melhora da ADM e diminuição do quadro 
álgico (MARIANO et al., 2015; RETT et al., 2012). 
A literatura tem destacado a importância do estudo do movimento, 
embasada pelos efeitos deletérios da hipomobilidade e a importância da 
mobilização precoce, isto pode proporcionar melhoras no bem-estar físico e 
psíquico do ser humano. O estudo do comportamento motor por meio de suas 
subdisciplinas oferece uma base significativa para o entendimento de como o 
movimento é controlado, como as alterações no desempenho motor em 
diferentes ciclos da vida influenciam no desenvolvimento normal e como se 
aprende a realizar movimentos habilidosos, seja no trabalho, no esporte ou nas 
atividades de vida diária (FAIRBROTHER, 2012). 
A compreensão das demandas relacionadas aos distúrbios do 
movimento, se torna o ponto de partida para o início do desenvolvimento de 
tratamentos generalizados mais benéficos para as pessoas com ampla gama 
de limitações de movimento, destacando-se o Método Natural, desenvolvido 
4 
 
por Georges Hébert (1912). Uma modalidade codificada, adaptada e graduada 
em seus procedimentos e meios empregados pelos seres vivos na natureza 
para adquirir o desenvolvimento integral. Um sistema de desenvolvimento e 
manutenção do físico segundo as leis da natureza, isto é, agir pelo instinto e 
pela necessidade. A concepção de Georges Hébert se deu pela observação 
das atividades vitais que deviam ser compostas de exercícios naturais e úteis, 
para os quais nosso corpo foi essencialmente construído (SOARES, 2003a). 
O Método Natural de Georges Hébert foi composto de uma série de 10 
grupos de exercícios: marcha; corrida; salto; quadrupedia; trepar; equilíbrio; 
lançamentos; transporte; defesa e natação. Para ele, esses exercícios ou “atos 
naturais”, podem ser utilizados de forma simples ou combinada com atividades 
da vida prática e para o lazer. A influência do trabalho deste pesquisador teve 
forte impacto em muitas iniciativas, como o Le Parkour, um tipo modalidade 
física que utiliza o mobiliário urbano para se locomover e desenvolver 
habilidades motoras (SOARES, 2003b). 
Na França a partir de 2014, uma nova modalidade chama atenção da 
imprensa e de profissionais do movimento, pela similaridade com o Método de 
Hébert,chamada MovNat, criada pelo francês Erwan Le Corre. Tendo como 
inspiração alguns pioneiros da educação física na Europa (principalmente 
Amoros, Jahn e Hébert). Em 2009, Erwan faz uma releitura do conceito de 
Movimentação Natural, com mudanças significativas tendo como base 
disciplinas modernas como: fisiologia do exercício, cinesiologia, biomecânica, 
treinamentos de força e condicionamento. Estabelece o conceito de se obter 
primeiramente a qualidade do movimento antes de se propor força e 
velocidade, onde o praticante deve sentir o movimento fluir de forma natural, e 
que faça sentido tanto o esforço, a trajetória e a utilidade, sem causa dor ou 
medo, complementando um princípio utilizado por Georges Hébert em seu 
método (CORRE, 2009; SOARES, 2015). 
Independente da técnica utilizada no tratamento para o câncer de mama, 
o resultado gerado na vida da mulher, traz complicações de caráter motor e/ou 
emocional, prejudicando a relação dela com o corpo e a percepção perante a 
sociedade. A diminuição da ADM e força muscular (FM) são complicações 
decorrentes do tratamento que afetam suas atividades de vida diária e 
5 
 
capacidade funcional, sendo necessário intervenções que possam minimizar 
e/ou restaurar as funções comprometidas de maneira a não causar dor, dando 
ênfase a atividades de caráter funcionais. Sendo assim o presente estudo, 
propõe a utilização de um conjunto de movimentos adaptados com base na 
metodologia do movimento natural, na reabilitação da amplitude de 
movimentos do ombro, equilíbrio, força muscular e coordenação motora e 
qualidade de vida (QV). A esta adaptação chamamos de Proto Movimentação 
Natural, com alusão a palavra grega prötós (πρώτος; primeiro, anterior), um 
conceito de preparação para a movimentação natural em si. 
O objetivo deste trabalho foi avaliar a efetividade de um programa de 
exercícios na reabilitação de mulheres tratadas cirurgicamente por câncer de 
mama, baseado no método de movimentação natural. Além disso objetivou-se 
verificar o efeito do programa no equilíbrio, na amplitude de movimento e força 
muscular antes e após a intervenção; verificar de modo qualitativo a 
aceitabilidade da técnica e a compreensão do método, relatada pelas 
voluntárias e avaliar a QV antes e após a intervenção. 
2 MATERIAL E MÉTODOS 
Este é um estudo do tipo relato de casos que incluiu duas voluntárias, 
acometidas por câncer de mama, submetidas à mastectomia radical 
modificada. As pacientes foram recrutadas por meio de convite, realizado no 
Serviço de Fisioterapia em Saúde da Mulher, da clínica de Fisioterapia da 
Faculdade de Americana (FAM). Os critérios de elegibilidade foram: apresentar 
limitação de amplitude de movimento; concordar em participar do estudo de 
forma voluntária e não ter tido experiência prévia com a prática de movimentos 
naturais; ter sido submetida à cirurgia de câncer de mama, do tipo mastectomia 
radical; não apresentar qualquer déficit neurológico, auditivo ou visual que 
comprometa a realização das atividades ou compreensão das instruções; e não 
apresentar metástase à distância. 
Avaliação das voluntárias 
 A avaliação foi realizada antes da aplicação dos exercícios e ao término 
do período de intervenção pelo mesmo avaliador, e composta por ficha de 
6 
 
anamnese utilizada no serviço de fisioterapia em saúde da mulher da clínica de 
fisioterapia da FAM; aplicação do questionário de QV Study's Short Form-36 
(SF-36), realização de goniometria de ombro, cotovelo, punho, quadril, joelho e 
tornozelo e teste muscular manual dos músculos das articulações citadas; 
aplicação do Teste de Sentar e Levantar (TSL); e análise qualitativa da 
movimentação com o software KINOVEA. 
Características das voluntárias 
Voluntária 1 – 42 anos, casada, 1,65 metros (m) de altura, 73,7 quilos (kg), 
com índice de massa corporal (IMC) de 27 kg/centímetros quadrados (cm2). 
Aeromoça, aposentada por invalidez, realizou a cirurgia de Mastectomia 
Radical modificada a Madden com linfonodectomia à direita, em setembro de 
2016, realizou 18 ciclos de quimioterapia neoadjuvante, e possui indicação de 
28 sessões de radioterapia a serem realizadas. Apresentou hipoestesia em 
região posterior do braço. 
Voluntária 2 – 56 anos, casada, 1,57m m de altura, 63,2 kg, IMC de 25 kg/cm2. 
Professora aposentada, realizou Mastectomia Radical à direita em dezembro 
de 2014, com linfonodectomia, e estadiamento clínico grau 2, realizou seis 
ciclos de quimioterapia neoadjuvante; quatro ciclos adjuvante, 28 aplicações de 
radioterapia e faz uso de hormonioterapia desde setembro de 2015. Como 
complicador, a mesma sofreu acidente doméstico em maio de 2015, com 
fratura de vértebra torácica T12 (Figura 1) resultando em hipomobilidade dos 
movimentos. 
 
 
 
 
 
 
 Figura 1 – Tomografias A) Imagens do exame realizado em 21/05/2015. B) Imagens do 
 exame realizado em 01/09/2015. 
 
 
BA 
7 
 
Protocolo de tratamento 
Foram realizadas 15 sessões, três vezes por semana, com duração de 
50 minutos. Todos os exercícios aplicados, foram demonstrados pelos 
pesquisadores pontuando a importância da atenção à respiração e sintomas de 
dor seguindo um protocolo de 18 exercícios (Tabela 1). 
 
Tabela 1. Descrição do protocolo de exercícios baseados no movimento natural. 
 
* Os exercícios 2, 3, 4, 7, 8 e 12 foram realizados e/ou iniciados em sedestação no solo 
* O exercício 8 foi realizado em decúbito ventral 
* Os exercícios de 13 a 18 foram realizados em ortostatismo 
* Todos exercícios descritos foram realizados em uma única sequência no tempo de 2 minutos 
* Não houve intervalo entre um exercício e outro 
Foram ensinados inicialmente, exercícios e posturas isoladas, seguindo 
o método de transição do mais simples para o mais complexo, segundo a 
habilidade motora e condição de cada paciente, de acordo com os princípios de 
movimentação natural. A execução dos exercícios foi realizada na forma de 
trabalho individual, priorizando a qualidade do movimento em detrimento da 
quantidade. A intervenção foi dividida em duas etapas. A 1ª etapa (1ª a 5ª 
sessão) exercícios do item 1 ao 12 e a 2ª etapa (6ª a 15ª sessão) do item 1 ao 
18. Ambas as voluntárias realizaram todos exercícios das duas etapas. 
Protocolo de exercícios 
01 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão 
02 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio de cotovelos no solo 
03 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio das mãos 
04 Movimentação lateral quadril e joelhos em flexão e apoio de mão, rotação de coluna com flexão de até o 
limite do ombro homolateral e supinação de punho 
05 Rotação de coluna torácica com flexão de ombros em 90º com isometria de abdome e flexão de quadril, 
joelho unidos em 90º com dorsiflexão 
06 Abdução/adução horizontal, rotação interna/externa com flexão de ombro e prono/supinação com peso 
07 Deslocamento em sedestação 
08 Educativo de rastejar com rolo de espuma 
09 Deslocamento em 4 apoios com apoio de joelhos em linha reta para frente/trás 
10 Deslocamento em 4 apoios com apoio de joelhos lateralmente para esquerda/direita 
11 Educativo de deslocamento em 4 apoio invertido (caranguejo) 
12 Transição de sentado para semi-ajoelhado e para de pé a partir do solo 
13 Caminhada em linha reta sobre madeira com halter de 2kg em cada mão para frente/trás 
14 Caminhada em linha reta sobre madeira transpondo obstáculos 
15 Caminhada sobre madeira lateralmente para direita/esquerda 
16 Andar por debaixo da trave 
17 Arremesso de bastão alternados 
18 Arremesso de medicine ball 2kg com rotação de tronco 
8 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 2. Demonstração dos exercícios (voluntária 2) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 3. Demonstração da evolução dos exercícios (voluntária 2). 
Para a realização dos exercícios foram utilizados materiais, tais como: 
caibrode madeira de 2,5 metros de comprimento por 10 centímetros de altura 
por 15 cm de largura; colchonete de 2x2 m; bola de basquete; tubo de PVC; 
rolo de polipropileno; máquina fotográfica e notebook. 
9 
 
Considerações éticas 
 As voluntárias receberam o termo de consentimento livre e esclarecido, 
juntamente com a entrega do termo foram explicados os objetivos e 
justificativas para a realização do estudo, os possíveis riscos e benefícios aos 
quais as mesmas foram expostas, conforme os itens descritos nas Diretrizes do 
Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96). Posteriormente as 
voluntárias assinaram duas vias do termo e foi garantido o direito de se recusar 
em participar do estudo em qualquer momento, sem nenhum prejuízo. 
3 RESULTADOS 
As voluntárias foram muito participativas, e apresentaram ótima adesão, 
relataram ter ficado satisfeitas com o protocolo e sugeriram mais abordagens 
como esta. Quando se trabalha com mulheres com complicações secundárias 
ao tratamento para câncer de mama, a tendência é de priorizar a reabilitação 
do membro superior homolateral à cirurgia e alterações posturais, no entanto, o 
movimento natural pode proporcionar benefícios para demais articulações do 
corpo e melhorar a qualidade dos movimentos, e isso foi realmente constatado 
pelas voluntárias que ao final relataram estar mais dispostas e com facilidade 
para realização dos movimentos. 
A QV apresentou resultados satisfatórios notados pelas alterações 
positivas nos domínios do questionário SF-36, observou-se melhora em seis 
dos oito domínios (tabelas 2 e 3). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Tabela 3. Domínios SF-36 e percentual de 
melhora da voluntária 2. 
Voluntária 2 Pré Pós ∆ 
Capacidade funcional 50 95 90%
Limitação por aspectos físicos 0 100 100%
Dor 62 84 35,5%
Estado geral de saúde 75 75 0%
Vitalidade 75 90 20%
Aspectos sociais 75 100 33,3%
Limitação por aspectos emocionais 66 100 51,5%
Saúde mental 96 100 4,5%
∆ -diferença em porcentagem dos valores pré e pós 
protocolo 
Tabela 2. Domínios SF-36 e percentual de 
melhora da voluntária 1 
Voluntária 1 Pré Pós ∆ 
Capacidade funcional 85 100 17,6%
Limitação por aspectos físicos 0 100 100%
Dor 62 100 61,3%
Estado geral de saúde 67 67 0%
Vitalidade 60 75 25%
Aspectos sociais 75 100 33,3%
Limitação por aspectos emocionais 0 100 100%
Saúde mental 80 76 -5%
∆ -diferença em porcentagem dos valores pré e pós 
protocolo 
10 
 
Na comparação dos dados, a voluntária 1 apresentou melhores 
resultados nos itens relativo a limitação por aspectos físicos, emocionais, dor e 
vitalidade, e a voluntária 2 no item capacidade funcional. O domínio aspecto 
social, foi igualmente melhor e no estado geral de saúde não houve alteração. 
No item saúde mental, a voluntária 1 apresentou piora. 
Observou-se também melhora da ADM do membro superior homolateral 
à cirurgia de ambas a voluntárias, sendo que a evolução da flexão e abdução 
de ombro foi mais expressiva na voluntária com menos tempo de cirurgia, do 
que na que já tinha sido submetida ao procedimento há anos (figura 4). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Como descrito na metodologia, realizou-se a goniometria da ADM de 
diversas articulações, inclusive para delimitar os objetivos e condutas 
propostas inicialmente, mas, nos resultados, estão dispostos apenas os valores 
da ADM que havia redução inicialmente e que apresentou evolução após a 
intervenção. Na articulação do quadril (movimentos de rotação interna e 
externa), bem como na articulação do punho (movimentos de flexão, extensão 
e desvio ulnar), constatou-se variações pouco expressivas após a intervenção. 
(Figuras 5 e 6). 
 
 
Figura 4: Goniometria da articulação do ombro 
11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foi realizada a avaliação da FM para estabelecer um critério para a 
elaboração dos exercícios. Sendo constatado ao final da pesquisa, que não 
houve alteração dos níveis de FM antes e após o protocolo. Na análise do TSL, 
observou-se uma melhora de 6,25% nos resultados de ambas as voluntárias, 
passando de uma pontuação classificada como baixa aptidão física, típica de 
quem não está praticando atividade física frequentemente, para um escore de 
plena forma física, não importando a idade. Sendo o score inicial de 8 pontos (5 
Figura 6: Goniometria da articulação do punho 
Figura 5: Goniometria da articulação do quadril 
12 
 
para sentar e 3 para levantar) com um aumento 0,5 na avaliação final (levantar 
3,5 pontos) de ambas as voluntárias. 
Durante a intervenção, foram coletados dados, em forma de diário, dos 
relatos de ganhos funcionais percebidos pelas voluntárias, estas relataram 
aumento da mobilidade de tronco e de MMII, aumento da disposição e 
diminuição da fadiga durante o dia. A fratura de vértebra sofrida pela voluntária 
2 causava dores que limitavam suas atividades durante o dia, e após a quinta 
sessão a mesma relatou melhora significativa do quadro, sendo que na décima 
quinta sessão a dor era mínima. 
Na análise dos dados obtidos antes e depois da aplicação do protocolo 
pelo software Kinovea, observou-se melhora na ADM de ombro direito para os 
movimentos de flexão e abdução de ambas as voluntárias (figuras 7 e 8). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 7: Avaliação da flexão de ombro pelo software Kinovea A) Voluntária 1 B) Voluntária 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 8: Avaliação da abdução de ombro pelo software Kinovea A) Voluntária 1 B)Voluntária 2 
B
DEPOIS ANTES ANTES 
A 
DEPOIS 
DEPOIS ANTES 
B A 
DEPOIS ANTES 
13 
 
Na análise de equilíbrio, a trajetória demonstrada na figura 9, mostra 
uma melhora do equilíbrio durante a transição da postura de ajoelhada, semi-
ajoelhada para de pé e retorno a posição inicial de ambas as voluntárias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 9: Avaliação de equilíbrio pelo software Kinovea – A) Voluntária 1. B) Voluntária 2 
4 DISCUSSÃO 
 Não existe na literatura trabalhos associando exercícios naturais, 
baseados no método desenvolvido por Georges Hébert, Méthode Naturelle, e a 
reabilitação de pacientes acometidas por câncer de mama. Diversos estudos 
utilizaram a cinesioterapia convencional como forma de tratamento destes 
casos, obtendo bons resultados relativo à melhora da ADM do membro 
superior homolateral à cirurgia, principalmente dos movimentos de ombro, da 
QV e resultados relacionados à prevenção de complicações como: linfedema, 
seroma e fibroses (SILVA et al., 2013; TACANI et al., 2013). 
 A estrutura utilizada neste trabalho teve como princípio, exercícios 
adaptados do Méthode Naturelle direcionados para as limitações que 
acometem as mulheres mastectomizadas, iniciando com posturas isoladas, 
seguidas de movimentos combinados, que estimulavam uma maior 
concentração e consciência corporal, na prática, com ênfase na flexibilidade, 
coordenação motora e equilíbrio por parte das voluntárias (SAHRMANN, 2014). 
 A voluntária 1 apresentou melhora de 30% no movimento de flexão de 
ombro e 64% no movimento de abdução de ombro homolateral à cirurgia. A 
voluntária 2 apresentou melhora de 7% em flexão e 6% em abdução do ombro 
DEPOISANTES 
A 
ANTES DEPOIS 
B
14 
 
homolateral à cirurgia. Sugere-se que essa diferença nos resultados seja pelo 
fato que a voluntária 1 tenha feito a cirurgia a menos tempo, mostrando que 
quanto mais precoce a aplicação dos exercícios melhores podem ser os 
resultados. 
 A FM dos principais músculos dos MMSS, MMII e tronco foram avaliadas 
antes e após a intervenção, não sendo observado alterações expressivas nos 
valores. Atribui-se a este resultado o fato de não ter sido exigido ativação 
muscular necessária para gerar aumento de força, pois os movimentos foram 
realizados de forma lenta, sem sobrecarga excessiva, poucas sessões e baixo 
número de repetições para cada movimento. Contudo a avaliação da FM das 
voluntárias foi necessária paraa elaboração dos exercícios propostos. 
 O TSL avalia de forma global a flexibilidade das articulações dos MMII, o 
equilíbrio, a coordenação motora e a relação entre potência muscular e peso 
corporal por meio dos atos de sentar e levantar do solo. Atribui-se a nota 
máxima de 5 pontos para cada ação, e para cada apoio utilizado há redução de 
um ponto da nota máxima e, havendo desequilíbrio perceptível, mais meio 
ponto é subtraído do escore máximo. Na avaliação final das voluntárias 
observou-se um aumento 0,5 de um score inicial de 8 pontos. Segundo estudo 
de Brito et al. (2014), menores valores obtidos no TSL foram associados com 
maior índice de mortalidade em sujeitos de 51 a 80 anos, e cada aumento de 
0,5 na pontuação confere uma melhora de 21% na sobrevida do indivíduo. No 
entanto não há estudos utilizando o TSL com uma população de mulheres com 
câncer de mama (BRITO et al., 2013; BRITO et al., 2014; LIRA; ARAÚJO, 
2000). 
Em estudo realizado com 20 mulheres submetidas a mastectomia de 
Lahoz et al. (2010), após aplicação do questionário SF-36 constatou um 
comprometimento maior nos itens de limitação por aspectos físicos, vitalidade e 
dor e os itens com menor influência foram aspectos emocionais, sociais e 
estado geral de saúde. 
Corroborando com o resultado deste estudo em que os domínios 
limitação por aspectos físicos e aspectos sociais foram piores na avaliação 
inicial e melhoraram após a intervenção e o estado geral de saúde se manteve. 
No item capacidade funcional a voluntária 1 obteve o score inicial elevado, fator 
15 
 
que pode estar associado à idade da voluntária e a prematuridade cirúrgica. O 
mesmo domínio em relação a voluntária 2 foi baixo, provavelmente devido a 
idade avançada, o estilo de vida sedentário e as complicações já instaladas, 
em função do tempo de cirurgia. No item aspectos emocionais da voluntária 1, 
o resultado encontrado, talvez esteja relacionado com a mudança do estilo de 
vida recente, imposto pela condição de saúde e pela dificuldade de aceitação e 
incertezas diante do novo cenário. Já na voluntária 2 o resultado sugere que há 
uma melhor capacidade de lidar com as limitações geradas pelo tratamento da 
doença a longo prazo. 
A qualidade dos movimentos antes e depois da aplicação do protocolo, 
melhoraram, pois, as voluntárias demonstraram maior controle dos movimentos 
realizados. O equilíbrio, era o item mais exigido durante as transições de 
postura, e os níveis de oscilações laterais durante a execução dos movimentos 
diminuíram tanto no ato de sentar, quanto de levantar do solo. Na análise 
comparativa das avaliações realizadas com goniômetro e o software Kinovea, 
observou-se valores diferentes para os movimentos de flexão e abdução de 
ombro. Isto pode ser explicado devido à avaliação ter sido realizada em 
decúbito lateral e dorsal, (abdução e flexão) na goniometria com a gravidade a 
favor do movimento e na avaliação com o Kinovea os movimentos foram 
realizados em ortostatismo tendo a gravidade como um fator de resistência. 
 
5 CONCLUSÃO 
Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que o protocolo de 
tratamento baseado no movimento natural proposto para as voluntárias na fase 
pós-operatória de câncer de mama melhorou a ADM das articulações do 
ombro, punho e quadril, a percepção da qualidade de vida, o equilíbrio e o 
desempenho físico-funcional, assim como boa aceitação e compreensão do 
método aplicado, por meio dos relatos das voluntárias. Dessa maneira, 
sugerem-se mais estudos sobre esta técnica e assim possibilidade de uma 
nova abordagem na reabilitação de mulheres com complicações secundárias 
ao tratamento de câncer de mama. 
16 
 
Proto natural movement: protocol application in 
mastectomized women 
 
Abstract: Early diagnosis and more effective treatments have increased the 
survival of breast cancer, however, many of them evolve with physical-
functional complications secondary to treatment, which makes physiotherapy 
essential. The aim of this study was to evaluate a protocol for the treatment of 
natural movement in the recovery of shoulder range of motion, balance, motor 
coordination and quality of life of women surgically treated for breast cancer. 
For this, a case study was carried out with two volunteers, one with surgery for 
less than one year and another for more than one year, submitted to 15 
sessions of exercises based on natural movement individually. There were 
significant improvements in quality of life (QoL); Range of flexion and abduction 
(40º / 70º) of the shoulder in the volunteer 1 and (10º / 10º) in the volunteer 2, 
homolateral to the surgery; and improvement in physical performance. Thus, we 
suggest further studies on this technique and thus the possibility of a new 
approach in the rehabilitation of women treated by breast cancer 
Keywords: mastectomy, breast cancer, physical exercise. 
 
AGRADECIMENTOS 
Os autores expressam o seu agradecimento às voluntárias pela participação e 
colaboração sem o qual não seria possível a realização deste trabalho. 
 
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