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SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO ESTUDO DE CASO: MARÉ Fabrício Matheus Barcelos Pires Rio de Janeiro Março de 2018 Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadora: Monica Maria Pena ii SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO – ESTUDO DE CASO: MARÉ Fabrício Matheus Barcelos Pires PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO AMBIENTAL. Examinado por: _____________________________________________ Prof.ª Monica Maria Pena, D. Sc. _____________________________________________ Prof.ª Heloisa Teixeira Firmo, D. Sc. _____________________________________________ Prof. Isaac Volschan Junior, D. Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO de 2018 iii Pires, Fabrício Matheus Barcelos Sistema de Esgotamento Sanitário – Estudo de Caso: Maré/ Fabrício Matheus Barcelos Pires. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2018. XIV, 143 p.il.; Il.; 29,7 cm. Orientadora: Monica Maria Pena Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Ambiental, 2018. Referências Bibliográficas: p. 127-131. 1. Sistema de Esgotamento Sanitário 2. Concepção e dimensionamento 3. Rede coletora de esgoto 4. Maré I. Pena, Monica Maria; II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Ambiental. III. Título. iv “Sem disciplina, o talento não serve para nada”. Cristiano Ronaldo v Agradecimentos À minha mãe, Sirlei, por me apoiar, me dar amor, educação e impulso para atingir meus objetivos. Aos meus avós, Norival e Celi, por ajudarem na minha criação, por me ensinarem a ser um bom ser humano, por acreditarem no meu potencial e por se orgulharem das minhas conquistas. Aos meus irmãos, Fillipe e Fabiana, por estarem sempre comigo, pelo companheirismo e parceria. Aos meus tios, Luiz e Cirlene, pelo carinho e por me adotarem como filho de coração. Ao meu tio-avô, Deosdedes, por acreditar e investir no “Doutor Matheus”. Aos meus amigos, família que a vida me ofereceu: Bia, Daniel, Débora, Fernanda, Gabriel, Lucas e Thiago pelo companheirismo, por estarem presentes na minha vida e me apoiarem na realização deste trabalho. Vocês me fazem ter certeza que eu tenho os melhores ao meu lado. Ao Victor, Eduardo e Eng. Raphael, por me ajudarem na utilização do software SANCAD, o que foi imprescindível para a realização do trabalho. À Mayra, Carina e Patrícia pelos ensinamentos durante o período de estágio, pela ajuda e apoio na realização deste trabalho, por proporcionarem um incrível ambiente de trabalho na CEDAE. À Professora Monica, pelos ensinamentos, por aceitar o desafio de me orientar e se mostrar sempre presente quando solicitada. Aos professores, Isaac e Heloisa, por aceitarem compor a banca examinadora e poder contribuir com esta importante etapa da minha vida acadêmica e profissional. Ao Colégio Pedro II, à UFRJ e à CEDAE por contribuírem na minha formação acadêmica, profissional e pessoal. Tenho convicção que eu não poderia ter trilhado melhor caminho. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Ambiental. SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO – ESTUDO DE CASO: MARÉ Fabrício Matheus Barcelos Pires Março/2018 Orientadora: Monica Maria Pena Curso: Engenharia Ambiental Apesar de se conhecer a relação entre a saúde e qualidade de vida da população com um adequado modelo de saneamento ambiental, a situação do saneamento no Brasil ainda se apresenta distante do ideal. O destaque negativo deste déficit é a situação do esgotamento no país, apresentando índices de atendimento bem inferiores em relação ao abastecimento de água. Neste contexto, o presente trabalho visa contribuir para a melhoria destas condições com o projeto do sistema de esgotamento sanitário para um dos maiores complexos de favelas do Rio de Janeiro - o complexo da Maré. Após a revisão bibliográfica acerca da temática, utilizou-se o software de sistema de informações geográfica Qgis em conjunto com o software Excel para determinar um dos parâmetros mais importantes do projeto - a população a ser atendida. Uma vez conhecido este parâmetro e também determinados tantos outros de suma importância no dimensionamento hidráulico, foram utilizados os programas computacionais AutoCAD e SANCAD para a escolha do melhor traçado da rede coletora e seu respectivo dimensionamento. Com os resultados do projeto é esperado que o mesmo norteie a elaboração do projeto básico pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE) para que possa futuramente ser posto em prática, beneficiando direta e indiretamente milhares de fluminenses. Palavras-chave: Sistema de Esgotamento Sanitário, Concepção e Dimensionamento Rede Coletora de Esgoto, Maré. vii Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Engineer. SEWAGE SYSTEM – A CASE STUDY: MARÉ Fabrício Matheus Bacelos Pires March/2018 Advisor: Monica Maria Pena Course: Environmental Engineering Despite knowing the relation between health and life quality of the population with an adequate model of environmental sanitation, the situation of Brazil's sanitation is far from ideal. The negative highlight of this deficit is the situation of the sewage system in the country, showing an attendance index much lower than the water supply. In this context, the present work aims to contribute to the improvement of these conditions with the project of sanitary sewage system for one of the largest complexes of favelas in Rio de Janeiro - the Maré complex. After the bibliographic review on the subject, the geographic information system software Qgis was used with the software EXCEL to determine one of the most important parameters of the project - the population to be served. Once this parameter was known, as well as many others of great importance in the hydraulic dimensioning, the AUTOCAD and SANCAD software products were used to choose the best tracing of the sewer system and its respective dimensioning. With the results of the project it is expected that it guides the elaboration of the basic project by the State Water and Sewage Company (CEDAE) so that it can be put into practice in the future, directly and indirectly benefiting thousands of citizens in the State of Rio de Janeiro. Key words: Sewage system, design and dimensioning, sewer system, Maré. viii Sumário 1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 3 2.1. OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 3 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................. 3 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................... 4 3.1. HISTÓRICO ...................................................................................................... 4 3.2. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BRASIL .............................5 3.3. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ..................................................................................................................... 9 3.4. SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO - DEFINIÇÕES ......................... 9 3.4.1. Esgoto Sanitário ...................................................................................... 10 3.4.2. Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) ................................................ 10 3.4.3. Tipos de Sistema de Esgotamento Sanitário ............................................ 15 3.4.4. Concepção de Sistema de Esgotamento Sanitário .................................. 18 3.4.5. Estudo de Concepção .............................................................................. 19 3.4.6. Critérios de Projeto .................................................................................. 20 4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ....................................................... 44 4.1. LOCALIZAÇÃO ............................................................................................... 44 4.2. HIDROGRAFIA ............................................................................................... 45 4.3. CLIMA ............................................................................................................. 48 4.4. RELEVO ......................................................................................................... 49 4.5. HISTÓRIA DE OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO ............................................... 51 5. METODOLOGIA .................................................................................................... 53 5.1. DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO.......................................................... 57 5.2. TOPOGRAFIA ................................................................................................ 58 5.2.1. Delimitação das sub-bacias de esgotamento ........................................... 59 5.3. ESTUDO POPULACIONAL ............................................................................ 59 5.3.1. Projeção populacional .............................................................................. 61 5.4. CÁLCULO DA VAZÃO CONTRIBUINTE DAS SUB-BACIAS .......................... 66 5.4.1. Vazão Doméstica ..................................................................................... 66 5.4.2. Vazão comercial, industrial e pública ....................................................... 66 5.4.3. Vazão de infiltração da rede existente ..................................................... 68 5.5. CRITÉRIOS DE PROJETO PARA A CONCEPÇÃO DA REDE ...................... 69 5.5.1. Alcance de projeto ................................................................................... 69 5.5.2. Área de abrangência ................................................................................ 70 5.5.3. Vazão mínima para dimensionamento hidráulico ..................................... 70 5.5.4. Coeficiente de Rugosidade ...................................................................... 70 ix 5.5.5. Diâmetro mínimo...................................................................................... 70 5.5.6. Declividade mínima .................................................................................. 70 5.5.7. Declividade máxima, velocidade máxima e velocidade crítica.................. 70 5.5.8. Altura da lâmina d’água ........................................................................... 70 5.5.9. Distância entre PV’s ................................................................................. 71 5.5.10. Coeficientes de variação de vazão ....................................................... 71 5.5.11. Contribuição per capita de esgoto ........................................................ 71 5.5.12. Taxa de infiltração ................................................................................ 71 5.5.13. Recobrimento mínimo .......................................................................... 71 5.5.14. Tubulação de recalque de estação elevatória ...................................... 71 5.6. METODOLOGIA DE DIMENSIONAMENTO DA REDE COLETORA .............. 72 5.6.1. SANCAD .................................................................................................. 74 6. RESULTADOS ...................................................................................................... 77 6.1. CONFORMAÇÃO DAS BACIAS DE ESGOTAMENTO ................................... 77 6.2. VAZÃO DE ESGOTO SANITÁRIOS NAS SUB-BACIAS ................................. 84 6.3. TRAÇADO DA REDE COLETORA ................................................................. 89 6.3.1. Alternativa 1 ............................................................................................. 89 6.3.2. Alternativa 2 ............................................................................................. 89 6.4. DIMENSIONAMENTO HIDRÁULICO .............................................................. 92 6.4.1. Alternativa 1 ............................................................................................. 92 6.4.2. Alternativa 2 ........................................................................................... 100 6.5. ESTIMATIVA ORÇAMENTÁRIA ................................................................... 108 6.5.1. Rede coletora ........................................................................................ 108 6.5.2. Estação Elevatória de Esgoto ................................................................ 111 6.6. ESCOLHA DA ALTERNATIVA DE CONCEPÇÃO ........................................ 112 6.6.1. Análise da Alternativa 1 ......................................................................... 114 6.6.2. Análise da Alternativa 2 ......................................................................... 118 6.6.3. A alternativa escolhida ........................................................................... 121 7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 125 REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS ............................................................................. 127 APÊNDICES ............................................................................................................... 132 APÊNDICE A: Obtenção da população residente em cada sub-bacia de esgotamento sanitário por setores censitários do IBGE (2010). .................................................... 132 APÊNDICE B: Legenda da s informações dos Perfis Hidráulicos. ........................... 141 APÊNDICE C: Lista de ruas para verificação de possíveis interferências. ............... 142 ANEXOS ..................................................................................................................... 143 ANEXO A: Custo de Estações Elevatórias para baixo recalque. ............................. 143 x Lista de Figuras Figura 1: Sistema de esgotamento unitário (sistema combinado) ................................ 16 Figura 2: Sistema de esgotamento separador parcial (misto) ....................................... 17 Figura 3: Sistema de esgotamento separador absoluto ............................................... 18 Figura 4: Traçado de rede do tipo perpendicular .......................................................... 22 Figura 5: Traçado de rede do tipo em leque ................................................................. 23 Figura 6: Traçado de rede do tipo radial ou distrital ...................................................... 23 Figura 7: Previsão populacional por extrapolação gráfica ............................................ 37 Figura 8: Bairro da Maré em relação às Áreas de Planejamento da Cidade do Rio de Janeiro ..........................................................................................................................44 Figura 9: Área de Estudo em relação ao bairro da Maré e aos Sistemas de Esgotamento Sanitário .................................................................................................. 45 Figura 10: Regiões hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro .................................... 46 Figura 11: Subcomitê Oeste da Região Hidrográfica da Baia de Guanabara ............... 47 Figura 12: Hidrografia do Bairro da Maré. Fonte: elaboração própria ........................... 48 Figura 13: Climograma da Cidade do Rio de Janeiro ................................................... 49 Figura 14: Mapa hipsométrico da Cidade do Rio de Janeiro ........................................ 50 Figura 15: Vista geral do bairro da Maré ...................................................................... 51 Figura 16: Modificação da linha de costa na área dos Canais do Fundão e do Cunha . 54 Figura 17: Situação Atual do Sistema de Esgotamento Sanitário da Maré ................... 55 Figura 18: Traçado da rede coletora na primeira alternativa e área com solos desfavoráveis ................................................................................................................ 56 Figura 19: Delimitação da área de estudo .................................................................... 58 Figura 20: Comparação entre os métodos para a projeção da população de 2038 da RA XXX .............................................................................................................................. 64 Figura 21: Obtenção de dados de consumo de água no software NETUNO (mapa) .... 67 Figura 22: Obtenção de dados de consumo de água no software NETUNO (tabela) ... 68 Figura 23: Rede coletora de esgoto existente na área de projeto ................................. 69 Figura 24: Dados hidráulicos gerais utilizados no SANCAD ......................................... 75 Figura 25: Rotina de dimensionamento da rede no SANCAD ...................................... 76 Figura 26: Área de projeto - Bacias A e B .................................................................... 77 Figura 27: Área de projeto e Coletores-Tronco pertinentes .......................................... 78 Figura 28: Bacia A e suas sub-bacias .......................................................................... 79 Figura 29: Bacia A e suas sub-bacias (detalhe) ........................................................... 80 Figura 30: Bacia B e suas sub-bacias .......................................................................... 81 Figura 31: Bacia B e suas sub-bacias (detalhe: parte 1) .............................................. 82 Figura 32: Bacia B e suas sub-bacias (detalhe: parte 2) .............................................. 83 Figura 33: Traçado da rede coletora na Alternativa 1 ................................................... 90 Figura 34: Fluxograma geral do sistema utilizando a Alternativa 1 ............................... 90 Figura 35: Traçado da rede coletora na Alternativa 2 ................................................... 91 Figura 36: Fluxograma geral do sistema utilizando a Alternativa 2 ............................... 91 Figura 37: Pontos de interesse na Alternativa 1 ......................................................... 113 Figura 38: Pontos de interesse na Alternativa 2 ......................................................... 113 Figura 39: Ponto de Interesse I .................................................................................. 114 Figura 40: Ponto de Interesse II na Alternativa 1 ........................................................ 115 Figura 41: Perfil hidráulico do trecho de chegada no PV da Estação Elevatória Projetada na Alternativa 1 ........................................................................................... 116 Figura 42: Ponto de Interesse IV na Alternativa 1 ...................................................... 117 Figura 43: Perfil hidráulico do trecho da travessia no Ponto de Interesse IV na Alternativa 1 ................................................................................................................ 117 file:///J:/CPAE-DT/TCC%20FABRICIO/TCC-%202018-03-19%20CORRIGINDO.docx%23_Toc509239627 xi Figura 44: Ponto de Interesse III na Alternativa 2 ....................................................... 118 Figura 45: Perfil hidráulico do trecho entre o PV-40 da Bacia A e o PV-30 da Bacia B .................................................................................................................................... 119 Figura 46: Perfil hidráulico do trecho entre os PVs-29 e 30 da Bacia B ...................... 119 Figura 47: Ponto de Interesse IV na Alternativa 2 ...................................................... 120 Figura 48: Perfil hidráulico no último trecho antes da travessia no Ponto de Interesse IV na Alternativa 2 ........................................................................................................... 121 Figura 49: Sistema Proposto de Esgotamento Sanitário Maré /Alegria – duas travessias .................................................................................................................................... 123 Figura 50: Sistema Proposto de Esgotamento Sanitário Maré /Alegria – Otimizado: uma travessia ..................................................................................................................... 124 xii Lista de Tabelas Tabela 1: Índice de saneamento no Brasil ...................................................................... 7 Tabela 2: Níveis de atendimento com água e esgotos dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2015, segundo região geográfica e Brasil ..... 8 Tabela 3: População residente IBGE da Região Administrativa XXX ........................... 60 Tabela 4: Estimativa da população de 2038 da RA XXX pelo método da projeção aritmética ...................................................................................................................... 61 Tabela 5: Estimativa da população de 2038 da RA XXX pelo método da projeção geométrica .................................................................................................................... 61 Tabela 6: Estimativa da população de 1990 da RA XXX pelo método da projeção aritmética ...................................................................................................................... 62 Tabela 7: Estimativa da população de 2038 da RA XXX pelo método da taxa de crescimento decrescente .............................................................................................. 62 Tabela 8: Estimativa da população de 2038 da RA XXX pelo método da curva logística ...................................................................................................................................... 63 Tabela 9: Resumo da população de 2038 da RA XXX por todos os métodos............... 63 Tabela 10: Evolução populacional do bairro da Maré e da área de estudo, ano a ano . 65 Tabela 11: Vazões de esgoto sanitário nas sub-bacias da Bacia A (parte1/2). ............. 85 Tabela 12: Vazões de esgoto sanitário na sub-bacias da Bacia A (parte2/2)................ 86 Tabela 13: Vazões de esgoto sanitário na sub-bacias da Bacia B (parte1/2)................ 87 Tabela 14: Vazões de esgoto sanitário na sub-bacias da Bacia B (parte2/2)................ 88 Tabela 15: Vazão das sub-bacias da Bacia A aplicadas nos PV’s correspondentes da Alternativa 1 .................................................................................................................. 92 Tabela 16: Vazão das sub-bacias da Bacia B aplicadas nos PV’s correspondentes da Alternativa 1 .................................................................................................................. 93 Tabela 17: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A naAlternativa 1 (parte 1/3) ................................................................................................. 94 Tabela 18: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A na Alternativa 1 (parte 2/3) ................................................................................................. 95 Tabela 19: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A na Alternativa 1 (parte 3/3) ................................................................................................. 96 Tabela 20: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 1 (parte 1/3) ................................................................................................. 97 Tabela 21: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 1 (parte 2/3) ................................................................................................. 98 Tabela 22: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 1 (parte 3/3) ................................................................................................. 99 Tabela 23: Vazão das sub-bacias da Bacia A aplicadas nos PV’s correspondentes da Alternativa 2 ................................................................................................................ 100 Tabela 24: Vazão das sub-bacias da Bacia B aplicadas nos PV’s correspondentes da Alternativa 2 ................................................................................................................ 101 Tabela 25: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A na Alternativa 2 (parte 1/3) ............................................................................................... 102 Tabela 26: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A na Alternativa 2 (parte 2/3) ............................................................................................... 103 Tabela 27: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia A na Alternativa 2 (parte 3/3) ............................................................................................... 104 Tabela 28: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 2 (parte 1/3) ............................................................................................... 105 xiii Tabela 29: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 2 (parte 2/3) ............................................................................................... 106 Tabela 30: Planilha de dimensionamento hidráulico da rede coletora da Bacia B na Alternativa 2 (parte 3/3) ............................................................................................... 107 Tabela 31: Estimativa orçamentária para a execução da rede coletora do projeto na Alternativa 1 (parte 1/2) ............................................................................................... 108 Tabela 32: Estimativa orçamentária para a execução da rede coletora do projeto na Alternativa 1 (parte 2/2) ............................................................................................... 109 Tabela 33: Estimativa orçamentária para a execução da rede coletora do projeto na Alternativa 2 (parte 1/2) ............................................................................................... 110 Tabela 34: Estimativa orçamentária para a execução da rede coletora do projeto na Alternativa 2 (parte 1/2) ............................................................................................... 111 xiv Lista de Siglas Sigla Definição ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas BNH Banco Nacional da Habitação CEDAE Companhia Estadual de Águas e Esgotos CESB Companhia Estadual de Saneamento Básico CP Caixa de Passagem DN Diâmetro Nominal EMOP Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro ETE Estação de Tratamento de Esgoto FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço FGV Fundação Getúlio Vargas FUNASA Fundação Nacional de Saúde IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística JEI Junta Elástica Integrada NBR Norma Brasileira PAC Programa de Aceleração do Crescimento PEAD Polietileno de Alta Densidade PIB Produto Interno Bruto PLANSAB Plano Nacional de Saneamento Básico PMSB Plano Municipal de Saneamento Básico PROMORAR Programa de Erradicação de Sub-habitação PS Poço de Serviço PV Poço de Visita PVC Policloreto de polivinila SFS Sistema Financeiro de Saneamento SNIS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento TIL Tubo de Inspeção e Limpeza TL Tubo de Limpeza 1 1. INTRODUÇÃO Saneamento básico consiste em um conjunto de soluções a serem tomadas de forma que o meio ambiente seja favorável à saúde humana, prevenindo doenças, melhorando a qualidade de vida da população e facilitando a atividade econômica. A constituição brasileira vigente – Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – em seus artigos 21º e 23º, que tratam, respectivamente, sobre a competência da União e competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, assegura o direito ao saneamento básico. Este, pautado e definido pela Lei nº. 11.445/2007 como conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos, drenagem e manejo de águas pluviais urbanas. Um dos princípios fundamentais da Lei nº. 11.445/2007 é a universalização dos serviços de saneamento básico, isto é, perante a lei, todos têm direito ao acesso ao abastecimento de água de qualidade e em quantidade suficiente às suas necessidades, à coleta e tratamento adequado do esgoto e do lixo, e ao manejo correto das águas das chuvas. Embora este direito seja garantido por lei, a situação do Brasil ainda é deficiente neste quesito. Dez anos após a criação da lei do saneamento metade da população ainda continua sem acesso a sistemas de esgotamento sanitário. Segundo dados de Diagnóstico dos Serviços de Águas e Esgotos pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), baseado em dados de 2015, 17,7% da população ainda não é atendida por rede de abastecimento de água. Em relação a coleta de esgoto a situação ainda é mais crítica, apenas 50,3% é atendida (BRASIL, 2017). Esta problemática está diretamente relacionada à saúde da população, afetando, negativa e principalmente, à população mais pobre, e está, ainda, diretamente ligada ao aumento da mortalidade infantil. A literatura já relaciona a precariedade no saneamento básico com a ocorrência de diversas doenças. Dentre elas destacam-se: cólera, infecções gastrintestinais, febre tifóide, poliomielite, amebíase, esquistossomose e shiguelose. Por precariedade no saneamento básico entende-se, principalmente, a falta de abastecimento de água em qualidade e quantidades necessárias ao consumo humano e a falta de coleta de esgoto adequada de forma 2 que não haja exposição ao risco de contaminação à população (SEROA DA MOTTA et al.,1994). Quando levado em conta o fator econômico, pode-se atribuir a custos com saneamento como status de investimentos e não de despesas, uma vez que de acordo com estudos da Organização Mundial da Saúde, em relatório de 2014 sobre investimento em água e saneamento, estima-se que cerca de um dólar investido em saneamento básico e água, o PIB global cresça 1,5 % e sejam economizados cerca de quatro dólares em saúde no mundo (UNITED NATIONS, 2014). Considerando-se toda esta conjectura, fica perceptível a necessidade de estudos na área de saneamento básico, principalmente no que diz respeito a esgotamento sanitário. Em áreas mais pobres isto se torna aindamais evidente, uma vez que são locais que, em grande parte, são negligenciados pelas autoridades, acarretando em altas taxas de mortalidade infantil, além de contaminação e doenças por insalubridade. Portanto, investimento na destinação adequada dos esgotos poderá melhorar a qualidade de vida desta população, e, consequentemente, diminuir os gastos do governo com saúde. Logo, a finalidade deste estudo é propor uma concepção com viabilidade técnica e econômica de obras de esgotamento sanitário de um complexo de favelas localizadas na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Maré. Este trabalho foi desenvolvido durante o período de estágio na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro - CEDAE, contemplando além de redes secundárias de coleta de esgoto, o dimensionamento de coletores tronco com função de transportar os esgotos sanitários, outrora encaminhados indevidamente às galerias de águas pluviais e rios, até os Coletores Tronco Faria Timbó e Alegria para enfim serem encaminhados à Estação de Tratamento de Esgotos - ETE Alegria. 3 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Este trabalho tem como objetivo geral a elaboração do estudo de concepção do sistema de esgotamento sanitário do Complexo da Maré. O projeto interligará todas as redes coletoras e troncos coletores existentes na bacia de esgotamento sanitário. Com isso espera-se contribuir na despoluição dos canais afluentes ao Canal do Fundão e, por conseguinte, à Baía de Guanabara. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Diagnosticar a situação atual do esgotamento sanitário da região que compreende a bacia de esgotamento sanitário em estudo; Verificar a topografia da área e definir as sub-bacias de esgotamento; Dimensionar a rede coletora para os locais onde ainda não existem; e Dimensionar o coletor-tronco considerando as interligações da rede existente e da rede coletora nova (projetada). 4 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1. HISTÓRICO Voltar a alguns milhares de anos antes de Cristo pode parecer regredir muito tempo para traçar a história dos sistemas de esgotamentos urbanos, mas é um ponto inicial de análise interessante. Em muitas partes do mundo, animais viviam na natureza em seus habitats e os humanos em pequenas comunidades, causando pouco impacto ao meio ambiente. Nesse contexto, o processo hidrológico ocorre de forma natural, ocorrendo inundações apenas em condições extremas e não sendo agravadas pelo impacto negativo do homem em alterações na superfície. Então, os dejetos humanos seriam “tratados” através de processos naturais (BUTLER; DAVIES, 2000). Sistemas de Esgotamento artificiais foram desenvolvidos assim que os humanos se preocuparam em controlar o ambiente que transformara. Evidencias arqueológicas revelam que o esgotamento – entende-se drenagem urbana e esgotamento sanitário – foi instalado por civilizações antigas tais como Mesopotâmica, Minóica e Grega. Os Romanos são conhecidos por seus feitos em engenharia e saúde pública, em particular, os incríveis aquedutos com a função de levar água para os centros urbanos e o não tão incrível, mas não menos importante sistema de esgoto denominado Cloaca Máxima (BUTLER; DAVIES, 2000). Esta construção do século VI a.C. é considerada o primeiro sistema de esgotos planejado e implantado no mundo, o qual recebia parte dos esgotos domésticos das áreas adjacentes ao fórum Romano e facilitava a drenagem superficial de uma área bem maior, essencial para o controle da malária (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). De acordo com Azevedo Netto, et al. (1983), os primeiros sistemas de esgoto nos Estados Unidos e na Europa foram concebidos para apenas a coleta e transporte de águas pluviais. Somente em 1815 que foi autorizado o lançamento de efluentes domésticos nas galerias de águas pluviais em Londres, e em 1847 tornou-se obrigatório o lançamento das águas residuárias das habitações em galerias públicas. Se por um lado esta alternativa solucionou o problema dos dejetos humanos que até então ficavam abaixo dos pisos das residências causando mau cheiro e atraindo vetores de doenças, por outro lado, na verdade, transferiu o problema para outro lugar: o Rio Thames. Na década de 1850, o rio já estava sujo e exalando odores bem desagradáveis e implicou diretamente na propagação da cólera. Então, alguns 5 esquemas de engenharia para coleta e transporte de águas pluviais e águas residuárias domésticas foram propostos, mas continuavam apenas transferindo o problema de local (das residências, para o rio, do rio para seu estuário ...). Com isso, tornou-se evidente a necessidade de tratamento do esgoto que começou a ser introduzido, neste caso de Londres, na década de 1920 (BUTLER; DAVIES, 2000). 3.2. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NO BRASIL O período do império tem grande destaque no histórico dos esgotos do Brasil. Foi neste período que a população começou a crescer e se concentrar principalmente na capital vigente: o Rio de Janeiro. Os moradores, naquele tempo, lançavam os dejetos e detritos domésticos em ruas e valas, transformando-os em uma imensa cloaca, o que fazia gerar mau cheiro e proliferação de mosquitos e outros vetores. Estas áreas existiam desde o final da década de 1560, mas apenas em 1828 foi criado o primeiro órgão responsável por sua limpeza (BRITTO, 2015). Escravos carregando espécies de tambores que funcionavam como recipiente para estes dejetos e detritos eram designados de “Tigres”. A população branca dispunha os esgotos em seus quintais armazenados em barris de madeira, para que então os Tigres, à noite, transportassem para lançamentos mais próximos. Ainda segundo Britto (2015), em 1857, D. Pedro II assina um contrato para a construção e administração da futura rede de esgotamento sanitário da Cidade, com o objetivo de eliminar as péssimas condições sanitárias da época. Sete anos após a assinatura foram iniciadas as obras, tornando assim, o Rio de Janeiro a segunda capital do mundo a dispor de um sistema de esgotamento sanitário completo, apenas atrás de Londres. Tratando-se a nível de República Federativa, O Governo central tomou as primeiras iniciativas no setor de saneamento em 1934 com a criação do Código de Águas. Tal código foi de suma importância, uma vez que estabeleceu as primeiras diretrizes a respeito dos recursos hídricos (BARTH, 2002). Na década de 1970, foi instituído o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA), que Saiani e Júnior (2010) definiu como: “Um modelo centralizado de financiamento de investimentos em saneamento básico. Baseava-se na concessão, por parte dos 6 municípios, dos direitos de exploração dos serviços às Companhias Estaduais de Saneamento Básico - CESBs de seus respectivos estados, responsáveis pela execução de obras e pela operação dos sistemas. Ao Banco Nacional de Habitação - BNH, órgão responsável pela administração do Sistema Financeiro de Saneamento - SFS, cabia, entre outras responsabilidades, a realização de empréstimos com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS para financiar parte dos investimentos.” No ano de 1986 o Banco Nacional de Habilitação - BNH foi extinto, o que causou um adormecimento do setor de saneamento básico na década de 90. Esta década foi marcada pelo vazio institucional e pouco investimento, mesmo levando em conta a crescente atuação de operações de empréstimo de agências multilaterais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (FGV, 2016). Ainda segundo FGV (2016), na década de 1990, o setor privado, a princípio representado pelas grandes empreiteiras, começa a ganhar relevância após a promulgação da Lei n°8997/1995, conhecida como a Lei de Concessões. Nos anos de 2004 e 2005, são aprovadas a Lei das Parcerias Público-Privado e a Lei dos Consórcios Públicos, tornando o setor do saneamento mais atrativopara o segmento privado, porém tal atratividade é freada pela ausência de arcabouço institucional e regulatório definidos. Esta falta é, em parte, solucionada pela Lei do Saneamento - Lei n°11.445/2007 e sua posterior regulamentação através do Decreto n° 7.217/2010. Recursos Financeiros necessários à viabilização da implementação da lei em questão foram captados através do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, lançado em 2007 pelo Governo Federal. Tal iniciativa teve como objetivo proporcionar o crescimento econômico através de investimentos nos setores de infraestrutura, o que inclui a área de saneamento. Em 2011 ocorreu a segunda fase do programa, conhecido como PAC II, realizando novas chamadas para projetos em infraestrutura. Esta foi na fase a qual o setor de saneamento, principalmente abastecimento de água e esgotamento sanitário, recebeu massivamente fomentação financeira (FGV, 2016). Em 2013 foi lançado pelo ministério das cidades o Plano Nacional de Saneamento Básico - PLANSAB cuja elaboração já era prevista na Lei do Saneamento. Este Plano tem como objetivo o alcance da universalização dos serviços de saneamento e nele estão previstas as metas de curto, médio e longo prazo e diretrizes de como alcançá- 7 las. No que diz respeito ao esgotamento sanitário, a meta é aumentar os baixos índices verificados na zona rural para valores que considerem, no mínimo, o atendimento de 55% dos domicílios que dispõem de rede ou fossa séptica de forma a garantir que pelo menos 87% dos esgotos gerados em 2033 sejam adequadamente dispostos. Da mesma maneira e buscando reverter o grave cenário de degradação ambiental dos corpos hídricos, pretende-se alcançar, em 2033, o índice médio de tratamento de 93% do total de esgotos coletados (BRASIL, 2013). A nível municipal, a Lei do Saneamento e seu Decreto de Regulamentação preveem a elaboração (feita pelos municípios) de seus respectivos Planos Municipais de Saneamento Básico - PMSB. O decreto vincula o acesso de recursos financeiros pelos municípios à aprovação desses planos até dezembro de 2013. Por conta das dificuldades enfrentadas, principalmente pelos pequenos municípios (que não dispõem de força de trabalho adequada) na elaboração desses Planos, o prazo regulamentar estabelecido foi prorrogado, para 2016 e novamente prorrogado para dezembro de 2017 (FGV, 2016). Embora todas estas iniciativas tenham sido tomadas, a situação brasileira ainda se encontra bastante deficitária, apresentando índices de atendimento, principalmente em relação ao esgotamento sanitário, muito aquém do que se espera para a garantia de boa qualidade de vida. A Tabela 1 a seguir mostra o resumo do panorama brasileiro. Tabela 1: Índice de saneamento no Brasil. Fonte: adaptado de SNIS (2017) Pode-se concluir, a partir da Tabela 1, que o cenário brasileiro em relação a serviços de esgotamento sanitário ainda é muito precário, apenas cerca da metade dos esgotos são coletados e, ainda, nem todo esgoto coletado recebe algum tipo de tratamento. Cerca de 57% dos esgotos gerados em todo o território nacional acabam a ser dispostos no meio ambiente in natura, causando impactos socioambientais gravíssimos (SNIS, 2017). Total Urbano Total Urbano 83,3 93,1 50,3 58,0 42,7 74,0 Água Coleta de esgotos Índice de atendimento com rede (%) Índice de tratamento dos esgotos (%) Esgotos Gerados Esgotos Coletados Total Total 8 Quando analisado isoladamente o índice de atendimento por água percebe-se que, neste quesito, o Brasil parece estar mais avançado, entretanto, a universalização dos serviços – meta da Lei do Saneamento – ainda não foi atingida, mesmo para a água. A Tabela 2 mostra estes mesmos índices apresentados anteriormente (cada um deles recebendo o código IN + numeração), mas desta vez divididos por região geográfica. Vale ressaltar que o índice de atendimento com rede não explicita o quesito regularidade no abastecimento, o que pode acarretar em contaminação da água tratada da rede de distribuição. Tabela 2: Níveis de atendimento com água e esgotos dos municípios cujos prestadores de serviços são participantes do SNIS em 2015, segundo região geográfica e Brasil. Fonte: SNIS (2017) Pode-se observar que a Região Norte possui atendimento bem inferior às demais regiões, apresentando apenas 56,9% de cobertura por abastecimento de água potável, índice bem inferior quando comparada com a região de melhor atendimento total (Região Sudeste) que conta com o percentual de 91,2. A respeito do esgotamento, todas regiões brasileiras apresentam índices insatisfatórios. A Região Norte, novamente, aparece como destaque negativo, tratando apenas 16,4% do total de esgotos gerados. Nem as regiões mais desenvolvidas do país escapam deste cenário considerado alarmante, as regiões sul e sudeste não tratam nem a metade do total de esgotos gerados. Logo, fica evidente que o Brasil ainda há muito a avançar no setor de saneamento, com a necessidade de cada vez mais investimentos voltados na universalização dos 9 serviços de água e esgoto. Com isso, espera-se que a saúde pública da população seja afetada positivamente com essas iniciativas, gerando ganhos sociais e econômico-financeiros. 3.3. SITUAÇÃO DO ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO A cidade do Rio de Janeiro, a segunda maior metrópole do país, é um dos principais centros econômicos do Brasil e concentra uma grande quantidade de habitantes - segundo último censo do IBGE (2010) possuía 6.320.446 pessoas. Por ser um grande polo econômico-financeiro é natural que receba mais investimentos em infraestrutura, porém nem sempre os investimentos conseguem acompanhar o crescimento da ocupação do território que em muitos locais se dá de forma descontrolada. Segundo último diagnóstico dos serviços de águas e esgotos gerados pelo SNIS, referentes a dados de 2015, a cidade coleta apenas cerca de 53% dos esgotos gerados, dos quais cerca de 82% passam por algum tipo de tratamento antes de ser descartado em um corpo receptor, enquanto o Estado possui os índices de aproximadamente 52% e 61%, respectivamente para coleta e tratamento de esgoto gerado. Quando analisado o índice de esgoto tratado referido à água consumida, a cidade possui a relação de 43,3%, valor superior à média estadual, que é de 33,7%, e bem próxima à precária média nacional de 42,7%. Para efeitos de comparação, o atendimento de água total na Cidade do Rio de Janeiro é de 98,3%, enquanto a média do Estado é de 92,2% e a nacional de 83,3%. A situação no que diz respeito à água na cidade é satisfatória, necessitando-se de investimentos para atingir 100% de atendimento com pressão adequada e sem apresentar intermitência no abastecimento. Portanto, a tendência é que por ser um setor que tem mais possibilidades de melhora, o esgotamento sanitário deve ser priorizado na cidade de forma que seja possível atingir melhores níveis de atendimento para que um dia o Rio de Janeiro possa ter, além de um bom sistema de abastecimento de água, um adequado sistema de esgotamento sanitário. 3.4. SISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO - DEFINIÇÕES 10 3.4.1. Esgoto Sanitário A norma brasileira a respeito do estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário - ABNT 9648/86 define esgoto sanitário como: “Despejo líquido constituído de esgotos doméstico e industrial, água de infiltração e a contribuição pluvial parasitária”. Este composto por cerca de 99,9% de água, os 0,1% restantes são impurezas de natureza orgânica e inorgânica, constituídas de sólidos suspensos e dissolvidos, bem como de microrganismos (VON SPERLING, 1996). Segundo Jordão e Pessôa (2009) esgoto doméstico (estes compostos essencialmente da água do banho, urina, fezes, papel, resto de comida, sabão, detergentes e águas de lavagem) são despejos líquidos provenientes principalmente de residências,edificações comerciais, instituições ou qualquer edificação que contem instalações de banhos, lavanderias, cozinhas, ou outro dispositivo de utilização de água para fim doméstico. Já os esgotos industriais possuem constituição extremamente diversa pois são despejos líquidos provenientes de qualquer utilização da água para fins industriais, e adquirem características próprias de acordo com o processo industrial que os gerou. Águas de infiltração são águas subterrâneas originárias do subsolo que penetram nos sistemas pelas juntas das tubulações, pelas paredes das tubulações e/ou através das estruturas dos poços de visita, terminal de limpeza, estações elevatórias etc. (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). NBR 9.648 (ABNT,1986) define contribuição pluvial parasitária como “parcela de deflúvio superficial inevitavelmente absorvida pela rede coletora de esgoto sanitário”. De acordo com Dias e Rosso (2012), a contribuição pluvial parasitária é sazonal, condicionada ao regime pluviométrico e às condições de estanqueidade do sistema. Esta encontra caminho para a rede de esgoto sanitário através do escoamento das águas pluviais superficiais pelos tampões de poços de visita, ligações abandonadas dentre outras entradas e, somente são consideradas nas verificações hidráulicas do emissário por gravidade. 3.4.2. Sistema de Esgotamento Sanitário (SES) 11 “O sistema de esgotamento sanitário é a integração dos componentes responsáveis pela coleta, transporte, tratamento e disposição final dos esgotos sanitários” (DIAS; ROSSO, 2012). Tsutiya e Sobrinho (2011) divide o sistema de esgotamento sanitário em: rede coletora, interceptor, emissário, sifão invertido, corpo de água receptor, estação elevatória e estação de tratamento. 3.4.2.1. Rede coletora: Conjunto de canalizações propostas a receber e encaminhar os esgotos das edificações; o sistema de esgotos predial se liga diretamente à rede coletora por uma tubulação chamada coletor predial. De acordo com as condições da via, é possível assentar uma ou duas tubulações. A utilização da rede dupla é recomendável, segundo Tsutiya e Sobrinho (2011), quando houver a ocorrência de pelo menos um dos seguintes casos: Vias com tráfego intenso; Vias com larguras entre os alinhamentos dos lotes igual ou superior a 14 m para ruas asfaltadas e 18 m para ruas de terra; Vias com interferências que impossibilitem o assentamento do coletor no leito carroçável, ou que constituam empecilho à execução das ligações prediais; A partir do ponto em que os coletores se tornam muito grandes e devem ser construídos em tubos de concreto (diâmetros igual ou superior a 400 mm). A utilização de rede simples é recomendada quando não ocorrer nenhum dos casos citados anteriormente. Segundo os mesmos autores, a rede coletora é composta pelas seguintes partes: Ligação predial: “trecho do coletor predial compreendido entre o limite do terreno e o coletor de esgoto” (ABNT, 1986). Coletor de esgoto ou coletor secundário: “tubulação da rede coletora que recebe contribuição de esgoto dos coletores prediais em qualquer ponto ao longo de seu comprimento” (ABNT, 1986). 12 Coletor principal: “coletor de esgoto de maior extensão dentro de uma mesma bacia” (ABNT, 1986). Coletor Tronco: “tubulação da rede coletora que recebe apenas contribuição de esgoto de outros coletores” (ABNT, 1986) e conduz seus efluentes até um interceptor ou emissário (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Órgãos Acessórios de rede: dispositivos que evitam ou minimizam entupimentos nos pontos de singularidade das tubulações, como curvas, pontos de afluência de tubulações, possibilitando o acesso de pessoas ou equipamentos nesses pontos. Estes são imprescindíveis uma vez que nos esgotos há uma grande quantidade de sólidos orgânicos e minerais e a rede funcionar como conduto livre com declividades muitas vezes pequenas (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Segundo a mesma bibliografia estes dispositivos podem ser do tipo: o Poço de visita - PV: dispositivo fixo, constituído por uma construção composta de chaminé de acesso na parte superior (permite a visitação) e uma parte mais ampla denominada balão. o Terminal de Limpeza - TL: dispositivo não visitável composto por tubulação que permite a introdução de equipamento de limpeza e pode substituir o poço de visita no início dos coletores. o Caixa de Passagem - CP: Câmara sem acesso localizadas em mudanças de direção ou declividades. Normalmente não utilizada por não permitir o acesso ao dispositivo. o Tubo de Inspeção e Limpeza - TIL: dispositivo não visitável que permite inspeção e introdução de equipamentos de limpeza e desobstrução dos coletores. o Degrau: Utilizado quando o coletor chega ao PV com diferença de cota inferior a 0,60 m, isto é, o coletor afluente lança seus esgotos diretamente no PV para evitar o remanso hidráulico. 13 o Tubo de Queda: Utilizado quando o coletor chega ao PV com diferença de cota não inferior a 0,60 m para que além de evitar o remanso hidráulico, evite também que o trabalho no poço não seja prejudicado por respingos de esgoto. o Distância entre as singularidades: O espaçamento entre, PV, TIL e TL consecutivos deve ser limitado com a finalidade de permitir que os equipamentos de desobstrução alcancem toda a rede compreendida entre eles. 3.4.2.2. Interceptor: NBR 12.207 (ABNT, 1992) define interceptor de esgoto sanitário como a “canalização cuja função precípua é receber e transportar o esgoto sanitário coletado, caracterizada pela defasagem das contribuições, da qual resulta o amortecimento das vazões máximas”. Este não recebe ligações prediais diretas e localiza-se em partes mais baixas da bacia, normalmente margeando cursos d’água ou canais. 3.4.2.3. Emissário: Para a NBR 9.648 (ABNT, 1986), emissário é “tubulação que recebe esgoto exclusivamente na extremidade de montante”, isto é, tem a função de destinar os esgotos ao destino de interesse (estação de tratamento e/ou corpo receptor) sem receber contribuições durante seu percurso, apenas na sua extremidade montante. Pode ser emissário de recalque, quando é a tubulação de descarga de uma estação elevatória ou emissário de gravidade, quando é a simples interligação de dois pontos de concentração de efluentes dos coletores de esgoto ou interceptores. Pode ser, ainda, a tubulação de descarga do efluente de uma estação de tratamento (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 3.4.2.4. Sifão Invertido: Trecho rebaixado de coletor com escoamento sob pressão que provoca a interrupção do fluxo da mistura de ar e gases que ocorre na lâmina livre do tubo concomitantemente com a interrupção do curso do escoamento livre do esgoto (NUVOLARI, 2003). 14 Sifões invertidos apresentam perfil similar a um "U" e têm como objetivo a transposição de obstáculos como galerias de águas pluviais, adutoras, linhas férreas, cabos elétricos ou de comunicações, depressões do terreno ou cursos d’água (RECESA, 2008). 3.4.2.5. Estação elevatória: NBR 12.208 (ABNT, 1992) define estação elevatória de esgoto sanitário como instalação destinada ao transporte do esgoto do nível do poço de sucção das bombas ao nível de descarga da saída do recalque, esta deve ser dimensionada de forma que tenha a capacidade de acompanhar, aproximadamente, as variações de vazão afluente. Tsutiya e Sobrinho (2011) atentam que nem sempre é possível que o escoamento dos esgotos, sob o ponto de vista técnico e econômico, seja feito pela ação da gravidade, portanto, é necessário o uso destas instalações que transmitam ao líquido energia suficiente para permitir tal escoamento. Segundo os mesmos autores, em princípio, é necessário o uso de estações elevatórias nos seguintes casos: Em terrenos planos e extensos, para evitar que as tubulações atinjam grandes profundidades; Em esgotamento de regiões novas localizadas em cotas inferiores àquelas já executadas; Em reversão de esgotos de uma bacia para outra; Para descarga em interceptores, emissários, ETEs ou em corpos receptores, quando for impossível o escoamento pela ação da gravidade. Para elaboração de projetos de estações elevatórias de esgoto sanitário é importante a escolha adequada da localização das mesmas. Geralmente, são situadas nos pontos mais baixos de uma bacia, ou nas proximidades de córregos, rios ou represas. Segundo a mesma fonte, os principais aspectos a serem considerados na escolha correta da localização das elevatórias de esgoto são: As dimensões do terreno devem satisfazer não só necessidades atuais, mas também futuras (possível expansão); 15 Baixo custo e facilidade em desapropriar o terreno; Disponibilidade de energia elétrica; Facilidade de extravasão do esgoto caso seja necessário; Topografia do local; Sondagens do terreno; Facilidades de acesso; Estabilidade contra erosão; Menor desnível geométrico; Local cuja trajetória da tubulação de recalque seja a mínima; Mínimo remanejamento de interferências; Menor movimentação de terra; Baixo impacto ambiental. 3.4.3. Tipos de Sistema de Esgotamento Sanitário De acordo com Tsutiya e Sobrinho (2011), os sistemas de esgotamento sanitário podem ser de três tipos: Sistema de esgotamento unitário (sistema combinado), Sistema de esgotamento separador parcial (misto) e Sistema de esgotamento separador absoluto. 3.4.3.1. Sistema de Esgotamento Unitário: Neste tipo de sistema, esquematizado na Figura 1, são coletadas e transportadas as águas residuárias (tanto domésticas quanto industriais), águas de infiltração e águas pluviais por uma única rede. Este tipo de sistema foi desenvolvido e teve bom desempenho para regiões frias e subtropicais, com baixa pluviosidade, atendendo cidades pavimentadas e desenvolvidas, permitindo garantir recursos financeiros necessários para obras públicas (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 16 Figura 1: Sistema de esgotamento unitário (sistema combinado). Fonte: Dias (2009) 3.4.3.2. Sistema de Esgotamento Separador Parcial: A Figura 2 esquematiza o sistema de esgotamento separador parcial, que Tsutiya e Sobrinho (2011) define como o sistema em que uma parcela das águas de chuva, vinda de telhados e pátios das edificações são encaminhadas juntamente com águas residuárias (domésticas e industriais) e águas de infiltração do subsolo para um único sistema de coleta e transporte de esgotos. De acordo com Dias e Rosso (2011) muitas vezes os sistemas são planejados para funcionar como separador absoluto, porém devido as ligações clandestinas e interconexões entre os sistemas de esgoto sanitário e o sistema de drenagem pluvial. Estas interconexões têm relação de causa e efeito com diversas circunstâncias. Dentre elas destacam-se: Áreas sem sistema público de esgotamento sanitário; Defasagem na implantação e ampliação das etapas dos componentes do sistema; Delonga da utilização de componentes antigos dos sistemas; Falta de prioridade aos serviços de operação, manutenção e conservação; Falta de planejamento urbano; Dificuldade na fiscalização de obras Falta de controle sobre as ligações prediais clandestinas; Instalações prediais inadequadas; Aspectos culturais e educativos; Entre outras circunstâncias. 17 Figura 2: Sistema de esgotamento separador parcial (misto). Fonte: Dias (2009) 3.4.3.3. Sistema de Esgotamento Separador Absoluto: O sistema de esgotamento separador absoluto denominado pela NBR 9.648 (ABNT, 1986a) apenas “sistema de esgotamento sanitário separador” é definido, segundo a mesma, como “conjunto de condutos, instalações e equipamentos destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar somente esgoto sanitário a uma disposição final conveniente, de modo contínuo e higienicamente seguro”, isto é, neste tipo de sistema as águas pluviais são coletadas e transportadas para um sistema de drenagem pluvial, totalmente independente a este. Tsutiya e Sobrinho (2011) enumeram as vantagens reconhecidas pela utilização deste tipo de sistema de esgotamento sanitário. Dentre elas destacam-se: Utiliza tubos mais baratos, de fabricação industrial, onerando menos custos; Flexibiliza a execução por etapas, de acordo com as prioridades; Diminui o custo do afastamento das águas pluviais, devido ao seu lançamento no curso de água mais próximo, sem a necessidade de tratamento; Não se condiciona e nem obriga a pavimentação da via pública; Reduz a extensão das canalizações de grande diâmetro, pelo fato de não exigir a construção de galerias em todas as ruas; Não afeta negativamente a depuração dos esgotos sanitários. A Figura 3 esquematiza o sistema em questão. 18 Figura 3: Sistema de esgotamento separador absoluto. Fonte: Dias (2009) 3.4.4. Concepção de Sistema de Esgotamento Sanitário A NBR 9.648 (ABNT, 1986a) explana estudo de concepção como estudo de arranjos das diferentes partes de um sistema, organizadas de modo a formarem um todo integrado e que devem ser qualitativa e quantitativamente comparáveis entre si para a escolha do melhor arranjo, sob o ponto de vista técnico, econômico, financeiro e social. De acordo com Tsutiya e Sobrinho (2011), a concepção é elaborada na fase inicial de projeto e tem como objetivos: Identificação e quantificação de todos os fatores que influenciam os sistemas de esgoto; Diagnóstico do sistema existente, considerando a situação atual e futura; Definição de todos parâmetros básicos de projeto; Pré-dimensionamento das unidades dos sistemas, para nortear a seleção da melhor alternativa; Comparação técnica, econômica e ambiental, entre as alternativas, para escolha da alternativa adequada; Definição das diretrizes gerais de projeto e estimativa das quantidades de serviços que devem ser executados na fase de projeto. Muitas vezes, um diagnóstico técnico e ambiental da área de projeto ou um Plano Diretor da bacia hidrográfica podem preceder o estudo de concepção. 19 3.4.5. Estudo de Concepção Para a implementação de um bom sistema de esgotamento sanitário é necessário seu devido planejamento. Isto acontece através da elaboração do estudo de concepção. Tsutiya e Sobrinho (2011) trata estudo de concepção como “o conjunto de estudos e conclusões referentes ao estabelecimento de todas as diretrizes, parâmetros e definições necessárias e suficientes para a caracterização completa do sistema a projetar”. A norma brasileira que norteia o estudo de concepção de sistemas de esgotamento sanitário – NBR 9.648 – “fixa as condições exigíveis no estudo de concepção de sistemas de esgoto sanitário do tipo separador, com amplitude suficiente para permitir o desenvolvimento do projeto de todas ou qualquer das partes que o constituem” (ABNT, 1986a). Para a elaboração deste presente estudo foram consideradas, além da norma em questão, diretrizes e padrões internos da Companhia Estadual de Águas e Esgotos - CEDAE uma vez que é a entidade responsável pela possível e futura realização do projeto. Além da indicação de objetivos e definições de nomenclaturas, a NBR 9.648 determina condições gerais (que estabelecem requisitos e atividades) e específicas no estudo de concepção de sistemas de esgotamento sanitário. Nos requisitos são detalhados os dados disponíveis ou a serem obtidos por investigações paralelas ou estudos (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). Entre os requisitos tem-se: plantas topográficas, dados dos recursos hídricos, características físicas da região, dados demográficos, cadastro do sistema existente, e entre outros (ABNT, 1986a). Em relação às atividades, a presente norma descreve com minúcias as ações para determinar asopções a serem consideradas no estudo comparativo, que definirá a concepção básica, isto é, a melhor opção de arranjo das partes do sistema sob os aspectos técnicos (e sanitários), econômico, financeiro e social (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). Entre as atividades tem-se: delimitação da área, fixação do alcance do plano e do ano de início de operação do sistema, estimativa das populações, delimitação das bacias de esgotamento, verificação da possibilidade de 20 aproveitamento das instalações existentes, descrição da concepção básica, localizando seus componentes em plantas topográficas, e entre outras (ABNT, 1986a). Em condições específicas a norma orienta a respeito de peculiaridades essenciais ao estudo de concepção. Uma dessas é a desconsideração dos limites político- administrativos na delimitação das áreas de planejamento, devendo-se obedecer às condições naturais do terreno. A norma também versa sobre algumas observações acerca da ocupação e população em início e final de plano (ABNT, 1986a). Segundo ReCESA (2008), nas concepções dos sistemas de esgotamento sanitário, é preciso estabelecer um correto plano de escoamento. Portanto é necessário averiguar se algumas características estão sendo atendidas, entre elas: Verificação das profundidades mínimas e máximas de acordo as diretrizes do projeto; Nível de atendimento ao maior número de residências possível; Constatar se os diâmetros dos trechos condizem com o diâmetro mínimo ou máximo do material, ou seja, se não ultrapassou o limite da gama de diâmetros disponível pelos fabricantes; Não apresentar trechos em aclive; Averiguar se as vazões estão corretas, comparando-se as do trecho final da rede com as estipuladas no início do projeto. 3.4.6. Critérios de Projeto 3.4.6.1. Topografia A palavra "Topografia" deriva das palavras gregas "topos" (lugar) e "graphen" (descrever), ou seja, a representação exata de um lugar. Qualquer projeto de engenharia ou arquitetura tem como base a determinação do contorno, dimensão e posição relativa de uma porção limitada de terreno através de cartas ou plantas. Sistemas de Esgotamento Sanitário se desenvolvem em função do terreno sobre o qual assentam pelo que é fundamental o conhecimento pormenorizado desse mesmo terreno, tanto na fase do projeto, como na sua execução. É na Topografia que se encontram os métodos e os instrumentos que permitem esse conhecimento e asseguram uma correta implantação da obra (BORGES, 1977). 21 Uma vez que o escoamento dos esgotos sanitários se dá por conduto livre, através da ação da gravidade, torna-se ainda mais importante o levantamento topográfico da região a qual se destina o projeto. A norma brasileira NBR 13133/94 (ABNT, 1994) versa a respeito da execução de levantamentos topográficos, fixando as condições exigíveis para a execução de levantamento topográfico destinado a obter: Conhecimento geral do terreno: relevo, limites, confrontantes, área, localização, amarração e posicionamento; Informações sobre o terreno (cotas, coordenadas, ...) destinadas a estudos preliminares de projetos; Informações sobre o terreno (cotas, coordenadas, ...) destinadas a anteprojetos ou projetos básicos; e Informações sobre o terreno (cotas, coordenadas, ...) destinadas a projetos executivos. Para o estudo do traçado, precisa-se de planta topográfica planialtimétrica em escala apropriada, com nivelamento dos pontos onde devem ser projetados os órgãos acessórios (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 3.4.6.2. Traçado da Rede A elaboração do traçado será realizada de forma a atender o maior número de economias, de acordo com o interesse do projeto, de maneira a garantir a viabilidade técnica, econômica e ambiental. Conforme explanado por Tsutiya e Sobrinho (2011), o traçado da rede de esgotos está diretamente relacionado à topografia da cidade, uma vez que o escoamento ocorre pelo caimento do terreno, utilizando-se a força da gravidade. Desta forma, é possível ter os seguintes tipos de rede: Perpendicular: em cidades que cursos d’água as cruzam ou circundam. A rede de esgoto é composta por vários coletores tronco independentes, com traçado aproximadamente perpendicular ao curso d’água. Um interceptor marginal receberá os efluentes desses coletores e os encaminhará ao destino adequado, conforme ilustra a Figura 4. 22 Figura 4: Traçado de rede do tipo perpendicular. Fonte: Tsutiya e Sobrinho (2011) Leque: configuração mais apropriada para terrenos acidentados. Neste traçado, os coletores-tronco passam pelos fundos dos vales ou pelos pontos baixos das bacias e neles incidem os coletores secundários, com um traçado que se assemelha a espinha de peixe, conforme observado na Figura 5. 23 Figura 5: Traçado de rede do tipo em leque. Fonte: Tsutiya e Sobrinho (2011) Radial ou distrital: configuração característica de cidades planas. Nesse traçado, ilustrado pela Figura 6, os esgotos se destinarão a diversos pontos baixos em cada distrito ou setor independente da cidade. Figura 6: Traçado de rede do tipo radial ou distrital. Fonte: Tsutiya e Sobrinho (2011) 24 As profundidades máximas e mínimas são importantes fatores para o traçado de uma rede. Para ter conhecimento a respeito da presença de rochas, solos de baixa resistência, nível do lençol freático e demais fatores de análise do subsolo devem ser feitos planos de sondagens, sendo assim possível estabelecer as profundidades máximas e mínimas (RECESA, 2008), assim como estabelecer os serviços para execução e orçamento da obra. A norma brasileira ABNT NBR 9649/1986 (ABNT,1986b) recomenda um recobrimento (ver item 3.4.6.4) não inferior a 90 cm para coletor assentado no leito da via do tráfego, ou a 65 cm para coletor assentado no passeio. Caso haja um recobrimento menor a este deve-se justificar. A profundidade máxima relaciona-se com a economia do sistema em relação às condições de execução e manutenção da rede pública e das ligações prediais. Utiliza- se 4,5 metros como valor de referência, porém em alguns casos pode-se adotar profundidades maiores, estas devem ser justificadas (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). Além das profundidades máximas e mínimas, outros fatores também influenciam no traçado da rede coletora de esgoto. Os órgãos acessórios podem afetar diretamente o traçado da rede, uma vez que de acordo com a disposição das canaletas de fundo deles, é possível ter para uma mesma área diferentes alternativas de traçado (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Por questões operacionais e experiências passadas, a CEDAE - Companhia Estadual de Águas e Esgotos opta por utilizar apenas poços de visita - PV como órgão acessório de rede, evitando terminais de limpeza - TL mesmo em cabeceiras de coletores. A localização da tubulação na via pública, a presença de interferências, a possibilidade do aproveitamento de canalizações existentes e os planos diretores de urbanização também são levados em consideração quanto à elaboração do traçado da rede (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 3.4.6.3. Tensão trativa A tensão trativa, também denominada tensão de arraste, é a componente tangencial do peso do líquido sobre a unidade de área da parede do coletor e atua sobre o material sedimentado, promovendo seu arraste (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). (1) 25 Onde: = tensão trativa = peso específico ( N/m³) = Raio hidráulico ( razão entre área molhada e perímetro molhado) = declividade A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP) desenvolveu estudos e experiências durante a década de 80 e, através de norma interna, passou a utilizar tensão trativa (adotada como 1,0 Pa) para a determinação da declividade mínima. Posteriormente, a norma brasileira NBR 9649 adotou esse procedimento como recomendação para dimensionamentode redes coletoras de esgoto sanitário (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). É importante a devida adoção da tensão trativa para evitar não só obstrução da rede, mas também a geração de sulfetos, que são gases associados a produção de odores desagradáveis, corrosão e toxidez (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 3.4.6.4. Declividades Para início de plano, os coletores também devem ser capazes de promoverem a autolimpeza, esta garantida pela tensão trativa já explanada anteriormente. Segundo Tsutiya e Sobrinho (2011), a declividade a ser adotada deve proporcionar, para cada trecho da rede, uma tensão trativa média não inferior a 1,0 Pa, calculada para a vazão inicial. Para satisfazer esta condição, para um coeficiente de Manning de 0,013, a declividade mínima é dada pela seguinte relação: (2) Onde: = declividade mínima (m/m) = vazão de jusante do trecho no início de plano (L/s) Vale ressaltar a análise da declividade do terreno para a definição da declividade de projeto de cada trecho (atentando-se ao recobrimento mínimo). 26 Em relação a declividade máxima admissível, Tsutiya e Sobrinho (2011) elucida que esta é a que permite velocidade na tubulação igual a 5,0 m/s, para a vazão de final de plano. Para um coeficiente de Manning de 0,013, a declividade máxima é dada pela seguinte relação: (3) Onde: = declividade máxima (m/m) = vazão de jusante do trecho no final de plano (L/s) 3.4.6.5. Seção molhada dos condutos Os coletores, interceptores e emissários são normalmente projetados para funcionar como condutos livres, onde a pressão atmosférica atua na superfície hidráulica, diferentemente do que ocorre com as redes de água e linhas de recalque que trabalham como conduto forçado, pressão interna superior à atmosférica (NETTO; FERNÁNDEZ, 2015). A norma brasileira ABNT NBR 9649/1986 (ABNT,1986b) recomenda que os coletores sejam projetados para trabalhar, no máximo, com uma lâmina d’água a 75% do diâmetro da tubulação, destinando-se a parte superior dos condutos à ventilação do sistema e às imprevisões e flutuações ocasionais de nível. O escoamento é admitido em regime permanente e uniforme, resultando que a declividade da linha de energia equivale à declividade do conduto e é igual à perda de carga unitária (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Modificando-se a fórmula de Manning e adotando-se o coeficiente de Manning de 0,013, é possível a determinação do diâmetro que atenda a condição de lâmina d’água (75%), este é dado pela expressão: ( √ ) (4) Onde: = diâmetro (m) = vazão no final de plano (L/s) 27 = declividade (m/m) Não se limita a lâmina d’água mínima, em virtude de o critério de tensão trativa já garantir a autolimpeza nas tubulações de esgoto (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 3.4.6.6. Diâmetro mínimo A norma brasileira ABNT NBR 9649/1986 (ABNT,1986b) recomenda a utilização de diâmetros não inferior a DN 100, porém a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) adota um diâmetro mínimo de DN 150. 3.4.6.7. Velocidade crítica e velocidade máxima A NBR 9649/1986 (ABNT,1986b) sugere que caso a velocidade final ( ), verificada no alcance do projeto, seja maior que a velocidade crítica ( ), a lâmina d’água deve ocupar apenas 50% do diâmetro do coletor. Esta medida é tomada em decorrência da possibilidade de emulsão de ar no líquido aumentar a área molhada no conduto. √ (5) Onde: = aceleração da gravidade (m/s²) = raio hidráulico de final de plano (m) É preciso enfatizar, novamente, que a norma referida recomenda que a declividade máxima admissível é aquela que corresponde à velocidade final ( ) de 5,0 m/s. 3.4.6.8. Condições de controle de remanso Toda vez que a cota do nível d’água na saída de qualquer PV estiver acima de qualquer das cotas dos níveis d’água de entrada deve ser verificada a influência do remanso no trecho de montante, garantindo, desta maneira, as condições de autolimpeza e condições de escoamento livre (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). 28 3.4.6.9. Materiais das tubulações de esgoto Atualmente no Brasil, o PVC (policloreto de vinila) e seus derivados são os tipos de material mais utilizado nas obras de sistemas de coleta e transporte de esgoto. Para linhas de recalque, os tubos em ferro fundido ou aço são mais utilizados (RECESA, 2008). É necessário se atentar a diversos fatores para a correta escolha do tipo de material a ser utilizado na rede de esgotos. Dentre eles se destacam: as características dos esgotos, as condições locais, os métodos utilizados na construção (RECESA, 2008). De acordo com Tsutiya e Sobrinho (2011) na escolha do material deve-se observar as seguintes características: Resistência a cargas externas; Resistência à abrasão e ao ataque químico; Facilidade de transporte; Disponibilidade de diâmetros necessários; Custo do material; Custo de transporte; Custo de assentamento. a. Tubos de PVC A NBR 14486/2000 (ABNT, 2000) fixa as condições exigíveis para tubos de PVC, destinados à rede coletora e ramais prediais enterrados para a condução de esgotos sanitários e despejos industriais, cuja temperatura do fluido não ultrapasse 40°C. Um tubo de PVC possui 6,0m de extensão e seus diâmetros (nominais) comumente encontrados são de 100, 150, 200, 250, 300, 350 e 400mm, porém esta faixa varia de acordo com cada fabricante (RECESA, 2008). Este tipo de material é a principal alternativa de utilização nas tubulações de coleta e transporte de esgoto, devido à alta resistência à corrosão, ao seu baixo custo, grande disponibilidade e facilidade de transporte, diversidade de diâmetros existentes e o tempo de vida útil do material (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Os tubos de PVC DEFoFo, apenas para condutos forçados, são fabricados com diâmetro externo equivalente ao dos tubos de ferro fundido e destinados à aplicação 29 em sistemas fixos enterrados. Sua gama de diâmetros é a mesma dos tubos PVC convencionais (RECESA, 2008). b. Tubos de ferro fundido São amplamente utilizados em linhas de recalque de elevatórias. Para escoamento livre são utilizados em travessias aéreas, passagem sob rios, ou quando se necessita de tubulações que suportem cargas bem elevadas. Os diâmetros comerciais disponíveis para o ferro fundido são: 100, 150, 200, 250, 300, 350, 400, 500, 600, 700, 800, 900, 1000, 1100 e 1200mm, com comprimento de 6 m (TSUTIYA; SOBRINHO, 2011). Tsutiya e Sobrinho (2011) alertam que por serem sensíveis à corrosão por esgotos e solos ácidos, podem ser necessário revestimentos internos e/ou externos a fim de preservar a integridade do tubo. ReCESA (2008) elenca as vantagens na utilização de tubos de ferro fundido, dentre elas: Resistência a altas pressões; Alta resistência às cargas externas, possibilitando grandes e pequenas alturas de recobrimento; Existência de diferentes tipos de revestimento externo para graus de corrosividade do solo; Garantia de 100% de estanqueidade por diversos fabricantes, não permitindo infiltrações ou vazamentos; Para qualquer tipo de serventia, há um conjunto completo de conexões e peças disponíveis, A depender do tipo de efluente a ser conduzido, o revestimento interno pode ser diferenciado. c. Tubos de aço Segundo Tsutiya e Sobrinho (2011), este tipo de tubo é recomendado nos casos de esforços elevados sobre a linha, como no caso de travessias diretas de grandes vãos, cruzamentos subaquáticos, ou ainda quando se deseja uma tubulação com pouco peso, de estanqueidade absoluta e com alta resistência a pressões de ruptura. Tubos 30 de aço resistem aos efeitos de choques, deslocamentos e pressões externas, devido à sua grande flexibilidade. Os tubos de aço podem ser ponta-bolsa, junta elástica e estão disponíveis
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