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Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE Operações Unitárias A Maior meteorito (num único fragmento) encontrado no mundo (Namíbia); com 60 toneladas de ferro CARACTERIZAÇÃO E DINÂMICA DA PARTÍCULA Prof. Marcos Moreira Toledo – PR 2015 SUMÁRIO 1. CARACTERIZAÇÃO DA PARTÍCULA 01 1.1 Características das Partículas 03 1.2 Análise Granulométrica 11 1.3 Distribuição de Tamanhos 13 1.4 Pipeta de Andreasen 16 2. DINÂMICA DA PARTÍCULA 17 2.1 Efeito da Presença de Fronteiras Rígidas 20 2.2 Influência da Concentração de Partículas 21 2.3 Comprimento da Região de Aceleração 23 2.4 Reômetro de Stokes para Fluidos Não-Newtonianos 24 Bibliografia 26 Prof. Dr. GIULIO MASSARANI – Um Breve Histórico 27 Lista de Exercícios 28 ANEXOS 36 “Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que qualquer outro talento.”(Isaac Newton) APRESENTAÇÃO O primeiro semestre da disciplina de Operações Unitárias A contemplou as seguintes operações industriais: o transporte de líquidos e gases, a compressão de gases, mistura e agitação e trocas de calor. Já neste segundo semestre da disciplina de Operações Unitárias A serão abordados temas como: leitos fixos e expandidos, engenharia de separação e fragmentação e transporte de sólidos. Todos esses conteúdos dizem respeito aos SISTEMAS PARTICULADOS, sistemas onde as partículas se fazem presentes. Alguns exemplos de sistemas particulados são as torres de absorção, os leitos fluidizados, os transportadores pneumáticos e hidráulicos, os decantadores, as centrífugas, os ciclones, entre tantos outros. A fim de dimensionar os mais diferentes sistemas particulados torna-se imprescindível o conhecimento da dinâmica das partículas visando um dimensionamento correto e otimizado. A dinâmica das partículas é afetada, entre outros fatores, pelas propriedades físicas das partículas tornando assim indispensável caracterizá-las. Sendo assim, a introdução aos Sistemas Particulados trata da caracterização das partículas (Capítulo 1) e, em seguida, do estudo da dinâmica das partículas (Capítulo 2). Destacam-se no Capítulo 1 o tamanho e a forma da partícula e as distribuições granulométricas. No Capítulo 2 destacam-se a velocidade terminal da partícula isolada, as influências sobre a velocidade terminal e o método de cálculo da velocidade terminal. Ao final da apostila encontra-se um breve histórico de um dos pesquisadores mais importantes da área de Sistemas Particulados do Brasil, o professor GIULIO MASSARANI. O conteúdo de Sistemas Particulados desta disciplina vem sendo fundamentado, em sua maior parte, na obra do professor Massarani, em consonância com os cursos de graduação e pós- graduação que reconhecem sua importantíssima contribuição aos estudos na área. Também estão presentes nesta apostila diversos exercícios propostos na literatura referentes à caracterização e à dinâmica da partícula. Prof. Marcos Moreira Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 1 1. CARACTERIZAÇÃO DA PARTÍCULA Caracterizar uma partícula significa dar suas características como forma, tamanho, massa específica, área superficial, porosidade, entre outras. A caracterização da partícula ou de um conjunto de partículas é algo de extrema importância nas operações unitárias, pois conhecendo-se a partícula (ou o conjunto de partículas) é possível dimensionar e operar equipamentos mais próximo ao ideal, o que acarreta em menores custos no processo. Quanto ao tamanho as partículas podem ser classificadas em: - pós (partículas de 1m a 0,5mm) - sólidos granulares (de 0,5mm a 10mm) - blocos pequenos (1 a 5cm) - blocos médios (5 a 15cm) - blocos grandes (maiores do que 15cm) O tamanho da partícula pode ser obtido por diversos meios: análise de imagens, difração de luz, por picnometria, por peneiramento, decantação, elutriação ou centrifugação. A picnometria consiste basicamente em se colocar N partículas (com tamanhos próximos) em um picnômetro. Conhecendo-se o volume total do picnômetro, completa- se o picnômetro com um líquido cuja massa específica seja conhecida. Sabendo a diferença de massa entre o picnômetro com as partículas e o líquido e o picnômetro apenas com as partículas, determina-se a massa de líquido utilizada e por conseguinte, o volume utilizado de líquido. Conhecendo-se o volume total do picnômetro determina-se o volume ocupado pelas N partículas e assim, o volume ocupado por cada partícula. Assumindo que as partículas sejam esféricas, determina-se então o diâmetro equivalente da partícula (dP). O peneiramento consiste em fazer a partícula passar através de malhas progressivamente menores, até que ela fique retida. O tamanho da partícula estará compreendido entre a medida da malha que a reteve e a da imediatamente anterior. A média aritmética das aberturas destas malhas servirá para caracterizar o tamanho da partícula. A decantação e a elutriação são métodos indiretos que se baseiam na medida da velocidade de decantação da partícula num fluido. Conhecendo-se a relação entre a velocidade da partícula e o seu tamanho será então determinado o tamanho da partícula. O método de centrifugação, também indireto, obedece ao mesmo princípio da decantação, porém a força gravitacional é substituída por uma força centrífuga cujo valor pode ser bastante grande. É útil principalmente quando as partículas são muito pequenas, sendo por isso de decantação natural muito lenta. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 2 A difração a laser se destaca entre as técnicas destinadas à obtenção de diâmetros médios de partículas inferiores a 75m. Utiliza-se, nesta técnica, o volume como referência de representação da distribuição de tamanho de tamanho de partículas. Nos instrumentos que se utilizam do princípio da difração da luz (Mastersizer por exemplo), um feixe de laser é enviado em direção à amostra a ser analisada. Quando o feixe colimado encontra as partículas, parte do laser é difratado e, em sequência, focado, por meio de lentes, no detector como apresenta a figura a seguir. O diâmetro das partículas é inversamente proporcional ao ângulo do desvio sofrido pelo raio laser, quanto menor o tamanho da partícula, maior será o ângulo de difração. A técnica da análise de imagens refere-se à análise computacional de imagens digitalizadas, de modo a ser o número de (imagens) de partículas a base de representação da distribuição de tamanho de partículas. Nesta técnica existe a aquisição da imagem, que diz respeito ao processo no qual a imagem real da amostra é transformada em uma matriz numérica que é processada pelo computador. Cada ponto de imagem ou elemento de imagem é chamado de “pixel”, podendo ser definido como a menor unidade de resolução, sendo usualmente quadrado e possuindo um valor numérico que representa o brilho e as cores da imagem. Ao conseguir a imagem digitalizada é possível obter medições relativas ao diâmetro, normalmente conhecidos como diâmetros de Feret, que são as distâncias entre duas tangentes em lados opostos da feição em direções fixas como apresenta a figura a seguir. Ao se comparar (b) com (c) igualando Fmáx a dPI e Fmín a dPII é possível determinar a esfericidade por: PI PII d d (1.1) e o diâmetro equivalente por: P P P .S 6.V d (1.2) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 3 sendo que VP e SP podem ser obtidos a partir de uma aproximação geométrica. Considerando por exemplo que a partícula em estudo seja um grãode arroz; pode-se aproximar a forma do grão à de um elipsóide e utilizar as fórmulas de volume e de área superficial do elipsóide na equação anterior para a obtenção do diâmetro equivalente. 1.1 Características das Partículas Seja D o tamanho característico da partícula, obtido por qualquer um dos métodos anteriores. Esta dimensão será o diâmetro, mesmo que a partícula não seja esférica. As características importantes do material poderão ser calculadas como segue: Superfície externa da partícula (SP) 2 P B.DS (1.3) O valor do parâmetro B depende da forma da partícula. Para cubos é igual a 6 e para esferas vale . Volume da Partícula (VP) 3 P C.DV (1.4) O parâmetro C também depende da forma, sendo igual a 1 para partículas cúbicas e /6 para partículas esféricas. Fator de forma () e fator de forma de Leva (L) C B (1.5) 3/22/3 P P L C B 25,0 V S 25,0 (1.6) O fator de forma é igual a 6 para cubos e esferas, sendo maior para partículas irregulares. Muitos produtos de operações de moagem têm fator de forma igual a 10,5. Para materiais pulverizados varia de 7 a 8 e, para partículas laminares de mica, é igual a 55. O fator de forma de Leva é utilizado para calcular a perda de carga de fluidos através de leitos sólidos porosos ou fluidizados. Número de partículas da amostra (N) Sendo m a massa da amostra e a massa específica do sólido, o número de partículas será: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 4 .C.D m N 3 (1.7) Superfície externa total (ST) D. m. B.D .C.D m N.SS 2 3PT (1.8) Superfície específica (Sw) A superfície específica ou área específica é definida como a área superficial da partícula por unidade de massa (ou por unidade volume). D.m S S TW (1.9) O conhecimento da superfície específica é muito importante para os estudos dos fenômenos de transferência de calor e massa. Existem diferentes métodos para a determinação do valor da superfície específica. A primeira é aquela que advém de cálculos dos valores do diâmetro da partícula ou da distribuição de diâmetros de partículas em um aglomerado, dada por: SP W .D. 6 S (1.10) a qual será detalhada mais adiante. A segunda técnica, por meio da adsorção gasosa ou líquida, baseia-se na quantidade em que um determinado soluto (espécie química) é adsorvido fisicamente sobre a superfície da amostra, de modo a formar uma monocamada desse soluto, que é proporcional à sua área superficial. A quantidade de gás adsorvido (nitrogênio ou criptônio, por exemplo) pode ser determinada por gravimetria, volumetria ou por técnica de fluxo contínuo. Diâmetro equivalente (dP) É o diâmetro da esfera com volume igual ao volume da partícula. 3/1 P P 6.V d (1.11) Diâmetro de peneira (d#) É a média aritmética entre a medida da malha que reteve a partícula e a da malha imediatamente anterior. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 5 Diâmetro de Stokes (dSt) É o diâmetro definido relativo ao escoamento laminar de uma esfera em ReD<0,1 a partir de um balanço de forças no instante em que a força resultante é nula. Sabendo-se então que o peso da partícula deve ser igual à soma do empuxo com a força de resistência, tem-se: .g.VP PS (1.12) .g.VE P (1.13) tSt 2 tD d .vd...3 2 .A.v.C F (1.14) D D Re 24 C (para ReD<0,1) (1.15) .d.v ReD (1.16) dFEP (1.17) )g( .v18. d S t St (1.18) onde viscosidade do fluido massa específica do fluido S massa específica do sólido g aceleração da gravidade vt velocidade terminal CD coeficiente de arraste ReD número de Reynolds da partícula A partir da substituição de (12)-(14) em (17) é possível deduzir a equação para o coeficiente de arraste (CD), e a partir disso determinar os valores de CDRe 2 e CD/Re com auxílio de (16). Relações entre dP, d# e dSt Para partículas com um “certo grau de uniformidade” (isométricas aquelas que apresentam 3 eixos perpendiculares entre si, como a esfera, o cubo e o tetraedro regular) pode-se considerar que: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 6 0,065 log.843,0 d d P St (1.19) e de modo mais amplo, K d d P # (1.20) O valor de K varia em função do material. Para a areia, por exemplo, o valor é de 0,97. Para uma partícula esférica dSt=dP. Diâmetro médio de Partícula O diâmetro médio em massa é dado por: ii dxd (1.21) onde xi é a fração em massa do diâmetro i. O diâmetro da partícula cujo volume é igual ao volume médio de todas as partículas presentes em uma amostra é dado por: 3/1 3 i i d x 1 d (1.22) O diâmetro da partícula em que a área superficial é igual à média das áreas superficiais de todas as partículas presentes em uma amostra é dado por: 3 i i i i d x d x d (1.23) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 7 Diâmetro médio de Sauter ( D ) É o diâmetro da partícula cuja relação volume/superfície é a mesma para todas as partículas presentes em uma certa amostra. Pode ser obtido pela divisão de dp 3 dado por (22) por dp 2 dado por (23). Assim tem-se que: i i d x 1 D (1.24) É o diâmetro médio de partícula mais utilizado em sistemas particulados, transferência de calor e de massa, cinética e catálise. Considere que as partículas de um dado material apresentem os fatores B e C e a massa específica constantes independentemente do tamanho das partículas. Sabendo que: m dD dD dN B.D S 0 2 W (1.25) e dD dX .C.D m dD dN 3 S (1.26) então S W .DC. B S (1.27) e o diâmetro médio de Sauter é dado por: SW .C.S B D (1.28) Esse diâmetro também é dado por: 1 0 .dD dD dX . D 1 1 D (contínua) (1.29) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 8 para uma distribuição contínua, e por: n 1i i i D X 1 D (discreta) (1.30) para uma distribuição discreta, onde: iX fração contida em determinada peneira iD média aritmética dos tamanhos das peneiras i-1 / i Arredondamento (Ar) e Circularidade (C) A circularidade e o arredondamento comparam a superfície do objeto com a superfície do disco do mesmo perímetro, ou 2 P P 4π C 1 Ar S (1.31) onde P é o perímetro. Encontra-setambém a seguinte definição para o arredondamento: P C A A C 1 Ar (1.32) onde AC é a área relativa ao menor diâmetro de uma esfera ciscunscrita, dpI, e AP é a área projetada da partícula em posição de repouso, ou seja, é como se deixasse tal partícula repousar sobre uma determinada superfície e nela deixasse grafadas as suas dimensões bidimensionais (estáveis), conforme a figura a seguir. Para C<1,25 a partícula é circular, para 1,25<C<2,0 a partícula é dita angular e para C>2,0 a partícula é comprida. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 9 Alongamento (Al) O alongamento mede a razão entre o maior e o menor eixo do objeto, ou seja: II I dp dp b a Al (1.33) Esfericidade () A esfericidade expressa a forma de uma partícula independente de seu tamanho. A definição mais importante diz que é a razão entre a área superficial da esfera de mesmo volume que a partícula e a área superficial da partícula. PP P P 2 P .Sd 6.V S d (1.34) A esfericidade pode ser determinada através da medida da superfície específica que pode ser feita por diferentes técnicas como o BET, a permeametria e por meio da difusão de Knudsen. Seja dP a dimensão característica da partícula. A equação (27) toma a forma: SP W .DC. B S (1.35) onde B=/ e C=/6, portanto, Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 10 SPW .D.S 6 (1.36) Uma definição clássica diz que a esfericidade é a razão entre o diâmetro de uma esfera de igual volume da partícula e o diâmetro da menor esfera circunscrita de diâmetro dpI, ou seja I P dp d (1.37) Outra definição para esfericidade é a relação entre o diâmetro do círculo com área igual à projeção da partícula e o diâmetro do menor círculo circunscrito à partícula (dpI), ou seja I P dp 4.S (1.38) Existem outras definições para a esfericidade baseadas nas dimensões “a” (maior dimensão), “b” (menor dimensão) e “c” (dimensão intermediária) como, por exemplo: 1/3 2 a.c b (1.39) Uma forma simples e rápida de se fazer uma estimativa sobre a esfericidade de uma partícula é dividir a menor dimensão pela maior dimensão, ou seja a b1 Al (1.40) Porosidade da Partícula A porosidade de uma partícula é a relação entre o volume dos seus poros abertos e o volume total da partícula. A porosidade da partícula pode ser determinada por porosimetria por intrusão de mercúrio, a qual consiste em intrudir-se mercúrio líquido, sob pressão de até 400MPa, Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 11 em uma determinada amostra, forçando o mercúrio a penetrar nos poros do material (utiliza-se uma pressão para cada diâmetro de poro, permitindo, dessa maneira, uma ampla distribuição de tamanho dos poros), avaliando-se diâmetros de poros superiores a 0,03m. Para diâmetros de mesma ordem de grandeza e menores, pode-se utilizar a técnica da picnometria gasosa, a qual é baseada na difusão de um gás inerte no interior da partícula. A escolha do gás inerte depende da relação entre o diâmetro da molécula do gás e o diâmetro do poro, no que decorre o primeiro ser, necessariamente, menor do que o segundo. 1.2 Análise Granulométrica É o método que consiste em se passar o material através de uma série de peneiras com malhas progressivamente menores, cada uma das quais retém uma parte da amostra. Esta operação é aplicável a partículas entre 7cm e 40m. Todavia, abaixo de 80m o peneiramento já é insatisfatório. O material retido em cada peneira é pesado separadamente, sendo a sua quantidade relacionada com a abertura da malha que o reteve. Existem diversas séries de peneiras, mas a mais utilizada no Brasil é a série Tyler (veja a Tabela 1). Ela consta de catorze peneiras e tem como base uma peneira de 200 malhas por polegada (200 mesh), feita com fios de 0,053mm de espessura, o que dá uma abertura livre de 0,074mm. As demais peneiras da série e que são colocadas acima desta durante o ensaio, apresentam 150, 100, 65, 48, 35, 28, 20, 14, 10, 8, 6, 4 e 3 mesh respectivamente. Quando se passa de uma peneira para a imediatamente superior a área da abertura é multiplicada por dois e, portanto, o lado da malha é multiplicado por 2 . Tabela 1. Peneiras da Série Tyler Padrão. Mesh m Mesh m Mesh m 2 1/2 8000 16 1000 115 125 3 6730 20 841 150 105 3 1/2 5660 24 707 170 88 4 4760 28 595 200 74 5 4000 32 500 250 63 6 3360 35 420 270 53 7 2830 42 354 325 44 8 2380 48 297 400 37 9 2000 60 250 500 25 10 1680 65 210 635 20 12 1410 80 177 14 1190 100 149 Os resultados de uma análise granulométrica podem ser apresentados na forma de tabelas ou gráficos. A Tabela 2 é a análise granulométrica diferencial (AGD) do material e a Tabela 3 é a análise granulométrica acumulada de grossos ou retidos (AGAR) e a análise granulométrica acumulada de finos (AGAF). Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 12 Tabela 2. Análise granulométrica diferencial (AGD). Peneiras Abertura Di(mm) iD (mm) Fração i-1 / i iX 4 4,760 6 3,360 4,013 4/6 0,0251 8 2,380 2,844 6/8 0,1250 10 1,680 2,006 8/10 0,3207 14 1,190 1,410 10/14 0,2570 20 0,841 1,000 14/20 0,1590 28 0,595 0,711 20/28 0,0538 35 0,420 0,503 28/35 0,0210 48 0,297 0,356 35/48 0,0102 65 0,210 0,252 48/65 0,0077 100 0,149 0,178 65/100 0,0058 150 0,105 0,126 100/150 0,0041 200 0,074 0,089 150/200 0,0031 panela < 0,074 <0,074 - 200 0,0072 O valor de iX é a razão entre a massa retida na peneira i e a soma da massa retida em todas as peneiras. Tabela 3. Análise granulométrica acumulada (AGA). Peneiras Abertura Di(mm) Fração Acumulada Retida iX-1 (AGAR) Fração Acumulada de finos iX (AGAF) 4 4,760 0,0000 1,0000 6 3,360 0,0251 0,9749 8 2,380 0,1501 0,8499 10 1,680 0,4708 0,5291 14 1,190 0,7278 0,2721 20 0,841 0,8868 0,1131 28 0,595 0,9406 0,0594 35 0,420 0,9616 0,0384 48 0,297 0,9718 0,0282 65 0,210 0,9795 0,0205 100 0,149 0,9853 0,0143 150 0,105 0,9894 0,0106 200 0,074 0,9925 0,0075 - 200 - 1,0000 0,0000 O valor de iX-1 é dado por: i21i X...XXX-1 (1.41) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 13 1.3 Distribuições de Tamanhos Gates-Gaudin-Schumann (GGS) m k D X (1.42) 1-m k D k m dD dX (1.43) onde Dk, m>0 e k=D100. Para a determinação de m basta plotar ln(X) versus ln(D), pois: m.ln(k)-m.ln(D)ln(X) (1.44) O coeficiente angular da reta representada pela equação (44) dará o valor de m. Para m=1 a distribuição é uniforme. Nos casos usuais m>1. Para D pequeno recai na distribuição RRB. Rosin-Rammler-Bennet (RRB) n)-(D/D'e1X (1.45) n)(D/D'- 1n e. D' D D' 1 dD dX (1.46) onde n>0 e D’=D63,2. Para a determinação de n basta plotar ln(D) versus ln[ln(1/(1-X))], pois: )n.ln(D'-n.ln(D) X-1 1 lnln (1.47) O coeficiente angular da reta representada pela equação (47) dará o valor de n. Quando n>1 verifica-se a forma de “S” para a função representadapela equação (45). O valor de D para (dX/dD)max e n>1 é dado por: 1/n (dX/dD) n 1-n D'D max (1.48) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 14 Log-Normal (LN) 2 erf(Z)]1[ X (1.49); )ln(2 )D/Dln( Z 50 (1.50) ...7.3! Z 5.2! Z 3.1! Z -Z 2 )duexp(-u 2 erf(Z) 753Z 0 2 (1.51) erf(Z)erf(-Z) (1.52) )ln( D2 )exp(-Z dD dX 2 (1.53) 1 D D D D 15,866 50 50 84,134 (1.54) A reta na representação gráfica é feita com ln(D) em função de X. Para =1 todas as partículas têm o mesmo diâmetro. O valor de D para (dX/dD)max é dado por: 2 max )-(ln 50(dX/dD) .eDD (1.55) Frare et al. (2000) propuseram uma metodologia para a obtenção do diâmetro médio e do desvio-padrão da distribuição LN. Através dessa metodologia faz-se a regressão linear de ln(D) em função de z que é dado de acordo com o domínio de X segundo as equações abaixo. para 0X0,5 2X 1 t (1.56) 32 2 ftetdt1 ctbta tz (1.57) para 0,5<X1,0 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 15 2X-1 1 t (1.58) 32 2 ftetdt1 ctbta -tz (1.59) Os valores das constantes são: a=2,51557;b=0,802853;c=0,010328;d=1,432788;e=0,189269;f=0,001308 A equação utilizada na regressão é dada por: zln(D) (1.60) Tendo sido determinados o coeficiente angular e o coeficiente linear, são obtidos D50 e por: )exp(D50 (1.61) )exp( (1.62) Diâmetro médio de Sauter a partir das diferentes distribuições Conhecido o modelo de distribuição que melhor representa uma amostra, o diâmetro médio de Sauter pode ser calculado através das seguintes expressões do Quadro 1: Quadro 1.1. Equações para o diâmetro médio de Sauter. Modelo Diâmetro médio de Sauter GGS m 1).k-(m D (1.63) RRB n 1 -1 D' D (1.64) 0 1m dtet tm (1.65) LN 250 )(ln 2 1 -.expDD (1.66) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 16 1.4 Pipeta de Andreasen O peneiramento tradicional é desaconselhado, por falta de precisão, na análise granulométrica de partículas menores que cerca de 70m (abertura da peneira Tyler n o 200: 74m). Neste caso recomenda-se vivamente o emprego da Pipeta de Andreasen que conduz, de um modo simples, confiável e pouco oneroso à distribuição de tamanhos expressa em termos do diâmetro da esfera que tem a mesma velocidade terminal que a partícula no movimento lento (regime de Stokes): dSt. A caracterização do diâmetro através de seu comportamento dinâmico é particularmente interessante no estudo do sedimentador, da câmara de poeira, do ciclone, da centrífuga e do precipitador eletrostático. Estabelece-se uma relação entre a concentração da suspensão medida num determinado instante de tempo em um plano de referência da proveta e a fração em massa das partículas (X) com diâmetro menor que dSt, ou seja: c(0) c(t) )X(dSt (1.67) onde c(0) está diretamente relacionado com a massa total para preencher a proveta. Essa técnica pode ser aplicada na faixa aproximada de 3m a 70m. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 17 2. DINÂMICA DA PARTÍCULA Seja uma partícula de massa m, volume V e densidade S movendo-se com velocidade v (velocidade do centro de massa da partícula) em um fluido de densidade . Seja u a velocidade do fluido. A equação do movimento da partícula é dada por: dS F.b)V.( dt dv m (2.1) onde “b” é a intensidade do campo exterior e “Fd” é a força resistiva que o fluido exerce sobre a partícula (não inclui o empuxo!). No campo gravitacional b=g (g aceleração da gravidade) e no campo centrífugo b= 2 .R ( velocidade angular da partícula; R distância da partícula até o centro da curvatura). Admitiremos que a partícula apresente um “certo grau de uniformidade” em sua forma, tornando aceitáveis as seguintes suposições: a) A posição relativa partícula-fluido não afeta o valor da força resistiva Fd; b) dF tem a direção da velocidade relativa vu . u é a velocidade do fluido e v é a velocidade da partícula. Dentro destas hipóteses, v-u )v-u( .v-u..CA. 2 1 F 2 Dd (2.2) onde CD é o coeficiente de arraste da partícula e A é uma área característica da partícula dada por: 4 .d A 2 P (2.3) A medida da velocidade terminal vt leva à determinação experimental do coeficiente de arraste CD, pois a partir das equações (2.1)-(2.3) para dv/dt=0 tem-se que: 2 t SP D v g).(d . 3 4 C (2.4) Verifica-se que CD é uma função do número de Reynolds e da esfericidade da partícula. A seguir apresenta-se um gráfico de CD em função do número de Reynolds da partícula. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 18 Considerando o escoamento ao redor de uma esfera isolada, o regime de Stokes vai de Re=0 até Re=1, o regime intermediário de 1 a 500, o regime de Newton de 500 a 2.10 5 e a partir de Re=2.10 5 tem-se o regime turbulento. É possível verificar na figura acima que para uma esfera isolada o coeficiente de arraste torna-se constante e igual a 0,2 no regime turbulento. As relações CD.Re 2 e CD/Re são de grande interesse neste estudo pois não utilizam U e nem dP respectivamente. Estas relações são dadas por: 2 S 3 P2 D b)..(.d . 3 4 ReC (2.5) 32 SD U b)..( . 3 4 Re C (2.6) onde v-uU (2.7) e U..d Re P (2.8) A seguir são apresentadas algumas relações para partículas esféricas e isométricas (aquelas que apresentam 3 eixos perpendiculares iguais entre si – esfera, cubo, tetraedro regular). Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 19 partícula esférica isolada para Re<50.000 1/0,63 0,63 0,63 D 0,43 Re 24 C (2.9) -1/0,95 -0,95/2 2 D -0,95 2 D 43,0 ReC 24 ReC Re (2.10) 1/0,88 0,88 D 0,88/2 D Re/C 43,0 Re/C 24 Re (2.11) partícula isométrica isolada para Re<50.000 e 0,65<<1 1/0,85 0,85 2 0,85 1 D K Re.K 24 C (2.12) -1/1,2 -1,2/2 2 2 D 1,2- 2 D1 K ReC 24 Re.CK Re (2.13) 1/1,3 1,3 D 2 1,3/2 D1 Re/C K Re/CK 24 Re (2.14) 0,065 log.843,0K1 (2.15) .88,431,5K2 (2.16) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 20 Quadro 2.1. Correlações para a partícula isométrica isolada. Regime de Stokes Re<0,1 Regime de Newton 1.000<Re<10.000 Re.K 24 C 1 D (2.17) 2D KC (2.18) .18 b)..(K.d U S1 2 P (2.19) 2 PS .K3 b.d).(4 U (2.20) b)..(K U..18 d S1 P (2.21) b).(4 .K3.U d S 2 2 P (2.22) 2.1 Efeito da Presença de Fronteiras Rígidas Quando a partícula se movimenta em fluido com sua velocidade terminal, essa velocidade pode variar dependendo da distância que a partícula se encontra da parede mais próxima. A partir disso, define-se o parâmetro kP dado por: v v k tP (2.23) onde v é a velocidade da partícula isolada e vt é a velocidade da partícula em uma dada condição de distância da parede. As relações abaixo servem para determinar kP para partículas isométricas com 0,65<<1 e 0<DP/Dt0,5. Quadro 2.2. Correlações para kP. Re<0,1 4 P .475,01 1 k (2.24) 0,1< Re<1.000 BP A.Re1 10 k (2.25) 2,79e.91,8A (2.26) .281,000117,0B (2.27) Re>1.000 5,1 P 1k (2.28) v..d Re P (2.29) t P D d (2.30) onde Dt é o diâmetro do tubo. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 21 2.2 Influência da Concentração de Partículas A velocidade terminal de uma partícula é influenciada pela presença de outras: um aumento na concentração da suspensão acarreta uma redução nesta velocidade, fato importante no estudo da separação sólido-fluido. A clássica correlação proposta por Richardson e Zaki é válida para porosidades inferiores a 75%, n t .vv (2.31) ou n.vU (2.32) onde v é a velocidade terminal da partícula isolada, é a porosidade e vt é a velocidade terminal de uma partícula não isolada. U está definido na equação (2.7). Quadro 2.3. Valores de n da equação (2.32) para partículas arredondadas. Re<0,2 65,3n (2.33) 0,2< Re<1 1.Re35,4n -0,03 (2.34) 1< Re<500 1.Re45,4n -0,1 (2.35) Re>500 39,1n (2.36) Na sedimentação, vt da equação (2.32) é a velocidade da frente de sedimentação. Conhecendo-se os diferentes valores de vt para diferentes concentrações de um material A é possível de se realizar uma regressão linear a partir da equação (2.32), onde: )vln()ln(n)ln(vt (2.37) e determinar v. Com v entra-se na equação (2.6) e calcula-se CD/Re, o qual por sua vez, conhecendo-se a esfericidade da partícula, serve de entrada para a equações (2.10) ou (2.13) para se obter o valor de Re. Com Re entra-se na equação (2.8) e calcula-se então o diâmetro das partículas na suspensão em análise. Quadro 2.4. Valores de U/v da equação (2.32) para porosidades de 0,5 a 1. Re<0,2 94,3.83,0U v 0,5<<0,9 (2.38) 8,3.8,4U v 0,9<<1 (2.39) 1< Re<500 BA.Re1 1 v U 0,5<<0,95 (2.40) 5,960,28εA (2.41) ε33,035,0B (2.42) Re>2.000 29,2.095,0vU e 0,5<<0,95 (2.43) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 22 No transporte pneumático ou hidráulico vertical (>0,8) a equação (2.32) também serve de base para se estimar a porosidade na operação. Seja “A” a área transversal do transportador, QF a vazão volumétrica superficial de fluido e QS a vazão volumétrica superficial de sólido. Sendo U dado pela equação (2.7) tem-se que: A Q u F (2.44) A)1( Q v S (2.45) logo nSF A)1( Q A Q v 1 v v-u v U (2.46) Assim resolvendo a equação: nSF A)1( Q A Q v 1 (2.47) é possível determinar o valor da porosidade () do leito. Serão necessárias informações sobre o diâmetro e sobre a esfericidade da partícula, pois com essas informações calcula-se CD.Re 2 , depois Re e depois v que será utilizado na equação (2.47). Baseados na equação (2.32) Michael e Bolger desenvolveram um método que permite a caracterização de partículas floculadas (diâmetro e massa específica médios, grau de floculação e velocidade de sedimentação dos flocos). Uma vez determinada experimentalmente a velocidade de sedimentação da suspensão v a diferentes concentrações co, os parâmetros desejados podem ser estimados através do seguinte sistema de equações: 4,65ok.c1.vv (2.48) .18 )..(D v FL 2 FL g (2.49) S S FL k. (2.50) onde Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 23 v – velocidade de sedimentação da interface lodo-líquido clarificado no ensaio em batelada; v – velocidade terminal do floco à diluição infinita; k – volume de flocos por unidade de massa de sólido seco (fornece o grau de floculação); co – concentração em massa de sólido seco por unidade de volume de suspensão; DFL – diâmetro médio dos flocos; FL – massa específica dos flocos; – massa específica do fluido; S – massa específica do sólido seco; g – aceleração da gravidade; – viscosidade do fluido. 2.3 Comprimento da Região de Aceleração O comprimento da região de aceleração refere-se à distância na qual a partícula isolada atinge a sua velocidade terminal. O conhecimento desse comprimento é importante, principalmente quando se deseja obter experimentalmente o valor da velocidade terminal. Supondo que uma partícula de massa “m” e volume “V” esteja em movimento com velocidade “v” em um fluido parado e que o movimento da partícula seja no mesmo sentido da aceleração gravitacional, então: 2D S v. 2 A.C .g)V.( dt dv m (2.51) ou 2D S v. m2 A.C .g).( m V dt dv (2.52) Sabendo que dt dL v (2.53) então 2 pS D S v. d4 3C .g)1( dL dv v (2.54) v 0 2 pS D S L 0 v. d4 3C .g)1( v.dv dL (2.55) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 24 Utilizando-se a regra de Simpson para integrar (2.55), tem-se que: nn h L 13210 4...424 3 (2.56) onde n é um número par, h=v/n e 1 2 i pS D S v. d4 3C .g)1(.v ii (2.57) Para n=2 e n=4, (2.56) torna-se respectivamente: 210 4 3 h L (2.56a) 43210 424 3 h L (2.56b) 2.4 Reômetro de Stokes para Fluidos Não-Newtonianos É possível determinar a reologia de um fluido não-newtoniano em regime de Stokes através da metodologia apresentada a seguir. Obtendo-se experimentalmente a velocidade terminal de partículas de massas específicas diferentes em tubos de diâmetros diferentes é possível obter CD e Re dados por: 2 t SP D v g).(d . 3 4 C (2.58) 1/0,85 0,85 2 0,85 D 3,54β 1 KC e K 24 Re (Re<35) (2.59) Com Re obtem-se a viscosidade efetiva dada por: Re ρ.dp.v μ t EF (2.60) A partir de equações para a taxa de distensão * apresentadas no Quadro 6 é possível obter a tensão de cisalhamento () no fluido por: Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 25 *.μ EF (2.61) Com os diversos pares de valores de e * é possível então montar uma equação do tipo: n .k (2.62) a qual descreve o comportamento reológico do fluido. Quadro 2.5. Dinâmica da partícula sólida em fluido não-newtoniano. Partículas esféricas e não esféricas isoladas dp v 62,346,1385,839,0* t2 (2.63) Deslocamento de partícula esférica ao longo do eixo principal do tubo dp v 39,0* t81,6 e (2.64) <0,5 Efeito de concentração na fluidodinâmica de partículas dp U1 9* (2.65) <0,9 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 26 BIBLIOGRAFIA Alguns Aspectos da Separação Sólido-Fluido. G. Massarani; Programa de Engenharia Química COPPE/UFRJ - Rio de Janeiro, 1992. Fluidodinâmica em Sistemas Particulados. G. Massarani; Editora E- papers, Rio de Janeiro, 2002. Linearização do modelo log-normal para distribuição de tamanho de partículas. Frare, L. M; Gimenes, M. L; Pereira, N. C.; Mendes, E. S. Acta Scientiarum 22(5):1235-1239, 2000. ISSN 1415-6814. Operações Unitárias em Sistemas Particulados e Fluidodinâmicos. M.A. Cremasco; Blucher, 2014. Princípios das Operações Unitárias. A.S. Foust, L.A. Wenzel, C.W. Clump, L. Maus, L.B. Andersen; LTC, 1982. Problemas em Sistemas Particulados. G. Massarani; Editora Edgard Blucher, São Paulo, 1984. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 27 PROF. Dr. GIULIO MASSARANI – UM BREVE HISTÓRICO Giulio Massarani nasceu em Roma, em 16 de dezembro de 1937. Filho de judeus italianos, era o caçula dos três irmãos e veio com a família da Itália para o Rio de Janeiro com cerca de um ano e meio de idade, por causa da perseguição aos judeus. Formou-se em Engenharia Química e em Química Industrial pela Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil, atual UFRJ. É mestre pela Universidade de Houston, Texas, e Doutor pela Universidade Paul Sabatier, em Toulose, na França. Toda sua vida profissional foi vinculada à COPPE, no Programa de Engenharia Química, do qual fez parte desde a sua criação. Orientou 56 dissertações de mestrado e 26 teses de doutorado. Publicou mais de 200 trabalhos técnicos em revistas científicas, é autor de 20 livros e publicações didáticas. Formou doutores que criaram cursos de pós-graduação em vários estados do país. Seu trabalho teve grande repercussão nos cursos de engenharia química de muitas universidades brasileiras. Ele também colaborava de forma permanente com instituições de ensino e pesquisa na França, Estados Unidos e Chile. Massarani foi agraciado com vários prêmios durante sua vida acadêmica. Entre eles, destacam-se: Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, concedido pelo Governo Federal; Medalha Rilem (Réunion Internationale des Laboratoires d’Éssais et de Recherches sur les Matériaux et les Constructions); Medalha Prof. João Cristóvão Cardoso, do Instituto de Química da UFRJ; e Prêmio Álvaro Alberto de Tecnologia, da Prefeitura do RJ. Também foi Membro Fundador da Academia Brasileira de Engenharia. Giulio Massarani faleceu no dia 28 de setembro de 2004 durante o Congresso Brasileiro de Engenharia Química (COBEQ) em Curitiba-PR, deixando a esposa - Edna - e quatro filhos - Mariana, Paulo, Luisa e Susana. Massarani é o grande mentor das pesquisas em Sistemas Particulados no Brasil. (Texto extraído do folder de promoção do livro “Aplicações em Sistemas Particulados” – Edição comemorativa dos 30 anos da área de pesquisa em Sistemas Particulados do DEQ/UFSCar, da publicação no JC e-mail 2616, de 29 de Setembro de 2004 e da publicação da FAPERJ.) Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 28 Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE Disciplina: Operações Unitárias A Prof. Marcos Moreira Lista de Exercícios 1) Sejam duas partículas de vidro (=2,5g/mL), um cilindro com 5mm de diâmetro e 3,5mm de altura e um paralelepípedo 2,9mm x 5,5mm x 5,5mm. Calcule SP, VP, dP, (use D=dP) e . 2) Na intenção de caracterizar grãos de arroz, obteve-se uma amostra de 490 grãos, os quais apresentaram o formato de esferoide prolato, em que a média do raio menor foi de 0,97mm, e a média do raio maior, de 4,61mm. No sentido de avaliar a massa da amostra, utilizou-se um cadinho de massa igual a 30,5g que, após a adição dos 490 grãos, acusou massa de 43,5g. Com o objetivo de obter a massa específica do arroz, utilizou-se a técnica de picnometria, lançando-se mão de um picnômetro de 50mL e massa de 22,3g. Ao enchê-lo com água, verificou-se que o recipiente acusou massa de 72,2g. No sentido de avaliar o volume de água deslocado, que está associado ao da amostra de interesse, adicionaram-se os grãos no picnômetro, encontrando-se a massa de 74,3g, a qual corresponde à massa do picnômetro adicionada à de água e à da amostra. Desta maneira, pede- se: a) a massa específica da água determinada por picnometria; b) a massa específica do arroz determinada por picnometria; c) o diâmetro equivalente de partícula do arroz advindo da picnometria; d) sabendo que o volume de um esferoide prolato pode ser dado por V=4/3.(.a.b 2 ), em que “a” é o raio maior e “b” o menor do esferoide prolato, determine o diâmetro equivalente de partícula a partir desta equação. e) a esfericidade do arroz sabendo que a área do esferoide prolato pode ser dada por: )(arcsen . 22 2 e e ba bS P a ba e 22 arcsen(e) é dado em radianos. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 29 3) Refaça o exercício 2 considerando grãos de painço, com amostra de 500 grãos, os quais apresentam o formato de esferoide prolato, em que a média do raio menor é de 1,076mm, e a média do raio maior, de 1,566mm. No sentido de avaliar a massa da amostra, utilizou-se um cadinho de massa igual a 28,55g que, após a adição dos 500 grãos, acusou 31,268g. Com o objetivo de obter a massa específica do painço, utilizou-se a técnica de picnometria, lançando-se mão de um picnômetro de 50mL e massa de 21,072g. Ao enchê-lo com água, verificou-se que o recipiente acusou massa de 72,949g. No sentido de avaliar o volume de água deslocado, que está associado ao da amostra de interesse, adicionaram-se os grãos, encontrando-se a massa de 73,09g, a qual corresponde à massa do picnômetro adicionada à da água e à da amostra. 4) Determine o valor do diâmetro de Sauter para uma amostra de areia de massa igual a 106,47g, que apresentou a análise granulométrica a seguir. Sistema (mesh) Massa retida (g) - 10+ 12 8,69 - 12+ 14 18,51 - 14+ 16 60,76 - 16+ 20 12,99 - 20+ 24 5,52 - 24+ 28 0 5) Trinta e dois gramas de uma amostra de café solúvel, de formato esférico e massa específica igual a 1,5g/mL, apresentaram análise granulométrica indicada na tabela a seguir. Pede-se: Sistema (mesh) Massa retida (g) - 35+ 42 5,2 - 42+ 65 9,3 - 65+ 100 12,4 - 100+ 250 4,0 - 250+ 270 1,1 - 270+ 325 0 a) o gráfico de distribuição granulométrica (X versus D) (AGA) b) o gráfico de distribuição de frequência (X versus D) (AGD) c) o modelo mais apropriado para descrever a distribuição granulométrica d) o diâmetro médio de Sauter da amostra e) o diâmetro médio de Sauter segundo o modelo de distribuição mais adequado Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 30 6) Uma amostra de 48 gramas de cristais de KCl, advindas de um cristalizador, apresentou a análise granulométrica da tabela a seguir. Pede- se: Mesh 10 12 14 16 20 24 28 32 35 42 48 60 gramas 1,5 2,0 4,5 5,0 6,5 6,5 6,5 5,0 4,0 3,02,5 1,0 a) o gráfico de distribuição granulométrica (X versus D) (AGA) b) o gráfico de distribuição de frequência (X versus D) (AGD) c) o modelo mais apropriado para descrever a distribuição granulométrica d) o diâmetro médio de Sauter da amostra e) o diâmetro médio de Sauter segundo o modelo de distribuição mais adequado 7) Considere a análise de peneira de areia apresentada na Tabela 1. Sistema Tyler (n o ) Massa retida (g) iX iX + 4 0 - 4+ 6 10,5 - 6+ 8 21,9 - 8+ 10 34,5 - 10+ 14 61,6 - 14+ 20 70,5 - 20+ 28 77,6 - 28+ 35 45,5 - 35+ 48 42,1 - 48+ 65 30,3 - 65+ 100 8,9 - 100+ 150 4,1 - 150+ 200 2,7 - 200 0 a) Complete as duas colunas em branco. b) Calcule o diâmetro médio de Sauter. c) Determine m e k da distribuição GGS e faça um gráfico de X versus D dos dados experimentais e dos dados calculados pelo modelo GGS. Calcule o desvio relativo absoluto médio. d) Determine n e D’ da distribuição RRB e faça um gráfico de X versus D dos dados experimentais e dos dados calculados pelo modelo GGS. Calcule o desvio relativo absoluto médio. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 31 e) Determine e faça um gráfico de X versus D dos dados experimentais e dos dados calculados pelo modelo LN. Calcule o desvio relativo absoluto médio. f) Determine o diâmetro médio de Sauter a partir das distribuições GGS, RRB e LN. g) A partir de D (equação 1.66), obtido através do modelo LN, considerando-se K=1 na equação (1.20), vidro=2,66g/cm 3 , =0,4 e =0,75, determine SW e a permeabilidade para a areia. 8) Uma amostra de barita foi analisada no Coulter Counter (fornece como dimensão característica, o diâmetro da esfera de igual volume que a partícula, dP) e no Cyclosizer (fornece dSt): %>d 90 80 70 60 50 40 30 dP(m) 8,2 13,0 15,7 18,2 22,1 26,7 32,6 dSt(m) 7,6 12,1 14,5 16,9 20,5 24,8 30,3 Determine a esfericidade das partículas de barita. 9) Uma amostra de areia apresentou a seguinte análise de peneiras. Sistema Tyler (n o ) Massa retida (g) + 4 0 - 4+ 6 12,6 - 6+ 8 38,7 - 8+ 10 50,0 - 10+ 14 63,7 - 14+ 20 32,5 - 20+ 28 17,4 - 28+ 35 11,2 - 35+ 48 7,8 - 48+ 65 3,7 - 65+ 100 2,6 - 100+ 150 1,8 - 150+ 200 1,1 - 200 0 a) Fornecer gráfico acumulativo d# versus %>d#. b) Calcule o diâmetro médio de Sauter c) Verificar se a distribuição granulométrica segue a distribuição LN; em caso afirmativo calcular os parâmetros da distribuição. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 32 10) Os cereais apresentam frequentemente grãos em forma de esferóides prolatos. Estime a esfericidade de um grão de arroz sabendo que o valor médio da menor e da maior dimensão do grão são 2,8mm e 7,8mm respectivamente. 11) Estime as esfericidades das partículas do exercício 1 a partir da menor e maior dimensão das partículas. 12) Obtenha o valor da velocidade terminal das gotas esféricas de chuva de 1 mm de diâmetro, que caem pelo ar a 25 o C. 13) Estime o valor do diâmetro de uma partícula de galena, que apresenta massa específica de 7,5g/mL e esfericidade de 0,75, que cai em água em repouso a 30 o C a uma velocidade de 4 cm/s. 14) Obtenha o valor da velocidade terminal de uma partícula isolada e esférica (1,84g/mL) submetida à queda livre em uma proveta de 7cm de diâmetro, contendo óleo (38cP; 0,92g/mL). O valor do diâmetro médio da partícula pode ser obtido da distribuição GGS com k=0,4cm e m=2. 15) Deseja-se estudar a possibilidade de separar o minério A do minério B através da elutriação com corrente ascendente de água. Na corrente de saída deve haver apenas A puro, enquanto no produto pode haver A e B. Propriedades do minério A: =2,2g/cm 3 ; =0,7 Propriedades do minério B: =3,2g/cm 3 ; =0,85 Faixa granulométrica da mistura A+B: 0,149<dP<0,595mm, correspondendo às peneiras 28/100 #Tyler. Determine a máxima velocidade de água que poderá ser utilizada na operação, a granulometria do produto de topo e a granulometria do produto de fundo. 16) Os seguintes resultados foram obtidos na elutriação de 25g de um pó industrial (=1) com água a 20 o C, numa vazão de 37cm 3 /min: Elutriador Diâmetro do tubo (cm) Massa recolhida (g) Diâmetro crítico no elutriador (m) iX 1 3,0 4,62 2 4,0 6,75 3 6,0 7,75 4 12,0 4,42 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 33 Complete a tabela acima com a distribuição granulométrica da amostra sabendo-se que a massa específica do sólido é de 1,8g/cm 3 . 17) Calcule a velocidade de sedimentação de uma suspensão de partículas em querosene. Propriedades do fluido: (=0,9g/cm 3 e =2,3cP) Propriedades das partículas: (=2,3g/cm 3 , dP=0,8mm e =0,8) Concentração de sólidos na suspensão: 260g/L de suspensão 18) Determine o valor da velocidade de queda de uma partícula de massa específica igual a 3,8g/mL, diâmetro de 120 micra (diâmetro da esfera de igual volume que a partícula) e esfericidade 0,806 em um elutriador que opera com a velocidade ascendente de líquido igual a 0,25cm/s. O líquido apresenta viscosidade de 1cP e massa específica de 1g/mL. Considere o sistema com uma concentração volumétrica de partículas igual a 10% para o cálculo da velocidade terminal. Despreze o efeito das paredes do tubo. 19) Deseja-se planejar uma experiência que consiste na medida da velocidade terminal limitando, com a escolha adequada do diâmetro do cilindro de testes, o efeito de parede a 5%, isto é, kP>0,95. A partícula tem diâmetro dP=5mm. Determine o diâmetro do cilindro nas seguintes situações: a) Re<0,1 b) Re>1.000 20) Os seguintes dados foram obtidos em ensaios de sedimentação de partículas de Al2O3 em água a 20 o C: C (g de Al2O3/cm 3 de suspensão) v (cm/min) 0,041 40,5 0,088 38,2 0,143 33,3 0,275 24,4 0,435 14,7 A massa específica das partículas é de 4g/cm 3 e a esfericidade é estimada em 0,7. a) Determine pela equação (2.31) a velocidade terminal das partículas à diluição infinita e, a partir deste valor, calcule dP; b) Faça um gráfico comparando os valores de v experimentais e os valores preditos pela equação (2.31). Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 34 21) Calcule as propriedades características (v, DFL, k e FL) dos flocos de hidróxido de cálcio de uma suspensão aquosa (agente de floculação: alúmen) sabendo-se que a 25 o C: co.10 3 (g/cm 3 ) 6 8 10 12,5 15 20 25 30 v (cm/min) 4,77 4,32 3,65 3,04 2,33 2,08 1,37 0,30 22) Determine a velocidade de elutriação para separar pó de diamante na faixa de 0 a 2m (dP). A massa específica do diamante é 3,5g/cm 3 e a esfericidade das partículas é de 0,7. O fluido de arraste é a água a 20 o C. 23) Uma mistura finamente dividida de galena e calcário na proporção 1:4 em massa é sujeita à elutriação com corrente ascendente de água com velocidade de 0,5cm/s. A distribuição granulométrica dos dois materiais é a mesma: dP(m) 20 30 40 50 60 70 80 100 100.X 15 28 43 54 64 72 78 88 Calcular a porcentagem de galena no material arrastado e no produto de fundo. Galena: =7,5g/cm 3 e =0,8 Calcário: =2,7g/cm 3 e =0,7 Temperatura da água: 20 o C 24) Um determinado material (=4,1g/cm 3 ) apresenta a seguinte análise granulométrica: %>d 90 80 70 60 50 40 30 dP(m) 8,2 13,0 15,7 18,2 22,1 26,7 32,6 Sabendo que a sua superfície específica é igual a 0,1454m 2 /g, determine a esfericidade do material. 25) Uma suspensão aquosa de caulim a 25 o C apresentou as seguintes velocidades de sedimentação, v, a diferentes concentrações de sólido, c, c (g/cm 3 ) 0,056 0,083 0,147 0,193 0,218 0,226 v (cm/min) 4,22 3,37 2,27 1,84 1,55 1,40 Determine pela equação (2.31) a velocidade terminal das partículasà diluição infinita e, a partir deste valor, calcule dP. Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 35 26) Deseja-se calcular a porosidade no transporte vertical ascendente, em duto com diâmetro Dt=5,1cm, de partículas sólidas com as seguintes propriedades: dP=1mm, =3g/cm 3 e =0,75. a) o fluido é a água (=1g/cm 3 e =0,9cP) e as vazões de fluido e sólido são respectivamente QF=15m 3 /h e QS=3m 3 /h. b) o fluido é o ar a 20 o C e 1ata (=0,018cP) e as vazões de fluido e sólido são respectivamente QF=39,9m 3 /h e QS=1,32m 3 /h. 27) Em um estudo preliminar do escoamento gás-partículas, a frio, em um reator riser, utilizou-se ar como fluido de arraste (1,091kg/m 3 ; 17,5cSt) para partículas esféricas de catalisador FCC (2,15g/mL; 74,4m). Pede-se: a) obtenha o valor da velocidade terminal das partículas b) sendo o diâmetro interno do tubo de 7,3cm, avalie o efeito de parede c) sabendo que a concentração volumétrica de partículas é de 0,023mL/mL, avalie o efeito de concentração de partículas na velocidade terminal Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 36 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 37 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 38 Caracterização e Dinâmica da Partícula – Prof. Marcos Moreira 39 EQUAÇÕES PARA REGRESSÃO LINEAR baxy 2 2 xxn yxxyn a n xa.y b Mesh m Mesh m Mesh m 2 1/2 8000 16 1000 115 125 3 6730 20 841 150 105 3 1/2 5660 24 707 170 88 4 4760 28 595 200 74 5 4000 32 500 250 63 6 3360 35 420 270 53 7 2830 42 354 325 44 8 2380 48 297 400 37 9 2000 60 250 500 25 10 1680 65 210 635 20 12 1410 80 177 14 1190 100 149
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