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APOSTILA DE HIDRÁULICA II Esta apostila foi organizada com o objetivo de orientar os alunos do curso de Hidráulica II da Escola de Engenharia Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie e não substitui as publicações nas quais se baseia e que estão listadas nas Referências Bibliográficas. Bom estudo a todos! Profa Maria de Fátima S Curi Profa Liliane F Armelin 1. INTRODUÇÃO No presente curso, a abordagem será relacionada aos condutos submetidos à pressão atmosférica, os chamados condutos livres. Esses condutos tem pelo menos uma parte da sua seção submetida à pressão atmosférica, diferentemente dos condutos forçados cujo fluído em seu interior está submetido a uma pressão maior que a pressão atmosférica. As condições de contorno nos condutos forçados estão bem definidas, no entanto, nos condutos livres, isto não acontece pois a superfície livre pode variar no tempo e no espaço. Os princípios básicos que regem os dois tipos de escoamento são essencialmente os mesmos. As equações fundamentais são as seguintes: - Equação da continuidade que implica na conservação da massa: - Equação da quantidade de movimento (Teorema de Euler): - Equação da conservação da energia (Equação de Bernoulli): Sendo: Q = Vazão (m3/s). V = Velocidade média (m/s). S = Seção transversal (m2). R = Força resultante (N). ρ = Massa específica (Kg/m3). z = Cota do fundo (m). y = Profundidade (m). g = Aceleração da gravidade (m/s2). Δh = Perda de carga (m). Rios e córregos são os melhores exemplos de condutos livres. Porém existem muitos exemplos a serem citados: coletores de esgoto, redes de drenagem, condutos de irrigação, etc. Abaixo, alguns exemplos: Córrego Araçatuba em Santo André SP. Bueiro circular Ribeirão dos couros – canal retificado Rede de drenagem. 2. PARÂMETROS CARACTERÍSTICOS DOS CONDUTOS LIVRES Devido ao fato dos condutos livres poderem assumir as mais variadas formas e funcionar com várias profundidades, define-se um determinado número de parâmetros importantes, levando em consideração a geometria da seção e a profundidade do escoamento. Estes, tem grande importância na realização dos cálculos hidráulicos. São eles: Profundidade (y). Área da seção transversal, também dita “área molhada” (S). Perímetro molhado (P): Parte do canal que está em contato com a água. Raio hidráulico (RH): Relação entre S e P. Diâmetro hidráulico (DH): Igual a 4RH. Largura superficial do canal (l). Largura do canal (B). A declividade do conduto é parâmetro importante no projeto a ser realizado. A declividade altera a velocidade do escoamento tornando-o mais rápido ou mais lento. A velocidade do conduto é componente da energia cinética que juntamente com a energia potencial são responsáveis pelo deslocamento da massa de água. S V H B l y Perímetro molhado z1 NA α = = z2 Cota 1 Cota 2 PHR L A declividade i pode ser expressa em : (m/m), (%), (m/Km), (cm/Km) ou (‰). Obs: A declividade média do Rio Tietê, no trecho que atravessa São Paulo é 25cm/Km. A declividade média de um curso d`água canalizado está em torno de 40cm/Km. 3. LINHA DE ENERGIA Conforme já foi visto na disciplina Hidráulica I, a energia correspondente a uma seção transversal do conduto é dada pela soma de três cargas: Cinética, Potencial e Pressão (também chamada piezométrica). A linha de energia é linear apenas se o escoamento é uniforme, ou seja, a área molhada não varia ao longo da extensão longitudinal do canal. Na prática, esta situação não ocorre ao longo do conduto, porém, pode ocorrer quando se considera apenas um determinado trecho PHR H1 z1 y1 V1/2g z2 y2 V2/2g ΔH H2 L.E. PHR Patm/γ V2/2g y z Carga total (H): Altura que representa a energia total numa seção de escoamento. Considera-se: Epot = z + y Ecin = V 2/2g de extensão limitada. A maioria dos problemas de dimensionamento de condutos livres faz uso desta hipótese que é válida para trechos curtos. 4. VELOCIDADE A velocidade, como dito anteriormente é um dos parâmetros mais importantes no estudo dos condutos livres. A distribuição da velocidade não é uniforme ao longo da seção hidráulica por causa do atrito do fluido com as paredes e fundo do conduto e atrito entre o fluído e o ar. Observa-se que a velocidade é reduzida próxima às paredes e fundo. A figura abaixo mostra o perfil de velocidades na vertical, cujo valor junto ao fundo é nulo, aumentando em direção à superfície, atingindo o valo máximo próximo a superfície. A fim de minimizar a questão, na elaboração de projetos trabalha-se com a velocidade média. Perfil vertical de velocidades numa seção transversal. (Fonte: Baptista M.; Lara M., 2010) Perfil de velocidades em seções transversais de canais prismáticos.(Fonte: Baptista M.; Lara M., 2010) Isotacas observadas no Rio Amazonas, Óbidos. (Fonte: Baptista M.; Lara M., 2010) Velocidades altas são responsáveis pela erosão, principalmente em codutos livres naturais e velocidades baixas são responsáveis pelo assoreamento. O DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo) retira todos os anos da calha do Rio Tietê, entre a barragem da Penha e o Cebolão, um montante aproximado de 400.000 m3 de material de assoreamento, elevando muito o custo da manutenção. A declividade neste trecho é muito baixa favorecendo a deposição deste material. 5. CLASSIFICAÇÃO DOS ESCOAMENTOS EM CONDUTO LIVRE ESCOAMENTO PERMANENTE Características hidráulicas ( y, Q, S, P) não variam com o passar do tempo. UNIFORME Características hidráulicas ( y, S, P) não variam ao longo do espaço. VARIADO Características hidráulicas ( y, S, P) variam ao longo do espaço. GRADUALMENTE "Remanso" BRUSCAMENTE "Ressalto" NÃO PERMANENTE Características hidráulicas variam com o passar do tempo. 6. FATORES QUE INTERFEREM NO ESCOAMENTO DE CONDUTOS LIVRES Viscosidade. Gravidade. Inércia 7. ESCOAMENTO UNIFORME Como dito anteriormente, o escoamento uniforme é aquele em que todos os parâmetros são constantes ao longo do espaço e portanto, ao longo do tempo também. Este escoamento só ocorre em canais retilíneos e uniformes que são aqueles que tem a seção transversal, declividade e rugosidade constantes. Observemos a figura a seguir: Viscosidade Gravidade Inércia Viscosidade em relação à inércia: Número de Reynolds R=DHV/ν Gravidade em relação à inércia: Número de Froude F=V/(gy)0,5 Movimento uniforme Movimento gradualmente Variado Movimento bruscamente variado Movimento bruscamente variado Aplicando o teorema de Bernoulli entre as seções 1 e 2, tem-se: Mas: se e então: = Diferença de energia potencial. ΔH = = Diferença de energia disponível = Energia gasta no trecho Dividindo-se por L, tem-se: i = Declividade do fundo do conduto. j = declividade da linha de energia. A linha de energia não é linear. Isso só acontece quando o escoamento é uniforme. 8. EQUAÇÃO DE CHEZY Esta equação é uma das mais importantes utilizada no dimensionamento de condutos livres. Foi deduzida a partir da fórmula universal, considerando algumas hipóteses simplificadoras. PHR H1 z1 y1 V1/2g z2 y2 V2/2g ΔH H2 L.E. Mas: ,então: Considerando a hipótese de que o escoamento é turbulento rugoso, o que realmente ocorre na maioria dos escoamentos em condutos livres, f é constante, então: sendo: Equação de Chezy, sendo C um coeficiente associado à rugosidade. C = Coeficiente de Chezy = f (RH, rugosidade) [m 0,5/s]. Algumas pesquisas estabeleceram relações entre o “C” e outro coeficiente: a) Manning / Strickler: Manning: n = Coeficiente de rugosidade de Manning. (Tabelado) Strickler: KS = Coeficiente de rugosidade de Strickler = f(D90) D90 = Diâmetro da peneira que permite a passagem de 90% do material. A equação de Manning, muito utilizada no dimensionamento de condutos livres é obtida substituindo o “C” segundo Manning na equação de Chezy: Quando o escoamento é uniforme, j=i, então: b) Bazin (empírico): sendo: γ = Coeficiente de rugosidade de Bazin. c) Fórmula Universal: , (para escoamento turbulento rugoso) ε = Rugosidade equivalente (Rugosidade que confere a mesma perda de carga no conduto, caso a rugosidade fosse regular) [m, mm]. 9. REVESTIMENTOS DIVERSOS EM UMA MESMA SEÇÃO Muitos condutos possuem revestimentos diferentes ao longo da sua seção hidráulica sendo esta situação bastante comum. Por exemplo, o trecho do Rio Tietê que passa pela região metropolitana de São Paulo foi executado com fundo escavado em terra e taludes em gabião revestido. Quando o perímetro molhado de uma seção é constituído com trechos com diferentes rugosidades, admite-se média ponderada dos coeficientes de Manning, originando um coeficiente de rugosidade equivalente, o qual, pode ser calculada de acordo com a fórmula de Einstein: 3 2 2 3 P P ii e sendo: P = perímetro molhado total. Pi = perímetro molhado parcial. ηi = coeficiente de rugosidade de Manning parcial. 10. SEÇÃO DE MÍNIMO CUSTO: SEÇÃO ECONÔMICA A seção de máxima eficiência é aquela que tem maior capacidade de transportar vazão. Para que isso aconteça é necessário que a área de contato da água com as paredes do conduto seja mínima pois a maior resistência ao escoamento é proveniente do atrito causado pela rugosidade. Observem as duas seções da figura abaixo. Ambas tem a mesma área molhada “S”, no entanto a capacidade de transporte de vazão será maior na seção 1, pois o perímetro molhado, ou seja, a superfície em contato com a água é menor. Para uma seção semi-circular observa-se que o perímetro molhado é menor se comparado com uma seção retangular ou trapeizodal. Então, este tipo de seção é a econômica e a de vazão máxima Para seção tapezoidal circunscrita a um semi-círculo cujo diâmetro situa-se na superfície livre. Os elementos geométricos da seção molhada são: ggyB cotcot12 2 ggyS cotcot12 22 ggyP cotcot122 2 Portanto, para qualquer ângulo de talude, tem-se para a seção econômica: 2 y RH S S Seção 1 Seção 2 11. CONDUTOS CIRCULARES Os condutos circulares são muito utilizados em drenagem urbana e coletores de esgoto.Essas obras requerem em parte, canais fechados. Neste tipo de seção, observa-se que a medida que o nível da água se eleva, aumenta a área molhada e o perímetro molhado. A partir da metade da seção, uma pequena elevação do nível da água vai proporcionar um aumento do perímetro molhado mais significativo que o aumento que vai ocorrer na área molhada. M = Parâmetro numérico de projeto. y/D = Adimensional associado a uma constante tabelada “K1” . K1 = Coeficiente de forma. D y θ
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